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Escola Secundária Santa Maria Maior

Joana Aparecida Correia da Rocha

Portugal: do autoritarismo à democracia


Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a
1974

VIANA DO CASTELO
2020
Introdução
Durante a II Guerra Mundial, Portugal decidiu adotar uma posição de neutralidade.
Antes de terminar a II Guerra Mundial, em 1943, houve união da oposição ao regime
salazarista e criou-se o MUNAF, mais conhecido como Movimento de Unidade
Nacional Antifascista. Terminada a guerra, a esperança de que se desse uma
democratização no Estado aumentou resultando em manifestações no dia 5 de
Outubro no Porto e em Lisboa. No entanto, o regime salazarista não se alterou e
Portugal ficou politicamente desfasado do resto da Europa, onde os regimes fascistas
acabaram por desaparecer, visto que estes países da Europa depois do fim do conflito
substituíram as ditaduras pela democracia.
Em Portugal, o governo do Estado Novo manteve-se até á Revolução do 25 de Abril
de 1974.

Slogan “Tudo pela nação Nada contra a Nação”

Vozes caladas pelo medo: A recusa da democracia e a


oposição democrática!

 Com a vitória dos aliados na 2ª Guerra Mundial e devido às pressões políticas


externas após 1945, sobretudo por parte da Inglaterra e dos Estados Unidos. ,
Salazar decidiu simular uma certa abertura no regime: aligeirou a censura,
autorizou manifestações populares; libertou presos políticos e prometeu
eleições livres. Foi neste contexto, de aparente abertura que apareceu o MUD.
 Mas, desde logo, a oposição ao regime salazarista (MUD) percebeu que esta
luta seria difícil, pois foi-lhe dificultado o acesso aos meios de comunicação
social e não lhe foi dado tempo suficiente para preparar uma campanha. Isto
levou, a que eles acabassem por desistir, ou seja, mais uma vez, a União
Nacional conseguiu “ganhar” as eleições. Rapidamente, aqueles que se tinham
alistado no MUD, foram perseguidos e em 1949, a oposição ao regime apoiou
Norton de Matos nas eleições presidenciais. Candidatos este que teve um
grande apoio por parte dos populares e reivindicou a liberdade de propaganda
eleitora, etc…
 O regime recusou satisfazer estas condições e Norton de Matos, depois de
grandes comícios desistiu perto das eleições. Foi então reeleito General
Craveiro Lopes.
 Em 1958, houve outro movimento de forte oposição ao regime. O General
Humberto Delgado, candidato da oposição ás presidenciais, parecia ter
apoio de uma grande massa depopulação que se manifestava em seu favor.
Contudo, segundo os resultados oficiais, obteve apenas 25% dos votos. A
Presidência da República seria, mais uma vez, entregue a um candidato do
regime, Américo Tomás. Entretanto, Humberto Delgado passou a ser
perseguido pela PIDE, fugiu para o exílio e, em 1965, foi assassinado próximo
da fronteira Espanhola.
 A oposição era, assim, continuamente silenciada. As pessoas tinham medo,
não apenas de falar de política, mas também de se queixarem das dificuldades
e das más condições em que viviam, pois tudo isso era proibido. Os relatos ou
mesmo rumores sobre prisões como o Tarrafal (Cabo Verde), sobre tortura e
perseguição contribuíam para calar os descontentes.

Estagnação do mundo rural


 Em 1945, Portugal era um dos países menos desenvolvidos na Europa e vivia
essencialmente da agricultura, o que revelava o atraso da economia
portuguesa. Apesar das várias campanhas para aumentar a produção agrícola
desencadeadas pelo Estado Novo sobretudo nos anos 40 e 50, a agricultura
portuguesa era muito pobre e os índices de produtividade não atingiam
metade da média europeia.
 A propriedade agrícola em Portugal apresentava uma desigual distribuição de
propriedade. Por um lado, temos o Norte do país, em que predominam as
pequenas propriedades (minifúndios), em que praticam uma agricultura
tradicional e muito pouco produtiva. Por outro lado, temos o lado sul do país
onde dominam essencialmente os latifúndios, que apresentam escassa
mecanização e uma produtividade baixa.
 No I Plano de Fomento (1953) reconheceram-se as dificuldades do setor
agrícola e a sua incapacidade de acompanhar as crescentes necessidades do
consumo externo e das exportações; O país importava bens alimentares; A
baixa rentabilidade agrícola fez com que a população abandone o interior e
migre para as cidades.
EMIGRAÇÃO:
 Na década de 60, devido ás difíceis condições de vida em Portugal ( taxa de
natalidade aumenta e mortalidade diminui, o que sobrepovoou o país, criando
um excesso de mão-de-obra). O contingente migratório português provinha
particularmente do Norte e das ilhas. Estes migraram especialmente para a :
França, Brasil e Alemanha.

 Aliados ao clima de ditadura e medo de ir para a Guerra Colonial muitos


jovens vêm no estrangeiro uma solução, devido aos altos salários do mundo
industrializado. Grande parte deles vão sair clandestinamente do país “ a
salto” devido a que o governo criava entraves á emigração como exigências do
serviço militar cumprido.

 Vantagens da emigração: O envio de somas avultadas de moeda


estrangeira; aceleração da mecanização da agricultura devido á falta de mão-
de-obra; aumento dos salários; modernização gradual das aldeias e vilas;

 Desvantagens da emigração: Saída de milhares de homens e mulheres


que teriam contribuído para o desenvolvimento do país; separação das
famílias e envelhecimento da população.

 Estes contactos vão acarretar, contudo, o início de alguma críticas ao estado do


país e fazem com que se comece a apontar os defeitos ao Estado Novo e
Ditadura.

Gráfico sobre a taxa de emigração no território português desde 1960 a 2012


Surto Industrial:

 O fracasso da tentativa de modernização agrícola faz com que muitos


defendam que o crescimento industrialdeveria ser o motor da economia
nacional. Foi adotado, então um modelo de desenvolvimento que
valorizava a industrialização, ainda submetida a fortes limitações por
parte do Estado (“Lei do Condicionamento Industrial”)

 A fim de estabelecer as bases fundamentais desse desenvolvimento, o


Governo passou a definir “ Planos de Fomento” planos quinquenais
através dos quais o Estado Português estabelecia as linhas de rumo do
investimento e do desenvolvimento económico

Planos de Fomentos:

1º Plano de Fomento (1953-1958): Apesar de muito tradicional,


reconhece a importância da industrialização; investimento na criação de
infraestruturas (transportes, comunicações e eletricidade);

2º Plano de Fomento (1959-1964): Aumento no investimento


económico; prioridade á indústria da siderurgia, petróleo, adubos químicos e celulose

 Pela 1ª vez, é assumida uma política industrializadora e mantem-se


como objetivo, substituição de importações. Os anos 60 alteraram a
política económica portuguesa. Portugal torna-se um dos países
fundadores da EFTA, que juntamente com mais países não pretendem
aderir á CEE. Ainda no mesmo ano, fazem-se acordos com o BIRD e o
FMI e em 1962 assinam o acordo do GATT. A adesão a estas
organizações marca a inversão da política autárcica do Estado Novo. O
Estado Novo aproxima-se do Fim.

3º Plano de Fomento (1968-1973): Já com Marcello Caetano e


com uma orientação completamente nova. Caraterizado pela concretização de
grandes projetos. Tem uma nova orientação, de cariz mais capitalista:
 Valorização da concorrência e do mercado:
 Estimula-se a concentração empresarial;
 Aposta-se na política agressiva de exportação;
Resultados:
 I- Consolidação dos grandes grupos económicos financeiros;
 II- aceleramento do crescimento nacional que atingiu o seu pico

No entanto, o país continuava com um enorme atraso face á Europa desenvolvida e


com as exigências da guerra colonial

URBANIZAÇÃO:
 Nos anos 50 e 60, o processo de urbanização acelerou-se e deu origem ao
êxodo rural. Ou seja, crescem as cidades do Litoral Oeste entre Braga e
Setúbal, onde se concentram indústrias e serviços. Lisboa e Porto vem os seus
subúrbios aumentarem onde habitam os que conseguem pagar habitação no
centro. Estes subúrbios são os dormitórios das grandes cidades, onde se
concentra a população ativa;
 No entanto, não houve acompanhamento das infraestruturas necessárias e
começa-se a verificar falta de habitações socias, estruturas sanitárias e uma
rede de transportes mais eficientes.

Resultados Negativos:
 Aumento das construções clandestinas;
 Proliferação dos bairros de lata;
 Degradação das condições de vida, o que leva á criminalidade e prostituição:
Efeitos positivos do crescimento urbano:
 Expansão do setor de serviços, para um maior acesso ao ensino e meios de
comunicação;
 Formação de conjuntos populacionais numerosos e escolarizados, capazes de
intervir social e politicamente.

Esta população mais consciente da realidade portuguesa e do seu


contraste com o estrangeiro, vai fazer ceder o conservadorismo do
regime

Fomento Económico nas Colónias:


 Num mundo em que as colónias deixavam de existir, Portugal conservava as
suas denominando-as de Províncias Ultramarinas. Assim, adquiriam-se
matérias-primas a preços baixos e explorava-se a mão-de-obra negra que era
mais barata. Salazar implementou uma política de apoio à fixação de colonos
portugueses nos territórios africanos, tentando aumentar a presença nacional
nas colónias.

 Quando a Guerra Colonial estalou, foram feitos grandes investimentos em


Angola, Moçambique e na Guiné. Criaram-se infraestruturas, meios de
transporte e de comunicação e investiu-se no sector da energia. Estas
atividades eram lideradas por grupos restritos de pessoas, como famílias
importantes ou grandes grupos económicos. Pretendiam, deste modo, reforçar
a colonização e promover a exploração das riquezas do subsolo.

 Salazar pretendia mostrar ao exterior que os portugueses se encontravam


integrados nas colónias e que estas faziam parte de Portugal e não eram
apenas uma fonte de riqueza. Assim, em 1961, foi formado o EEP, ou seja,
Espaço Económico Português. 

A Radicalização das posições e o sobressalto político


de 1958:
 Em Portugal, após 1945, Salazar procurou criar para o estrangeiro, a
imagem de um regime respeitador dos direitos e liberdades dos
cidadãos.
 Neste ano iria se realizar eleições para a Assembleia Nacional, que
prometia serem “tão livres como na livre Inglaterra”. No entanto, estas
como todas as outras eleições realizadas durante o regime salazarista,
não foram livres, ou seja, não foi dado tempo nem condições para a
oposição se organizar, os cadernos tinham poucas inscrições e os
resultados eram sistematicamente manipulados pelo regime.
 Por sua vez, o General Humberto Delgado foi obrigado a exilar-se no
Brasil e em 1965, foi assassinado em Espanha pela PIDE.
 Nesta onda de contestação á atuação á atuação de violência e autoritária
do regime também a Igreja vai manifestar a sua oposição a Salazar.
 António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, vai-se opor libertamente ao
regime, insistindo na necessidade de o país se democratizar, ás quais o
regime o regime responde com prisão ou exílio

Esta atuação repressiva representava um endurecimento do regime


António Ferreira Gomez, Bispo
do Porto

Américo Tomás,
candidato do regime
A Questão Salazarista Colonial:
 Em meados dos anos 60, Portugal possuía um
vasto Império Colonial, o que constituía quase uma exceção (Império muito
extenso e distante);
 Contudo, a nível internacional, Portugal começa a sentir pressão para dar a
independência ás suas colónias, bem como começam a existir movimentos
nacionalistas que querem a independência destes territórios.
 Face a isto, Salazar vai adotar algumas soluções para o “problema colonial”
 A nível ideológico vai argumentar com a “singularidade da colonização
portuguesa”, que defende que os Portugueses tem o direito a estes territórios,
pois a colonização portuguesa foi civilizadora para estes povos.

Miscigenaram-se com as populações indígenas e efetivaram uma fusão cultura- “


Tese do Luso tropicalismo” ( Gilberto Freire)

 A nível legal, Salazar faz uma alteração radical dos termos utilizados para se
referir ás colónias: Salazar passa a chamar estas regiões de “ Províncias
Ultramarinas” ( enão colónias) e os seus habitantes foram declarados cidadãos
portugueses.
Esta posição política foi propagandeada pelo regime, que considerava
Portugal um país pluricontinental e multirracial que se estendia “do
Minho a Timor”

 Face a isto, verificou-se a existência de 2 teses distintas quanto á questão


colonial. Por um lado a tese integracionista que defende a integração do
Ultramar no Estado Português. Por outro lado, temos a tese federalista, que
defende a progressiva autonomia dos territórios, num Estado Federal.

Perante a intransigência de Salazar em não abdicar destes territórios, em Angola


começam as primeiras movimentações que darão origem á Guerra Colonial (1961).
Salazar tenta reprimi-las enviando tropas para “esmagar” estes movimentos

O Isolamento Internacional:
A política colonial portuguesa levou ao isolamento do país a nível internacional:
 Os organismos internacionais, como a ONU, condenaram a posição de
Portugal,
 Os EUA, com o Presidente Kennedy, condenam a manutenção do conflito:
acham que é uma boa hipótese de avanço para o comunismo. Por isso, tentam
convencer Salazar a descolonizar e apresentam diversas propostas de
descolonização e oferecem auxílio monetário, que Salazar acaba por recusa

“Portugal não está á venda”

A Primavera Marcelista:
Em 1968, Salazar já com 79 anos de idade, ficou gravemente doente e incapacitado
para governar e foi substituído por Marcello Caetano, antigo ministro de Salazar.
Assumindo a chefia do Governo, Marcello Caetano procurou liberalizar o regime, a
chamada “Primavera Marcelistas”:
 Concedeu alguma liberdade de expressão;
 Permitiu o regresso de alguns exilados políticos
 Admitiu a entrada de deputados liberais nas listas da União Nacional
Na verdade, apesar desta abertura, a governação de Marcello Caetano, foi uma
“evolução na continuidade” :
 A PIDE passou a chamar-se DGS ( “Direção Geral de Segurança”);
 A União Nacional designa-se “Ação Nacional Popular” (ANP) ;
 A censura passou a “Exame Prévio”;
 Os cidadãos continuam provados de liberdade e os partidos políticos eram
proibidos;

Assim, Marcello Caetano fracassou na sua tentativa de abertura política

Quanto á política Colonial, também nada mudou as tropas portuguesas


continuaram a combater em Angola, Moçambique e Guiné, enquanto o governo
recusava qualquer negociação tendente á resolução do problema.

FIM

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