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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“Júlio de Mesquita Filho”


Geografia

Filmes – Nomadland de Chloé Zhao

Acadêmico:

Luís Guilherme Pereira da Silva

Geografia – 2021
Disciplina: Geografia da População
Ourinhos
A protagonista Fern, uma mulher, dona de casa, era dependente economicamente de seu
marido, que trabalhava em uma mina em uma pequena cidade, contudo após as crises
econômicas, a empresa que explora a mina fali e o seu marido perde o emprego e
posteriormente falece, neste contexto a protagonista se encontra sozinha, desta forma ela
parte em direção a vida nômade, com a sua van. Esta é uma vida nova para Fern, e ao
longo do tempo adaptações são realizadas nesta van para as suas necessidades, desde
cozinha até mesmo sanitária, após isso ela começa pela busca de empregos, como na
Amazon, monitora de parque, fazenda de beterraba, cozinheira, contudo esses empregos
são geralmente temporários, visto que a assistente social diz para ela que seria mais fácil
procurar uma aposentadoria do que encontrar um emprego permanente, contudo a
personagem nega, já que em outra cena a sua amiga Linda relata que recebe 550 dólares
de aposentadoria. A lógica produtiva e do estoque de mão de obra é cruel, visto que uma
parcela da população consegue se manter empregada, enquanto outras ficam a mercê da
sociedade e no máximo conseguem o que se poderia considerar de subempregos, ainda
que Fern e Linda são mais velhas, o que dificulta a sua inserção no mercado. Portanto
além de migrarem de região por não terem uma residência física, são forçados a migrar
devido as oportunidades de trabalho. Entretanto neste cenário de solidão e de
perenigração em busca da sobrevivência, Fern aceita o convite de sua amiga Linda e se
encontram em um evento de nômades, nesse momento podemos perceber como o grupo
é um fator importante para gerar coesão e senso de pertencimento, quase no formato de
uma grande comunidade ou grande família, um dos pilares que Durkheim relata que
mantem a coesão social. Neste acampamento se nota um ambiente voltado a solidariedade
e ao compartilhamento tanto de aspectos materiais como imateriais, ao relatarem suas
experiências mostram que são pessoas sozinhas, que não possuem emprego fixo, que não
tem família e, portanto, aquele evento simboliza essa unidade que buscam e se fortalecem.
Ao final do evento, Fern olha para aquele espaço que ocorreu o evento, e vê nele
novamente o vazio, o que remete a presença da solidão constante, quando parecia estar
se acostumando a um grupo, novamente há essa desintegração, contudo este momento
dura pouco, pois devido ao seu pneu estar furado, acaba pedindo ajuda a Swankie, outra
nômade idosa que ajuda Fern e juntas passam belos momentos em seguida, com muita
troca de experiências e aprendizado mútuo, as duas acabam se tornando boas amigas.
Swankie acaba relatando para Fern que tem um câncer, e que lhe resta pouco tempo de
vida, nessa parte há muita reflexão sobre a vida, se valeu a pena a forma como viveram,
portanto, são questões que fogem de qualquer outra escala, pois estão se abrindo como
indivíduos, e o que lhe restam ao final são apenas todas as experiências e lembranças que
puderam ter. Ao longo do filme, Fern também encontra um andarilho, conhecido como
Gay, ele é um jovem, que aparentemente enfrenta algum trauma, e que após isso enfrenta
o desafio do amanhã em suas andanças, nisto podemos verificar a diferença entre Gay e
entre pessoas como a Fern,, em que Gay, “[...] alude então à figura do vagabundo,
definido como estando “sempre em movimento, mas sem um destino” – assim,
“naturalmente, ele nunca chega”” (p. 159)” (HAESBAERT, 2011, p. 244), como alguém
que está literalmente vagando sem direção alguma, aparentemente em um quadro de
depressão, voltado a um caminhar pelo sofrimento e pela busca interna de algum sentido
na vida. Portanto, no caso de Fern, podemos notar que é um nomadismo com direção e
propósito, no caso a luta pela sua sobrevivência em busca de emprego para poder se
manter, enquanto podemos diferenciar outro nomadismo o de Bob Wells, que além destes
outros pontos, também traz a questão da ideologia, demonstrando uma aptidão e um estilo
de vida que possa ser seguido, com cunhos no âmbito da causa ambiental, como ele
apresenta no evento, portanto até neste universo temos diferentes realidades que são
construídas pela vivência da não fixidez.
No restante do filme, Fern acaba se aproximando de outro nômade, Dave, com quem
parece ter sentimentos amorosos, portanto acabam vagando juntos em trabalhos
temporários e compartilhando suas vivências, contudo tudo muda quando Dave volta a
morar com seu filho e convida Fern para viverem juntos, nisto há uma separação entre os
dois, Fern vai visitar sua irmã em busca de dinheiro para consertar sua van e Dave segue
com seu filho. Fern opta também pela vida nômade por não ter nenhuma ligação com a
irmã, visto que desde muito nova saiu de casa para viver com Bob no projeto da mina, e
com isso não criou um laço familiar com ela.
Isto acaba impulsionando Fern a encontrar Dave na casa que ele a havia chamado
anteriormente para morar, neste contexto, a família é muito receptiva, e nesse espaço
parece que Fern havia encontrado um âmbito familiar e estaria junto com Dave, contudo
em uma mudança repentina Fern sai deste contexto, e busca falar com Bob Wells, onde
acabam conversando e nesta reflexão, acaba voltando para Empire e visitando sua casa
antiga, assim o filme acaba.
Neste final, não sabemos se ela voltou para se fixar novamente, ou como um processo do
nômade, acaba revisitando os lugares com certa periodicidade, isto acaba que não
sabemos o que houve, mas deixa muito claro a dimensão espacial, e a capacidade do
nômade de territorializar na sua desterritorialização.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
Geografia

Documentário – Human Flow do diretor Ai Weiwei

Acadêmico:

Luís Guilherme Pereira da Silva

Geografia – 2021
Disciplina: Geografia da População
Ourinhos
O documentário Human Flow do diretor Ai Weiwei é uma amostra que retrata fielmente
o cotidiano de muitos migrantes ao redor do planeta, em comum podemos notar que a
influências destas movimentações se devem principalmente a conflitos bélicos, ou seja,
desde guerras civis, até guerra entre países e disputas territoriais; outra questão também
é sobre a perseguição a culturas, religiões, comunidades tradicionais que vivem em
regiões em que o governo ou outras culturas são contras, e portanto acabam evitando o
conflito e se retirando; também somado a todo este contexto há o elemento do meio
ambiente, em que por conta de mudanças climáticas, há uma grande mobilização de
pessoas, pois há a piora das condições de vida, desde quantidade de chuva, desmatamento,
impactos sobre a agricultura e o uso e ocupação do solo que inviabilizam suas atividades.
Em 1951, houve a Convenção do refugiado na qual definiu como, “um medo sólido de
ser perseguido por razões como da raça, religião, nacionalidade, membro de um grupo
social particular ou de opinião política”, os principais emigrantes em que o motivo é
devido a guerras militares e civis verificados são os sírios, afegãos, iraquianos e
palestinos, sendo os principais países de destino são os europeus, mas os que possuem as
economias e melhores qualidade de vida, como a França, Alemanha, Inglaterra, Suécia,
Suíça, entre outros. Interessante notar que muitos adentram a Itália, Grécia, Hungria, mas
apenas como regiões de passagem para atingirem os países anteriormente visto como os
“melhores” para se assentarem.
Os africanos têm intensificado a sua migração, muito devido as mudanças climáticas
como a desertificação que tem aumentando as áreas desertas, entre o ano de 2015-2016
aproximadamente 210.000 africanos foram para o sul da Itália.
Um caso específico de claro projeto de necropolítica do governo do Mianmar, visando a
sua total eliminação é o ataque que sofrem o grupo muçulmano Rohingyas, nos quais
seguem preceitos de serem contra a luta e buscarem a resolução por meios pacíficos, este
cenário acaba causando a morte de vários deles, e muitos tem migrado para Bangladesh,
Tailândia e Malásia, no documentário um dos seus representantes está muito abalado
emocionalmente, e relata como é dolorido por serem chamados de “Povo sem Nação”,
portanto a quebra de sua identidade e serem vistos como um povo sem representação, sem
território, sem uma casa afeta diretamente a visão que eles tem de si como um grupo, e
de senso de pertencimento.
Todos são forçados a promover a sua desterritorialização, e quando procuram outro lugar
para fixarem a sua residência, encontram diversas dificuldades ou impeditivos, no caso
dos emigrantes para as regiões europeias, temos a evidente força das fronteiras que atuam
como uma fonte de poder, vigilância e controle social, em que a sua permeabilidade é
totalmente imparcial, visto que notamos que alguns passaportes valem mais do que
outros, ou seja, dependendo do país de origem, o país de recepção o recebe de forma
diferente do que de outro, portanto há essa segregação de qual o tipo de emigrante você
deseja em seu país. Interessante também notar que os emigrantes moram ao redor dos
muros das fronteiras, pois foram impossibilitados de atravessarem ela, uma alternativa
seria a de viver nos países que aceitaram a sua passagem como a Itália e a Grécia, contudo
aparentemente num ato de protesto e com a intenção de acessar os países que desejam,
permanecem ao redor destas áreas enfrentando dificuldades como saneamento básico,
moram em barracas, muitos não tem dinheiro, se alimentam mal, as crianças não tem
acesso a educação, medicamentos, condições de higiene, água tratada, sendo resilientes
para atingirem o objetivo final de sua marcha, ou seja, o foco de ter a territorialidade que
eles desejam e não aceitarem irem para outro território pela força das fronteiras e da
políticas do países.
Enquanto essa situação não se resolve se nota a intensa formação nestes locais de uma
economia e condição própria de vida, totalmente limitada, mas que forma uma rede e que
possivelmente senão solucionada se tornará uma região com sérios problemas
habitacionais e sociais. Visto que na Turquia há 3 milhões de sírios, sendo que 10% dos
refugiados moram em tendas, e o restante está sujeito as condições mais precárias, além
de que para se ter noção do impacto espaço-temporal, na média estão há 26 anos fora do
seu país de origem.
Outros casos de migrações são quando os emigrante conseguem chegar aos países de
destino, como no caso do Líbano que recebeu mais de 2 milhões de refugiados da Síria e
da Palestina, tornando esta uma das regiões mais populosas do planeta, entretanto chegar
a seu ponto de destino não é sinal de prosperidade, o que se tem visto é que metade das
crianças dos refugiados não tem acesso à educação, ou até mesmo o exemplo em Israel
que abriga o maior número de palestinos, contudo são isolados em bairros por meio de
muros, o que aumenta ainda mais a diferença consentida que israelenses e palestinos tem
um sobre os outros, potencializando os estereótipos e acentuando a discriminação entre
as duas populações.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
Geografia

Filmes – Jean Charles do diretor Henrique Goldman

Acadêmico:

Luís Guilherme Pereira da Silva

Geografia – 2021
Disciplina: Geografia da População
Ourinhos
O filme Jean Charles, é a história de um mineiro que foi morar na Inglaterra e acabou
sendo assassinado no metrô por confundirem ele com um terrorista, portanto antes de sua
morte, o filme relata inicialmente a entrada de sua prima no país com a intenção de se
manter ilegalmente após a expiração do seu visto. O filme retrata as diferentes faces do
emigrante brasileiros, onde muitos vão até o país, (Haesbaert, 2011) “deixando um
emprego mal remunerado para buscar outro com remuneração mais justa, pode estar
querendo usufruir ganhos pela diferença de poder aquisitivo da moeda de um país em
relação a outro, ...”, em que a sua desterritorialização é motivo para buscar acesso a uma
vida com melhor qualidade de vida do que em seu país de origem, e poder auxiliar os seus
familiares. Contudo essa desterritorialização ela muda de endereço, mas a identidade se
mantém, como é relatado muitos brasileiros acabam vivendo apenas entre brasileiros, e
muitos acabam apenas falando em português, o que acabam nem sequer aprendendo a
língua inglesa. Uma característica marcante também é que esses empregos podem ser
considerados em sua maioria como subempregos e operacionais, como garçom,
construção civil, vendedores, taxistas, vendedores ambulantes, entre outros, contudo é
interessante notar que mesmo estes empregos, o padrão de vida é muito superior, em
comparação a estas mesmas profissões no Brasil, portanto o considerado subemprego
para um inglês, é uma grande oportunidade para um emigrante.
Este plano de fundo é o contexto base do filme, relatar a vida dos emigrantes e do seu
cotidiano, e também constrói a imagem de anti-herói de Jean Charles, um homem dotado
de boas ideias e intenções, que almeja ascender socialmente e proporcionar uma vida
melhor as pessoas de seu entorno, mas acaba entrando em esquemas ilegais e outras
situações que se torna vulnerável, mas além disso é verificado a forte pressão que a
Inglaterra sobre devido aos ataques terroristas promovidos pelos afegãos, neste sentido
podemos notar os esquemas de poder e do controle social e suas multifaces como foi
apresentado por Foucault, “não se pode ser reduzida nem a um simples diagnóstico da
intensificação do controle social nem a uma visão do poder como unidimensionalmente
repressivo pois, embora o poder produza certamente controle, ele produz igualmente
outras coisas (Lacombe, 1996:337)” (ALVAREZ, 2004, p. 173), em que as políticas
coloniais de poder que os ingleses influem sobre o Oriente Médio, acabam resultando em
um poder contrário destes povos atacados, e consequentemente há o uso do poder do
Estado pelo controle social para evitar os ataques a sua população, contudo o uso de sua
força policial para evitar estes ataques, acaba resultando na morte de um emigrante
inocente.
Neste momento é notório os olhares direcionados aos povos originários da região do
Oriente Médio, onde são altamente perseguidos e construídos uma imagem de males
sociais sobre o país, isto é nítido quando no restaurante um emigrante italiano gospe no
lanche de uma família que parece ser do Oriente Médio, refletindo o desprezo e o
sentimento xenófobo sobre eles. Portanto a morte de Jean Charles, participa desse
contexto dessa produção de diferenças criadas, e a busca pelo extermínio de um dito
inimigo, licenciado para matar pela política inglesa (Scotland Yard).
Referência Bibliográfica

ALVAREZ, C. M. Controle Social: notas em torno de uma


noção polêmica. Revista São Paulo em Perspectiva, 18 (1), 2004. pp.
168-176.

HAESBAERT, R. Desterritorialização e mobilidade. In: O mito da


desterritorialização: do “fim” dos territórios à Multiterritorialidade. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 6ª ed., 2011. 396p. Pp. 235 – 250

KAROL, Eduardo; DA SILVA, Catia Antonia. DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO


À NECROPOLÍTICA DEMOGRÁFICA: PRESENTIFICAÇÃO E DISPUTAS DE
SENTIDO EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS. Revista Tamoios, v. 16, n. 1, 2020.

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