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INTRODUÇÃO

O contrato de factoring é tipo contratual corrente em outros países de


economia semelhante à nossa (Estados Unidos, França, Inglaterra), e tem tido maior
desenvolvimento no Brasil nos últimos anos, o que faz crer que em breve tempo terá
ingresso na nova tipologia contratual brasileira.

O Factoring é modalidade contratual que se situa entre o desconto mercantil de


título cambial, a cessão de crédito, a sub-rogação convencional de obrigação,
o seguro de crédito, o mandato mercantil. Trata-se de ato negocial ainda em fase de
criatividade no nosso meio.

Pelo Factoring, uma pessoa (factor ou faturizador) recebe de outra (faturizado)


a cessão de créditos oriundos de operação de compra e venda e outras de natureza
comercial, assumindo o risco de sua liquidação. Incumbe-se de sua cobrança e
recebimento, cujo líquido transfere de imediato ao cedente ou faturizado.

Pelo fato de assumir os riscos, não tem ação de in rem verso contra o
faturizado. Por esta razão ainda, deve ter a liberdade de escolher os créditos antes de sua
cessão. Pelo fato de prestar um serviço de cobrança, tem uma remuneração percentual
sobre os resultados obtidos.

Trata-se, assim, de um contrato oneroso, consensual e bilateral.

Subjetivamente considerado, são partes nele o factor ou faturizador que recebe


a cessão dos créditos e o faturizado ou cedente, que a efetua. O devedor não é parte do
contrato, embora sobre ele percuta a sua fase executória.

Tendo em vista a sua larga utilização nos países desenvolvidos, é de prever sua
introdução em nossas práticas mercantis.
CONCEITO E ORIGEM

O contrato de faturização ou factoring é aquele em que um empresário cede a


outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o
primeiro do segundo o montante desses créditos, mediante o pagamento de uma
remuneração.

Este contrato, de que se vem fazendo uso em diversos países, em larga escala,
não está regulado em lei, resultando o conceito acima de suas características. Usamos de
preferência o termo faturização para nomear o contrato, donde empregamos faturizador
(factor) e faturizado para indicar as partes intervenientes no mesmo. Em quase todos os
países que admitem a faturização, o agente é chamado pelo termo original factor, e o
contrato conhecido como factoring.

A origem da faturização ou factoring remonta à mais longínqua antiguidade


quando, na Grécia e em Roma, comerciantes incumbiam a agentes (factor),
disseminados por lugares diversos, a guarda e a venda de mercadorias de sua
propriedade. Posteriormente, o costume se difundiu na Idade Media, principalmente
entre os comerciantes dos países mediterrâneos.

Depois dos grandes descobrimentos, a instituição de factors ou agentes de


venda e cobrança de mercadorias teve grande desenvolvimento nos países onde o
comércio mais se expandia, tais como a Inglaterra, Holanda, Espanha e França.

Com a descoberta e colonização da América, factor de comerciantes ingleses


passaram a operar nesse país, notando-se que tal modo de comerciar era bastante
propício para os países distantes, sobretudo em face das dificuldades dos transportes, de
que a instituição dos factors foi uma consequência direta.

Em tal época, os factors, também chamados de agentes, nada mais eram do que
comissários dos vendedores, recebendo dos mesmos mercadorias que se encarregavam
de vender e cobrar o preço, sobre o qual tinham uma comissão.

Com o correr dos tempos, principalmente em virtude da disseminação do


factoring nos Estados Unidos, passaram os factors a encarregar a terceiros , o
recebimento, a guarda e venda das mercadorias, ficando eles apenas com o encargo do
recebimento das vendas, antecipando, entretanto, aos vendedores o valor das mesmas,
deduzida uma comissão que era a remuneração do factor.

O ramo principal em que operavam era o de produtos têxteis, em maior escala


produzidos pela Inglaterra; mas, em quantidade reduzida, operavam também sobre a
venda de outros produtos, como o trigo.

Nos Estados Unidos, o factoring, por várias circunstâncias especiais


(notadamente por não utilizar esse país o desconto bancário), teve grande expansão,
mais ainda operando quase que exclusivamente na indústria têxtil (ainda hoje, cerca de
90% das operações de factoring nos Estados Unidos são relativas aos produtos têxteis,
dado que na venda desses produtos é costume dar o vendedor ao comprador um prazo
que vai até a 120 dias para o pagamento das vendas - e com a faturização o vendedor
recebe logo do factor o produto de suas vendas).

Assim, enquanto declinava na Europa a utilização do factoring, essa maneira de


negociar se expandia em larga escala nos Estados Unidos.

Aponta Newton de Luca que seu desenvolvimento no comércio norte-


americano deveu-se provavelmente ao fato de que os bens produzidos pelos empresários
destinados à clientela somente poderiam ser absorvidos por esta se os prazos de
pagamentos fossem dilatados.

Evoluiu, desse modo, o factoring de um simples contrato de comissão para


constituir um contrato em que o factor assume a posição de financiador dos
empresários, adquirindo os seus créditos, mediante o pagamento dos mesmos em épocas
aprazadas, mas, em regra, antes do vencimento.

Uma abundante legislação foi posta em prática na Inglaterra e nos Estados


Unidos, regulando as atividades dos factors; o mais antigo factor's Act da Inglaterra é de
1823 e o último de 1889. Nos Estados Unidos, vários Estados baixaram leis especiais a
respeito.

A palavra faturização, utilizada em nosso vernáculo, não é tradução do termo


original. Trata-se de neologismo cujo som se aproxima do vocábulo inglês e nos dá
ideia de fatura, faturamento, que, em sentido leigo, se aproxima do sentido do instituto.

FACTORING ANTIGO E O MODERNO

A história do factoring tem, assim, duas etapas distintas: o factoring antigo, em


que o factor era apenas um comissário do vendedor, e o factoring moderno, que é o
predominante hoje.

Essa mudança de orientação se fez lentamente, enquanto as operações de


faturização se ampliavam nos Estados Unidos e se extinguiam na Europa.

A primeira sociedade de faturização dos Estados Unidos foi fundada em 1808;


no fim do século já não existiam sociedades de faturização na Inglaterra nem no restante
da Europa.

Mediante a adoção de leis sucessivas, em vários Estados americanos, o


factoring passou a ser considerado como uma operação em que um empresário, factor,
adquiria os créditos de um outro empresário, responsabilizando-se pela cobrança dos
mesmos, sem direito de regresso contra o cedente, mediante o pagamento de uma certa
comissão.
Não sendo usado na América o desconto bancário, as empresas de factoring
exercem uma atividade bancária; vários bancos possuem departamentos especializados
para operar em factoring, o que fazem não apenas nos Estados Unidos, mas igualmente
na Europa.

Foi nesse estilo que o factoring foi reintroduzido na Europa. Ele ressurgiu, na
Inglaterra, em 1960, e daí passou para o continente, hoje existindo várias sociedades de
factoring em vários países europeus.

Como aponta Arnaldo Rizzardo, o sentido tradicional de factoring não oferece


maiores dificuldades porque

"se está diante de uma relação jurídica entre duas empresas, em que uma delas
entrega à outra um título de crédito, recebendo, como contraprestação, o valor constante
do título do qual se desconta certa quantia, considerada a remuneração pela transação.

ELEMENTOS PESSOAIS

O contrato de faturização tem como elementos pessoais o faturizador (factor) e


o vendedor, também chamado aderente, fornecedor ou faturizado. A essas pessoas se
junta uma terceira, que é o comprador do vendedor, dando-se a essa os nomes de
comprador, cliente ou devedor.

O contrato se faz entre o faturizador e o faturizado ou vendedor, sendo


necessário o comprador apenas porque são os créditos que o vendedor tem contra ele
que vão ser cedidos ao faturizador. Tanto faturizador como vendedor devem ser
empresários, donde o contrato de faturização ser por natureza empresarial.

Em princípio, a faturização é feita por empresas não bancárias, o que acontece


principalmente nos Estados Unidos, em que não se pratica comumente o desconto
bancário. Nada impede, entretanto, que um banco tenha um setor especial para a
faturização, não se compreendendo, entretanto, as operações realizadas nesse setor
como operações normais de desconto ou de cobrança, dada a disparidade existente entre
as mesmas.

Nada impede, também, que o faturizador negocie com um banco os créditos


que lhe são cedidos pelo faturizado, dando-os em garantia de empréstimos realizados ou
mesmo os descontando. Em tal hipótese, o faturizador responde, regressivamente,
perante o banco, pelos prejuízos por esse havidos na recuperação das dívidas. Mas o
fato em nada afeta o faturizado, que nenhum contrato fez com o banco e, por isso
mesmo, nenhuma responsabilidade suplementar tem para com o mesmo, visto ser da
essência da faturização que o faturizador assuma os riscos pela não recuperação do
crédito que lhe foi cedido.
Tanto faturizador como faturizado pode ser pessoa física ou jurídica, desde que
seja empresário. Em regra, entretanto, o faturizador é uma pessoa jurídica pelos
encargos que assume ao receber o crédito em cessão.

Quanto ao devedor ou comprador, que é a pessoa que compra ao faturizado,


esse pode ser uma pessoa física ou jurídica, empresário ou não. A faturização pressupõe
sempre uma venda a prazo, donde as vendas à vista ficarem fora do âmbito desse
contrato. Havendo uma cessão de crédito, o comprador será notificado da mesma,
devendo efetuar o pagamento em mãos do faturizador. Se, por acaso, o faturizado
receber a importância da venda, o faz como mandatário do faturizador, devendo remeter
o produto a este.

EXTINÇÃO DO CONTRATO

Vários são os casos em que pode extinguir-se o contrato de faturização. Em


primeiro lugar, sendo constituído por um acordo de vontades, pode extinguir-se também
por mútuo acordo. Em virtude de ser um contrato intuitu personae, poderá a sua
extinção se verificar ocorrendo mudança de estado de um dos contratantes. Extingue-se
também pela decorrência do prazo, mas em regra trazem os contratos uma cláusula de
renovação automática ao atingir o seu fim.

Pode, por igual, extinguir-se também unilateralmente. Em tal caso, deve


preceder aviso prévio da parte de que intenta a resilição. Cláusula a esse respeito, em
regra, consta do contrato, mas a sua não inserção não afasta o aviso prévio, já que o
contrato é de execução continuada. No caso de extinção, deverão ser liquidadas as
operações iniciadas, ainda que essa liquidação se verifique depois de extinto o contrato.

Também é motivo para a resilição do contrato o não cumprimento das


obrigações pelas partes. Ocorrendo esse fato, que deve ser comprovado, a parte
prejudicada pode pedir a extinção.

Sendo uma das partes empresário individual, a sua morte provoca a extinção do
contrato. Apuram-se então as responsabilidades que serão cumpridas pelos
representantes do de cujus, dentro da força da herança, na forma da lei.
CONCLUSÃO

O contrato de faturização ou factoring é aquele em que um empresário


(faturizado) cede a outro (factor ou faturizador) os créditos, na totalidade ou em parte,
de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo o montante desses créditos,
mediante o pagamento de uma remuneração.

A história do factoring tem duas etapas distintas: o factoring antigo, em que o


factor era apenas um comissário do vendedor, e o factoring moderno, que é o
predominante hoje.

A introdução do factoring no Brasil é preconizada como um meio de atender às


pequenas e médias empresas, na obtenção de capital de giro, sem as dificuldades
geralmente observadas no desconto bancário, muitas vezes de difícil acesso aos
"pequenos comerciantes.

O Código Civil de 2002 não trata do factoring. Em virtude de não haver, entre
nós, uma regulamentação sistematizada desse contrato, nos últimos tempos se tem
discutido bastante sobre a sua natureza e o modo de ser o mesmo regulado no país.

O factoring é empregado tanto na hipótese de venda de mercadorias, como na


de prestação de serviços. A prática é usualmente utilizada para créditos a curto prazo,
embora não se excluam também aqueles a médio e longo prazos.

O contrato se faz entre o faturizador e o faturizado ou vendedor, sendo


necessário o comprador apenas porque são os créditos que o vendedor tem contra ele
que vão ser cedidos ao faturizador. Tanto faturizador como vendedor devem ser
empresários, donde o contrato de faturização ser por natureza empresarial.

A faturização pode tomar várias modalidades.

As operações podem ser realizadas dentro do mesmo país (faturização interna).


ou podem ser realizadas fora do país (faturização exterior). Também podem as faturas
representativas dos créditos do faturizado ser remetidas ao faturizador e por ele
liquidadas no vencimento das mesmas (maturiry factoring) ou antes do vencimento (old
line factoring).

O contrato de factoring é, portanto, consensual, informal, bilateral, oneroso,


comutativo e intuitu personae. A confiança entre as partes desempenha importante papel
nesse negócio.

Pode extinguir-se por mútuo acordo, ocorrendo mudança de estado de um dos


contratantes, pela decorrência do prazo, ou unilateralmente com aviso prévio, pelo não
cumprimento das obrigações pelas partes ou pela morte de uma das partes, devendo ser
liquidadas as operações iniciadas, ainda que essa liquidação se verifique depois de
extinto o contrto. 

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