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N° 85 - Abril 2019

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Revistapodologia.com n° 85
Abril 2019

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Alberto Grillo
revista@revistapodologia.com

ÍNDICE
Pag.

5 - Modelo de estresse de tecidos. Aplicações clínicas na patologia do pé.


Ángel Manuel Orejana García - Francisco Monzó Pérez. Espanha.
24 - Podologia Desportiva. Patologías em Pés de Atletas.
Elaine Efting. Brasil.

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Modelo de estresse de tecidos.
Aplicações clínicas na patologia do pé.
Ángel Manuel Orejana García 1, Francisco Monzó Pérez 2. Espanha.

1
Universidad Complutense de Madrid. 2 Universidad Miguel Hernández. Madrid.

Tissue stress model. Clinical applications in foot pathology.

Recibido: 08/11/2018 - Aceptado: 25/11/2018

0210-1238 © Consejo General de Colegios Oficiales de Podólogos de España, 2018.


Editorial: INSPIRA NETWORK GROUP S.L.
Este es un artículo Open Access bajo la licencia CC BY-NC-ND
(www.creativecommons.org/licenses/by/4.0/).

Correspondência:
Ángel Manuel Orejana García - amorejana@gmail.com

Resumo Palavras-chave: Estresse tecidual, biomecânica


dos pés, patomecânica dos pés, tratamento orto-
No final do século XX, um novo conceito foi pédico, patologia dos pés.
publicado sobre como entender o desenvolvimen-
to da patologia do pé e sua abordagem terapêu- Abstract
tica. Foi baseado na análise do estresse sofrido At the end of the 20th century, a novel concept
pelos tecidos. was published to understand the development of
Essa ideia rompeu com os critérios utilizados foot pathology and its therapeutic approach. It
até então que se baseavam na realização de tes- was based on the analysis of tissue stress. This
tes clínicos com o objetivo de determinar se a idea broke with the criteria used until then that
posição do pé era normal ou patológica. were based on the performance of clinical tests
aimed at determining if the position of the foot
A aplicação dos conceitos da mecânica newto- was normal or pathological. The application of
niana possibilitou compreender a importância the concepts of Newtonian mechanics made it
das forças de reação do solo (ERF) no desenvol- possible to understand the importance of soil
vimento do movimento articular. Mais tarde, reaction forces (FRS) in the development of joint
Kirby desenvolveu seu modelo de equilíbrio rota- movement. Subsequently, Kirby developed his
cional onde é explicado o papel desempenhado model of rotational equilibrium where the role
pelas estruturas anatômicas do pé como desace- played by the anatomical structures of the foot
leradores do movimento gerado pela ação do as decelerators of the movement generated by
FRS. Essa desaceleração é obtida a partir da ten- the action of the FRS is explained. This decelera-
são que essas estruturas suportam e aumentam tion is obtained from the tension that these struc-
até que o movimento pare. O ponto em que as tures support and increase until the movement
articulações encontram sua situação de equilí- stops. The point where the joints find their equili-
brio define o morfotipo do pé. brium defines the morphotype of the foot. This
morphotype is not considered normal or patholo-
Este morfotipo não é considerado normal ou gical. It is used as an indicator of the structures
patológico. É usado como um indicador de estru- that are subject to greater stress. In the tissue
turas que estão sujeitas a maior estresse. stress model, the clinician’s task is to analyze the
Quando utilizamos o modelo de estresse teci- internal and external factors that contribute to
dual, a tarefa do clínico é analisar os fatores the increase in tension that the injured tissue
internos e externos que contribuem para o supports and, then, to establish the therapeutic
aumento da tensão que o tecido lesado suporta, measures that guarantee its reduction in order to
e então estabelecer as medidas terapêuticas que alleviate the patient’s painful symptoms.
garantam sua redução para aliviar o paciente de
sua clínica doloroso. Keywords: Stress tissue, biomechanics of the
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foot, foot pathomechanics, orthopedic treatment, paciente em uma situação "normal". Essa mudan-
foot pathology. ça na maneira de abordar a patologia do pé com
base na identificação da presença de deformida-
INTRODUÇÃO E PERSPECTIVA HISTÓRICA des intrínsecas, quantificando-as com medidas
goniométricas e prescrevendo as modificações
Durante as décadas de 1960 e 1970, o trabal- da órtese funcional que compensou essas defor-
ho feito pelo Dr. Root e seus colegas da midades intrínsecas, popularizou seu uso e tor-
Faculdade de Medicina Podiátrica da Califórnia nou-se o modelo referência biomecânica, ao nível
levou-os a desenvolver um modelo de comporta- de ensino e clínico, na comunidade podiátrica
mento biomecânico do pé que se cristalizou na 2,4.No entanto, à medida que o modelo foi utili-
publicação de um primeiro texto em 1971 e um zado e as publicações surgiram, o modelo e os
segundo volume posterior, em 19772. Nesses princípios nos quais se baseou começaram a ser
livros, eles desenvolveram um sistema de classi- questionados.
ficação para deformidades do pé e do membro
inferior. O eixo central deste sistema de classifi- Começaram a surgir questões que não tinham
cação é o conceito de posição neutra da articula- uma resposta fácil, segundo o modelo de Root,
ção subtalar (ASA). Quando o AAS estava nessa sobre por que um pé poderia apresentar uma
posição e a articulação meio-tarsal em uma posi- pronação excessiva se, no exame físico, não se
ção de "travamento" da articulação, a posição observasse nenhuma deformidade intrínseca que
normal do pé deveria mostrar um alinhamento Root indicasse como causa de pronação no pé. E
paralelo entre as bissetrizes do calcanhar e o quando essa circunstância ocorre, como alguém
terço distal da perna e a linha que une as pernas. pode abordar o problema por meio de órteses
Cabeças metatarsais devem ser perpendiculares plantares, tomando o modelo Root como referen-
à bissetriz do calcanhar. cia.

Eles apontam que esta posição de normalidade O modelo não conseguiu explicar por que os
do pé é alcançada no ciclo de caminhada entre a pacientes que apresentaram algumas das defor-
posição de apoio total do pé e a elevação do cal- midades intrínsecas descritas por Root não des-
canhar. Tomando esse alinhamento do pé e um envolveram sintomas e outros sem essas defor-
conjunto de valores goniométricos como referên- midades desenvolveram patologia.
cia, eles estabeleceram oito critérios que repre- Paralelamente, publicações que questionaram a
sentaram a relação ideal entre os segmentos validade dos critérios de normalidade estabeleci-
ósseos do pé e do membro inferior para obter a dos por Root et al. como a confiabilidade interob-
máxima eficiência durante a permanência e a servador das medidas ortopédicas que foram uti-
locomoção. lizadas para determinar se o pé apresentava
Estes critérios foram utilizados durante anos parâmetros normais5-7.
como critérios de normalidade estrutural do pé e Nesse contexto de dúvidas sobre o modelo Root
membro inferior. como um meio de entender o desenvolvimento
da patologia do pé, a publicação de Hunt e
O, modelo desenvolvido por Root et al. Para McPoil surgiu em 1995. Eles propuseram anali-
avaliar e tratar patologias do pé modificou signi- sar o diagnóstico e o tratamento da patologia do
ficativamente a visão da comunidade de saúde pé por meio de uma abordagem muito novedosa
do pé. Embora continuasse sendo um modelo para a época. Essa proposta foi baseada na aná-
que se baseava em parâmetros estruturais do pé lise do estresse que os tecidos do pé estão supor-
(especialmente no plano frontal), introduziu um tando4. Até à data, as técnicas de medição foram
conceito que até agora não era gerenciado. utilizadas para obter valores de alinhamento dos
Começou a ser entendido que o pé tinha que ser pés que permitiriam ao médico determinar se
analisado como uma estrutura dinâmica. era normal ou patológico, dependendo se foram
As patologias se desenvolveram como resulta- ou não distantes dos valores estabelecidos como
do do excesso de movimento que ocorreu nas normais.
articulações para compensar as deformidades
intrínsecas do antepé ou retropé que elas descre- No entanto, os autores entenderam que o mais
veram (antepé varo, valgo ou retropé varo). Até importante não era determinar se o pé é normal
então, foi estudado como uma estrutura em está- ou patológico, mas identificar o tecido lesionado
tica onde as doenças estavam relacionadas à e as causas que levaram à lesão. Esta abordagem
altura do arco interno e à posição do calcanhar não considera que a posição do pé deva ser
em pé. O objetivo fundamental do tratamento entendida como uma patologia. Eles consideram
ortopédico foi baseado na colocação de elemen- que, dependendo da posição do pé, existem teci-
tos que reposicionam o calcanhar e o arco do dos que suportam uma tensão de maior magni-
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tude que outros e, portanto, são esses tecidos nas quais a mecânica newtoniana se baseia, não
que apresentam maior risco de sofrer uma lesão. creio que ele pudesse imaginar a repercussão
Tanto a história como a avaliação física do que elas teriam em uma área de conhecimento,
paciente (palpação, equilíbrio muscular e articu- aparentemente tão distante da física quanto é
lar, testes clínicos específicos) não devem apenas medicina. E mais especificamente, dentro da
visar a identificação precisa do tecido lesionado, medicina, no sistema musculoesquelético.
mas também devem fornecer ao clínico informa-
ções suficientes para determinar se a causa da Se revisarmos a terceira lei de Newton, tam-
lesão no tecido é devida à força que ela está bém conhecida como princípio de ação e reação,
suportando. Somente quando a origem da lesão ele descreve que quando um corpo exerce uma
for mecânica será aplicada a aplicação de medi- força sobre outro corpo (ação), o segundo corpo
das destinadas a reduzir o estresse que o tecido exerce uma força de igual intensidade e direção,
suporta, como o repouso ou o uso de órteses mas de sentido oposto, no primeiro corpo (rea-
plantares e calçados com características especí- ção). Em geral, os exemplos que são usados para
ficas. explicar o conceito que descreve esta terceira lei
de Newton são estruturas planas ou geométricas
No esquema terapêutico proposto pelos auto- onde a força de ação e reação tem o mesmo
res, também está contemplado a aplicação de ponto de aplicação.
terapias físicas para promover a cicatrização de
lesões teciduais e estabelecer programas que No entanto, o pé não é uma estrutura plana e
melhorem a elasticidade e a força muscular, per- sua anatomia, tanto no plano sagital quanto no
mitindo ao paciente uma incorporação completa plano frontal, possui uma estrutura arqueada.
em suas atividades de vida diária. Esta morfologia do pé faz com que a aplicação
A importância dada por McPoil e Hunt4 à ten- da 3ª lei de Newton tenha algumas peculiarida-
são que os tecidos suportam no desenvolvimento des.
da patologia do pé levou-os a afirmar que o
modelo de estresse tecidual poderia servir de Para entender melhor essa situação, vamos
base para o desenvolvimento de um novo para- imaginar duas estruturas em forma de arco nas
digma de exploração física e abordagem terapêu- quais aplicamos uma força de ação em seu ponto
tica de pacientes que apresentam alguma doen- mais proeminente. A primeira é um corpo rígido
ça do pé. Atualmente, o modelo de estresse teci- com uma forma de arco. A segunda é um arco
dual é um método eficiente para a avaliação clí- formado por duas barras unidas por uma das
nica de pacientes e para estabelecer estratégias extremidades através de uma dobradiça. Neste
de tratamento para patologias do pé e membros caso, o ponto de aplicação da força de ação e o
inferiores. ponto de aplicação da força de reação não são o
mesmo, onde eles estão distantes um do outro.
EFEITO DAS FRS NAS ESTRUTURAS Desta forma, um par de forças é gerado, o que
ANATÔMICAS DO PÉ nada mais é do que duas forças paralelas que
têm a mesma intensidade, mas direção oposta
Quando, em 1687, Newton descreveu as leis (Figura 1).

Figura 1. Tanto em um corpo rígido (1) quanto em um corpo articulado (2) a aplicação de uma força
de ação no ápice (Fa), encontramos que uma força de reação (Fr) é gerada. Ambas as forças são
paralelas. Eles têm a mesma direção (linha pontilhada), direção oposta (seta), mas estão separadas
por uma distância (d). Esta situação descreve o conceito de par de forças. Sua magnitude resulta da
multiplicação da magnitude da força (Fr) pela distância entre as duas forças (d).
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Figura 2. Quando atuam um par de forças sobre no corpo rígido (1), uma força de tensão (setas diver-
gentes) e uma força de compressão (setas convergentes) são geradas. Mudanças na forma do corpo
rígido são geradas somente quando sua magnitude excede a força deste à ser deformado. Pelo con-
trário, ao atuar o par de flexão na estrutura articulada (2), será gerado um movimento dos segmentos
rígidos em torno da dobradiça que os une.

Quando o par de forças atua na primeira estru- gerados pares de forças, pois o ponto de aplica-
tura (corpo rígido em forma de arco), é gerada ção da força de ação (o peso) não coincide com
uma flexão ou uma torção. No entanto, quando o o ponto de aplicação da força de reação.
par de forças atua na segunda estrutura, um
movimento será gerado ao redor da dobradiça Esses pares de forças geram momentos de
que une os dois corpos rígidos que formam o força nas articulações, que são os principais res-
arco. Este movimento será uma rotação (Figura ponsáveis por esses movimentos. No entanto,
2). A magnitude da flexão ou torção gerada pelo quando exploramos essa articulação na avalia-
par de forças é um produto obtido pela multipli- ção clínica do paciente ou quando analisamos
cação do valor das forças que formam o par pela suas curvas cinemáticas, podemos observar que
distância que existe entre elas (braço do par). o movimento não é ilimitado, mas tem um ponto
em que ele para. Essa situação é explicada por-
No entanto, o movimento rotacional gerado que a articulação atingiu um ponto de equilíbrio
pelo par de forças é definido por outro conceito rotacional.
físico conhecido como momento de força. Este
também é um produto obtido pela multiplicação Em outras palavras, a articulação deixará de se
da magnitude do FRS pela distância entre seu mover quando a magnitude do momento de força
ponto de aplicação e o ponto onde o movimento que gera o movimento for igual à magnitude do
é feito (braço de momento). momento de força que se opõe ao movimento8
(Figura 3).
Assim, a forma anatômica do pé determina Portanto, devemos entender que os FRS são os
que, quando aplicada a 3ª lei de Newton, são principais responsáveis pela geração de movi-

Figura 3. Ao aplicar uma força (F1) no extremo de uma barra rígida, ela realiza um movimento em
torno de seu ponto de apoio (Pm). A distância entre o ponto de aplicação de força e Pm é conhecida
como braço de momento (D). A força real aplicada é obtida multiplicando-se a magnitude da força
pelo braço de momento (momento de força) (3a). Ao adicionar uma segunda força (F2), o movimento
para quando a magnitude de ambos os momentos de força é igual (3b).

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mento nas articulações do pé (auxiliado pela comportamento linear do material ou comporta-
ação específica de certos músculos, como o trí- mento proporcional, uma vez que, para um
ceps sural, o tibial posterior ou o fibular). E as aumento constante da força deformante, ocorre
estruturas anatômicas do pé (ossos, ligamentos, um aumento proporcional do grau de deformida-
fascia, tendões e músculos) são responsáveis por de que sofre o tecido.
desacelerar esse movimento.
Ou seja, se aumentarmos em 2% a força de
COMO PODEMOS EXPLICAR O deformação que atua no tecido, isso aumentará
DESENVOLVIMENTO DA PATOLOGIA DO PÉ a quantidade de deformação que ele sofre em
A PARTIR DAS FORÇAS INTERNAS E 2%. Esta área da curva tensão-deformação é
EXTERNAS QUE SUPORTA definida como uma região elástica e é caracteri-
zada pelo fato de que o material recupera sua
Como já dissemos, os tecidos do pé são sub- forma inicial integramente uma vez que a força
metidos a diferentes quantidades de tensão (tra- deformativa deixa de atuar sobre ela.
ção ou compressão) em resposta à ação de for-
ças externas. A quantidade de estresse que um A inclinação da zona elástica define o grau de
tendão ou um ligamento suporta depende da rigidez de um material. Uma inclinação maior
magnitude do momento de força gerado pela representa que o material tem maior rigidez e
FRS e do calçado sobre a articulação. Mas tam- vice-versa. Quanto maior a rigidez de um tecido,
bém do braço momento que essas estruturas menor a quantidade de deformação elástica que
têm. ele sofre com a ação de uma força de deforma-
ção e vice-versa.
De esta forma entendemos que a menor braço
de momento o estresse que eles suportam é Quando a deformação do tecido excede o cha-
maior. No entanto, essa situação não responde à mado limite proporcional, descobrimos que o
pergunta que os pacientes da clínica costumam tecido não se deforma de uma maneira propor-
nos perguntar: por que a lesão ocorreu? cional ao aumento de força deformativa.
Enquanto tendemos a simplificar a resposta
dizendo ao paciente que é devido ao excesso de Nesta situação, pequenos incrementos de força
tensão que o tecido lesionado suporta, a realida- de deformação geram importantes deformações
de é que o mecanismo pelo qual um tecido sub- no tecido. Esta região da curva tensão-deforma-
metido a um estresse sofre lesão é um poço mais ção é conhecida como região plástica e é carac-
complexo. Mais uma vez temos que recorrer a terizada pelo fato de que o tecido não recupera
certos conceitos físicos para entender esse completamente sua forma inicial uma vez que a
mecanismo. Curvas de tensão-deformação força de deformação deixa de atuar sobre ele. Se
(stress-strain) e conceitos como fadiga e rigidez continuarmos aumentando a força deformante,
de um tecido nos fornecem as claves para enten- verificamos que o tecido atinge o limite de ruptu-
der melhor por que um tecido se torna danifica- ra, onde ocorre lesão tecidual 8 (Figura 4).
do em alguns pacientes e não é em outros que
podem ter uma morfologia do pé apa-
rentemente semelhante. Pendente
de rigidez
As curvas tensão-deformação expli- Ponto de
cam graficamente o comportamento fratura
mecânico de um tecido ante a ação de Ponto de
uma força deformante sobre ele. vencimento
Embora as forças que atuam nos tecidos
do pé possam ser compressivas, torcio-
Tensão

nais, de cisalhamento ou de tensão, Energia


estas ultimas são geralmente usadas para
para representar as curvas tensão-defor- Região Região fraturar
mação, porque são as mais gráficas. elástica plástica

Mas devemos entender que, qualquer Deformação


que seja a natureza da força deforman-
te, gerará uma mudança de comprimen-
Figura 4. Curvas de tensão-deformação. Modificada de
to material ao longo da linha de aplica-
Guede et al.29. Pmax representa o ponto de máxima
ção da força. Nas curvas tensão-defor-
deformação do tecido.
mação, inicialmente encontramos um
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Se tomarmos as curvas de tensão-deformação do tecido e, além disso, como é aplicado em um
como referência, podemos entender que a lesão período de tempo muito curto, não dá o tempo
tecidual ocorre quando a magnitude da deforma- para que o tecido se adapte a essas exigências
ção excede o limite máximo de estresse que o mecânicas. O resultado é uma quebra total ou
tecido pode suportar (limite de ruptura). Mueller parcial do tecido. Exemplos desse tipo de lesão
e Maluf9 ressaltam que o grau de tensão que um são as fraturas traumáticas dos ossos do pé (fra-
tecido suporta depende não apenas da força turas de Lisfranc, fraturas do calcâneo ou fratu-
deformante que ele suporta, mas também de ras metatarsais e falangeais, para citar algumas
outros aspectos, como o diâmetro da seção do das mais prevalentes). No entanto, o tipo de
tecido, a velocidade de aplicação da força defor- paciente que vemos com mais frequência em
mante e a sua duração e o número de repetições. nossas consultas não possui essas característi-
Exceto pelo diâmetro da seção do tecido, os cas.
outros fatores têm uma relação direta com o grau
de tensão que um tecido suporta. A maioria são pacientes que chegam à clínica
A tensão que um tecido suporta é definida por apresentarem quadro doloroso ou incapaci-
como o quociente entre a força de deformação e dade funcional para seus esportes diários ou ati-
a área onde a força é aplicada. vidades diárias que foram estabelecidos progres-
sivamente e que não se associam a nenhum trau-
Assim, se nos referirmos a um tendão como ma ou gesto súbito no pé. Ou seja, são lesões
uma estrutura mais ou menos cilíndrica, sua que não foram estabelecidas por um mecanismo
espessura (diâmetro da seção) determina a de alta energia, mas pela aplicação de uma força
quantidade de tensão que ele suporta para uma deformante de baixa ou moderada intensidade
força de deformação. Quanto maior o diâmetro repetidamente e mantida ao longo do tempo.
da seção, a tensão que o tendão suportará será Este tipo de lesões aparece como resultado de
menor e vice-versa8. O diâmetro da secção das um processo de fadiga dos tecidos.
diferentes estruturas tendíneas, ligamentares e
musculares é geneticamente codificado. A fadiga é entendida como o dano que ocorre
Mas também foi demonstrado que o nível de em um tecido como consequência da repetição
tensão que essas estruturas suportam produz contínua de um ciclo de força deformante cuja
mudanças biológicas nelas. Descobrimos que, magnitude está abaixo do ponto de ruptura do
quando os níveis de tensão são altos, o tecido é tecido. Essa situação tem sido estudada princi-
adaptado a essas tensões, desde que os tecidos palmente no tecido ósseo, onde se constatou que
tenham tempo de se recuperar dos episódios de o desenvolvimento de fraturas por estresse se
estresse. baseia em uma lesão inicial que se desenvolve
como consequência do acúmulo de cargas repe-
Essas mudanças adaptativas produzem tidas12,13.
aumentos no diâmetro da seção do tecido, Da mesma forma, tem sido demonstrado que a
aumentos na sua rigidez e aumentos da tensão e presença de fadiga muscular e seções da fáscia
deformação que suportam antes de atingir seu plantar produzem um aumento na magnitude da
limite de ruptura. Ou seja, o tecido suportará força deformante exercida sobre o tecido ósseo e
mais tensão sem se lesionar. Pelo contrário, esta situação leva ao desenvolvimento de uma
quando suportam baixos níveis de tensão as alte- fratura por fadiga com menor número de
rações biológicas observadas são os opostos, se ciclos14,15.
produz uma diminuição do diâmetro da seção
uma diminuição da rigidez e atinge o limite de APLICAÇÃO DO MODELO DE ESTRESSE DE
ruptura do tecido com uma quantidade menor de TECIDOS À AVALIAÇÃO CLÍNICA E AO
tensão e deformação do mesmo. Como resulta- TRATAMENTO DA PATOLOGIA DO PÉ
do, o tecido suportará menor tensão antes de
sofrer danos 10,11. McPoil e Hunt4, em seu trabalho sobre o
estresse tecidual, estabelecem os passos que
A forma que tem que aplicar os deformantes de devem ser tomados para sua aplicação na avalia-
força no tecido também condiciona que ele ção clínica e no tratamento de patologias do pé.
possa ser lesionado.
Todos nós entendemos que uma força de alta Identificação de tecido lesado. Fatores exter-
magnitude que é aplicada em um curto período nos.
de tempo leva o tecido a sofrer uma ruptura. Este
é o mecanismo pelo qual ossos, tendões ou liga- O primeiro passo é a identificação do tecido
mentos sofrem rupturas agudas. A magnitude da lesionado, responsável pela sintomatologia que o
força de deformação excede o ponto de ruptura paciente apresenta.
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Esse processo geralmente é feito com base na rior visa encontrar fatores intrínsecos responsá-
anamnese em que o foco estará na região do pé veis pelo aumento da tensão que o tecido lesio-
ou no MMII, onde o paciente refere seus sinto- nado suporta.
mas. Mas também é importante que nossas per-
guntas nos forneçam informações sobre o tempo Esses fatores são identificados por meio da
de evolução dos sintomas (lesão aguda ou crôni- avaliação conjunta, da avaliação da força muscu-
ca), o modo de estabelecimento da dor (somente lar e dos dados obtidos na realização de mano-
quando carregando carga ou também em repou- bras clínicas. Todos os exames e avaliações clíni-
so, desde o início de suportar carga ou depois de cas realizadas destinam-se a ajudar o clínico a
um tempo de realizar atividade física), a limita- prever a resposta que os diferentes tecidos do pé
ção que gera em suas atividades de vida diária, a estão tendo para a ação da FRS. Mas eles nos
presença de sintomas neuríticos ou a presença dão informações sobre as características das for-
de quadro inflamatório associado. Desta forma, ças que geram a lesão tecidual. É importante ser
podemos ter uma ideia da estrutura anatômica capaz de identificar se a lesão tecidual é gerada
que pode estar danificada, da importância do pela ação de forças compressivas (afetam princi-
dano e, acima de tudo, sua possível origem palmente o tecido ósseo, mas também partes
mecânica. moles como a placa plantar ou a faixa central da
fascia plantar em sua inserção no calcâneo),
A bilateralidade da lesão, a presença de sinto- ação de uma força de tração (afeta principalmen-
mas inflamatórios, a dor que gera alta incapaci- te ligamentos e tendões) ou por uma ação com-
dade para as atividades do paciente e a dor que binada de ambos (os exemplos mais claros são
não aparece com a atividade física ou piora com em algumas dores metatarsais e em muitas fas-
ela, são dados que devem nos fazer pensar em ciopatias plantares). Identificar com precisão as
uma origem da lesão que pode não ser do tipo características da força de lesão é muito impor-
mecânica. Pelo contrário, dor, dor aguda ou crô- tante no momento de estabelecer as medidas
nica, unilateral ou bilateral, mas com maior ortopédicas que nos levam a reduzir sua magni-
expressão clínica em um pé, sem sintomas neu- tude e, portanto, o estresse que o tecido lesiona-
ríticos e que se apresenta com atividade física, é do suporta.
o padrão clássico de apresentação, associado às
lesões de origem mecânico. Na avaliação clínica do paciente, também é
importante realizar exames de imagem. Sempre
Além disso, nossa anamnese deve fornecer que a avaliação clínica indicar uma possível lesão
informações sobre a existência de fatores exter- do tecido ósseo, devemos fazer exames de ima-
nos que podem ser responsáveis pelo aumento gem, como Rx, MRI ou CT, com o objetivo de con-
das forças que o tecido danificado está suportan- firmar essa lesão e saber a extensão da mesma.
do. Nesse sentido, Mueller e Maluf9 apontam É importante saber se o paciente tem uma fratu-
que o peso do paciente, o tipo e nível de atividade ra por estresse (caso em que requer uma grande
física que ele realiza o tipo de trabalho que ele eliminação do estresse que sustenta o osso),
possui e as características do calçado que utiliza uma coalizão tarsal (nesse caso, a aplicação de
são fatores que podem modificar o tipo de expo- órteses plantares que reduzem as forças com-
sição á tensão que suporta o tecido danificado. pressivas na articulação afetada e os adjacentes
Em alguns casos, porque aumenta a magnitude geralmente aliviam os sintomas), osteoartrite
do FRS (peso do paciente e atividade esportiva) severa (em cujo caso tem que diminuir as forças
e em outros casos porque aumenta o número de compressivas que suportam a articulação, mas o
ciclos de tensão que o tecido suporta e/ou a resultado clínico é geralmente limitado por medi-
intensidade do mesmo (características do calça- das conservadoras) ou um tumor (caso em que
do, atividade esportiva, atividade de trabalho em não tem indicação o tratamento com o modelo
pé ou caminhada mantida). Da mesma forma, de estresse tecidual). Por sua vez, nas lesões dos
devemos identificar a presença de fatores que tecidos moles, o uso de exames de imagem tem
podem contribuir para os tecidos com menor como principal objetivo determinar o grau de
tolerância ao estresse físico, como a presença de dano tecidual que a estrutura apresenta.
doenças sistêmicas (diabetes mellitus, doenças
reumáticas), presença de deficiência de vitamina O objetivo principal não é confirmar se ela está
D e variações hormonais, bem como a presença ou não lesionada. Às vezes, o paciente refere dor
de hábitos sedentários prolongados no tempo. em um tendão que é confirmado no exame físico,
mas os exames de imagem não apresentam
Identificação de tecido lesado. Fatores internos. danos visíveis. Nestes casos, não devemos inter-
pretar o resultado do teste como que o tendão
A avaliação clínica do pé e da extremidade infe- não sofre patologia. Devemos entender que o ten-
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dão sofre um aumento no estresse de tração que fazer uma cuidadosa palpação das estruturas
gera um sintoma, mas que não apresenta dano anatômicas existentes na região onde o paciente
tecidual detectável na ultrassonografia ou resso- se refere ao sintoma doloroso.
nância magnética que realizamos. Do ponto de
vista do estresse tecidual, a ausência de danos Desta forma, podemos definir com mais preci-
identificáveis em exames de imagem é geralmen- são se a lesão está focada em um tendão, liga-
te indicativo de uma resposta terapêutica melhor mento, fáscia ou em uma estrutura óssea. Este
e mais rápida e um melhor prognóstico para a aspecto é importante porque os pacientes geral-
recuperação da lesão. mente nos dizem de maneira geral a localização
Por outro lado, se por ultrassom ou ressonân- da dor e somente através de uma palpação detal-
cia magnética fazer o paciente detectar uma rup- hada podemos identificar com precisão a estru-
tura parcial ou lesão intra-substancial extensa do tura responsável pelos sintomas. Mas a palpação
tendão, devemos entender que a melhora sinto- também pode nos fornecer informações sobre o
mática do paciente passa por uma redução ele- tipo de forças responsáveis pelo dano tecidual.
vada do stress que suporta o tendão associada a Quando um paciente se queixa de dor na face
outras medidas que ajudam o tendão a reparar- medial do tornozelo, devemos palpar os tendões
se. Nesse caso, o resultado do exame de imagem do tibial posterior, flexor próprio do hálux e flexor
indica que a resposta terapêutica será mais lenta comum dos dedos para identificar qual de todos
e o prognóstico de recuperação da lesão também reproduz os sintomas descritos pelo paciente. Se
menos previsível. tivermos sucesso, devemos pensar que o meca-
Assim, exames de imagem vai ajudar a definir nismo da lesão é um aumento no estresse de tra-
melhor a abordagem terapêutica que deve ser ção.
utilizado para reduzir o stress de tecido de nosso No entanto, a ausência de dor à palpação nes-
paciente (abordagem cirúrgico vs conservador e sas estruturas deve nos fazer pensar em uma
dentro do conservador uso de imobilização par- lesão nos tecidos ósseos que precisa de exames
cial, palmilhas, modificações de calçado e trata- de imagem (radiologia, ressonância magnética)
mentos regenerativos do tecido) e nos guiarão para determinar seu alcance. O mesmo acontece
nos períodos de recuperação (Figura 5). quando a queixa dolorosa se concentra no cal-
canhar.
Palpação das estruturas anatômicas
Devemos palpar a cara lateral do calcâneo e
Voltando ao exame físico, devemos sempre fazer compressões latero laterais para descartar

Figura 5. Imagem de ressonância magnética de um tendão tibial posterior com diferentes graus
de dano tecidual. Ambos são de pacientes com dor. A imagem 5a mostra tendão espessado com
intensidade de sinal homogêneo. A imagem 5b mostra o tendão com diminuição do diâmetro de
seção e com alterações de intensidade do sinal intrassubstância. A ressonância magnética nos
informa do grau de dano tecidual que gerou no tendão o aumento do estresse de tensão.

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um envolvimento do tecido ósseo. Mas também aumentada. Uma diminuição no rango de mobili-
devemos palpar a inserção medial da fáscia plan- dade articular pode ser observada em articulaçõ-
tar e o abdutor hálux. es como o ASA. A presença de um rango abaixo
Se reproduzirmos a clínica dolorosa do pacien- de 20° de inversão ocorre em coligações tarsais
te devemos pensar sobretudo no aumento das ou doenças degenerativas, como osteoartrite e
forças de tração da fascia plantar. Quando a pal- artrite reumatóide.
pação da região de plantar e central calcanhar é Também nas articulações, como o 1º AMTF,
o ponto que desencadeia os sintomas do pacien- que apresenta rangos abaixo de 45° quando tem
te, devemos pensar de um envolvimento da processos osteoartríticos leves ou inferiores a
banda central da fascia plantar em sua inserção 30° quando esses processos são mais graves. No
no calcâneo. Mas, neste caso, devemos pensar extremo oposto, encontramos a existência de um
que a força que gera a lesão é tanto compressiva excesso de rango de mobilidade articular. Essa
como de tensão. Outro exemplo seria a dor na situação está associada a condições patológicas
região plantar das articulações metatarsofalângi- que se apresentam com hiperfrouxidão ligamen-
cas (AMTF) central. tar (hiperlaxia essencial ou algumas doenças do
Essa dor pode ser uma consequência da lesão tecido conjuntivo, como as síndromes de Marfan
da placa plantar (dor à palpação de sua inserção ou Ehlers-Landos).
na falange proximal), caso em que devemos pen-
sar em uma força de predominância de tensao. No entanto, para determinar se uma articula-
Mas também pode estar relacionado à cabeça ção tem um rango de movimento normal, devem
metatarsal (dor à palpação da região plantar da existir valores de normalidade, e essa situação
cabeça metatarsal), caso em que devemos pen- não ocorre no pé exceto em articulações como o
sar em uma força de predominância compressi- tornozelo, a ASA e o 1º AMTF.
va. Além disso, do ponto de vista do estresse teci-
dual, a goniometria articular não é tão importan-
Em casos menos frequentes, a causa da dor é te, mas sim entender se a articulação realiza o
uma fratura de estresse da cabeça metatarsal ou movimento de maneira fácil ou dispendiosa.
uma doença incipiente de Freiberg. Às vezes os Em outras palavras, se o clínico precisa aplicar
pacientes também relatam dor dorsal na região muita ou pouca força para realizar o movimento
da diáfise dos metatarsais que conseguimos de uma articulação (Figura 6). Esse aspecto está
reproduzir à palpação. Quando não é devido a relacionado ao conceito de rigidez ao movimento
uma fratura por estresse, devemos interpretar que uma articulação possui.
que o mecanismo que gera esse tipo de sintoma
é um aumento das forças de flexão que o meta- Embora a articulação do tornozelo16,17 e o
tarsal suporta. movimento do primeiro dedo18,19 sejam as
regiões articulares do pé onde mais debate foi
Em geral, a palpação deve nos fornecer infor- estabelecido em torno desse conceito, o certo é
mações detalhadas sobre a estrutura anatômica que ele pode ser extrapolado para todas as arti-
lesada, bem como uma ideia do tipo de força que culações do pé. A rigidez ao movimento de uma
causa a lesão (compressiva ou de tensão). articulação é um quociente obtido pela divisão
Determinar os mecanismos que explicam o do rango de movimento que uma articulação tem
aumento dessa força de tensão ou compressão perante a aplicação de uma força concreta8.
que lesou o tecido é o objetivo da avaliação arti- Do ponto de vista clínico, avaliar a rigidez de
cular e dos testes clínicos que faremos a conti- uma articulação ao movimento ainda é uma sen-
nuação ao paciente. sação e, como tal, requer que o clínico tenha
uma curva de aprendizado para sua melhor inter-
Avaliação articular pretação.

A avaliação articular do pé deve incluir um No entanto, essa curva não é tão grande quan-
estudo do tornozelo, ASA, meio-tarsal e de todas to podemos pensar, já que a sensação de rigidez
as articulações que compõem a coluna vertebral, ao movimento que o clínico obtém ao avaliar uma
como o 1º escafo-cuneana, o 1º metatarsal-cune- articulação deve ser comparada às sensações
ana e o 1º AMTF. que ele coletou em avaliações anteriores feitas
Na coluna lateral, a articulação entre o quinto em outros pacientes.
metatarsal e o cubóide é valorizada acima de Esse acúmulo de experiências é o que acaba
tudo. Classicamente tem sido entendida a avalia- formando um conjunto de nuances que permi-
ção articular como o estudo de seu rango articu- tem ao clínico determinar se o grau de rigidez ao
lar em cadeia cinética aberta para determinar se movimento que uma articulação possui é alto,
ela está diminuída ou se, ao contrário, está médio ou baixo.
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nº 4.102 de 16/02/2006 (Parecer CEDP nº 040 em 28/04/2008) Bom Retiro // Blumenau // SC
Figura 6. Do ponto de vista clássico ambos os pacientes têm uma limitação do rango de flexão
dorsal do tornozelo e deve-se considerar uma situação patológica. Do ponto de vista do estresse
tecidual, o paciente da Figura 6a apresenta menor risco de desenvolver dano tecidual. Deve-se a
que apresenta menor rigidez do tornozelo ao movimento de dorsiflexão do que o paciente da
Figura 6b. Mas nenhuma das duas é considerada uma situação patológica em si.

Este método clínico pode ser questionável para dão de Aquiles opõe muita resistência para ser
determinar a rigidez do movimento de uma arti- deformado e, portanto, desacelera o movimento
culação, uma vez que se baseia na resistência de flexão dorsal que ocorre no tornozelo durante
que o médico nota ao tentar fazer o movimento o segundo rocker da marcha que dificulta a movi-
articular. Especialmente em um mundo onde mentação para anterior do centro das massas.
tudo que não é quantificável parece perder valor. Há um aumento no estresse de tensão no ten-
Mas na opinião dos autores deste artigo, esse dão de Aquiles e é gerado um momento de flexão
método não tem por que ser impreciso. plantar que leva o retropé para uma posição de
Primeiro, porque a força que aplicamos em pronação. Esta situação gera que as estruturas
nossas explorações rotineiras é similar, pelo que músculo-ligamentares plantares (fascia plantar,
o valor intra-observador dessa sensação certa- musculatura intrínseca do pé, ligamento cuboide
mente tem uma consistência elevada. calcâneo-plantar) sejam submetidas a um eleva-
E em segundo lugar porque não se está procu- do estresse de tensão (para desacelerar o movi-
rando um valor absoluto e se encontra num mento de pronação do retropé).
rango de normalidade. O objetivo desta avaliação
é inferir o grau de força de tensão ou compressão Este aumento de força deformante nestes teci-
que suportam as estruturas anatômicas que se dos predispõe-os a desenvolver um estado de
opõem ao movimento. fadiga após ciclos de repetição e a subsequente
manifestação de processos patológicos como a
Dessa forma, quando precisamos aplicar uma fasciopatia plantar, entre outros.
força elevada para obter um pequeno movimento Pelo contrário, quando uma articulação tem
em uma articulação, podemos indicar que essa um movimento elevado ao aplicar uma força de
articulação tem uma alta rigidez ao movimento. baixa magnitude, entendemos que sua rigidez ao
Neste caso, nem as partes moles que se opõem movimento é baixa.
ao movimento (tendões, fascia, ligamentos) Consequentemente, as estruturas moles que se
suportam elevadas forças de tensão, nem as opõem ao movimento suportarão uma elevada
faces articulares estão submetidas a elevadas força de tensão e as faces articulares suportarão
forças de compressão. um aumento de forca compressiva. A região ana-
Neste caso, a maior concentração de força tômica onde se localizam as FRS suportará for-
estará localizada na região anatômica onde o ças compressivas de baixa magnitude neste
FRS está atuando. Por exemplo, se tomarmos caso.
como referência o 1º AMTF, essa área será a
região sesamóide. Um exemplo claro dessa situação é encontrado
No entanto, a articulação do tornozelo é uma na 1ª articulação scafo-cuneana. É a articulação
exceção a essa regra. Quando encontramos um da coluna medial que maior rango de mobilidade
alto grau de rigidez, devemos pensar que o ten- em flexão dorsal apresental20.
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Quando o resultado da avaliação mostra uma que está suportando muita força de tensão para
baixa rigidez à flexão dorsal, o clínico observa contrabalançar o momento de força gerado pelas
que a articulação sofre um alto deslocamento em FRS. São tendões com alto risco de lesão e
flexão dorsal que reduz completamente o equino podem ser a sede da sintomatologia clínica do
da coluna interna que muitos pacientes apresen- paciente ou ser dolorosos quando realizamos a
tam naturalmente. Há uma clara diminuição da palpação em repouso.
altura que apresenta o arco interno do paciente
em descarga. A região dorsal do escafo-cuneana Entre os dois extremos, podemos encontrar
aumentará a magnitude das forças compressivas uma gama variada de respostas do tendão. Isso
que suporta, permitindo que os pacientes pos- pode gerar dúvidas no clínico pouco experiente
sam desenvolver condições dolorosas nessa na hora de interpretar a sensação que ele recebe
região. ao palpar o tendão. Mas devemos ter claro que
não é procurado neste teste quantificar a quanti-
No entanto, as estruturas mais resistentes a dade de tensão que suporta o tendão. Nem
esse movimento tendem a ser as partes moles mesmo estabelecer uma escala qualitativa que
plantares á articulação. Estes irão suportar um nos permita avaliar se a tensão que suporta é
aumento na resistência à tensão. alta, média ou baixa. O objetivo dessa manobra
Entre essas estruturas destacam-se os liga- não é avaliar se o tendão do paciente suporta
mentos plantares escafo-cunheanos, responsá- mais ou menos tensão do que o tendão de outro
veis da semiologia dolorosa que muitos pacien- paciente. Trata-se de determinar o tendão ou ten-
tes com achatamento do arco interno têm nessa dões do paciente que mais tensão suporta e
região e na proximidade das inserções tendino- quais são os que menos tensão suportam. A ava-
sas do tibial anterior. A outra estrutura que liação é feita comparando a tensão que suportam
suporta um claro aumento da forca de tensão é os diferentes tendões e fáscia plantar de um
a fascia plantar, o que facilita o desenvolvimento paciente entre eles.
de uma semiologia dolorosa da mesma. Fuller21 aponta que a palpação das estruturas
tendíneas nos permite prever clinicamente se o
Manobras clínicas paciente apresenta um centro de pressões (CdP)
lateral ou medial ao eixo de rotação da ASA.
A avaliação clínica de um paciente utilizando o Quando o CdP está localizado medialmente ao
modelo de estresse tecidual deve nos fornecer eixo de rotação do ASA, a musculatura peroneal
informações sobre a quantidade de força que as será a principal responsável por contrabalançar o
estruturas anatômicas do pé estão suportando momento de força supinador gerado pelas FRS.
em uma situação de carga, bem como referên- Com o paciente em pé, os tendões fibulares se
cias que nos permitam analisar se o nosso des- tornam visíveis e, quando palpados, podemos
empenho ortopédico modificou a força que eles notar uma elevada rigidez como manifestação do
suportam. aumento das forças de tensão que suportam.

A palpação direta dos tendões da musculatura Quando avaliamos a localização do eixo de


extrínseca da fascia plantar e do pé é um dos tes- rotação da ASA, de acordo com a técnica descri-
tes que nos dá mais informações sobre o grau de ta por Kirby22, descobrimos que ele tem uma
tensão que eles estão suportando em uma posi- orientação lateral. E quando fazemos um teste
ção de carga. Quando o clínico aplica uma força de resistência à supinação, descobrimos que
perpendicular às fibras do tendão, ele pode per- geramos um movimento de supinação aplicando
ceber o grau de resistência oferecido pelo tendão muita pouca força no cara plantar e medial do
a ser deformado. Quando a resistência é baixa, escafoide.
descobrimos que o clínico precisa aplicar pouca Por outro lado, quando o CdP está localizado
força para obter uma deformação do tendão. lateralmente ao eixo de rotação do ASA, o pacien-
Esta situação está relacionada a um tendão te contrarresta o momento da força pronador
que está suportando pouca força de tensão. Não gerada pelas FRS por meio da ação sinérgica das
contribui ou contribui pouco para contrabalançar estruturas anatômicas mediais ao referido eixo
o momento de força gerado pelas FRS. São ten- de rotação.
dões com baixo risco de lesão e que não são a Fuller21 destaca a fascia plantar, o tendão
sede da sintomatologia clínica do paciente. Pelo tibial posterior e o seio tarsal como as estruturas
contrário, quando uma força muito elevada é mais contribuintes. Pacientes onde o seio do
aplicada no tendão e uma mínima ou nenhuma tarso é a estrutura que mais contribui para con-
deformação é obtida, é porque o tendão oferece trabalançar o momento da força pronador (pé
uma resistência muito alta para ser deformado. seio do tarso) são mais propensos a desenvolver
Essa situação está relacionada com um tendão síndromes do seio do tarso. São pacientes que,
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em pé, encontram-se com a ASA em seu rango esses testes não é usado para definir se as par-
máximo de pronação. tes moles estão submetidas a um nível de estres-
Relaciona esse achado com um maior risco de se patológico.
desenvolver patologia na fascia plantar e da 1º É usado para inferir quais tecidos são os que
AMTF. Com independência da estrutura anatômi- suportam a maior carga de tensão e como um
ca que suporta maior estresse, esses pacientes indicador da variação de tensão que eles supor-
caracterizam-se por apresentar um eixo da ASA tam quando colocamos uma palmilha. Uma dimi-
medializado. Além disso, ao realizar o teste de nuição neste valor indicará uma diminuição na
resistência à supinação, descobrimos que é tensão que os tecidos suportam para neutralizar
necessário fazer uma grande quantidade de força o momento de força gerado pelas FRS na ASA ou
para gerar certo movimento de supinação do pé. na articulação mediotarsiana.
O grau de movimento de supinação que podemos
fazer no paciente tem uma relação direta com a Diminuição do estresse que suporta o tecido
magnitude do momento de força pronador que o lesionado
pé suporta. Ele nos orienta sobre a magnitude da
força de tensão que as estruturas mediais supor- Talvez a parte mais difícil do modelo de estres-
tam ao eixo de rotação da ASA. se tecidual seja entender como estão agindo as
FRS no pé do paciente para aumentar o estresse
O teste de Jack foi descrito pelo cirurgião orto- de uma estrutura anatômica específica e levá-la
pédico Ewen Jack23 para determinar se a eleva- a desenvolver uma patologia. Mas, uma vez
ção do hálux corrigiria a posição de plano valgo entendido, é fácil elaborar um plano terapêutico
do pé. Por isso, classicamente, é uma manobra destinado a aliviar a tensão do tecido.
usada para verificar se um pé plano valgo é flexí-
vel ou rígido. Em estresse tecidual, quando reali- Os fatores extrínsecos que foram identificados
zamos essa manobra não procuramos avaliar como causadores do dano tecidual devem ser
essa situação. Devemos avaliar se é muito com- modificados. A maioria desses fatores influen-
plicado tanto elevar o hálux do solo como realizar ciam a magnitude da FRS e no número e duração
a supinação da ASA. dos ciclos de força que o tecido lesionado supor-
ta.
Quando é muito complicado despegar o hálux É importante explicar isso ao paciente para que
do solo, é devido ao aumento no momento de fle- ele entenda por que recomendamos a perda de
xão plantar que suporta o 1º AMTF. Esta situação peso ou pedimos a ele que diminua seu nível de
indica que a fascia plantar está suportando um atividade física até que a sintomatologia seja
estresse de tensão elevado pelo mecanismo de controlada. Essas medidas nos dão uma diminui-
windlass inverso apresentado pelo paciente. Por ção na magnitude nas FRS e que o número de
outro lado, a dificuldade que podemos encontrar ciclos de tensão que a estrutura danificada
para supinar o ASA geralmente se deve ao des- suporta também seja menor.
alinhamento astrágalo-escafóide no plano trans-
verso. No entanto, como podólogos, nossa interven-
Em ambos os casos, a manobra de Jack indica ção mais importante será sobre os fatores intrín-
que as forças de compressão que suportam as secos que analisamos no paciente. Esta situação
articulações da coluna interna e a força de ten- é conseguida através da aplicação de tratamen-
são que suporta a fascia plantar são elevadas e tos ortopédicos. Ao aplicar um modelo ortopédi-
são mantidas por mais tempo do ciclo da marcha co, devemos sempre ter em mente que estamos
devido a atraso ou não instauração do mecanis- modificando a magnitude e a localização da FRS
mo do windlass. Esta é a explicação de porque os que suporta o pé. Essa situação gera uma nova
pés planos e pés com pronação apresentam um relação entre o CdP e os eixos das articulações.
atraso na instalação do mecanismo do windlass, Consequentemente, uma modificação do estres-
enquanto nos pés cavos e supinados sua instau- se que suporta os tecidos do pé é gerada. Esta é
ração é imediata24. provavelmente a base pela qual as palmilhas
Também podemos usar testes clínicos que for- ortopédicas, nos problemas mecânicos dos pés,
necem valores quantitativos para determinar o têm um efeito.
estresse do tecido. Um exemplo é a posição rela- Devemos também entender que a marcha é um
xada do calcâneo ou o teste do navicular drop. processo sequencial em que há um deslocamen-
Nesses casos a informação que eles fornecem é to das FRS de posterior para anterior. Durante o
o ponto aonde chegam na posição de equilíbrio primeiro rocker estes estão localizados apenas
rotacional a ASA (posição relaxada do calcâneo no retropé e durante o terceiro rocker eles só
em carga) ou a articulação médio-társica (navicu- localizam-se no antepé.
lar drop). O valor numérico obtido ao realizar Essa situação implica que as modificações que
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incluímos nas palmilhas só terão efeito em uma sivas externas (Genu valgus, lesões de cartilagem
parte específica do ciclo da marcha (ao gerar e osteoartrite de compartimento lateral, menis-
FRS nelas). Portanto, para atingir nosso objetivo copatia degenerativa lateral) e com forças de ten-
de reduzir o estresse de tecidos, devemos agir são internas (lesões do ligamento lateral interno
com a palmilha nos diferentes momentos do e tendões do pé de ganso). Da mesma forma tem
ciclo da marcha. utilidade no tratamento de síndromes de estres-
Um aspecto importante ao aplicar tratamentos se tibial porque diminui o braço do par de forças
ortopédicos usando o modelo de estresse teci- de flexão suportadas pela tíbia durante a corrida.
dual é que devemos pensar que as modificações As cunhas pronadoras do retropé geram um
ortopédicas que aplicamos ao paciente lhe aumento das FRS na região lateral do calcanhar
geram uma mudança na maneira como as FRS que desloca o CdP para o lateral. Esta situação
agem no pé. diminui a magnitude do momento de força supi-
Essas alterações são responsáveis da modifica- nador e a situação de equilíbrio rotacional da
ção observada na posição do pé que pode ser ASA é obtida em uma posição de menos supina-
tomada como um indicador indireto da modifica- ção.
ção do estresse que suportam os tecidos do pé.
Mas não procuramos levar o pé a uma posição Esta situação gera uma diminuição da força de
concreta que seja de normalidade. tensão que suporta o ligamento lateral externo
do tornozelo e os tendões peroneais durante o
Quando colocamos uma cunha supinatória de primeiro rocker e parte do segundo rocker. Isso
retropé devemos entender que há um aumento explica sua indicação em tendinopatias perone-
das FRS na região medial do calcanhar25 que ais e em instabilidades mecânicas do tornozelo.
leva a um deslocamento do CdP em direção Mas também aumenta a resistência à compres-
medial, diminuindo o braço de momento entre o são que suporta a ASA na região do seio tarsal,
CdP e eixo da ASA. Esta situação diminui a mag- pelo que devemos ter cuidado ao aplicá-lo em
nitude do momento de força pronador que a ASA pacientes com teste de pronação máxima patoló-
suporta e a situação de equilíbrio rotacional é gicos, já que pode gerar dor em seio tarsal.
obtida em uma posição de menor pronação. O deslocamento para lateral do CdP que gera a
Assim é diminuída a força de tensão que supor- cunha pronadora gerará um par de forças com a
ta o tendão tibial posterior ao início do 2º rocker, força de ação que é gerada na articulação do
durante seu trabalho excêntrico como um des- joelho e do tornozelo.
acelerador do movimento de pronação. Mas tam- Gera-se um aumento do momento pronador no
bém diminuímos a força compressiva que supor- tornozelo que aumenta a força de tensão do com-
ta a ASA na região do seio do tarso. Em ambos plexo ligamentar deltoideo e do tendão tibial pos-
os casos, a diminuição do estresse estará relacio- terior, diminui a força compressiva que suporta
nada com uma diminuição na semiologia doloro- em seu compartimento medial e aumenta a força
sa que apresenta o paciente. compressiva que suporta em seu compartimento
lateral.
Também devemos pensar que o deslocamento
para o medial do CdP que gera a cunha supina- No joelho gera-se um aumento do momento
tória gerará um par de forças com a força de abdutor que aumenta as forças compressivas no
ação que é gerada na articulação do joelho e do compartimento externo, diminui-as no interno e
tornozelo. Gera-se um aumento do momento aumenta a força de tensão do ligamento lateral
supinador no tornozelo que aumenta a força de interno e dos tendões do pé de ganso.
tensão do complexo ligamentar externo, diminui Essa situação explica sua utilidade em lesões
a força compressiva que ele suporta em seu com- mecânicas do joelho que ocorrem com forças
partimento lateral e aumenta a que suporta em compressivas mediais (genu varo, lesões de car-
seu compartimento medial. tilagem e osteoartrite do compartimento medial,
Isso explica sua eficácia em osteoartrite do tor- meniscopatia degenerativa medial) e com forças
nozelo com tálus em posição de valgo e sua con- de tensão externas (lesões de ligamento lateral
traindicação em osteoartrite do tornozelo com externo, banda ileotibial e tendão bíceps femo-
tálus em varo. No joelho gerará um aumento do ral).
momento adutor que aumenta as forças com- Quando colocamos um arco interno estamos
pressivas do compartimento interno, diminui-as gerando um deslocamento do CdP em direção
no externo e aumenta a força de tensão do liga- medial em relação aos eixos de rotação da ASA e
mento lateral esterno, da banda ileotibial e do mediotarsiana. A posição de equilíbrio rotacional
tendão do bíceps femoral. dessas articulações será obtida em uma posição
Esta situação explica sua utilidade em gonal- de menor pronação.
gias mecânicas que sejam com forças compres- Este fato gera uma diminuição das forças com-
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pressivas que sustentam a articulação mediotar- nas AMTF afetadas.
siana na sua região dorsal, o que explica sua uti- O preenchimento da fenestração com materiais
lidade para diminuir a semiologia dolorosa que que absorvem energia e a liberem lentamente
tem nessa região pacientes com pés planos, coa- como um mecanismo para aumentar o efeito da
lizões tarsais e pronação do retropé. fenestração, é uma questão debatida.
Além disso, quando a articulação médio-tarsal Certamente a melhor maneira de diminuir as for-
é menos pronada, há um aumento no braço de ças de compressão que suportam as cabeças
momento da fascia plantar, o que ajuda a reduzir dos metatarsos é gerar uma situação onde a FRS
as forças de tensão que suporta26. seja de menor magnitude e não uma situação
Essa diminuição das forças de tensão que onde a FRS seja da mesma magnitude, e sua
suporta a fascia plantar também é devida à dimi- redução é obtida à custa da quantidade de FRS
nuição das FRS na cabeça do primeiro metatar- que absorve um material.
siano, o que o leva a suportar um momento de
força de flexão dorsal de menor magnitude. Pelo contrário, quando a dor metatarsal é devi-
Outra modificação ortopédica que leva a dimi- da a um aumento nas forças de tensão que a
nuir a tensão que suporta a fascia plantar é colo- placa plantar suporta, o objetivo será aumentar a
car uma calcanheira curta. Este efeito é devido, magnitude do momento de força de flexão plan-
por uma parte, á diminuição do momento de tar que suporta a AMTF. Isto é conseguido
força de flexão plantar que gera no tornozelo o aumentando a tensão da fascia na região retroca-
tendão de Aquiles ao diminuir o stress que supor- pital.
ta. Mas este efeito não é muito grande, uma vez O uso de peças retrocapitais gera um aumento
que a altura da calcanheira que é usado é condi- da força compressiva nos tecidos moles retroca-
cionada pela capacidade do calçado. O principal pitais27 que aumenta o momento de força de fle-
efeito da calcanheira é diminuir a magnitude das xão plantar da articulação28. Estudos clínicos
FRS que suportam as cabeças dos metatarsos mostram que o uso de BRC diminui o pico máxi-
durante 2º rocker. mo de pressão que a AMTF suporta, bem como a
Esta situação é conseguida se colocarmos uma integral tempo-pressão (tempo em que a articu-
calcanheira que compense parcial ou totalmente lação está suportando pressão) 27.
a posição de equino que tem a coluna interna do Se aumentarmos o momento de flexão plantar
paciente. da articulação e diminuirmos a magnitude e a
duração do ciclo de carga que a articulação
Assim, é diminuída a tensão da fascia plantar suporta, poderemos diminuir a exposição ao
ao reduzir a magnitude do momento de força de estresse que a placa plantar suporta.
dorsiflexão que suporta o primeiro dedo nos Devemos entender que todas as modificações
casos de articulaçoes escafo-cuneanas com ortopédicas devem ser feitas em materiais que
baixa rigidez à flexão dorsal. sejam rígidos o suficiente para suportar as forças
Pelo contrario, se a articulação escafo-cuneana deformantes que o pé irá gerar neles.
apresenta alta rigidez á flexão dorsal a colocação
de uma calcanheira curta das características Quando fazemos um teste7 de resistência à
descritas irá gerar uma diminuição das forças de supinação e o resultado é muito dispendioso,
compressão que suporta a região sesamóidea. devemos pensar que a rigidez do material orto-
pédico deve ser alta para contrabalançar a mag-
A altura da calcanheira deve ser inferior ao nitude do momento pronador que o pé exercerá
equino de antepé; caso contrário gera um incre- na órtese. Caso contrário, ocorrerá uma defor-
mento de FRS e é obtido o efeito contrário: mação da órtese planta.
maior força de compressão nas cabeças dos A consequência dessa situação será que obte-
metatarsos e maior momento de flexão dorsal do remos menos mudanças na ação das FRS no pé,
primeiro dedo. o que se traduz em menos deslocamentos do
A patologia das AMTF centrais requer uma aná- CdP e menor redução do estresse que as estrutu-
lise minuciosa para determinar se a causa primá- ras lesadas suportam.
ria são as forças de tensão, forças de compres- As probabilidades de melhora clínica do nosso
são ou situações mistas. Quando as forças com- paciente diminuem neste caso.
pressivas predominam, o objetivo será diminuir a Outro aspecto que devemos levar em conta ao
magnitude das FRS sobre as cabeças dos meta- escolher o material de nossa órtese é que eles
tarsos. suportarão um grande número de ciclos de carga
Esta situação é alcançada com a colocação de ao longo da vida. Portanto, se a nossa escolha
calcanheiras que compensam a posição de equi- estiver incorreta, a palmilha sofrerá deformação
no rígido do antepé, se o paciente o tiver. plástica que levará a ter menos estabilidade e
Também com a realização de fenestrações locais menos rigidez.
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Em ambos os casos, a órtese gera menor varia- Clinical biomechanics Corp; 1971.
ção da posição do CdP em relação ao eixo articu- 2. Root ML, Orien W, Weed JH. Normal and
lar e menor diminuição do estresse suportado abnormal function of the foot. Vol II. Los Angeles:
pelas estruturas lesadas. Observamos essas Clinical biomechanics Corp; 1977.
situações nos casos que vemos em consulta. 3. Kirby K. What’s future direction should
podiatric biomechanics take?Clin Podiat Med
São pacientes que inicialmente tiveram melho- Surg. 2001;18(4):719-23.
ra significativa de sua sintomatologia (o design 4. McPoil TG, Hunt GC. Evaluation and manage-
ortopédico reduz de forma efetiva o estresse de ment of foot and ankle disorders: present pro-
tecidos), mas em poucas semanas (4-12 sema- blems and future directions. J Orthop Sports
nas) eles pararam de ter essa melhora (a palmil- Phys Ther. 1995;21(6):381-8. DOI:
ha foi se deformando plasticamente, o que leva a 10.2519/jospt.1995.21.6.381.
uma diminuição na sua eficácia). É fácil avaliar 5. Smith-Oricchio K, Harris BA. Interrater relia-
essas situações através de testes de deformação bility of subtalar neutral, calcaneal inversion and
ortótica e de estabilidade da palmilha. eversion. J Orthop Sports Phys Ther.
1990;12(1):10-5.
CONCLUSÃO 6. McPoil TG, Knecht HG, Chuit D. A survey of
foot type in norma females between the ages 18
O modelo de estresse tecidual é um método efi- to 30 years. J Orthop Sports Phys Ther
ciente para a avaliação clínica e abordagem tera- 1988;9:406-9.
pêutica das patologias do pé e dos membros 7. McPoil TG, Schuit D, Knecht HG. A compari-
inferiores causadas pela ação das FRS nos teci- sion of three positions used to evaluate tibial
dos. Devemos entender que as FRS agem nas varum. J Am Podiatr Med Assoc. 1988;78(1):22-
articulações do pé gerando momentos de força, 8. DOI: 10.7547/87507315-78-1-22.
as quais são responsáveis pelo movimento que 8. Özkaya N, Nordin M. Fundamentals of bio-
realizam. Este movimento é retardado pela ação mechanics. Equilibrium, motion and deforma-
das estruturas anatômicas que compõem o pé tion. 2nd ed. New York: Springer; 1998.
através do estresse de tensão ou compressão 9. Mueller MJ, Maluf KS. Tissue adaptation to
que eles suportam. physical stress: A proposed “physical stress the-
ory” to guide physical therapist practice, educa-
A magnitude e repetição desses ciclos de ten- tion and research. Phys Ther. 2002;82(4):383-
são que suportam são os responsáveis por lesio- 403.
nar o tecido uma vez que sofreu um dano por 10. Wren TA, Beaupre GS, Carter DR. A model
fadiga. Nossa avaliação clínica deve ter como for loading – dependent growth, development and
objetivo determinar o tecido que sofreu a lesão e adaptation of tendon and ligaments. J Biomech.
as causas internas e externas responsáveis pelo 1998;31(2):107-14.
aumento da tensão que ele suporta. Somente se 11. Hayashi K. Biomechanical studies of the
entendermos esse mecanismo de lesão, podere- remodeling of knee joint tendons and ligaments.
mos projetar um plano de tratamento com o J Biomech.1996:29(6):707-16.
objetivo de reduzir a tensão que o tecido suporta 12. Pepper M, Akuthota V, McCarty EC. The
para recuperar o dano que sofreu e, posterior- pathophysiology of stress fractures. Cli Sport
mente, à aplicação de medidas que o ajudem a Med. 2006:25(1):1-6.
recuperar suas propriedades mecânicas. 13. Donahue SW, Sharkey NA, Modanlou KA,
Sequeira LN, Martin RB. Bone strain and micro-
CONFLITOS DE INTERESSE craks at stress fracture sites in human metatar-
sals. Bone. 2000; 27(6):827-33.
Ángel Manuel Orejana García e Francisco 14. Sharkey NA, DonahueSW, Ferris L.
Monzó Pérez realizam trabalhos de assessoria e Biomechanical consequences of plantar fascia
consultoria científica para Perpedes Tecnoinsole release or rupture during gait. Part II: alterations
(Alicante, Espanha) no momento da apresenta- in forefoot loading. Foot Ankle Int.
ção deste artigo. 1999;20(2):86-96.
15. Donahue SW, Sharkey NA. Strains in the
FINANCIAMENTO metatarsal during the stance phase of gait:
Não apresenta implications of the stress fractures. JBJS Am.
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Podologia Desportiva. Patologías em Pés de Atletas.

Trabalho apresentado por Elaine Efting, como requisito parcial para a conclusão do curso de
Educação Profissional de Nível Técnico na área da Saúde com Habilitação de Técnico em Podologia
do INA – Instituto Brasileiro de Naturopatia Aplicada de Blumenau, Brasil.
Orientador: Profesor Marcelo Kertichka.

LISTA DE FIGURAS 5.2 Lesões do movimento esportivo


5.3 Patologias ungueais
FIGURA 1: Grupos ósseos do pé 6. BIOMECÂNICA DO PÉ
FIGURA 2: Ossos tarsais 6.1 Ciclo da marcha
FIGURA 3: Arcos do pé 7, CALÇADO ESPORTIVO
FIGURA 4: Tendão de Aquiles 7.1 Estabilidade
FIGURA 5: Antepé, mediopé e retropé 7.2 Órteses (palmilhas ortopédicas)
FIGURA 6: Aponeurose plantar (fáscia) 7.2.1 Órteses plantares
FIGURA 7: Flexão dorsal e flexão plantar 7.2.2 Órtese ungueal
FIGURA 8: Ossos sesamóides 8, O ESPORTE
FIGURA 9: Pé normal, plano (chato) e cavo 9, CONSIDERAÇÕES FINAIS
FIGURA 10: Tinha pedis 10, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGURA 11: Bolha de atrito
FIGURA 12: Calo plantar 1. INTRODUÇÃO
FIGURA 13: Neuroma de Morton
FIGURA 14: Verruga plantar As atividades físicas são cada vez mais pratica-
FIGURA 15: Deslocamento do tornozelo das, seja por atletas profissionais ou até por pes-
FIGURA 16: Bandagem elástica soas comuns que costumam fazer uma simples
FIGURA 17: Esporão de calcâneo caminhada. As pessoas acreditam que por prati-
FIGURA 18: Distensão muscular carem atividades físicas estão livres de apresen-
FIGURA 19: Joanete (hálux valgo) tar problemas, mas por falta de orientações
FIGURA 20: Pronação dos pés podemos adquirir patologias que nos impedem
FIGURA 21: Onicocriptose de continuar praticando, ou então causar descon-
FIGURA 22: Onicomicose fortos no nosso dia a dia. O objetivo é melhorar a
FIGURA 23: Pisada pronada, neutra e supinada qualidade de vida e rendimento dos atletas, bus-
FIGURA 24: Palmilha ortopédica cando tratar as patologias dos pés da melhor
FIGURA 25: Silicone podológico forma, e poder orientar sobre o uso dos calçados
FIGURA 26: Órteses ungueais utilizados nas práticas esportivas.

SUMÁRIO Cada paciente que chega ao consultório do podó-


logo traz consigo a história dos seus pés e os aspec-
1. INTRODUÇÃO tos que envolvem os tipos de calçados utilizados até
2. REVISÃO LITERÁRIA então e que servem de base para compreensão de
2.1 Anatomia dos pés e tornozelo que tipo de pé está diante deste técnico, precisando
2.1.1 Ossos ser tratado. Conhecer mais para investigar qual o
2.1.2 Músculos e tendões calçado indicar no uso diário pode garantir inclusive
2.1.3 Articulações e ligamentos o sucesso no tratamento podológico do paciente.
3. PÉS DE ATLETAS (FEDRIZZI, 2007, p. 18).
3.1 Movimento esportivo
4. FUNÇÃO DO PODÓLOGO O conhecimento do podólogo também tem
4.1 A importância do cuidado com os pés importância em relação à postura dos atletas, a
4.2 Tipos de pés estrutura dos pés e a biomecânica da marcha.
5. PATOLOGIAS EM PÉS DE ATLETA Para uma boa postura é necessário um apoio
5.1 Lesões dermatológicas correto dos pés no solo.
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2. REVISÃO LITERÁRIA Conforme o autor Bega (2014) o pé é composto
por 26 ossos e outros acessórios que nem sem-
2.1 Anatomia dos pés e tornozelo pre estão presentes em todos os pés, sendo mui-
tos deles causadores de problemas que impe-
Em primeiro lugar o pé é um órgão de amorte- dem a perfeita deambulação. [...] consideramos
cimento de choques ou impactos, adaptando-se também os ossos que se articulam com o pé
ao solo irregular, em segundo também precisa para entendermos melhor a formação da estrutu-
ser uma alavanca rígida para permitir a deambu- ra que conhecemos como tornozelo.
lação, e, para que o mesmo órgão consiga fazer
estes dois trabalhos, o seu comportamento deve Segundo Bianchini (1997) os pés possuem
sofrer alterações dramáticas durante as diferen- uma rica rede nervosa, que é derivada de um
tes fazes do seu ciclo mecânico (SILVA P., 2006, tronco principal formado pelo nervo ciático, o
p. 6). qual se divide em vários ramos, inervando estru-
turas especificas do pé.
O pé é uma estrutura do esqueleto complexa,
responsável por funções variadas como apoio, Em seguida, Neto (2009) diz que é sabido que
equilíbrio, impulsão, absorção de impacto e pos- os pés possuem 72.000 terminações nervosas e
tura (VIANA, p. 07. que passam por eles diariamente mais de
É a parte do corpo que contem mais termina- 18.000 quilos de sangue e líquidos extracelula-
ções nervosas por centímetro quadrado (e é por res, sangue este que transporta, entre outras
isso que sentimos cócegas tão facilmente) substancias, [...] minerais e vitaminas e outros
(MAFRA, 2015, p. 23).Dessa forma, o tornozelo nutrientes, isto através de uma cadeia vascular
é uma pequena articulação muito móvel e muito de mais de 22 km de comprimento.
sólida, capaz de suportar o peso do corpo em
movimento (GOLDCHER, 2009, p. 04). A inervação dos músculos e dos tegumentos do
pé é garantida pelos dois ramos de bifurcação do
Localizados na extremidade distal dos membros nervo ciático: o fibular comum que inerva a
inferiores, os pés são estruturas complexas compos- região dorsal do pé e o tibial para o tendão cal-
tas por ossos, articulações, músculos e tendões, câneo e a região plantar (GOLDCHER, 2009, p.
ligamentos, vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e 10).
por pele e seus anexos. São capazes de sustentar o Os pés tem basicamente duas funções distin-
peso do corpo de maneira adequada e transportá-lo tas: uma em estática (quando o individuo se
por quaisquer tipos de terrenos. Como decorrência encontra parado e de pé), e outra em dinâmica
da carga que suporta, podem sofrer inúmeras defor- (quando o individuo se encontra em movimento)
midades e patologias, que devem ser identificadas e (BELO, 2011, p. 04).
tratadas corretamente para que não ocasionem
maiores alterações (BIANCHINI,1997, p. 80). Tendo visto que os pés contem mais de 250 mil
glândulas sudoríparas, e estão entre as partes do
Dessa maneira, os pés são estruturas funcio- corpo que mais transpiram. Em um dia, cada pé
nais de base de sustentação do corpo que pos- pode produzir mais de meio litro de suor (MADE-
suem 52 ossos (nos dois pés), que representam LLA, 2011, p. 10).
25% do total de ossos do corpo humano, 33 arti- Segundo Bianchini (1997) os pés possuem
culações, 107 ligamentos e 19 músculos e tendõ- uma rica rede vascular que irriga e drena todas
es em cada pé (JUSTINO; JUSTINO; NOGUEIRA, as estruturas que os compõem. Dessa rede vas-
2009, p. 28). cular fazem parte veias, artérias e vasos linfáti-
Segundo Justino, Bombonato e Justino (2014) cos.
ao contrário do dorso dos pés, a pele da região
plantar é mais dura e espessa, pois a camada A vascularização arterial é protegida pela exis-
córnea é mais desenvolvida. Não possui folículos tência de duas fontes distintas: a artéria dorsal,
pilosos, mas, em contrapartida, possui glândulas que irriga a face dorsal do pé, e a artéria tibial
sudoríparas em abundância. posterior, para a face plantar. São as artérias
mais afastadas do coração, o que explica a sua
Em seguida, segundo Goldcher (2009), o pé implicação precoce nas arteriopatias periféricas
apresenta uma rede de vasos superficiais muito (GOLDCHER, 2009, p. 09).
ricos que nascem do revestimento cutâneo. Os
vasos profundos são satélites dos vasos sanguí- É no pé que as artérias esvaziadas de pressão
neos. Todos os linfáticos convergem para gân- deságuam capilarmente em veias pequeninas
glios situados na parte superior da perna. Não para o retorno venoso e artérias que são verda-
existem linfonodos no pé. deiros rios subterrâneos que fertilizam a superfí-
www.revistapodologia.com 25
cie da pele (JUSTINO; JUSTINO; BOMBONATO, calcâneo, navicular, cubóide, cuneiformes
2011, p. 232). medial, intermédio e lateral (BEGA; LAROSA,
Segundo Justino, Bombonato e Justino (2014) o 2010, p. 87).
sistema venoso é formado por uma rede profun-
da responsável por 90% da drenagem de sangue,
e por uma rede superficial visível e palpável, que
é responsável por 10% da drenagem.

2.1.1 Ossos

Os pés, elementos de nossa anatomia, funda-


mentais para o desenvolvimento diário de nossas
atividades cotidianas. Sem eles não poderíamos
transladarmos de forma normal a nenhuma
parte, são os que nos permitem caminhar, correr,
saltar, dançar, nadar, dirigir, andar de bicicleta,
trepar nas arvores, etc [...] (PIATTI, 2006, p. 30).

Quanto à estrutura, os ossos são classificados


Figura 2: Ossos tarsais - Fonte:
em dois grupos: ossos compactos com alta resis-
https://corpototal.webnode.pt/sistema-esqueletico
tência mecânica e ossos esponjosos com estrutu-
Acessado em 13 fev. 2019
ra trabecular, estes últimos funcionando na
absorção de impacto (BEGA, 2014, p. 24). Os ossos do pé se articulam de modo que for-
Enriquecidos por compostos de cálcio que preen- mam três arcos estruturais que, juntamente com
chem os intervalos de sua estrutura, os ossos do sistema extremamente complexo de ligamentos
pé são extremamente fortes, pois além de nos e, num menor grau de músculos, fornecem sus-
permitirem praticar todos esses movimentos, tentação interna. Os arcos formados são: dois
ainda nos permitem exceder limites (PIEDADE, longitudinais (medial e lateral) e um transverso
2002, p. 55). (CARVALHO, 2009, edição nº 4, p. 08).
Dos 208 ossos do esqueleto humano, 56 ficam
localizados nos pés, ou seja, mais de um quarto.
O esqueleto do pé, uma verdadeira estrutura
compósita, é dividido em três grupos ósseos:
tarso, metatarso e falanges (GOLDCHER, 2009,
p. 03). (fig. 1).

Figura 1: grupos ósseos do pé ; Fonte: Figura 3: Arcos do pé


https://clinicaecirurgiadope.com.br/artigos/37 Fonte: https://anatomia-papel-e-
Acessado em 28 jan. 2019. caneta.com/antepe-mediope-e-retrope
Acessado em 13 fev. 2019.
Os ossos tarsais são em número de sete.
Embora não seja um termo anatômico, clinica- Porém, é importante saber que, quando nasce-
mente são chamados de retropé. Esses ossos mos, nosso esqueleto ainda não se encontra
fazem a junção de um esqueleto vertical (a totalmente consolidado, ou seja, endurecido pelo
perna) e outro horizontal (o pé). São eles: tálus, cálcio (PIEDADE, 2002, p. 56).
www.revistapodologia.com 27
Dessa forma, os ossos vivos são estruturas pelo menos incompleta, pois ainda estão presen-
maleáveis, moldáveis; daí o cuidado que se deve tes os músculos de preensão funcional, que são
ter com postura, calçados e manipulação (BEGA, de importância reduzida (CARVALHO, 2009, edi-
2014, p. 24). ção nº 4, p. 07).
Os músculos também podem ser classificados
2.1.2 Músculos e tendões como extrínsecos ou intrínsecos.
Os intrínsecos são aqueles que começam e ter-
Os músculos do pé têm por função principal minam em um mesmo membro, e extrínsecos
proporcionar a mobilidade e a sustentação são aqueles que começam em um membro e ter-
necessárias ao corpo. Cada músculo ou grupo minam em outro (BEGA, 2014, p. 42).
muscular exerce funções especificas, como a fle-
xão e a eversão, que são essenciais na movimen- Possuem capacidade de se regenerar, através
tação e estabilidade do corpo (BIANCHINI, 1997, da proliferação de células do tecido conjuntivo
p. 82). que os envolve. Esta propriedade regenerativa
Os músculos são tecidos de ligação que permi- auxilia no tratamento de lesões (MELLO, 2013,
tem a contração [...] (VIANA, p. 08). edição nº 25, p.13).
Para chutar é imprescindível o trabalho muscu- Quanto maior for o volume do músculo, maior
lar. O músculo é um tecido do corpo que se será o gasto energético. [...] O aumento do volu-
caracteriza por sua capacidade de contração me do músculo se denomina hipertrofia e a dimi-
como resposta a um estimulo nervoso e é com- nuição hipotrofia. Um musculo apresenta tônus
posto por um conjunto de células capazes de ou tensão muscular residual quando sua contra-
transformar uma energia química, aeróbica ou ção parcial, passiva e continua, ajuda a manter a
anaeróbica (com ou sem consumo de oxigênio) postura (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ,
em energia mecânica (MALDONADO; BUEIS; 2014, p. 25).
GONZÁLEZ, 2014, p. 23).
No corpo humano há três tipos de tecidos mus- Dessa maneira, cada músculo é formado por
culares: liso, estriado esquelético e cardíaco. Nos diversas fibras musculares que são células alon-
pés, encontra-se o tecido muscular esquelético gadas e estreitas, portanto, quanto maior a
(BEGA, 2014, p. 41). quantidade de fibras maior a força que o múscu-
lo poderá exercer (BEGA; LAROSA, 2010, p. 95).
O sistema muscular é capaz de efetuar imensa
variedade de movimentos, onde todas essas con- O mediopé que divide o pé em duas partes, o
trações musculares são controladas e coordena- antepé e o calcanhar que é redondo almofadado
das pelo cérebro (VIANA, 2007, p. 17). e se afila acentuado no tendão de Aquiles, por
Segundo Bianchini (1997) os músculos gême- isso o calcanhar é chamado de nádegas do pé,
os, localizados na porção posterior da perna, ter- que é constituído pela pele glabra, que é elástica,
minando num tendão plano e achatado – o ten- macia e compactada pelo peso do corpo (JUSTI-
dão de Aquiles – que se fixa na face posterior do NO; JUSTINO; BOMBONATO, 2011, p. 231).
osso calcâneo, são também uma estrutura
importante na estrutura e na dinâmica do pé.

Tendão de Aquiles – tecido fibroso, composto


por colágeno, que conecta o músculo ao osso,
sendo responsável pela transferência de força
entre os dois gerando o movimento da articula-
ção (VIANA, p. 11).
Quanto mais rápido o músculo se contrai,
menos força ele gera (MALDONADO; BUEIS;
GONZÁLEZ, 2014, p. 23).
Os músculos são responsáveis pela parte ativa
dos movimentos do corpo, além de manterem
nossa postura e protegerem os órgãos internos.
Outra função dos músculos é a produção de calor
usado para manter a temperatura do corpo
(BEGA; LAROSA, 2010, p. 95).
O pé humano evoluiu de um órgão de preensão Figura 4: Tendão de Aquiles ; Fonte:
flexível para um sistema de sustentação de peso http://www.optimafisioterapia.com.br/artigos/9
relativamente rígida. Alguns autores argumentam -blog/37-tendinopatia-de-aquiles-tendinite
que a revolução do pé não foi bem sucedida, ou Acessado em 13 fev. 2019.
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Fascia
plantar

Figura 5: Antepé, mediopé e retropé


Fonte: https://anatomia-papel-e-
caneta.com/antepe-mediope-e-retrope/
Acessado em 13 fev. 2019.

Localizado na parte posterior da perna, na


região acima do calcanhar, o tendão calcâneo
tem como função conectar os músculos da pan-
Fascia plantar
turrilha ao calcâneo (osso que da forma ao cal-
canhar), sendo uma das partes do corpo mais Figura 6: Aponeurose plantar (fascia) - Fonte:
exigidas quando andamos, corremos, saltamos https://ortopediasp.wordpress.com/2016/11/0
ou praticamos alguns tipos de esportes (MELLO, 3/ruptura-da-fascia-plantar-do-pe/
2013, edição nº 25, p. 13). Acessado em 13 fev. 2019.

Os tendões começam a mostrar alterações


A função dos ligamentos é dirigir e controlar os
degenerativas na faixa etária entre 25 e 30 anos.
movimentos das articulações. A lesão mais
As alterações causam fraqueza nos tendões, mas
comum é o entorse do ligamento colateral lateral
podem ser prevenidas ou pelo menos retardadas
do tornozelo (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ,
pela atividade física regular (CARVALHO, 2009,
2014, p. 37).
edição nº 5, p. 11).
É o mais comprido e forte tendão da anatomia
A articulação do tornozelo, também conhecida
humana, porém também é o que mais está sub-
como articulação talocrural é uma das diversas
metido a cargas. Suporta tensões até dez vezes
articulações do tipo sinovial encontradas no pé
do peso corporal durante a corrida, salto e rebote
(BEGA; LAROSA, 2010, p. 266).
(MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 45).
Essa articulação situada entre o tálus e os dois
2.1.3 Articulações e ligamentos
ossos da perna permite orientar o pé em flexão
(flexão dorsal) ou em extensão (flexão plantar)
O pé é uma estrutura formada por múltiplas
(GOLDCHER, 2009, p. 05).
articulações que se adapta diante de situações
que implicam altas cargas mecânicas, como a
corrida. Por isso, a atividade física provoca trocas
nas medidas do pé. O conhecimento destas tro-
cas e de sua magnitude pode ser útil tanto para
os profissionais da atividade física e o esporte,
como para aqueles que estudam as interações
entre o pé e o calçado (ABELLÁN; AGUADO;
ORMEÑO; MECERREYES; ALEGRE, 2013, p. 17).

Os ligamentos [...] unem os ossos em suas arti-


culações e são constituídos de filamentos fibro-
sos e elásticos, fornecendo uma maior estabilida-
de, especialmente para a articulação do tornoze-
lo (VIANA, 2007, p. 32).

O ligamento do arco ou aponeurose plantar Figura 7: Flexão dorsal e flexão plantar - Fonte:
(fáscia) é a faixa fibrosa que corre medial plantar http://www.concursoefisioterapia.com/2011/09
do calcâneo, misturada aos ligamentos inseridos /anatomia-terminologias.html
nos dedos (CARVALHO, 2009, edição nº 5, p. 11). Acessado em 13 fev. 2019.

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A fascia plantar (aponeurose plantar) é encontrada deve, inibindo a sua função de amortecimento de
na face plantar do pé e divide-se em porção central, impactos e dificultando a passagem para a pro-
lateral e medial. Fixa-se atrás do calcâneo e, na fren- pulsão (SILVA P., 2006, p. 22).
te, à base da primeira fileira de falanges. A fascia
plantar serve como um mecanismo de estabilização Embora as crianças e os jovens possuam ossos
passivo das articulações do tarso, e desta forma sus- mais duros que os recém-nascidos, eles não são
tenta uma maior carga, que os elementos, indivi- suficientemente resistentes para impedir defor-
dualmente não seriam capazes (CARVALHO, 2009, midades parciais ou alterações posturais que
edição nº 4, p. 8). poderão provocar patologias ortopédicas varia-
das como: dificuldade de andar, limitações ou
Então, [...] os ligamentos laterais do tornozelo impossibilidade de praticar esportes, consequên-
formam um grupo de fibras tendíneas na região cia reflexa na coluna vertebral, etc (PIEDADE,
lateral do tornozelo, que chamamos de ligamen- 2002, p. 56).
tos colaterais (NOGUEIRA, 2005, p. 04). Segundo Maldonado, Bueis e González (2014)
Cabe ressaltar nos jogadores de futebol, tal qual dos corredores
que, na presença de ossos assessórios, como os se verifica um discreto predomínio de pés cavos-
sesamóides, o numero de articulações do pé varo por um aumento do tônus muscular de toda
podem aumentar (BEGA, 2014, p. 27). a extremidade. Existem estudos que demonstram
o aumento da mineralização óssea da tíbia em
15,2% a mais do que em pessoas sedentárias.

Os pés são um dos grandes protagonistas na


pratica esportiva. 70% dos esportistas têm pro-
blemas nos pés (VAZQUEZ, 2007, p. 11).

3.1 Movimento esportivo

Apesar da dificuldade em provar uma relação


direta entre e morfologia dos pés e as lesões, a
maioria dos especialistas concorda que o movi-
mento mecânico afastado do normal é indesejá-
Figura 8: ossos sesamóides - Fonte: vel e coloca esforço extra no sistema músculo-
https://www.pessemdor.com.br/dores/diagnos- esquelético, podendo levar ao aparecimento de
tico-de-dores/sesamoidite/ lesões (SILVA, 2006, edição nº 7, p. 26).
Acessado em 13 fev. 2019.

As articulações do pé são muito numerosas e A bolsa de gordura do calcanhar está localizada


complexas para serem detalhadas em poucas debaixo do calcâneo é o primeiro amortecedor
palavras. No plano funcional, seu número e sua natural do corpo durante a caminhada. Esta
variedade permitem ao pé adaptar-se bem a bolsa torna-se mais densa e fina com a idade
todos os terrenos e evitam a sobrecarga, portan- (VIANA, p. 08).
to, o desgaste de uma articulação particular
(artrose primitiva rara) (GOLDCHER, 2009, p. Segundo Mello (2012) uma das tarefas mais
05). importantes do controle postural humano é a do
equilíbrio do corpo sobre a base de apoio forne-
3. PÉS DE ATLETAS cida pelos pés. O sistema podal é uma ferramen-
ta importante do sistema nervoso central no con-
Podemos dizer sem temor a equivocarmos que trole da postura. Quando o posicionamento dos
o pé é um órgão vital para à prática esportiva e pés esta inadequado, podem surgir lesões e/ou
que qualquer alteração em sua morfologia pode alterações nos tornozelos, joelhos, quadril e colu-
diminuir seu rendimento (PIATTI, 2006, p. 30). na.
Os ossos do pé se mantém sempre organiza-
Em primeiro lugar o pé é um órgão de amorte- dos, ou seja, sempre voltam à posição original,
cimento de choques ou impactos, adaptando-se depois de realizarem um esforço. Quando camin-
ao solo irregular, em segundo também precisa hamos, flexionamos o tornozelo, o calcâneo, o
ser uma alavanca rígida para permitir a deambu- metatarso, os artelhos, e todos esses ossos vol-
lação, em certas ocasiões ocorre um excesso de tam à posição anterior assim que paramos de
mobilidade, o pé acaba por rodar mais do que andar.
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Isso ocorre porque existe também uma estrutura Os pés são segmentos do corpo que podem ser
muscular, responsável pelas contrações e relaxa- completamente examinados, pois suas estrutu-
mentos que irão orientar a intensidade, o tempo e a ras facilitam o acesso à inspeção, palpação e
velocidade com que essas acomodações deverão movimentação. A consulta deve ser iniciada com
ocorrer (PIEDADE, 2002, p. 55). a história clínica do paciente, que relatará seus
sintomas e as alterações observadas (BIANCHI-
Levando em consideração que um futebolista NI, 1997, p. 93).
tem em média 6.000 contatos entre o pé com o Afinal, o podologista pode e deve desempenhar
solo durante uma partida de futebol, que corre um papel importante de prevenção, através dos
uns 12km e que seu pé aguenta em torno de 2,5 conselhos acerca do calçado desportivo mais
vezes o peso do corpo, entenderemos que não é adequado (SILVA P., 2006, p. 5).
tão difícil se produzir uma fratura por estresse
(MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 54). O diagnostico da lesão, a classificação correta
do tipo de pisada, a utilização de palmilhas e
O cerebelo está situado entre a parte posterior tênis adequados para a atividade esportiva corre-
do cérebro e a ponte. Recebe informações de ta são os principais fatores para a prevenção das
diversas partes do encéfalo sobre a posição das lesões esportivas e nos pés (CARVALHO, 2009,
articulações, grau de estiramento dos músculos, edição nº 5, p. 12).
assim como informações visuais e auditivas.
Com base nessas informações coordena os movi- O podologista deve entender que o seu ambien-
mentos e orienta a postura corporal [...] (VIANA, te de trabalho é um foco de contaminação para
2007, p. 20). diversos microorganismos, em especial os fun-
gos e as bactérias patogênicas e, por isso
4. FUNÇÃO DO PODÓLOGO mesmo, deve realizar uma limpeza terminal
entre um atendimento e outro, porque os esporos
Dizem os que sabem que o pé é uma obra de dos fungos podem ficar em suspensão no ar e em
mestre, concedida para andar sem calçado e objetos de uso do podologista, além dos móveis
sobre qualquer terreno, mas também é o órgão do consultório (BEGA, 2009, p. 6).
que pior tratamos (PIATTI, 2009, p. 31).

O primeiro passo para o sucesso de um bom Quanto à pratica de atividades físicas, por
trabalho podológico é acreditar naquilo que você exemplo, é importante saber sobre o tênis e tudo
faz com amor, carinho e competência. Agora você aquilo que se pode dizer sobre ele, tipo do espor-
só tem uma escolha: seguir o caminho do acredi- te para o qual é indicado, como seu peso influi na
tar que as coisas vão dar certo, o que é diferente performance do atleta, quais os materiais de que
do fazer algo para ver se vai dar certo (JUSTINO; é feito e as funções de cada um, quais os proble-
JUSTINO; BOMBONATO, 2011, p. 229). mas que podem ocorrer com o pé ou com o cal-
çado na pratica do esporte e suas soluções
Conforme o autor Bianchini (1997) a pele dos (FEDRIZZI, 2007, p. 18).
pés e seus anexos podem ser sede de inúmeras Dessa forma, além de colher dados para a his-
alterações e, por isso, devem ser atentamente tória clínica, é importante fazer o exame do cal-
examinados pelos podólogos. çado do paciente, que, por sua correlação com as
queixas e com as alterações relatadas, muito
A avaliação do paciente deve ser realizada de pode contribuir para o diagnóstico (BIANCHINI,
três maneiras: sentada (pés sem descarga de 1997, p. 93).
peso), estática (pés com descarga de peso e
posição ortostática) e dinâmica, pois é no movi- E também, orientar quanto ao uso de proteto-
mento que os distúrbios se manifestam (MALA- res e palmilhas acomodativas adequadas aos pés
CHIAS, 2013, p.21). do esportista para minimizar a ação do impacto
e do atrito durante à prática esportiva (JUSTINO;
A podologia e o esporte podem e devem estar JUSTINO; NOGUEIRA, 2009, p. 45).
sempre atuando juntas para o bom desempenho
do atleta e o reconhecimento da importância de Conhecer a estrutura muscular dos pés e onde
nossa profissão (CLAUDINO, 2013, p. 15). cada músculo está inserido permite que o podo-
logista entenda melhor a biomecânica dos mem-
Dessa forma, o técnico em podologia tem con- bros inferiores, saiba diferenciar cada movimento
dições de fazer uma coleta para o laboratório e e localize perfeitamente cada músculo por meio
indicar a higienização correta dos calçados; habi- da anatomia descritiva e palpatória (BEGA,
tat dos fungos (HAGINO, 2009, p. 14). 2014, p. 37).
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Qual é a função do podólogo na equipe de fute- Lembramos, então, que o pé humano está
bol? Remover calosidades? Bolhas? Etc. Claro que sujeito a esforços e tensões diárias. Está compri-
isso também é parte da sua atuação, porém não mido dentro de calçados mal ajustados, obrigado
é só isso, pois o podólogo tem um papel preven- a pisar em superfícies duras e, com isso, enfra-
tivo fundamental na avaliação dos estudos bio- quece por traumas e maus tratos (CARVALHO,
mecânicos (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2009, edição nº 4, p. 7).
2014, p. 11). Quando seus pés não recebem a atenção de
Assim como ocorre em diversas partes do que precisam, podem desenvolver problemas
mundo, aqui no Brasil o podólogo deveria se crônicos que possivelmente incomodarão duran-
especializar em biomecânica dos pés, para forta- te anos. Em muitos casos, alguns alongamentos
lecer o número de profissionais competentes e e exercícios simples que podem ajudar a manter
qualificados a dar atenção aos atletas (TOLEDO, os pés em forma. Entretanto, existem algumas
2009, p. 3). situações em que não se recomenda que você
cuide de seus pés por conta própria (MAFRA,
Embora sua atuação esteja limitada ao nível 2017, p. 20).
superficial, não invasivo aos tecidos, o podólogo Na pratica esportiva se produz uma série de
deverá conhecer e saber diagnosticar todas as lesões que afetam direta ou indiretamente o pé e
afecções e patologias de origem interna, de a extremidade inferior. As lesões se produzem
modo a orientar e encaminhar o paciente a um como consequência das atividades físicas causa-
médico especialista, quando for o caso (PIEDA- das por um agente traumático ou por abuso
DE, 2002, p. 44). (VAZQUEZ, 2007, p. 11).
É importante a interdisciplinaridade entre as
equipes envolvidas, podólogos, educadores físi- Como já foi visto o mais importante para o pra-
cos e esportistas, para que haja um melhor des- ticante de atividade física e esportiva é o confor-
empenho durante as praticas esportivas executa- to, e os pés são a parte que mais necessita de
das, pois as lesões provocadas pelo esporte cuidados, por isso o praticante de esporte deve
podem ser evitadas com acompanhamento do adquirir o calçado especifico para a atividade
orientador físico e com a prevenção podológica que vai exercer de preferência sempre em lojas
(JUSTINO; JUSTINO; NOGUEIRA, 2009, p. 44). especializadas e no final de um treino ou no tér-
mino da pratica esportiva (JUSTINO; JUSTINO;
4.1 A importância do cuidado com os pés NOGUEIRA, 2009, p. 97).

Como a pratica esportiva é essencial para man- 4.2 Tipos de pés


ter o bem estar físico, concluímos que o trata-
mento preventivo dos pés dos atletas é indispen- Segundo Bianchini (2009) na meia idade, devi-
sável para evitar o aparecimento de algumas do à vida sedentária ou a ocupações que reque-
lesões, seja biomecânica ou dermatológica, pro- rem ficar em pé por tempo prolongado, os pés
porcionando uma melhor qualidade de vida e um podem tornar-se planos.
rendimento superior na sua atividade esportiva O pé plano ou raso, também conhecido como
(CLAUDINO, 2013, p. 15). pé chato, mas a denominação mais correta é pé
plano valgo flexível. Caracteriza-se pela diminui-
Forçar o ritmo de exercício pode levar ao cha- ção ou queda do arco longitudinal medial do pé
mado estresse muscular ou até mesmo o surgi- (VIANA, p. 09).
mento de distensões. É importante observar des-
níveis, como saliências na areia e pequenos bura- Nos pés planos caso não exista valgo do retropé,
cos, para evitar problemas como entorse de tor- se produzira uma queda da abóbada plantar que
nozelo e até mesmo fraturas (MAFRA, 2016, p. aumentara o tempo de contato com o solo. Uma pos-
23). sível consequência dessa queda pode gerar a síndro-
me de compressão óssea dorsal. As articulações na
Os pés são uma das estruturas mais complexas zona dorsal estarão compactadas e em algumas
e importantes para que o corpo exerça plena- ocasiões produziram uma dor aguda em forma de
mente toda a sua potencialidade, desde o menor pontada em qualquer espaço articular, sobre tudo no
movimento até o direito de ir e vir. Por isso as médio pé (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ,
pessoas devem cuidar de seus pés pela preven- 2014, p. 17).
ção, não lhes impondo condições desfavoráveis
como calçados inadequados, a pratica de espor- A pegada plantar é um bom método de avalia-
tes ou de atividades que ultrapassem os limites ção para tipificar o tipo de pés, sendo os pés
de resistência, traumas, etc (PIEDADE, 2002, p. mais planos aqueles que apresentam um maior
57). risco de lesões, assim como um maior numero
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de patologias associadas (AGUILERA; HEREDIA, Os arcos do pé formam-se na fase de desenvolvi-
PEÑA, 2016, p. 20). mento do embrião. Mas, ao nascimento e durante a
Sendo o pé pronador o tipo de pé mais comum infância o tecido adiposo está distribuído global-
(58% de todos os tipos de pés, contra 20% pé mente em todo o pé e, por isso, não são tão eviden-
cavo e 22% pé normal) (SILVA, 2006, edição nº tes. Com o desenvolvimento das estruturas dos pés,
7, p. 27). o tecido adiposo vai sendo absorvido e formando
Pé normal – aquele que possui arco plantar uma camada mais delgada, e, desse modo, os pés
normal, deixando uma pegada com uma tênue vão se moldando e os arcos se tornando reconhecí-
conexão entre o calcanhar e a parte frontal, ou veis (BIANCHINI, 1997, 91). Figura 9.
seja uma pisada normal ou pronada (VIANA, p.
09). 5. PATOLOGIAS EM PÉS DE ATLETA

Só para lembrar: um pé plano é definido pelo A hipermobilidade do membro inferior tem sido
desabamento dos arcos plantares devido à queda relacionada por vários autores como uma das
das cabeças metatársicas e dos arcos longitudi- principais causas de uma série de lesões de
nais interno e externo (medial e lateral). Ao con- esforço. [...] Diversos estudos sugerem que os
trário, o pé cavo é definido em virtude de um corredores parecem lesionar-se com maior fre-
aumento da altura do arco interno devido à rigi- quência que os praticantes de outros desportos,
dez das cabeças metatársicas e costuma estar como natação, ginástica aeróbica, caminhadas,
acompanhado do aumento da tensão dos múscu- etc (SILVA P., 2006, p. 5).
los flexores plantares (BEGA; LAROSA, 2010, p.
62). Por precaução, qualquer entorse, mesmo sim-
ples, não deve ser tratado com displicência para
A pronação do retropé fará com que a tíbia e o evitar a recidiva e a instabilidade, sequela sem-
fêmur apresentem uma rotação interna, desvian- pre é possível tanto a curto como a longo prazo
do o eixo do joelho e dos quadris e sendo respon- (GOLDCHER, 2009, p. 05).
sáveis pela maior parte das patologias nessas Sabemos que entre 30% a 70% dos corredores
articulações e na região dorsal do tronco (MAL- sofrerá pelo menos uma lesão anualmente, que
DONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 18). os impedirá de correr pelo menos durante uma
semana, essas lesões poderão mesmo ser res-
Pé cavo: a articulação não se apoia. ponsáveis por pelo menos 5% do absentismo no
Pronunciado apoio no arco anterior e do cal- trabalho (SILVA, 2006, edição nº 7, p. 26).
canhar. Falta impressão dos dedos (CARVALHO,
2009, edição nº 4, p. 8). Estima-se que de todas as lesões em atletas,
No pé cavo, o arco longitudinal é muito acen- entre 5 e 10% são fraturas por estresse. Esta
tuado. Há excesso de pressão nas cabeças dos descrito que as mulheres, por sua menor densi-
metatarsianos que estão abaixadas, com forma- dade trabecular, são mais propícias às fraturas
ção de calosidades e fascite plantar (VIANA, p. por estresse (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ,
09). 2014, p. 56).
No basquete, apesar do seu
manuseio ser com as mãos,
esse esporte provoca muitas
patologias e lesões nos pés,
pois esse jogo exige movimen-
tos violentos (JUSTINO; JUSTI-
NO; NOGUEIRA, 2009, p. 69).
Entre 70-80% de todas as
lesões relacionadas com a
corrida localizam-se entre os
joelhos e os pés. [...] A tíbia
roda internamente mais rapi-
damente que o fêmur, este
movimento contribui para o
desbloqueamento da articula-
ção do joelho (SILVA P., 2006,
Figura 9: Pé normal, plano (chato) e cavo p. 7).
Fonte: https://anatomia-papel-e-caneta.com/antepe-mediope-e-
retrope/ Os fatores mecânicos-trau-
Acessado em 13 fev. 2019. matizantes do amadorismo
www.revistapodologia.com 33
podem ser divididos em macro e micro traumas.
Os macrotraumas aparecem de maneira impre-
vista e violenta provocados por contusões ou feri-
das associadas posteriormente a variadas carac-
terísticas. Os microtraumas contínuos são resul-
tados de fenômenos irritativos e inflamatórios
relacionados com a especialidade praticada
(CORDAZZU, 1999, p. 12).
O excesso de suor na planta e em espaços
interdigitais determinam a maceração da pele, e,
como consequência disso, o tegumento pode-se
ter erosão, ter fissuras, criando um campo propí-
cio para o desenvolvimento das bactérias e fun-
gos (VAZQUEZ, 2007, p. 14).
Figura 10: Tinha pedis - Fonte:
Os pés possuem grande concentração de glân- https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/p
dulas sudoríparas e por isso é uma das partes do e-de-atleta
corpo que apresenta maior sudorese (BIANCHI- Acessado em 13 fev, 2019.
NI, 1997, p. 90).
A razão pela qual os problemas no pé podem É a lesão dérmica mais frequente, acometendo
afetar o resto do membro inferior é explicável 27% dos jogadores profissionais e 15% dos ama-
pelo principio da cadeia cinética fechada. A dores, tendo como causa a colocação de costu-
cadeia cinética fechada implica que o pé esteja ras com mais frequência na ponteira (MALDONA-
em contacto com o chão, quando o pé se encon- DO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 74).
tra em contacto com o solo, qualquer movimento Constituem possivelmente o problema cutâneo
numa parte do membro afeta as restantes partes mais frequente do esportista. Produzem-se como
(SILVA P., 2006, p. 7). resultado de uma fricção continua que provoca
uma separação entre a dermes e a epidermes
Os dermatofites patogênicos no esportista (por aumento de temperatura – aquecimento dos
solem adquirir-se por contaminação e se desen- tecidos) (VAZQUEZ, 2007, p. 14).
volver com facilidade nos pés por encontrar neles
condições favoráveis de calor e umidade (VAZ-
QUEZ, 2007, p. 14).
A natação é um esporte indicado para todas as
faixas etárias devido a sua baixa resistência ao
impacto, efetuado por deslizamentos horizontais
em meio liquido, sendo menor o risco de lesões
articulares, musculares e tendíneas (JUSTINO;
JUSTINO; NOGUEIRA, 2009, p. 48).

Excessos, como peso acima do padrão ideal,


pratica de esportes de grande impacto, uso de
calçados inadequados, caminhadas muito longas
ou mesmo praticas profissionais que exijam a
permanência em pé por longos períodos colocam Figura 11: Bolha de atrito - Fonte: http://bloges-
os pés no limite de sua resistência mecânica pacopes.com.br/blogue/index.php/como-a-
(PIEDADE, 2002, p. 48). bolha-e-formada/
Acessado em 13 fev. 2019.
5.1 Lesões dermatológicas
Cada quilômetro caminhado provoca 60 tonela-
Tinha pedis é a infecção de pele mais comum e das do stress sobre cada pé. Os seus pés conse-
esta entre as mais frequentes de todas as enfer- guem aguentar cargas elevadas, mas demasiado
midades cutâneas do pé encontradas em espor- esforço empurra-os para além de seus limites. Ao
tistas (CLAUDINO, 2013, p. 14). se caminhar em superfícies duras, praticar
esporte ou usar sapatos que irritam os tecidos
Bolhas de atrito - produção de queratina em sensíveis dos pés, podem-se desenvolver as calo-
caso de pressão aguda e incidente formando sidades, este é o problema mais comum que
bolha liquida descolando a epiderme de sua base afeta o calcanhar (VAGLI, 2011, edição nº 13, p.
(VIANA, p. 14). 6).
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Figura 12: Calo plantar
Fonte: https://www.bancodasaude.com/info-
saude/calosidades-e-calos/
Figura 13: Neuroma de Morton - Fonte:
Acessado em 13 fev. 2019.
https://www.pessemdor.com.br/dores/diagnos-
tico-de-dores/neuroma-de-morton/
São espessamentos da pele, um acúmulo de que- Acessado em 13 fev. 2019.
ratina (proteína) substancia que forma a camada
superficial e mais resistente da epiderme. Causas: Observou-se que os esportes de impacto tam-
estímulo atrito, uso inadequado de calçados, [...] bém podem contribuir para o seu surgimento, já
etc. Quando aparecem, podem ser de forma igual ou que o neuroma é resultado de um traumatismo
com rachaduras, por perda da elasticidade da pele. infligido a um nervo, consequência de um pé
[...] As saliências ósseas sofrem pressão anormal com desequilíbrios funcionais biomecânicos
sobre a pele, provocando traumatismos e a pele fren- (MELLO, 2011, edição nº 15, p. 16).
te a uma irritação excessiva protege-se criando uma
capa córnea até o ponto de um engrossamento, cau- E se você estiver sob muita pressão, seus ner-
sando muita dor (VIANA, p. 14). vos podem comprimir seus vasos sanguíneos
pequenos, diminuindo sua capacidade de condu-
O calo se desenvolve em virtude de pressões zir o sangue (MAFRA, 2017, p. 20).
exercidas por agentes externos, com maior inci- Quanto mais densa a rede nervosa, maior a
dência nas saliências ósseas da parte de cima precisão na localização da dor (pele, vasos, ten-
dos dedos, na pele entre os mesmos e na planta dão, ligamento, osso pericartilaginoso, periós-
do pé. Podendo ser duros ou moles, sensíveis ao teo). Cada dor apresenta caracteres próprios à
toque e arredondados. Geralmente possui um inervação do tecido lesado (GOLDCHER, 2009, p.
núcleo, central, doloroso, onde há maior quanti- 51).
dade de células (VAGLI, 2009, p. 10).
Outra patologia cutânea é o pé de atleta carac-
Os problemas dermatológicos, com exceção terizado pela bromidrose e intensa maceração
dos distúrbios tróficos, são muito frequentes e plantar e interdigital. O que muitas vezes é evi-
variados: verruga plantar, unha encravada, calo, dencia em indivíduos nervosos sujeitos a tensão
infecção bacteriana, micótica ou parasitária, emotiva. A intervenção do podólogo nestes casos
tumor maligno ou benigno, ferida, hematoma, baseia-se em métodos não invasivos e ortésicos
ulceração, etc. A sua existência é facilmente des- como prevenção (CORDAZZU, 1999, p. 13).
coberta pelo paciente (GOLDCHER, 2009, p. 49). As causas mais comuns de fissura no calcanhar
Metatarsalgias – denominam assim os proble- são o peso e a falta de hidratação da pele. O ato
mas dolorosos que apresentam no ante pé ou de caminhar pressionando repetidamente o teci-
parte próxima aos dedos, sobre a que se realiza do mole sob o calcanhar agrava o problema. [...]
o apoio. Normalmente só aparece dor quando se Esse problema pode se tornar extremamente
caminha, desaparecendo em repouso (ÁLVAREZ, dolorido, dificultar os movimentos, além de cau-
2006, p. 12). sar aspecto desagradável dos calcanhares
Segundo Viana, é uma enfermidade que apare- (VAGLI, 2011, edição nº 13, p. 6).
ce sob a cabeça do 3° e 4° metatársicos cuja
principal característica é dor, queimação ou des- Verrugas plantares não são diferentes das
carga elétrica, na região dos pés. Patologia con- comuns mas, por estarem localizadas na sola
hecida como Neuroma de Morton. dos pés, podem se tornar extremamente dolori-
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das. Um grande numero destas verrugas nos pés res, e saber relacionar com as estruturas partici-
pode causar dificuldade para andar ou correr e pantes, (musculatura, ligamentos), para assim
podem ser debilitantes. As verrugas comuns não identificar os principais pontos de pressão nos
causam nenhum desconforto a menos que este- pés e relacionar com a patologia encontrada
jam em áreas de traumas repetidos (MAFRA, (JUSTINO; JUSTINO; NOGUEIRA, 2009, p. 22).
2009, p. 17).
A verruga plantar, apresenta-se como um Dorsalmente o pé sofre traumas do tipo mecâ-
espessamento e uma elevação da pele dos pés, nico devido a colisões durante o jogo e frequente
tem uma região amarelada e um ou mais pontos observa-se contusões e luxações dos metatarsos
negros centrais. Sua característica inicial é muito e falanges. Hiperqueratoses e inflamações nas
semelhante à do calo, por isso ela pode ser con- falanges evidenciam um estado de fadiga (COR-
fundida já que ela apresenta uma camada de DAZZU, 1999, p. 12).
queratina na forma de calosidade que a recobre
(VAGLI, 2001, edição nº 15, p. 8). A entorse de tornozelo é uma das lesões musculo-
esqueléticas que ocorrem com mais frequência na
população, podendo ser causada por ligamentos
frouxos dos tornozelos, musculatura fraca, certos
tipos de calçados, [...] e por algumas formas de
caminhar ou saltar. É mais verificada em atletas de
futebol, basquete e vôlei, correspondendo a 15% a
20% de todas as lesões do esporte, podendo evoluir
com complicações e vários graus de limitações fun-
cionais (MELLO, 2011, edição nº 16, p. 11).

Figura 14: Verruga plantar - Fonte:


http://clinicaritapacheco.com.br/verrugas.php
Acessado em 13 fev. 2019.

As verrugas se constituem numa infecção cau-


sada por um vírus, o papova vírus e representam
um problema, uma vez que o futebolista profis-
sional não pode receber o tratamento com cáus-
ticos que possam lhe produzir uma ferida impe- Figura 15: Deslocamento de tornozelo - Fonte:
dindo-o de jogar (MALDONADO; BUEIS; GONZÁ- https://www.fisioterapiaparatodos.com/p/entor-
LEZ, 2014, p. 77). se-de-tornozelo/
Acessado em 13 fev. 2019.
Bursites: inflamação das bolsas serosas que
protegem a proeminências ósseas do pé. No
esportista se podem encontrar frequentemente O tratamento consiste em enfaixar o tornozelo
no hálux, zona do tendão de Aquiles, como con- com bandagens elásticas ou faixas de crepe, ou
sequência de compressões anormais do sapato imobilização com bota de gesso, seguida por
esportivo (VAZQUEZ, 2007, p. 14). exercício suave e marcha. Em casos mais graves
é necessária a cirurgia (VIDAL; SANTOS, 1998, p.
5.2 Lesões do movimento esportivo 44).

Segundo Goldcher (2009) as principais doen- A bandagem pode ser utilizada durante, após o
ças são relacionadas à traumatologia, às vezes treino, ou no dia a dia. Utilizada na panturrilha,
favorecida pelo terreno e por problemas proprio- pé ou tornozelo (dependendo da região a ser tra-
ceptivos, e à microtraumatologia, por superutili- tada), auxilia no tratamento de lesões muscula-
zação osteotendinosa ou por sobrecarga. res da panturrilha, lesões nos ligamentos do tor-
É importante compreender que os movimentos nozelo e pé, fasceítes plantares, tendinites e
específicos de todos os desportos se originam da esporões de calcâneo.
junção de um complexo de movimentos articula- Melhora o desempenho nas atividades esporti-
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vas, atuando na estabilização do tornozelo ao peso excessivo ou mesmo ao uso de calçado
(MELLO, 2014, edição nº 29, p.11). com palmilha dura, que não amortece adequada-
mente a pressão do calcâneo durante a marcha
(VIDAL; SANTOS, 1998, p. 50).

Figura 16: Bandagem elástica - Fonte:


http://www.clinicafisioform.com.br/blog/visuali- Figura 17: Esporão de calcâneo
zar/112 Fonte: https://melhorcomsaude.com.br/espo-
Acessado em 13 fev. 2019. rao-de-calcaneo-sintomas-e-tratamento/
Acessado em 13 fev. 2019.
Sobretudo, as atividades físicas devem ser sus-
pensas e é preciso evitar apoiar o pé no chão. A infiltração é a técnica de aplicar um medica-
Você pode aplicar gelo nos dois dias após o trau- mento diretamente na região lesionada mediante
ma, por cerca de 30 minutos a cada hora, uma injeção. A região anatômica do pé onde se
aumentando os intervalos posteriormente. O tra- aplica a infiltração com maior frequência é o cal-
tamento com cirurgia é indicado apenas em canhar afim de eliminar a dor de uma entesite no
casos muito graves e em atletas de alto nível esporão de calcâneo (MALDONADO; BUEIS.
(MELLO, 2017, edição nº 44, p. 9). GONZÁLEZ, 2014, p. 87).
As pessoas mais suscetíveis ao problema são
Convém lembrarmos que entorse é uma lesão mulheres com idade entre 40 e 50 anos, prati-
bem diferente de luxação, que acontece quando cantes de esportes como caminhada, corridas e
há o deslocamento da articulação (NOGUEIRA, maratonas. O tratamento é principalmente clini-
2005, p. 4). co, realizado por meio de exercícios de alonga-
Além de ter uma prevalência ao redor de 45% mento do tendão de aquiles e da fascia plantar
em esportes de alto risco como basquetebol, (MAFRA, 2011, p. 16).
futebol, etc. E geralmente é o ligamento perone- No caso especifico do higroma, a causa essen-
astragalino (LPAA) o que mais se fere, seguido do cial do calo são microtraumatismos de repetição.
ligamento peroneocalcaneo (LPC) e posterior- Motivo muito comum observado pelos podólo-
mente liga torções do tornozelo no geral são do gos, os microtraumatismos estão sempre ligados
lado externo [...] e se acredita que 78% das tor- a causas secundarias (VAGLI, 2012, p. 8).
ções ocorreram em um tornozelo lesionado
(LEIJA, 2011, p. 19). Sobretudo o skate é um esporte de alto impac-
As lesões do tornozelo são causadas por uma to e que pode ocasionar varias lesões, onde o tor-
súbita aplicação de força maior do que a resis- nozelo e o joelho são os locais de maior índice
tência dos ligamentos. Essa força vira o pé para deste tipo de lesão, sendo causado pelos movi-
dentro (inversão) ou para fora (eversão) (MELLO, mentos bruscos de giro sobre a articulação
2011, edição nº 16 p. 11). (CLAUDINO, 2013, p. 14).
22% dos homens e 34% das mulheres sofrem
de dores nos tornozelos. Essa dor esta relaciona- Em corredores é importante observar a camin-
da ao tipo de pé, cavos ou chatos, que represen- hada e a corrida. A observação detalhada da
tam 30% da população brasileira (LIMA, 2015, p. caminhada e da corrida na esteira podem revelar
16). alterações mecânicas (musculo-esqueléticas)
O esporão de calcâneo é uma patologia ortopé- importantes para a escolha do tratamento ade-
dica caracterizada pela formação de espiculas quado (MELLO, 2014, edição nº 26, p. 20).
ósseas na face plantar ou posterior do osso cal- Os pés suportam
câneo. As principais causas predisponentes são 4 vezes o peso do nosso corpo quando corremos.
os traumatismos de repetição, devidos a um tipo Correr é uma das atividades menos nocivas aos
de marcha que força demais a região calcânea, pés, esportes com movimentos rápidos e dribles
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impõem pressões duas vezes maiores ao calcan- se no calcâneo sob carga. Ao repouso o problema
har e aos pés (MAFRA, 2015, p. 23). desaparece (CARVALHO, 2009, edição nº 5, p.
11).
Distensão muscular – é uma ruptura espontâ- Em seguida, a tendinite é uma clássica lesão
nea de várias fibras musculares ocasionadas pelo por sobrecarga, que afeta um ou mais tendões,
esforço repetido, apresentando dor súbita duran- gerando muita dor, inflamação, ruptura parcial
te o movimento e que às vezes impossibilita que ou total do tendão, e até deformidades ósseas,
o músculo atingido se movimente. As principais se a lesão for crônica. Todo tendão pode infla-
causas são: exercícios bruscos, pesados, exercí- mar, e se desgastar em virtude de sobrecargas
cios de execução difícil. É muito comum em bai- agudas ou crônicas. [...] A tendinite pode ocorrer
larinos e desportistas em geral (VIANA, 2007, p. em pessoas que caminham, correm demais ou
18). em outros atletas (MELLO, 2013, edição nº 25, p.
13).

A lesão do tendão do calcâneo talvez seja a


mais frequente perigosa lesão que pode sofrer
um atleta, porque é a que mais apresenta risco
de evoluir para a ruptura do tendão (MALDONA-
DO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 46).
A tendinite é mais frequente em aqueles indiví-
duos que praticam pela primeira vez um esporte,
que os que praticam regularmente já que com o
treinamento o tendão sofre uma adaptação ana-
tômica e funcional que lhes permite suportar
maiores solicitações mecânicas (VAZQUEZ,
Figura 18: Distensão muscular - Fonte: 2007, p. 13).
http://connectedtothesubject.blogspot.com/201 A osteoartrose nos pés e tornozelos é bem fre-
1/05/distensao-muscular.html quente, pois o pé humano se caracteriza como
Acessado em 13 fev. 2019. uma complexa estrutura que atua como suporte
do corpo, recebe a distribuição de cargas, sendo
É de extrema importância que as atividades indispensável para a locomoção e estabilidade
esportivas sejam modificadas para reduzir o corporal (MELLO, 2014, edição nº 30, p. 16).
estresse causado no joanete. Deve-se evitar corri- A atrofia da almofada plantar ocorre [...] nos
da em terrenos irregulares (principalmente com desportistas que, com os traumas constantes e
subidas), treinos de tiro e atividades que envol- contínuos fazem com que a almofada plantar vá
vam chutes (futebol e lutas marciais) ou posturas perdendo a sua altura e, com isso, sua capacida-
ajoelhadas (MELLO, 2013, edição nº 27, p. 18). de de absorção de impactos (VIANA, 2007, p.
80).
A anomalia que mais produz patologias, seja
no futebol ou em qualquer outro esporte é o
excesso de pronação. Por isso temos que obser-
var com maior atenção a corrida do jogador no
campo de futebol (MALDONADO; BUEIS; GONZÁ-
LEZ, 2014, p. 16).

Figura 19: Joanete (hálux valgo) - Fuente:


https://melhorcomsaude.com.br/como-eliminar-
naturalmente-os-joanetes-com-remedios-caseiros
Visitada el 13 de febrero. 2019.
Quando o atleta levanta o calcanhar durante a
partida, o ângulo entre as diferenças partes do
pé aumenta e a aponeurose é tracionada distal- Figura 20: Pronação dos pés - Fonte:
mente. Quando os dedos são flexionados, a apo- https://www.pessemdor.com.br/dores/diagnos-
neurose é esticada e o arco longitudinal é estabi- tico-de-dores/halux-rigido/
lizado. Sintomas de dor na origem da aponeuro- Acessado em 13 fev. 2019.
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5.3 Patologias ungueais sidade do trauma, a lesão pode ser passageira e
a lâmina volta a crescer normalmente.
As unhas são placas de células queratinizadas,
localizadas na superfície dorsal das falanges ter- Após um trauma de proporção significativa, a
minais dos dedos. É na matriz da unha que se unha pode se tornar involuta em consequência
observa sua formação, graças a um processo de de lesões que afetam a matriz ou o leito ungueal,
proliferação e diferenciação das células epiteliais e muitas vezes os dois, leito e matriz, podem ser
que gradualmente se queratinizam, formando a afetados. Em ambos os casos, pode ocorrer
placa córnea (JUSTINO; JUSTINO; BOMBONATO, espessamento, mudança de curvatura, fissuras,
2011, p. 25). descolamentos, podendo evoluir para a onicomi-
As fraturas ungueais podem ser transversais, cose (JUSTINO; JUSTINO; BOMBONATO, 2011,
longitudinais e oblíquas, ocasionadas por trau- p. 45).
mas, anemia, infecções crônicas, déficit de ferro,
exposição a agentes químicos, fungos e traumas
repetitivos (VIANA, p. 24).
As patologias do aparelho ungueal nos espor-
tes são muitas. Unhas traumáticas e encravadas
são resultados de colisão e calçados muito rígi-
dos (CORDAZZU, 1999, p. 13).

A pressão que a borda do sapato exerce sobre


o hálux, comprime o tecido macio contra a unha
de tal forma que a unha encrava-se (ESPINEL,
2000, p. 14).
Figura 22: Onicomicose - Fonte:
http://www.valpopular.com/micose-nas-unhas/
Acessado em 13 fev. 2019.
Os traumatismos em atletas são frequentes
causas da queda recidivante das unhas e podem
refletir a atividade exercida pelo indivíduo, “por
exemplo”, o futebol ou alguma anormalidade dos
calçados ou da mecânica do pé e, frequentemen-
te, estão associados com hemorragia subungueal
(VIANA, 2007, p. 63).
As onicomicoses são infecções fúngicas das
unhas que constituem a doença ungueal mais
comum, sendo mais da metade de todos as oni-
Figura 21: onicocriptose (unha encravada) Fonte: copatias (CLAUDINO, 2013, p. 14).
http://www.doutorape.com.br/ExibeNoticia/583
/12686.html Segundo Madella (2011) existe uma variedade
Acessado em 13 fev. 2019 grande de tipos de fungos, mas somente algu-
A onicocriptose é um dos mais clássicos trata- mas são causadoras de micose, sendo que todas
mentos podológicos. O sucesso do podologista as pessoas estão expostas a eles, pois estão em
frente aos desafios da onicocriptose depende do toda parte, principalmente quando encontram
seu conhecimento técnico e científico, além da condições e ambientes favoráveis para se repro-
sua postura profissional (BEGA; LAROSA, 2010, duzirem e causar infecções.
p. 203). O eponíquio, nome anatômico e fisiológico da
Traumas ungueais são lesões sofridas pelas cutícula, serve como um dos mais importantes
unhas, mais precisamente na matriz, causadas mecanismos de defesa de nossos membros infe-
por queda de objetos, topadas, pisadas, futebol, riores (pés) e superiores (mãos) contra invasões
caminhada intermitente, etc., podendo causar a bacterianas do meio externo no nosso corpo
morte de células matriciais deformando a unha (PIEDADE, 2002, p. 47).
(VIANA, p. 29).
Para Bega e Larosa (2010) “um calçado pres-
Segundo Justino, Bombonato e Justino (2014) sionando os dedos e as unhas durante varias
quando ocorre um trauma na lâmina ungueal, horas do dia é o suficiente para provocar um pro-
geralmente aparece um hematoma, descolamen- cesso isquêmico pela pressão externa, o que fun-
to e, às vezes, inflamação. Dependendo da inten- ciona como um facilitador para o surgimento das
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micoses. As unhas podem se alterar devido a caminhada que possa resultar em calosidades ou
várias causas. Um simples trauma mecânico, vice-versa. Assim como uma onicocriptose crônica
como a queda de um objeto, um pisão ou atrito pode também alterar a marcha normal e acabar
constante no calçado. Ou, ainda, como ocorre interferindo na postura (BELO, 2011, p. 4).
aos jogadores de futebol, por conta de microtrau-
matismos vasculares no leito ungueal, provenien- A biomecânica do pé é um dos mecanismos de
tes do atrito bola-chuteira-unha, consequente alta tecnologia mais complexos que se encon-
hemorragia subungueal, onicólise, onicomadese tram. Sua exploração em dinâmica ainda não é
e queda da unha (CORDEIRO, 2016, p. 4). completa e várias teorias tentam explicá-la
(GOLDCHER, 2009, p. 16).
Calo peri-ungueal (onicofosis): localizado na
prega periungueal ou prega lateral do artelho, é Pé estático – o pé normal repousa sobre uma
uma resposta da pele a um atrito intenso que superfície óssea. Pé dinâmico – movimento dos
comprime apenas um ponto do sulco contra a pés tanto na marcha como na corrida (VIANA, p.
lâmina. Surge com frequência no hálux, devido à 10).
pressão da ponta do segundo artelho (dedo) Segundo Bega; Larosa (2010) a medicina
sobre a prega do hálux. Calo sub-ungueal: locali- esportiva teve função fundamental sobre o des-
zado sob a unha, tem as mesmas características envolvimento dos softwares devido às inúmeras
do calo periungueal (VAGLI, 2009, p. 13). necessidades dos atletas. Foi a partir desses
A pressão continua do sapato produzirá o estudos que nasceu a análise dinâmica.
espessamento e hiperqueratose reativas do leito, Quando ocorrem anormalidades nos tempos e
a hipertrofia e deformação da matriz, podendo ações do ciclo biomecânico do pé em apoio a
ter, como resultado, a onicogrifose. A infecção transferência de forças não é normal, acabando
produzida por fungos também pode provocar dis- por criar movimentos compensatórios que são
trofias e até mesmo, a queda das unhas (VIANA, extremos (hipermobilidade), facilitando o apare-
2007, p. 34). cimento de uma série de lesões, nomeadamente
A parte mais importante na formação da lâmi- de esforço (SILVA P., 2006, p. 22).
na ungueal é sua irrigação sanguínea. E a partir
do momento que houver uma interferência inter- Quando me refiro à biomecânica não estou falando
na ou externa desta irrigação, haverá alterações da descrição de anatomia funcional, mas do enten-
em sua formação, tanto em espessura como em dimento de como se processam o movimento, as for-
crescimento (JUSTINO; JUSTINO; BOMBONATO, ças que estão envolvidas, as alavancas, o sinergis-
2011, p. 26). mo, o organismo e o antagonismo, os componentes
e o funcionamento do sistema neuro-mio-ósteo-arti-
6. BIOMECÂNICA DO PÉ cular, o desenvolvimento da marcha, as relações
posturais que envolvem as cadeias musculares, os
É um assunto complexo e muito controvertido. processos sistêmicos que se inter-relacionam com o
É indispensável conhecer os movimentos do pé e corpo como um todo, bem como as influencias bio-
as principais teorias clássicas (GOLDCHER, psico-sociais que agem sobre a postura e sobre a
2009, p. 12). marcha (BEGA, 2008, p. 4).
Os métodos quantitativos de avaliação da bio-
mecânica do pé e da pegada plantar supõem Não existe uma postura perfeita ideal para
uma importante ajuda na identificação das todos, como também não existe uma postura que
características morfológicas do pé, aportando seja somente estática ou ligada a posições fixas
informação notável sobre possíveis riscos de e não-naturais. Tudo é adaptação à nossa psique,
lesões (AGUILERA; HEREDIA; PEÑA, 2016, p. 5). ao nosso modo de viver, ao nosso modo de reagir
A postura correta, fundamental para o bem- ao estresse e aos estímulos externos (CARVALHO,
estar do ser humano, consiste num processo 2009, edição nº 4, p. 7).
extremamente complexo que, para atingir o equi- A postura normal é a posição na qual há o míni-
líbrio, exige de todos uma consciência integral de mo de estresse aplicado sobre as articulações,
seu corpo, de seus limites e de sua localização ausência de forças contrárias, relações harmo-
correta no espaço (BEGA; LAROSA, 2010, p. 38). niosas e inexistência de dor (BEGA; LAROSA,
2010, p. 38).
Qualquer alteração da dita posição dinâmica sig-
nifica a alteração de todos os elementos que contri- Embora não existam estudos que demonstrem
buem para a dinâmica do corpo. [...] Dores nos pés inequivocamente que o calçado e as órteses desem-
podem causar alterações na marcha, causando penham um papel crucial na prevenção de lesões no
esforços dos grupos musculares. Os problemas apa- membro inferior, a maioria dos especialistas concor-
recem se há qualquer alteração na biomecânica da da que o movimento biomecânico afastado do nor-
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mal é indesejável e coloca esforço extra no sistema Durante o ciclo da marcha, ora, um pé esta em
músculo-esquelético, podendo levar ao aparecimen- contato com o solo (fase de apoio que consome,
to de lesões, assim ao diagnosticar o tipo de pé e aproximadamente, 60% do ciclo), ora está no ar
acomodá-lo com o calçado e as órteses que ofere- (fase de balanço, de oscilação responsável por
çam a relação de amortecimento/estabilidade ade- 40% do ciclo). A cadência normal humana é de
quados à sua morfologia, conseguimos uma redução 110 a 115 passos por minuto (VIANA, 2007, p.
dos movimentos indesejáveis (pronação/supina- 54).
ção), reduzindo dessa forma as possibilidades do A pronação é um mecanismo utilizado para
aparecimento de lesões (descontando os fatores adaptar o pé ao terreno e para diminuir as forças
externos tais como; excesso ou treinos inadequado) de impacto absorvidas, enquanto que a supina-
(SILVA P., 2006, p. 22). ção é um mecanismo utilizado para estabilizar o
antepé sobre o retropé de forma que o pé atue
O pé é a parte mais humana de nossa anato- como uma alavanca rígida durante a propulsão,
mia. Nenhum outro pé animal está adaptado protegendo o tornozelo de instabilidades e dimi-
para produzir o alavancamento que nos permite nuindo a dependência da musculatura peroneal
caminhar em posição erguida. Com isto, nossos (AGUILERA, J; HEREDIA, JR; PEÑA, G, 2016, p.
pés são submetidos, constantemente, a proble- 15).
mas físicos e mecânicos (VIANA, 2007, p. 50). Conforme o estudo da marcha, em uma camin-
hada normal, o primeiro apoio do pé no chão é
6.1 Ciclo da marcha no calcanhar. Depois, o apoio do calcanhar e da
cabeça de todos os metatarsianos e, brevemente
A marcha deve ser estudada descalço e calça- o apoio da borda lateral. Num terceiro momento,
do. A marcha descalça é muitas vezes controlada vem o apoio da cabeça de todos os metatarsia-
e diferente das condições habituais. Uma peque- nos e polpa dos dedos e por ultimo o desprendi-
na anomalia pode ser mascarada (GOLDCHER, mento, apoiando-se somente nas pontas dos
2009, p. 68). dedos (BELO, 2011, p. 4). O alinhamento
A partir dos movimentos de um complexo harmonioso das cabeças metatarsianas nos pla-
estrutural de ossos, músculos e ligamentos que nos horizontais e frontais é indispensável para
envolvem uma articulação, é possível fazer uma um bom equilíbrio do antepé em movimento. O
analise da biomecânica do movimento para que tempo de colocação em carga de uma cabeça
depende da sua posição em relação à parábola
de alinhamento. Quanto mais para frente fica
uma cabeça, mais longo será o seu tempo de
carga (GOLDCHER, 2009, p. 18).

As alterações da marcha, os desequilíbrios do


aparelho locomotor, vão exigindo técnicas e téc-
nicos específicos para um completo diagnóstico
e correção (MADELLA, 2014, p. 5).
Articulação do tornozelo – é através desta arti-
culação que realizamos os movimentos de flexo-
extensão do pé, básicos para marcha e a posição
Figura 23: pisada pronada, neutra e supinada na ponta dos pés o que nos possibilita correr,
Fonte: dançar e saltar. É a mais importante articulação
https://www.mundoboaforma.com.br/diferen- qualificada de movimento e por esta razão
cas-entre-pisada-pronada-neutra-e-supinada/ alguns autores a chamam de “rainha” das articu-
Acessado em 13 fev. 2019. lações (VIANA, 2007, p. 53).

o podólogo entenda e avalie a consequência das Se as cargas não estiverem harmoniosamente


patologias apresentadas (JUSTINO; JUSTINO; envolvidas com a biomecânica dos movimentos
NOGUEIRA, 2009, p. 21). dos pés, podem gerar uma série de lesões, sendo
Há três tipos diferentes de pisadas: supinada que uma das principais lesões é a fratura por
(para fora), neutra e pronada (para dentro) estresse, que representa 4,7% a 30% das lesões
(MAFRA, 2015, p. 23). encontradas em corredores (TOLEDO, 2009, p.
3).
É o período ou intervalo que ocorre entre o
toque inicial do calcanhar, quando essa parte faz Existe um fato normal de balanceio do corpo que
contato com o chão, e termina quando o mesmo faz que varie o peso em cada parte para manter o
calcanhar volta a ter contato com o chão. equilíbrio e preservar as estruturas. Durante a mar-
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cha o peso do corpo passa em um 100% através da to, no esporte de alto nível, os calçados são feitos
pélvis a cada perna (100% a 100%) durante a sob medida individualmente (JUSTINO; JUSTI-
deambulação, chegando ao pé aonde é repartido NO; NOGUEIRA, 2009, p. 93).
pelo astrágalo aonde 75% do 50% que chega a Para o esportista, não existe calçado padrão.
extremidade é para o antepé e o 25% para o retropé Cada elemento do calçado deve ser pensado em
aproximadamente. O antepé esta preparado espe- função do esporte praticado e do terreno.
cialmente para essa função, como triangulo de pro- Existem vários tipos: “sapatos de corrida”,
pulsão, suportando aproximadamente 3 vezes o “tênis” de cano baixo, “tênis” de cano alto, sapa-
peso do retropé durante esta fase, enquanto que o tilha de dança, chuteiras, calçados especializa-
retropé é o triangulo de apoio (COSTALES, 2005, p. dos (esqui), etc (GOLDCHER, 2009, p. 27).
9).
Os estudos feitos com humanos demonstram que
Muitas das atividades esportivas abordadas os sapatos com as solas com maior capacidade de
possuem semelhança nos movimentos executa- amortecimento de impactos provocaram um aumen-
dos, as alterações de patologias apresentadas to da instabilidade nos corredores em cerca de
serão percebidas por detalhes, característica 300%, comparando com sapatos com as solas mais
especifica de cada esporte e do tipo de calçado firmes, outro estudo demonstrou que o calçado mais
utilizado (JUSTINO; JUSTINO; NOGUEIRA, 2009, caro e com maior capacidade de amortecimento de
p. 65). impactos é responsável pelo aumento da frequência
Um dos processos que aumentam o ângulo e a de lesões em 123%, comparando com o calçado
base da marcha com o risco de lesão é o excesso mais barato e com menos capacidade de amorteci-
de pronação ao alterar o apoio plantar. A articu- mento (SILVA, 2006, edição nº 7, p. 25).
lação subtalar alcançará seu grau de pronação
máxima ao desbloquear a articulação mediotar- Obviamente, tanto nessa disciplina como em
siana, causando rotação externa do pé e permi- outras, a eleição do calçado é de extrema impor-
tindo que o mesmo se adapte à superfície do tância; se este é inadequado ou pouco confortá-
terreno (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, vel, provoca lesões e ardores nos pontos de
p. 12). maior atrito, por isto devemos ter em conta a
mecânica do pé e prevenir eventuais traumas nas
7. CALÇADO ESPORTIVO zonas expostas a maiores cargas (CORDAZZU,
1999, p. 12).
O assunto é polêmico se prestarmos atenção à
maioria da publicidade feita pelas principais No início da década de 1900 a Spalding produ-
fabricantes de calçado esportivo, quase sem ziu o primeiro calçado designado especificamen-
exceções todas falam da capacidade de amorte- te para a prática desportiva. Os atletas utiliza-
cimento de impactos das suas tecnologias como vam-no para a competição e era constituído por
sendo a principal qualidade dos produtos que uma sola e uma estrutura superior, ambas em
fabricam, [...] muito poucos referem sequer a couro macio, com atacadores (SILVA P., 2006, p.
estabilidade como característica e/ou benefício 8).
do seu calçado (SILVA, 2006, edição nº 7, p. 25). O relacionamento íntimo e dependente entre o
pé e o calçado os tem colocado sob a mira dos
No esporte, o pé realiza inúmeras funções e, den- assuntos da saúde. A análise cientifica dos calça-
tre elas, destacamos o peso que deve suportar dos vem crescendo sobretudo a partir dos últi-
(levantamento de peso), o equilíbrio e o apoio (surf, mos anos. Quantificam-se tipos de marcha, pres-
vela), a locomoção (marcha, futebol, corrida, salto), são plantar, temperatura do pé no calçado, peso,
o ataque (artes marciais), outros e, para cada espor- materiais utilizados, performance esportiva; e
te, o pé exige um calçado adequado e cada elemen- através de estatísticas tem-se um panorama
to do calçado deve ser pensado na função do esporte antes desconhecido e hoje são um apoio no des-
e do terreno, onde vai ser praticado. É necessário, envolvimento de calçados para os diferentes
portanto, um perfeito ajuste na trilogia pé-calçado- tipos de necessidades dos usuários (FEDRIZZI,
piso (VIANA, 2007, p. 116). 2007, p. 17).
É considerado inadequado qualquer tipo de
Não há forma de abordar o tema podologia no calçado que provoca algum desconforto nos pés.
esporte sem mencionar o tênis, que está em Com o uso continuo do calçado inadequado o pé
constante evolução, embora não se garante que pode se adaptar ao desconforto, provocando
evoluindo de maneira correta, pois deveriam algum tipo de patologia ungueal que pode ser a
levar-se em conta os diferentes tipos e formatos curto ou longo prazo, sendo que a mais comum
anatômicos do pé. Nesse caso, estamos falando é a onicocriptose (JUSTINO; JUSTINO; BOMBO-
de calçados esportivos para amadores, no entan- NATO, 2011, p. 154).
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Um calçado confortável deve respeitar a har- Com o advento do calçado desportivo moderno
monia entre o comprimento e a largura, ou, pri- ciências como a biomecânica e a podologia, pas-
meiramente, o volume do pé em diferentes níveis saram a fazer parte da indústria e terminologias
(colo do pé, metatarsofalangianas, artelhos) como: ciclo biomecânico, pronação, supinação,
(GOLDCHER, 2009, p. 35). estabilidade, amortecimento de impactos, pas-
Utilizar um par de sapatos com as tecnologias sou a fazer parte das palavras utilizadas para
mais indicadas, ou as palmilhas/órteses mais descrever as características do calçado desporti-
preparadas para combater a hipermobilidade por vo (SILVA P., 2006, p. 8).
si só não é uma forma eficaz de prevenir o apa-
recimento de lesões, os diferentes fatores a ter Nisto tem vital importância o calçado, tema
em consideração são: acomodação, calçado, pal- geralmente tratado em forma muito pobre e rudi-
milhas e meias (SILVA P., 2006, p. 23). mentar em todos os âmbitos, especialmente na
área esportiva (PIATTI, 2006, p. 30).
Ao contrário do que acredita a maioria das pesso-
as, meias de algodão não são as mais indicadas, Visto que o pé do brasileiro é mais largo em rela-
isso porque o algodão é hidrófilo (absorve a umida- ção ao tamanho dos tênis encontrados no mercado,
de) e tarda muito a secar. O ideal são meias fabrica- há também a diferença no comprimento dos pés, o
das com uma mistura de algodão e fibra sintética que complica mais ainda na hora da compra dos cal-
(MAFRA, 2010, p. 21). çados. Além de obedecer a um padrão em relação
Tão importante como a raquete são os tênis de ao comprimento, o correto seria fazer um calçado
tênis para o tenista, necessariamente os pés devem numero 37 com variações na sua largura, por exem-
estar confortáveis, justos com os tênis de tênis e que plo, P/M/G, adequando melhor o tamanho do tênis
sintam o solo que pisam, para chegar bem colocado em relação ao tamanho dos pés (JUSTINO; JUSTI-
a cada golpe, em um jogo rápido como é o tênis, de NO; NOGUEIRA, 2009, p. 40).
trocas de direção, deslocamentos curtos, força
explosiva, velocidade de reação, etc. utilizar tênis Muitos calçados não levam em conta a mecâni-
desconfortáveis ou inadequados podem produzir ca do pé ao esforço e o papel preventivo que
lesões nos pés, nos tornozelos, nos joelhos e inclusi- poderiam desempenhar em traumatologia. Cada
ve nas costas (MARTÍNEZ; MARTINEZ; ESCUDERO, componente da órtese é escolhido em função de
2012, p. 15). um reembolso. A multiplicidade das obrigações
impõe uma escolha incompatível com a perfeição
Também é verdade que o pé calçado sofre for- (GOLDCHER, 2009, p. 258).
ças de pressão e abrasão (ainda mais intensas A função da estrutura superior é abraçar e aco-
durante a pratica de atividades desportistas), modar o pé e oferecer apoio. [...] O componente
que são as principais causadoras das lesões dér- seguinte é a sola interior (mais conhecida por
micas (SILVA, 2006, edição nº 8, p. 5). palmilha). [...] Os utilizadores devem ser avisa-
dos que as palmilhas perdem a sua eficácia a
Muitas vezes o tipo de calçado é a causa prin- cerca de ¼ do tempo de vida útil do sapato, e
cipal para formação de calo. O problema não é a que deverão substitui-las quando perderem a sua
pedra no sapato, mas o próprio sapato. O eficácia. (provocada pela compressão) (SILVA P.,
homem moderno vê-se obrigado a utilizar-se de 2006, p. 9).
calçados, mas deveria fazê-lo de forma a não Na atualidade o calçado é responsável de
submeter seus pés a uma pressão constante e inúmeras deformidades e lesões que aparecem
inadequada (VAGLI, 2012, p. 8). no pé, pelo uso inadequado e abuso que come-
A atividade física e os desportos praticados tem as pessoas com esse importante articulo de
sem a adaptação pés/calçado/pavimentos são vestir. “O calçado compra-se para os pés e não
fonte de patologias novas que abrangem as para os olhos” (COSTALES, 2005, p. 9).
unhas e restantes estruturas (MADELLA, 2014, p.
4). 7.1 Estabilidade
Quando calçamos um sapato menor que nosso
pé, os dedos se retraem flexionando-se e ficando A estabilidade é, no entanto a característica
“em garra”. Seu dorso sofre um microtraumatis- MAIS importante do calçado desportivo, espe-
mo repetido com o couro do sapato, que propi- cialmente no que refere à performance, preven-
ciará a formação e higromas (ESPINEL, 2000, p. ção de lesões e, mais importante, ao funciona-
16). mento correto do membro inferior (SILVA, 2006,
edição nº 7, p. 25).
Um calçado confortável é uma das melhores
opções para se prevenir patologias nos pés (PIE- A palmilha deve ter amortecimento nos pontos
DADE, 2002, p. 51). de apoio, porém não deve ser demasiado macia,
www.revistapodologia.com 43
porque o excesso de amortecimento sobrecarre- 20, p. 17).
ga a fáscia plantar afim de estabilizar o pé (é Palmilhas ortopédicas corrigem o alinhamento
muito mais estável pisar em um solo duro do que dos pés, dos tornozelos e dos joelhos, reduzindo
num colchão macio) (MALDONADO; BUEIS; GON- ou eliminando as dores. As palmilhas também
ZÁLEZ, 2014, p. 84). redistribuem as pressões na planta dos pés. A
O mercado, hoje, dispõe de calçados que se pressão é reduzida nas áreas (LIMA, 2015, p.
adaptam a anatomia e biomecânica dos pés, res- 17). Palmilhas para supressão da carga na
peitando a finalidade de seu uso. Quanto ao uso região acometida pelo neuroma de Morton
de meias, a mesma deverá ser adequada para podem ser utilizadas como coadjuvantes
todos os tipos de esportes (CLAUDINO, 2013, p. (MELLO, 2011, edição nº 15, p. 17).
12). Quem faz órtese plantar precisa ter conheci-
Sendo a maioria das lesões o resultado de mento aprofundado de anatomia do corpo intei-
movimentos laterais ou mediais pouco controla- ro, de fisiologia e, em especial, do sistema neu-
dos, podemos afirmar que a estabilidade é a rológico, do sistema osteomioarticular e da pele
característica mais importante a procurar no cal- e seus anexos. [...] Deve-se ter também o domí-
çado desportivo (SILVA, 2006, edição nº 7, p. nio da biomecânica ou, pelo menos, de uma boa
27). base sobre os princípios biomecânicos, as rela-
ções entre as cadeias musculares e as patologias
7.2 Órteses (palmilhas ortopédicas) que interferem na postura e na marcha (BEGA,
2011, p. 4).
É vasto o campo da órtese podal, que vai do
simples emplastro protetor ao calçado ortopédi- Somente a palmilha terá a capacidade de alte-
co (GOLDCHER, 2009, p. 64). rar e redistribuir corretamente as cargas do pé.
Não existe nenhum calçado capaz de obter o
As órteses são utilizadas para muitas condiçõ- mesmo resultado, pois sempre haverá indivíduos
es e lesões diferentes, pois trata-se de um dispo- que terão alterações de um porte de um pé, dife-
sitivo de apoio biomecânico projetados para con- rente do outro pé, transformando tratamentos de
trolar a movimentação das estruturas do pé origem industrializada em verdadeiras utopias
(SILVA P., 2006, p. 21). (TOLEDO, 2009, p. 5).

Todo profissional que decide desenvolver o trabal-


ho de confecção de palmilhas – sendo podólogo gra-
duado, fisioterapeuta ou técnico, e que queira atingir
o nível de excelência – deve ter a plena consciência
de um estudo continuo. Mesmo com o conhecimen-
to adquirido no curso de formação, ainda assim é
necessária a realização de cursos paralelos, de aper-
feiçoamento e atualização, além de leitura diária de
livros direcionados para biomecânica e anatomia
corporal (MALACHIAS, 2013).

As órteses plantares devem ter como modelo Figura 24: Palmilha ortopédica
de base a superfície plantar do cliente. É feita a Fonte: https://centroortopedico.com.br/produ-
partir de um molde neutro em espuma fenólica, tos/palmilhas/
atadura gessada, vácuo direto sobre o pé em Acessado em 13 fev. 2019.
posição neutra ou usando técnicas de vácuo em
posição ortostática sobre moldes emborracha-
dos; também pode ser utilizada a moldadora a 7.2.1 Órteses plantares
vácuo podoprint (BEGA, 2011, p. 4).
O princípio básico é que qualquer órtese que
Os arcos dos pés são classificados em: pé colocamos deverá se adaptar ao calçado e não ao
chato, neutro e cavo. Cada tipo de arco necessita revés, tal e como recomendamos as pessoas
de uma palmilha diferente. Cada tipo de arco comuns. A razão é que os jogadores têm contra-
pode causar diferentes problemas. Pés chatos tos que lhes obrigam a usar um determinado cal-
tendem a pisar para dentro (pronação) enquanto çado e somos nós os profissionais que devemos
pés cavos para fora (supinação). Assim, são fei- adapta-los (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ,
tas com elementos de 1mm a 6mm de espessu- 2014, p. 90).
ra, que, em contato direto com os pés, promo- Em algumas das patologias citadas, uma órte-
vem a correção postural (MELLO, 2012, edição nº se plantar é usada com bons resultados. De fato
www.revistapodologia.com 44
de fibra de memória molecular e de órteses de
silicone, introduzindo essas técnicas na podolo-
gia brasileira (BEGA; LAROSA, 2010, p. 253).
O simples uso de um compensador de silicone,
que melhora o alinhamento do artelho e paralisa
o processo de degeneração articular, pode ser
classificado como uma profilaxia para uma boa
postura, assim como um compensador mal
adaptado que provoque dor e/ou limitação de
mobilidade articular, pode desencadear uma
compensação postural patológica (ROMEIRO,
2004, p. 10).
Figura 25: Silicone podológico - Fonte:
http://podomaxbrasil.com.br/ortoplastia/ O controle da pronação anormal por meio de
Acessado em 13 fev. 2019. órtese plantar reduz o trabalho e a atividade elé-
trica muscular, e, por conseguinte, o gasto ener-
melhorar a uniforme distribuição do peso do gético, evitando a fadiga muscular e permitindo
corpo em todo o pé, e dá maior estabilidade ao atleta manter seu rendimento por mais tempo
entre este e a superfície de jogo. Além disso, mel- (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, 2014, p. 28).
hora a oxigenação do aparelho circulatório e é
indicada principalmente para esportistas que 7.2.2 Órtese ungueal
sofrem de metatarsalgias biomecânicas (COR-
DAZZU, 1999, p. 13). A órtese em unhas nestes casos é utilizada
Todavia, como qualquer dispositivo médico pelo podólogo para favorecer a correção do cres-
ativo, ela tem efeitos colaterais. Uma órtese cimento com tração sobre a unha. No esporte,
inadaptada gera doenças iatrogênicas por sobre- esta técnica além de melhorar o crescimento da
carga ou por excesso de tração (GOLDCHER, unha, previne a formação de granulomas poste-
2009, p. 262). riores ao encravamento por golpes recebidos ou
por uso de calçados inadequados (CORDAZZU,
Merecem destaque na história da podologia no 1999, p. 13).
Brasil as órteses para o antepé, que até os anos
1980 eram fabricadas com materiais como espu- 8. O ESPORTE
ma de látex. Hoje, as órteses são feitas de silico-
ne e muito versáteis, e a ortoplastia é utilizada A técnica de corrida é mais natural ou humana,
por podólogos para absorção de impactos [...], com passos mais curtos e menos traumáticos
entre outras alterações apresentadas na região para o calcanhar, ossos calcâneos especialmente
do antepé, mais precisamente nos dedos (MADE- (RUBIA, 2014, p. 8).
LLA, 2010, p. 9).
Na atualidade, o futebol é considerado o maior
A chegada do silicone podológico ao Brasil esporte do mundo, tanto pelo numero de aficio-
aconteceu oficialmente no ano de 1995, com a nados como de praticantes (265 milhões de
vinda do podólogo argentino Carlos Alberto licenças de jogadores de futebol, FIFA 2007)
Rodriguez, que, em maio de 1995, deu um curso assim como volume de negócios gerados ao

Figura 26: Órteses ungueais


Fonte: https://designsobrancelhas.no.comunidades.net/tratamento-unha-encravada
Acessado em 13 fev. 2019.

www.revistapodologia.com 45
redor desta atividade (MELIS; GARCÍA; GARCÍA; dos atletas em geral, sejam eles profissionais,
PAYÁ; FERRER; RIPOLL; ALONSO; GARCÍA, 2012, amadores ou praticantes de atividades físicas, e
p. 16). mostrar as principais patologias que agridem
seus pés, trazendo soluções adequadas para pre-
Dessa forma, o futebol se transformou no venir lesões e deformidades das mesmas. Achei
esporte que reúne mais seguidores em todo o importante destacar o uso dos calçados na prati-
planeta (MALDONADO; BUEIS; GONZÁLEZ, ca esportiva, que cuidados devemos ter em rela-
2014, p. 10). Nos esportes aquáticos, as pato- ção a isso e descobrir formas de prevenir os des-
logias encontradas geralmente são provocadas confortos causados pelo uso excessivo deles.
pelo contato direto com a água que potencializa
a formação de patologias especificas, diferen- Como é um assunto pouco discutido e que
ciando-as das patologias provocadas por atrito causa muito incômodo aos atletas, acho interes-
em calçados, execução de movimentos bruscos e sante me destacar nesse meio, tendo noções de
impactos (JUSTINO; JUSTINO; NOGUEIRA, biomecânica, e além de tratar uma onicocripto-
2009, p. 48). se, uma bolha por atrito ou até uma tinea pedis,
também poder contribuir nos traumas causados
Segundo Justino, bombonato e Justino (2014) nas atividades esportivas de maior impacto
o esporte na antiguidade era mais um treinamen- como as entorses de tornozelo, que para isso é
to para defesa pessoal, para caça, sua sobrevi- preciso ter um conhecimento maior em anatomia
vência e para a guerra. Com as facilidades da dos pés, ciclo da marcha e movimentos esporti-
vida moderna, os homens se tornaram sedentá- vos, e também, poder oferecer tratamentos como
rios, e isso acarretou várias complicações como as bandagens elásticas que melhoram o desem-
má postura, alterações circulatórias e descalcifi- penho dos atletas atuando na estabilização do
cação óssea. tornozelo.
Uma realidade lamentável é que poucos espor-
tes são valorizados ao ponto de seus praticantes Sobre tudo, acredito que o objetivo foi alcança-
terem acesso a equipamentos e principalmente a do porque apesar de ter pouco conhecimento na
profissionais qualificados para uma boa avalia- área tive muito interesse pelo tema, consegui
ção ou mesmo orientação. Apenas poucos como bastante material de pesquisa e me dediquei em
o futebol, vôlei ou basquete (e isto não são além de fazer um bom trabalho mas também
todos), tem tal recurso (TOLEDO, 2009, p. 3). superar dificuldades, e o principal, que é o apren-
dizado que fica com a finalização deste trabalho
No decorrer das atividades esportistas, o pé de conclusão de curso.
utiliza ao máximo as suas possibilidades, o que
expõe a múltiplas lesões traumáticas e micro- 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
traumáticas (GOLDCHER, 2009, p. 253).
ABELLÁN, L. D.; AGUADO, X.; ORMEÑO, E. J.;
Portanto quem pratica atividade física e espor- MECERREYES, L.; AlEGRE, L. M. Efeitos do exer-
tiva e não tem nenhum tipo de alterações ou cício continuo e intermitente sobre a pegada do
patologias superficiais nos pés pode se conside- pé. 2013. Edição nº 53. Disponvivel em
rar uma pessoa privilegiada (JUSTINO; JUSTINO; www.revistapodologia.com
NOGUEIRA, 2009, p. 43). AGUILERA, J.; HEREDIA, JR.; PEÑA, G. pegada
plantar, biomecânica do pé e tornozelo: proposta
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS de avaliação. 2016. Edição nº 69. Disponível em
www.revistapodologia.com
O fator principal que fez originar este trabalho ÁLVAREZ, M. G. Exploração da dor. 2006.
está ligado à área em que quero me especializar Edição nº 8. Disponível em www.revistapodolo-
na podologia, essa idéia surgiu do princípio de gia.com
melhorar a qualidade de vida dos atletas, bem BEGA, A. Ortopodologia no Brasil – uma visão
como garantir um espaço para eles dentro da do futuro. Revista evolução dos pés. Edição nº 2.
podologia atual, pois nos tornamos um país olím- 2008.
pico e também, onde o sedentarismo é uma das BEGA, A. O universo das micoses e a podologia.
maiores causas de problemas de saúde no Revista evolução dos pés. Edição nº 4. 2009.
Brasil. É preciso atrair a atenção das pessoas BEGA, A. Órteses plantares na podologia.
para esses temas e estimular a mudança para Revista evolução dos pés. 16° edição. 2011.
uma vida saudável, mas também ativa. BEGA, A. Tratado de podologia. 2ª edição. revi-
sada e ampliada. São Caetano do Sul. Editora:
Dessa forma, o trabalho teve como objetivo Yedis. 2014.
apresentar a importância da podologia na vida BEGA, A.; LAROSA, P. R. R. Podologia: bases clí-
www.revistapodologia.com 46
nicas e anatômicas. 1ª edição. São Paulo: Editora sucesso. Revista evolução dos pés. Edição nº 31.
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