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Direito Internacional Público

Beatriz Coelho Palmieri


201602029229

CASO CONCRETO 1

Considerando as fontes de direito internacional público previstas no Estatuto da Corte


Internacional de Justiça (CIJ) e as que se revelaram a posteriori, bem como a doutrina acerca
das formas de expressão da disciplina jurídica, as convenções internacionais, que podem ser
registradas ou não pela escrita, são consideradas, independentemente de sua denominação,
fontes por excelência, previstas originariamente no Estatuto da CIJ. Analise a afirmativa e com
base no aprendizado, julgue e fundamente sua resposta. (CESPE – adaptada) Fontes são:
Tratados, costumes e usos, doutrina e jurisprudência (não escrito).

R.: A afirmativa está errada, pois pelas regras do direito dos tratados as convenções internacionais em
razão de seu processo solene precisam ser sempre escritas, ou seja, a escrita é ato intrínseco
característico do tratado. De acordo como art. 38 da Corte Internacional de Justiça, são fontes
FORMAIS os tratados, os costumes e os princípios gerais do direito; enquanto as doutrinas,
jurisprudências e equidades, são fontes MATERIAIS. Da mesma forma, os tratados são sempre
expressos.

DOUTRINA

MANUAL DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

HILDEBRANDO ACCIOLY

G. E DO NASCIMENTO E SILVA

PAULO BORBA CASELA

EDITORA SARAIVA

ANO 2012

20ª EDIÇÃO

FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL

JURISPRUDENCIA:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. 1. ATENTADO AO RIOCENTRO. VIOLAÇÃO A


DIREITOS HUMANOS. DÉCADAS DE 60, 70 E 80. RELEVÂNCIA DA MATÉRIA. NECESSIDADE DE
RECONCILIAÇÃO NACIONAL. OBSERVÂNCIA. À SOBERANIA PÁTRIA. POSSIBILIDADE DE
RECONSTRUÇÃO PELA PAZ. EXEMPLO DA ÁFRICA DO SUL. 2. RECURSO ESPECIAL.
FUNDAMENTAÇÃO VINCULADA. VIOLAÇÃO DO ART. 107, IV, DO CP. DISPOSITIVO QUE NÃO
ABRANGE A CONTROVÉRSIA DOS AUTOS. IMPRESCRITIBILIDE DOS CRIMES DE LESA-
HUMANIDADE. MATÉRIA CONSTANTE DE TRATADOS INTERNACIONAIS. AUSÊNCIA DE
INDICAÇÃO DE NORMA INTERNACIONAL VIOLADA. NORMA CONSTITUCIONAL PRÓPRIA DE
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DO VERBETE N. 284/STF. 3. ACÓRDÃO RECORRIDO.
CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO NA ORIGEM. NÃO ENQUADRAMENTO DAS CONDUTAS
COMO CRIME CONTRA A HUMANIDADE. CONCLUSÃO DO TRF/2ª REGIÃO FIRMADA COM BASE
NO ARCABOUÇO DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO NA VIA ELEITA. ÓBICE DA
SÚMULA 7/STJ. 4. ARQUIVAMENTO DO IP NA JUSTIÇA MILITAR. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
DECRETADA PELO STM. ANISTIA DA EC 26/1985. COISA JULGADA MATERIAL. INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES DO STF. 5. LEI DA ANISTIA. ADPF 153/DF.
SUPERVENIÊNCIA DE DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, EM
CASOS DIVERSOS. NECESSIDADE DE HARMONIZAÇÃO COM A ORDEM JURÍDICA INTERNA.
COMPETÊNCIA DO STF. 6. SOBERANIA NACIONAL. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA. DECISÕES INTERNACIONAIS. DEVER DE HARMONIZAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE SUBVERSÃO DA ORDEM INTERNA. 7. CRIME CONTRA A HUMANIDADE.
CONCEITO TRAZIDO NO ART. 7º ESTATUTO DE ROMA. AUSÊNCIA DE LEI EM SENTIDO FORMAL.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 5º, XXXIX, DA CF. TRATADO INTERNALIZADO EM
2002. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA. AFRONTA AO ART. 5º, XL, DA CF. 8.
CONVENÇÃO SOBRE A IMPRESCRITIBILIDADE DOS CRIMES DE GUERRA E DOS CRIMES
CONTRA A HUMANIDADE. AUSÊNCIA DE RATIFICAÇÃO PELO BRASIL. PEDIDO DE APLICAÇÃO
COMO JUS COGENS. COSTUME INTERNACIONAL RESPEITADO E PRATICADO. ANÁLISE QUE
DEVE SER FEITA PELO STF. INAPLICABILIDADE DO JUS COGENS ASSENTADA NA EXTRADIÇÃO
1.362/DF. 9. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. PREMISSA DE STATUS DE
SUPRALEGALIDADE. TRATADO NÃO INTERNALIZADO DE ACORDO COM O ART. 5º, § 3º, DA CF.
NECESSIDADE DE HARMONIZAÇÃO COM A CF. 10. TRATADOS INTERNACIONAIS NÃO
INTERNALIZADOS. OBSERVÂNCIA NA ORDEM INTERNA. POSSIBILIDADE. ART. 5º, § 2º, DA CF.
PRINCÍPIO DA UNIDADE E DA MÁXIMA EFETIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO. NECESSIDADE DE
COMPATIBILIZAÇÃO COM OS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA IRRETROATIVIDADE.
SOBERANIA ESTATAL E SUPREMACIA DA CF. IMPOSSIBILIDADE DE SUBVERSÃO DO
ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. OFENSA A OUTROS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 11.
NORMAS PRESCRICIONAIS. DIREITO PENAL MATERIAL. NECESSIDADE DE LEI EM SENTIDO
FORMAL. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA. PRESCRITIBILIDADE. PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA. CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. 12. A
ADMISSÃO DO JUS COGENS NÃO PODE VIOLAR PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.
NECESSIDADE DE HARMONIZAÇÃO COM O ORDENAMENTO PÁTRIO. RESGUARDO À
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. FINALIDADE PRINCIPAL DOS DIREITOS HUMANOS.
IMPOSSIBILIDADE DE TIPIFICAR CRIME SEM LEI PRÉVIA. IMPOSSIBILIDADE DE RETIRAR A
EFICÁCIA DAS NORMAS PRESCRICIONAIS. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA
IRRETROATIVIDADE. PRINCÍPIOS CAROS AO DIREITO PENAL. 13. CONCLUSÃO QUE NÃO
DIMINUI O COMPROMISSO DO BRASIL COM OS DIREITOS HUMANOS. PUNIÇÃO APÓS QUASE
40 ANOS. NÃO RESTABELECIMENTO DE DIREITOS VIOLADOS. VIOLAÇÃO A DIREITOS
FUNDAMENTAIS DE IGUAL MAGNITUDE. AFRONTA A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.
SEGURANÇA JURÍDICA. COISA JULGADA MATERIAL. LEGALIDADE E IRRETROATIVIDADE. 14.
OFENSA AOS ARTS. 347 E 348 DO CP. RECURSO CONHECIDO NO PONTO. PEDIDO DE
RECONHECIMENTO DA NATUREZA PERMANENTE DOS TIPOS PENAIS. IMPOSSIBILIDADE.
CRIMES INSTANTÂNEOS. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA. 15. RECURSO CONHECIDO EM
PARTE E IMPROVIDO. 1. Considerações preliminares: A matéria trazida nos presentes autos é de
extrema relevância, haja vista ter, de fato, havido graves violações a direitos humanos durante as
décadas de 60, 70 e 80. Contudo, não há uma única forma de reconstrução após crises como a
ocorrida no Brasil. Na verdade, as experiências de reconciliação nacional, em vários países do mundo,
foram diversas, respeitando-se sempre a cultura e a soberania de cada país. Emblemática é, por
exemplo, a experiência de justiça restaurativa na África do Sul sob a direção do estadista Nelson
Mandela e coordenação do arcebispo Desmond Tutu. O processo transicional, do regime racista do
apartheid para a democracia multirracial, ocorreu de forma negociada e pacífica. A criação de uma
Comissão de Verdade e Reconciliação promoveu o encontro de vítimas, familiares, ofensores e
representantes das comunidades locais para discutirem sobre as violações dos direitos humanos
praticadas durante o sistema segregacionista. Nesses encontros, os violadores reconheciam os seus
erros, pediam perdão às famílias ou aos seus familiares e se responsabilizavam pelas consequências
materiais dos seus atos lesivos. Essas foram as condições necessárias para a declaração de anistia
aos ofensores naquele país. 2. Admissibilidade: O exame do recurso especial deve se ater à matéria
efetivamente submetida ao conhecimento do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que "o recurso
especial possui fundamentação vinculada, de modo que não cabe ao STJ imiscuir-se em questões que
não lhe tenham sido devolvidas especificamente". (AgInt no AREsp 1325685/RJ, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 20/08/2019, DJe 23/08/2019). O recorrente aponta violação
ao art. 107, IV, do CP, por considerar que "os delitos imputados aos ora recorridos devem ser tomados
como crimes de lesa-humanidade na linha dos diplomas internacionais, e, por conseguinte,
imprescritíveis". Contudo, a norma infraconstitucional apontada como violada não tem o alcance
pretendido. Não se aborda, na referida norma, a imprescritibilidade (tema previsto na Lei maior e em
tratado não internalizado). Constata-se, portanto, a falta de correlação entre a norma apontada como
violada e a discussão efetivamente trazida nos autos, o que inviabiliza o conhecimento do recurso
especial. "A indicação de preceito legal federal que não consigna em seu texto comando normativo
apto a sustentar a tese recursal e a reformar o acórdão impugnado padece de fundamentação
adequada, a ensejar o impeditivo da Súmula 284/STF" (REsp n. 1.715.869/SP, Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 7/3/2018). 3. A ordem foi concedida pelo Tribunal de origem,
por maioria, reconhecendo a ocorrência da prescrição, "em virtude de os fatos não se enquadrarem
nos crimes contra a humanidade". Dessa forma, ainda que o recorrente tivesse indicado o dispositivo
correto, que trata da imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade, seu exame não teria o condão
de desconstituir o acórdão proferido pela Corte local, porquanto fundamentado na não configuração de
crime de lesa-humanidade. Inviável, outrossim, aferir se os fatos narrados se inserem na categoria de
crime contra humanidade, uma vez que o recorrente não apontou igualmente violação a dispositivo
legal, ou mesmo supralegal, que albergue referida discussão. Ademais, desconstituir a conclusão do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que possui amplo espectro de cognição dos fatos e provas
juntadas aos autos, demandaria o revolvimento fático-probatório, o qual é vedado na via eleita, nos
termos do enunciado n. 7/STJ. 4. Preliminares de mérito: O STM, por mais de uma vez, "inadmitiu o
prosseguimento de inquérito instaurado para apurar o atentado do Riocentro, e fez mais, decretou a
extinção de punibilidade de todos os envolvidos, face a anistia deferida pela Emenda Constitucional
26/1985". Como é cediço, "a decisão que declar[a] extinta a punibilidade em favor do Paciente, ainda
que prolatada com suposto vício de incompetência de juízo, é susceptível de trânsito em julgado e
produz efeitos. A adoção do princípio do ne bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa
os direitos e as garantias individuais previstos pela Constituição da República, cuja interpretação
sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com apoio em coisa julgada material,
prevalece sobre o dever estatal de acusar". (HC 86606, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma,
julgado em 22/05/2007, DJe 2/8/2007). Precedentes outros do STF na mesma direção. Assim, caso
fosse acolhida a tese recursal do MPF, deveria este Colegiado examinar, previamente e de ofício, o
tema da coisa julgada material (matéria de ordem pública, que foi expressamente analisada pela Corte
de Origem). Recorde-se: em favor do acusado, sempre é possível a concessão da ordem de habeas
corpus até mesmo de ofício. 5. Os fatos, ocorridos em 30/4/1981, estão albergados pela anistia trazida
no art. 4º, § 1º, da EC n. 26/1985, promulgada pela própria Assembleia Nacional Constituinte, a qual
reafirmou a Anistia de 1979. Não se pode descurar, ademais, que a Lei n. 6.683/1979 foi considerada
constitucional pelo STF, no julgamento da ADPF n. 153/DF, embora estejam pendentes de julgamento
embargos de declaração. Nada obstante, conforme explicitado pelo Ministro Alexandre de Moraes,
Relator da Rcl n. 18.686/RJ, "essa decisão, proferida no âmbito de Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental - ADPF, é dotada de eficácia erga omnes e efeito vinculante (art. 10, § 3º da Lei
9.882/99)". Nessa linha de entendimento, cabe ao STF verificar os efeitos da decisão proferida pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") vs
Brasil, bem como no Caso Herzog e outros vs Brasil, com a consequente harmonização da
jurisprudência relativa à Lei de Anistia, o que é objeto também da ADPF n. 320/DF, da relatoria do
eminente Luiz Fux. 6. Conclusão que não revela resistência ao cumprimento das decisões proferidas
pela CIDH, ou reticência em exercer o controle de convencionalidade, porquanto a submissão à
jurisdição da CIDH não prescinde da devida harmonização com o ordenamento pátrio, sob pena de se
comprometer a própria soberania nacional. A soberania é fundamento da República Federativa do
Brasil e justifica a Supremacia da CF na ordem interna. Dessa forma, o cumprimento das decisões
proferidas pela CIDH não pode afrontar a CF, motivo pelo qual se faz mister sua harmonização, sob
pena de se subverter nosso próprio ordenamento, negando validade às decisões do Supremo Tribunal
Federal, em observância a decisões internacionais. 7. Mérito: O conceito de crime contra a humanidade
se encontra positivado no art. 7º do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o qual foi
adotado em 17/7/1998, porém apenas passou a vigorar em 1º/7/2002, sendo internalizado por meio do
Decreto n. 4.388, de 25/9/2002. No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a
humanidade, embora esteja em tramitação o Projeto de Lei n. 4.038/2008. Diante da ausência de lei
interna tipificando os crimes contra a humanidade, rememoro que o STF já teve a oportunidade de se
manifestar no sentido de que não é possível utilizar tipo penal descrito em tratado internacional para
tipificar condutas internamente, sob pena de se violar o princípio da legalidade - art. 5º, XXXIX, da CF
(exemplo: tipo penal de organização criminosa trazido na Convenção de Palermo). Dessa maneira, não
se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de
Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do Decreto n. 4.388, porquanto não há lei
em sentido formal tipificando referida conduta. Ademais, cuidando-se de tratado que apenas passou a
vigorar no Brasil em 25/9/2002, tem-se igualmente, na hipótese, o óbice à aplicação retroativa de lei
penal em prejuízo do réu, haja vista o princípio constitucional da irretroatividade, previsto no art. 5º, XL,
da CF. 8. A Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a
Humanidade é anterior aos fatos narrados. Contudo, não foi ratificada pelo Brasil, não foi internalizada
nem como norma supralegal. Nada obstante, no presente julgamento se pretende demonstrar que sua
observância independe de ratificação, por se tratar de norma jus cogens que, nas palavras do Ministro
Luís Roberto Barroso, no julgamento da Ext. n. 1.362/DF, "é um costume internacional, respeitado e
praticado" e, segundo o Ministro Luiz Fux, no mesmo julgamento, "talvez a melhor Corte para dizer se o
jus cogens se aplica ou não é o Supremo Tribunal Federal". No referido julgamento, se considerou
inaplicável o jus cogens, prevalecendo o entendimento no sentido de que a qualificação do crime como
de lesa-humanidade não afasta a sua prescrição, uma vez que, conforme voto vencedor do saudoso
Ministro Teori Zavascki, "somente lei interna (e não convenção internacional, muito menos aquela
sequer subscrita pelo Brasil) pode qualificar-se, constitucionalmente, como a única fonte formal direta,
legitimadora da regulação normativa concernente à prescritibilidade ou à imprescritibilidade da
pretensão estatal de punir, ressalvadas, por óbvio, cláusulas constitucionais em sentido diverso, como
aquelas inscritas nos incisos XLII e XLIV do art. 5º de nossa Lei Fundamental". 9. Ainda que se admita
o jus cogens, na contramão do que decidido pelo Supremo Tribunal Federal na Extradição n. 1.362/DF,
o controle de convencionalidade exercido pelo STJ, com a finalidade de aferir se a legislação
infraconstitucional está em dissonância com o disposto no tratado internacional sobre direitos humanos,
deve se harmonizar com os princípios e garantias constitucionais. Com efeito, não se pode perder de
vista que o tratado possui status supralegal, porém infraconstitucional, porquanto não internalizado nos
termos do art. 5º, § 3º, da CF. Conclusão em sentido contrário violaria não apenas o disposto no
referido dispositivo da Constituição da República, mas também a jurisprudência consolidada do STF
sobre o status dos tratados sobre direitos humanos, bem como inviabilizaria o exame dos temas pelo
STJ. 10. Considerando se estar diante de controle sobre Convenção admitida como jus cogens,
entendo que sua observância na ordem jurídica interna, se legitima a partir do disposto no art. 5º, § 2º,
da CF, o qual dispõe que "os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte". Nesse contexto, diante do princípio da unidade da
constituição - o qual impõe a necessidade de harmonização de eventuais contradições existentes entre
as normas constitucionais -, bem como do princípio da máxima efetividade - que visa conferir a maior
efetividade possível aos direitos fundamentais -, entendo que a observância aos tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos deve ser compatibilizada com os princípios constitucionais da
legalidade e da irretroatividade. Assim, a aplicação da Convenção não poderia tipificar crimes nem
alcançar fatos anteriores à Constituição de 1988, que legitimou sua aplicação, sob pena de revelar
verdadeira afronta à própria soberania estatal e à supremacia da Constituição da República,
subvertendo por completo o ordenamento jurídico pátrio e com malferimento de inúmeros outros
direitos fundamentais, a pretexto de protegê-los. 11. Não se coaduna, igualmente, com a ordem
constitucional vigente, admitir a paralisação da eficácia da norma que disciplina a prescrição, com o
objetivo de tornar imprescrítiveis crimes contra a humanidade, por se tratar de norma de direito penal
que demanda, da mesma forma, a existência de lei em sentido formal. Ademais, se deve igual
observância ao princípio da irretroatividade. "A chamada 'Constituição Cidadã' busca a construção de
uma sociedade livre e justa, conferindo amparo a um vasto rol de direitos e garantias fundamentais dos
indivíduos. Em um Estado de Direito, deve ser equilibrada pela lei a relação entre o Estado e os
cidadãos, como forma de garantir que estes não serão vítimas do arbítrio do poder coercitivo estatal.
Nesse sentido, a imprescritibilidade ameaça as garantias fundamentais de segurança jurídica e até
mesmo da ampla defesa, pois submete o cidadão à eterna ameaça da repressão estatal, sem
preocupar-se com os efeitos do tempo sobre os elementos probatórios que envolvem os fatos
criminosos, sobre o acusado e sobre a repercussão social do crime". (CALIXTO, Clarice Costa.
Portanto, não é possível tornar inaplicável o disposto no art. 107, IV, do CP (norma violadora e não
violada), em face do disposto na Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos
Crimes contra a Humanidade, sob pena de se vulnerar o princípio constitucional da legalidade e da
irretroatividade, bem como a própria segurança jurídica, com consequências igualmente graves, em
virtude da mitigação de princípios relevantes à própria consolidação do Estado Democrático de Direito.
12. Conclusão: A admissão da Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos
Crimes contra a Humanidade como jus cogens não pode violar princípios constitucionais, devendo,
portanto, se harmonizar com o regramento pátrio. Referida conclusão não revela desatenção aos
Direitos Humanos, mas antes observância às normas máximas do nosso ordenamento jurídico,
consagradas como princípios constitucionais, que visam igualmente resguardar a dignidade da pessoa
humana, finalidade principal dos Direitos Humanos. Nesse contexto, em observância aos princípios
constitucionais penais, não é possível tipificar uma conduta praticada no Brasil como crime contra
humanidade, sem prévia lei que o defina, nem é possível retirar a eficácia das normas que disciplinam
a prescrição, sob pena de se violar os princípios da legalidade e da irretroatividade, tão caros ao direito
penal. 13. O não reconhecimento da imprescritibilidade dos crimes narrados na denúncia não diminui o
compromisso do Brasil com os Direitos Humanos. Com efeito, a punição dos denunciados, quase 40
anos após os fatos, não restabelece os direitos humanos supostamente violados, além de violar outros
direitos fundamentais, de igual magnitude: segurança jurídica, coisa julgada material, legalidade,
irretroatividade, etc. 14. Pedido Subsidiário: No que diz respeito à alegada ofensa aos arts. 347 e 348,
ambos do CP, a argumentação trazida no recurso especial não encontra óbice ao seu conhecimento.
Porém, a insurgência não merece prosperar. Com efeito, o recorrente pretende demonstrar que os
crimes de fraude processual e de favorecimento pessoal têm natureza de crime permanente, motivo
pelo qual o prazo prescricional, com relação ambos, ainda não teria se implementado. Contudo, é
uníssona na doutrina, bem como na jurisprudência, a classificação dos referidos crimes como
instantâneos, motivo pelo qual não é possível igualmente acolher o pleito subsidiário do recorrente. 15.
Dispositivo: Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, improvido.

(STJ - REsp: 1798903 RJ 2015/0256723-4, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,


Data de Julgamento: 25/09/2019, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 30/10/2019)

CASO CONCRETO 2

A República de Utopia e o Reino de Lilliput são dois Estados nacionais vizinhos cuja relação
tornou-se conflituosa nos últimos anos devido à existência de sérios indícios de que Lilliput
estaria prestes a desenvolver tecnologia suficiente para a fabricação de armamentos nucleares,
fato que Utopia entendia como uma ameaça direta a sua segurança. Após várias tentativas
frustradas de fazer cessar o programa nuclear lilliputiano, a República de Utopia promoveu uma
invasão armada a Lilliput em dezembro de 2001 e, após uma guerra que durou três meses,
depôs o rei e promoveu a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, que outorgou a
Lilliput sua atual constituição. Nessa constituição, que é democrática e republicana, as antigas
províncias foram convertidas em estados e foi instituído, no lugar do antigo Reino de Lilliput, a
atual República Federativa Lilliputiana. Assim, podemos afirmar que a República Federativa
Lilliputiana deve obediência aos costumes internacionais gerais que eram vigentes no momento
em que ela adquiriu personalidade jurídica de direito internacional, não obstante essas regras
terem sido estabelecidas antes do próprio surgimento desse Estado. (CESPE – daptada)

R: A sociedade internacional possui natureza jurídica estatutária, uma vez que trata-se de sociedade
aberta com a possibilidade de ingresso e retirada de qualquer membro a qualquer tempo, assim ao ser
constituída a Repúplica Lilliputiana, ingressará na sociedade através do exercício da soberania
aderindo ao estatuto pré-constituído. A República Federativa Lilliputiana deve obediência aos costumes
internacionais gerais que eram vigentes no momento em que ela adquiriu personalidade jurídica de
direito internacional, não obstante essas regras terem sido estabelecidas antes do próprio surgimento
desse Estado. A afirmativa está errada. As convenções internacionais são obrigatoriamente escritas. As
convenções são tratados, acordos, documento escrito, celebrado entre membros. Conforme o artigo 38
do Estatuto da CIJ, as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes. Vale ressaltar que a doutrina é apenas um meio
auxiliar, conforme dispõe também o artigo 38 do Estatuto da CI.

DOUTRINA

MANUAL DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

HILDEBRANDO ACCIOLY

G. E DO NASCIMENTO E SILVA

PAULO BORBA CASELA

EDITORA SARAIVA

ANO 2012

20ª EDIÇÃO

FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL

JURISPRUDÊNCIA:

RECURSO DE REVISTA. ORGANISMO INTERNACIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO PARA O


PROCESSO DE CONHECIMENTO. RELATIVA E NÃO ABSOLUTA. I - Já abrandado o arcaico
princípio consuetudinário da imunidade jurisdicional absoluta, para o processo de conhecimento,
conferida aos Estados Estrangeiros, essa tendência atual, no plano do direito comparado, na doutrina e
na jurisprudência, há de se aplicar igualmente aos Organismos Internacionais, desde que atuem no
âmbito das relações privadas, especialmente na área do Direito do Trabalho. II - Sabendo ser o
costume fonte de Direito Internacional Público e que o princípio consuetudinário da imunidade absoluta
do Estado Estrangeiro acha-se em franco desuso, idêntica orientação deve ser imprimida na análise
dos Decretos nºs 52.288/63 e 59.298/66, de modo a relativizar a imunidade ali conferida aos
Organismos Internacionais, para o processo de conhecimento, atualizando-os às injunções do mundo
globalizado. Recurso conhecido e provido.

(TST - E-ED-RR: 1260004820045100019 126000-48.2004.5.10.0019, Relator: Antônio José de Barros


Levenhagen, Data de Julgamento: 09/08/2006, 4ª Turma, Data de Publicação: DJ 25/08/2006)

CASO CONCRETO 3

O litígio se dá entre Portugal e Índia. O primeiro Estado aparelhou perante a Corte Internacional
de Justiça procedimento judicial internacional contra o Estado indiano, relativo a certos direitos
de passagem pelo território deste último Estado de súditos portugueses (militares e civis),
assim como de estrangeiros autorizados por Portugal com a intenção de dirigir-se a pontos
encravados situados perto de Damão, para acesso aos encraves de Dadra e Nagar-Aveli. O
Estado português alega que havia um costume [internacional] local que concedia um direito de
passagem pelo território indiano a seus nacionais e às forças armadas até Dadra e Nagar-Aveli.
A alegação de fundo é a de que o Estado indiano quer anexar estes dois territórios
portugueses, ferindo seus direitos soberanos sobre eles. Os indianos sustentam que, segundo
o Tratado de Pooma, realizado em 1779 entre Portugal e o governante de Maratha e posteriores
decretos exarados por este governante, os direitos portugueses não consistiam na soberania
sobre os mencionados encraves, para os quais o direito de passagem é agora reclamado, mas
apenas num "imposto sobre o rendimento".
Quando o Reino Unido se tornou soberano naquele território em lugar de Maratha, encontraram
os portugueses ocupando as vilas e exercendo um governo exclusivo. Os britânicos aceitaram
tal posição, não reclamando qualquer tipo de soberania, como sucessores de Maratha, mas não
fizeram um reconhecimento expresso de tal situação ao Estado português. Tal soberania foi
aceita de forma tácita e subseqüentemente reconhecida pelo Estado indiano, portanto as vilas
Dadra e Nagar-Aveli foram tidas como territórios encravados portugueses, em território indiano.
A petição portuguesa coloca a questão que o direito de passagem foi largamente utilizado
durante a soberania britânica sobre o Estado indiano, o mesmo ocorrendo no período pós-
britânico. Os indianos alegam que mercadorias, com exceção de armas e munições, passavam
livremente entre o Porto de Damão (território português) e ditos encraves, e que exerceram seu
soberano poder de regulamentação impedindo qualquer tipo de passagem, desde a derrubada
do governo português em ditos encraves. (Pereira, C. R. Costume Internacional: Gênese do
Direito Internacional. Rio de Janeiro: Renova, 2002, p. 347 a 349 – Texto adaptado). Diante da
situação acima e dos dados apresentados, responda:

De acordo com entendimento da Corte Internacional de Justiça, qual a fonte de direito


internacional Público é aplicável a fim de dar solução ao litígio?

R:. Depois da segunda metade da década de quarenta, com o fim da Segunda Guerra Mundial, e, com
a criação da ONU, as principais fontes de regras sobre soluções de Controvérsias Direito Internacional
Público foram arroladas no artigo 38, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal
órgão judiciário daquela organização, o qual transcreve-se, juntamente com o artigo 59. A fonte
aplicável ao litígio apresentado entre Portugal e Índia, para dar- lhe solução, segundo
entendimento da Corte Internacional de Justiça é o costume regional.

“Artigo 38
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem
submetidas, aplicará:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c) os
princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) sob ressalva do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das
diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.

2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte decidir uma questão ex aequo et bono,
se as partes com isto concordarem.”

Como ela é definida?


R: São práticas reiteradas aceitas como normas jurídicas internacionais; Ela é definida como
costume regional, também denominado de local, que diz respeito a pedido de permissão para
transposição territorial, o qual tem sido reconhecido pela jurisprudência e doutrina internacionais,
a exemplo do caso em tela sobre direito de passagem entre Portugal e Índia, julgado na CIJ
em 1960.

3) Qual o elemento que a torna norma jurídica?


R.: “Artigo. 59 - A decisão da Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do caso em
questão.” O elemento subjetivo ou a convicção de obrigatoriedade.

Caso concreto extra

Analise o texto abaixo retirado do voto de A.A. Cançado Trindade, proferido na Corte
Interamericana de Direito Humanos no caso da Comunidade Indígena Sawhoyamaxa versus
Paraguay: “...No universo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, é o indivíduo quem
alega ter seus direitos violados, quem alega sofrer os danos, quem tem que cumprir com o
requisito do prévio esgotamento dos recursos internos, quem participa ativamente da eventual
solução amistosa, e quem é o beneficiário (ele ou seus familiares) de eventuais reparações e
indenizações. Em nosso sistema regional de proteção, o espectro da persistente denegação da
capacidade processual do indivíduo peticionário ante a Corte Interamericana emanou de
considerações dogmáticas próprias de outra época histórica tendentes a evitar seu acesso
direto à instância judicial internacional, - considerações estas que, em nossos dias, ao meu
modo de ver, carecem de sustentação e sentido, ainda mais tratando-se de um tribunal
internacional de direito humanos. (...). No presente domínio de proteção, todo
jusinternacionalista, fiel às origens históricas de sua disciplina, saberá contribuir para o resgate
da posição do ser humano como sujeito de direito das gentes dotado de personalidade e plena
capacidade jurídicas internacionais".

Responda a pergunta abaixo: No que se refere ao trecho do voto de Antônio Augusto Cançado
Trindade, responda:
1. Com base no conceito de sujeito de direito internacional e no de uma sociedade internacional
aberta, como defende Celso Mello, discorra sobre a posição do ser humano como sujeito de
Direitos, refletindo sobre sua personalidade e sobre sua capacidade para agir no plano
internacional.

R: A personalidade jurídica internacional constitui-se de dois polos: o ativo e o passivo. O surgimento


do Direito Internacional dos Direitos Humanos confirma a tese da existência de direitos internacionais
imediatamente dirigidos ao ser humano, entendimento ratificado pelo crescente reconhecimento da
capacidade processual internacional dos particulares. Por outro lado, a mera existência de tribunais
internacionais que aplicam sanções diretamente ao particular, e não aos Estados, ratifica a condição de
sujeito passivo do homem perante a ordem jurídica internacional.

QUESTÃO OBEJTIVA

Segundo o Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, são fontes do direito


internacional as convenções internacionais, o costume, os atos unilaterais e a doutrina e a
jurisprudência, de forma auxiliar. O costume internacional, os princípios gerais de direito, os
atos unilaterais e as resoluções das organizações internacionais. O costume, princípios gerais
de direito, atos unilaterais, resoluções das organizações internacionais, decisões judiciárias e a
doutrina. O costume internacional, os princípios gerais de direito, as decisões judiciárias e a
doutrina, de forma auxiliar, admitindo, ainda a possibilidade de a Corte decidir ex aequo et bono,
se as partes concordarem.

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HILDEBRANDO ACCIOLY

G. E DO NASCIMENTO E SILVA

PAULO BORBA CASELA

EDITORA SARAIVA

ANO 2012

20ª EDIÇÃO
FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL

JURISPRUDÊNCIA

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 162.145 - AM (2018/0299730-8) RELATOR : MINISTRO


REYNALDO SOARES DA FONSECA SUSCITANTE : JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA DE TABATINGA -
SJ/AM SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DE BENJAMIN CONSTANT- AM INTERES.
: JUSTIÇA PÚBLICA INTERES. : EM APURAÇÃO DECISÃO Cuida-se de conflito negativo de
competência suscitado pelo Juízo Federal da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Tabatinga SJ/AM (e-
STJ fls. 101/116) em face de decisão do Juízo de Direito da Vara Única de Benjamin Constant/AM (e-
STJ fl. 38) que se reputou incompetente para conduzir Inquérito Policial (n. 0000123-59.2017.8.04.2800
numeração da Justiça Estadual; ou n. 244-65.2017.4.01.3201 (numeração da Justiça Federal) no qual
se investiga a possível prática dos crimes de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da
Lei nº 10.826/2003) e tráfico internacional de armas (art. 18 da Lei nº 10.826/2003), atribuídos a
WILLIAN MIGUEL TORRES PRADO, de nacionalidade peruana. Segundo consta dos autos, no dia
26/02/2017, por volta da meia noite e meia, foram encontrados, no interior de sua residência do
investigado (WILLIAN MIGUEL TORRES PRADO), no município de Benjamin Constant/AM, 01 (uma)
arma de fogo tipo pistola calibre 380, modelo IZH, contendo um carregador; 50 (cinquenta) munições
do mesmo calibre e 50 (cinquenta) munições de calibre 38, em desacordo com determinação legal.
Ouvido pela Polícia Civil do Município de Benjamin Constant/AM, o investigado admitiu ter adquirido a
arma em Lima, Peru. Para o Juízo suscitante (da Justiça Federal), o simples fato do bem apreendido
ser de origem estrangeira não justifica, por si só, a fixação da competência na Justiça Federal, sendo
necessário, para tanto, ao menos indícios da transnacionaiidade do delito (CC 149.75O/MS, 3a Seção,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 26/04/2017). Já se decidiu, outrossim, que, não comprovada a
transnacionalidade do iter criminoso, não compete à Justiça Federal seu processo e julgamento, sendo
insuficientes para essa aferição a confissão do acusado (CC 107.001/PR, 3a Seção, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 28/10/2009) ou o depoimento isolado de um dos corréus (CC
130.267/RS, 3a Seção, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/04/2017), desprovidos de corroboração
por outros meios de prova (e-STJ fl. 105). Apontou, ainda, a incompetência da Justiça Federal para
processar e julgar o delito de posse ilegal de arma de fogo. Instado a se manifestar sobre a
controvérsia, o órgão do Ministério Público Federal que atua perante esta Corte opinou (e-STJ fls.
123/126) pela competência da Justiça Estadual, a suscitada, em parecer assim ementado: CONFLITO
NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO. NÃO
CONFIGURAÇÃO DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS. LAUDO DE PERÍCIA DA ARMA DE
FOGO INCONCLUSIVO SOBRE A ORIGEM DA ARMA E DA MUNIÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
ESTADUAL. É o relatório. Passo a decidir. Conheço do conflito, uma vez que os juízos que suscitam a
incompetência estão vinculados a Tribunais diversos, o que atrai a competência originária do Superior
Tribunal de Justiça, consoante o disposto no art. 105, inciso I, alínea d, da Constituição Federal.
Questiona-se, nos autos, se haveria, no caso concreto, indícios do cometimento do delito de tráfico
internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei 10.826/2003) e de sua conexão com o crime de posse
ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei 10.826/2003) que justificassem o deslocamento
da competência da apuração de ambos os delitos para a Justiça Federal. Lembro que o tipo do tráfico
internacional de arma de fogo é assim definido pela Lei nº 10.826/2003: Tráfico internacional de arma
de fogo Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título,
de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena reclusão de
4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Da leitura do tipo, é possível depreender que "o crime de tráfico
internacional de arma de fogo, acessórios ou munição é de ação múltipla, consumando-se pela prática
de qualquer uma das condutas previstas no art. 18, caput, da Lei n. 10.826/03"(CC 147.709/PE, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/10/2017, DJe 20/10/2017). Seja
dizer, não é necessário que tenha ocorrido o ato de importação propriamente dito, mas, sim, o
favorecimento da introdução do artefato bélico no território nacional, sem a devida autorização da
autoridade competente, o que corresponde à demonstração da transnacionalidade do delito. Sobre tal
delito, a jurisprudência desta Corte tem assente que, "Em se tratando de tráfico internacional de
munições ou armas, cumpre firmar a competência da Justiça Federal para conhecer do tema, já que o
Estado brasileiro é signatário de instrumento internacional (Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico
Ilícitos de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições - complementando a Convenção
das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional -, promulgado pelo Decreto n. 5.941, de
26/10/2006), no qual se comprometeu a tipificar a conduta como crime" (AgRg no Ag 1.389.833/MT,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe 25/04/2013). É bem verdade que, "para
a configuração do tráfico internacional de arma de fogo não basta apenas a procedência estrangeira do
armamento ou munição, sendo necessário que se comprove a internacionalização da ação" (CC
105.933/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, DJe 20/05/2010). Ora, a jurisprudência desta Corte
tem entendido que a mera introdução de arma ou munição no território nacional sem autorização da
autoridade competente pode ser enquadrada como tráfico internacional de armas. Nesse sentido,
confiram-se os seguintes precedentes: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO
INTERNACIONAL DE MUNIÇÕES. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE CONTRABANDO.
DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, a introdução de munições em território nacional, sem
autorização da autoridade competente, tem tipificação específica no estatuto do desarmamento, motivo
pelo qual descabe a sua desclassificação para o crime de contrabando, em observância à aplicação do
princípio da especialidade. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1.428.477/RS, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 02/04/2018) negritei. PENAL E
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO INTERNACIONAL
DE ARMA DE FOGO E RECEPTAÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O TIPO DO ART. 16 DO
ESTATUTO DO DESARMAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. CARÁTER
INTERNACIONAL DA AÇÃO. TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRA. INTRODUÇÃO DE ARTEFATO
BÉLICO NO TERRITÓRIO NACIONAL. CONCURSO MATERIAL. RECONHECIMENTO. BENS
JURÍDICOS TUTELADOS DIVERSOS. DELITO CONTRA A PAZ PÚBLICA E DELITO PATRIMONIAL.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - O tipo de tráfico internacional de arma de fogo de uso
restrito, dos arts. 18 c.c. 19 da Lei n.º 10.826/2003, configura-se com o mero favorecimento da entrada
ou saída, a qualquer título, do artefato bélico do território nacional, sem autorização da autoridade
competente. Isto é, aplica-se ao simples porte de arma para além das fronteiras nacionais.
Precedentes. II - Assim, para a configuração do tipo dos arts. 18 c.c. 19 da Lei n.º 10.826/2003, não é
necessário que tenha ocorrido ato de importação propriamente dito, mas sim o favorecimento da
introdução do artefato bélico no território nacional. III - A jurisprudência deste Superior Tribunal de
Justiça é firme no sentido de que o delito de receptação e os do Estatuto do Desarmamento seriam, de
regra, crimes autônomos, com naturezas jurídicas e bens tutelados distintos, devendo o agente
responder pela sua prática em concurso material. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC
368.990/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
07/08/2018, DJe 15/08/2018) negritei. RECURSOS ESPECIAIS. PENAL E PROCESSO PENAL.
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS E MUNIÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO. INCABIMENTO. CRIME
MEDIANTE PAGA OU RECOMPENSA. AGRAVANTE GENÉRICA. INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO
ANALÓGICA DO PARÁGRAFO 4º DO ARTIGO 33 DA LEI Nº 11.343/06. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. 1. Embora não constitua elementar do crime de tráfico internacional de
armas e munições, o intuito de lucro é inerente à prática do delito quando o agente o comete na
condição de 'mula', não podendo tal circunstância ser considerada para a incidência da agravante
genérica do artigo 62, inciso IV, do Código Penal. 2. Restando incontroverso dos autos que o recorrente
transportou para dentro do território nacional arma de fogo e munição sem autorização da autoridade
competente, fica configurada a conduta descrita no tipo do artigo 18 da Lei nº 10.826/03 concernente
ao tráfico internacional de armas, sendo de todo incabível a pretendida desclassificação para o delito
do artigo 14 da mesma lei, referente ao porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, de natureza
absolutamente diversa, e que não comporta a travessia de fronteira. 3. A falta de exame no acórdão
recorrido da questão relativa à aplicação analógica da causa especial de redução de pena do tráfico de
drogas ao crime de tráfico de armas impede o conhecimento do recurso especial relativamente a tanto
em razão da ausência de prequestionamento, ensejando a incidência do Enunciado nº 211 da Súmula
deste Superior Tribunal de Justiça. 4. Recursos improvidos. (REsp 1.365.654/PR, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/10/2014, REPDJe 29/10/2014, DJe
13/10/2014) negritei. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DO
DESARMAMENTO. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO. USO PROIBIDO OU
RESTRITO. ARTS. 18 E 19, DA LEI Nº 10.826/03. INTERNALIZAÇÃO DE MIRA TELESCÓPICA. SEM
AUTORIZAÇÃO. ARMA DE FOGO. AUSÊNCIA. PERIGO ABSTRATO. PROTEÇÃO À INCOLUMIDADE
PÚBLICA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Esta Corte adotou o entendimento de que os
delitos previstos entre os arts. 12 a 18 da Lei nº 10.826/03 são crimes de perigo abstrato, sendo
irrelevante a apreensão de acessório desacompanhada de arma de fogo, pois no Estatuto do
Desarmamento a pretensão é proteger a vida, a integridade física, a saúde, o patrimônio, a segurança
pública, entre outros bem jurídicos fundamentais. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp
1382230/PR, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 18/06/2014, DJe
27/06/2014) Para exame da adequação das evidências colhidas no presente Inquérito ao tipo penal,
reporto-me à oitiva do investigado perante a Polícia Civil de Benjamin Constant/AM, ocasião em que
afirmou: (...) QUE o flagranteado confessa ser o proprietário da arma de fogo tipo pistola calibre 380,
munições e dinheiro encontrado por Policiais Militares em seu apartamento, pois afirma que adquiriu a
referida arma e munições no país peruano, na cidade de LIMA (não soube informar o nome e nem
endereço da pessoa que lhe vendeu a arma e munições), e que era para sua proteção, pois alega que
está na cidade como turista, e que nunca chegou a utilizar a pistola. Perguntado do interrogado, se
possui outra arma de fogo, já que foram apreendidos munições de dois calibres? Respondeu que não,
pois só possuía uma arma de fogo, a que foi apreendido por policiais, mas que tinha intenção de
comprar um revólver calibre 38, em Lima/PERU, e que só não chegou a comprar por não ter dinheiro.
(...) (e-STJ fl. 12 negritei) Tenho que, diferentemente do que defendem o Ministério Público Federal no
Amazonas (e-STJ fls. 85/98) e o Juízo suscitante (da Justiça Federal), a confissão do investigado
perante a Polícia Civil já constitui indício suficiente para fixar a competência federal, na medida em que,
se houvesse prova de que a arma de fogo e as munições descobertas na casa do investigado tivessem
entrado no país com a devida autorização da autoridade competente, o investigado já teria
providenciado a apresentação de tal prova, o que, até o momento, ainda não ocorreu. A fixação da
competência, por óbvio, não deslegitima a iniciativa do Ministério Público Federal no Amazonas no
sentido de buscar outras provas que entenda necessárias para comprovação do delito e oferecimento
da denúncia. Importante observar, também, que não se descarta a possibilidade de surgimento de
evidências, no decorrer das investigações, que apontem para conclusão diferente, o que demonstra
não ser possível firmar peremptoriamente a competência definitiva para julgamento do presente
inquérito policial. Isso não obstante, deve-se ter em conta que a definição do Juízo competente em tais
hipóteses se dá em razão dos indícios coletados até então, o que revela a competência da Justiça
Federal para condução do inquérito policial. De outro lado, dado que os delitos do art. 12 e do art. 18
da Lei nº 10.826/2003, no caso concreto, apresentam indiscutível conexão probatória (art. 76, III, CPP),
na medida em que a mesma arma e as mesmas munições constituem provas de ambos os delitos,
revela-se de todo conveniente que ambos sejam investigados e, eventualmente, processados e
julgados pelo mesmo Juízo. Assim sendo, deve incidir, na espécie, o disposto no enunciado n. 122 da
Súmula desta Corte: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos
de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo
Penal. Ante o exposto, com amparo no art. 34, XXII, do Regimento Interno desta Corte (na redação da
Emenda Regimental n. 24/2016), conheço do conflito para declarar competente para a condução do
Inquérito Policial o Juízo Federal da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Tabatinga SJ/AM, o Suscitante.
Dê-se ciência aos Juízes em conflito. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 08 de fevereiro de 2019.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA Relator

(STJ - CC: 162145 AM 2018/0299730-8, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data
de Publicação: DJ 18/02/2019)

CASO CONCRETO 4

Ex-dirigente de federação sul-americana de futebol, após deixar o cargo que exercia em seu país
de origem, sabedor de que existe uma investigação em curso na Colômbia, opta por fixar
residência no Brasil, pelo fato de ser estrangeiro casado com brasileira, com a qual tem dois
filhos pequenos. Anos depois, já tendo se naturalizado brasileiro, o governo da Colômbia pede a
sua extradição em razão de sentença que o condenou por crime praticado quando ocupava
cargo na federação sul-americana de futebol. Diga sobre a possibilidade de extradição e
fundamente. (FGV – adaptada)

R: - Poderá ser concedida, porque o extraditando não é brasileiro nato.


Há possibilidade de extradição de brasileiro naturalizado em 2 (duas) situações:
a) comprovado envolvimento com tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e;
b) crime comum praticado antes da naturalização.

Na situação apresentada, o brasileiro naturalizado pode ser extraditado conforme CF/88 por ter
praticado crime anterior a sua naturalização. Resalte -se que o fato do réu ter esposa brasileira e
filhos brasileiros não impede a sua extradição. Salvo se for no caso de expulsão não poderá ser
extraditado.

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4.4.3. EXTRADIÇÃO

JURISPRUDÊNCIA

Existência de família brasileira - Situação que não impede a extradição - Compatibilidade da Súmula
421/STF com a vigente Constituição da República. - A existência de relações familiares, a comprovação
de vínculo conjugal e/ou a convivência more uxorio do extraditando com pessoa de nacionalidade
brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não impedindo,
em consequência, a efetivação da extradição. Precedentes. - Não obsta a extradição o fato de o súdito
estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira. - A Súmula
421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação
internacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou
familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa obstativa da
extradição. Precedentes.

[Ext 1.343, rel. min. Celso de Mello, 2ª T, j. 21-10-2014, DJE de 19-2-2015.]

Órgão julgador: Tribunal Pleno

Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO

Julgamento: 20/10/2005

Publicação: 18/11/2005
Ementa

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL. EXTRADIÇÃO: CRIMES DE BURLA E FALSIDADE.


EXTRADITANDO CASADO COM BRASILEIRA E COM FILHOS BRASILEIROS. Súmula 421-STF. I. -
Pedido de extradição instruído com os documentos exigidos pela Lei 6.815/80 e pelo Tratado de
Extradição celebrado entre o Brasil e a Espanha. II. - Dupla tipicidade: atendimento. III. - Inocorrência
de prescrição. IV. - O fato de o extraditando ser casado com brasileira e ter filhos brasileiros não afasta
a extradição. Súmula 421-STF. V. - Extradição deferida.

Legislação

LEG-FED SUMSTF-000421 SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF

CASO CONCRETO 5

Tendo em vista o interesse comum de Brasil e Paraguai em realizar o aproveitamento


hidroelétrico dos recursos hídricos do rio Paraná, pertencentes em condomínio aos dois países
desde e inclusive o salto Grande de Sete Quedas ou salto de Guairá até a foz do rio Iguaçu, foi
aprovado o Tratado de Itaipu, em 26 de abril de 1973, criando a entidade binacional Itaipu,
considerada um modelo de integração. Contudo, passados mais de trinta anos, os paraguaios
começaram a se insurgir contra as disposições desse Tratado, alegando que há uma relação de
exploração em favor do Brasil, que se aproveita do seu poder econômico para submeter o
Paraguai a umacondição subalterna. A polêmica se acentuou com a eleição de Fernando Lugo à
Presidência da República do Paraguai. Com relação a esse Tratado e às polêmicas que gera, é
correto que As reivindicações dos paraguaios são pertinentes, uma vez que, segundo o Tratado
de Itaipu, ao Brasil cabem 95% da energia produzida pela Itaipu e ao Paraguai os 5% restantes,
proporcionais ao aporte financeiro realizado por cada país na construção da usina e Por ser
uma entidade binacional, as instalações e obras realizadas em cumprimento ao Tratado de Itaipu
conferem ao Brasil e ao Paraguai o direito de propriedade ou de jurisdição sobre o território um
do outro. (UFPR ? adaptada)

R: O tratado versa sobre propriedade da Usina de Itaipu e não sobre território, ou seja, a existência da
empresa binacional não significa que um país ira exercer poder de jurisdição sobre outro. O tratado
prevê responsabilidades iguais, as decisões são tomadas de comum acordo e a energia produzida será
dividida em partes iguais. Contudo, a energia não utilizada por uma das partes será vendida
preferencialmente a outra parte. A solução mais adequada ao conflito no caso em especifico será a
renegociação entre as partes.

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O DIREITO INTERNACIONAL ATÉ OS TRATADOS DE VESTFÁLIA (1648)

JURISPRUDÊNCIA

RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. LEGITIMIDADE ATIVA DO INPI.


PRESCRIÇÃO/DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. ART. 56, CAPUT, DA LPI. MEDICAMENTOS.
PATENTE MAILBOX. SISTEMA TRANSITÓRIO. ACORDO TRIPS. PRAZO DE VIGÊNCIA. REGRA
ESPECÍFICA. 20 ANOS CONTADOS DA DATA DO DEPÓSITO. INPI. DESRESPEITO AO PRAZO
LEGAL DE ANÁLISE. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
IMPOSIÇÃO DOS ÔNUS DECORRENTES DA DEMORA À SOCIEDADE. AUSÊNCIA DE
RAZOABILIDADE. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. NÃO OCORRÊNCIA.
INTERPRETAÇÃO PASSÍVEL DE GERAR TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO A SETORES
TECNOLÓGICOS ESPECÍFICOS. TRATADO INTERNACIONAL E LEI INTERNA. PARIDADE
HIERÁRQUICA. PRECEDENTE DO STF. 1- Ação ajuizada em 11/9/2013. Recurso especial interposto
em 10/4/2018 e concluso ao Gabinete em 24/6/2019. 2- O propósito recursal é definir se o prazo de
vigência das patentes concedidas às recorrentes pelo sistema mailbox é de 20 anos contados da data
do depósito ou de 10 anos contados de sua concessão. 3- Tanto a legitimidade do INPI para
propositura de ação cujo objetivo é a obtenção de provimento jurisdicional que declare a invalidade de
registro patentário como o prazo para seu exercício decorrem expressamente da regra inserta no art.
56, caput, da LPI: "a ação de nulidade poderá ser proposta a qualquer tempo da vigência da patente,
pelo INPI ou por qualquer pessoa com legítimo interesse". 4- O sistema denominado mailbox consistiu
em mecanismo transitório adotado para salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos
farmacêuticos e produtos agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da internalização no País, em
1/1/1995, do Acordo TRIPS (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio). 5- Tratando-se de patentes excepcionalmente requeridas pelo sistema
mailbox, a Lei de Propriedade Industrial, em suas disposições finais e transitórias, estabeleceu regra
expressa assegurando proteção, a partir da data da respectiva concessão, limitada ao prazo
remanescente previsto no caput do seu art. 40 (20 anos contados do dia do depósito), circunstância
que afasta, como corolário, a possibilidade de incidência do prazo excepcional do respectivo parágrafo
único (10 anos a partir da concessão). 6- A norma que prescreve que o prazo de vigência de patente de
invenção não deve ser inferior a 10 anos da data de sua concessão está inserida em capítulo da LPI
que versa sobre regras gerais, aplicáveis ao sistema ordinário de concessão de patentes, de modo
que, à míngua de remição legal específica, não irradia efeitos sobre matéria a qual foi conferido
tratamento especial pela mesma lei. 7- A LPI não prescreve quaisquer consequências para a
eventualidade de a análise dos pedidos de patente mailbox extrapolar o prazo nela fixado. 8- Tratando-
se de medicamentos, adiar a entrada em domínio público das invenções significa retardar o acesso ao
mercado de genéricos, causando, como consequência, o prolongamento de preços mais altos, o que
contribui para a oneração das políticas públicas de saúde e dificulta o acesso da população a
tratamentos imprescindíveis. 9- Inexistência, na espécie, de violação à proteção da boa-fé e da
segurança jurídica. A um, porque a concessão da proteção patentária por período de tempo em
evidente descompasso com o texto expresso da LPI, facilmente observável no particular, não pode ser
considerada fonte de criação de expectativa legítima em seus titulares. A dois, porque a questão
jurídica posta a desate extrapola a mera relação existente entre a autarquia e as sociedades
empresárias recorrentes, sendo certo que os efeitos do ato administrativo irradiam-se por todo o tecido
social, não se afigurando razoável impor pesados encargos à coletividade em benefício exclusivo de
interesses econômicos particulares. 10- Cuidando-se de eventual conflito envolvendo tratado
internacional e lei interna, o Supremo Tribunal Federal assentou que vigora no Brasil um sistema que
lhes atribui paridade hierárquica, daí resultando que eventuais dicotomias devem ser solucionadas pelo
critério da especialidade ou pelo critério cronológico. 11- O autor do invento possui tutela legal que lhe
garante impedir o uso, por terceiros, do produto ou processo referente ao requerimento depositado,
além de indenização por exploração indevida de seu objeto, a partir da data da publicação do pedido (e
não apenas a partir do momento em que a patente é concedida). Dessa forma, apesar da expedição
tardia das cartas-patente pelo INPI, as invenções das recorrentes não estiveram, em absoluto,
desprovidas de amparo jurídico durante esse lapso temporal. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO,
COM MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS.

(STJ - REsp: 1840910 RJ 2019/0045852-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
05/11/2019, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 07/11/2019)

CASO CONCRETO 6

Tratados em sua natureza são, normas de direito internacional público. No sistema jurídico
brasileiro, como nas muitas democracias modernas, tratados passam a compor o direito interno
estatal, após a verificação de seu iter de incorporação. A respeito dessa temática, uma vez
firmados, os tratados relativos ao MERCOSUL, ainda que criem compromissos gravosos à
União, são automaticamente incorporados visto que são aprovados por parlamento comunitário.
Diga se está correta ou errada a afirmativa e fundamente. (CESPE– adaptada)

R: Tendo em vista que o Brasil adotou a teoria dualista moderna, faz-se necessário um processo
específico, para que a norma internacional venha produzir efeitos em nosso território nacional, tendo
como elementos processuais: tratativas, assinatura, aprovação parlamentar, ratificação, promulgação,
publicação, registro na ONU. Importante salientar que Tratados do Mercosul precisam passar por todo
esse processo de inclusão dos tratados no território brasileiro.
DOUTRINA

MANUAL DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

HILDEBRANDO ACCIOLY

G. E DO NASCIMENTO E SILVA

PAULO BORBA CASELA

EDITORA SARAIVA

ANO 2012

20ª EDIÇÃO

O DIREITO INTERNACIONAL ATÉ OS TRATADOS DE VESTFÁLIA (1648)

JURISPRUDÊNCIA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO


NCPC. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL. DIREITO DO
CONSUMIDOR. EXTRAVIO DE BAGAGEM. PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. NORMAS E TRATADOS INTERNACIONAIS. CONVENÇÃO DE MONTREAL. LIMITAÇÃO
DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA TRANSPORTADORA APENAS QUANTO AOS DANOS
MATERIAIS. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AOS DANOS
MORAIS. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos
do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. O STF, no
julgamento do RE nº 636.331/RJ, com repercussão geral reconhecida, fixou a seguinte tese jurídica:
Nos termos do artigo 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais
limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as
Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor.
3. Referido entendimento tem aplicação apenas aos pedidos de reparação por danos materiais. 4. As
indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo não estão
submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a
efetiva reparação do consumidor preceituada pelo CDC. 5. Recurso especial não provido.

(STJ - REsp: 1842066 RS 2019/0299804-4, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento:
09/06/2020, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/06/2020)

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