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Hospital inaugurado há cinco anos é conhecido por assustar utentes na Zambézia. Cidadãos não vão ao
hospital alegando ocorrência de muitas mortes e mau atendimento. Instituição já fez campanha para
atrair pacientes.
Vários cidadãos dizem que tentam evitar o Hospital Central de Quelimane e somente buscam
tratamento na unidade de saúde quando são mesmo forçados a um internamento.
SAÚDE | 22.04.2019

Prestes a completar cinco anos, a fama do principal hospital da capital da Zambézia não é nada boa. Um
dos cidadãos, sob condição de anonimato, disse à DW África que tem medo de ir ao hospital quando
está doente por causa do que se fala sobre a instituição.
"Há informações de que havia máquinas [a ser usadas] sem a presença de profissionais especializados.
Isto assustou muito em Quelimane. As pessoas têm medo de ir ao hospital, sabendo que não há
profissionais qualificados para áreas disponíveis aos utentes", critica o morador da capital da Zambézia.
Nos primeiros meses de funcionamento da instituição, surgiram boatos de que o número de óbitos no
hospital era elevado. Isto acabou por assustar os populares, que preferiam evitar consultas e
tratamentos.
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Hoje, os receios quanto ao hospital também chegam ao nível da superstição. "Dizem que naquela área
havia um cemitério, e os espíritos continuam a fazer o abate. O receio da morte ainda prevalece", relata
Elísio Armando, outro morador de Quelimane.
Armando, entretanto, defende a existência do hospital e crê que é necessário que os utentes quebrem
esta resistência. "A saúde, não se engana. Temos que ter coragem para irmos ao hospital", diz.
Jolito Paulino é outro morador de Quelimane que evita a unidade de saúde. Na sua opinião, o hospital
tem mesmo problemas que levam insegurança à população.
"Você leva um doente em estado grave à noite. [Eles] obrigam o acompanhante a sair da sala. O doente
fica lá a gritar, pedindo socorro, sem o agente de serviço ir lá saber o que está a acontecer. O doente
acaba morrendo sem ter aquela assistência, é complicado", opina Paulino.
O utente diz que já testemunhou a situação de um paciente a sangrar e gritar sem ninguém para
atendê-lo. "Vale a pena ir ao Hospital Geral, onde o acompanhante fica ao lado do doente, mas ao
Hospital Central…", reclama.
Para o diretor do Hospital Central de Quelimane, Ladino Súade, a unidade hospitalar enfrenta vários
desafios, entre os quais sensibilizar a população para interagir com a instituição.
Para Suade, a má fama é resultado de desinformação. O diretor diz que o hospital desenhou uma
estratégia de interação com a comunidade.
"Nós fomos a vários bairros e povoados da província da Zambezia para explicar à população aquilo que
são os objetivos e as funções do Hospital Central de Quelimane. Hoje sentimos que os doentes estão a
afluir, estamos a ver populações que vieram aceder aos nossos serviços”, eplica Súade.
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Para o historiador Bruno Mendia, o hospital enfrenta também um obstáculo cultural. Procurar serviços
de saúde convencionais em caráter emergencial faz parte da cultura da população moçambicana. No
entanto, nem todos buscam fazer consultas médicas preventivas e muitos sentem-se bem atendidos por
médicos tradicionais.
"Um pouco de carinho"
A nossa educação sanitária não nos leva a isso. As pessoas sentem-se melhor atendidas por um
curandeiro do que por um médico convencional. Isso deve-se a forma particularizada que o médico
tradicional atende o paciente.
Mendia lembra que o curandeiro prepara psicologicamente a pessoa. "Conversam contigo e dão um
pouco de carinho, o que muitas vezes não acontece nas nossas unidades sanitárias", salienta.
No ano passado, um debate na Assembleia Autárquica abordou a alegada sobrelotação das morgues em
Quelimane. Havia corpos não reclamados no local, e a maioria seria oriunda do Hospital Central de
Quelimane. Em média, eram recolhidos 10 corpos por semana, provenientes da instituição de saúde,
segundo as autoridades na autarquia de Quelimane.
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