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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO

CATÓLICO DE BENGUELA
CRIADO AO ABRIGO DO DECRETO PRESIDENCIAL N.º 168/12 DE 24 DE JULHO, DR I SÉRIE – N. º141

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

TRABALHO INVESTIGATIVO DE TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

O DIREITO À IMAGEM À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO


ANGOLANO

Estudante: Avelina Sola dos Anjos Costa Mantes

Curso: Direito

Periodo: Manhã 2º Ano

Docente: Pe. Eduardo Bento


ÍNDICE

INTRODUÇÃO.................................................................................................................2

1. Conceito de imagem...................................................................................................2

2. Direito à imagem: Conceituação................................................................................3

3. Direito à imagem à luz do ordenamento jurídico angolano.......................................4

CONCLUSÃO...................................................................................................................7

BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................8
INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda o direito à imagem, assunto este que ganhou espaço e
importância no século XXI, dado o avanço extraordinário da tecnologia notadamente
pela popularização da internet, a qual tornou a captação, reprodução e divulgação da
imagem processo extremamente célere.

Contemporaneamente, a deturpação da imagem tornou-se extremamente fácil,


podendo causar sérios prejuízos de ordem material e moral ao seu titular, impondo-se,
dessa forma, proteção plena do ordenamento jurídico a tal direito. O direito à imagem é
espécie do género direito da personalidade e, em Angola encontra no código civil e
CRA, ampla protecção autónoma e eficaz, em conformidade com os reclames de uma
maior valorização da pessoa humana.

Com efeito, o ordenamento jurídico como um todo deve estar voltado para a
satisfação humana, sendo o sujeito a razão e fundamento da existência de toda a
sociedade. Neste aspecto, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, tornou-se o
centro conformador do ordenamento jurídico de diversos países.

1. Conceito de imagem

A imagem é um dos atributos do ser humano e seu elemento distintivo. Como tal,
integra o rol não taxativo dos direitos da personalidade, e tem se demonstrado na
contemporaneidade como elemento importante para a proteção da dignidade da pessoa
humana. A preocupação com a imagem sempre foi tema corrente entre o género
humano. Desde a idade da pedra têm-se registos de pinturas e desenhos rupestres
realizados nas cavernas, sendo alguns deles no intuito, mesmo que inconsciente, de
legar para a posteridade a imagem de si próprio e de seus próximos, ou de suas
atividades.

A imagem possui, além do valor íntimo, o valor outorgado pela sociedade, e


actualmente a sua utilização tem conotação económica sobrelevada, razão pela qual o
seu regramento e a sua proteção prevista no ordenamento jurídico são por deveras
importantes e necessários.

Acerca da importância da imagem, Chaves (1972), refere que dentre todos os


direitos da personalidade, não existe outro tão humano, profundo e apaixonante como o
direito à própria imagem, levamos a nossa imagem conosco por toda a existência, selo,

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marca, timbre, reflexo indelével da nossa personalidade, com que nos chancelou a
natureza.

O direito à imagem é por certo uma emanação da personalidade do sujeito e merece


proteção efectiva do ordenamento jurídico contra eventuais violações pelo Estado ou
por particulares, bem como enseja a sua compensação monetária, acaso já efectivada a
lesão, ou a cessação da agressão ou o impedimento de que ela venha a se concretizar ou
repetir.

2. Direito à imagem: Conceituação

O direito à imagem, que, segundo Dias (2000, p.57), surgiu na Alemanha em


1907 como contra-arma no intuito de combater a "distorção intencional da imagem
contida na foto, em afronta à respectiva personalidade".

O direito à imagem é a reunião das faculdades jurídicas (direito subjetivo)


concedidas ao indivíduo, que tem como objecto a proteção de toda forma e expressão da
personalidade, que representa a pessoa de maneira sui generis, concedendo-lhe a sua
fruição exclusiva, oponível erga omnes, desde a inibição de sua violação até a sua
reparação civil e penal quando a lesão já tiver ocorrido, sendo que esta protecção tem
conteúdo moral, ou seja, o direito do titular de opor-se à captura e reprodução de sua
imagem pura e simplesmente, e o conteúdo material, que outorga ao titular a faculdade
de explorá-la economicamente (Dias, 2000).

Na conceituação de Bittar (2007), direito à imagem, consiste no direito que a


pessoa tem sobre a sua forma plástica e respectivos componentes distintos (rosto, olhos,
perfil, busto etc.) que a individualizam no seio da colectividade. Incide, pois, sobre a
conformação física da pessoa, compreendendo esse direito um conjunto de caracteres
que a identifica no meio social. Por outras palavras, é o vínculo que une a pessoa à sua
expressão externa, tomada no conjunto, ou em partes significativas (como a boca, os
olhos, as pernas, enquanto individualizadoras da pessoa).

Na lição de Diniz (2007), direito à imagem é o de ninguém ver sua efígie


exposta em público ou mercantilizada sem seu consenso e o de não ter sua
personalidade alterada material ou intelectualmente, causando danos à sua reputação.
Abrange o direito à própria imagem; o uso ou à difusão da imagem; à imagem das
coisas próprias e à imagem em coisas ou em publicações; de obter imagem ou de
consentir em sua captação por qualquer meio tecnológico.

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Desta ideia de direito à imagem retira-se que ele é um 
direito de personalidade que apresenta duas vertentes convergentes, uma
positiva, porque confere uma faculdade, outra negativa porque impede a
utilização da imagem por terceiros sem autorização ou consentimento. 

Por outro lado, o direito à imagem é um direito absoluto, na 
medida em que é reconhecido como um verdadeiro direito de 
personalidade, pelo que impõe por um lado a terceiros esse 
reconhecimento (salvo no caso em que exista autorização para a 
utilização da imagem) e por outro lado não lhe é contraposto um
dever jurídico, antes uma obrigação universal e por isso, ele é um
direito exclusivo. 

3. Direito à imagem à luz do ordenamento jurídico angolano

O CRA no seu artigo 32º no seu ponto 1, diz que “ a todos são reconhecidos os
direitos a identidade pessoal, civil, à nacionalidade, ao bom nome e reputação, à
imagem, à palavra e à reserva de intimidade da vida privada e familiar.

Quanto ao direito à imagem, que é o nosso objecto de estudo, o Código Civil


angolano regula esta matéria no seu artigo 79.º e refere que “1. O retrato de uma pessoa
não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o consentimento dela;
depois da morte da pessoa retratada, a autorização compete às pessoas designadas no n.
º 2 do artigo 71.º, segundo a ordem nele indicada.

2. Não é necessário o consentimento da pessoa retratada quando assim o


justifiquem a sua notoriedade, o cargo que desempenhe, exigências de polícia ou de
justiça, finalidades científicas, didácticas ou culturais, ou quando a reprodução da
imagem vier enquadrada na de lugares públicos, ou na de factos de interesse público ou
que hajam decorrido publicamente.

3. O retrato não pode, porém, ser reproduzido, exposto ou lançado no comércio,


se do facto resultar prejuízo para a honra, reputação ou simples decoro da pessoa
retratada”.

Relativamente ao consentimento da pessoa, encontra-se previsto no artigo 340.º


do C.C. e constitui uma forma de limitação voluntária do próprio direito à imagem. No
entanto, o mesmo é irrelevante nos casos em que a lesão do direito é contrária às normas
imperativas e aos bons costumes (cfr. n. º 2). Importa ainda ressalvar que poderá ter-se

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por consentida a lesão ao direito quando esta se der no interesse do lesado e de acordo
com a sua vontade presumível.

Nos termos do n. º 1 do artigo 79.º do C.C., tal como já foi frisado acima, “o
retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o
consentimento dela”.

Apesar do direito à imagem ser um direito independente e, em certa parte,


indisponível, o requisito do consentimento do visado pretende proteger outros direitos
fundamentais que se conectam com o direito à imagem, designadamente os direitos à
privacidade, ao bom nome ou reputação.

Quanto à desvinculação unilateral do consentimento prestado, esta ocorre nos


termos do n. º 2 do artigo 81.º do C.C., sendo sempre revogável, não obstante poder
surgir um dever de indemnização.

Conforme supra referido, o legislador dispensou a necessidade do consentimento


em certos casos, designadamente quando esteja em causa uma pessoa com notoriedade
pública, quando se esteja perante exigências de polícia ou de justiça, finalidades
científicas, didácticas ou culturais, e ainda quando a reprodução da imagem vier
enquadrada em lugares públicos, ou em factos de interesse público ou que hajam
decorrido publicamente (cfr. n. º 2 do artigo 79.º).

Assim, importa ter bem presente que ser uma figura pública, não significa ter
que renunciar antecipadamente aos direitos de personalidade, abdicando deles na
totalidade e sujeitando-se à invasão e devassa da privacidade em toda e qualquer
circunstância.

O consentimento também não é exigido nos casos em que a captação do retrato


e/ou a sua divulgação se justifique pelo interesse (sério e justificado) da imagem, de
acordo com um juízo objectivo, bem como nos casos em que a imagem se encontre
enquadrada em lugares públicos ou em factos de interesse público (o lugar ou facto
público devem ser o foco central da imagem), ou que hajam decorrido publicamente, à
luz do disposto no n. º 2 do artigo 79.º.

No entanto, a dispensa de consentimento não se aplica sempre que, da captação


da imagem e, em especial, da sua divulgação, resultem prejuízos para a honra e
reputação do retratado (n. º 3). Deste modo, a excepção inserida no n. º 3 constitui uma

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excepção à excepção constante no n. º 2. Estas excepções devem ser interpretadas de
forma restritiva e sempre segundo um juízo casuístico.

Já no que concerne às pessoas que não integram a excepção do n. º 2 do artigo


79.º do C.C., o consentimento que a lei exige deverá ser concedido não só para a
captação, mas também para a divulgação. Assim, não basta a autorização para a
captação da fotografia para se presumir o consentimento na sua divulgação é, pois,
necessário o consentimento para ambas as acções.

Em caso de dúvida quanto ao alcance do consentimento, deve observar-se o


disposto no artigo 237.º do Código Civil, que esclarece qual o sentido que deverá ser
dado à declaração, prevalecendo, nos negócios gratuitos, o menos gravoso para o
disponente e, nos onerosos, o que conduzir ao maior equilíbrio das prestações.

Tal como referido anteriormente, o direito à imagem é violado sempre que a


captação e divulgação não for precedida do consentimento da pessoa retratada e se
enquadrar no âmbito geral do n. º 1 do artigo 79º. Sempre que esse direito for violado, o
seu infractor sujeita-se a uma responsabilidade civil e/ou penal.

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CONCLUSÃO

Na base do que foi aflorado ao longo do trabalho levado a cabo, se pode


depreender que o direito à imagem tem a sua autonomia, não como 
direito autónomo e distinto, mas como direito especial de personalidade 
que reúne em si mesmo todos os direitos de personalidade.

Por essa razão podemos dizer que ele tem as mesmas


características dos direitos de personalidade em geral, nomeadamente 
constituir um direito subjectivo de carácter privado e natureza absoluta; 
ser um direito de personalidade com conteúdo patrimonial quando pelo 
seu exercício possa gerar bens de valor económico;  e é um direito 
inalienável, irrenunciável, intransmissível e imprescritível.

Assim, o direito à imagem é como vimos um direito através 
do qual a pessoa tem a faculdade de em exclusivo poder 
reproduzir, difundir ou publicar a sua própria imagem com carácter 
comercial ou não, podendo, quando assim o entender impedir outrem 
de reproduzir.

7
BIBLIOGRAFIA

Bittar, Carlos Albertos, Contornos actuais dos direitos do autor, 2ª Ed. São Paulo,
Revista dos tribunais, 2007.

Código Civil da República de Angola, 4ª Ed. Escolar Editora, Angola, 2017.

Constituição da República de Angola, Petrony Editora, Luanda, 2018.

Dias, Jacqueline Sarmento, O direito à imagem, Del Rey, Belo Horizonte, 2000.

Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 24.ed. Saraiva, São Paulo, 2007.
v.1.

Duarte, Fernanda et al. (Coord), Os direitos à honra e à imagem pelo Supremo Tribunal
Federal, Renovar, Rio de Janeiro, 2006.

Fachin, Antonio Zulmar, A proteção jurídica da imagem, Celso Bastos, São Paulo,1999.

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