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EREM EMÍDIO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE

PROFESSORA: GISELMA ALVES DISCIPLINA: PORTUGUÊS


ALUNO (A):______________________________________

POEMA O poema também pode apresentar rima:


 externa: sons semelhantes no final de diferentes
Poema é um texto literário escrito em versos, versos;
que são distribuídos em estrofes. Esses versos podem  interna: rima entre a palavra final de um verso e
ser regulares, brancos ou livres. Se for composto por outra do interior do verso seguinte;
versos regulares, esse texto poderá apresentar diversos  rica: entre palavras pertencentes a diferentes classes
tipos de rimas. Também pode ser narrativo, dramático gramaticais;
ou lírico.  pobre: entre palavras pertencentes à mesma classe
Com relação às diferenças entre poema e gramatical;
poesia, o poema se refere a uma estrutura textual,  emparelhada: AABB;
enquanto a poesia está relacionada ao conteúdo do  alternada ou cruzada: ABAB;
texto.  interpolada ou oposta: ABBA;
 mista: outro tipo de combinação, como ABACD;
O que é poema?  aguda: entre palavras oxítonas ou monossílabas
Poema é um texto literário escrito em versos. tônicas;
Assim, estruturalmente, ele se opõe à prosa, já que ela  grave: entre palavras paroxítonas;
não admite versos.  esdrúxula: entre proparoxítonas;
 perfeita, soante ou consoante: correspondência
 Exemplo de poema completa de sons;
 imperfeita, toante ou assoante: sem correspondência
Logias e analogias
completa de sons.
No Brasil a medicina vai bem
mas o doente ainda vai mal.
O poeta Vinicius de Moraes dominava a arte de fazer
Qual o segredo profundo
poemas. A seguir vamos analisar a estrutura do Soneto
desta ciência original?
de fidelidade (1939), de Vinicius de Moraes (1913-
É banal: certamente
não é o paciente 1980):
que acumula capital.
De tudo, ao meu amor serei atento (A)
 Exemplo de prosa Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto (B)
Hoje, no trem, vim com o Apocalipse. É um sujeito magro, Que mesmo em face do maior encanto (B)
esgrouviado, sempre com a barba por fazer. As calças sujas e Dele se encante mais meu pensamento. (A)
curtas dão o talhe exato de suas pernas, que são finas, Quero vivê-lo em cada vão momento (A)
parecendo somente de ossos. O curioso é que o Apocalipse, E em seu louvor hei de espalhar meu canto (B)
de fisionomia de símio velho domesticado, bondoso, etc. etc., E rir meu riso e derramar meu pranto (B)
tem três filhos: um está na Escola do Realengo; outro no Ao seu pesar ou seu contentamento. (A)
ginásio, e o outro, no mosteiro de São Bento. (Trecho do E assim, quando mais tarde me procure (C)
livro Diário íntimo, de Lima Barreto.) Quem sabe a morte, angústia de quem vive (D)
Quem sabe a solidão, fim de quem ama (E)
Características do poema Eu possa me dizer do amor (que tive): (D)
Um poema apresenta: Que não seja imortal, posto que é chama (E)
Mas que seja infinito enquanto dure. (C)
- Versos:
 regulares: com métrica e rima; Esse soneto é composto de versos regulares, já que
 brancos: com métrica e sem rima; possui metrificação, isto é, todos os versos apresentam
 livres: sem métrica e sem rima. dez sílabas poéticas (decassílabos), e as
seguintes rimas:
- Estrofes:  externas: atento/pensamento, tanto/encanto,
 dístico: dois versos; momento/contentamento, canto/pranto,
 terceto: três versos; procure/dure, vive/tive, ama/chama;
 quadra ou quarteto: quatro versos;  ricas: atento/pensamento, tanto/encanto,
 quinteto ou quintilha: cinco versos; ama/chama;
 sexteto ou sextilha: seis versos;  pobres: momento/contentamento, canto/pranto,
 sétima ou septilha: sete versos; procure/dure, vive/tive;
 oitava: oito versos;  interpoladas ou opostas: ABBA (estrofes 1 e 2);
 novena ou nona: nove versos;  graves: atento/pensamento, tanto/encanto,
 décima: dez versos. momento/contentamento, canto/pranto,
procure/dure, vive/tive, ama/chama;

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 perfeitas, soantes ou consoantes: Que lindos olhos
atento/pensamento, tanto/encanto, momento/conten Que estão em ti!
tamento, canto/pranto, procure/dure, vive/tive, ama Tão lindos olhos
/chama. Eu nunca vi...

Além disso, o poema apresenta as seguintes estrofes: Pode haver belos


 quartetos: estrofes 1 e 2; Mas não tais quais;
 tercetos: estrofes 3 e 4. Não há no mundo
Quem tenha iguais.
Tipos de poema [...]
Têm tal encanto
Os olhos teus!
 Poema épico ou narrativo
— Quem pode mais?
Eles ou Deus?
Conta uma história, em forma de versos, e
apresenta todas as características do gênero narrativo,
Como se faz um poema?
como narrador, personagens, tempo e espaço. Um
Para fazer um poema, é preciso responder a
exemplo desse tipo de poema é o trecho seguinte do
estas duas perguntas:
livro O Uraguai (1769), de Basílio da Gama (1741-1795):
1. O poema será narrativo, dramático ou lírico?
Se for narrativo ou dramático, você precisa criar um
Fumam ainda nas desertas praias
enredo, personagens, e definir onde e quando se
Lagos de sangue tépidos e impuros
passará a ação. Além disso, deve escolher um tipo de
Em que ondeiam cadáveres despidos,
narrador — observador, onisciente ou personagem —
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
para o poema narrativo, o que não é necessário para o
O rouco som da irada artilheria.
MUSA, honremos o Herói que o povo rude poema dramático. Mas se for lírico, você deve ignorar
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue todos esses elementos e se centrar em uma ideia,
Dos decretos reais lavou a afronta. emoção ou desejo sobre o qual quer falar.
[...] 2. O poema terá versos regulares, brancos ou
 Poema dramático livres?
Se tiver versos regulares ou brancos, é
Não apresenta a voz de um narrador, pois a preciso metrificar. Então, você vai ter que escolher que
história se desenrola a partir das falas dos tipo de versos regulares utilizar. Você pode escolher
personagens, estruturadas em forma de versos, como a redondilha, menor (cinco sílabas) ou maior (sete
no trecho a seguir de Morte e vida severina (1956), livro sílabas), o decassílabo (dez sílabas) ou o alexandrino
de João Cabral de Melo Neto (1920-1999): (doze sílabas), por exemplo. Esses são os mais usados,
mas há outras opções.
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A No caso dos versos regulares, é preciso
QUE VAI também pensar nas rimas: externas, internas, ricas,
— O meu nome é Severino, pobres, emparelhadas, alternadas (cruzadas),
não tenho outro de pia. interpoladas (opostas), mistas, agudas, graves,
Como há muitos Severinos, esdrúxulas, perfeitas ou imperfeitas. Já no caso
que é santo de romaria, dos versos livres, você não precisa se preocupar nem
deram então de me chamar com a metrificação nem com as rimas, porém, seja qual
Severino de Maria; for o tipo de versos escolhido, o conteúdo deve ser
como há muitos Severinos atrativo.
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria → Dicas
do finado Zacarias. 1. Na metrificação, a contagem de sílabas do
Mas isso ainda diz pouco: verso é feita até a última sílaba tônica: “De-le- se en-
há muitos na freguesia, can-te- mais- meu- pen-sa-men-to”. Assim, nesse verso
por causa de um coronel de Vinicius de Moraes, contamos dez sílabas poéticas.
que se chamou Zacarias 2. Ainda na metrificação, quando a última
e que foi o mais antigo sílaba de uma palavra termina com som de vogal e
senhor desta sesmaria. a primeira sílaba da palavra seguinte começa com
[...] som de vogal, na contagem é possível juntar essas
 Poema lírico sílabas, que, em vez de duas, serão consideradas
apenas uma: “De-le- se en-can-te- mais- meu- pen-sa-
Manifesta ideias, emoções ou desejos. Não men-to”.
apresenta características do gênero dramático nem 3. A redondilha é a escolha mais adequada para
conta uma história, como se vê no poema Teus olhos, de poemas com um conteúdo mais singelo.
Junqueira Freire (1832-1855):

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4. O decassílabo e o alexandrino são boas Trago todas as vibrações da rua, por um dia de sol,
escolhas para poemas menos emotivos ou mais quando uma elétrica corrente de movimento circula no
complexos, como o poema narrativo. ar…
5. Um tipo de rima não exclui o outro; portanto, Mas, de todas as vibrações recolhidas, só me ficou,
você pode ter, em um mesmo poema, rimas ricas e vivendo a música do som no ouvido deliciado, a
pobres, por exemplo. canção da tua voz, que eu no ouvido guardo, para
6. No poema com versos regulares, é preciso ter a sempre conservo, como um diamante dentro de um
habilidade de adequar o conteúdo à forma, de relicário de ouro.
escolher as palavras certas, sem comprometer a Cá está, cá a sinto harmonizar, alastrar em som o meu
medida do verso e a rima. corpo, todo, como flexuosa serpente ideal, a tua
7. No poema com versos livres, o conteúdo clara voz de filtro luminoso, magnética, dormente
torna-se ainda mais relevante. como um ópio…
Muitas vezes, por noite em que as estrelas marchetam
Diferenças entre poema e poesia o céu, tenho pulsado à sensação de notas errantes, de
vagos sons que as aragens trazem.
O poema é uma estrutura, isto é, um texto As fundas melancolias que as estrelas e a noite fazem
escrito em forma de versos, com metrificação ou não, descer pelo meu ser, da amplidão silenciosa do
firmamento, dão-me à alma abstratas suavidades,
com rimas ou não. Assim, opõe-se à prosa, que é a não
vaporosos fluidos, sinfonias solenes, misticismos,
utilização de versos na escrita de um texto. Já a poesia
ondas imensas de inaudita sonoridade.
é o conteúdo, caracterizado pela plurissignificação,
[...]
ambiguidade e estranheza. Dessa forma, pode haver
A poesia extrapola o senso comum. A esta
uma poesia escrita em versos ou em forma de prosa, a
altura, você deve estar se perguntando: “Existe,
chamada “prosa poética”.
então, um poema que não é poesia?”. Para responder
Vamos analisar o soneto Versos a um cão, de Augusto
à sua pergunta, vamos ler, a seguir, um trecho de Os
dos Anjos (1884-1914):
Lusíadas (1572), prosa em verso de Luís Vaz de
Camões (1524-1580).
Que força pôde, adstrita a embriões informes,
Tua garganta estúpida arrancar
E como o Gama muito desejasse
Do segredo da célula ovular
Piloto pera a Índia, que buscava,
Para latir nas solidões enormes?!
Cuidou que entre estes Mouros o tomasse,
Mas não lhe sucedeu como cuidava;
Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes,
Que nenhum deles há que lhe ensinasse
Suficientíssima é, para provar
A que parte dos céus a Índia estava;
A incógnita alma, avoenga e elementar,
Porém dizem-lhe todos que tem perto
Dos teus antepassados vermiformes.
Melindre, onde acharão piloto certo.
Cão! — Alma de inferior rapsodo errante!
Acabamos de ler um poema, pois é um texto
Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a
A escala dos latidos ancestrais... escrito em versos. Nesse caso, os versos são
metrificados (decassílabos) e possuem rimas. Porém,
E irá assim, pelos séculos, adiante, não há estranheza, ambiguidade ou plurissignificação
Latindo a esquisitíssima prosódia no conteúdo do texto, que é mais denotativo. Assim,
Da angústia hereditária dos seus pais! ele não é uma poesia.
Por fim, é preciso esclarecer que o termo
Depois de ler esse texto, é possível concluir “prosa” pode tanto se referir a uma estrutura de
que ele é um poema, devido ao fato de ser escrito em texto oposta ao verso quanto a um conteúdo mais
versos. Além disso, esses versos são metrificados objetivo. Portanto, ao dizermos que o trecho do poema
(decassílabos) e apresentam rimas. Esse poema é uma de Camões é uma prosa em verso, estamos nos
poesia, provoca estranheza durante a sua leitura, pois referindo a um conteúdo de prosa, ou seja, denotativo.
ele é ambíguo e plurissignificativo. Mas, atenção,
literatura e arte não são ciências exatas; sequer são
ciências, está claro. O que queremos dizer é que, às
vezes, o texto pode não ser tão ambíguo ou estranho,
mas apresentar plurissignificação, isto é, extrapolar o
sentido conotativo do texto.
Agora vamos ler um trecho de uma prosa
poética de Cruz e Sousa (1861-1898) intitulada Som.
Como você vai ver, esse texto não é um poema, pois
foi escrito em forma de prosa; no entanto, é
uma poesia, pois apresenta ambiguidade, estranheza e
plurissignificação:

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