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É o ramo do direito privado (parte do direito civil) que contempla o conjunto de normas
jurídicas que regulam as relações familiares.
ATENÇÃO: Embora o direito de família contenha preceitos de ordem pública, não se identifica com
o direito público, pois o objetivo é garantir a autonomia da vontade dos indivíduos na formação das
entidades familiares.
O Código Civil inicia o direito de família no artigo 1.511, que trata do casamento.
CASAMENTO
O casamento é um ato jurídico negocial, solene e público, pois sua constituição depende de
manifestações e declarações de vontade sucessivas, além da oficialidade de que é revestido, estando
sua eficácia sujeita aos atos estatais.
O artigo 1.511 do CC/2002 apresenta a finalidade do casamento, que é estabelecer comunhão
plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, uma vez que o casal assume
mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
A sociedade conjugal gera dois tipos de vínculos: (a) vínculo conjugal entre os cônjuges; (b)
vínculo de parentesco por afinidade, ligando um dos cônjuges aos parentes do outro. Os pais dos
casados viram sogro e sogra. Os parentes colaterais até o segundo grau (os irmãos e irmãs) tornam-
se cunhados(as). Findo o casamento, o parentesco em linha reta (sogro, sogra, genro e nora) não se
dissolve, gerando, inclusive, impedimento para o casamento (art. 1.521, inciso I, CC/02).
Além disso, ressalta-se que com o casamento ocorre a alteração do estado civil dos consortes.
Solteiros, viúvos ou divorciados adquirem a condição de casados. Essa identificação do estado civil
serve para dar publicidade à condição pessoal e, também, à situação patrimonial, proporcionando
segurança aos terceiros.
A maioridade acontece aos 18 anos. A partir desta idade as pessoas podem livremente casar e
escolher o regime de bens. Porém, a legislação permite o casamento a partir dos 16 anos (art. 1.517,
CC/02). É a chamada idade núbil.
Dos 16 até os 18 anos as pessoas são relativamente incapazes (art. 4°, CC/02) e precisam ser
assistidas para os atos da vida civil. Assim, até completarem a maioridade civil, é necessária
autorização dos pais para o casamento (art. 1.634, inciso III, CC/02). Como é indispensável a
concordância de ambos os genitores, se um não anuir, é possível o suprimento judicial do
consentimento (art. 1.517, parágrafo único, art. 1.519 e art. 1.631, parágrafo único, CC/02).
A ausência de consentimento dos pais torna o casamento anulável (art. 1.550, inciso II,
CC/02). Ainda que concedida autorização, esta pode ser revogada, mas somente até a data das núpcias
(CC, 1.518). Celebrado o casamento, cessa a menoridade (CC, 5°, parágrafo único, II).
ESPÉCIES DE CASAMENTO
1) CIVIL: O casamento civil é realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil. Trata-se de
ato solene, levado a efeito por um celebrante e na presença de duas testemunhas, nas dependências
do cartório, ou em outro local.
A celebração é gratuita, conforme previsão do art. 226, § 1º, CF/88 e art. 1.512, CC/02.
Contudo, o processo de habilitação e a emissão da certidão são feitos mediante pagamento, salvo nos
casos em que a pobreza for declarada. Nessa situação, a isenção do pagamento das custas estende-se
à habilitação, ao registro do casamento e à primeira certidão, conforme dispõe o art. 1.512, parágrafo
único, CC/02. Assim, basta que os nubentes firmem singela declaração afirmando falta de recursos
para serem dispensados de qualquer ônus.
ATENÇÃO: Nas hipóteses em que existem causas suspensivas à realização do casamento (art. 1.523,
CC/02), para ser afastado o regime da separação legal de bens, precisa ser juntada a decisão judicial
que dispensou sua obrigatoriedade.
Conforme previsão do artigo 1.532 do CC/2002, essa habilitação tem eficácia por 90 dias.
ATENÇÃO: Apesar da lei referir que a habilitação deve ser feita pessoalmente (art. 1.526, CC/02),
é autorizado que o requerimento seja firmado por procurador com poderes especiais (art. 1.525,
CC/02).
Atendidos os requisitos e verificando o Oficial a inexistência de fatos impeditivos, é extraído
edital, a ser afixado durante 15 (quinze) dias no cartório em que os nubentes têm sua residência (e
não na cidade em que foi registrado o nascimento dos noivos). Como a lei não exige que o casamento
seja realizado no local da habilitação de um ou ambos os nubentes, o edital é publicado também no
local onde cada um reside (art. 1.527, CC/02). Se houver jornal local, deve ser publicado na imprensa.
Esse prazo serve para a oposição de eventuais impedimentos, sendo que em caso de urgência,
a publicação pode ser dispensada (art. 1.527, parágrafo único, CC/02).
Apurada a existência de impedimentos ou de causas suspensivas mediante denúncia escrita e
acompanhada de provas, deve o oficial dar ciência aos noivos da oposição apresentada, para
oportunizar a contraprova.
ATENÇÃO: Os nubentes podem indicar uma data dentro do prazo do certificado de habilitação, mas
a decisão final é do oficial do registro civil.
→ Se a autoridade competente não puder comparecer, só pode ser substituído pelo substituto legal.
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Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão [...] II - justiça de paz, remunerada, composta
de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da
lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer
atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.
→ O cartório competente é aquele que emitiu o certificado de habilitação.
A solenidade é realizada nas dependências do Cartório do Registro Civil, onde foi feita a
habilitação, mas pode ocorrer em outro local, mediante autorização do celebrante. Necessitam estar
presentes: a autoridade celebrante; os noivos ou procurador com poderes especiais; o oficial do
registro civil e duas testemunhas, que podem ser parentes dos noivos.
ATENÇÃO: Na hipótese de algum dos nubentes não saber ou não poder assinar; e no caso da
celebração ocorrer em local particular, será necessária a presença de quatro testemunhas.
ATENÇÃO: Em caso de doença grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde
se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler
e escrever, devendo o termo avulso ser registrado no respectivo registro dentre de 5 (cinco) dias,
perante duas testemunhas.
Na celebração, o juiz de paz deve perguntar aos nubentes se pretendem se casar por livre e
espontânea vontade. Ouvida a palavra “sim”, o celebrante declara efetuado o casamento. Porém, caso
um dos nubentes não tenha certeza ou manifeste que a intenção não é livre, a celebração será suspensa,
não podendo o nubente se retratar no mesmo dia.
Desta forma, o casamento se efetua mediante o cumprimento de dois requisitos: a
manifestação de vontade dos noivos e a afirmação do celebrante que os declara casados.
Após a celebração, é lavrado o assento no livro de registro civil das pessoas naturais, que é
assinado pelo presidente do ato, cônjuges, testemunhas e o oficial ele registro. No assento deve
constar a qualificação dos recém-casados, dos seus pais e das testemunhas, além dos dados relativos
à habilitação e ao regime de bens. Também é anotado o nome que os cônjuges passarão a utilizar,
pois qualquer deles pode adotar o sobrenome do outro. Como já estão casados, os cônjuges devem
assinar o nome que adotaram.
O registro do casamento tem finalidade certificatória, e a certidão do registro serve de prova
de sua celebração. Na ausência do registro, justificada sua falta, perda ou extravio, admite-se qualquer
outro meio de prova, conforme previsão do artigo 1.543, parágrafo único, do CC/02. Contudo, não se
trata da simples perda da certidão, já que pode ser emitida segunda via. Trata-se do desaparecimento
do próprio registro, seja do livro ou do cartório onde foi efetuado o lançamento.
CUIDADO: Se um dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil, o registro civil
do casamento religioso será nulo!
ATENÇÃO: O Brasil é um país laico, que não prioriza uma religião em detrimento de outras. Em
razão disso, pode ser reconhecido para fins registrais, o ato de celebração realizado por qualquer
credo, igreja ou seita, como, por exemplo, as cerimônias das religiões de matriz afro-brasileiras e o
casamento cigano. Nada justifica que se deixe de admitir efeitos civis aos casamentos celebrados por
qualquer religião. Basta que esta professe fé e que não se afaste dos princípios estruturantes da
sociedade.
3) POR PROCURAÇÃO: Ainda que não se possa dizer que seja uma espécie de casamento, o
casamento por procuração é uma modalidade de casar (art. 1.542, CC/02). Por ausência de óbice
legal, ambos os noivos podem ser representados por procurador. A procuração deve ser outorgada
por instrumento público com poderes especiais e tem validade pelo prazo de 90 dias. A revogação
também deve ser feita por instrumento público. Se a revogação não chegar a tempo ao conhecimento
do mandatário e o casamento for celebrado, o mandante responde por perdas e danos (art. 1.542, §
1º, CC/02). Revogado o mandato, a lei o tem por anulável (art. 1.550, inciso V, CC/02). E há a
possibilidade de o casamento ter validade na hipótese de, mesmo revogado o mandato, ocorrer a
coabitação entre os cônjuges.
5) PUTATIVO: Trata-se do casamento nulo ou anulável, mas contraído de boa-fé por um ou por
ambos os cônjuges (art. 1.561, CC/02). Mesmo desconstituído, o casamento produz efeitos com
relação ao cônjuge que estava de boa-fé. Este período de validade vai da data da celebração até o
trânsito em julgado da sentença que o desconstituiu. Assim, quanto ao cônjuge que casou de boa-fé,
a sentença tem efeito ex nunc, o casamento só se desfaz depois de a sentença tornar-se definitiva. Já
quanto ao cônjuge que agiu de má-fé, por ter ciência da causa nulificante do casamento, o efeito da
anulação é ex tunc, retroage à data da celebração. É como se o casamento não tivesse existido.
6) HOMOAFETIVO: O fato de a lei estabelecer (art. 1.565, CC/02) que, pelo casamento, homem e
mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos
da família não significa que esteja limitando o casamento a casais heteroafetivos. Há possibilidade de
reconhecimento de casais homoafetivos, conforme decisão do STF na ADI nº 4.277 e na ADPF nº
132 e da conversão da união estável em casamento, bem como da habilitação para o casamento,
conforme decisão do STJ (REsp 1.183.378/RS) e da Resolução nº 175 do CNJ que impediu que fosse
negado acesso ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Art. 1º, Resolução nº 175, CNJ: Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento
entre pessoas de mesmo sexo.