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FACULDADE DA REGIÃO DOS LAGOS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

SUELLEN MELLO DA SILVA KOPINITS

ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO NA FARMÁCIA COMUNITÁRIA

MAIO, 2020
FACULDADE DA REGIÃO DOS LAGOS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

SUELLEN MELLO DA SILVA KOPINITS

ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO NA FARMÁCIA COMUNITÁRIA

Trabalho apresentado à disciplina


de estágio supervisionado I da
Faculdade da Região dos Lagos
(FERLAGOS), como parte dos
requisitos necessários para
avaliação da disciplina.

MAIO, 2020
FACULDADE DA REGIÃO DOS LAGOS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

1- INTRODUÇÃO

A farmácia estabelece um limiar importante para o acesso da população em


relação ao consumo de medicamentos e deve ser compreendida como um posto
avançado de atenção primária de saúde. A Lei nº 13.021 de 08 de agosto de
2014 revalidou as Farmácias e Drogarias como Estabelecimentos de saúde
de acordo com seu artigo 3º que diz:
“Art. 3º Farmácia é uma unidade de prestação de serviços destinada a prestar
assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e
coletiva, na qual se processe a manipulação e/ou dispensação de
medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados,
cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos.

Parágrafo único. As farmácias serão classificadas segundo sua natureza como:

I – Farmácia sem manipulação ou Drogaria: estabelecimento de


dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e
correlatos em suas embalagens originais;

II – Farmácia com manipulação: estabelecimento de manipulação de


fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos,
insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de
atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente
de assistência médica.” ( BRASIL, LEI Nº 13.021, DE 8 DE AGOSTO DE 2014,
Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas.)
“O termo “Farmácia Comunitária” refere-se aos estabelecimentos
farmacêuticos não hospitalares e não ambulatoriais que atendem à
comunidade. As farmácias Comunitárias no Brasil são, em sua maioria
privadas, de propriedade particular, mas existem também farmácias
públicas, sejam elas vinculadas à rede nacional de farmácias populares ou às
esferas públicas municipais ou estaduais.” (CORRER, C. J.; OTUKI, M. A
prática farmacêutica na farmácia comunitária. Porto Alegre: Artmed; 2013. 434
p.)
A farmácia comunitária se destaca por ocupar um importante espaço no
cenário da saúde pública brasileira, como local de dispensação de
medicamentos e de contínua promoção do consumo racional de medicamentos
para a população. O objetivo principal da farmácia comunitária é a dispensação
de medicamentos em condições que possam reduzir os riscos do uso dos
medicamentos e que concedam a análise dos resultados clínicos de modo que
possa ser restringida a elevada morbimortalidade associada aos
medicamentos. Nesses estabelecimentos, o usuário procura por meio do
consumo de produtos, prescritos ou não, o restabelecimento da sua saúde. A
utilização de medicamentos, decorrente ou não da prescrição, tornou-se uma
prática social tão popular na sociedade moderna, que os mesmos passaram a
preencher um lugar de destaque na economia global, devido ao crescimento da
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demanda por todos os tipos de fármacos e da correspondente ampliação das
indústrias farmacêuticas.

Ainda que o medicamento seja essencial e de muita relevância para o


paciente, tornando-se um componente estratégico na terapêutica e na
manutenção de melhores condições de vida do indivíduo, é imprescindivél que
não nos esqueçamos da necessidade de estimular a sociedade com
informações seguras que diminuam o risco à saúde, que pode ser causado se
o medicamento não for utilizado do modo correto, efetivo e seguro. Se não há o
acompanhamento do uso de medicamentos, efeitos adversos ou reações
tóxicas podem ocorrer, comprometendo a saúde e até mesmo levando ao
surgimento de outras patologias, consideradas secundárias ao tratamento
inicial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, “prover medicamentos e outros


produtos e serviços para a saúde e ajudar as pessoas e a sociedade a utilizá-
los da melhor maneira possível é a missão da prática farmacêutica” (WHO,
1996: 4). Essa missão precisa do envolvimento de profissionais com formação
direcionada para não deixar nenhum dos elos da cadeia dos medicamentos a
descoberto, ou seja, desde a produção até o usuário final. A atenção
farmacêutica é o componente da prática profissional onde o farmacêutico
interage diretamente com o paciente para atender suas necessidades
relacionadas aos medicamentos (Peretta e Ciccia, 1998).

De acordo com Cipolle e colaboradores (2000), a atenção farmacêutica


envolve um processo de assistência ao paciente, lógico, sistemático e global,
que envolve três etapas: análise da situação das necessidades do paciente em
relação aos medicamentos; elaboração de um plano de seguimento, incluindo
os objetivos do tratamento farmacológico e as intervenções apropriadas; e a
avaliação do seguimento para determinar os resultados reais no paciente, de
modo a alcançar resultados terapêuticos positivos, que levem a melhora da
qualidade de vida do paciente e maximizem o benefício do uso dos
medicamentos.

Conforme as premissas de Hepler & Strand (1990), a implantação é gradativa


e deve existir a interação direta do farmacêutico com o paciente. Deve-se
trabalhar para atender às necessidades do mesmo e assegurar que a utilização
dos medicamentos seja correta. Nas palavras dos autores, a Atenção
Farmacêutica pode ser: [...] a oportunidade da Farmácia para amadurecer
como profissão aceitando a sua responsabilidade social de reduzir
preventivamente a morbi-mortalidade relacionada com medicamentos. Não
seria suficiente dispensar o medicamento correto, nem prover serviços
farmacêuticos sofisticados, nem será suficiente inventar novas funções
técnicas. Os farmacêuticos e suas instituições devem se auto-analisar e
começar a dirigir seus esforços para o bem estar social. (HEPLER & STRAND,
1990: 533).

Para que a Atenção Farmacêutica seja realizada, é necessário que haja uma
transformação no paradigma da prática farmacêutica. Não é só uma nova
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atividade, mas um novo modo de realizar a prática profissional, em que se
transforma o objeto central da atuação do profissional farmacêutico, que deixa
de ser o medicamento e voltando a ser o usuário e a comunidade como um
todo. Essa atenção direcionada ao paciente pode acontecer em vários locais
de atuação do farmacêutico, um dos quais e muito relevante refere-se às
farmácias comunitárias.

Paralelo a atenção farmacêutica, encontra-se a assistência farmacêutica e


ambas são atribuições do farmacêutico que atua em farmácias comunitárias,
pois se complementam e visam o bem estar do paciente. As ações de
Assistência Farmacêutica abrangem aquelas relacionadas à Atenção
Farmacêutica, classificada como um modelo de prática farmacêutica,
compreendendo atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e
recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. A atenção
farmacêutica é a relação direta do farmacêutico com o usuário, objetivando
uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e
mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Enquanto a
assistência Farmacêutica trata de ações que vão além das atividades
específicas do farmacêutico, sendo importante que haja a atuação de toda a
equipe de saúde envolvida no processo. É preciso integrar a assistência
farmacêutica as farmácias comunitárias por meio de profissionais qualificados e
capazes de realizar suas atribuições como farmacêutico, que são: selecionar
os medicamentos mais seguros, eficazes e custo efetivos de acordo com as
necessidades da população de seus territórios; programar adequadamente as
aquisições; armazenar; distribuir e transportar adequadamente de forma a
garantir a manutenção da qualidade do produto farmacêutico; gerenciar os
estoques; favorecer a criação e atualização de protocolos e diretrizes de
tratamento de forma a assegurar a qualidade e o uso adequado de
medicamentos (BRASIL, 2006b).

A Resolução nº 338, de 06 de maio de 2004, do Conselho Nacional de Saúde


define Assistência Farmacêutica como sendo: [...] um conjunto de ações
voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como
coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e
ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a
produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção,
programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos
produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na
perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade
de vida da população.

A Assistência Farmacêutica contém uma grande oportunidade de atividades


multiprofissionais em muitas etapas, direcionadas a interagir o conjunto das
ações de saúde. Dessa maneira, o ciclo da Assistência Farmacêutica enfatiza o
papel do profissional farmacêutico e sua colaboração em suas etapas. O ciclo
da Assistência farmacêutica contém um conjunto de ações que buscam
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alcançar objetivos estabelecidos, os componentes do ciclo são: seleção,
programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação.

Seleção

Os objetivos principais da seleção de medicamentos são: implantar políticas


de utilização de medicamentos com base em correta avaliação, seleção e
emprego terapêutico; promover a atualização e a reciclagem de temas
relacionados à terapêutica e reduzir custos (BRASIL, 1994). A seleção de
medicamentos é um processo complexo. É importante que seja realizada
considerando a contribuição das seguintes ciências: farmacoeconomia,
farmacoepidemiologia, farmacologia e terapêutica clínica, farmacovigilância,
biofarmacotécnica e farmacocinética. Este enfoque multidisciplinar colabora
para que os diversos elementos que interferem na utilização dos medicamentos
sejam contemplados na escolha do arsenal terapêutico (REIS, 2003).

Programação

A programação representa uma outra atividade importante, que tem por


finalidade que o serviço ou sistema disponha de medicamentos apropriados e
previamente selecionados, nas quantidades necessárias, em tempo oportuno e
cuidando para que se contribua à promoção do uso racional dos
medicamentos. Para tanto, deve empreender a quantificação dos
medicamentos a serem adquiridos e elencar as necessidades, priorizando-as e
compatibilizando-as com os recursos disponíveis, e ainda cuidar para evitar a
descontinuidade no abastecimento. A estimativa dessas necessidades
representa um dos pontos cruciais do Ciclo da Assistência Farmacêutica por
sua relação direta com o nível de acesso aos medicamentos e com o nível de
perdas desses produtos. Há várias formas de proceder a uma estimativa
técnica dessas necessidades. É o perfil de morbimortalidade, no entanto, o
mais importante aspecto a considerar, quando se busca orientação na
identificação de tais necessidades. A programação é uma atividade associada
ao planejamento; sua viabilidade e factibilidade dependem da utilização de
informações gerenciais disponíveis e fidedignas, da análise da situação local
de saúde, assim como do conhecimento sobre os medicamentos selecionados,
sua indicação precípua e sua perspectiva de emprego na população alvo
(MARIN et al., 2003).

Aquisição

A aquisição de medicamentos representa uma das atividades do Ciclo da


Assistência Farmacêutica, constituindo-se num conjunto de procedimentos
articulados que visam a selecionar o licitante com a proposta mais vantajosa
para satisfazer uma determinada necessidade e, assim, legitimar a
administração a contratar o particular. Ela objetiva contribuir para o
abastecimento de medicamentos em quantidade adequada e qualidade
assegurada, ao menor custo possível, dentro da realidade do mercado,
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apoiando e promovendo uma terapêutica racional, em área e tempo
determinados(MARIN, 2003).

Armazenamento

Armazenamento é a etapa do Ciclo da Assistência Farmacêutica responsável


por assegurar a qualidade dos medicamentos através de condições adequadas
de armazenamento e de um controle de estoque eficaz. No Brasil, os
almoxarifados dedicados exclusivamente à armazenagem de medicamentos
têm sido denominados como Centrais de Abastecimento Farmacêutico
(MARIN, 2003). O armazenamento constitui-se como um conjunto de
procedimentos técnicos e administrativos que envolve diversas atividades:
recebimento de medicamentos; estocagem ou guarda; segurança de manter o
material sob cuidados contra danos físicos e roubos; conservação e controle de
estoque (MARIN, 2003). Um dos requisitos para desenvolver uma
armazenagem adequada compreende ter e seguir um manual de normas de
armazenagem. O manual deve conter: informações e procedimentos internos
da empresa; procedimentos de armazenagem; áreas de produtos em
quarentena, interditados, inutilizados; áreas de produtos de controle especial;
controle de qualidade; controle de pragas; segurança nas instalações (TUMA,
2009). Manuais escritos de rotinas e normas de armazenamento de
medicamentos auxiliam no trabalho cotidiano e devem ser elaborados com a
participação do farmacêutico, sendo atualizados sempre que necessário. A
promoção de treinamentos periódicos para os funcionários visando a
capacitação e o estímulo ao trabalho, possibilita a integração entre os
profissionais e cria um ambiente propício para práticas seguras (ANACLETO et
al., 2006).

Distribuição

A etapa de distribuição tem por objetivo organizar os medicamentos e


produtos para saúde que saem do almoxarifado para as unidades requisitantes
em condições de segurança. As atividades realizadas devem em geral
contemplar a separação, acomodação para o transporte e distribuição de
acordo com as normas e procedimentos operacionais adequados (TUMA,
2009). Uma distribuição correta e racional de medicamentos deve garantir:
rapidez na entrega, através de um cronograma estabelecido, impedindo
atrasos e/ou desabastecimento ao sistema; segurança, para garantir que os
produtos cheguem nas quantidades corretas e com a qualidade desejada;
transporte, considerando as condições adequadas de segurança, o tempo de
entrega e os custos financeiros; sistema de informação e controle eficiente para
um gerenciamento adequado (MARIN, 2003). É importante registrar no
documento de saída o número dos lotes dos medicamentos distribuídos, para
que, caso ocorram problemas de qualidade, seja possível rastrear os lotes,
facilitando a identificação (BRASIL, 2001).
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Dispensação

O procedimento de dispensação deve assegurar que o medicamento de boa


qualidade seja entregue ao paciente certo, na dose prescrita, na quantidade
adequada; que sejam fornecidas as informações suficientes para o uso correto
e que seja embalado de forma a preservar a qualidade do produto. Trata-se do
atendimento de um paciente específico e que, portanto, terá necessidades e
características também específicas, as quais devem ser levadas em conta no
momento do atendimento. É uma das últimas oportunidades de, ainda dentro
do sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir possíveis riscos associados
à terapêutica medicamentosa (MARIN, 2003).

Dessa maneira compreende-se que a farmácia comunitária ocupa um


importante espaço no cenário da saúde pública brasileira, sendo o local de
dispensação de medicamentos e de contínua promoção do consumo racional
de medicamentos para a população, e que as atribuições farmacêuticas são de
suma importância uma vez que o profissional a exerça corretamente,
possibilitando maior aproximação do farmacêutico com o usuário, visando à
adesão do tratamento farmacológico correto, e ao alcance de resultados que
melhorem a qualidade de vida do paciente através da atenção farmacêutica e
assistência farmacêutica.
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Referências Bibliográficas:

CORRER, C. J.; OTUKI, M. A prática farmacêutica na farmácia comunitária.


Porto Alegre: Artmed; 2013. 434 p.
BRASIL, LEI Nº 13.021, DE 8 DE AGOSTO DE 2014, Dispõe sobre o
exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas.

HEPLER, CD; STRAND, LM. Opportunities and responsabilities in


pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm 1990, 47: 533-543. Disponível em
http://www.pharmaceuticalcare.es/esp/1999/n1/pdf/p007.pdf. Acessado em:
11 abr. 2002.

CIPOLLE, R. J.; STRAND, L. M.; MORLEY, P. C. El ejercicio de la atención


farmacéutica. Madrid: McGraw-Hill - Interamericana, 2000.

ANACLETO, T. A.; PERINE, E.; ROSA, M. B. Prevenindo erros de dispensação


em farmácias hospitalares. Infarma, v.8, nº7/8, 2006. Disponível em:
http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/13/inf32a36.pdf. Acesso em: 4
jun. 2012.

MARIN, N. et al. Assistência Farmacêutica para gerentes municipais. Rio de


Janeiro: OPAS/OMS, 2003.

TUMA, I. L.; CARVALHO, F. D.; MARCOS, J. F. Guia de Boas Práticas em


Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde - SBRAFH. Programação, Aquisição
e Armazenamento de Medicamentos e Produtos para Saúde. São Paulo: Vide
o verso, 2009. 356p.

REIS, A. Ciências Farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar.


Seleção de medicamentos. São Paulo: Editora Atheneu, 2003.

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