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CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA PARA A PRÁTICA

EDUCATIVA
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Maria Alice Guedes Porto
2
Rogério de Almeida Neves
Regina Alonso Gonzalez Pimenta3

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar a contribuição da Psicologia para a prática educativa, à


luz das teorias desenvolvidas por Vygotsky e Piaget. O estudo aborda as convergências e as
divergências entre a teoria sócio-interacionista de Vygotsky, fortemente influenciada pelo
materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, e a teoria construtivista de Piaget,
influenciada por sua formação como biólogo, bem como pela filosofia, que associa sujeito e
conhecimento. A presente pesquisa demonstra, através do referencial teórico, a importância
da Psicologia para a compreensão da ciência social, de modo a permitir uma análise crítica
por parte do leitor, acerca da prática educativa na atualidade, favorecendo a interação entre
educador e educando, na relação ensino-aprendizagem. A opção metodológica foi a
pesquisa bibliográfica, de natureza exploratória em que se buscou evidenciar conceitos e
idéias, por meio das diversas publicações científicas: livros, periódicos, artigos científicos, e
outros. Constata-se que, embora as teorias de Vygotsky e Piaget tivessem sido elaboradas
em determinada época e contexto histórico, estão relacionadas entre si, e são consideradas
atuais, por facilitarem o processo ensino-aprendizagem. Apesar da Psicologia não ter sido
criada com o intuito de responder às questões formuladas no terreno da educação,
compreende-se, que foi nesse campo que esta, mais efetivamente encontrou as bases para
seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, que foi na Psicologia que mais o campo da
Educação fundamentou suas teorias e práticas. A Psicologia, enfim, constitui-se em uma
ciência que tem o poder de transformar o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras Chave: Psicologia. Educação. Vygotsky. Piaget.

1
Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social (Fundação Visconde de Cairu -
FVC/CEPPEV); Especialista em Docência do Ensino Superior (Associação Baiana de Cursos –
ABEC); Especialista em Contabilidade (Universidade Federal da Bahia - UFBA); Bacharel em
Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (UFBA); Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis e
Docente da Faculdade São Tomaz de Aquino; Docente da FTCEAD; Docente da Unime.
2
Especialista em Docência do Ensino Superior (Associação Baiana de Cursos – ABEC); Especialista
em Direito Constitucional (JusPODIVM); Especialista em Direito Administrativo (JusPODIVM;
Bacharel em Direito (Universidade Federal da Bahia - UFBA; Servidor da Secretaria da Fazenda do
Estado da Bahia (Agente de Tributos Estaduais) - Corregedoria.
3
Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social da Fundação Visconde de Cairu
(FVC) – 2005. Especialista em Administração de Recursos Humanos – FVC/CEPPEV; Especialista
em Gestão da Qualidade – UFBA/CETEAD; Graduada em Psicologia – UFBA; Profa. da Faculdade
Metropolitana de Camaçari (FAMEC) e da Associação Baiana de Educação e Cultura (ABEC). Possui
larga experiência em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Humano, Psicologia Organizacional e
Relações Interpessoais.
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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende apresentar uma análise da contribuição da


Psicologia para a prática educativa à luz das teorias desenvolvidas por Vygotsky e
Piaget enfocando as suas concepções de educação a partir dos seus pressupostos,
de modo a associar a prática educacional no contexto da contemporaneidade.
Outrossim, o trabalho aborda as convergências e as divergências entre a teoria
sócio-interacionista de Vygotsky fortemente influenciada pelo materialismo histórico-
dialético de Marx e Engels e a teoria construtivista de Piaget, influenciada pela sua
formação como biólogo e da filosofia, em função do meio em que vivia.
Do mesmo modo, este trabalho apresenta um pequeno estudo acerca da
Psicologia e da Educação, demonstrando as suas importâncias para a compreensão
da ciência social, de modo a permitir uma análise crítica por parte do leitor acerca da
prática educativa na atualidade, favorecendo a interação entre educador e educando
na relação ensino-aprendizagem.

2 TEORIAS DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL

A seguir apresentaremos as teorias de Lev Vygotsky e Jean Piaget,


considerados expoentes da Psicologia da Educação. Vygotsky, com a sua teoria
sócio-interacionista, baseada no marxismo permeia pelo materialismo dialético e
considera que o indivíduo constrói seu conhecimento pela interação social. Piaget,
com sua teoria do construtivismo, insere o sujeito como centro relacionando a
aprendizagem diretamente à sua maturidade psicológica.

2.1 TEORIA PSICOLÓGICA DE LEV SEMEONOVICH VYGOTSKY

Lev Semeonovich Vygotsky nasceu na Bielorrússia, em 17 de novembro de


1896 e viveu na Rússia, cursando Direito, Filosofia e História em Moscou. A partir de
1924 passou a ser colaborador do Instituto de Psicologia, onde promove uma
reconstrução da psicologia, criando sua teoria histórico-cultural dos fenômenos
psicológicos, dedicando-se à educação, ensinou psicologia, prosseguindo seus
estudos de teoria literária e psicologia da arte, até morrer, prematuramente, aos 37
anos de tuberculose.
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2.1.1 Abordagem Sócio-Interacionista

Vygotsky percebeu que poderia haver uma nova maneira de compreender o


comportamento humano e desenvolvimento do cérebro humano, elaborando uma
teoria para a psicologia comportamental de modo diferenciado das demais correntes
vigentes até então, de modo a proporcionar contribuições consideráveis para a
prática educativa (REGO, 1995).
Assim surgiu a psicologia histórico-cultural, baseada nos princípios teóricos do
materialismo histórico-dialético, de Karl Marx e Friedrich Engels, conquistando
avanços na caracterização do desenvolvimento do psiquismo humano.
Considerou o desenvolvimento da complexidade da estrutura humana através
de suas interações sociais, sendo que o sujeito transforma e é ao mesmo tempo
transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura.
Interessava a Vygotsky compreender a relação entre o pensamento e a
linguagem e suas implicações no processo de desenvolvimento intelectual. Para
Vygotsky, a compreensão do indivíduo dependia da internalização das formas
culturalmente dadas de funcionamento psicológico, pois acreditava na não
imutabilidade da essência humana, passando a pesquisar o desenvolvimento do
sujeito na sua interação com o mundo, sua relação com os demais indivíduos, a
origem de seu pensamento e a construção do conhecimento.
Deste modo, Vygotsky atribuiu uma grande importância ao cérebro,
considerando-o como um sistema flexível que servia a novas e diferentes funções,
sem necessidade de transformação, considerando que a sua estrutura e
funcionamento passam por mudanças ao longo do desenvolvimento do indivíduo,
devido à interação deste o meio físico e social.
Conforme Rego (1995), Vygotsky postula que é nas interações entre o ser
humano e a natureza que as funções psíquicas se desenvolvem. Assim, investiga o
surgimento de novas estruturas cognitivas a partir da demanda social, da
necessidade de novos instrumentos de trabalho e de pensamento.
Vygotsky compreendeu que a mediação ocorre quando o indivíduo enquanto
sujeito de conhecimento, não possui acesso direto aos objetos, todavia, este acesso
se dá de forma mediada por recorte do real pelo trabalho e o uso de instrumentos ao
uso de signos. Deste modo, elegeu um papel de importância à linguagem,
considerada como sistema simbólico principal de todos os grupos humanos.
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Sob a influência Marxista, os postulados de Vygotsky provocaram uma ruptura


nos padrões vigentes nas pesquisas sobre fenômenos psíquicos e da caracterização
do ser humano.
De acordo com Zacharias (2007), Vygotsky contextualiza o indivíduo histórica e
socialmente, ressaltando a linguagem e a aprendizagem no seu desenvolvimento
sócio-histórico, a partir da sua interação com o meio.

2.1.2 Contribuições de Vygotsky para a Educação

As contribuições da teoria de Vygotsky são extremamente importantes para a


educação, oferecendo reflexões acerca da formação das características psicológicas
humanas, gerando questionamentos e transformações na prática educativa,
possibilitando análise psicológica de questões referentes ao ensino, de modo a
induzir reavaliação neste campo.
A teoria Vygotskiana, todavia, não delibera soluções de ordem prática nem
metodologias para a prática educativa cotidiana. Ao desenvolver, entretanto, o
conceito de zona de desenvolvimento proximal - conhecimentos já adquiridos e
outros, que para serem adquiridos, dependem da participação de elementos mais
capazes para se efetivarem-, Vygotsky traz elementos essenciais para o
entendimento da integração entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento (REGO,
1995).
Desta maneira, a escola desempenhará bem seu papel se partindo daquilo que
o aluno já sabe for capaz de ampliar e desafiar a construção de novos
conhecimentos, ou na teoria Vygotskiana, incidir na zona de desenvolvimento
proximal dos alunos, estimulando processos internos que se efetivarão e constituirão
a base de novas aprendizagens.
Assim, a escola ao proporcionar conteúdos e desenvolver modalidades de
pensamento próprio, possui um papel único para o desenvolvimento do ser humano,
pois detém um modo elaborado de analisar o pensamento conceitual.
Para Vygotsky, o acesso à escola não é garantia da construção do
conhecimento já este processo é dependente da qualidade do ensino oferecido.
Deste modo, Vygotsky contribuiu para fomentar uma avaliação mais criteriosa do
papel da escola. A sua teoria indica a necessidade de condições adequadas na
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escola, no sentido de que se permita aos alunos acesso às informações e


experiências que os levem à construção do conhecimento.
Vygotsky aponta para a necessidade da internalização para que haja a
construção do conhecimento. Internalização é a reconstrução interna de uma
operação externa, ou seja, a passagem do processo interpessoal (processo social)
para o intrapessoal (processo individual).
Os postulados de Vygotsky ressaltam as qualidades do indivíduo nas
transformações, de forma ativa, nos diferentes contextos culturais e históricos,
devido ao desenvolvimento das funções superiores.
Vygotsky suscita uma nova forma de valorizar as interações sociais entre o
aluno e o professor, a partir de uma nova visão da heterogeneidade, em que esta é
valorizada e não mais repudiada na sala de aula. Assim, os diversos
comportamentos, experiências, contextos familiares, valores e níveis de
conhecimentos de cada criança, bem como do professor, passam a conferir a troca
de repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua, de modo a ampliar as
capacidades individuais (REGO, 1995).
Neste contexto, o sujeito passa a ser sujeito ativo e também interativo quanto
ao seu processo de conhecimento. Porém, para Vygotsky, apenas a atividade
individual da criança não é o bastante para que se dê a construção dos
conhecimentos já há muito acumulados pelo homem. Assim, confere importância ao
papel do professor, que, munido de experiência e conhecimento acumulado, auxilia
no desenvolvimento individual da criança.
Conforme Fartes (2007), o papel da imitação no aprendizado possui grande
valor para a teoria de Vygotsky, pois se constitui como base para as experiências
compartilhadas, já que este não considera a forma mecânica e tradicional de
aprendizagem, em que trata as crianças como seres capaz de imitar qualquer coisa.
Desta forma, Vygotsky considera a imitação como uma maneira pela qual a
criança consolida funções que estão em processo de amadurecimento, imitando
apenas, o que está potencialmente pronto para aprender e construir, sendo
responsável pela criação da zona de desenvolvimento proximal, construindo o
desenvolvimento potencial, transformando-o em desenvolvimento real.
Assim, pela imitação, a criança internaliza regras de conduta, valores, modos de
agir e pensar de seu grupo social, que passam a orientar o seu próprio
comportamento e desenvolvimento cognitivo.
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Rego (1995) destaca em Vygotsky, a necessidade na redefinição do papel do


professor, que deverá abstrair a concepção de um mero agente exclusivo de
informação e formação dos alunos, já que as interações entre as crianças são
possuidoras de considerável papel no favorecimento aos avanços no
desenvolvimento social.
Desta maneira, como guia e mediador do processo de desenvolvimento, o
professor possui grande importância e papel ativo no processo ensino-aprendizagem
ao promover as interações entre os alunos e os objetos de conhecimento.

2.2 TEORIA DA PSICOLOGIA GENÉTICA DE JEAN PIAGET

Piaget estudou epistemologia – Teoria do Conhecimento – ao mesmo tempo em


que continuava seus estudos na biologia, sendo que os progressos realizados na
epistemologia o conduziram a considerar, após um estudo sobre a epistemologia da
biologia como ciência, um trabalho sobre a teoria do conhecimento em geral, porém,
vista pelo ângulo da biologia.
Piaget estudou de que modo o desenvolvimento da inteligência do indivíduo
sofre influências da sua interação social, constituindo este estudo de grande
importância para a Educação.
Conforme Cano (2002), Piaget pretendia responder uma questão que
considerava de fundamental importância: como o Homem conhece? Fez isto
utilizando a Biologia genética, em que destaca a importância das trocas entre o
organismo e o meio ambiente, como responsáveis pelo desenvolvimento do
indivíduo.
Assim, ao tratar de como o homem conhece, Piaget evidencia a importância da
estimulação do meio, pois as trocas entre o organismo e o meio é que serão
responsáveis pelo desenvolvimento do sujeito. O conhecimento é entendido como
elemento fundamental na compreensão do ser humano, já que o conhecimento se
refere a uma estruturação do vivido por cada indivíduo.
Entretanto, para Piaget, o conhecimento é decorrente de um conhecimento
anteriormente já possuído pelo indivíduo, o que chama de estrutura. Assim, o
indivíduo ao nascer traz consigo estruturas que tendem para o desenvolvimento do
conhecimento, que ao se relacionarem com o mundo, acabam por se modificar, de
forma a intensificar as relações entre o indivíduo e o meio, cabendo ao o mundo o
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papel de um estimulador para que o processo de construção do conhecimento


ocorra, considerando o conhecimento como elemento fundamental para a
compreensão do individuo.
Conforme Zacharias (2007), Piaget considera o desenvolvimento como uma
teoria de etapas, em que pressupõe que o indivíduo passa por uma série de
mudanças ordenadas e previsíveis, constituindo-se no desenvolvimento cognitivo.
O pressuposto básico da sua teoria é o interacionismo, a idéia de construtivismo
seqüencial e os fatores que interferem no desenvolvimento. Para Piaget, a criança é
concebida como um ser dinâmico, interagindo constantemente com a realidade,
operando ativamente com objetos e pessoas, fazendo com que as estruturas
mentais passem funcionar. Assim a interação organismo-meio se dá por dois
processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções
exercidas pelo organismo ao longo da vida.
Piaget entende que processo de desenvolvimento tem influência de fatores, tais
como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento
dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos), aprendizagem social
(aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e
equilibração (processo de auto regulação interna do organismo, que se constitui na
busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).
No processo de construção do conhecimento, Piaget afirma que o ser humano
irá acrescentar algo, a partir do que já conhece, através de processos dinâmicos,
que permitem uma melhor adaptação deste ao meio. A estes processos, Piaget
chamou de assimilação e acomodação.

1. assimilação: integração de conjunto de experiências que o indivíduo possui


anteriormente, sendo determinada por este;
2. acomodação: processo de criação de novas formas do indivíduo se
relacionar, a partir do ajuste da estrutura a uma nova situação particular,
sendo determinada pelo objeto.
De acordo com Salvador, e cols. (2000 apud CORREA; LIMA; ARAÚJO, 2001),
quando o indivíduo não consegue apreender novos conhecimentos aparecem os
desequilíbrios, que são os conflitos cognitivos, fazendo-o recorrer à equilibração,
para que consiga adaptar-se ao meio. Conforme os autores, a equilibração é o
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âmago do desenvolvimento cognitivo, que, pela teoria dos estágios, o ser humano
passa na construção do conhecimento.
A equilibração entre a assimilação e a acomodação produz a adaptação e a
organização do pensamento. Assim, a ação do indivíduo está diretamente
relacionada ao estágio de desenvolvimento em que se encontra.
O início dos estágios se dá pelo processo nas ações sensório-motoras, e vai até
aproximadamente um ano e meio de idade, passando, depois, para o período
seguinte, - o pré-operatório, indo de aproximadamente dois até os sete anos de
idade; em seguida, tem-sde o período operacional concreto, aproximadamente dos
sete aos onze ou doze anos de idade; o último é a fase humana, operatório-formal,
que se forma aproximadamente a partir dos doze anos em diante. Desta maneira,
para Piaget, a aprendizagem se constitui de um processo adaptativo que se
desenvolve através do tempo, conforma as respostas do sujeito a estímulos.
O postulado de construção do conhecimento formulado por Piaget trata da
interação com o meio pelo qual o indivíduo encontra situações diversas que o
conduz à elaboração de hipóteses, pelos processos de assimilação e acomodação,
com o objetivo de explicar os fenômenos que se sucedem no seu próprio meio.
Embora Piaget trate o social como subjacente ao cognitivo, diferentemente de
Vygotsky, em que a interação social é fundamental para o desenvolvimento
cognitivo, não se pode firmar que Piaget não deu atenção ao social, pois como
biólogo, retirou seus conceitos teóricos da Biologia, transportando-os para uma
abordagem psicológica.
Desta maneira, acredita-se que no construtivismo de Piaget, o social torna-se
presente pela representação biológica, ao tratar da interação entre organismo e
meio ambiente. Assim, a teoria piagetiana contempla o desenvolvimento psíquico
como resultado do desenvolvimento das relações do indivíduo com o seu meio,
portanto, com o social, permitindo assim, a construção do processo de cognição.
Apesar de Piaget ressaltar a importância da estimulação do meio como
responsável pelo desenvolvimento do ser humano, na sua Psicologia Cognitiva o
sujeito do conhecimento, bem como da psicologia, é o sujeito epistêmico. Sujeito
este que é ao mesmo tempo ativo e interativo. Assim, para Piaget a associação
entre o sujeito e o conhecimento, passa a ser conhecida como construtivismo, sendo
o conhecimento produto da interação de uma inteligência sensório-motora com o
ambiente.
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Na sala de aula, a construção do conhecimento pelo construtivismo é realizada


pelos estímulos que o professor provoca nos alunos. Conforme as respostas aos
estímulos vai se dando a construção do conhecimento; uma relação entre sujeito
(aluno) e meio (professor). Este é o processo do interaciocismo de Piaget, que se
constitui no desenvolvimento do ser humano pela relação entre o sujeito e o objeto,
permitindo o desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período sensório- motor até
o operatório abstrato.

2.2.1 Contribuições de Piaget para a Educação

Em Zacharias (2007), encontramos as implicações do pensamento piagetiano


para a aprendizagem:

a) os objetivos pedagógicos necessitam estar centrados no aluno,


partir das atividades do aluno;
b) os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas
como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo
natural;
c) primazia de um método que leve ao descobrimento por parte do
aluno ao invés de receber passivamente através do professor;
d) a aprendizagem é um processo construído internamente;
e) a aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito;
f) a aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva;
g) os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da
aprendizagem;
h) a interação social favorece a aprendizagem;
i) as experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de
modo a privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de
pontos de vista na busca conjunta do conhecimento.
As teorias piagetianas repercutem bastante na esfera educacional,
principalmente no que se refere ao desenvolvimento humano. Assim, o interesse da
educação escolar é de natureza pedagógica, social e prática de forma a possibilitar
o desenvolvimento do sujeito para toda a vida, com a garantia da continuidade e a
valorização dos bens transmitidos, sendo o sujeito psicológico ou individual que
interessa à educação (CHAKUR, 2007).
Piaget entende o desenvolvimento do conhecimento pelas trocas entre sujeito e
objeto, sendo que a concepção educacional de desenvolvimento prevê a intervenção
planejada e sistematizada em situação de ensino.
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Deste modo, Piaget legou uma teoria sólida, permitindo compreender como o
indivíduo aprende, de acordo com as fases do desenvolvimento intelectual voltada
para o sujeito epistêmico.

2.3 CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE VYGOTSKY E PIAGET

Acredita-se que existem vários pontos de convergência entre Vygotsky e Piaget,


expoentes da Psicologia da Educação. Muitos dos seus postulados são aplicados na
Educação tanto no Brasil quanto em várias partes do mundo devido às suas
grandiosas contribuições para a prática educativa.
Percebe-se convergências entre os dois teóricos, na abordagem interacionista,
cognitivista e construtivista, já que seus postulados possuem esta abordagem em
comum, apesar de Vygotsky evidenciar a construção do conhecimento a partir da
teoria marxista, em que o interacionismo é baseado no social e no contexto histórico
em que vivia.
Piaget, ao seu turno, como epistemologista, desenvolveu o construtivismo na
tentativa de descobrir como o Homem conhece, utilizado o conceito da biologia,
partindo do pressuposto de que o conhecimento sempre parte de uma estrutura que
o individuo já possui, sendo que a sua relação com o mundo se dá na medida em
que se expande seu conhecimento prévio.
Apesar de cada um perceber o social de modo diferente, ambos são
interacionistas e enfatizam a relação entre o sujeito e o meio na construção do
conhecimento.
Todavia, Piaget, em seu postulado construtivista, insere o indivíduo como
centro, relacionando a aprendizagem diretamente à sua maturidade psicológica, e
considerando o desenvolvimento cognitivo como um sistema dinâmico e como uma
construção sempre contínua. O conhecimento é resultado da interação entre sujeito
e objeto, em que o instrumento inicial do conhecimento seria a ação.
Vygotsky, ao contrário, em sua teoria considera o meio social essencialmente
importante para o indivíduo na construção do conhecimento, concebendo este
indivíduo como social, sendo que os processos psicológicos superiores, tais como
comunicação, linguagem, raciocínio, etc., primeiramente são alcançados
socialmente, para depois, então se internalizarem.
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Para Piaget, o construtivismo é fundamentado no modelo biológico da interação


entre organismo e meio ambiente.
Vygotsky atribui grande importância ao trabalho da zona de desenvolvimento
proximal, isto é, aquele que se situa no âmbito daquilo que a criança não consegue
fazer sozinha, mas o consegue aprendendo com o adulto.

2.4 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA A PRÁTICA EDUCATIVA

São várias e importantes contribuições da Psicologia para a prática educativa.


Conforme Coll; Palácios e Marchesi (1996), a Psicologia da Educação estuda os
processos educativos e tem por finalidade contribuir para:

1. elaboração de uma teoria explicativa dos processos educativos;


2. elaborar modelos e programas de intervenção destinados a atuar sobre
eles com uma finalidade determinada;
3. estudar os processos educativos em uma tríplice dimensão:
 teórica ou explicativa: procura a elaboração de modelos
interpretativos dos processos de mudança estudados;
 projetiva ou tecnológica: tem por objetivo contribuir no planejamento
de situações ou atividades educativas capazes de induzir ou
provocar determinados processos e tipos de mudança nas pessoas
que dessas participam;
 prática ou aplicada: orientada à intervenção e à resolução de
problemas concretos, que surgem na preparação e no
desenvolvimento de atividades educativas.

Ainda conforme os autores, a Psicologia da Educação é compreendida por dois


grandes conjuntos de conteúdos:

1) relativos ao processo de mudança comportamental: fatores interpessoais


ou internos do aluno: mais importantes: maturidade física e psicomotora,
mecanismos de aprendizagem, nível de estrutura de conhecimentos prévios,
nível de desenvolvimento evolutivo, características relacionadas às aptidões,
características afetivas, etc.;
2) relativos aos fatores ou variáveis das situações educativas, direta ou
indiretamente responsáveis pelos mesmos: fatores ambientais ou próprios da
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situação ensino-aprendizagem: característica do professor (capacidade


intelectual, conhecimento da disciplina, capacidade pedagógica,
características afetivas); os fatores de grupo e sociais (relações
interpessoais); as condições materiais (recursos didáticos e meios de ensino
em geral) e as intervenções pedagógicas (métodos de ensino), etc.
A figura a seguir apresenta as subáreas da Psicologia que possuem papel de
destaque na Educação:

Psicologia da Psicologia do
Psicometria Aprendizagem Desenvolvimento

Figura 1 -Subáreas da Psicologia que possuem papel de destaque na Educação

Deste modo percebemos que a Psicologia da Educação, pelas suas


concepções, proporciona uma melhor compreensão dos processos educativos, com
a intenção de modificação comportamental tanto na teoria quanto prática, visando à
dissolução de problemas ligados à prática educativa.
Portanto, a Psicologia da Educação atua no processo de desenvolvimento do
indivíduo, bem como na sua socialização, tendo como base os pressupostos
psicológicos educativos, intervindo, transformando e contribuindo para a construção
do conhecimento ligado à educação.
No campo da formação de professor profissional, a Psicologia insere a questão
da pluralidade, bem como da interação entre a teoria e a prática, gerando um
pensamento reflexivo e contribuindo para uma melhor compreensão do professor em
relação ao aluno (LAROCCA, 2000).
O desenvolvimento desta visão reflexiva por parte do professor o sensibiliza
para o entendimento do comportamento do aluno, gerado a partir das suas vivências
tanto dentro, quanto fora da sala de aula. Corroborando, Ausubel alerta para a
necessidade de realização de pesquisa aplicada pela Psicologia da Educação nas
questões que permeiam os processos educativos.
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Assim sendo, entende-se que a Psicologia da Educação leva o professor a


perceber o aluno como individuo integral e multidimensional, de modo que possa
aplicar métodos e práticas educativas que proporcionem seu desenvolvimento
global, para atuar como fomentador de desenvolvimento de perspectiva crítica da
realidade por parte do aluno, a partir da interação teoria-prática – vivência da
realidade e interação com o seu meio. Ao agir deste modo, o professor
compreenderá sua importância nas transformações sociais.
A Psicologia da Educação aborda que o professor, na sala de aula, deve ter a
sensibilidade para perceber que não existe um único método para a aprendizagem,
pois cada aluno tem sua individualidade e percepção de vida, sendo que o
conhecimento deverá ser construído pelo diálogo e interação aluno e professor,
garantindo desta forma o aprendizado do aluno, por toda a sua vida, pois o aprender
se constitui na construção intelectual, cognitiva, motora e afetiva.
Isto vem a corroborar com Pimenta (2002), quando fala da necessidade do
professor proceder à identificação dos seus alunos, procurar conhecer seus desejos,
suas dificuldades, tomando o aluno sempre como sujeito, de modo que este possa
reconhecer seu papel na construção do seu próprio conhecimento. Assim,
acreditamos que o professor, tem o papel de estimular a aprendizagem, de modo a
favorecer a construção do aprendizado para a vida, objetivando satisfazer o social.
A Psicologia da Educação tem se revelado extremamente construtiva para o
ensino, pois contribui significativamente para a aprendizagem escolar ao aplicar as
leis do psiquismo humano nos processos educacionais.
Uma das principais contribuições da Psicologia para a educação está nos
postulados de Vygotsky que, fortemente influenciado pela teoria marxista, propôs a
transposição desta teoria da esfera sociológica para a esfera psicológica, e ainda
que seus postulados apresentassem, também, o sentido social como no marxismo,
eles atribuíam importância ao sentido individual do ser humano.
Assim, esta teoria respeita a individualidade de cada um, como ser único, sendo
que a subjetividade pessoal é construída a partir das experiências vivenciadas.
Deste modo, entendemos que Vygotsky é um dos expoentes para o processo
ensino-apendizagem, que apesar de ter sido instituída em determinado contexto
histórico - revolução russa -, se faz completamente atual na contemporaneidade.
A abordagem de Vygotsky que considera o desenvolvimento do conhecimento
pela interação do individuo com o meio é pertinente para o processo educativo, pois
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ao promover a sua socialização com o meio, este é capaz de ser sujeito de


transformação deste meio e ao mesmo tempo ser transformado por ele (meio).
Desta maneira, entende-se a natureza aplicada da Psicologia da Educação
como promotora da aprendizagem de maneira relacional, em que a interação entre
individuo e meio é imprescindível para a construção do conhecimento.
Assim, percebe-se a natureza do indivíduo como sendo construída pelas
diversas relações sociais dialéticas instituídas ao longo de sua vida, permitindo
contradições e alterações constantes, pelo descobrimento de novos conhecimentos
de modo complexo, em que as transformações, reorganizações, interações são
necessárias à evolução natural.
Deste modo, o ser humano passa a contribuir como sujeito ativo, interativo e
histórico no processo de transformação da realidade, corroborando Vygotsky,
quando aborda que a transformação é capaz de produzir o novo pela síntese
dialética.
Conforme Bock (2002), Vygotsky destacou a internalização como um processo
que está presente no desenvolvimento das funções psicológicas complexas. Assim,
entende-se que o processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento
psicológico do individuo. Neste processo ocorre a transposição do externo, que
modificado, passa a ser interno, de modo a transformar o interpessoal em
intrapessoal, pela interação social do indivíduo com signos e materiais culturais
(linguagem, conceitos, idéias), pertencentes ao meio.
A internalização é constituída por uma atividade mental, de construção do
conhecimento do sujeito não apenas de forma ativa, mas interativa, formado a partir
de relações intra e interpessoais, favorecendo o desenvolvimento dos processos
cognitivos superiores.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho resgatamos as teorias de Vygotsky e Piaget e as suas


contribuições para a prática educativa. Do mesmo modo, analisamos os pontos de
convergência e de divergência entre esses teóricos a partir de suas visões e
contexto histórico que cada uma dessas teorias foram elaboradas, sendo que ambas
são de fundamental importância no contexto escolar.
Pode-se afirmar que, embora cada uma delas tivesse sido elaborada em
determinada época e contexto histórico, ambas se relacionam entre si, bem como se
fazem totalmente presentes no momento atual, para a promoção da aprendizagem.
Em relação aos postulados de Vygotsky, afirmamos que a sua ênfase à
interação social é extremamente importante na construção do conhecimento, pois é
nesta interação que o sujeito é transformado pelo meio e o transforma também.
Assim, dá-se o processo de aprendizagem – uma troca constante entre indivíduo e
meio.
Transpondo para a sala de aula, esta teoria se aplica quando há a interação
entre os alunos e estes com os professores. As experiências vividas por cada um
deles, nos diversos campos, como pessoal, profissional, afetivo etc., constituem-se
verdadeira fonte de saber a ser repartida entre todos, como forma de
desenvolvimento cognitivo, resultando em um novo produto, fruto dessa interação,
uma síntese dialética.
Percebemos a importância da aplicação prática do conceito de zona de
desenvolvimento proximal, desenvolvido por Vygotsky, em que as possibilidades
cognitivas do aluno não se encerram no que sabem fazer, mas pelo que podem
aprender a fazer a partir de conhecimentos adquiridos através de outras pessoas
que já possuem um nível de conhecimento maior.
Verificamos da mesma forma, que a teoria construtivista postulada por Piaget
se faz presente na atualidade, sendo de fundamental importância para a educação.
Para o construtivismo, o conhecimento é resultado da interação entre sujeito e
objeto, sendo o sujeito como aquele que detém as estruturas internas e objeto como
detentor de caracteres preexistentes. Deste modo, o sujeito, a partir de sua própria
experiência interna, constrói seu conhecimento.
Em ambas as teorias não existe a figura do professor como aquele que
apenas expõe o assunto de maneira expositiva, mas sim um professor que estimula
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o desenvolvimento do conhecimento pela interação na sala de aula, levando em


consideração o que o aluno já possui de conhecimento.
Assim, entende-se que a interação entre os alunos e entre estes e o professor
faz com que o processo ensino-aprendizagem seja permeado pela elaboração do
conhecimento para toda a vida, pelo próprio aluno como sujeito ativo no processo.
Deste modo, compreende-se que a Psicologia se constitui em uma ciência
que tem o poder de transformar o processo de ensino-aprendizagem, a partir de
suas teorias, como a cognitiva, por exemplo, que representa a construção do
conhecimento pelo sujeito ativo e transformador da realidade.
Este trabalho não tem pretensões de esgotar o assunto e entende-se que
sempre haverá espaço para a discussão acerca da psicologia e a educação.

REFERÊNCIAS

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