Você está na página 1de 44

As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas

Apoio

Volume 4
Apoio
Apoio
carta ao leitor

Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor


e presidente da Associação Nacional de
Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil

Caro amigo(a) do setor de instalações elétricas,


Nesta última edição da “Coleção Elétrica”, desejo agradecer a todos os amigos que
prestigiaram o projeto por meio da leitura atenta e das mensagens de incentivo.
Na primeira carta ao leitor, enunciei o objetivo da “Coleção Elétrica”, a saber:
“disponibilizar para os profissionais brasileiros um conjunto de informações históricas,
técnicas, normativas, de exercício profissional, educacionais, biográficas, etc., focados
no setor de instalações elétricas”. Entregues as quatro edições, tenho a certeza de que
nos esforçamos ao máximo para cumprir com o prometido.
Homenageamos personalidades marcantes do setor, começando pelo Professor
Ademaro Cotrim, passando pelo professor Eurico Freitas Marques e pelo Engenheiro
Armando Reis Miranda. E, nesta última edição, brindamos os leitores com a biografia
do saudoso engenheiro Moshé Gruberger, que tanto contribuiu para a evolução das
instalações elétricas no Brasil a partir de seu escritório localizado em Belo Horizonte.
Assim como no caso do engenheiro Miranda, Moshé não nasceu no Brasil, mas sua
família escolheu nosso País para viver e aqui deixou suas marcas de competência e
profissionalismo. Além das biografias, procuramos oferecer diversos temas específicos
do setor de instalações elétricos escritos de uma forma diferente do habitualmente
disponibilizado.
Para esta quarta e última edição da “Coleção Elétrica”, preparamos algumas
matérias que estão alinhadas com as metas deste projeto. Leia a curiosa passagem
sobre as discussões relativas ao uso das correntes alternada e contínua que incendiou
a rivalidade entre Thomas Edison e Nikola Tesla; aprenda um pouco mais sobre os
Dispositivos Protetores de Surtos (DPS), que a cada dia tornam-se mais populares e
necessários; não deixe de acompanhar a evolução das lâmpadas, desde sua invenção
até as tendências futuras; veja um interessante ponto de vista sobre o estado da arte
dos materiais elétricos disponíveis no mercado brasileiro; acompanhe o fechamento
da discussão sobre pirataria; e divirta-se com uma palavra cruzada totalmente
“eletrificada”.
Agradeço aos amigos da Atitude Editorial pela oportunidade oferecida de colaborar
neste projeto. Foi um trabalho de equipe fantástico, envolvente, emocionante, sempre
em busca da perfeição. Meus parabéns a todos da equipe pela altíssima competência,
envolvimento e paixão no trabalho que fazem. Foi uma honra fazer parte deste time.
Assim como eu apreciei muito este trabalho, espero sinceramente que você,
amigo(a) leitor(a), também desfrute deste último caderno da “Coleção Elétrica”, uma
obra que marcará o setor elétrico para sempre.

Boa leitura e abraços!

Hilton Moreno
06-07
8 grandes questões

índice
expediente Diretores
Adolfo Vaiser
José Guilherme Leibel Aranha Descargas atmosféricas podem interromper o fornecimento de
Gerência de planejamento energia e trazer danos aos equipamentos elétricos. Conheça o
Sergio Bogomoltz
sergio@atitudeeditorial.com.br dispositivo que ajuda a proteger as instalações e os aparelhos
Circulação ligados à eletricidade.
Emerson Cardoso

12
emerson@atitudeeditorial.com.br
Marina Marques
marina@atitudeeditorial.com.br
história
Administração
Da lâmpada incandescente ao moderno Led: a evolução de
Paulo Martins Oliveira Sobrinho
uma brilhante idéia narrada com detalhes na reportagem de
adm@atitudeeditorial.com.br
Bruno Moreira.
Jornalista responsável
Flávia Lima

18 biografia
MTB 40.703
flavia@atitudeeditorial.com.br

Coordenador técnico Homenageado desta edição, o engenheiro Moshé Gruberger


Hilton Moreno
está reconhecido nas páginas e depoimentos que ilustram sua
Direção de arte e produção
Leonardo Piva força no setor elétrico.
atitude@leonardopiva.com.br

Colaboradores
Bruno Moreira, Hanny Guimarães,
Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz
26 dentro da lei
Reduto de fábricas nacionais e estrangeiras, formais e informais,
Revisão a China é reconhecida por exportar produtos falsificados e de
Gisele Folha Mós
baixa qualidade, mas esforça-se para reverter a fama e tornar-
Publicidade
Diretor comercial se provedora de qualidade e tecnologia de ponta.
Adolfo vaiser

30
adolfo@atitudeeditorial.com.br

Contatos Publicitários
Ana Maria Rancoleta
guerra das correntes
anamaria@atitudeeditorial.com.br A histórica polêmica sobre o uso das correntes alternada e
Vanessa Marquiori
vanessa@atitudeeditorial.com.br contínua e a rivalidade entre seus criadores: Nikola Tesla e
Cesar Dallava
cesar@atitudeeditorial.com.br Thomas Edison.

34
Capa
Kanji Design
desenvolvimento
Impressão
Gráfica Ipsis
Brasil trilha longo caminho em busca de crescimento no
mercado de materiais elétricos e de técnicas de instalação.
Distribuição
Correios Com seriedade, muito já foi feito, mas veja nesta matéria os
desafios que faltam para o País se tornar referência no setor.

40 descontração
Atitude Editorial Ltda.
Rua Piracuama, 280 cj. 72 / Pompéia
CEP 05017-040 / São Paulo - SP
Fone/Fax - (11) 3872-4404 Arrisque-se no jogo de palavras cruzadas e teste os seus
www.atitudeeditorial.com.br
atitude@atitudeeditorial.com.br conhecimentos em elétrica.

Apoio
grandes questões
Por Bruno Moreira

Salvem as máquinas!
O DPS é a maneira mais prática de lidar com uma sobretensão na
rede elétrica de uma edificação, evitando ou minimizando os danos aos
equipamentos elétricos e eletrônicos. E seu uso é praticamente obrigatório.
Temporais costumam ser desoladores em muitos sentidos. Um deles refere-se aos efeitos que as descargas
atmosféricas, quase sempre presentes nos maus tempos, podem ocasionar. Trata-se de problemas na rede
elétrica que podem interromper o fornecimento de energia elétrica ou trazer danos aos equipamentos
elétricos ligados à rede.
Um raio é uma corrente elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio
segundo e típica trajetória com comprimento de cinco a dez quilômetros. É conseqüência do rápido movimento
de elétrons de um lugar para outro, fazendo o ar ao seu redor aquecer e iluminar-se. Sua periculosidade é
sabida. Se uma pessoa for atingida diretamente por uma descarga elétrica desse porte, certamente, falecerá.
Por aí vê-se a importância do pára-raio, invenção de 1753 do norte-americano Benjamin Franklin. Contudo,
numa época de intenso desenvolvimento tecnológico, em que toda nossa vida é mediada por equipamentos
eletrônicos, outros tipos de proteções contra raios também se tornaram necessárias.
Segundo o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior, um raio pode produzir um campo eletromagnético que
08-09
O Brasil é o primeiro país em número
de incidência de raios, com mais de 50
milhões de descargas por ano, espalhadas
em praticamente todo o Brasil.

se propaga como uma descarga indireta de energia pelas redes de O que diz a normalização
distribuição elétrica, gerando um aumento momentâneo de tensão, ou Para que equipamentos eletroeletrônicos sejam protegidos e
sobretensão transitória na alimentação de energia de uma determinada vidas não sejam colocadas em risco, a norma NBR 5410 já traz como
instalação. Este fenômeno pode causar danos irreparáveis em aparelhos praticamente obrigatório o uso de DPS nas edificações. Conforme
eletroeletrônicos. Além dos raios, os chaveamentos manuais ou auto­ Modena, na revisão realizada em 1997, a norma já possuía uma certa
máticos que ocorrem nas redes de distribuição de energia elétrica obrigatoriedade em relação ao uso do dispositivo de proteção, mas a
podem provocar sobretensões nos sistemas. Para que os transtornos exigência em praticamente todas as situações tornou-se explícita na
provocados por estas sobretensões não afetem as instalações elétricas, versão de 2004.
seus componentes e os equipamentos eletroeletrônicos existentes é que De acordo com a norma, as edificações que devem utilizar de
foi desenvolvido o Dispositivo de Proteção Contra Surtos (DPS). maneira obrigatória um DPS são aquelas cuja região em que estão
O DPS atua quando há um pico de tensão na rede. Ele serve localizadas se encontra sob muita incidência de descargas atmosféricas; o
para limitar as sobretensões e descarregar os surtos de corrente que torna o uso necessário na maioria das residências, estabelecimentos
originários de descargas atmosféricas ou chaveamentos nas redes comerciais e industriais do Brasil, já que, segundo o engenheiro Osmar
de energia. Segundo o engenheiro eletricista e diretor da Giullietto Pinto Júnior, o País é o primeiro em número de incidência de raios, com
Modena Engenharia, Jobson Modena, ele desvia a maior parte do mais de 50 milhões de descargas por ano, espalhadas em praticamente
surto para a terra, deixando passar uma parcela suportável, que não todo o Brasil, com menos incidência apenas na região Nordeste. “Mas
acarreta danos, para a instalação. “Proteção com 100% de eficácia mesmo aí, há focos com mais descargas como os Estados do Maranhão
não existe”, diz. e do Piauí”, completa.
Caso uma determinada instalação elétrica de baixa tensão não Não obstante a generalização das descargas atmosféricas pelo
possua o DPS, três tipos de danos podem ocorrer devido a uma País, a NBR 5410, baseda na norma internacional IEC, distingue
sobretensão na rede elétrica, de acordo com Modena: o primeiro, na três classes de DPS: classe I, indicada para locais AQ3, que segundo
instalação elétrica, de uma forma geral; o segundo, no equipamento a norma brasileira, são os sujeitos a descargas diretas, e lidam com
eletrônico; e, no caso mais grave, no próprio operador, que é energia de maior intensidade; classe II, indicada para locais AQ2,
atingido por uma descarga elétrica oriunda do equipamento. sujeitos a surtos provenientes da linha externa de alimentação, e que
Segundo Modena, todos eles podem ser evitados com o uso de DPS, trabalha com energia de menor intensidade que a prevista na classe
mas adiciona: “o dispositivo deve ser empregado em conjunto com I; e a classe III, indicada para locais que exigem uma proteção “fina”,
um sistema de aterramento e de uma instalação elétrica projetada e aplicáveis a equipamentos mais sensíveis, que lida com energia de
construída de forma correta”. menor intensidade que a prevista na classe II.

Apoio
O DPS desvia a maior parte do surto para a
terra, não acarretando danos para a instalação,
mas proteção 100% eficaz não existe.

Dessa forma, uma determinada edificação pode apresentar os três à umidade relativa do ar e à temperatura. Isso faz a tensão de disparo
tipos de dispositivos protetores instalados se atender os pré-requisitos do dispositivo não ser constante e a tensão de arco não ser controlada.
previstos na norma. Com o intuito de diminuir a tensão residual de Em casos de redes industriais, que são, normalmente, alimentadas
ponto para ponto, o DPS classe I deve ser instalado junto à entrada por tensão de 380 V ou 440 V, e tem sua fase-neutro ou fase-terra
principal da edificação, o mais próximo possível do Barramento de trabalhando com 220 V ou 254 V, os dispositivos classe I à base de ar,
Equipotencialização Principal (BEP). De acordo com o engenheiro por suportarem uma tensão menor que a exigida, acabam se tornando
eletricista e diretor da MTM Eletroeletrônica, Manuel Martinez, essa condutores da corrente subseqüente da rede e isso acarreta na destruição
espécie de dispositivo é empregada em locais que possuem Sistema de de seus eletrodos.
Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) ou os tradicionais O DPS a “gap” de gás sana este problema, segundo Martinez.
pára-raios instalados. Com atmosfera controlada, ele apresenta um tensão de arco superior
Para Martinez, em edificações que não possuem SPDA instalado, o a 280 V e, por conseguinte, não permite que a corrente subseqüente
dispositivo protetor classe II pode ser aplicado junto à entrada principal da rede elétrica seja transportada pelo DPS à terra. Isso, por sua vez,
no lugar do classe I. Caso contrário, sua localização mais normal é mantém a integridade física do dispositivo por muito mais tempo.
nos quadros secundários de distribuição, formando um conjunto Em relação aos dispositivos classe II e III, a tecnologia empregada é
com o DPS classe I instalado na entrada. O DPS classe III, informa a do varistor, que é basicamente, conforme explica Martinez, formado
o diretor da MTM, é o protetor aplicado com o equipamento e deve por areia e por óxido metálico. “Há também alguns elementos de
ser projetado conforme a suportabilidade elétrica do aparelho. São três terras raras, mas isso é um segredo de cada fabricante”, comenta. Este
tipos de DPS para aplicações em redes de energia, além daqueles feitos composto apresenta características de limitador de tensão. O que no
especificamente para os sinais emitidos aos aparelhos de informática e DPS classe I é o gap de ar, nos DPS classe II e III, é o varistor. Ambos
telecomunicação. funcionam como um elemento de fuga da corrente e o varistor é
também um grampeador de tensão.
Diferentes tecnologias A função do varistor é basicamente de deixar a corrente passar
Existem três tecnologias para fabricação de DPS: os que funcionam quando a tensão em seus terminais ultrapassa a tensão limite. A
à base de “gap” de ar, os que trabalham com “gap” de gás e os que passagem da corrente é proporcional à tensão que o atinge e esta
utilizam varistores. O primeiro, como o próprio nome diz, utiliza o ar passagem gradual é o que garante que a tensão de saída não aumentará.
como dielétrico. Neste tipo de DPS, informa o engenheiro Martinez, O varistor é conectado a um dispositivo de segurança cuja função é
há dois eletrodos com um espaço vazio entre eles preenchido com ar. desativá-lo se ele tiver sua vida útil excedida, danificar-se ou for
“Quando a sobretensão atravessa este vão, o dispositivo atua ”, conta. submetido a tensões acima de sua capacidade.
Conforme o diretor da MTM, todos os DPS da classe I são baseados O varistor começou a ser fabricado no final da década de 1950 e
em “gap” de ar. seus primeiros modelos apresentavam apenas zinco em sua composição,
O problema, segundo ele, é que esses equipamentos a gap de ar não sendo, normalmente, compostos de óxido ou dióxido de zinco. Mais
tem a atmosfera controlada, ou seja, estão sujeitos à pressão atmosférica, tarde, no início dos anos 1960, foram adicionadas outras substâncias,
10-11
O DPS é fabricado a partir de três
tecnologias: à base de gap de ar, de
gap de gás ou com varistores.

como alumínio e bismuto e construídos sistemas binários. residência, se esta edificação não apresentar uma instalação elétrica
Em 1971, surgiram os varistores cerâmicos multicomponentes projetada e construída de maneira correta, a concessionária se exime
com propriedades mais avançadas que aquelas obtidas para sistemas de responsabilidade.
binários. Na atualidade, há uma grande variedade de elementos que O gerente de engenharia da distribuição e automação da AES
compõem o equipamento. O óxido de zinco ainda é o mais utilizado Eletropaulo, Sergio Luiz Basso, informa que a Agência Nacional de
como base, contudo, varistores de dióxido de estanho e de titânio Energia Elétrica (Aneel), por meio de resolução normativa, é que
possuem um grande potencial tecnológico ainda pouco aproveitado. determina o procedimento e as responsabilidades das partes em caso
Seja qual for a tecnologia utilizada pelo DPS, ele deve atender de atribuição de culpa à concessionária por danos a equipamentos
às prescrições construtivas, de desempenho e ensaios da norma elétricos de terceiros. Segundo ele, todas as distribuidoras de energia
IEC 61643-1, ainda sem sua corresponde norma ABNT. elétrica seguem a resolução da agência, e indo ao encontro da opinião
de Modena, afirma que, necessariamente, para efeito de ressarcimento,
Chaveamento deve ficar absolutamente comprovado que a causa do defeito no
Os principais causadores de sobretensões são as descargas equipamento está diretamente associada a algum problema ocorrido
atmosféricas, que incidem nas edificações ou em seus arredores, e as com a rede elétrica.
manobras da rede elétrica – também chamadas de chaveamento – Pesa a favor da distribuidora ainda o fato de que, na maior parte
realizadas pelas distribuidoras de energia quando detectam algum das vezes, de acordo com Basso, as sobretensões causadas por manobras
problema no serviço. Em ambos os casos, não há como evitar a de rede não acarretam em perigo para os aparelhos elétricos. “Os níveis
sobretensão. Uma descarga elétrica é um fenômeno natural, portanto de sobretensão para os sistemas de distribuição (até 69 kV) são muito
incontrolável. E o desligamento da rede, por parte da distribuidora, baixos”, diz. As próprias normas brasileiras estabelecem valores de
também, muitas vezes, é inevitável. Sem essas intervenções, os técnicos ensaios de sobretensão por surto de manobra para equipamentos de
de manutenção correriam grandes riscos. classe de tensão igual ou acima de 230 kV. Segundo ele, abaixo disso
Quanto ao chaveamento, há um grande problema envolvendo a não existe obrigatoriedade e cuidados adicionais com os equipamentos
concessionária e seus clientes. Conforme relata Osmar Pinto Júnior, a da rede.
população está cada vez mais consciente sobre seus diretos enquanto Basso informa que as manobras que as distribuidoras realizam
consumidores e sabe que, se o seu equipamento eletroeletrônico para operar o seu sistema (até 69 kV) não causam o tipo de perturbação
queimar devido a uma sobretensão, ela tem que ter um ressarcimento, que preocupa as normas técnicas. Isto acontece porque, para controlar
afinal de contas, a energia elétrica é paga. a sobretensão por impulso atmosférico, a concessionária instala
Para o engenheiro eletricista Jobson Modena, a situação não equipamentos denominados “pára-raios de distribuição”, cuja função
é tão simples assim. Até 2004, a briga dos consumidores com as é manter os níveis de sobretensão da rede de distribuição dentro
concessionárias era maior. Atualmente, argumenta Modena, se a dos valores especificados pela NBR 5410. “Como regra, na rede de
concessionária realizar um chaveamento, causando uma sobretensão distribuição, fazendo-se este controle da sobretensão por impulso, já
e, por este motivo, danificando um equipamento elétrico de alguma temos o controle da sobretensão por manobra”, conclui.

Apoio
história

flickr_uaeincredible
Por Bruno Moreira

Uma idéia brilhante!


Após diversas experiências, a lâmpada elétrica tomou forma graças à genialidade
de Thomas Edison. De lá para cá, com o progresso da humanidade, também
ela evoluiu e ganhou novos conceitos, tecnologias, tamanhos e formatos, mas o
propósito permaneceu o mesmo: o de iluminar caminhos.
Uma idéia brilhante é, com freqüência, representada com uma lâmpada sobre a cabeça do gênio.
É como se o objeto iluminasse a mente da pessoa que até aquele momento se encontrava imersa
em sombras de ignorância. Contudo, não poderíamos ilustrar aquele dia de outubro de 1879, no
qual o jovem cientista norte-americano Thomas Alva Edison sentou-se à bancada de seu laboratório
para desenvolver o projeto mais audacioso de sua vida até então, com a imagem de uma lâmpada
pairando sobre sua cabeça, simplesmente porque a peça seria criada naquele instante.
Iluminado, talvez, pelo próprio lampião a gás, invenção do cientista, Edison pôs-se a realizar a
experiência que culminaria na execução da primeira lâmpada incandescente que se tem notícia.
12-13
A primeira experiência que conseguiu
produzir luz por meio da eletricidade
foi realizada pelo químico inglês
Humphry Davy em 1802.

Apesar do feito excepcional de Edison, não se deve pensar XX, mas seu legado existe até hoje, pois é a precursora das atuais
que sua obra foi o desejo realizado por um gênio da lâmpada. lâmpadas de descarga de mercúrio e de sódio.
Desde o século XVIII, inúmeras invenções vinham sendo feitas
com o objetivo de fazer a eletricidade existente na natureza ser Finalmente, a lâmpada
domesticada e utilizada pelo homem. A primeira experiência Não se encontrava um meio para fazer a luz gerada por via
que conseguiu produzir luz por meio da eletricidade foi elétrica ter intensidade e duração atrativas. Neste ponto, então,
realizada pelo químico inglês Humphry Davy em 1802. Ele entra o gênio de Edison. Diz a História que ele testou mais de
observou que duas peças de carbono ligadas aos terminais de seis mil tipos de materiais que pudessem servir como filamentos
uma fonte de corrente, ao serem minimamente separadas, no período de dois anos, mandando até um agente procurá-la
produzem entre elas uma luz com alta luminosidade. Por essa nas florestas da Amazônia e outro nas florestas do Japão. Edison
luz ser em formato de parábola, a invenção ficou conhecida achou que tivesse encontrado o filamento ideal: a platina. Mas
como lâmpada de arco. esta se mostrou dispendiosa do ponto de vista financeiro, além de
Contudo, depois do início do fenômeno, observava-se ter eficiência limitada quando testada na prática.
que o pólo negativo da barra tomava uma forma pontiaguda Em 1860, o físico e químico inglês Joseph Swan teria
e o pólo positivo uma forma de cratera. Ou seja, os eletrodos desenvolvido uma lâmpada primitiva, que utilizava um filamento
queimavam rapidamente e precisavam de constante de papel carbonizado em um bulbo de vidro sem ar, mas a
monitoramento dos cientistas com o intuito de observar se iluminação resultante não era das melhores.
eles estavam na distância correta, pois se o caso não fosse esse, O tipo de filamento correto para os propósitos do cientista
o arco de luz se apagaria. Isso tudo fazia as barras de carbono só foi descoberto, no entanto, acidentalmente. Reza a lenda que,
terem de ser substituídas constantemente, o que tornava seu certa noite, mexendo em uma mistura de resíduo de carvão e
uso um tanto difícil e caro. alcatrão, o inventor enrolou a massa até transformá-la em um
Não obstante todos os empecilhos, a lâmpada de arco fino fio. Por curiosidade, resolveu testar o material e o colocou em
chegou a ser utilizada como fonte de iluminação pública e no uma bola de vidro, tomando cuidado para que o ar fosse retirado
cinema durante todo o século XIX. Na Inglaterra, por exemplo, antes. Passou a corrente elétrica no fio, que brilhou por um curto
muitos equipamentos desse tipo apareceram entre 1850 e 1870. período de tempo, depois queimou e se desfez.
Entretanto, nenhum obteve sucesso econômico. A lâmpada de Para Thomas Edison, o filamento queimou rapidamente
arco deixou de ser utilizada nas primeiras décadas do século porque continha ar em sua mistura. Dessa forma, foi à caça de

Apoio
Com tensão de 14 V, lâmpada foi criada em
1900 para aplicação decorativa Lâmpada criada por Thomas Edison em 1901

um material que oferecesse uma incandescência como aquela do Encontraram a solução nos fios metálicos de ósmio ou tungstênio
filamento anteriormente utilizado, mas que não apresentasse ar e a composição da lâmpada incandescente passou a ser essa. O
em sua composição, para que, assim, a luz durasse mais tempo. design da lâmpada de Swan teria sido mantido por Edison, com
E o encontrou em uma máquina de costura: uma linha de o aperfeiçoamento das técnicas de vácuo e, a partir de 1880,
algodão carbonizada. ambos começaram a produzir uma lâmpada praticável.
Depois de algumas tentativas frustradas, em 19 de outubro Além do filamento com um material mais duradouro e do
de 1879, o cientista conseguiu fazer esse novo material emitir bulbo de vidro cuja função é impedir o contato do fio de metal
uma luz intensa. Isso era uma boa notícia, mas ainda era preciso com o oxigênio, a sua conseqüente oxidação e rompimento,
que o tempo de duração dela fosse maior. Ele cobriu, então, a lâmpada incandescente passou a ser preenchida também
o filamento com o bulbo de vidro, retirando o ar e aguardou. com um gás inerte, em geral o argônio, que reduz o efeito de
A linha carbonizada só foi ser consumida dois dias depois, e sublimação do filamento, fazendo o bulbo não escurecer com
o experimento foi considerado um sucesso. Estava inventada poucos dias de uso e diminuir sensivelmente a eficiência da
a lâmpada elétrica incandescente, que foi revelada ao público lâmpada, assim como sua vida útil. O gás inerte também possui
dois meses depois, no mês de dezembro, quando o cientista outra função importante: torna a lâmpada mais resistente, já
abriu para visitação seu laboratório que, agora, contava com um que, se fosse evacuada, ela poderia quebrar com muito mais
sistema completo de energia. facilidade devido à própria pressão atmosférica.
Em 1880, a nova invenção começou a ser vendida em Uma modificação da tradicional lâmpada incandescente, a
pequena escala e, paulatinamente, a luz dos lampiões a gás halógena leva este nome porque apresenta em sua composição
foi substituída por pequenas redes elétricas de iluminação. O cloro, bromo, iodo e fluor, substâncias químicas halógenas cuja
primeiro lugar a receber iluminação elétrica por meio de uma função é ajudar na regeneração do filamento da lâmpada. Elas
fonte de força municipal centralizada foi a região de Pearl Street se combinam com o tungstênio que é ejetado do filamento no
Station, na cidade de Nova York, em 4 de setembro de 1882. acionamento da lâmpada e se precipitam sobre o filamento depois
Apesar do sucesso da lâmpada incandescente criada que a lâmpada é desligada. Tal efeito faz esse tipo de lâmpada
por Edison, um problema ainda tinha de ser resolvido: o ter uma durabilidade até duas vezes maior que as tradicionais
filamento de linha de coser carbonizada. Mas como? Ela não lâmpadas incandescentes, além de permitir boa manutenção do
era a solução? Comparada com os outros materiais testados até fluxo luminoso, uma vez que o efeito de enegrecimento por
aquele momento, certamente sim, tanto do ponto de vista da sublimação é minimizado.
luminosidade como da duração, porém, há de se convir, que 40
horas de vida útil não é um tempo muito satisfatório. Novas luzes
Era preciso procurar um material mais resistente e Edison A lâmpada incandescente é apenas um tipo desenvolvido
e os demais cientistas da época foram atrás de novas opções. pelo homem, mas, mesmo antes da invenção de Thomas Alva
14-15
Fonte: bulbcollector.com
Lâmpada fabricada em 1929 em comemoração
Lâmpada com bulbo de vidro na cor ao aniversário de 50 anos de criação da primeira
verde fabricada pela GE em 1903 lâmpada incandescente

Edison, outros equipamentos com o mesmo objetivo já vinham de empecilhos; o principal deles se deu na selagem do tubo
sendo testados pelo mundo. No entanto, devido aos problemas de descarga, que acabava rachando. Isso acontecia porque a
apresentados e, como a invenção de Edison se mostrou, na temperatura do mercúrio sob a forma de plasma de alta pressão
época, a única capaz de emitir uma luz de alta intensidade e era extremamente alta e exigia que os construtores empregassem
com alta duração, estes equipamentos ficaram relegados a um quartzo para a produção de seu tubo de descarga. A questão é
segundo plano. que o quartzo tem um coeficiente de dilatação térmica muito
Entretanto, com o avanço tecnológico, novas espécies de baixo quando comparado ao coeficiente de dilatação térmica dos
lâmpadas surgiram e aquelas que nasceram como concorrentes metais, ou seja, os eletrodos de tungstênio encerrados dentro
das incandescentes foram melhoradas, ao ponto de os do tubo de descarga acabavam o pressionando e causando as
equipamentos tradicionais não serem mais as únicas opções rachaduras.
eficientes no mercado. A lâmpada a arco voltaico, por exemplo, A resolução do problema deu-se com a utilização de finas
criada antes da lâmpada incandescente, não deu tão certo placas condutoras do metal nióbio que foram conectadas aos
quanto esta na época, mas acabou servindo de modelo para as eletrodos e aos terminais do tubo de descarga da lâmpada a
atuais lâmpadas de descarga: a vapor de mercúrio, a vapor de vapor de mercúrio. Quando o tubo se aquecia, as placas
sódio e a fluorescente. apresentavam uma dilatação um pouco maior que a sua, mas,
por serem extremamente delgadas não forçavam o tubo e,
A todo vapor conseqüentemente, não rachavam sua selagem.
Inventada por volta de 1930, a lâmpada a vapor de mercúrio Com o passar do tempo, a lâmpada a vapor de mercúrio
sob alta pressão deve boa parte de seu sucesso à expansão da sofreu aprimoramentos, o que desembocou na lâmpada a
indústria automotiva norte-americana da década. Tem como vapor metálico, muito semelhante à primeira, mas com iodetos
princípio de funcionamento a descarga entre dois eletrodos metálicos que melhoraram seu desempenho. Ela conta também
que ficam imersos em uma atmosfera de argônio, com uma com um revestimento de alumina nas extremidades de seu
pequena quantidade de mercúrio. Por apresentar um eletrodo tubo de descarga. Isso faz o calor produzido ser refletido pela
auxiliar no seu tubo de descarga, que ioniza o gás argônio nas descarga para os eletrodos, evitando a condensação dos iodetos
suas vizinhanças, a lâmpada a vapor de mercúrio dispensa no interior do tubo.
qualquer pico de ignição para que inicie seu funcionamento. O A chamada lâmpada mista também é uma variação da
equipamento possui também um reator cujo objetivo é limitar lâmpada a vapor de mercúrio sob alta pressão. Tem esse nome
sua corrente e tensão a valores aceitáveis para que sua operação porque apresenta, dentro do mesmo bulbo, um tubo de descarga
seja mais segura. com mercúrio e um filamento de lâmpada incandescente ligado
A lâmpada a vapor de mercúrio tornou-se realidade, mas, em série a ele. Tal característica não é mero enfeite, pois melhora
no passado, as suas primeiras cópias encontraram uma série o espectro luminoso do equipamento e, ao mesmo tempo,

Apoio
desempenha o papel de reator, possibilitando que a lâmpada radiação em luz visível. Por conter fósforo, a lâmpada fluorescente
de luz mista seja ligada diretamente à rede elétrica, da mesma também pode ser chamada de fosforescente.
forma que a incandescente. Introduzida no mercado consumidor em 1938 pela General
Desenvolvida na mesma época que a lâmpada a vapor Electric (GE), a lâmpada fluorescente deve seu surgimento,
de mercúrio, a lâmpada a vapor de sódio sob baixa pressão no entanto, a outras invenções similares feitas no passado. Os
surgiu com o objetivo de melhorar o rendimento das lâmpadas primeiros passos para sua invenção foram dados pelo físico
existentes e também trazer mais segurança para a iluminação alemão Heinrich Gleisser, em 1856. O inventor conseguiu,
das grandes vias expressas. O seu alto rendimento, chegando ao excitar, com uma bobina, um gás selado em um tubo de
a superar os 180 lumens/watt, foi extremamente popular na vidro, produzir um brilho azulado. Após a descoberta de
década de 1950. Contudo, como o seu espectro luminoso era Gleisser, inúmeros experimentos foram realizados até chegar
praticamente monocromático na região do amarelo, caiu em na invenção do cientista alemão Edmund Germer, que, em
desuso logo que o aparecimento de sua sucessora: a lâmpada a 1926, pegou uma lâmpada com vapor de mercúrio, aumentou
vapor de sódio sob alta pressão. a pressão operacional dentro de seu tubo e o revestiu com pó
Isto aconteceu porque, apesar de seu rendimento ser menor fluorescente para converter a luz ultravioleta em uma luz branca
em relação à lâmpada anterior, a lâmpada a vapor de sódio sob mais uniforme. Estava inventada assim a lâmpada fluorescente.
alta pressão apresentava um espectro de luz muito mais rico. Da mesma família, a lâmpada fluorescente de indução
Seu funcionamento é baseado no mesmo princípio de sua possui basicamente a mesma estrutura da outra, mas não
predecessora, diferindo apenas no fato de que, além do sódio, apresenta eletrodos na sua parte interna; é constituída por
apresenta mercúrio em sua composição e também gases nobres uma ampola com mercúrio e por uma bobina interna, que
que funcionam como agentes iniciadores da ignição. excita o mercúrio, ou tem simplesmente um tubo fechado com
duas bobinas enroladas em suas extremidades. Há também a
O florescer da lâmpada fluorescente lâmpada fluorescente compacta (CFL), que apresenta diâmetros
A lâmpada fluorescente é composta por um tubo de vidro à menores em relação às originais. De acordo com a GE, elas já
base de fósforo com um par de eletrodos em cada extremidade; são construídas com reatores e bases rosqueadas para facilitar a
internamente ela é carregada com gás inerte a baixa pressão. substituição por lâmpadas incandescentes.
Assim como as lâmpadas a vapores, ela também funciona por Em comparação com as incandescentes, as lâmpadas
uma descarga inicial. Sua mistura gasosa ao excitar-se produz fluorescentes levam uma certa vantagem: além de produzirem
radiação ultravioleta (UV), que é invisível e faz com que o espectro tonalidades de luzes brancas “mornas” semelhantes às da luz
luminoso produzido pela descarga seja extremamente pobre. Para incandescente, utilizam, aproximadamente, 70% menos
resolver este pequeno problema, o tubo é revestido de fósforo. eletricidade do que essas, níveis de lumens semelhantes e vida
Este, devido às suas propriedades químicas, acaba convertendo a útil até 20 vezes maior. É considerada a lâmpada de descarga mais
16-17
Os primeiros passos para a invenção da lâmpada
fluorescente foram dados pelo físico alemão
Heinrich Gleisser, em 1856, que conseguiu
produzir um brilho azulado ao excitar, com uma
bobina, um gás selado em um tubo de vidro.

popular no mundo, sendo utilizada em aplicações residenciais, Segundo o engenheiro eletricista e diretor técnico da
comerciais, industriais e outras. Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), Isac
Roizenblatt, em um futuro não muito distante, os Leds e o seu
A velha novidade “primo próximo”, o Diodo Orgânico Emissor de Luz (Oled)
O Diodo Emissor de Luz, o famoso Led é a última palavra em terão uma significativa participação de mercado, tanto em
tecnologia de lâmpadas no mundo. É uma invenção nova. Nova? volume de unidades como em produção de luz artificial. Isto
Não tão nova. Não só porque já se ouve falar dela há mais de dez deve ocorrer porque os produtos disponíveis no mercado e os
anos, mas porque antes de ser empregada na área de iluminação, que estão em desenvolvimento já atingem mais de 100 lúmens
ela já era uma velha conhecida em outros lugares e com outras por watt, apresentam um índice de reprodução de cor superior
funções. De acordo com a fabricante de lâmpadas Osram, os a 90, uma gama de temperaturas de cor e vida útil superior a 50
Leds têm sido utilizados há mais de 30 anos como substitutos mil horas, podendo funcionar por mais de dez anos.
das lâmpadas de sinalização ou lâmpadas pilotos nos painéis
dos instrumentos e aparelhos diversos. Eles podem ser visto em Novo paradigma
diversas aplicações industriais, tais como gabinetes de comutação De acordo com Roizenblatt, não obstante as tecnologias surgidas
a instrumentos de medição, em instalações de sinal de trânsito depois da invenção de Thomas Edison, as lâmpadas incandescentes
para rodovia ou ferrovia e em produtos para o consumidor, como e sua variante, as halógenas, são ainda quantitativamente as de
iluminação interna e externa de automóveis, em computadores maior volume no mundo. Contudo, elas produzem apenas cerca
pessoais, telefones, DVDs e outros aparelhos eletrônicos. de 10% da luz artificial para iluminação.
Soma-se a isso a sua origem, que remonta ao começo do Conforme o engenheiro, aproximadamente 25% da luz
século XX, mais especificamente a 1907, quando o engenheiro artificial é gerada pelas lâmpadas de descarga de alta intensidade,
eletrônico inglês Henry Joseph Round, ao fazer experimentos na 10% pelas fluorescentes compactas e 55% pelas lâmpadas
área de rádio, descobriu o efeito físico da eletroluminescência. fluorescentes. “Com essas proporções, vemos que 90% da luz
Conforme a Osram, sua descoberta foi esquecida em um primeiro artificial é produzida pelas lâmpadas de descarga, e as lâmpadas
momento, mas retomada posteriormente, o que acarretou de descarga em baixa pressão fluorescentes lideram por larga
no primeiro diodo com luminescência vermelha, lançado em margem devido às suas características”, constata.
1962. Anos mais tarde, em 1971, foram colocados a venda os Por conta dessa estrutura mercadológica, segundo
primeiros Leds nas cores verde, laranja e amarelo. É quando eles Roizenblatt, as novas tecnologias entrantes, como os Leds e
começam a ter sua potência e eficácia aperfeiçoadas. Dois anos os Oleds, devem ter as lâmpadas fluorescentes, fluorescentes
mais tarde, surgem diodos altamente eficientes, que emitem compactas, a vapor de sódio e as cerâmicas a vapor metálico,
luz no espectro azul e verde. Dessa forma, foram atendidas as como “benchmark”, ou seja, como modelo para se espelharem,
condições para criar luz branca, fato que aconteceu em 1995. buscando sempre o seu grau de excelência máximo.

Apoio
biografia Por Bruno Moreira

A força de Moshé
O engenheiro civil Moshé Gruberger trouxe grandes contribuições para
o conceito de sistemas prediais em Belo Horizonte (MG) e é hoje,
reconhecidamente, um dos grandes nomes da engenharia brasileira.
18-19
“Não temos a tradição de homenagear os
grandes nomes da engenharia e Moshé é uma
referência. Ele merece”
Cristina Bráulio

Inúmeras qualidades fizeram do engenheiro civil Moshé primeira edição: dar os louros da glória a quem merece. Com
Gruberger o homenageado desta edição, como sua contribuição Moshé não seria diferente, mesmo que este reconhecimento não
para a evolução dos projetos prediais e sua convicção que fez suas tenha vindo em tempo de encontrá-lo em pleno gozo da vida.
escolhas sempre darem certo. Outras evidências de que a nossa
escolha foi acertada foram encontradas ao longo da apuração O início
desta reportagem. Todas as pessoas ouvidas demonstraram Nascido em terra estrangeira no dia 25 de julho de 1939,
profunda admiração por Moshé e não pouparam elogios ao Moshé Gruberger morava no Brasil desde 1952; a capital
engenheiro falecido no começo deste ano. mineira Belo Horizonte foi o local escolhido por sua família
Uma delas é Cristina Bráulio, engenheira civil como Moshé para estabelecer sua vida no País. Foi aí que ele, seguindo os
e proprietária da Printer Projetos e Construções. Embora passos de seu pai, também engenheiro, cursou a faculdade
tenha conhecido Moshé superficialmente e apenas no âmbito de engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais
profissional – revisou um projeto de um shopping center feito (UFMG) e conheceu sua esposa Neide Ures Gruberger, com
por sua empresa –, guardou dele boas recordações. “Também quem teve três filhos: Isaak, engenheiro eletricista; Tatiane,
trabalho como professora de uma universidade em Belo arquiteta; e Rosane Gruberger, designer gráfica. Em 1968,
Horizonte, lecionando disciplinas tanto na área de engenharia fundou sua empresa, a Enit Projetos e Consultoria, realizando
como na de arquitetura e percebo que os arquitetos têm um trabalhos na área de sistemas prediais.
profundo conhecimento dos grandes nomes de sua área. Não Na opinião de Cristina Bráulio, a importância de Moshé
temos essa tradição de homenagear os grandes nomes da para a engenharia começou exatamente neste ponto, com a
engenharia e o Moshé é um grande nome, uma referência. Ele abertura da Enit. “Tenho que dizer que ele revolucionou o
merece”, avalia. conceito de sistemas prediais aqui em Belo Horizonte”, conta.
Este depoimento vai ao encontro desta seção, desde sua Segundo ela, o escritório de Moshé foi importante por ter sido

Apoio
Moshé tinha poucos, mas grandes projetos, como
shoppings centers, aeroportos, prédios industriais,
especializando-se nesse segmento. Abaixo, maquete
da sede da Petrobras em Vitória (ES).
20-21
Moshé, além de engenheiro, um empresário de sucesso.

um dos primeiros a realizar projetos nessa área e trabalhou de foi a expansão dos negócios para fora de Belo Horizonte.
modo que sua empresa não sofresse prejuízos, justamente por Percebendo a possibilidade de ultrapassar as fronteiras da
projetar poucos, mas grandes trabalhos. cidade, Moshé se aventurou em outras regiões do País, como
Conforme Cristina, ele montou sua empresa em uma São Paulo. De acordo com a sua esposa, foi em 1978 que essa
época que não era muito comum realizar projetos nessa área. mudança começou. “Moshe já não utilizava mais a régua de
“Não havia muita procura”, diz. Apesar do grande desafio, cálculo e buscava máquinas de calcular elétrica e computadores
Moshé nunca desistiu e tornou-se, além de um engenheiro, Radio Shack”, afirma. Foi nesse processo de inovação que
um empresário de sucesso. Neide Gruberger acrescenta que projetos fora de Minas Gerais, principalmente shoppings
a união de Moshé, em 1970, aos bons arquitetos Fernando centers, começaram a surgir. Destaque para o Norte Shopping
Graça, Eolo Maia, Paulinho Leander, Ney Gomes e Kleber e Barra Shopping, no Rio de Janeiro; o Anália Franco, o Villa
Gonçalves foi decisiva para a divulgação da empresa, que, Lobos e o Jardim Sul em São Paulo. E até fora do Brasil: a Enit
entre outros projetos, colocou sua marca na construção da expandiu seus negócios, realizando a construção do Cascais
Pampulha. Shopping, em Portugal.
Uma das grandes estratégias para o sucesso da Enit, na
visão da proprietária da Printer, foi a preferência de Moshé por Exemplo humano e profissional
projetos de grande porte, como shoppings centers, aeroportos, Por sua competência profissional e sucesso como empresário,
edifícios comerciais e prédios industriais, especializando-se Moshé e sua empresa tornaram-se modelo de conduta para
nesse segmento. “Ele tinha poucos projetos, mas grandes e de muitos engenheiros que resolveram abrir também seu próprio
qualidade”, conta. A participação na construção dos edifícios escritório. Um deles foi a própria engenheira Cristina Bráulio.
comerciais do Banco Mercantil e do Brasil, e ainda da Telemig, “Sua empresa foi, para mim, o exemplo do máximo que se
são prova disso. podia alcançar nesse setor”, conta. Outros dois engenheiros
Outra grande sacada de Moshé, de acordo com Cristina, que se inspiram em Moshé começaram como estagiários de

Apoio
O jeito de ser de Moshé fez dos profissionais que os
cercavam um grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos.

sua firma. O primeiro foi o engenheiro eletricista Potirene O engenheiro eletricista Marcelo Dicker tem uma história
Ubirajara da Silva e o segundo, o também engenheiro parecida com a de Potirene, pelo menos no tocante ao início de
eletricista Marcelo Dicker. suas carrerias. Ele também começou na Enit enquanto estudava
Potirene conta que sua história junto a Moshé começou engenharia elétrica, por volta de 1986, e ficou lá por seis anos
com seu irmão arquiteto, Maruene. Segundo ele, Maruene e até sair para abrir sua própria empresa de projetos de sistemas
Moshé viajaram juntos a trabalho, em 1972, para verificar um prediais e industriais, a Ecom Engenharia Computadorizada.
projeto no município mineiro de Cataguazes. Nessa viagem, Segundo Dicker, os anos passados na Enit foram uma
Maruene falou sobre um irmão que estudava engenharia verdadeira escola. Ele observou a forma de trabalhar de Moshé
elétrica e, coincidentemente, Moshé precisava de um estagiário – sua preocupação com a qualidade do projetos, que eram
nessa área. “Me apresentei em dezembro 1972 e comecei a sempre bem concebidos, detalhados, mas de fácil execução e
trabalhar lá em janeiro de 1973”, diz. Mais de trinta anos se de um jeito que facilitasse o uso para o cliente – e aprendeu
passaram desde então e Potirene virou um dos sócios. muito com isso. “Digo a todos que tive a oportunidade de
Com o falecimento de Moshé, Potirene comanda a Enit trabalhar na Enit e que muito do que eu sei devo ao Moshé”,
com a viúva Neide Gruberger. E, para o engenheiro eletricista, orgulha-se. Mesmo depois da saída de Dicker da empresa de
muito das lições ensinadas pelo antigo colega ainda está Moshé, os dois mantiveram um bom relacionamento, tanto
presente no dia-a-dia da empresa. O jeito de ser de Moshé que, há dois anos, conta Dicker, a Ecom fez uma parceria com
dentro da empresa fez dos profissionais que os cercam um a Enit para a realização de três projetos de sistemas prediais.
grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos. Estes frutos,
de acordo com Potirene, que ainda hoje são aproveitados lá Gênio forte: presença marcante
dentro, foram incontestavelmente plantados por Moshé. “Esta Por conta do relacionamento que seu pai tinha com
é hoje a grande bandeira que utilizo para dar continuidade aos Moshé, mesmo seguindo caminhos distintos, Dicker se
trabalhos e manter o nosso espírito de equipe”, diz. considerava um amigo do proprietário da Enit. “Sempre tive
22-23
“O fundador da Enit tinha a capacidade de
vislumbrar boas soluções com uma facilidade de
quem está montando um quebra-cabeça infantil”
Potirene Ubirajara da Silva

Edifício comercial, localizado na Avenida das Nações Unidas, em São Paulo (SP), foi projetado pela
Enit em novembro de 2006 e inaugurado em meados de 2008.

Apoio
Torre Paulista – prédio localizado na Avenida Paulista,
em São Paulo (SP), projetado em junho de 2007.

o Moshé como professor e acabei criando uma relação pessoal cliente, apresentava um carisma único difícil de ser coberto
com ele”, comenta. No entanto, o engenheiro eletricista por qualquer um de nós que estamos na sua sucessão.
reconhece que o relacionamento com Moshé nem sempre era
fácil. “Por acreditar muito nas suas idéias, ele as defendia com A família Moshé
muito vigor, o que, às vezes, para algumas pessoas tornava a Quem entra no site da Enit logo percebe que se trata de uma
convivência complicada”, conta. empresa diferente, que, mesmo não formada exclusivamente por
Dicker define Moshé também como um sujeito divertido, parentes, pode ser definida como familiar. Para se ter idéia, a
“boa-praça”, brincalhão e inteligente. Por ser tudo isso, descrição da equipe técnica da empresa é apresentada da seguinte
segundo ele, Moshé marcava a presença positivamente de uma maneira: “Todos os responsáveis técnicos realizaram sua vida
maneira muito intensa. “Tenho por mim, inclusive, que, para profissional tão somente na empresa, participando de todos os
as pessoas que viveram com ele rotineiramente, a sua perda projetos desenvolvidos, não tendo tido nenhuma experiência
ainda deve ser muito sentida”, analisa. profissional em outra empresa”.
Como conviveu quase sua vida toda com ele, Potirene O texto refere-se aos sócios-proprietários da Enit: o engenheiro
pode falar com propriedade sobre a falta que Moshé faz. O civil Moshé Gruberger e sua esposa, a engenheira mecânica Neide
engenheiro ainda lembra de sua voz marcante dentro da Enit, Gruberger, e os engenheiros eletricistas Potirene Ubirajara e Mário
o bom humor, a descontração e suas broncas nas horas certas. Sergio Pereira. De fato, todos não haviam trabalhado em nenhum
“Ele faz toda a falta do mundo. A sua presença era suporte outro lugar. Potirene, que trabalha lá desde a época de estagiário,
para todos e em todos os sentidos, seja para assuntos pessoais, conta que a situação, atualmente, é um pouco distinta. De acordo
seja técnicos”, afirma. O fundador da Enit tinha a capacidade com ele, há cinco anos, Mário Sérgio não está mais na companhia
de vislumbrar boas soluções com uma facilidade de quem está e, com o falecimento de Moshé, a sociedade foi dividida entre ele,
montando um quebra-cabeças infantil e, na relação com o que possui 10%, e Neide e os filhos, com 90%.
24-25
Projetado em 2005 pela Enit, o edifício Eldorado
Business Center foi um dos primeiros a receber o
certificado LEED (em inglês, Leadership in Energy and
Environmental Design) de sustentabilidade ambiental.

Embora possa se pensar que Neide Gruberger tornou-se formaram, casaram e eu estive sempre participando dos eventos
sócia por ser a esposa de Moshé, a verdade é outra. Ela sempre familiares”, diz saudosamente.
foi atuante na companhia, sendo responsável, como engenheira Ademais, segundo Potirene, as muitas viagens a trabalho
mecânica, pela parte dos projetos de ar-condicionado da que os dois fizeram juntos geraram um grande companheirismo.
empresa. Segundo Potirene, ela trabalhou durante muito tempo “Em uma preparação para essas viagens, aconteceu uma história
nesta função e só largou o emprego em certo momento para se divertida e que Moshé contava sempre que podia”, lembra.
dedicar com mais afinco à família. De acordo com Potirene, Quando a Enit iniciou uma série de projetos para a Mendes
todas as funções na empresa eram bem divididas: os projetos Júnior, eles foram convidados a realizar um proposta para a obra
elétricos e afins ficavam com ele e o engenheiro Mário Sergio. Já Express Way nº 1, no Iraque. Em uma reunião, para discutir as
Moshé tinha como foco principal os projetos hidro-sanitários e condições do projeto, eles comentaram sobre a necessidade de
prevenção e combate a incêndio, sua especialidade. Mas o fato é visitas freqüentes ao Iraque e um diretor da Mendes Júnior fez
que, por sua versatilidade, coordenava, de modo geral, todos os a seguinte pergunte a Moshé, baseado em seu nome: “Você é
projetos de instalações que a empresa produzia. Mais tarde, seu judeu?”, a qual Moshé respondeu: “Sim, eu sou!”. Diante dessa
filho Isaak e sua filha Tatiana começaram a trabalhar na Enit: reposta, os outros integrantes da Mendes Júnior alertaram sobre
ele, assumindo a direção comercial e ela, a direção da gerência de a dificuldade para conseguir o visto, mas que iriam avaliar a
projetos da empresa. situação. Nesse instante, o diretor falou, novamente: “Bom, pelo
Depois de 35 anos trabalhando juntos, era de se esperar que menos você não é iraniano. Estes sim não podem passar nem
Potirene e Moshé se tornassem amigos. Mais que amigos, uma perto da fronteira”. Depois de um momento de silêncio, Moshé
família. “Neste período me casei, nasceram meus filhos, eles se deu uma risada e disse: “Eu nasci em Teerã. Sou iraniano da
formaram e Moshé esteve sempre presente em tudo. Ele também, capital”. “A gargalhada foi geral. Bom, dessa forma, as visitas do
nesse meio tempo, teve suas outras duas filhas, os meninos se Iraque ficaram para mim”, relembra Potirene.

Apoio
dentro da lei
Por Flávia Lima 

O grande
dragão chinês
Maioria dos produtos falsificados ainda é originada na China, mas o índice já foi maior.
Investimentos em educação e tecnologia têm feito do império chinês uma potência mundial
e uma fonte de produtos feitos com cada vez mais qualidade

Nova pujança econômica do século XXI, a China despontava como a única potencia capaz de ameaçar
a supremacia norte-americana e foi pivô de grandes transformações econômicas em todo o mundo. País de
extensão territorial com dimensões continentais, a China abriga cerca de 20% da população mundial – 1,3
bilhão de habitantes – e recebeu, apenas no primeiro semestre de 2008, investimentos estrangeiros diretos da
ordem de US$ 52,4 bilhões.
Mas nem sempre foi assim. Até a década de 1960, a China era um país fechado política e economicamente, o
que se deveu, principalmente, à ideologia contrária à vigorada na maioria dos países ocidentais e pela desconfiança
nos estrangeiros, gerada pelas imposições sofridas com a Guerra do Ópio, em 1840.
Já na década de 1970, com a entrada de Deng Xiaoping no poder, a China decide adotar um amplo
programa de reformas e ingressar de vez na ordem mundial. Houve então quatro grandes modernizações:
cultural, militar, industrial e agrícola. Em um país em que 70% da população era constituída por camponeses,
era natural que as reformas começassem na agricultura. Assim, as famílias poderiam cultivar o que desejassem
em terras pertencentes ao Estado, entregariam parte da produção para o governo e poderiam vender o restante
ao mercado. O resultado foi um notável crescimento da produção agrícola e disseminação da iniciativa
privada e do trabalho assalariado no campo. Nesse sentido, o sistema econômico chinês foi modificado e
26-27
O conjunto de reformas
promovido pelo governo de
Deng Xiaoping refletia a idéia
por ele declarada, de que “não
importa a cor do gato, importa
que ele pegue os ratos”.

incluiu em seus planos a abertura ao exterior e ao capital externo. adentrando o mercado brasileiro e de tantos outros países, mas muitos
A grande revolução, entretanto, veio com a criação das chamadas deles vieram acompanhados por qualidade e desempenho duvidosos. Em
Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), instituídas com o intuito de 2005, cerca de 90% dos produtos contrafeitos que entraram no Brasil
atrair capital estrangeiro. Na tentativa de ampliar suas exportações, eram provenientes da China. O coordenador do Grupo de Trabalho
a China concedeu grandes benefícios aos investidores estrangeiros e de Combate aos Produtos Contrafeitos e Ilegalidades, da Associação
funcionou. A reforma econômica na China foi chamada de “economia Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Mario Sergio Amarante
socialista de mercado”, ou seja, um país socialista com um mercado Filho, conta que é comum encontrar no mercado pilhas e baterias com
livre. Conforme escreveu o advogado José Ricardo dos Santos Luz nomes e cores similares aos de empresas reconhecidas do setor. “No
Jr., em um artigo, “a participação do investidor estrangeiro na China início chegavam cópias perfeitas, mas mudaram a estratégia e agora
tinha como objetivo a introdução de tecnologia, métodos modernos colocam produtos à imagem e semelhança do fabricante tradicional,
de administração (“know-how”), otimização do parque industrial mas com sua marca própria”, reprova. Foi essa concorrência desleal
nacional e desenvolvimento da região favorecida. Em contrapartida, que levou diversos fabricantes a se unirem e formarem o grupo, com
o investidor estrangeiro receberia inúmeros incentivos fiscais, além de o objetivo de conscientizar o usuário de modo que ele exija qualidade
flexibilização das normas trabalhistas em vigor”. e conformidade com as normas técnicas, ciente dos riscos que corre ao
Nesse compasso, a economia chinesa cresceu, nos anos de 1980 e consumir produtos baratos, falsificados e sem qualidade técnica.
1990, a taxas médias de 9%, destacando-se a província de Guangdond, Entretanto, o mapa da pirataria é amplo. De acordo com o
que crescia a uma média de 12,5% ao ano, taxa mais alta do mundo Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita, o Brasil é o quarto país que
no período. O PIB chinês saltou de 362 trilhões de yuan em 1978 para mais consome produtos pirateados, depois da China, Rússia e Paraguai.
1.854 trilhões de yuan em 1990. As falsificações chegam ao Brasil por diversas rotas, com destaque para
os portos de Santos e de Paranaguá, por meio do Depósito Franco
Made in China Paraguaio, localizado no interior desses portos.
Com a abertura econômica e as crescentes exportações da China, Esses produtos, geralmente, são produzidos na China, mas é
o mundo foi invadido por produtos chineses. Em 1980, período de comum muitos deles receberem acabamento ou montagem final em
início das reformas econômicas, a China ficou em 25º no ranking alguns países, como Paraguai e Uruguai, para chegarem ao Brasil e a
de exportadores, vendendo para o mercado externo cerca de US$ 18 outros cantos da América do Sul com mais facilidade, considerando
bilhões. Em 1997, o país alcançou a soma de US$ 183 bilhões com as vantagens do comércio entre as nações que integram o Mercosul.
exportações, tornando-se o 10º no ranking mundial. De acordo com a Federação do Comércio (Fecomércio), os produtos
Para se ter idéia, em 2007, as importações da China para o Brasil trazidos do Paraguai (made in China) representam vendas superiores a
dispararam 54%, ultrapassando o Mercosul e tornando-se o segundo 88% do mercado informal.
maior fornecedor de produtos para o Brasil, depois apenas dos Estados O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos
Unidos. As importações chinesas representam, atualmente, cerca de Elétricos Nema Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, explica
10% do total de bens comprados pelo Brasil no exterior. que essas empresas são chamadas de “maquiladoras”, sendo, em sua
Desde os anos 1990, no entanto, os produtos chineses vêm maioria, empresas chinesas que montam pequenas fábricas no Paraguai

Apoio
O dragão é um símbolo mitológico que congrega os
quatro elementos do planeta: água, ar, fogo e terra.
É considerado o emblema do império chinês, repre-
sentando a energia masculina e a fertilidade. Além
disso, corresponde à quinta criatura do zodíaco
Chinês, cuja função é guardar o Oriente.

e em outros países com o objetivo de receber os produtos chineses burocrático. Se os custos brasileiros não fossem tão caros, não teríamos
para o acabamento final e então comercializá-los nos países vizinhos, tantos empresários ganhando tanto trazendo produtos da China”,
com benefícios fiscais. O mesmo acontece no México, tendo em vista conclui Tang.
o mercado norte-americano. Moreno enfatiza que isso não é ilegal.
“Muitas dessas empresas são formais, mas é um artifício que prejudica a Livre arbítrio
concorrência no mercado”, completa. A trajetória da China é similar à do Japão. Hilton Moreno
O presidente da Câmera de Comércio Brasil–China, Charles lembra que, nos anos 1960, o Japão começou a exportar produtos
Tang, confirma que a China investe em montadoras localizadas em de má qualidade e em grandes quantidades. Duas décadas depois, o
países estratégicos, as quais, dentro da legislação da região, exportam governo japonês implantou e incentivou uma filosofia de tecnologia e,
para outros países. Ele cita, entretanto, que os brasileiros e outras atualmente, os produtos lá manufaturados apresentam boa qualidade.
nações fazem o mesmo processo. “Da mesma maneira, o Brasil “Assim acontece com a China: no final dos anos 1990, praticamente
exporta etanol para ser hidratado na região do Caribe, por exemplo, todos os produtos chineses eram de má qualidade, ao passo que, nos
para, em seguida, exportar para os Estados Unidos, aproveitando dias de hoje, muitos produtos chineses apresentam bom desempenho”,
também facilidades de comércio entre os países. E isso não é ilícito e reconhece.
nem exclusivo da China”, defende. Ele afirma que a China abarca muitas empresas multinacionais e
A contrafação é muito expressiva no cenário internacional. De milhares de empresas chinesas que podem e fazem produtos de boa
acordo com a Câmara de Comércio Internacional, nos últimos dez qualidade. “Em poucas palavras, o fabricante chinês faz o que o mercado
anos, a contrafação provocou uma perda de 100 mil postos de trabalho pede. Por exemplo, se ele precisar fazer o melhor disjuntor do mundo,
por ano na União Européia, e de 120 mil nos Estados Unidos. Outro ele vai fazer”, completa.
dado significativo da Câmara Internacional é a previsão de que 5% a 7% Charles Tang, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China,
do comércio mundial sejam constituídos por atividades relacionadas à lembra que mais de 50% das exportações chinesas são provenientes
contrafação, com destaque para a indústria de softwares e eletrônicos. de empresas multinacionais que estão no país. “Então, se ainda há
Charles Tang conta que os juros e os tributos baixos foram e problemas de qualidade, não tem de reclamar com o governo chinês,
continuam sendo a principal marca da economia chinesa. Ele enfatiza mas com as multinacionais”, sugere.
que o problema não é o custo baixo da China, mas sim o alto custo Cada vez mais a China está sendo reconhecida pela qualidade dos
brasileiro. “Enquanto os tributos lá representam 17,5% do produto, seus produtos. “O problema é que quem não conhece a China a teme,
aqui no Brasil chegam aos 40%. O mesmo acontece com os encargos pois não conhece as múltiplas oportunidades que ela oferece”, analisa
trabalhistas, que são de 58%, e que aqui alcançam os 127%”, diz. Além Tang. Gradativamente, os produtos são valorizados pela sua qualidade,
disso, os juros praticados na China são um dos menores do mundo, design e tecnologia e deixando de ser um país de produtos baratos e
ao passo que os juros brasileiros estão entre os mais altos. “Comparado qualidade relativa. “Claro que ainda há produtos baratos de qualidade
ao Brasil, a China não tem câmbio desfavorável, nem um sistema tão inferior, mas a pirataria está sendo duramente combatida pelo governo
28-29
“O problema não é o custo baixo da China, mas sim o
alto custo brasileiro. Enquanto os tributos lá representam
17,5% do produto, aqui no Brasil chegam aos 40%. O
mesmo acontece com os encargos trabalhistas, que são de
58%, e que aqui alcançam os 127%”
Charles Tang

chinês, que, inclusive, está considerando a pena de morte para aquele eram realmente ruins, assim como também foram em um passado mais
que cometer o crime da pirataria”, revela. distante, os japoneses. “Os chineses estão se aperfeiçoando bastante, mas
O gerente comercial da Joining, Law Hwan Huei, explica que, como ainda é melhor comprar daqueles que possuem representantes no Brasil
estratégia, o mercado chinês possui pelo menos três níveis de qualidade para ter mais garantias”, aconselha.
para um mesmo produto, ou seja, é possível comprar uma lâmpada com Falsificações, alto desempenho, baixa qualidade convivem juntos
qualidade A, B ou C. O aspecto externo do produto para um leigo é o no mercado brasileiro e muitos produtos contrafeitos são atribuídos
mesmo, porém a qualidade varia muito, o que influencia diretamente genericamente aos chineses, mas a origem de um produto pirata pode
a durabilidade do produto. “A principal diferença entre os produtos ser brasileira ou ter outras nacionalidades. Nesse sentido, Law Hwan
A, B ou C é a qualidade da matéria-prima utilizada na sua fabricação: Huei, da Joining, afirma que o preconceito ainda existe, mas já foi muito
produtos de baixa qualidade usam material reciclado”, conta. pior, principalmente no início dos anos 1990. “Neste período, houve
Antigamente, havia softwares piratas, eletrônicos em geral importação maciça de produtos chineses de baixa qualidade, mas, como
empilhados nas ruas da China, cenário que não se encontra mais por milagres não existem, o preço baixo era devido à péssima qualidade do
lá. As vendas piratas caíram drasticamente. “Claro que, se o brasileiro ou produto”, afirma.
qualquer outro comprador procurar, vai encontrar fabricantes piratas nas Como empresa chinesa, a Joining, assim como outras, sofre
periferias do país, mas muitas fábricas foram fechadas por contrafação de com o preconceito. Sobre isso, Huei conta que alguns dos produtos
produtos”, afirma Charles Tang. Segundo ele, cabe mais ao importador comercializados por ela são similares aos comercializados e desenvolvidos
do que ao exportador chinês fazer as escolhas priorizando a qualidade. por outras empresas. “Entretanto, comercializamos apenas produtos
“A China não tem como controlar os importadores nem a alfândega de que não são patenteados ou que não possuem proteção do desenho
outros países”, conclui. industrial”, esclarece.
O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Equipamentos O fato é que, desde 2001, o Brasil ganhou de mais de US$ 7
de Iluminação (Abilumi), Alexandre Cricci, concorda que os produtos bilhões nas suas trocas comerciais com o império chinês. De acordo
chineses estão aperfeiçoando sua qualidade. “É a terceira economia do com Charles Tang, a China provou ser uma importante saída para o
mundo, não está para brincadeiras”, diz. Ele também compara a China Brasil, principalmente no momento em que os parceiros tradicionais do
com o Japão e afirma que ela está mais direcionada para a produção de País criaram dificuldades para as nossas exportações e subsidiaram a sua
equipamentos de alta qualidade e, por isso, continua produzindo para o agricultura, que assim concorre de forma injusta contra o carro-chefe
mundo todo. “O padrão de qualidade é equiparado ao dos Estados Unidos das exportações brasileiras, o agronegócio.
e da Europa”, completa. Além disso, o mercado brasileiro, assim como o Segundo ele, os chineses têm o que a empresa brasileira necessita:
mundial, está mais seletivo e prezando pela qualidade. capital de custo baixo e de longo prazo em abundância; máquinas de
O engenheiro Luiz Rosendo, consultor técnico senior da Schneider boa qualidade e de custo muito competitivo; e experiência de comércio
– empresa que possui fábrica na China –, vai ao encontro das internacional, que inundou as prateleiras do mundo com o “Made in
declarações de Cricci e afirma que há alguns anos os produtos chineses China”. A decisão é do importador.

Apoio
guerra das correntes
Por Hanny Guimarães

Duelo de titãs
Discussões sobre o uso das correntes alternada e contínua mantêm
acesa a histórica rivalidade entre dois grandes inventores:
Thomas Edison e Nikola Tesla

O duelo era mesmo de gigantes. De um lado, Nikola Tesla. Sérvio, tinha como pai um
reverendo e uma mãe inventora, e era um dos cinco filhos do casal. Avançou nos estudos de
engenharia elétrica em uma escola politécnica na Áustria, graduando-se posteriormente na
Universidade de Praga. Passou por Budapeste, em que desenvolveu atividades como engenheiro
eletricista na National Telephone Company e por Paris, na Continental Edison Company,
trabalhando no aperfeiçoamento de equipamentos elétricos. Já de olho nos estudos sobre
corrente elétrica, Tesla arrumou as malas, emigrou-se para os Estados Unidos e se tornou
assistente de quem iria travar, mais tarde, uma pequena guerra, o famoso cientista da época,
Thomas Alva Edison.
Do outro lado, um tanto mais experiente e trazendo na bagagem a invenção da lâmpada
elétrica incandescente, o gramofone, o cinetoscópio, entre outros grandes inventos, Edison
30-31
tensão
Contínua

+A 

tempo

Alternada
tensão
T
+A 
f = 1/T

tempo

–A 

Se durante muito tempo, a corrente alternada de


Tesla reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua
mostra-se mais poderosa que a rival e mais eficiente.

era o mais novo de sete irmãos. Garoto problema na escola, abasteceria ruas, casas e empresas de todo o mundo. Um
um de seus professores chegou a dizer que ele tinha o diabo engano, a segunda tinha limitações que só Tesla conseguia
no corpo. A inquietação o levou a estudar com a mãe. Logo, enxergar e ir além.
o menino estaria apaixonado pelas ciências, fazendo tremer Para somar à birra com Edison, Tesla não recebeu qualquer
a casa em que morava, em Michigan, com os experimentos pagamento por algumas de suas descobertas, que havia sido
realizados no laboratório de química instalado no sótão. prometido por seu superior. Com relações cortadas, o assistente
Trabalhou por toda parte vendendo jornais e doces até tornar- perdeu o emprego e teve de segurar as despesas com trabalho
se telegrafista e, após várias tentativas e experiências, inventar braçal. Longe da Edison General Electric, que, como o nome já
equipamentos de real valor que o permitiram se estabelecer sugere, era a empresa de Edison, buscou abrigo como inventor
em Nova York. Reconhecido pelas suas invenções, motivou a na concorrência, para a sorte de George Westinghouse, dono
construção de um centro de pesquisas em Menlo Park, Nova da Westinghouse Electric Company, empresário e também
Jersey, chegando a patentear em um período de quatro anos, engenheiro americano que injetou altas cifras no estudo e no
cerca de 300 criações. desenvolvimento da corrente alternada.
Com os conhecimentos de Tesla ao seu lado, Westinghouse
Rivalidade estaria armado para liderar as inovações no setor, que até então
O quase parque industrial – o centro possuía laboratórios, estavam a cargo de Edison. Tesla tinha a seu favor as ciências
oficinas, inúmeros técnicos e assistentes – foi a arena dos dois exatas e melhor formação matemática. Já Edison possuía baixa
inventores. Jovens, ambiciosos e inteligentes, os dois cientistas escolaridade, mas dominava o conhecimento empírico e foram
trabalharam juntos em muitos projetos, sendo até algumas das as experiências realizadas que levaram sua corrente contínua a
patentes de Edison de autoria de Tesla. Embora devotados a ser padrão nos Estados Unidos logo no início do fornecimento
um tema em comum, a energia elétrica, divergiam sobre as suas de eletricidade.
ramificações. Tais discordâncias lhes renderam a qualidade de No campo de batalha, havia duas grandes idéias que
inimigos e o início de uma guerra, a chamada “Guerra das buscavam apresentar a forma mais apropriada de gerar e
correntes”. Tesla defendia o uso da corrente alternada (CA) transmitir energia elétrica. Se, por um lado, a corrente
em todos os processos de transmissão da energia elétrica, já contínua se mostrava eficiente diante das exigências da época
Edison acreditava cegamente que a corrente contínua (CC) e graças a ela – e ao dinheiro e tempo investidos – Edison já

Apoio
CURIOSIDADES

AC/DC – Não é por menos que a lendária banda australiana de heavy metal estampa como logomarca um pequeno raio e se
você acha que o significado está no som eletrizante que sai das guitarras dos irmãos Young está enganado. Na verdade, a sigla
quer dizer Alternating Current/Direct Current, que no português é traduzido para Corrente Alternada/Corrente Contínua,
batismo dado pela irmã dos integrantes, Margaret Young, que viu o nome em uma placa, atrás de uma máquina de costura.

Topsy, o elefante – Thomas Edison, para provar que a corrente alternada era mais perigosa que a corrente contínua, fez vários
testes com animais, inclusive com um elefante. O inventor não ficou imune aos vídeos disponibilizados na internet e seu filme
sobre o teste com Topsy pode ser visto neste endereço virtual: http://br.youtube.com/watch?v=RkBU3aYsf0Q

Cadeira elétrica – Mais um vídeo macabro dos testes de Edison. Desta vez, a execução do preso condenado Leon Frank
Czolgosz, em 1901. A filmagem, de acordo com o cientista, seria “como uma herança para a posteridade”. Veja neste endereço
eletrônico: http://memory.loc.gov/mbrs/lcmp001/m1b38298.mpg

Rivalidades produtivas – O jornalista Michael White descreveu no livro Rivalidades Produtivas como a competição de idéias
pode estimular novas descobertas científicas. A desavença entre Edison e Tesla está devidamente contada em um dos capítulos.

produzia geradores, motores e lâmpadas em seu negócio, por abastecer a indústria de Buffalo, em Nova York. As obras
outro, chegava imponente, ainda que complexa, a promissora começaram com muita desconfiança dos oponentes em 1893,
corrente alternada proposta por Tesla, que pretendia superar para três anos depois ser enviada à Buffalo a partir de geradores
as limitações da corrente elétrica oponente. construídos também pela Westinghouse, instalados na estação
hidrelétrica, usando o sistema de corrente alternada. A General
Alternada ou contínua? Electric de Edison, ressentida, ficou com o contrato das linhas
A solução de Tesla mostrava-se mais atraente diante das de transmissão que levariam energia até Buffalo. O sistema de
limitações da corrente contínua de Edison, a qual tinha corrente alternada é utilizado até os dias de hoje.
dificuldades para elevar a tensão de trabalho e se fazer chegar
ao consumidor. Pelas vantagens da corrente alternada, a A vingança de Edison
idéia de Tesla, vendida pela Westinhghouse, era a melhor Ao que parece, com a história a favor de Tesla, Edison soa como
opção. Edison, empenhado em arrefecer o rival para não o gênio malévolo que levou a rivalidade com o ex-assistente
perder a chance de ter seu sistema comercializado, travou até as últimas conseqüências. Mas, como em toda guerra, é
uma campanha com o intuito de abalar a corrente alternada, ingenuidade pensar que a competição era apenas de idéias
desencorajando seu uso. A intenção era provar que todo o virtuosas. Todo o processo envolvia altas cifras e royalties de
processo de transmissão por CA era mais perigoso que por CC, patentes, além de quase levar tanto a Westinghouse quanto a
podendo ocorrer até acidentes fatais. O inventor da lâmpada General Electric à falência.
se armou de todas as formas para derrubar o injustiçado ex- Se durante muito tempo a corrente alternada de Tesla
companheiro, inclusive filmando, publicamente, execuções reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua mostra-se
de animais sob CA para divulgar à população os riscos da mais poderosa que a rival e, ainda, mais eficiente. O engenheiro
corrente. A princípio, cachorros, gatos e cavalos renegados e diretor geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética
fugiam das garras do cientista, mas foi a cruel eletrocussão do (INEE), Jayme Buarque de Hollanda, brinca dizendo que esta
elefante Topsy que ficou marcada na memória da época. O ato pode ser a vingança de Edison e acredita que, no futuro, a
de desespero de Edison veio quando, mesmo contra a pena corrente contínua será uma solução mais inteligente. “Amanhã
de morte, o cientista criou a cadeira elétrica, promovendo a a companhia elétrica é que será chamada de alternativa, mas
idéia de que a corrente alternada era mais mortal do que a no sentido certo, sendo uma alternativa ao sistema de geração
contínua. distribuída. Se a energia acumulada em uma bateria faltar
Não teve jeito. Entre os gladiadores, venceu a Westinghouse, ou, em caso de alguma emergência, o usuário pode conectar
utilizando o sistema de Tesla, quando uma comissão anunciou a tomada do aparelho na energia elétrica que antes era a
as propostas para aparelhar as Cataratas do Niágara a fim convencional – CA – e utilizar o equipamento”, prevê.
de produzir eletricidade, gerando energia suficiente para Na época, era fato que o uso da corrente alternada era
32-33
www.flickr.com/photos/wallyg
Criada pelo Comitê Bicentenário Iugoslavo-Americano,
a placa em homenagem a Nikola Tesla ilustra as paredes
do Hotel New Yorker, em Manhattan, N.Y.

mais viável geograficamente e financeiramente que a corrente de “correntes alternadas parasitas”. Em casos extremos,
contínua. E, ainda naquele período, os equipamentos dos equipamentos mais sensíveis podem sofrer danos em seus
consumidores eram apropriados para o sistema de Tesla. Todas sistemas devido a essa operação precária. O contrário acontece
as cargas estavam sendo produzidas para suportar corrente com a corrente contínua, já que a energia por esse sistema
alternada. Entretanto, com as inovações tecnológicas a partir deve ser produzida o mais próximo de onde ela é consumida.
da década de 1980, Edison se tornaria o grande vencedor, A corrente alternada foi legitimada durante muito tempo
ainda que postumamente – o inventor faleceu em 1931. A como única forma adequada para gerar e comercializar
proposta da corrente contínua não tinha morrido com seu energia, mas como toda máxima científica, as necessidades
criador, mas ficava cada vez mais presente na vida das pessoas que contextualizam o momento fazem tal verdade estremecer.
do final do século XX em diante. Jayme Buarque acrescenta que, na verdade, uma corrente não
Com o aumento da digitalização, a proporção de cargas exclui a outra. Há espaço para os dois gênios na história, mas
em CC vem crescendo rapidamente. Equipamentos que “a tendência é que os consumidores busquem fontes de energia
funcionam a pilha e a bateria, como rádios, computadores, menos agressivas ao meio ambiente”, ressalta.
celulares, câmeras fotográficas, entre outros, já fazem parte do A Geração Distribuída (GD) significa a geração elétrica
dia-a-dia da sociedade. Além disso, criações como os carros realizada junto ou próxima de onde ela será consumida,
elétricos, os painéis fotovoltaicos e os geradores eólicos – que conceito que vale também para a corrente contínua. A geração
utilizam CC – são reflexos da uma consciência ambiental pode ser obtida por painéis fotovoltaicos que armazenam
manifestada em tempos de preservação de fontes naturais. energia solar em baterias ou por co-geradores que utilizam
Preocupação mundial que também força empresas de todos os resíduos combustíveis de processo, gerando eletricidade e
setores a se adaptar, principalmente as do setor energético. No calor para a residência. Uma das evoluções nesse sentido são os
processo de transmissão de eletricidade por corrente alternada, carros movidos a motor elétrico, que já representam 2,5% dos
as perdas de energia são maiores que em corrente contínua. novos carros americanos. No Brasil, o governo tem tomado
Para que a energia percorra longas distâncias, é preciso que as algumas medidas para garantir que as inovações no setor
tensões sejam elevadas. Neste movimento, Hollanda explica energético evoluam na mesma proporção que as necessidades
que os elétrons se chocam com átomos, perdendo energia naturais, mas o processo caminha na velocidade abaixo do
em forma de calor à medida que viajam pelos fios. As perdas esperado. A primeira providência foi a Lei 10.848, de 2004,
podem chegar a até 10%. em que figura a legislação sobre GD. Caso as previsões sobre
Os problemas não param, pois os retificadores – dispositivos o uso de novas formas de geração de energia se concretizem,
que permitem que uma tensão alternada seja transformada certamente teremos dois heróis nesta história, claro, em
em contínua – pioram a qualidade da energia que alimenta momentos diferentes. Tesla e Edison que tratem de fazer as
um equipamento, criando o que os engenheiros chamam pazes e comemorar dupla vitória onde quer que estejam.

Apoio
desenvolvimento
Por Flávia Lima

Da carroça ao jaguar
Mercado brasileiro de materiais elétricos e as técnicas de instalação progrediram significativamente nas
últimas décadas e caminham para um padrão ainda mais evoluído observado em países desenvolvidos

“Nossos carros são verdadeiras carroças”, declarou, no início da década de 1990, o então presidente
da República, Fernando Collor de Mello, sobre os automóveis que circulavam na época. Desde então,
o cenário automobilístico e o econômico, de modo geral, sofreram grandes transformações, estimuladas,
em sua origem, pela mensagem neoliberal que o Consenso de Washington transmitira em 1989 e que foi
abraçada pelo empresariado nacional e acolhida pelo governo de Collor.
O objetivo era promover abertura econômica ao capital estrangeiro, controle da inflação, moeda forte,
privatizações para redução de dívida pública, flexibilização das leis trabalhistas e corte dos gastos públicos.
Estas e outras medidas trouxeram muitos prejuízos ao País, mas também algumas vantagens. Entre estas,
Collor conseguiu que a frase do início desta reportagem não fizesse mais sentido com as importações
34-35
“Com a invasão dos eletrodomésticos e dos
eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos
sistemas de telecomunicações, dava-se início a uma
nova concepção de instalação elétrica”
Luis Costi

de automóveis, com a vinda de diversas multinacionais do setor exceto em países cuja fiscalização é mais rigorosa, como França,
automobilístico para o Brasil e com as facilidades de crédito que, mais Espanha e Portugal.
tarde, chegaram às mãos do consumidor comum. O processo de inserção de novas tecnologias no Brasil teria iniciado
Passaram-se anos e as “carroças”, que representavam carros há 20 anos com a abertura do mercado brasileiro e foi a partir de então
populares e ultrapassados, foram substituídos por modernas máquinas que os especialistas começaram a ter maior contato com as novidades
automotivas que circulam atualmente por todos os cantos do País. internacionais. Diante disso, é até aceitável que muitas inovações não
Analogamente, a evolução dos materiais elétricos e das técnicas tenham sido completamente absorvidas pelo mercado.
brasileiras de instalação parece seguir um caminho similar ao do setor Naquele momento, começavam a entrar no País produtos
automobilístico descrito anteriormente, claro que com outro cenário importados e as instalações brasileiras passaram a ser comparadas
de fundo e outras particularidades. às executadas em outros países, em todos os aspectos. O mesmo
Globalização, normalização e uma gradativa mudança cultural são valia para a qualidade dos produtos aplicados. “Conheciam-se bons
os grandes fomentadores dessa evolução que, aos poucos, transforma produtos e equipamentos para uso nas instalações elétricas, mas
conceitos e práticas no segmento das instalações elétricas. Esse processo, também havia as naturais ‘alternativas mais baratas e que faziam a
no entanto, é moroso e, embora já se perceba algumas transformações, mesma função’ e, infelizmente, carecíamos de fiscalização e de uma
ainda há um longo caminho a se percorrer. mínima padronização de qualidade e desempenho, pois não havia
parâmetros comparativos”, relata Costi.
O caminho das pedras Nesse período, os produtos elétricos eram muito simples e baratos
Os produtos elétricos mais avançados tecnologicamente costumam ou muito eficientes e caros. Era o começo do foco em segurança nas
apresentar também maiores garantias quanto à segurança. Entretanto, instalações elétricas residenciais, as quais precisavam ser preparadas
não são todos os profissionais brasileiros que estão em sintonia com as para receber os novos equipamentos eletrodomésticos que chegavam
novidades do setor e acabam atuando conforme a experiência adquirida com força ao País. “Com a invasão dos eletrodomésticos e dos
na prática, desempenhando, muitas vezes, técnicas conservadoras eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos sistemas de
de instalação e produtos obsoletos. Nesse sentido, as instalações telecomunicações, dava-se início a uma nova concepção de instalação
residenciais, comerciais e prediais trazem um índice muito maior de elétrica”, explica o engenheiro. Foi nesse momento que o mercado da
erros, quando comparadas às industriais, mais atentas às tendências construção experimentou a aceleração do profissionalismo. A partir
internacionais. dos anos de 1980, para se construir, não bastava mais determinar o
Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Engenharia custo da obra e a ele agregar o lucro desejado, mas começava a imperar
de Sistemas Prediais (Abrasip), o engenheiro eletricista Luis Costi, o preço de mercado, isto é, o máximo preço possível de se vender
em alguns países mais desenvolvidos, a preocupação com a instalação aquele determinado empreendimento. Passa a prevalecer a equação
elétrica costuma ser maior, mas há certa semelhança com o Brasil, invertida: se o preço máximo de vendas será de x, e o custo histórico

Apoio
Comportamento de mercado para produtos de alta tecnologia

Teoria “Crossing the chasm” foi elaborada pelo consultor norte-americano Geoffrey Moore para
explicar o processo de conquista e de aceitação do mercado, pelo qual passa toda nova tecnologia.

era y, só se conseguiria apurar um lucro limitado. “Se o lucro não era “Criaram-se padrões de qualidade, controle tecnológico na obra
atraente, restava mexer no custo para obter melhor resultado, pois e agora caminhamos para a certificação das instalações”, afirma Costi.
ficava cada vez mais difícil atuar no preço final”, conta. Entretanto, Segundo ele, estamos bem no meio desse processo, em que, de um
alterar o custo implicava analisar o processo de construção, que era lado, estão os incorporadores, para os quais o custo é premente para
totalmente artesanal, e começar a pensar a construção como uma se permitir a um maior número de pessoas o acesso à casa própria,
indústria, com padronização de procedimentos, de materiais e de ainda que se comprometa a durabilidade do produto, e do outro lado,
formas de organizar a sua aplicação, de fluxo de caixa dos gastos da o consumidor, que quer o nível máximo sem pagar por isso. “Tudo
obra, além de treinamentos, segurança, etc. A evolução das técnicas de isso conduz a uma reorganização da cadeia produtiva, da forma de se
projetos, segundo Costi, seguiu este mesmo curso. desenvolver o projeto e, conseqüentemente, das instalações elétricas,
Teria surgido, então, nesta época, a evolução das instalações que precisam atender aos dois senhores”, conclui.
elétricas, que ainda segue um ritmo lento, com vetores que se movem
dos centros mais desenvolvidos para as áreas mais carentes do País. Mercado conservador
“Mas essa evolução, sem volta, precisa da fiscalização do governo e da Diante das inúmeras invenções tecnológicas globais em todas
sociedade para garantir que se perpetue”, alerta o engenheiro. as esferas econômicas, as diferenças técnicas são cada vez menores
A partir desse ponto, as diferenças começaram a se dissipar, entre os países, mas as particularidades são locais. O presidente da
primeiro porque mais pessoas, com a arrancada do turismo, tiveram Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema
a oportunidade de conhecer outros países e observar o conforto de Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, conta que há grandes
instalações encontradas além da fronteira. Também nessa época, diferenças, por exemplo, entre os produtos trabalhados no Brasil e em
começou a exigência pelos direitos do consumidor e de um mínimo de outros países por empresas multinacionais do setor elétrico. “Enquanto
performance dos sistemas prediais. Assim, o mercado passou a requerer no Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam poucas famílias
da construção um processo industrial, o qual, em um primeiro instante, de produtos, em outros países, a mesma companhia oferece diversas
testou e errou diversas soluções, produtos e materiais. Balizado, famílias. Falta, no País, mais diversidade de materiais elétricos”, avalia.
então, pelas normas técnicas e pelas exigências do consumidor, as Em relação à indústria local, vale a mesma observação: “embora o
construções, assim como as instalações elétricas, passaram a se adequar acesso a informações sobre quais produtos existem lá fora esteja muito
e, naturalmente, foram surgindo novos produtos, materiais, sistemas facilitado por causa da internet e das diversas feiras internacionais,
construtivos, enfim, projetos e obras diferenciadas. não temos visto a indústria local introduzir muitos novos produtos e
36-37
Fotos: Legrand
Pontos utilitários multifuncionais, empregados
em larga escala fora do Brasil, encontram
dificuldades no mercado brasileiro

tecnologias, sobretudo, considerando a boa qualidade dos fabricantes Além disso, outros exemplos quanto à instalação atestam grandes
nacionais”, completa Moreno. diferenças entre os países. “Enquanto as construções americanas são
No caso das luminárias, o presidente da Associação Brasileira dos baseadas em estruturas pré-fabricadas, o brasileiro constrói a parede,
Importadores de Equipamentos de Iluminação (Abilumi), Alexandre a destrói para passar a fiação elétrica e a refaz em seguida”, indigna-
Cricci, reconhece que a diversidade de peças disponíveis em mercados se Moreno. Segundo ele, o método brasileiro não contribui para o
de países da Europa, por exemplo, é muito maior do que o brasileiro, desenvolvimento de maneiras mais práticas de instalação.
mas esclarece que isso se deve à baixa demanda do ponto de venda. Alguns especialistas afirmam que o problema é evidente: ainda
Aqui há uma limitação de volumes, de escala, pois o poder de compra não temos escala para consumir esses produtos e técnicas, fato que
desse tipo de equipamento é consideravelmente menor que o de um é contestado por Hilton Moreno: “o mercado brasileiro não é tão
europeu ou norte-americano. pequeno, afinal, estamos entre as dez maiores economias do planeta,
Somam-se a isso as altas taxas de importação, que, para o basta estimular a necessidade, oferecendo os novos produtos. Não dá
segmento, giram em torno de 15% a 20% do produto, mas que se para esperar que o mercado peça essas novidades”.
viabilizam, pois montar uma fábrica no Brasil encontraria muito mais Juarez Guerra concorda e compara: “O telefone celular, quando
dificuldades tendo em vista o desenho da economia brasileira, os foi apresentado ao público, sofreu uma grande repulsa, mas depois
encargos trabalhistas e a extensa burocracia. que as operadoras exibiram os benefícios, a tecnologia estourou em
Essa dessemelhança vai além dos produtos. Algumas vendas e não parou de apresentar novas aplicações e benefícios. Assim
particularidades são prova de que o Brasil ainda situa-se em uma também deve funcionar com as tecnologias aplicadas às instalações
posição ultrapassada com relação às técnicas observadas em outros elétricas: enquanto os usuários não identificarem os benefícios, mais
países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há anos o Dispositivo demorada será a sua absorção”. Ele explica que esse estímulo ao uso de
Diferencial Residual (DR), é não apenas empregado, como já vem novas tecnologias deve vir com constantes mecanismos de divulgação e
incorporado à tomada elétrica. O diretor da Finder Componentes, menciona a teoria do “Crossing the chasm” (algo como “ultrapassando
Juarez Guerra, afirma que o DR e o Dispositivo de Proteção contra barreiras”) de Geoffrey Moore, para descrever o processo: “os primeiros
Surtos (DPS) estavam prontos para aplicação e disponíveis no a utilizarem uma nova tecnologia são sempre os entusiastas – curiosos
Brasil há muito tempo, mas passaram a ser utilizados quando foram e exibidos –, em seguida, os visionários, fazendo a curva de volume
inseridos mais incisivamente na norma de instalações elétricas – a subir. Nesse instante, há um grande abismo, momento importante que
ABNT NBR 5410. pode conferir sucesso ou fracasso à novidade. Vencido esse instante, a

Apoio
“No Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam
poucas famílias de produtos, em outros países, a
mesma companhia oferece diversas famílias. Falta, no
País, mais diversidade de materiais elétricos”
Hilton Moreno

tecnologia chega ao mercado de larga escala, conquistando os pragmáticos, profissionalizantes e elaborando estratégias de marketing
os conservadores e os céticos, que são os personagens que oferecem maior eficazes, pois ninguém compra ou exige aquilo que não
resistência à cadeia”. conhece ou que não entende.
De modo geral, está havendo uma evolução no modo de
Automação se projetar uma instalação elétrica. Isso porque, na visão de
O Brasil viveu um momento delicado no inicio da aplicação Juarez Guerra, os projetos deixam uma abertura para que, no
de automação no mercado da construção. Na tentativa de “tirar o futuro, possa receber equipamentos de automação. Trata-se de
atraso”, sofisticou demais as instalações e os custos foram exorbitantes. uma infra-estrutura pré-automatizada com aplicação de relés,
Luis Costi, da Abrasip, conta que o setor precisou equalizar o custo/ permitindo que o usuário automatize sua instalação conforme
benefício para que o consumidor final começasse a ver a automação sua necessidade e condição financeira. Hilton Moreno concorda
como uma necessidade e não um acessório. com essa mudança de paradigma: “já encontramos prédios
Para Juarez Guerra, o home theater foi o grande divisor de águas. residenciais e comerciais feitos à base de construções pré-
Segundo ele, há dez anos, o consumidor começou a entender que fabricadas. Além disso, começam a surgir soluções parecidas
o equipamento o levava a assistir um filme, com um bom áudio e com as empregadas em outros países, como em hotéis de redes
em segurança, que, por sua vez, tornaria ainda mais confortável o internacionais”.
momento com um controle de iluminação, com um sistema de
acionamento remoto de cortinas, câmeras e ar condicionado. Esses Globalização
sistemas começaram a ser integrados via cabeamento estruturado, Com o processo da globalização e com e a praticidade das
agregando outras tecnologias de áudio, vídeo e voz. formas de comunicação, é preciso que se apurem as informações
“Ainda estamos longe de termos residências automatizadas, mas técnicas confiáveis e as estatísticas idôneas, no caso de produtos.
acredito na evolução contínua e no amadurecimento do consumidor, “Da mesma forma que produtos novos podem ser importados
do instalador, do projetista, da construtora e do incorporador”, confia facilmente, eles precisam ser testados de acordo com as normas
Guerra. No momento em que cada um identificar os benefícios que técnicas vigentes para operarem nas condições locais e estarem
as tecnologias estão aportando, as distâncias vão se estreitar e maior revestidos das respectivas garantias”, previne o engenheiro Costi.
segurança, economia e flexibilidade serão providas a toda a cadeia que O presidente da Associação Brasileira de Conscientização sobre
se insere neste processo. Para isso, Guerra recomenda que as empresas os Perigos da Eletricidade (Abracopel), Edson Martinho, lembra
que detêm essas tecnologias se esforcem mais para disseminá- que, apesar das facilidades de acesso a informações por meio da
las, especialmente, levando informações a instituições de ensino internet, de seminários, de feiras, etc., há os pseudo-profissionais,
38-39
Dispositivo Diferencial Residual é há anos comer-
cializado e empregado nos Estados Unidos e em
outros países. No Brasil, o DR de alta sensibilidade
só foi incorporado à norma de instalações elétricas
na revisão de 1997.

que aproveitam o aumento da oferta de trabalho e, não estando para deixar de limitar a vinda de novas tecnologias. Segundo ele, ainda
devidamente preparados, contribuem para a proliferação de instalações há muito o que fazer, documentos precisam ser revistos e atualizados
primitivas. Nesse sentido, embora haja, a cada dia, mais regulamentação incorporando novas tecnologias que existem por aí. “Nos países
e maior exigência de controle na fabricação, ainda há muito o que desenvolvidos, a população está acostumada há anos a trabalhar com
melhorar. O mercado pune com o tempo o produto enganador, que produtos mais sofisticados e estamos seguindo este caminho, mas
tem vida curta, entretanto, ele deixa marcas antes disso. ainda temos uma grande gama de produtos que precisam de uma
Além do mais, há no Brasil fabricantes de produtos elétricos e reforma tecnológica”, critica Eustáquio.
eletrônicos locais com qualidades similares aos importados, ou quando O que nos falta é um processo mais ágil de atualização das normas
não, exportando materiais em nível de primeiro mundo. A rigor, as técnicas e um sistema atraente de desenvolvimento desses documentos
empresas hoje são transnacionais, são globais. “O mesmo ocorre com a de forma a serem o mais isento possível entre consumidores, neutros
disponibilidade ao consumidor: há produtos disponíveis de toda sorte, e fabricantes. “Houve e sempre haverá riscos de comissões de norma
cabe ao consumidor se informar com bons projetistas, quais deles exigirem no texto qualidade de materiais e garantias de segurança
atendem às normas e tem seu desempenho comprovado”, aconselha superiores ao que o mercado está preparado para atender, mas como
Luis Costi. Para ele, os melhores exemplos de que estamos evoluindo conseguir evoluir tecnicamente e aumentar a segurança sem isso?”,
são a qualidade da proteção contra choque dos equipamentos atuais, questiona Costi. Nesse sentido, o bom senso deve reger os prazos
a eficiência energética (lâmpadas e motores, por exemplo), os novos de implantação de novos conceitos de norma que implicam custo,
materiais cerâmicos e plásticos, os materiais que não propagam tanto para a indústria do produto quanto para o direito adquirido
incêndio ou emitem fumaças tóxicas, os sistemas de comando e do incorporador do empreendimento. E há casos e casos: não basta
automação e controles de partidas de grandes equipamentos elétricos. dar valor maior ao aspecto histórico do mercado, nem tampouco
Essa evolução de projetos e produtos já permite ao País edificações desprezar a cultura local. Igualmente não se pode errar impondo as
efetivas e não mais construções improvisadas de moradia. vezes conceitos ainda não comprovados, apenas por serem importados
Cada país tem suas especificidades. Temos restrições normativas e funcionarem em uma realidade diferente.
e técnicas que impedem o uso de algumas tecnologias. Além disso, a Assim como a indústria automobilística encontrou um cenário
aplicação de novos produtos depende também de normalização e de uma favorável para o seu crescimento no País, também o setor elétrico
adaptação cultural, isto é, o entendimento dos benefícios dessa tecnologia, precisa de um apoio governamental e esforços do empresariado de
condição que nem sempre é instantânea à criação do invento. forma a estimular a vinda de novas tecnologias e, quem sabe, tornar-
O gerente de produto da Siemens, Luiz Eustáquio Perucci, se um grande exportador de equipamentos, do mesmo modo que
concorda que o portfólio brasileiro de normas técnicas precisa evoluir automóveis brasileiros hoje são exportados para o mundo.

Apoio
Palavras cruzadas
descontração
Responda as questões propostas abaixo e, de acordo com a orientação dada pela posição e
pela numeração, preencha os espaços reservados para cada palavra. Boa sorte!
1 2

3 19

4 5 18

7 8 9

10 11

12

13

14

15 16

17

Vertical Horizontal
1. Extensão elétrica múltipla para ampliar o número de tomadas 2. Indica o consumo e o fornecimento de energia elétrica em um
disponíveis em um ponto. circuito de corrente alternada, a qual é igual ao produto da tensão e
3. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir capacitância em da corrente.
um circuito. 4. Preço estipulado pelo consumo de energia elétrica.
8. Máquina que converte energia mecânica em elétrica. 5. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir resistência em um
9. Instrumento multiescala e multifunção destinado a medir circuito.
tensão, corrente e outras grandezas elétricas, como a resistência, 6. Ato de conectar um circuito elétrico de baixa impedância à terra.
por exemplo. 7. Dispositivo de proteção da instalação elétrica.
13. Conjunto de condutores elétricos que servem a determinado 10. Dispositivo de aplicação rápida, utilizado para realizar emendas
Fonte: glossário de eletricidade on-line (www.fazfacil.com.br)

número de pontos. ou ligações elétricas.


16. Sigla de American Wire Gauge, denominação norte- 11. Dispositivo eletromecânico ou não, com inúmeras aplicações em
americana utilizada para bitola (espessura) de fios e cabos comutação (acionamento/desligamento) de contatos elétricos.
elétricos. 12. Grandeza escalar igual ao quociente do valor eficaz da tensão pelo
18. Onda de tensão transitória que se propaga ao longo de um valor eficaz da corrente.
sistema elétrico, caracterizada por elevada taxa de crescimento 14. Transmutador de energia elétrica que converte corrente contínua
inicial, seguida de decréscimo mais lento da tensão. para corrente alternada.
19. Equipamento destinado a suprir a alimentação elétrica 15. Eletrocalha ou bandeja de dimensões reduzidas.
dos equipamentos a ele acoplados, quando é interrompido o 17. Parte condutora de um dispositivo elétrico com o qual se conecta
fornecimento de eletricidade. um condutor correspondente a um circuito elétrico.
40-41
Apoio
Apoio

Você também pode gostar