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Seção 5

SUA PETIÇÃO

DIREITO
CONSTITUCIONAL
INFORMAÇÃO INTERNA – INTERNAL INFORMATION
Seção 5

DIREITO CONSTITUCIONAL

Sua causa!
Olá, aluno, seja bem-vindo! Vamos para a nossa quinta seção do Núcleo de Prática
Jurídica de Direito Constitucional, na qual relembraremos o nosso caso e enfrentaremos um
novo desafio com ainda mais aprendizagem.

O CASO

A senhora Maria, de 76 anos, compareceu a uma loja da empresa Zumbi Telefonia,


uma concessionária de telefonia fixa, telefonia móvel, internet banda larga e TV por
assinatura, a única com esses serviços disponíveis em sua região, situada na cidade e
comarca de Taubaté/SP, para adquirir um pacote de serviços de internet banda larga e
televisão por assinatura.

Após serem apresentados os produtos o vendedor informou que somente poderiam


ser contratados os serviços se fossem adquiridos, de forma conjunta, um aparelho celular
pós-pago, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), e uma linha telefônica fixa, ambos com
mensalidade de R$ 200,00 (duzentos reais), com vigência pelo prazo mínimo de 12 meses.

Além disso, foi exigido que a sua filha, Ana, professora do ensino fundamental, que a
acompanhava, assinasse o contrato em nome dela, pois foi dito que, em razão de sua idade
avançada, haveria maior risco de morte durante o contrato, inclusive por ser grupo de risco
da Covid-19, o que poderia trazer prejuízos à empresa. Assim, apesar de o serviço ser
prestado em sua residência e Maria ser a responsável pelo pagamento, somente a sua filha
pode constar como contratante. Tendo em vista a extrema necessidade da internet para que
pudesse prestar seus serviços de tradutora, Maria aceitou as exigências da empresa.

Após a formalização do contrato, a empresa Zumbi Telefonia informou haver o prazo


de sete dias para instalação e que não poderia indicar uma data e um horário corretos,

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devendo a contratante aguardar em horário comercial a chegada de um funcionário
credenciado.

Somente após 11 dias, quatro a mais do que a data aprazada, os funcionários


compareceram na residência de Maria. Após quebrarem duas paredes e estragarem o piso
de sua sala, instalaram a internet e o telefone fixo, deixando de instalar a televisão a cabo por
alegarem falta de estrutura.

Contudo, foi informado a ela que tanto o atraso na instalação como esses prejuízos
não seriam indenizados, em razão de haver no contrato uma cláusula retirando da empresa
Zumbi qualquer responsabilidade, e que essa exclusão constante do contrato de adesão
havia sido devidamente assinada pela filha contratante, Ana.

Dois meses após a contratação, o serviço de instalação ainda não foi concluído, mas
as mensalidades dos serviços, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), foram cobradas,
bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), debitado de sua conta de forma equivocada
pelo serviço de instalação, o qual, no contrato, constava como sendo absolutamente gratuito.

Maria e Ana procuraram o escritório de advocacia de Josué para tomarem as


providências necessárias, uma vez que passaram por momentos difíceis, acarretando,
inclusive, um quadro de depressão em Maria, em razão do tratamento preconceituoso
conferido pela empresa a respeito de sua idade.

Além dessa grave lesão à sua esfera íntima, Maria perdeu o prazo de entrega de dois
trabalhos de tradução já contratados no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), devido à demora
da instalação da internet em sua residência, assim como teve que despender o valor de R$
1.000,00 (mil reais) para consertar as paredes avariadas pelo funcionário instalador da
empresa Zumbi Telefonia.

Maria deseja recuperar os valores indevidamente cobrados pela instalação e exige


que o serviço de televisão a cabo contratado, que está sendo pago, seja efetivamente
instalado em sua residência, e que o telefone fixo seja desinstalado, assim como as cobranças
de sua utilização sejam cessadas.

O Agravo de Instrumento interposto pela ré no Tribunal de Justiça de São Paulo não


foi conhecido e, em sua decisão, foram integralmente acolhidas as razões apresentadas na
contraminuta juntada pelo advogado Josué a respeito do descabimento do recurso e da
incompetência do TJ para o seu julgamento, sendo assim mantida a liminar do juiz de primeiro
grau.

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A ação de indenização combinada com a ação de obrigação de fazer perante o
Juizado Especial Cível de Taubaté proposta por você, no papel do advogado Josué, foi
julgada procedente, mas o magistrado nem sequer mencionou em sua sentença os pedidos
referentes à indenização por danos morais e materiais apontados na inicial.

Na decisão, o juiz se referiu à obrigação da empresa Zumbi Telefonia de instalar o


serviço de televisão a cabo, sob pena de multa diária, mas não decidiu nada sobre os demais
pedidos de indenização, não fazendo qualquer menção a eles na sentença, obrigando o
advogado Josué a opor Embargos de Declaração, que foi julgado procedente com a
complementação do julgado.

Na sentença, o magistrado apontou para os danos causados pela postura


irresponsável da empresa ré, julgando a ação parcialmente procedente, pois, no que se refere
aos danos patrimoniais sofridos, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), referentes à quebra da
parede da residência da autoria Maria, e aos lucros cessantes, no valor de R$ 2.000,00 (dois
mil reais), causados pela impossibilidade de a autora poder realizar o seu trabalho em razão
da falta do serviço de internet que fora contratado, foram julgados integralmente procedentes.
Além disso, o juiz condenou a empresa ré a devolver em dobro as mensalidades dos serviços
no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), que foram cobradas sem a prestação do serviço,
bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), debitado de sua conta de forma equivocada
pelo serviço de instalação, o qual, no contrato, constava como sendo absolutamente gratuito.

Contudo, o juiz, em sua fundamentação, apontou que: “por mais que a atitude da
empresa ré fuja de qualquer tipo de razoabilidade justificável e agindo com evidente má-fé e
desídia por parte dela, não há motivos para a condenação em danos morais pois que houve
mero dissabor por parte das autoras, em vista que essas coisas infelizmente acontecem
diariamente com essas empresas de telefonia”.

Você apelou da sentença do juiz, e o Colégio Recursal reformou a decisão, julgando


a ação integralmente procedente em todos os pedidos e, ainda, fixando a indenização por
danos morais em favor da autora Maria no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

No entanto, você foi intimado para oferecer resposta ao Recurso Especial interposto
pela empresa Zumbi Telefonia contra a decisão do Colégio Recursal. Nesse recurso, a
empresa alegou que a indenização é indevida, por não ter ficado demonstrada a sua culpa,
pois em nenhum momento ficou provado que houve negligência, imprudência ou imperícia na
execução do contrato, havendo ofensa clara ao disposto no art. 186 do Código Civil.

Agora é com você! No papel do advogado Josué, elabore a peça processual


cabível diante da situação narrada.

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Fundamentando!

A RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL OBJETIVA

Vimos nas seções anteriores que a base para a aplicação de indenização dos danos
civis está nos incisos V e X do art. 5º da Constituição, assim como que o Código Civil aponta
para a sistemática geral para a reparação dos atos ilícitos civis por meio da aplicação geral
da responsabilização subjetiva do agente causador do dano: “Art. 186. Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002, [s. p.]).

Assim, percebemos que a regra existente no Direito é de que a responsabilidade civil


deverá ser subjetiva, com a necessária comprovação de que o agente agiu com dolo ou culpa.

A culpa é apresentada pela doutrina de três formas distintas: a negligência, a


imprudência e a imperícia.

A negligência é o agir sem o devido dever de cuidado, deixando de adotar cuidados


que sabidamente eram necessários para não causar dano, de forma desatenta, descuidada
ou indiferente, com o esquecimento ou a não adoção de regras de procedimento.

A imprudência consiste em uma ação praticada de forma precipitada e sem cautela.


Trata-se de um agir de forma atrapalhada.

A imperícia consiste em uma prática sem que haja a habilidade ou o conhecimento


técnico necessário para o desempenho da atividade, como um clínico geral que se aventura
a realizar um procedimento cirúrgico para o qual não recebeu formação.

O dolo, por sua vez, pressupõe a vontade direta e deliberada de causar o evento
danoso, por exemplo, a pessoa que se utiliza de um instrumento de ferro para quebrar
propositalmente os vidros de uma residência.

Veja que será sempre necessário que o agir do agente seja voluntário, não consistindo
em ação aquela que é tomada por violência ou coação irresistível de outro agente, pois estaria
este agindo como mero instrumento da vontade de seu coator.

Por outro lado, a omissão consistente em se abster, omitir, deixar de praticar um ato
negativo também pode ser a causa de um dano, quando o sujeito da relação jurídica tem o

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dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado, como ocorre quando um
salva-vidas fica inerte diante do afogamento de uma criança. Ainda há a responsabilidade por
omissão quando uma ação inicial causa o evento inicial e, por falta de agir do agente, o dano
vem a ocorrer. Por exemplo, o agente aciona uma máquina e a deixa ligada por um longo
período e, tempos depois, a sua inação faz com que haja um resultado danoso por não a ter
desligado.

No entanto, aquele que não tem o dever de agir e nada faz para evitar um resultado
danoso não tem qualquer responsabilidade direta pela sua reparação, como o caso de um
terceiro que assiste passivamente a um acidente. Do nada, nada surge, portanto, se aquele
que não tem qualquer relação jurídica com o acontecimento se omite, a sua inação não
interfere no chamado nexo causal, não decorrendo daí a sua responsabilização.

Por outro lado, vimos que há casos em que a responsabilidade do causador do dano
independe de um agir culposo ou doloso, como ocorre na responsabilidade objetiva.

Sendo uma exceção à regra prevista no art. 186 do CC, a lei deve prever
expressamente quando ela será aplicada, não podendo haver o uso da analogia para ampliar
esse alcance.

É o que ocorre no parágrafo único do art. 927 do Código Civil, o qual dispõe que:
“haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem” (BRASIL, 2002, [s. p.]).

Nesses casos, é suficiente a comprovação da ação ou omissão (descumprimento de


um dever jurídico de cuidado) e o nexo causal existente entre essa conduta e o resultado
danoso.

Nas relações de consumo, essa é a regra, havendo a responsabilidade subjetiva


apenas nos casos de prestadores de serviços autônomos e profissionais liberais, como
arquitetos, borracheiros, engenheiros e costureiras não empregados de uma empresa (§4º do
art. 14). O CDC tratou de forma excepcional as pessoas que prestam determinado serviço,
sem relação de dependência hierárquica de outra, reconhecendo que, em regra, não ocorre
grande desigualdade entre o consumidor e o prestador de serviço nesses casos.

Quando o serviço ou o fornecimento de produtos ocorrer de forma empresarial, a


responsabilidade prevista no CDC como regra será a objetiva e em cadeia, alcançando
solidariamente todos os que fazem parte da relação de consumo, obrigando o fornecedor, o
importador, o produtor e todos que compuseram a cadeia de consumo a repararem os danos

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causados aos consumidores decorrentes de vício do produto, informações insuficientes ou
inadequadas.

Essa responsabilidade se baseia em uma lógica em que todos aqueles que tiram
proveito de uma atividade que gera riscos, como são as relações de consumo, devem arcar
com os prejuízos sofridos por terceiros, isto é, quem colhe os bônus (lucros) também deve
arcar com os ônus, isto é, os prejuízos que possam decorrer de suas atividades.

Daí decorre a solidariedade entre todos os que auferem lucro na cadeia de consumo,
como na hipótese prevista no parágrafo único do art. 7º e §2º do art. 25, ambos do CDC, no
que se refere ao defeito do serviço, e ocorrerá a responsabilidade objetiva do fabricante, do
construtor, do importador e do comerciante, quando houver defeito no produto ou existência
de vício.

Não é somente em relação ao produto que essa responsabilidade reside, e sim aos
fatos do produto ou serviço que a ele se relacionem, podendo atingir, inclusive, que não
compõe a relação contratual, como o caso de pessoas que têm suas casas atingidas por
destroços de avião. Por mais que não tenham uma relação contratual como a dos
passageiros, a prestação de serviço gerou um fato danoso que atingiu a terceiros, e são eles
considerados consumidores para fim de proteção do CDC.

Superior Tribunal de Justiça – Súmula 130


“A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou
furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.” (BRASIL, 1995, [s.
p.]).

Vamos peticionar!

Pronto para começar a praticar? O conteúdo você já tem, então qual medida judicial podemos
tomar?

Atenção: no papel do advogado Josué, vamos propor a medida adequada, apresentando


a peça processual correta para o momento processual.

Feito isso, você deverá:

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1. Como resposta ao recurso da empresa ré, verificar qual é o foro competente para o seu
julgamento, para fazer o correto endereçamento da petição e eventual defesa quanto à
incompetência.
2. Verificar se o recurso é cabível diante da decisão judicial do Colégio Recursal dos Juizados
Especiais que julgou procedente o pedido inicial.
3. Demonstrar o cabimento do recurso e a devida fundamentação legal.
4. Datar e assinar a petição.

Agora é com você, aluno!

Referências

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Presidência da República, [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1º jun. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá


outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 9 jun. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 6 jun. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Súmula nº 130. A empresa responde, perante o cliente, pela
reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento. Brasília, DF: STJ, 1995.
Disponível em: https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
2010_9_capSumula130.pdf. Acesso em: 9 jun. 2021.

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