É que a ciência é sempre o enlace de uma malha teórica com dados empíricos, é sempre uma
articulação do lógico com o real, do teórico com o empírico, do ideal com o real. Toda modalidade
de conhecimento realizado por nós implica uma condição prévia, um pressuposto relacionado a
nossa concepção da relação sujeito/objeto (SEVERINO, 2007, p. 100).
Com relação à pesquisa quantitativa é preciso lembrar que a mensuração dos fatos sociais depende de
distinções qualitativas, de uma categorização do mundo social. Para entendermos melhor podemos
considerar o seguinte exemplo: “Se alguém quer saber a distribuição de cores num jardim de flores, deve
primeiramente identificar o conjunto de cores que existem no jardim; somente depois disso pode-se
começar a contar as flores de determinada cor. O mesmo é verdade para os fatos sociais” (BAUER;
GASKELL, 2008, p. 24).
A pesquisa qualitativa possibilita perceber as concepções dos sujeitos (como pensam sua problemática,
quais significados atribuem as suas experiências ou como vivem suas vidas) e pressupõe o contato direto
com os sujeitos da pesquisa. Busca os significados, as interpretações, os sujeitos e suas histórias.
“A pesquisa quantitativa lida com números, usa modelos estatísticos para explicar os dados, e é
considerada pesquisa hard. [...]. Em contraste, a pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações
das realidades sociais, e é considerada pesquisa soft (BAUER; GASKELL, 2008, p. 22-23).
Tanto a pesquisa qualitativa como a quantitativa podem ter um enfoque crítico. Não é a natureza da
pesquisa que determina isso, mas todo o seu corpus, seu processo e forma de análise e apresentação dos
dados.
3. Indicar o tipo de pesquisa com que se irá trabalhar:
Bibliográfica – é desenvolvida por meio de material bibliográfico já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Quase todos os estudos exigem uma pesquisa
bibliográfica, mas há alguns que trabalham especificamente com esta. Esta pesquisa é indispensável
nos estudos históricos. Essa pesquisa utiliza-se das contribuições (dados ou categorias teóricas)
sobre determinado assunto, já trabalhadas por outros autores ou pesquisadores e devidamente
registradas.
Documental – assemelha-se a pesquisa bibliográfica, a diferença está entre a natureza das fontes, a
pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico. O
primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais. Existem documentos de primeira
mão, que não receberam qualquer tratamento analítico e documentos de segunda mão que de
alguma forma já foram analisados, como é o caso de relatórios de pesquisa, tabelas estatísticas, etc.
1 Notas de aula elaboradas por ocasião das discussões realizadas na disciplina Metodologia do Trabalho Científico, no curso de
Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, na cidade de Mossoró-RN, no ano de 2012.
De campo – procura o aprofundamento das questões propostas. O objeto/fonte é abordado em seu
meio ambiente próprio. A produção dos dados é feita no espaço dos sujeitos a serem trabalhados.
Uma pesquisa documental também pode se constituir como uma pesquisa de campo.
4. Indicar, quando necessário, as modalidades da pesquisa científica a que nossa investigação se vincula.
Estas, dentre outras, podem ser:
Pesquisa participante – nesta o pesquisador compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados.
Passa a interagir com eles em todas as situações, acompanhando as ações praticadas por eles. Tanto
a pesquisa participante quanto a pesquisa-ação se caracterizam pelo envolvimento dos
pesquisadores e pesquisados no processo de pesquisa. Nestas o observador e seus instrumentos
desempenham papel ativo na coleta, análise e interpretação dos dados.
Pesquisa-ação – além de compreender questões teóricas, visa intervir na situação com vistas a
modificá-la. O conhecimento articula-se a uma finalidade intencional de alteração da situação
pesquisada. “[...] é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos do
modo cooperativo ou participativo” (THIOLLENT, 1985, p. 24).
Estudo de caso – se concentra em um objeto particular, considerado representativo de um conjunto
de casos análogos. Caracteriza-se pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de
maneira a permitir um conhecimento amplo e detalhado. O estudo de caso é um estudo empírico
que investiga um fenômeno dentro do seu contexto.
História Oral – Possibilita reflexões sobre o registro dos fatos na voz dos seus protagonistas. É um
método de pesquisa que utiliza a técnica da entrevista e outros procedimentos articulados entre si,
no registro de narrativas da experiência humana. Pode ser dividida em três gêneros distintos:
tradição oral; história de vida e história temática. Pode ser considerada um relato autobiográfico, do
qual a escrita está ausente. Nela se faz a reconstituição do passado pelo próprio indivíduo sobre ele
mesmo. O relato pode ser parcial ou abranger a totalidade da existência do informante.
História de vida – Retrata experiências vivenciadas, bem como as definições fornecidas por
pessoas, grupos ou organizações. Pode ser escrita ou verbalizada. Divide-se em: completa (abrange
o conjunto da experiência vivida por uma pessoa, grupo ou instituição) e tópica ou temática (dá
ênfase a determinada etapa ou setor da vida ou focaliza acontecimentos específicos).
Vale salientar, que nem a natureza, nem os tipos de pesquisa se excluem, mas podem aparecer de maneira
concomitante. A escolha do tipo de pesquisa está ligada ao problema que se busca estudar.
5. Apresentar os instrumentos de produção de dados a serem utilizados (entrevistas, questionários,
sociodrama, etc.).
6. Indicar a forma de análise dos dados.
Observação
A observação na pesquisa tem fins determinados, portanto, precisa ser planejada.
Se realiza pelo contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. O observador enquanto parte
do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Ele pode, ao mesmo
tempo, modificar e ser modificado pelo contexto.
Surgem também como necessárias o delineamento de algumas técnicas: o registro das falas (anotações
ou gravação); fotografias e filmagens. O registro assume um papel complementar a observação.
A observação pode ser: ordinária ou sistemática (o pesquisador está fora do grupo que observa. Pode
ser empregada nas visitas preliminares a fim de reconhecer e delimitar a área de trabalho para estruturar o
marco teórico e conceitual); participante (a coleta dados se dá a partir da inserção do pesquisador e
participação na vida cotidiana dos sujeitos que estuda, este se submete as regras formais e informais do
grupo. Assim, a observação está sempre impregnada pelo arcabouço ideológico do pesquisador, portanto,
não se pode supor uma absoluta objetividade, mas um processo objetivo-subjetivo. Pressupõe um enorme
dispêndio de tempo e um grande montante de recursos financeiros).
Diário de campo
É pessoal e intransferível. É escrito para você mesmo e é fruto de um processo de observação.
Demanda um uso sistemático, desde o primeiro momento de ida ao campo até a fase final da
investigação. As anotações deverão ser feitas de imediato ou logo após a ocorrência dos fatos e sem que as
pessoas observadas percebam.
É preciso revisar as anotações; corrigir e acrescentar o que for necessário as notas.
Conversas e diálogos devem ser transcritos em estilo direto. Só devemos anotar o que é significativo
para a pesquisa que estamos realizando.
Questionário
O questionário pode conter perguntas fechadas e abertas, que deverão se prestar a quantificação. É um
instrumento que não pressupõe a presença do pesquisador.
Entrevistas
Busca, de forma direcionada obter informações por meio da fala dos atores sociais.
Por meio dela podemos obter dados objetivos e subjetivos (estes últimos se relacionam aos valores,
atitudes e opiniões dos sujeitos entrevistados).
É mais útil para trabalhar assuntos complexos como as emoções, pois permite maior profundidade.
A entrevista pode ser: estruturada (segue um roteiro pré-estabelecido e rígido); semi-estruturada (segue
um roteiro pré-estabelecido que permita a inserção de novas perguntas) e aberta (o entrevistado discorre de
forma livre sobre o tema que lhe é proposto).
Oficinas
Deve ser um espaço participativo e democrático que, portanto, pressupõe a participação de todos. Nesse
sentido, as dinâmicas são imprescindíveis para realização da oficina;
Para realizar uma boa oficina: registre opiniões e conclusões do grupo; use dinâmicas de criatividade e
sensibilidade, pois são excelentes estratégias para participação; busque a integração dos participantes e
crie um ambiente participativo, propício a produção dos dados.
Grupos Focais
Do ponto de vista operacional se faz em reuniões com um pequeno número de informantes (de seis a
doze); A abrangência do tema pode exigir uma ou várias sessões;
Exige algum método de registro, seja o gravador ou a câmera de vídeo. Geralmente tem a presença de
um animador que intervém tentando focalizar e aprofundar a discussão.
Sociodrama
Procura essencialmente desvendar as relações entre as pessoas, os laços sociais construídos entre elas.
As pessoas deverão representar uma história, a partir de um tema proposto, devem representar seus
papéis como fariam na vida real. Organiza-se quando se quer observar o comportamento de um grupo
diante de uma situação real, perante um fato que o afeta de maneira imediata. Essa técnica exige
entrosamento, confiança e respeito no grupo.
Pode ser: tradicional (o grupo já conhece a atividade e sabe quem serão os participantes e o papel que
cada um desempenhará) ou real (tudo é planejado sem o grupo estar ciente. Somente o coordenador e os
atores sociais externos têm papeis previamente fixados.
Referências
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prático. Tradução Pedrinho A. Guareschi. 7. ed. Petropólis-RJ: Vozes, 2008.
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THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1985.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. A pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo-SP: Atlas, 2006.