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ALEXANDRIA
ADRIANO FILHO, José. (STAGGS-UNIFIL)
Os estóicos não utilizavam a palavra alegoria, mas, sim, uponoia, que é uma forma
de comunicação indireta, que diz algo, para dar a entender algo diverso. Foi o Pseudo-
Heráclito (séc. I d.C.) que forjou a palavra alegoria, definindo-a como um tropos
retórico, que possibilita dizer algo e, ao mesmo tempo, aludir a algo diverso. De
qualquer forma, a distinção estóica entre logos proforikos e logos endiathetos abriu
caminho para essa formação conceitual retórica. Antes de se tornar técnica da
interpretação, a alegoria era uma forma de discurso, de natureza retórica, pois o fazer
retórico está relacionado com a mediação de sentido, razão porque, na pesquisa, se
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2- Os antecedentes de Filo
3- Filo de Alexandria
c) Outras obras não relacionadas com a Bíblia, nas quais não faltam, contudo,
alusões históricas e filosóficas. Filo dialoga com a cultura helenística, apresentando um
exemplo de como a cultura helenística pode ter um valor positivo para eles.
A idéia sugerida é a de que tudo o que é literal deve, para ser plenamente
entendido, apontar para algo pré-literal. As Escrituras não se bastam a si mesmas, elas
necessitam da ajuda ou da luz de algo diferente. Ela acena para a necessidade de um
retorno, a partir do logos proforikos, ao espírito que o vivifica. Todavia, isso pode
conduzir à negligência do logos literal e abrir as portas para a arbitrariedade
interpretativa. Já na antiguidade, a alegoria filônica foi mal vista, pois ele afastou-se da
interpretação literal da lei, que caracterizava os intérpretes da Torá. Por essa razão,
sua influência foi escassa sobre a exegese palestina, a ponto de ele ser excluído dos
cânones da tradição rabínica de interpretação.
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A alegoria querer atingir algo invisível e mais elevado, o que implica que esse
sentido não pode ser imediatamente acessível aos leitores. Somente o iniciado, o
intérprete vocacionado e experiente pode alcançar este sentido mais elevado que Deus
queria preservar do leitor comum, que fica preso no conteúdo literal. Somente aqueles
que, “com base em pequenos indícios, conseguem entender o invisível através do
visível”, estão em condições de captar o sentido mais profundo das Escrituras. Ela não
existe para muitos, mas para aqueles poucos que se interessam pela alma e não pela
letra. É evidente que o discurso religioso sugere uma compreensão alegórica de si
mesmo, já que ele quer tratar do supraterreno por intermédio de uma linguagem
totalmente terrena, uma concepção favorecida pelo fato de que o logos falado deseja
ser sinal de um outro logos invisível.
Filo quer ser defensor do seu povo no círculo de judeus e de pagãos cultos. Ele
procurava superar as dificuldades que o judaísmo suscitava, da mesma maneira que
ele as havia superado, além de tentar demonstrar a grandeza da herança judaica. Filo
não procurava aproximar a cultura grega aos seus leitores judeus, pois eles conheciam
o que era básico dela, mas ela é empregada para provar a existência, em qualquer
lugar do texto sagrado, de algum sentido profundo cosmológico. Em Moisés e nos
patriarcas judeus acham-se os verdadeiros arquétipos do sábio e do filósofo. A
Escritura é receptáculo da sabedoria antiga, pois os grandes filósofos foram guiados
pelo espírito divino. A interpretação alegórica da Escritura de Filo consiste, portanto,
numa “re-escritura” de significados clássicos, uma “re-escritura” que é,
paradoxalmente, vista como escrito original. Ela reinterpreta o cosmos, a história, a
sabedoria filosófica clássica e a realidade social de Alexandria. Filo não procurava
dissolver a identidade judaica na cultura helenística, mas era central para a identidade
e sobrevivência da comunidade judaica em meio a um contexto hostil.
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Bibliografia consultada: