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O

mestre
do
seu
sistema

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© 2010 by Máera Moretto

Capa
André Morganti
sobre foto de Freeze Frame Studio/Istockphoto

Projeto gráfico do miolo


2 Estúdio Gráfico

Edição de texto original


Marielza Augelli

Preparação de texto
Margô Negro

Revisão
Marina Mariz

Impressão
Bartira Gráfica e Editora S/A

Dados Inernacionais de catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Moretto, Máera
O mestre do seu sistema : o caminho de volta da ansiedade e da
síndrome do pânico / Máera Moretto. – Barueri : Sá Editora, 2010 .

ISBN 978-85-88193-55-0

1. Ansiedade 2. Corpo e mente 3. Cura 4. Energia vital


5. Equilíbrio 6. Filosofia oriental 7. Medicina chinesa
8. Medicina tradicional 9. Síndrome do pânico 10. Terapêutica I.
Título. II Título: O caminho de volta da ansiedade e da síndrome
do pânico.

10-06741 CDD-615.89

Índices para catálogo sistemático:


1. Corpo e mente : Equilíbrio : Terapia :
Medicina Tradicional Chinesa 615.89

Direitos mundiais cedidos à


SÁ EDITORA
Tel./Fax: 55 11 5051 9085
atendimento@saeditora.com.br
www.saeditora.com.br

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O
mestre
do
seu
sistema
O caminho de volta
da ansiedade e da
síndrome do pânico

Máera Moretto

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Dedico este livro a todos aqueles
que me serviram de inspiração e
que, de alguma forma, passaram as
informações necessárias para que esta
obra se realizasse.
E também a todos que virão a se
beneficiar com o conteúdo deste
livro, contribuindo, assim, para que
encontrem o equilíbrio interior.

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sumario

Prólogo 9

Parte 1 Novos caminhos 11


1. Falando chinês 13
2. Os 900 sábios 23
3. O caminho de volta 32
4. Os caminhos do Oriente e do Ocidente 39
5. As várias faces do mesmo desequilíbrio 43

Parte 2 Os caminhos do desequilíbrio 51


6. O amor e suas armadilhas 52
7. O sucesso e suas armadilhas 69
8. As conquistas e suas armadilhas 94
9. A solidão e suas armadilhas 114
10. A doação e suas armadilhas 136
11. O apagão 148

Parte 3 Os caminhos da cura 153


12. A respiração e a cura 154
13. O desejo e a cura 167
14. O tempo e a cura 177
15. O eu interior e a cura 193
16. A crise e a cura 206
17. Os alimentos e a cura 214
18. Epílogo 229

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Prologo
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) compara o
homem a uma máquina que sai de fábrica com seu es-
toque de combustível cheio e lacrado. Durante toda a
existência esse combustível será usado para o bom fun-
cionamento e a manutenção da máquina.
Quando o estoque de combustível chega à metade, os
primeiros sinais de envelhecimento começam a aparecer.
A pele perde a firmeza, vai se tornando seca e enrugada.
Os cabelos perdem o brilho e começam a cair; aparecem
os primeiros fios brancos. Os ossos vão enfraquecendo e
surgem as patologias ósseas, com suas dores e desconfor-
tos. Os músculos e tendões se tornam frágeis e não mais
cumprem com eficiência a sua função de sustentação.
Nas mulheres, a menstruação desaparece e começam a
surgir sintomas desagradáveis. E para os homens a ferti-
lidade começa a decair.
No entanto, a velocidade com que consumimos essa
energia está totalmente relacionada à forma com que
levamos nossa vida. Pare no presente e observe como
viveu no passado. Aí está a resposta de como será o seu
envelhecer.
Viver é a arte de sentir-se bem, de cuidar do seu corpo
e de sua mente como se isso fosse a única coisa que você
fizesse na vida. Adaptando essa filosofia ao seu dia a dia,
manterá a energia, preservará o combustível e viverá
com uma melhor qualidade de vida física e emocional.
Provavelmente você deve estar se perguntando:
“Como posso fazer isso se não tenho tempo nem para
me alimentar?”. Como sigo essa filosofia se, o dia todo,
só faço me ocupar ou me preocupar?” “Como cuidar de

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corpo e mente se todo o meu tempo é só para trabalhar,


já que tenho que me sustentar?”
Pois bem, o modo de vida descrito nessas perguntas
é o próprio caminho para se desvitalizar mais depressa
ainda. Por menor que seja seu tempo, por maior que seja
a sua responsabilidade ou função, se o seu organismo
falhar, de nada lhe adiantará. Você não vive para suas
obrigações. Elas simplesmente fazem parte da sua vida.
E, se seu corpo e mente estiverem fortes, você será mais
eficiente em qualquer projeto de vida.
E esta é a minha proposta: lembrar-lhe o caminho de
volta. Isso porque, se você chegou onde está hoje, pro-
vavelmente vivendo um presente não muito agradável,
dependendo de quanto caminhou no sentido oposto à
vida saudável, agora é só fazer o caminho de volta.
Nesse caminho você terá a vantagem de trazer con-
sigo toda a bagagem positiva que acumulou. E com esse
aprendizado transformará o presente em uma realidade
de paz e felicidade. Para isso usaremos o caminho da
antiga tradição chinesa que, com sua sabedoria milenar,
tem uma contribuição extremamente efetiva nas patolo-
gias da modernidade.
Este livro não pretende ser científico e muito menos
trazer toda a verdade sobre a atenção aos desequilíbrios,
como transtornos da ansiedade ou do pânico. Muito pelo
contrário, ele reúne experiências e vivências de quase
dez anos de prática da Medicina Tradicional Chinesa e
da troca de informações, tratamentos e resultados de
mais de trezentos pacientes que acompanhei por um
longo período com aqueles distúrbios.

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Parte 1

Novos caminhos
O Tao originou-se do vazio e o vazio
produziu o Universo. O Universo pro-
duziu o Qi. O que era leve e limpo le-
vantou-se para tornar-se o céu. O que
era pesado e turvo solidificou-se para
tornar-se a terra.

Giovanni maciocia, Os fundamentos


da medicina chinesa, cap. 3

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ˆ
1. Falando chines
Como a maioria dos ocidentais, encontrei muita difi-
culdade para compreender a simplicidade que se escon-
de por trás da tão complexa cultura chinesa.
Recordo-me da primeira aula no curso de pós-gradua­
ção em acupuntura. O professor, ou melhor, o mestre,
que para meu espanto era um ocidental e não um chinês
velhinho, com cara de sábio, iniciou a aula falando de
Qi (pronuncia-se “tchi”) e Tao para pessoas que nunca
tinham ouvido falar sobre isso; ou muito menos tiveram
esses conceitos inclusos em suas vidas.
Tamanha era a estranheza das pessoas, inclusive a mi-
nha, que se via nos próprios semblantes o ar de espanto, de
incompreensão. Frases iam surgindo e se agrupando como
se o professor estivesse falando, literalmente, chinês.
Na aula seguinte, com metade da turma presente,
pois a maioria desistira perante tanta complexidade de
informação, consegui, de certa maneira, trazer para a
minha compreensão os conceitos apresentados.
Num primeiro momento, achei que o Qi fosse sinô-
nimo de ar, já que ele está presente em tudo. Algumas
aulas depois, aprendi que essa energia ia muito além do
ar. E fazia parte de toda forma de vida.
Mas o que é o Qi afinal?
Para a Medicina Tradicional Chinesa, o Qi é uma
energia que está presente em tudo. Trata-se da energia
que propiciou a origem da vida no Universo, incluindo-
-se aí vegetais, minerais e animais.
Segundo antigos filósofos chineses, da mesma forma
que a água se reúne para formar um corpo sólido, ou
gelo, o Qi se agrupa para formar todas as coisas materiais

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e imateriais do Universo, inclusive o homem. E, do mes-


mo modo que o gelo ao derreter volta a ser água, quan-
do o Qi se desagrega no homem ele volta a ser energia
na forma de alma.
Aí pude entender que alma e corpo possuem o mes-
mo princípio, isto é, o Qi. Só que ele, seja num caso ou
no outro, se encontra em graus diferentes de densidade.
Assim, o corpo, por ser sólido, é representado por uma
formação mais densa de Qi. Enquanto a alma tem uma
concentração menor de Qi e, portanto, é menos densa.
Por outro lado, esse Qi que flui por todo o organis-
mo – e se convencionou chamar de energia Qi – não
tem uma definição concreta para a nossa filosofia oci-
dental. Muitas vezes os chineses o chamam de energia
que nutre, ou Qi Nutritivo; energia que defende, ou Qi
Defensivo; e muitas outras propriedades lhe são atribuí-
das. Tudo depende da função que ele está exercendo no
momento. Dizem até que ele é mais denso que o ar e
menos denso que o sangue.
Portanto, naquela aula compreendi o Qi como algo
muito próximo ao que entendia como sangue. Isso por-
que o Qi chega a todas as partes do nosso organismo,
ora levando nutrientes, ora defendendo-o e trazendo o
equilíbrio para manter a sua saúde.
E o que é o Tao?
A palavra que em chinês quer dizer “caminho” tem
tantas definições bonitas e filosóficas que, num primeiro
momento, me senti confusa. O que mais me marcou foi
quando o professor citou uma lenda da China antiga,
quando ainda não existia a cura com agulhas. Elas eram
desnecessárias. Naquela época, as curas eram feitas por
simples toques de dedos, firmes, em pontos específicos
chamados meridianos, que são os caminhos por onde
passa a energia do corpo.

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Mas, dizia a lenda, por algum motivo as pessoas per-


deram a capacidade de cura pelo toque e, como forma de
substituição ao toque, criaram-se as “antenas de captação
de energia”, hoje conhecidas como agulhas de acupuntura.
Ao mesmo tempo, se você for estudar outras culturas,
que numa determinada época nem se comunicavam, irá
encontrar relatos parecidos de povos que detinham o
conhecimento de uma espécie qualquer de cura. Em al-
gum momento da história, essa cura se perdeu para ser
transformada e ressurgir de uma forma diferente.
Foi assim que compreendi o Tao: um mundo de trans-
formações e equilíbrio; um universo de interligações,
como se todos os lugares do planeta se encontrassem
num mesmo grau evolutivo, mesmo sem que houves-
se comunicação entre eles. Os caminhos mais diversos
iriam se formando e direcionando cada cultura, cada ser,
para o mesmo estágio de evolução.
Hoje, encontramo-nos em um momento da evolu-
ção, em que toda a humanidade vive num grau de mo-
dernidade que nos beneficia com alta tecnologia, luxos e
comodidades. Mas, em contrapartida, essa modernidade
custa-nos o equilíbrio e, por consequência, a integridade
do nosso corpo e mente. Ela causa doenças e desequilí-
brios emocionais que transtornam nossa mente, fazendo
com que esta acredite pertencer a um corpo doente, sem
que a doença possa ser diagnosticada.
Nesse exato momento nossos caminhos se encon-
tram. A maior prova disso é que você está aí lendo e
compartilhando hoje informações milenares e delas pode
retirar um aprendizado que provavelmente irá curar seu
desequilíbrio tão moderno.
E qual é o papel dos meridianos nisso?
Os chineses sempre foram grandes estudiosos dos me-
ridianos. Segundo eles, são caminhos por onde o Qi flui

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livremente e percorre o nosso corpo, levando consigo nu-


trientes e substâncias necessárias para o desenvolvimento
do equilíbrio e o bom funcionamento do nosso organismo.
Cada meridiano possui uma série de pontos corres-
pondentes aos órgãos que, quando estimulados, nutrem,
sedam – ou seja, acalmam –, ou retiram a energia em
excesso em certas situações. O estímulo até mesmo aju-
da a fazer circular a energia quando essa estagna ou para
de circular no órgão correspondente. Ao todo são mais
de mil pontos enumerados. E é sobre esses pontos ma-
peados em todo corpo que a acupuntura trabalha para a
cura (vide figura 1).
Hoje em dia foram desenvolvidos aparelhos que con-
seguem definir o trajeto dos meridianos através dos seus
impulsos elétricos; informando de forma precisa o caminho
a percorrer. O curioso é que na época em que foram desco-
bertos nem se sonhava com a existência de tais aparelhos.
Então como poderiam ser mapeados?
Segundo a lenda, na antiga China havia sábios que
viviam em busca do equilíbrio do corpo e da alma. Para
isso, seguiam um caminho de doutrinas que englobava
desde alimentação adequada a exercícios físicos e práti-
cas mentais.
Como passavam a maior parte dos dias buscando o
controle da mente e do corpo através da meditação, co-
meçaram a identificar um caminho muito sutil percorrido
pela energia nos seus próprios corpos. Percebiam também
que, quando algum desequilíbrio se instalava – seja na
forma de doença ou de outro distúrbio qualquer, como
tristeza, ansiedade ou até mesmo a própria fome –, desen-
cadeava-se uma perturbação no fluxo dessa energia.
Assim foram notando que cada caminho de energia
correspondia a um órgão. E mais: que uma alteração no
órgão afetava o caminho da energia de alguma forma.

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O inverso também acontecia. Ou seja, uma alteração ou


estímulo em certos locais desses caminhos de energia
poderia atingir o órgão correspondente, tanto de forma
positiva quanto negativa. Dessa maneira, iniciou-se o
mapeamento dos meridianos e pontos da acupuntura.
No entanto, como os aparelhos eletrônicos ainda
não existiam, era preciso descobrir uma forma de con-
firmação da relação entre a energia e os seus caminhos.
Diz a lenda que, para isso, mais de cem monges foram
reunidos em um grande templo. Todos eles tinham em
comum o domínio da meditação, ou seja, a capacidade
de se desligar do mundo exterior e de despertar para o
seu próprio mundo interior. Nesses monges foram esti-
mulados os pontos de acupuntura referentes aos diver-
sos órgãos que possuímos.As sensações reveladas foram
quase unânimes.
Ao estimular um ponto do coração, 99% dos monges
relatavam sensações idênticas, relacionadas ao percurso
dessa energia anteriormente descoberta. Depois foram
estimulados pontos referentes ao estômago, ao fígado e,
assim, órgão por órgão sucessivamente, até que o mape-
amento fosse concluído.
Descobriu-se então que o nosso corpo possui doze
meridianos por onde o Qi circula livremente. Esses doze
meridianos principais estão ligados a doze órgãos de ex-
trema importância no nosso organismo. Aí o Qi se modi-
fica constantemente de acordo com suas funções e deve
sempre estar em movimento. Ele tem a capacidade de
transformação, transporte, manutenção, ascendência,
proteção e aquecimento no organismo.
Tais meridianos existem aos pares e circulam um de
cada lado do corpo, como se fossem linhas imaginárias –
sempre da cabeça aos pés e dos pés à cabeça –, fechando
um circuito por onde caminha o Qi.

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Figura 1

Meridiano dos
pulmões

S-circulação
meridiano

Meridiano
do coração

Meridiano
do baço
Meridiano
dos rins
Meridiano
do fígado

d Existem três meridianos que partem da cabeça e descem pelas


partes posterior e lateral do corpo até os pés. Estes são os me-
ridianos do estômago, da vesícula e da bexiga.
d Outros três meridianos sobem pelos dedos do pé, caminham
pela parte anterior do corpo e terminam no meio do tórax.
São eles: baço, fígado e rim.
d Além desses, outros três meridianos partem do meio do tórax
e se dirigem para baixo pela parte interna do braço até as pon-
tas dos dedos. São os meridianos do coração, sexo-circulação
e pulmão.
d Mais três meridianos partem das pontas dos dedos pela parte ex-
terna da mão, sobem pelos braços até a face. São eles: meridiano
do intestino delgado, triplo aquecedor e intestino grosso.
d O Qi e o sangue caminham juntos dentro dos meridianos e
dos vasos. E é a energia do coração que mantém o Qi em mo-
vimento e dentro dos vasos. Quando nos alimentamos, o baço
e o estômago retiram o Qi dos alimentos e o mandam para o
pulmão. No pulmão, ele entra em contato com o Qi do ar que

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Meridiano
do intestino delgado
Meridiano
do estômago
Meridiano
Meridiano do intestino
da vesícula grosso

Meridiano
do triplo
aquecimento

Meridiano
da bexiga

veio pelas narinas, vai para o coração onde se une à energia do


rim e é transformado em sangue. Portanto, o coração governa
o sangue. Para a MTC o sangue é a forma mais densa de Qi.
d O fígado armazena o sangue. Quando a pessoa está se movi-
mentando o sangue circula; quando se deita e fecha os olhos,
o sangue volta para o fígado para ser regenerado. O fígado
nutre o útero e ovários.
d O pulmão auxilia o baço a mandar o Qi dos alimentos para o cora-
ção, além de ajudar o coração a impulsionar o sangue nos vasos.
d O rim contribui para formar o sangue com o Qi original (que
é aquela energia com a qual “saímos de fábrica”, ou seja, nas-
cemos com ela).
d O intestino delgado recebe alimentos e líquidos do estômago,
separa o que é puro do impuro e manda para o baço somente
o que é puro. O baço, por sua vez, distribui essa energia pura
para todo o organismo. Vale dizer que, na Medicina Ocidental,
o “puro” pode ser entendido como nutrientes, vitaminas e ou-
tras substâncias de vital importância para o nosso organismo.

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Figura 2

É considerado YIN É considerado YANG

Lua Sol
Frio Quente
Mulher Homem
Escuro Claro
Fraqueza Força
Molhado Seco
Sistema nervoso Sistema nervoso
parassimpático simpático
Oeste e Norte Leste e Sul
Outono e Inverno Primavera e Verão
Baixo/ interior Alto/ exterior
Crônico Agudo
Pesado Leve

d Embora sejam estágios opostos, YIN e YANG formam uma


unidade e são complementares.
d O YANG contém a semente do YIN e vice-versa; isso é repre-
sentado pelos pequenos pontos preto e branco no centro.
d Nada é totalmente YIN ou totalmente YANG.
d O YANG se transforma em YIN e vice-versa.
Da mesma forma que a noite, o dia e as estações do ano, o
homem também tem a representação do YIN e do YANG em
todos os seus órgãos e sistemas. E só haverá saúde se houver
equilíbrio entre essas duas forças.
Existe um início, que é o YANG, a representação do nascimen-
to. O viver é o movimento do YANG caminhando em direção
ao YIN, tendo como auge máximo do YANG, que coincide
com a metade da sua vida. Em seguida, o YANG declina em
direção ao YIN, que aqui pode ser representado pela velhice.
Até que o YIN maior, ou auge do YIN, seja representado pelo
fim, o morrer do corpo.

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O mestre do seu sistema 21

Tendo o conhecimento de tais caminhos da energia


em todo o corpo e de sua importância, agora era fácil
para os sábios intervir no seu fluxo para que o equilíbrio
e a cura dos órgãos fossem atingidos através de simples
toques em lugares específicos.
Ainda nos primeiros dias de aula, eu me perguntava:
mas afinal como se desenvolveu tudo isso?
Na MTC, como cita o livro O imperador amarelo, “tudo
se originou do nada e o nada é a essência de tudo”. Para
o chinês tudo no Universo é baseado em dualidades ou
polaridades opostas. Existe o dia e a noite, o quente e o
frio, o sólido e o líquido e assim por diante. A esses opos-
tos denomina-se YIN e YANG. Sendo que o YIN só pode
existir se existir o YANG e vice-versa. Ambos se encontram
em contínuo movimento na natureza. Além disso, tudo na
natureza pode ser classificado como sendo YIN ou YANG.
O YANG está relacionado com o que é quente, claro, exter-
no, forte, movimento. Já o YIN se refere ao frio, ao escuro,
ao interno, à ausência de movimento, ao fraco.
Para se ter uma ideia da dimensão dessa dualidade,
imagine que os mesmos toques de cura foram transfor-
mados em toques de morte nas artes marciais, por estag-
nação dos pontos vitais.
Naquela época, os temidos guerreiros podiam matar
uma pessoa se atingissem certos pontos específicos do
seu oponente com um simples golpe de mão, usando os
mesmos caminhos de energia descobertos pelos monges
no intuito de preservar a vida.
São vários os ensinamentos chineses no sentido de
preservar, equilibrar e proporcionar uma qualidade de
vida, transformando o fato de estar vivo em um grande
privilégio. Pois é uma dádiva poder experimentar, apren-
der e usufruir de tudo que o Universo pode oferecer com
muito bem-estar e harmonia.

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Como mestres que são na arte do equilíbrio, os chi-


neses nos forneceram muitas informações necessárias
para atingir certo grau de compreensão da vida.
E qual seria o melhor caminho para vivê-la com res-
peito e sabedoria?
Ora, vamos seguir com os ensinamentos da Medici-
na Chinesa. Mas seria muita pretensão acharmos que
de um dia para o outro teríamos a capacidade de mudar
nossas vidas e nossos atos para viver como esse povo que
pratica sua sabedoria milenar. Porém, passo a passo, dia
após dia, vamos transformar a compreensão em ação.
Só assim deixaremos de viver a dor, o mal-estar ou os
desequilíbrios para usufruir da beleza e das novidades de
cada dia da nossa existência.
Entre as antigas crenças existe uma lenda oriental
que é contada pelo mestre Shen Menn e ilustra o grande
movimento que é o viver. Ela fala da alma etérea e das
constantes transformações existentes para que alma, ho-
mem e Terra coexistam em perfeito equilíbrio segundo
as leis do Tao.

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2. Os 900 sAbios
Shen Menn nasceu na China, em um pequeno vila-
rejo onde morou até os 36 anos. Foi criado segundo os
princípios e tradições orientais, tornando-se um grande
praticante e estudioso da Medicina Tradicional Chinesa
quando adulto.
Sempre teve como grande referência na vida as sábias
palavras do seu avô, com quem passou boa parte da in-
fância e adolescência. Quando criança, acompanhava-o
na plantação e colheita de ervas, que eram usadas como
medicamento na comunidade.
No início, Shen não compreendia a razão de colhê-
-las somente em determinado mês do ano, ou mesmo
em certa hora do dia. Para ele não fazia muito sentido.
Mas, percebendo a indignação da criança, o avô tole-
rante foi lhe ensinando passo a passo a antiga tradição
– com seus princípios de equilíbrio, as teorias respeito-
sas sobre o movimento da Terra e de como existir nela,
mesmo com as interferências causadas por seu constan-
te estado de transformação. Falava sobre os caminhos
que se interligavam e, por fim, das curas que surgem
como resultado de uma vida levada com regras de bom
senso e equilíbrio.
Shen Menn veio para o Brasil em meados dos anos
1970 para praticar Medicina Chinesa e aprender Me-
dicina Ocidental. Nessa época já era mestre na arte de
curar segundo os princípios da MTC. Instalou-se numa
grande metrópole. Seu principal trabalho, desde então,
foi viver entre os ocidentais pondo em prática os princí-
pios orientais para a cura. Porém, quando se deu conta,
ainda nos anos 70, da semente de destruição que os oci-

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24 Máera Moretto

dentais estavam plantando em relação à saúde, decidiu


difundir a filosofia dos seus ancestrais, ensinando como
a Medicina Tradicional Chinesa cultiva a semente da
vida através da saúde do corpo, da mente e do espírito.
Um dia, quando questionado por um de seus pa-
cientes ocidentais sobre o sentido da existência da alma
etérea – que os chineses reconhecem como aquela que
entra no corpo após o nascimento –, Shen respondeu
contando uma antiga lenda:
“Durante uma caminhada matinal, entre um pas-
so e outro, não pude deixar de ouvir a conversa entre
duas pessoas. Ambas se lamentavam de suas conquis-
tas, de forma frenética e sofredora. Uma dizia que es-
tava muito atrasada e por isso seu dia seria uma bom-
ba que, com certeza, a atingiria de qualquer maneira.
E por isso deveria se apressar. Enquanto a outra, na
mesma frequência destrutiva, parecia orgulhosa de seu
martírio, dizendo de forma imponente: ‘E o meu dia
então? Este, sim, será um terror. Além de tudo, estou
sem carro hoje.’ Nisso, apressaram o passo e foram se
perdendo de minha vista.
Sentindo o cheiro do orvalho e o frescor da manhã
ensolarada, continuei minha caminhada. Mas não pude
deixar de ser contaminado por tanta destruição incons-
ciente. Em segundos, enquanto purificava a minha men-
te, questionei-me sobre como essas pessoas chegaram
até aqui. Veio-me à lembrança meu avô, criatura mui-
to simples e sábia, sempre rodeado por crianças a quem
distribuía ensinamentos e sorrisos.
Meu avô dizia que éramos descendentes de uma raça
muito superior. Uma raça de sábios que não tinham
fome nem sede. E não sentiam falta de qualquer tipo de
alimento que não fossem os alimentos da alma, ou seja,
viviam de bons pensamentos, meditação e oração.

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O mestre do seu sistema 25

Ele contava que nesse mundo ninguém se aborrecia.


Todos viviam em paz e se respeitavam. O aprendizado
existia com amor e carinho. Eles simplesmente contem-
plavam a beleza durante todo o tempo.
Naquele mundo não havia sol, lua, mar ou vento. Ha-
via um equilíbrio perfeito, gerado pela comunhão do ser e
do espaço, de modo tão completo que ser e espaço se con-
fundiam – homem e Universo eram uma única essência.
Nesse Universo, não se fazia ideia do que era dia
e noite e tampouco havia distinção entre vida e mor-
te. Eles simplesmente existiam para evoluir de forma
contínua e eterna, transbordando bons pensamentos e
sentimentos.
As sensações e ideias eram compartilhadas entre eles
de forma telepática e as questões que propiciavam har-
moniosos debates mentais geravam o engrandecer de suas
almas. Era um sistema único. Como se um só organismo
possuísse muitas mentes, muitas almas interligadas.
E nessa harmonia constante passaram-se milênios.
Até que, certo dia, ao tentar aprimorar sua obra, o Cria-
dor decidiu que mais formas de sentimentos e emoções
deveriam fazer parte do conhecimento de tais sábios. Daí
surgiu a ideia de criar a Terra, para que necessidades e
experiências, até mesmo físicas, pudessem trazer novas
descobertas e outras formas de troca entre eles.
Antes os sábios só viam a beleza interior, ou seja, ela
era compreendida como uma sensação de plenitude al-
cançada nas interiorizações, nas meditações. A beleza
não possuía esse contexto que hoje conhecemos, com
suas formas e cores. Isso porque não existiam nem for-
mas, nem cores. Para eles, o belo era simplesmente uma
sensação muito agradável.
Foi então que o Criador fez o “mundo de fora”. Parte
dos sábios, que antes viviam unidos em pensamentos e

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26 Máera Moretto

sentimentos, foi fragmentada em novecentos seres úni-


cos. O que antes era um conjunto agora se transformara
em indivíduos.
Iniciava-se assim uma nova Era.
Nesse momento, os novecentos sábios foram envia-
dos à Terra. Escolhidos a dedo pelo Criador, eles foram
espalhados e agrupados para viver o enriquecimento das
sensações, emoções e ideias, individualmente.
Depois de algum tempo, eles deveriam voltar para
trazer as novas experiências e compartilhá-las com aque-
les que ficaram.
Nesse novo mundo foram criados o esplendor do céu,
em um tom azul divino; o mar com suas formas sinuo-
sas; a Terra com toda sua geografia a ser descoberta; a
força do sol a ser decifrada por mentes tão abençoadas.
Ao chegarem à Terra e abrirem os olhos pela primeira
vez, descobriram, de forma doce e sutil, as mais variadas
sensações. A primeira delas foi a visão. Perceberam que tal
sensação não podia ser dominada. A visão é que dominava
suas mentes. Outrora, o que se via era a plenitude interior,
alcançada de forma esplendorosa pela alma de cada um.
Agora, a beleza que era admirada por todos de uma
só forma se tornou beleza externa, cabendo a interpre-
tação dessa beleza a cada ser, de forma individual e de
acordo com seu grau de evolução.
Eles não eram mais todos iguais.
Viviam num cenário perfeito, tão estimulante que
competia com o anterior, pois era cheio de formas, cores
e brilhos que acabavam por impedir o recolhimento, dis-
persando a mente e dificultando a meditação.
Em seguida, perceberam o prazer do toque: a maciez
da areia morna, o frescor da água do mar. Despertavam
assim para o limite do novo invólucro, que anteriormen-
te não existia e agora permitia novas vivências.

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O mestre do seu sistema 27

Ao repousarem o corpo na água, descobriam a dife-


rença do peso submerso. A delícia do relaxar – que logo
era interrompida pela descoberta do gosto salgado da
água – vinha acompanhada pela necessidade de respirar.
Esses desconfortos coexistiam com a nova forma de vi-
ver. Mas eles eram sábios e, por serem evoluídos, muito
rapidamente aprenderam a respeitar o novo invólucro e
seus limites. E do corpo fizeram a nova morada da alma,
ou seja, o que conhecemos por alma etérea.
Dias se passaram. Agora, eles percebiam o tempo –
mesmo que de forma sutil, diferenciado pela luz do sol
e pela escuridão da noite. Nossos observadores notaram
essa diferença. Mas era somente um novo estímulo vi-
sual exterior, que só mais tarde iria ser compreendido
como uma manifestação da dualidade, de polaridades
opostas: dia e noite, claro e escuro, YIN e YANG. E que
de forma nenhuma ofuscava o grau de concentração in-
terior dos sábios.
E assim o tempo foi passando. A concentração em
busca da elevação permanecia intocável, idêntica à an-
terior. A única diferença: não se tratava mais de uma só
forma de energia; agora ela se dividia entre os novecen-
tos invólucros unitários.
A comunicação era verbal e não mais telepática. Essa
foi a primeira dificuldade. Fazia-se necessária uma reu-
nião física para que houvesse a troca de informação ver-
bal. E isso não acontecia porque era difícil eles se agrupa-
rem. Cada um se isolava em seu mundo, acreditando que
tudo se resumia na contemplação da beleza externa.
Ao perceber a falha do seu mais novo projeto de per-
feição, o Mestre Superior procurou uma forma para re-
tomar a integração perdida. Na tentativa de estimular o
relacionamento entre eles, criou a fome e a sede. Para
saciá-las, surgiram a água cristalina dos rios, as frutas

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28 Máera Moretto

com seus sabores doces e variados; tudo para despertar


a curiosidade de cada sabor, cor e aroma. Nossos ances-
trais se depararam então com a fome, a sensação de va-
zio, a falta de algo. Uma necessidade de preenchimento
interior até então desconhecida e cruel.
Imediatamente, o poder de concentração foi abalado.
A atenção dispersou-se para uma direção desconhecida.
Então, novecentos seres se puseram em pé quase ao
mesmo tempo e, sem rumo, perambularam desordena-
damente, tentando entender essa falta, essa necessidade,
a tão desconhecida dor.
Como mestres que eram, no auge do desconforto,
voltaram-se cada um para o seu interior, buscando res-
posta para aquela sensação de falta. Tentaram suprir o
vazio que tomava conta deles de forma que o equilíbrio
fosse restabelecido. Perceberam, então, a existência do
olfato, e que os diversos aromas existentes estimulavam
a salivação. E essa salivação era interpretada pelo físico
como um caminho rumo à saciedade.
Foi então que as narinas, através dos aromas, passa-
ram na frente dos olhos, levando-os até as frutas mais
perfumadas. Eles descobriram assim o prazer da comida,
com todos seus perfumes, cores e texturas.
Pois bem, a fome fora saciada. Só lhes restava recor-
rer ao aprendizado silencioso até que o tempo da nova
alimentação os despertasse.
Aí descobriu-se outra falha no propósito da perfeição.
Pois se toda a experiência se resumisse a sentir necessi-
dades, como a fome – e então se levantar, locomover-se
e saciar-se para voltar a se isolar –, de nada valeria a
experiência de compartilhar. Portanto, na tentativa de
aprimorar mais uma vez seu projeto, o Criador decidiu
transformar o coração-alma em coração-órgão, que se
abre na mente, isto é, se manifesta através da mente.

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O mestre do seu sistema 29

Essa mente, com memória olfativa, de paladar e tam-


bém com inteligência –, agora um pouco mais voltada
para a sobrevivência do ser –, se deixa envolver em um
projeto de estocar para o futuro. Armazenar.
Assim, o alimento vira moeda. A moeda da vez. A
corrida pela sua obtenção supera a busca pela evolução
da alma. E a inteligência aguçada passa a desenvolver
formas e mais formas de estocar alimentos.
Mas, quando não se tratava de necessidade fisiológica
– pois elas nitidamente cegavam suas mentes e corações
–, eles continuavam seres em que a bondade impera-
va. E, depois da fome saciada, dividiam com amor suas
conquistas tão valiosas: o alimento do corpo. Quando
terminava o ritual da alimentação, novamente se volta-
vam para seu interior, tentando o melhor caminho para
alimentar a alma.
E assim o tempo passava. Porém, as descobertas e as no-
vidades não se desenrolavam em tempo satisfatório, pois
milhões de sábios os esperavam de volta, em algum lugar do
Universo, esperando suas descobertas e aprimoramentos.
Por isso, o Mestre Maior decidiu intensificar as emo-
ções e desejos de forma diferente e única para cada ser.
Uns sentiriam mais fome e outros, mais sede; enquanto
uns seriam mais apressados, outros seriam mais acomo-
dados. Isso explica por que, até hoje, somos tão diferen-
tes uns dos outros.
Perante tais e tantas diferenças, nossos sábios foram
deixando de lado a majestosa sabedoria adquirida em ou-
tros tempos. Esse espaço, antes ocupado por luz e bonda-
de, agora dava lugar às conquistas e realizações materiais.
Suas mentes iniciaram então um trabalho de existir
tão intenso que a beleza da Terra passou a ser devasta-
da pela ambição de uns e de outros. Novas formas de
aquisição foram surgindo. Aquele que possuía a comi-

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30 Máera Moretto

da passou a dominar os menos afortunados – seja por


habilidade ou mesmo por cobiça. E a posse virou uma
bola de neve, que foi se ampliando e tornando as pesso-
as cada vez mais egoístas a ponto de esquecerem-se do
amor de onde vieram.
Assim começou a vida na Terra.
As gerações seguintes desses mestres que chegaram
aqui se encontram totalmente desprovidas da pureza e
da bondade dos seus ancestrais. Hoje, os novos sábios
se denominam assim não mais por dominarem a sa-
bedoria da Terra; nem tampouco pela sabedoria espiri­
tual; e menos ainda pela comunhão de amor, origem de
nossos ancestrais.
Os chamados sábios, hoje, são aqueles que dominam
a “esperteza” que o viver na Terra desencadeou.

Muitos séculos depois, cá estou eu, andando no par-


que nessa manhã de sol. E encontro pessoas que vivem
no auge da luta pela conquista. Não sei do que – e garan-
to que, se elas soubessem, já não teriam a menor ideia
para quê. Para que correm tanto na vida?
Para que tanta preocupação em acumular se é sabido
que daqui nada se pode levar? Acredito que os outros
habitantes daquele mundo estão até hoje esperando o
retorno de pelo menos um dos novecentos sábios, pois
todos se perderam no meio do caminho por causa de um
mero obstáculo: o corpo, o invólucro.
Quantas vezes você se perdeu nos obstáculos criados
pelo seu mundo? Quantas vezes você se achou impo-
tente para vencê-los e simplesmente mudou a tática ou
o caminho? Será que devemos nos afastar do caminho
perante os obstáculos?
E se você encontrasse meu avô, aquele velhinho
com bons olhos, e, quando menos esperasse, ele lhe

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O mestre do seu sistema 31

dissesse que o invólucro foi criado simplesmente para


que novas emoções fossem despertadas em você? E
que você é, sim, um grande sábio prestes a se descobrir,
pois tem em sua matéria células diretas daquele Mestre
Criador – e essas células vieram migrando até formar o
seu organismo?
As células contêm na memória parte do mistério da
sabedoria: o caminho de volta para casa. Pois essa me-
mória sabe como existir sem invólucro – fome, sede, ne-
cessidades, poder, egoísmo, enfim, sem o indivíduo – e,
sim, se beneficiando do coletivo.
Esse é o verdadeiro caminho de volta. E alguém, em
algum lugar, o espera ansioso por essa sabedoria, por
esse segredo.”

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3. O caminho de volta
Mas onde foi mesmo que erramos? Nós nos perde-
mos quando a sobrevivência nos levou à cobiça. E hoje
aqui estamos, procurando sábios prontos, que não exis-
tem, para nos mostrar os caminhos mais fáceis e me-
nos dolorosos. Pois bem. Não existem deuses na Terra.
Chegamos aqui, todos nós no mesmo estágio, vindos da
mesma semente. Cabe a nós resgatar essa semente em
busca do caminho de volta à sabedoria.
Você deve estar se perguntando: mas qual é o melhor
caminho? O melhor caminho não pode ser outro senão o
de volta, aquele inverso ao que foi feito até hoje. A nossa
sociedade corre durante toda a sua existência. Passa pelo
mundo sem desfrutar a vida, porque se encontra corren-
do. Parece que não para desde que se descobriu o tempo.
A imagem se repete: quando se descobriu a fome, no-
vecentos mestres ergueram-se e, em pé, perambularam
sem destino, procurando formas de saciamento. Para que
suas dores fossem supridas. Hoje, todos nós corremos de-
sordenados, à procura de não sei o que, e sem tempo
para pensar no por quê. O tempo foi criado e se formou
um dia para que aprendêssemos a administrá-lo.
Todos temos um propósito para estar na Terra – um
aprendizado ou uma troca, ou mesmo um ensinamen-
to. Mas existe um grande propósito para cada um de
nós. Administrar o tempo seria dar espaço para as di-
versas “pessoas” do nosso cotidiano acontecerem em
nossas vidas.
Muitas vezes, um chefe autoritário, uma colega de
trabalho irritante e outros tantos encontros não são um
aviso dos céus para que você se mate de trabalhar ou se

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O mestre do seu sistema 33

rebaixe. Não significam um sinal de que esse será o pre-


sente e o futuro até o fim. É simplesmente um alerta de
que você deve resgatar sua sabedoria para administrar o
tempo em cada área de sua vida, compreendendo que
novos caminhos devem ser descobertos e que as mudan-
ças não precisam ser radicais para refletirem de forma
intensa na sua vida. Elas podem ser mínimas, através de
cuidados com as palavras, de pequenas atenções com os
colegas; enfim, pequenos atos podem ser a grande dife-
rença no seu caminho.
E para isso deve existir o tempo do equilibrar-se, o
tempo do prazer, o tempo da vida. Está em suas mãos
seguir os ensinamentos da Terra, praticando o compar-
tilhar com familiares, o calor humano, o descansar sem
precisar do inverno para isso, usar o recolhimento como
uma forma de resgate da contemplação.
Quando perguntado sobre como equilibrar-se, Shen
Menn citava um sábio:
“Meu avô sempre dizia que muitos anos atrás, exis-
tiam povos chineses que viviam quase setenta anos a
mais do que a média dos homens da Terra. Na minha
ignorância de criança, perguntava-lhe como era possí-
vel. Ele, como forma de demonstração de sabedoria, me
contava que esses povos respeitavam o início. Respeita-
vam a Terra. Eles a tratavam como um ser vivo, tão vivo
quanto o sol, a lua e as plantas que os alimentavam. E
viviam em harmonia com eles.
Tal povo dormia com o deitar do sol no horizonte e
acordava com o raiar da manhã. Seu desjejum e toda a
alimentação do dia eram feitos de acordo com as quatro
estações do ano. Pois era sabido que cada estação inun-
dava a terra e os homens com a sua energia.
Nos meses de Verão, o coração e a mente ficavam
acelerados. O sangue fluía mais quente, livre e a terra

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34 Máera Moretto

toda se preparava para o nascer, o florescer. Eles não


perdiam os primeiros raios do sol da manhã, pois eles
vinham carregados de vida. Não deixavam o corpo sen-
tir sede, pois a água é o equilíbrio da vida. Não se expu-
nham ao trabalho pesado na hora do sol maior. E procu-
ravam não se exaltar, para que o fogo não os dominasse,
causando doenças.
Para isso, usavam práticas meditativas. Não se ali-
mentavam de comidas quentes, pesadas e temperadas.
Mas nunca deixavam de se alimentar. Pois o Verão é
considerado a época do crescimento. E quem viola o
crescimento padece na próxima estação, o Outono.
No Outono, as árvores expulsam suas flores e é época
da colheita. Uma pequena história ilustra o sentido dessa
estação.
Certa vez, no Outono, uma mãe prestes a dar à luz
em um pequeno vilarejo da China pediu ao seu filho
primogênito que fosse buscar um médico, pois seu bebê
já havia passado da hora de nascer. Ela estava toma-
da pelas dores do parto e, mesmo assim, a criança não
nascia. O filho saiu pelo vilarejo em busca do médico.
Quando o encontrou, explicou o motivo de sua aflição
e foi surpreendido quando o médico lhe disse que não
poderia acompanhá-lo, pois estava realizando um parto
muito complicado.
– Mas como? – indagou o menino. – Então terei que
retornar até minha mãe e informar-lhe que meu irmão
vai morrer?
– De maneira alguma – respondeu o médico, com toda
a calma do mundo, enquanto se abaixava até o chão de
forma lenta e confiante para apanhar uma folhinha que
acabava de cair de uma grande árvore.
– Estou dizendo que não posso acompanhá-lo, mas
posso ajudá-lo. Pegue essa folha de árvore e faça um chá

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O mestre do seu sistema 35

para sua mãe, espere dez minutos e, se nada acontecer,


aí, sim, venha me chamar.
Com muita indignação, o garoto obedeceu ao médi-
co, já que não lhe restavam alternativas. Assim que a
mãe terminou o chá, a criança nasceu e, por coincidên-
cia, o médico estava chegando.
Muito curioso, o menino agradeceu a ajuda, mas dis-
se que não entendeu como uma simples folha de árvore
pode ter influenciado o nascimento do irmão. Com mui-
ta paciência o médico lhe respondeu:
– No Outono, tudo na terra está carregado com a
energia de expulsão. É hora de renovação, para que tudo
possa fluir livremente. E é claro que o seu irmão nasce-
ria, pois as folhas das árvores estão repletas da energia
necessária para o nascimento.
Por isso, aqueles povos da China antiga concentra-
vam-se em tirar da terra de forma gentil o que esta
tivesse a oferecer no Outono. Não violavam as leis da
Natureza. E procuravam manter a mente livre de ansie-
dade e excessos, de desejos e pensamentos. Pois esses
lesam o pulmão, aparelho geniturinário e reprodutor
naquela estação.
O Inverno é a época do armazenar, do estocar, período
em que os animais demonstram sua ligação com a sabe-
doria da terra. Os bichos hibernam. A comida é escassa. Os
antigos se recolhiam mais cedo e acordavam mais tarde.
Mantinham-se aquecidos e sustentavam-se com comidas
quentes, sempre temperadas com ervas fortes. O objeti-
vo era repor, através dos alimentos, as energias que na
Primavera e no Verão vinham do sol. Os homens faziam
projetos e planos. E se reuniam em volta de fogueiras para
dividir o calor humano e a sabedoria acumulada. Uniam-
se para evitar o medo e proteger seus rins ingerindo chás
em abundância. E mais uma vez o equilíbrio era perfeito.

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36 Máera Moretto

O Universo interagia com o homem assumindo a


posição de mestre, pois usava o frio do Inverno para
fazer com que houvesse descanso, mostrando a impor-
tância do parar com a intenção de repor o que é gasto
no dia a dia nas outras estações. O frio faz com que o
calor humano seja despertado, e, nessa hora, o homem
reconhece a importância do relacionar-se, aproximar-
-se das outras pessoas e até mesmo abraçá-las ou sim-
plesmente tocá-las.
Isso porque nas outras estações estamos tão envolvi-
dos nas nossas buscas que nos esquecemos de nos acon-
chegar junto daqueles que amamos. E mais: é preciso o
Inverno para nos recordar que o amor e a demonstração
do amor são formas de energia essenciais para alimentar
nossa vida e nossa alma.
Todos esses ensinamentos eram respeitados para que
o corpo estivesse recarregado de energia para a próxima
estação, caso contrário os rins, o fígado e a vesícula biliar
padeceriam na Primavera.
Na época da Primavera, comemora-se o nascimento
da Terra. E aqueles povos levantavam-se ao nascer do
sol para acordar o corpo com exercícios e caminhadas ao
ar livre – o que fora abandonado na estação passada. A
Primavera é a estação correspondente ao fígado. Portan-
to, não se julga, destrói ou se enfurece. Senão o fígado e
o coração padecerão no Verão que está por vir.
Cada remédio era escolhido em uma determinada es-
tação do ano e fase lunar. Eles viviam na Terra como se
ambos os organismos se misturassem. E foi o que justa-
mente deixamos de viver. “Ou seja, deixamos de lado a
sabedoria da própria Terra no nosso dia a dia.”
Portanto, como diz Shen Menn: “O invólucro é um
grande equívoco. Nós nos sentimos tão limitados que
esquecemos a nossa maior força: a nossa mente, o nosso

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O mestre do seu sistema 37

crer, o nosso querer. Tudo no nosso organismo é mo-


vido por uma força elétrica. Os impulsos nervosos são
elétricos. O coração funciona por impulsos elétricos, os
músculos e tudo o que forma o nosso organismo fun-
ciona assim”.
O que sempre ignoramos é que nossa mente tem ca-
pacidade de produzir ondas eletromagnéticas capazes de
alcançar até mesmo as ondas de outras pessoas. E, então,
enquanto a religião fala em crer, a ciência querer, não
conhecemos a capacidade da nossa mente.
Portanto, não se subestime, lembre-se de que dentro
de você existe aquela célula de sabedoria, e essa célula
carrega a informação que você direcionar a ela. No iní-
cio ela existiu para armazenar informações de equilíbrio.
Mas, quando o caminho do meio, do equilíbrio, se per-
deu – e cada vez mais se perde hoje –, aquela célula de
sabedoria se carrega com informações negativas e des-
trutivas. E então acontece o maior produto de desequilí-
brio do corpo físico, a doença.
Como esse desequilíbrio também se encontra em mo-
vimento, ou seja, buscando o equilíbrio, hoje eu cumpro
meu papel: sou um veículo para que os portadores do
desequilíbrio voltem para o caminho do meio, para que
nossos ciclos possam ser cumpridos.
Dessa forma, continuamente chegam a mim pessoas
que tenho o privilégio de acompanhar na evolução rumo
ao equilíbrio. Vou compartilhar com vocês mais adiante
as trajetórias de algumas delas, pois essa é a maior troca
que se pode ter.
E espero que, como sábios que são, vocês usem para si
os ensinamentos aqui compartilhados; sejam eles para sa-
nar um desequilíbrio já existente, ou apenas para alertá-los
de como seguir pelo caminho correto para que o desequi­
líbrio nunca venha a se instalar. Para isso os convido a

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38 Máera Moretto

reconhecer no seu dia a dia muitas passagens que serão


relatadas a seguir.
Claro que aqui estará preservada a identidade e o his-
tórico de cada paciente. Os nomes e personagens que
seguem são fictícios, embora representem a união de vá-
rios casos reais.

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4. Os caminhos do oriente
e do ocidente
Diferente da Medicina Ocidental, que tende a separar
os sintomas e a tratá-los isoladamente, a Medicina Tradi-
cional Chinesa (MTC) acredita que exista uma interliga-
ção de órgãos e sistemas na nossa máquina perfeitamen-
te projetada. Isso quer dizer que o bom funcionamento
de um órgão ou sistema está diretamente relacionado à
harmonia do conjunto e vice-versa.
A Medicina Ocidental enxerga a doença como algo ex-
terior que o paciente adquire aleatoriamente. E que é pos-
sível removê-la do organismo por intermédio de um tra-
tamento. Ou seja, ela trata a enfermidade e não o pacien­
te. Já a Medicina Tradicional Chinesa enxerga a doença
como resultado do desequilíbrio de um órgão que, por
efeito dominó, acaba por afetar todo um sistema. E, com
o passar do tempo, faz com que o organismo responda a
esse desequilíbrio, abrindo portas para o desenvolvimen-
to de vários pequenos desequilíbrios (como insônia, gas-
trite e outros). Eles são denominados pela MTC como pa-
drões de desequilíbrio – e vão caminhando para, um dia,
se transformarem em uma grande enfermidade.
Desse modo, o tratamento da doença é feito através
da identificação do padrão de desequilíbrio em questão.
Quando lhe devolvemos o equilíbrio, ao mesmo tempo é
restabelecida a harmonia de todo o sistema, partindo do
princípio de que, em um sistema harmônico, não existe
espaço para a doença.
Essa teoria também se estende à mente. Para o chinês,
toda patologia da mente tem origem em um órgão que,

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40 Máera Moretto

em determinado momento da vida, perdeu seu equilí-


brio, gerou um padrão de desarmonia, culminando no
estado emocional alterado do paciente.
Para eles a palavra mente engloba cinco itens: alma
corpórea, que segundo a cultura oriental morre com o
corpo físico; alma etérea, que sobrevive à morte do cor-
po na forma de uma energia sutil; inteligência; força de
vontade; e a mente propriamente dita.
O chinês entende a mente como sendo uma das for-
mas mais sutis de Qi. E acredita que ela se forma pela
união da energia da mãe e do pai na hora da concepção.
Depois do nascimento, essa energia doada pelos pais,
que é mais conhecida como “essência pré-natal” – uma
vez que se trata de uma energia anterior ao nascimen-
to –, é armazenada nos rins e usada como combustível
para o perfeito funcionamento da mente durante toda a
vida. Isso explica também a importância da preservação
da energia do rim para a MTC.
Você deve estar se perguntando como isso ocorre.
Essa energia, armazenada no rim, é fruto da doação
de Qi da mãe e do pai antes do nascimento. E deve ser ali-
mentada no decorrer de toda a vida. Ela precisa se man-
ter forte o suficiente para ser usada por seu organismo,
garantindo assim o funcionamento saudável da mente.
Para que isso aconteça, a energia do rim deve ser nutrida
pela essência refinada da água e de alimentos ingeridos.
Os responsáveis pela captação e digestão de alimen-
tos e líquidos são o estômago e o baço. O estômago tem
a função de receber os alimentos e enviar a energia re-
tirada deles para o baço. Aí, ela passa por um processo
de purificação, separando o que é puro do impuro. Em
seguida, o baço distribui essa energia para o corpo todo.
No Ocidente, esse processo pode ser comparado com a
separação entre nutrientes e toxinas.

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O mestre do seu sistema 41

Você deve estar se perguntando: mas o que isso tem


a ver com a mente?
Acontece que um estômago forte retira a energia dos
alimentos, enquanto um baço forte separa o puro do im-
puro e distribui aquela energia para onde ela for neces-
sária, inclusive para a mente.
Por outro lado, um baço forte manda energia sufi-
ciente para o pulmão e o coração. Esses dois órgãos são
de primordial importância nesse processo, pois contri-
buem para a fabricação do sangue, fundamental para
nutrir a mente.
Segundo os chineses, uma mente só pode ser sau-
dável e equilibrada se for bem nutrida por Qi e sangue.
Quando um dos dois for insuficiente, a mente perde
sua direção dando início a desequilíbrios e patologias
da mente.
Durante esse processo de purificação do Qi, a energia
acaba por ser enviada para os intestinos. Aí ela sofre mais
um processo de triagem: o que for realmente necessário
ao organismo será absorvido; e o que não for útil será
eliminado na forma de fezes. Podemos concluir, então,
que o equilíbrio desse sistema está diretamente relacio-
nado com o nosso mental e emocional. Vale observar
que são frequentes as pessoas que sofrem de problemas
emocionais e têm o funcionamento do intestino altera-
do – como no caso das colites nervosas ou síndrome do
cólon irritado, por exemplo.
Todas essas características são analisadas quando um
médico chinês diagnostica um paciente. Ele não trata
uma síndrome preestabelecida ou rotulada. Para ele,
você não tem uma doença, tem um desequilíbrio que
alterou o funcionamento do sistema. E isso gerou sinto-
mas que deverão desaparecer quando o reequilíbrio do
organismo for restabelecido.

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42 Máera Moretto

Quando analisamos os problemas mentais e emocio-


nais de acordo com os princípios da Medicina Ocidental,
nos deparamos com uma série de rótulos, em que as pes-
soas são enquadradas em diversas doenças e síndromes,
como, por exemplo, crises de ansiedade, transtorno do
pânico, transtorno obsessivo-compulsivo(TOC), síndro-
me bipolar, depressão e estresse, só para citar alguns dos
distúrbios emocionais tão comuns na atualidade.
A maioria deles é resultado de desequilíbrios de subs-
tâncias químicas e hormonais, como serotonina, adrena-
lina e muitas outras. O diagnóstico na maioria das vezes
é clínico.
Já para a Medicina Chinesa trata-se simplesmente de
uma falha em algum ponto do sistema – ou seja, uma
verdadeira “pane”. Assim, enquanto o ocidental fala em
estresse, TOC, crise de ansiedade, síndrome do pânico
e outras, o oriental fala em desequilíbrio no sistema ou
simplesmente pane. E o que vai diferenciar uma das ou-
tras será o órgão mais afetado, seja por excesso, estagna-
ção ou deficiência de energia.

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,
5. As varias faces ,
do mesmo desequilibrio
Você está num restaurante à espera de sua mãe. O
tempo passa e ela não chega. Checa o celular e não há li-
gações não atendidas. Imediatamente você imagina que
algo terrível possa ter acontecido. Ela nunca se atrasa.
Sem querer assustar outros familiares, você liga para sa-
ber se ela já saiu. Quando recebe a notícia de que ela saiu
há quarenta minutos, começa a sentir um mal-estar.
A mente está a duzentos por hora, a respiração fica
acelerada. Você não para de olhar o relógio e começa a
caminhar em direção à porta, pensando em quem mais
pode saber sobre ela. Nessa hora, você está transpirando
e as pessoas olham com estranheza os seus movimentos
bruscos. Aí sua mãe entra no restaurante e você está tre-
mendo, extremamente nervoso, à beira de um colapso.
Essa cena é apenas um exemplo de um distúrbio
muito comum na sociedade moderna, que pode atingir
diferentes níveis de reações emocionais em uma escala
assustadoramente ascendente. Trata-se da ansiedade –
desencadeada por inúmeros motivos, desde o mais banal
até um acontecimento irreversível como a morte de um
ente querido –, que começa de modo sutil e imprevis-
to, aumenta gradativamente e, se não for interrompida,
pode chegar à temida crise do pânico.
Por outro lado, existem vários níveis dessa pane e to-
dos nós já a vivenciamos de certa forma um dia; seja
na fobia por insetos, que teoricamente são inofensivos,
como a barata, ou até o simples medo de elevador. Quem
nunca sentiu uma falta de ar, uma batedeira no peito no

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44 Máera Moretto

trabalho, em momentos decisivos? Mas, muitas vezes,


como seres esclarecidos que somos, descarregamos essa
sensação de pânico subindo na cadeira e gritando quan-
do, por exemplo, vemos um rato.
No entanto não estamos livres de desencadear uma
grande crise quando algum fato de maior peso acontece
nas nossas vidas. A recorrência da crise acaba, de certo
modo, limitando a pessoa em várias atividades, chegan-
do até a prendê-la em casa, temerosa da próxima crise.
A síndrome do pânico – ou transtorno do pânico,
como também é denominado – pode se revelar por um
desequilíbrio nos receptores químicos do cérebro, fazen-
do com que o organismo se encontre em permanente es-
tado de alerta, ativando o estímulo de ataque ou fuga.
De acordo com estatísticas recentes, a síndrome do
pânico vem acometendo de 2 a 2,5% da população mun-
dial em diferentes níveis de intensidade. São milhões de
pessoas que muitas vezes podem até ser privadas do con-
vívio social. E pior: as principais vítimas são jovens na
faixa de 15 a 45 anos. As mulheres têm uma incidência
desse desequilíbrio de até 70% maior em relação aos ho-
mens da mesma faixa etária.
Geralmente são pessoas de personalidade forte, ex-
tremamente críticas, às vezes bem-sucedidas, com altos
cargos profissionais, ou grandes responsabilidades na
vida. São líderes respeitados ou pessoas extremamen-
te admiradas em seu círculo social. Existe uma gran-
de probabilidade de um envolvimento genético, sendo
muito comum observar na família pessoas com algum
tipo de transtorno psíquico.
Acredita-se que esse desequilíbrio esteja relaciona-
do ao alto nível de estresse da vida moderna, em que as
pessoas têm um enorme acúmulo de atividades e pre-
ocupações.

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O mestre do seu sistema 45

O cérebro passa então a reconhecer qualquer coisa


como um grande perigo e, assim, o sistema nervoso au-
tônomo começa a liberar substâncias, acionando o me-
canismo de fuga.
O cérebro possui vários mecanismos de identifica-
ção de perigo, um deles é a chamada amídala cerebral,
uma pequena estrutura que é responsável pela identifi-
cação de situações de risco ou de ameaça. Quando uma
situação dessas é reconhecida, ela alerta o corpo para
que ele responda à altura enfrentando a situação ou o
problema.
Assim que reconhece o perigo, a amídala aciona o sis-
tema nervoso simpático, que por sua vez prepara o cor-
po para a ação, elevando a frequência cardíaca, a pres-
são arterial, aumentando a transpiração. Interrompe-se
a digestão, ocorre a liberação de glicose para o sangue e
este segue em maior quantidade para os músculos, fa-
vorecendo assim a atitude a ser tomada, caso precise de
uma reação imediata.
Nesse momento, toda a energia disponível no cor-
po é usada no processo. O sistema nervoso simpático
aciona as glândulas adrenais, responsáveis por liberar a
adrenalina no sangue, mantendo o corpo em alerta por
mais tempo.
Na mesma hora, a amídala do cérebro aciona o hipo-
tálamo e este estimula as adrenais a produzir o hormô-
nio cortisol, mais conhecido como hormônio do estres-
se. Quanto mais cortisol é liberado no sangue, mais se
intensifica a ação da adrenalina. Assim, essa situação de
alerta pode ser mantida por horas.
Além de deixar o corpo pronto para a ação, a amída-
la é capaz de estimular regiões do cérebro responsáveis
pela liberação de noradrenalina, substância que, por sua
vez, deixa o cérebro pronto para a ação. Vale lembrar que

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46 Máera Moretto

a noradrenalina faz, no cérebro, o mesmo trabalho que


a adrenalina fez no corpo. Ficamos em estado de alerta
para o que se passa.
A capacidade de processamento do córtex se aguça,
fazendo com que o cérebro reaja mais rapidamente, o
pensamento fique ágil e, para ajudar, o cérebro produz
analgésicos naturais, como as endorfinas.
Todo esse mecanismo é muito útil no dia a dia, quan-
do precisamos tomar decisões importantes ou decidir de
forma rápida, pensando sobre os prós e contras das deci-
sões a serem tomadas. Mas o perigo se encontra quando
essa situação é solicitada em demasia. Aí o feitiço se vol-
ta contra o feiticeiro...
Quando acontece em excesso, a liberação da nora-
drenalina prejudica os neurônios, gerando confusão
mental e dificuldade para tomar decisões. É quando se
instala a crise do pânico – além de a memória ser altera-
da. Por isso é comum, em casos de estresse agudo como
no vestibular, por exemplo, a pessoa ter um “branco” e
esquecer a matéria estudada.
No caso de um estresse intenso, como um assalto, por
exemplo, tanto a memória pode ser atingida – fazendo
com que a pessoa paralise suas ações ou gagueje – como o
corpo pode sofrer com infartos, arritmias ou mesmo der-
rames. Mas, felizmente, existe no organismo o princípio
do equilíbrio. Possuímos um mecanismo responsável pelo
caminho contrário ao estresse, ou seja, o relaxamento.
Quando o perigo passa, normalmente ainda possu-
ímos adrenalina e cortisol circulantes que continuam a
estimular estresse. Para retornar ao equilíbrio, o cérebro
ativa o sistema nervoso parassimpático, que é responsável
pelo relaxamento do corpo. Ele libera um hormônio cha-
mado acetilcolina, que tem ação oposta à adrenalina e ao
cortisol, fazendo com que o coração desacelere, a pressão

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O mestre do seu sistema 47

arterial diminua, o intestino e o estômago retomem suas


funções normais e o organismo volte a estocar energia.
Normalmente, mantemos esse sistema parassimpá-
tico em um grau mínimo de ativação durante o dia a
dia para que o estresse não se instale. O nervo vago é
o intermediador dos efeitos parassimpáticos, pois é ele
que conduz o estímulo aos músculos do corpo para que
eles relaxem. E, da mesma forma, esse nervo conduz as
ordens de relaxamento do parassimpático até o coração
para que a frequência cardíaca desacelere.
Toda vez que você enche o peito de ar, respirando
profundamente, comprime o nervo vago aumentando
a frequência cardíaca. Isso ocorre porque o nervo vago,
quando comprimido, deixa de realizar com sucesso sua
ação de diminuir a frequência cardíaca. Por isso, quan-
do nos encontramos ansiosos começamos a respirar mais
rápido, aumentando a quantidade de ar nos pulmões.
Aí ocorre a compressão do nervo vago; ele falha na sua
função e o coração acelera.
Assim a ciência explica a importância dos exercícios
respiratórios – que há séculos o chinês inclui no seu co-
tidiano como fonte de vida.
Durante uma crise, ao acionar esses mecanismos
desencadeamos uma série de sensações. Isso porque o
cérebro, quando é hiperestimulado por situações de es-
tresse, entende que a todo o momento a pessoa está em
perigo e, portanto, deve atacar ou fugir. Esse estímulo de
forma contínua desequilibra os receptores e causa vários
sintomas, como taquicardia, sudorese e falta de ar.
Muitas vezes, a pessoa já passou por todos esses sin-
tomas e acaba demorando muito a ser diagnosticada.
Isso porque procura o pronto-socorro nos momentos
de crise e, como os exames tendem a ser normais, ela
recebe alta hospitalar sem mais orientações. Esse fato

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tende a piorar cada vez mais o estado do paciente, pois


este se sente desorientado, chegando a questionar até
mesmo sua sanidade mental.
Outro obstáculo do diagnóstico é a desinformação
das pessoas de seu convívio, que tendem a classificar as
vítimas daquele desequilíbrio como preguiçosas, desocu-
padas, loucas ou vagabundas.
Na Medicina Ocidental, o tratamento inclui drogas e
antidepressivos, administrados para conter a crise. Po-
rém, assim que essa primeira fase é superada, inicia-se a
terapia através de orientações psicológicas, que tendem
a reorganizar a maneira com que os pacientes enxergam
a vida, ensinando-os a conviver e a vencer a doença.
Na Medicina Tradicional Chinesa estamos diante de
um único distúrbio – seja a ansiedade exagerada ou a
crise do pânico – que tem várias faces. Por isso, o trata-
mento é baseado no diagnóstico de qual órgão ou siste-
ma está em desequilíbrio para, então, se buscar a harmo-
nia de todo o organismo.
A primeira pessoa que chegou até mim com sintomas
de doença, sem ter o corpo doente, foi uma moça de 18
anos. Naquela época – há cerca de dez anos – o diagnós-
tico era mais difícil. Até então não se falava em doenças
psicossomáticas. Ângela tinha medo de convulsionar e
morrer, não podia permanecer sozinha em um ambien-
te. O temor da convulsão acionava todo um processo de
ansiedade, acompanhado por falta de ar que culminava
em tamanho ataque de pânico que a qualquer momen-
to parecia que iria perder totalmente o controle. Ângela
tinha uma alteração na energia do fígado, que impedia
sua mente de funcionar de forma ordenada.
Outro caso de pânico foi o de uma mãe que, dez dias
após dar à luz, sentia uma enorme solidão, acompanhada
por falta de ar e sensação de incompetência para cuidar do

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O mestre do seu sistema 49

filho. Cátia não podia dormir, sentia-se muito cansada, a


ponto de explodir. Ela apresentava um desequilíbrio por
causa da quantidade de sangue que perdera no parto.
Uma jovem senhora de mais ou menos 40 anos me
procurou por estar desequilibrada emocionalmente. An-
tônia sentia um frio que não passava nem com o mais
grosso dos cobertores – parecia uma queda de pressão.
Achava que ia desmaiar, sentia tonturas e formigamen-
tos pelo corpo, transpirava frio, não conseguia dormir,
pois a mente não parava de trabalhar. Uma angústia sem
causa aparente invadia seu peito, impedindo-a de viver
normalmente. Tudo perdia o sentido. Os alimentos, os
passeios e ou lugares de sua preferência pareciam não
ter mais graça. Antônia vivia cansada e desanimada. Ela
sofria de um esgotamento de Qi.
Mariana, 17 anos, me procurou com medo de ficar
sozinha. Dizia sentir-se mal, com falta de ar, muito sono,
aperto no peito e angústia sem motivo aparente. Apesar
de repetir a cada momento que estava tudo bem em sua
vida, tinha medo de sair na rua e de ficar sozinha em casa.
A deficiência de Mariana era do Qi do coração e pulmão.
Ana Maria, que hoje tem 78 anos, relata que desde os
22 sofre de sintomas físicos, como formigamento, falta
de ar e até mesmo paralisações em algumas articulações
que a impedem de levantar um copo de água, pois a
sensação de que pode desmaiar a qualquer minuto não
a deixa nem mesmo raciocinar. Nesse caso, seu pavor
não era de ficar sozinha e, sim, de estar em público, ou
rodeada por pessoas. Temia sentir-se mal, ter que ser
atendida ou levada a um hospital, causando um grande
transtorno às pessoas. E por toda sua vida essa senhora
passou de médico em médico. Seu caso só foi esclarecido
há cerca de um ano e meio. Hoje, na MTC, tratamos a
sua deficiência de sangue.

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50 Máera Moretto

Mas por que essas pessoas se sentem atormentadas


por esses sintomas – embora sejam indivíduos sem gran-
des sofrimentos na vida? Por que isso acontece com elas,
pessoas bem-sucedidas, amparadas, acolhidas pelos fa-
miliares, sem nenhum problema de saúde? Por que elas
têm sensações que não desejariam nem para o pior ini-
migo? Por que isso se desencadeia?

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PARTE 2

Os caminhos,
do desequilibrio
Disse Quibo: o paciente é a raiz e o
médico é o ramo; ambos devem ser
compatíveis. Naturalmente, é neces-
sária a cooperação do paciente, mas
apenas a cooperação do paciente, sem
um bom médico, não basta; também
se pode falar da incompatibilidade da
raiz com o ramo, e o mal tambem não
pode mais ser removido.

O imperador amarelo,
Bing Wang, cap. 14

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6. O amor e suas armadilhas
,
Historia de Manuela
Manuela tem 28 anos, casou-se há um ano e meio,
depois de oito anos de namoro. Pertence a uma família
simples, é filha única e se dá muito bem com a mãe. Seu
pai já é falecido.
Manuela é enfermeira e uma pessoa muito decidida,
firme, às vezes até mesmo rotulada pelos outros como
antipática. Sabe bem o que quer e não mede esforços
para conseguir o que quer. É muito inteligente, sempre
teve as melhores notas. Hoje trabalha em um grande
hospital como chefe de um setor.
Pelo fato de ter perdido o pai muito cedo, sente-se de
certa forma responsável pela mãe. Quando se casou, fez
questão de morar perto dela para estar sempre ao seu lado.
Há pouco tempo, o marido teve uma proposta de em-
prego em uma cidade vizinha e passou a viajar muito,
retornando para casa somente nos finais de semana. Foi
quando apareceram os primeiros sintomas: o coração
acelerava, sentia falta de ar e parecia que sua pressão
estava sempre caindo.
Nos meses seguintes começou a sentir muita dor de
cabeça. As crises eram fortes e não passavam nem mes-
mo com remédios. Por estar familiarizada com a equipe
médica, passou pelos melhores neurologistas – nessa al-
tura, suspeitava de alguma coisa no cérebro pior do que
uma simples dor de cabeça.
“Por mais exames que eu fizesse, tanto na cabeça como
no coração, não encontravam nada. Todos os resultados
eram normais. E, quanto mais exame eu fazia, mais se

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O mestre do seu sistema 53

confirmava que não havia nada errado comigo. Piorava


cada vez mais e achava que algo grave havia passado des-
percebido pelos médicos. Temia a hora que fosse diagnos-
ticada com algo muito ruim”, conta.
Manuela chegou ao ponto de não poder ficar sozi-
nha. Sempre foi possessiva com o marido e, à medida
que seu quadro piorava, começou a sentir um ciúme do-
entio. Passou a achar que estava sendo traída, desconfia-
va de tudo, até mesmo de uma conversa ao telefone. Um
simples atraso quando ele ia fazer supermercado passava
a ser motivo de guerra de nervos por dois dias.
“Estava enlouquecendo, parecia que ele não mais me
amava. Não me dava tanta atenção quanto antes. Estava
sempre correndo e quando reclamava ele dizia que era
loucura da minha cabeça”, recorda. Tais desconfianças
soavam como falsas e ele, como mentiroso. Na sua ca-
beça, ele a deixaria a qualquer momento e ela passou a
viver assustada, pensando que a qualquer minuto seria
abandonada.
A vida tornou-se insuportável, pois as crises não ti-
nham fim. Foi quando uma amiga a encontrou em uma
reunião de família e, sabendo do seu estado, contou-lhe
sobre o mestre Shen Menn, a quem recorreu com sin-
tomas parecidos com os dela e, com a ajuda do mestre,
conseguira superá-los com sucesso.
E foi assim que ela foi procurar o mestre Shen Menn.

Manuela e o Mestre
Quando chegou ao mestre, Manuela parecia muito
assustada. Olhava ao seu redor com ar de desconfiança.
Tinha na face uma expressão de cansaço misturada com

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54 Máera Moretto

um sofrimento tão grande que até a fez parar de julgar


o ambiente e tentar saber se Shen Menn realmente po-
deria ajudá-la.

MA N UELA Confesso que não tenho a mínima ideia de


como funciona a Medicina Chinesa para o tratamento
do que eu sinto. Mas como a amiga que o indicou hoje
está muito bem da síndrome do pânico, e provavelmen-
te seja o que tenho também, resolvi vir. Só que, para
piorar, morro de medo de agulhas, vai doer?

MESTRE É um prazer conhecê-la. Mas antes de qual-


quer coisa é preciso dizer que a Medicina Chinesa não
trata a síndrome do pânico em si. Na verdade, procuro
nem classificar assim, prefiro chamar de uma pane no
sistema, o que não deixa de ser, já que chamamos pane
todo o desequilíbrio nessa nossa máquina tão bem cons-
truída e administrada.
A MTC, como chamamos a Medicina Tradicional Chi-
nesa, trata os desequilíbrios restabelecendo a harmonia
e o funcionamento de seus órgãos, eliminando as causas
que a levaram a sentir certos sintomas. Não são medos e
fobias que vamos tratar – e, sim, desequilíbrios de órgãos
que culminam em medos e fobias. Dessa forma, restabe-
lecemos o equilíbrio e seu organismo sai da pane. E as-
sim não há mais motivo para que ela volte. Foi isso que
ocorreu com sua amiga.
Respondendo à sua pergunta, não vai doer. O que
você sente é uma reação que o chinês conhece por “Te Qi”
(pronuncia-se Te tchi). Quando acontece o Te Qi significa
que a energia está percorrendo o meridiano estimulado.
Não se trata de uma dor, mas de uma sensação que per-
corre o caminho do canal de energia solicitado. Pode ser
comparado a um leve formigamento ao longo do trajeto

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O mestre do seu sistema 55

do meridiano. E esse Te Qi deve ser alcançado para o su-


cesso do tratamento. Existem casos nos quais a debilidade
de Qi do paciente é tão grande que temos de manipular a
agulha girando-a no ponto, depois de inserida, até que o
Te Qi seja alcançado.
O chinês diz: “A velocidade em que chega o Te Qi
pode ser comparada à velocidade em que chega a cura”.

MA N UELA Então é o Qi que cura?


MESTRE Qi é a energia que corre nos nossos meridia-
nos. O Te Qi é a sensação causada pela agulha quando
o Qi se movimenta no canal de energia. E o processo de
cura ocorre devido à condução ou dispersão do Qi no
órgão em desequilíbrio. Você deve estar se perguntando
como a agulha vai agir no seu corpo. Do ponto de vista
ocidental, quando ocorre a inserção da agulha é estimu-
lada a produção de neurotransmissores, de hormônios
e de outras substâncias que vão lhe dando sensações de
bem-estar, analgesia, isto é, eliminando a dor, etc.

MA N UELA É como se a acupuntura fizesse o meu corpo


produzir remédios?

MESTRE Mais ou menos isso, Manuela. Como disse, seu


organismo começa a produzir substâncias similares a me-
dicamentos. Mas, segundo a MTC, pela acupuntura o Qi é
redistribuído de forma equilibrada e assim a cura acontece.

MA N UELA Mestre Shen, eu sou muito resistente ao uso


de medicamentos controlados, talvez seja até mesmo
preconceito. Mas eu tomo antidepressivo e calmante.
Você acha que, como vou fazer acupuntura, devo parar
com isso?

MESTRE De forma alguma, existem casos em que o trata-


mento medicamentoso é de extrema importância. E a acu-

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56 Máera Moretto

puntura vai funcionar concomitantemente a eles. O que


ocorre é que conforme vamos nos aproximando da cura –
seja em qualquer patologia tratada pela acupuntura – você
vai gradativamente diminuindo a necessidade dos remé-
dios. Mas isso quem vai dosar e analisar é o seu médico.

MA N UELA Eu só consigo dormir se tomar remédio.


Quando você acha que esse quadro vai mudar?

MESTRE É difícil precisar uma data ou número de


sessões necessárias para sua cura. Isso vai depender da
resposta do seu organismo. Mas posso lhe adiantar que
não costuma demorar muito. Antes disso, preciso saber
o que a levou a tudo isso. E, para tanto, gostaria que me
contasse o que você sente.

MA N UELA Eu me sinto muito mal, parece que vou enfar-


tar, desmaiar ou qualquer coisa do gênero. Não consigo
mais ficar sozinha, pois tenho medo de passar mal. Não
posso trabalhar direito porque temo uma nova crise a
qualquer momento. Não sei mais o que fazer. Eu não
sou assim. Às vezes eu me questiono se o diagnóstico
está certo mesmo. É que eu sou da área da saúde e co-
nheço as doenças; por isso posso dizer que o que sinto é
real demais para ser coisa da minha cabeça.

MESTRE Para falar a verdade, eu acredito em você


quando fala que não pode ser somente coisa da sua ca-
beça. Para a MTC, cada uma dessas sensações tem uma
origem, e quanto maior o desequilíbrio mais sintomas
você vai ter – e o inverso também é verdadeiro.

MA N UELA Então devo ter um desequilíbrio enorme, você


não acha?

MESTRE Eu não sei, mas é isso que vamos averiguar.


Quando você se deu conta dos primeiros sintomas?

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O mestre do seu sistema 57

MA N UELA Há oito meses comecei a sentir tonturas e for-


migamentos. Eu atribuía tudo isso ao estresse, pois na
época tinha dois empregos. Mas o que eu não entendia
era a angústia que me apertava o peito e que não tinha
motivo de existir, já que nada me faltava.
Nessa época surgiu a oportunidade de o meu ma-
rido ser transferido para a cidade vizinha e, apesar de
ser contra, pensei, racionalmente, que seria muito me-
lhor. Então tive que concordar, mas por dois meses
essa resposta ficou pendente. Torci muito e nem sei
se era para que desse certo ou errado. Mas sei que foi
uma expectativa absurda; uma enorme ansiedade. E a
resposta não saía. Não podíamos definir nossos planos,
foi horrível.
No dia seguinte à confirmação, depois de dois meses
nessa agonia, estava de plantão no hospital quando uma
senhora enfartou e eu travei no meio do atendimento.
De lá para cá, dia após dia novos sintomas apareceram.
O que você acha que aconteceu? Eu sempre presenciei
coisas piores e nunca me abalei.

MESTRE Na verdade, pelo que me contou seu dese-


quilíbrio vem de muito antes dos sintomas se apre-
sentarem. Todo evento importante na nossa vida, por
melhor que seja, passa a ser um estresse pelo fato de
ser grande. Você se casou há um ano e meio, e o corre-
-corre do evento do casamento pode ter sido o início
para o seu desequilíbrio.

MA N UELA Como assim? O casamento foi ótimo, a coisa


mais esperada da minha vida.

MESTRE Eu acredito que sim, Manuela, mas mesmo


sendo uma emoção positiva, a Medicina Chinesa con-
sidera qualquer emoção que ocorra em excesso como

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58 Máera Moretto

uma emoção negativa. E ela esgota a energia de um ór-


gão correspondente.
Por exemplo, o excesso de tristeza prejudica o pul-
mão; o excesso de fúria lesa o fígado; a preocupação em
demasia prejudica o baço; o medo depaupera o rim; a
euforia ou a alegria em excesso atinge o coração pre-
judicando este órgão. No entanto, para que as emoções
sejam identificadas, elas passam primeiro pelo coração
e fígado. E cabe à mente sentir e definir a emoção para
depois enviá-la ao órgão correspondente. Mas, como o
coração é a morada da mente, toda emoção passa por
ele – e é por isso que os budistas acreditam que a emoção
deva ser vivida e sentida com moderação.
Portanto, não devemos pensar demais, desejar de-
mais, sentir raiva demais; ou mesmo medo demais, pois,
se contivermos nossas emoções, preservaremos a nossa
saúde, não só do corpo como também da mente.
Mas voltando ao seu casamento garanto que foi
muito planejado, ansiado e lhe causou muita euforia.
Todas essas emoções, como vimos, atingem o coração
e, com o passar do tempo, esse órgão vai se tornando
fraco. Consequentemente, a mente começa a perder sua
firmeza de direção. A adaptação à vida de casada não é
uma coisa fácil. Principalmente para uma mente que já
vinha enfraquecida com o acontecimento do casamento
o fato de ter que se readaptar a uma nova vida acabou
por perturbar ainda mais o seu equilíbrio. Fora isso, o
fato de deixar sua mãe sozinha deve ter-lhe causado
muita culpa.

MA N UELA Causou, sim, a minha culpa foi tão grande


a ponto de quase ter desistido de me casar no último
mês. Pensava em como seria a vida dela se eu a dei-
xasse só, pois ela fazia tudo por mim. Cuidava desde a

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O mestre do seu sistema 59

minha roupa até da comida, preparava meus lanches e


querendo ou não eu era a única motivação, ou o úni-
co compromisso da vida dela. O meu medo era de ela
entrar em depressão depois do meu casamento. Tanto
que vou à sua casa todos os dias, mesmo que eu esteja
exausta. E nos finais de semana sempre a incluo nos
meus programas.

MESTRE Sabe, Manuela, a culpa lesa o coração, o rim e


causa estagnação de Qi. Como lhe falei, o rim é respon-
sável pelos nossos medos.
Alguns meses depois, quando o seu marido compar-
tilhou com você a ansiedade prolongada da mudança
de cidade, sua mente não aguentou e, como a defi­
ciência toda veio do coração, começou a ter sintomas
de doença.
Sentiu seu coração bater descompassado, pois a an-
siedade estagnou o Qi do coração e esse provavelmente
parecia que ia sair pela boca – ou pelo menos arrebentar
o seu peito porque batia descontroladamente.
Mas o fato de sentir formigamentos, para a MTC, já
era indício de deficiência de Qi e sangue. O Qi e o san-
gue caminham juntos pelo organismo e o estresse so-
frido desde a data do seu casamento foi gradativamente
lesando os órgãos responsáveis pela impulsão do san-
gue – este diminui a velocidade de circulação e, assim,
menos Qi e sangue chegam às extremidades, causando
formigamentos.

MA N UELA Mas o que me fez ficar insegura, com medo


de ficar sozinha e ser ainda tão ciumenta? Eu nunca fui
assim!

MESTRE Na verdade, como sua mente está sem morada,


devido à deficiência do seu coração, ela começa a ficar

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60 Máera Moretto

dispersa, você deve ter se percebido com o olhar longe e


desligada dos acontecimentos à sua volta por inúmeras
vezes, não?

MA N UELA É verdade. Muitas pessoas à minha volta sem-


pre repetiam: “Acorda, em que mundo você está?”. Isso
me incomodava muito, e nos últimos tempos tem ocor-
rido com maior frequência, mas o que tem isso a ver
com a minha insegurança?

MESTRE Pelo fato de sua mente estar fraca, a ponto


de nem conseguir se fixar no que ocorre à sua volta, ela
precisa de uma mente forte por perto. Uma vez que a
sua perde o poder de avaliar se você realmente corre pe-
rigo, se realmente vai enfartar ou se só está com o cora-
ção acelerado não consegue ficar sozinha. Quando esses
episódios ocorrem repetidas vezes, depauperam o seu Qi
e, dependendo do órgão que sofre a deficiência, excesso
ou estagnação, por exemplo, ele acusará um sintoma re-
ferente a esse órgão, como medo, insegurança ou ciúme,
no seu caso.
Sua mente deve ter criado situações dignas de ciúme
em relação ao seu marido, pois o medo da distância, na
visão de uma mente enfraquecida, provavelmente é mo-
tivo de muita preocupação, não é?

MA N UELA Foi mesmo, eu só pensava que ele poderia


me deixar. Porque, com o tempo, o amor acabaria por
causa da distância; que ele faria um novo círculo de
amigos dos quais eu não participaria; e jamais poderia
ir com ele, pois minha mãe não iria e, como filha única,
não poderia deixá-la sozinha. Foi aí que comecei a me
sentir triste e desanimada. Várias vezes senti que ele es-
tava indiferente comigo, tão preocupado com a carreira
que, mesmo sem saber se iria ser chamado ou não, já

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O mestre do seu sistema 61

não ligava mais para mim como antes, estava irritado,


sem paciência e eu ia me sentindo cada vez mais fraca
e doente.
Eu sei que ele me ama, pois me diz isso todo o tempo,
mas não consigo mais me sentir amada; estou sempre
preocupada, desconfiada e com medo. Medo de passar
mal, de perder o controle, de ficar sozinha. Todos es-
ses medos não me deixam parar de pensar. Estou muito
cansada, o que posso fazer para mudar isso?

MESTRE Da mesma forma que sua mente não pode dis-


cernir se seu corpo está em perigo, é lógico que não vai
poder identificar qualquer demonstração de afeto com
clareza. Mas isso pode mudar assim que conseguirmos
mudar o seu padrão de deficiência, devolvendo o equilí-
brio para seu corpo e sua mente.

MA N UELA Como a acupuntura pode fazer isso por mim?


MESTRE No decorrer das nossas sessões esses sintomas
irão desaparecendo e dando lugar ao equilíbrio e à esta-
bilidade da sua mente, proporcionando aos poucos uma
vida totalmente normal e independente.
Por enquanto, quero que você me ajude a recuperar
esse Qi consumido por tantas formas de emoção, sim-
plesmente inspirando profundamente e, principalmente,
expirando de forma prolongada até que você sinta todo
ar saindo do seu peito. Repita essa respiração muitas ve-
zes no seu dia, inclusive quando começar a sentir algum
desconforto. Aí está uma forma natural de desestagnar o
Qi do seu peito, enquanto tratamos os outros desequilí-
brios por intermédio da acupuntura.
Lembre-se de nesse exercício prestar atenção aos
seus ombros, mandíbula, abdome e mãos. Você deve
estar relaxada para que o Qi flua livremente, sem reter

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62 Máera Moretto

a energia na musculatura tensa, pois quando seu corpo


está em tensão você permanece alerta e isso consome
uma quantidade grande de energia que deveria ser usa-
da para outras funções. Por isso, ao respirar de forma
correta, você retira energia do ar suficiente para desar-
mar sua tensão e o estado contínuo de alerta em que
você se encontra.

O amor e suas armadilhas


Na vida somos obrigados a dar passos que tendem a
nos levar ao desequilíbrio. Mas, por outro lado, somos
munidos da maior arma contra esse mal que é a capa-
cidade de amar e se permitir ser amado. Essa história
se inicia no útero, quando somos ou não desejados. Ela
passa pela infância, quando somos comparados com ou-
tras crianças e, enquanto crianças, nos comparamos a
outras famílias. Cada um tem uma forma de amar, de
demonstrar esse amor e deve ser respeitado por isso.
Muitas vezes, as formas de amor não correspondem às
nossas expectativas – ou com o que idealizamos sobre
dar e receber amor.
Quantas vezes você disse “eu te amo” para alguém
hoje? Quantas vezes você disse aos seus pais “eu amo vo-
cês”? Ou, melhor ainda, ao seu irmão? Se você se sentiu
em falta ao responder uma dessas perguntas, em qual-
quer uma delas, por que você se acha no direito de julgar
o modo de demonstrar amor dos seus semelhantes?
Na verdade, nós passamos nossa vida assumindo o
papel de vítima, de sofredores, carentes de amor. Na
maioria das vezes, não nos sentimos amados e sempre
culpamos o outro por isso. E nunca paramos para pensar

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O mestre do seu sistema 63

que o erro pode estar na forma de interpretar o modo co-­


mo os outros manifestam o amor. Por exemplo, quem
disse que demonstrar amor é ligar muitas vezes ao dia
para a pessoa amada? Ou que manifestar seu amor é pre-
sentear alguém ou deixar bilhetinhos em lugares-chave?
Ou ainda lembrar-se de datas comemorativas? Todas es-
sas ações são carinhos que, muitas vezes, são confundi-
dos como modelos de demonstração de amor. Mas não se
trata de amor em si.
O amor é simples. Ele está presente nas pequenas
coisas e naquilo que parece mais inexpressivo. É um ato
totalmente natural.
Cada um tem a sua própria forma de amar – só cabe a
nós identificá-la e nos permitir sentir esse amor. Mas, na
verdade, o que acontece é que cada um projeta no outro
a sua forma de amar e exige que o outro corresponda do
mesmo modo.
Duas pessoas se atraem por diferentes motivos. E nem
sempre o compartilhar, que deveria ser a matéria-prima
do amor, é o que prevalece. Na maioria das vezes, o que
vemos é a troca de carências e conveniências. Por um bom
tempo essa relação funcionará perfeitamente. Isso porque
na maioria das vezes ela é baseada em uma profunda de-
pendência de uma ou até mesmo ambas as partes.
Mas tudo na vida está em evolução e como o fun-
damento da vida é o amor ele também se encontra em
evolução. Se esse sentimento não fosse mutável quando
as rugas e outras marcas do tempo se instalassem na face
das pessoas, esse amor, supostamente imutável, desapa-
receria. Hoje, muita gente acredita que o amor acabou
quando o parceiro ou parceira envelhece. Porque isso
traduziria uma falta de energia, falta de vida ou desin-
teresse. E o que realmente acontece é o oposto. Quando
jovem você está ávido por viver a vida. E quando en-

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64 Máera Moretto

velhece tem mais tempo e começa a focar em detalhes


preciosos, saboreando o fato de estar vivo.
Por exemplo: uma criança não trocaria um bife com
batatas fritas por um requintado prato tailandês. Mais
madura, essa mesma pessoa poderia se deliciar com um
prato desses e transformaria essa experiência em um
evento único de degustação. Aí está a diferença. Por isso
o amor é movimento, transformação e, mais que isso, o
compartilhar de experiências que fluem naturalmente
em nossas vidas.
Portanto, graças a Deus, nos encontramos em mo-
vimento e evolução. Isso nos permite atravessar o tem-
po e acompanhar as transformações da vida, fazendo do
amor um companheiro e espectador de nossas descober-
tas durante toda a existência.
Porém o amor – que tem sua trajetória baseada no
equilíbrio da humanidade, perfeitamente adaptável à
evolução dos seres –, infelizmente, não é compreendido,
e essa falta de entendimento passa a ser um dos maiores
motivos de desencontro.
A própria vida nos conduz a transformações. Elas ocor-
rem no dia a dia das pessoas, modificando, aprimorando
suas formas de viver, de pensar e de agir. Os compromis-
sos e anseios vão se modificando em diferentes formas e
velocidades, conforme a abertura e a aceitação de cada
um. O corre-corre do dia a dia, a falta de tempo, os desejos
de novas aquisições de objetos e propriedades são refle-
xos daquelas transformações. E a força despendida nessas
conquistas diminui o direcionamento do amor e modifi-
cam a intensidade de doação. A pessoa que antes passava
todo o tempo direcionando o amor para o companheiro
agora transforma seu amor em motivação para conquistas
e realizações. Isso não significa deixar de amar, mas, sim,
ter mais anseios, preocupações e compromissos.

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O mestre do seu sistema 65

Portanto, agora ela não tem mais tempo de ficar ligan-


do toda hora. Seu tempo foi preenchido com compromis-
sos que direcionam sua atenção, prendendo a mente.
O parceiro não usa mais sua mente para criar surpre-
sas como antes, escondendo bombons nas gavetas. Suas
preocupações se voltam para metas e conquistas.
Talvez durante o jantar ele pareça ausente, seu olhar
fique perdido no espaço, chegando às vezes a não escutar
o que você fala; isso ocorre pela sobrecarga da mente.
Assim, o problema não é a falta de amor; e, sim, a
transformação dessa energia. E é nessa hora que um dos
praticantes do amor pode ficar para trás e interpretar a
transformação como falta de ação, desvio de direção, e
não se sentir mais receptor desse amor.
Um amor que em algum momento da vida foi con-
dicionado como forma única de felicidade pode ser tra-
duzido como infelicidade se algo diferente desse mode-
lo acontecer. Inconscientemente, ele assume uma reali-
dade de desamor, desencadeando um grande problema
na sua vida.
Em outras palavras, esse parceiro viveu um amor a
vida toda de uma maneira material. Ou seja, repetindo
para si mesmo, talvez de forma inconsciente: “Para ser
feliz preciso do seu amor”. Da mesma forma que, em
outras fases da vida, condicionou sua felicidade a algo
material, como a casa própria ou a roupa de grife.
Esse amor – resistente ao entendimento de que tudo
está em movimento – pode se transformar literalmente
em doença, levando a pessoa ao ciúme doentio, à de-
pressão ou mesmo ao pânico.
Isso porque nessa hora a pessoa se vê sozinha, sente
solidão e, como em sua mente não existe outra direção,
exceto viver esse amor, ela não tem anseios próprios,
vontades e buscas pessoais. Nessa hora seu mundo cai

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66 Máera Moretto

e ela perde o sentido de estar viva. Para ela, viver é


sempre uma troca de amor e, em sua mente, por al-
gum motivo injusto, o amor lhe foi tirado e agora nada
lhe restou.
Essa é a hora de entender que o amor não é trocar.
E, sim, compartilhar. Trocamos o que temos e conhece-
mos. Por isso, a pessoa dona de um amor tão resistente à
transformação provavelmente não tenha amor para tro-
car. Ela pode ter carinho, atenção e acolhimento – que
também são importantes –, mas eles não representam o
amor na sua totalidade.
Para compartilhar o amor temos que conhecê-lo in-
tegralmente. Isso porque o amor é o maior bem da Terra
e sentir amor significa estar bem pelo simples fato de
estar bem. É conhecer o caminho de volta de uma tris-
teza ou desilusão, simplesmente pelo fato de conhecer
o amor que você tem por você mesmo. Porém, quando
você não consegue sentir essa forma de amar, acaba por
fantasiar outro tipo de amor e acredita que alguém tem
de oferecê-lo para você se sentir amado. Então, se o que
a outra pessoa pode oferecer for diferente do que você
imaginou, não conseguirá se sentir amado.
No entanto, se para você ainda é importante essa de-
monstração de carinho, assuma você mesmo as surpre-
sas: marque, por exemplo, jantares e almoços de forma
a se incluir no dia a dia do outro.
Para que isso aconteça você precisa estar muito segu-
ro do amor que sente por você mesmo. Deve estar ciente
de que o único amor responsável pela sua felicidade é
seu próprio amor, aquele que tem por você mesmo. Por-
tanto, ser feliz não está nas mãos de outra pessoa, mas
nas suas próprias mãos.
Quanto mais você se ama, mais tem forças para com-
partilhar esse amor com alguém. Sem amor-próprio,

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O mestre do seu sistema 67

acabamos por tirar o amor da outra pessoa – e esse al-


guém sente que está sendo sugado, cobrado ou qual-
quer outra coisa, menos que está sendo amado. E isso
pode acabar matando o amor.
Encontrar a felicidade e compartilhar o amor significa
ter tanto amor por si mesmo que conseguimos respeitar
a outra pessoa como indivíduo.
As pessoas, no seu mais profundo egoísmo, querem re-
ceber sem se doar. Querem ser decifradas nos seus anseios
e que esses sejam preenchidos pelos esforços de alguém.
O que mais se vê nos relacionamentos é a desistên-
cia. Um desiste do outro por ser tão egoísta que, quan-
do não sente mais os mimos e a atenção vinda em sua
direção, entende isso como ausência de amor. E, ao in-
vés de lutar, se doar mais, se comunicar, simplesmen-
te se isola e depois arruma uma desculpa para sair da
relação. Ora, isso é mais fácil do que se esforçar para
compartilhar o amor.
Se você parar para observar, nunca existirá um ser
perfeito. Pode até parecer que isso exista no início, na-
quele momento em que nossas carências são as respon-
sáveis pela nossa união, mas logo depois dessa fase a
pessoa ideal deixa de existir.
Portanto, dá para ser feliz a dois se cada um respeitar a
si mesmo. Caso contrário, passará sua vida toda trocando
de parceiro, buscando pessoas e sentindo-se sempre só.
Se você conseguir sentir amor em você, independen-
temente de ter alguém, sem depender da doação de ou-
tros, você compreenderá o amor que outras pessoas têm
para lhe oferecer.
Compreenderá que esse amor será demonstrado de
acordo com o momento de cada pessoa. E mais: a expres-
são desse sentimento acontece de acordo com as preocupa-
ções e frustrações de cada um. Por mais diferente que possa

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68 Máera Moretto

parecer do modelo que você criou, você entenderá que se


trata do mesmo amor em vários momentos da vida.
São momentos de transformação – é o mesmo amor
que veio quando você estava triste, curioso, ansioso ou
feliz. O mesmo sentimento. Só muda a fase da vida. Com
essa compreensão, poderá sentir-se amado e, portanto,
curado de sentir falta de amor na sua vida.
Em resumo: o amor não é troca. Ele vem da com­
preensão. É compreender para compartilhar a vida,
compreendendo o que o outro tem para compartilhar.
Agora você pode estar se perguntando: mas como
posso encontrar esse amor?
Primeiro você tem de reconhecer o amor que você
tem por você mesmo. E para isso, antes de qualquer coi-
sa, tem de aprender a dominar o seu tempo, deixar de se
enganar com a frase “não tenho tempo para mim...” Esta
frase é típica da pessoa que compreende o amor somen-
te como doação. Tal pessoa doa sua alma para outra ou
outras pessoas. Doa seu tempo e expectativas. Vive para
fazer os outros felizes e, no decorrer dos relacionamen-
tos, se perde quando cada um acha o seu caminho.
Então está em tempo de modificar esse caminho, en-
contrando a posição que você ocupa no seu coração.

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7. O sucesso e suas armadilhas
,
Historia de Pedro
Pedro tem 26 anos e é ator protagonista de uma
peça. Pessoa bem-sucedida, mora só, tem pai, mãe e
uma irmã. Seus pais vivem na mesma cidade que ele;
a irmã reside no exterior. É um rapaz admirado por to-
dos. Simpático, cheio de amigos, sempre tem uma boa
palavra para os outros; é tido como pessoa conselheira
e equilibrada. Nunca está sozinho e é muito querido
por todos.
Terminou um namoro de três anos. No fim do rela-
cionamento começou a ter crise de identidade, não sabia
se gostava ou não dela, não conseguia mais se sentir fe-
liz. Dois meses depois do término do namoro, começou
a vivenciar uma angústia muito forte e uma sensação de
que iria morrer. Suava frio, o coração acelerava, sentia
muito frio e dormência nas mãos. A angústia sufocava o
peito e era tomado por muita tristeza. Nada tinha graça
e a vida perdeu o sentido.
Procurou ajuda médica, fez muitos exames e nada foi
encontrado.
Além das crises, que aconteciam a qualquer momen-
to, percebeu que algumas situações desencadeavam, fa-
talmente, aquelas sensações. Tais como: quando se via
sozinho; ou minutos antes de entrar em cena; ou mesmo
quando sentia que não ia conseguir cumprir com sua
obrigação. Descrevia a crise como sendo a pior sensação
que poderia existir no mundo: “Só quem vive essa situ-
ação consegue entender o que eu passo. Não desejo isso
nem para meu pior inimigo”, dizia.

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70 Máera Moretto

Pedro morava sozinho há mais de três anos. Os pais


estavam numa fase em que viviam a vida deles. Haviam
se libertado dos filhos. E, justamente nessa fase, a irmã
foi morar em outro país. Foi aí que se rompeu definiti-
vamente o cordão umbilical.
Por mais carinho que trocasse com seus pais, ele vivia
sozinho e cada um tinha sua vida. Restava-lhe usufruir
da imagem conquistada perante os amigos e as pessoas
que o cercavam. Essa imagem de todo-poderoso, segun-
do ele, foi muito custosa para ser conquistada. Era o ami-
go perfeito na hora certa, o conselheiro ideal, a pessoa
símbolo de equilíbrio, aquela a quem todos recorriam a
qualquer hora do dia ou da noite.
Mas, para uma pessoa tão jovem, que aos olhos dos
outros era um mestre bem-sucedido, digno de admira-
ção, a situação se tornou difícil de controlar. Porque ele
passava a ser a figura maior da sua própria vida e só
podia contar consigo mesmo. A começar pela responsa-
bilidade do trabalho, já que, como ator principal, a peça
girava em torno dele e gerava expectativa dos outros
atores. E mais: o desenrolar de cada cena dependia da
atuação do protagonista. Uma falha distorceria o rumo
da peça e as pessoas teriam de improvisar – e nem todas
estavam preparadas para isso.
“Eu não podia errar. Durante a peça, não saía de cena
em nenhum momento. Falava e gesticulava o tempo
todo. O figurino de meu personagem era pobre perante
os demais, e eu tinha de segurar a atenção pela minha
própria atuação”, lembra.
Do mesmo modo, na vida particular ele era o confi-
dente, o conselheiro e o ombro mais equilibrado do gru-
po de amigos. Estando bem ou mal, sempre carregava
um sorriso no rosto e uma palavra de paz. Tinha uma
compreensão da vida que, em teoria, parecia perfeita.

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O mestre do seu sistema 71

Mas, como ser humano, ele passava por momentos bons


e ruins, porém o seu grau de consciência o impedia de
exteriorizar seus sentimentos.
Apesar de tudo isso, ele continuava mantendo as apa-
rências. Quando as pessoas vinham procurá-lo, começa-
vam ou terminavam a conversa com frases do tipo: “Você
está sempre bem”. “Queria aprender a ser igual a você.”
“Admiro você pela forma como lida bem com a vida.”
“Você sempre tem uma solução para as coisas.”“Você é
super!” – e ele se sentia reconhecido e mais obrigado
ainda a não decepcionar ninguém. Acabou construin-
do essa imagem da qual até hoje tem dificuldade de se
desvencilhar, porque não pode mostrar para as pessoas
as suas fraquezas e medos. Não pode dizer que sente an-
gústias e que não se julga tão equilibrado como é visto
pelos outros.
Manter essa máscara torna-se uma obsessão – além
da busca pela cura dos sintomas e da crise em si. Perante
as outras pessoas, ele não pode ser visto como um fraco,
um desequilibrado, como alguém que não corresponde
às expectativas. E isso torna insuportável encarar suas
fraquezas. Mais difícil é passar pelos sintomas da crise
sem poder escondê-los. Quando eles acontecem, não há
como controlá-los.

Pedro e o Mestre
Depois de várias tentativas de cura pela Medicina Oci-
dental, Pedro acabou buscando a Medicina Chinesa por
intermédio de um grande amigo. Por mais que tentasse es-
conder seu sofrimento, as crises começaram a vir com tanta
intensidade que seus esforços acabaram sendo inúteis.

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72 Máera Moretto

Por não conseguir se abrir nem mesmo com seu ami-


go, já que para ele isso seria um sinal de fraqueza, não
sabia ao certo como os fundamentos da MTC poderiam
ajudá-lo. Mesmo assim aceitou a ideia, pois não mais lhe
restavam opções, já que tantas outras tentativas anterio-
res não lhe foram totalmente satisfatórias.
No primeiro contato com o mestre foi logo justifican-
do de forma muito tímida sua incredulidade na MTC:

P EDR O Não conheço e confesso que não acredito na


MTC. Estou muito aflito para saber como acabar com
essas sensações terríveis. Parece que estou à beira da
morte.

Com toda paciência do mundo, logo o mestre lhe in-


terrompeu com um elogio, para ele inesperado:

MESTRE Estar aqui significa um pedido de ajuda, e isso


mostra que você tem coragem suficiente para buscar e
aceitar essa ajuda, em uma ciência que você desconhe-
ce. E isso já é um grande passo em direção à cura.
Por outro lado, só podemos não acreditar naquilo
que entendemos muito bem e, mesmo assim, quando a
explicação não nos é satisfatória. Acho que o seu des-
crédito é mesmo falta de entendimento. Portanto, con-
vido-o para uma longa conversa. Juntos, buscaremos
as respostas enquanto compreenderemos um pouqui-
nho mais sobre você segundo a visão da MTC. O que
você sente?

PEDR O Provavelmente eu esteja sofrendo de algum


mal, ou alguma doença que ainda não me foi diagnos-
ticada; já fiz muitos exames e nada foi encontrado; mas
ainda estou buscando. Acho que algo pode ter passado
despercebido...

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O mestre do seu sistema 73

MESTRE Sabe, Pedro, eu acredito que uma enfermida-


de ou doença só se instala no organismo se ele se encon-
trar em desequilíbrio. Pois em um organismo equilibra-
do não existe lugar para doença.

PEDR O Mas o que você quer dizer com desequilíbrio?

MESTRE Você pode ser comparado a uma máquina;


para que essa máquina funcione, cada peça tem que es-
tar no seu devido lugar e em perfeito estado de funcio-
namento. Assim, todo o conjunto de peças trabalhando
juntas, cada qual dando conta de sua função, leva essa
máquina, ou seja, seu corpo a um perfeito equilíbrio – e,
portanto, à saúde.
Mas nós mesmos somos responsáveis pelo desenca-
dear de tais desequilíbrios. Por exemplo, quando não
nos alimentamos de forma adequada, não dormimos o
suficiente ou abusamos de bebidas ou cigarros.

PEDR O Ah, Isso é o que mais faço na minha vida, pois


pelo fato de ser ator, a maioria dos trabalhos ocorre à
noite. Logo após o espetáculo, saio com os amigos para
jantar. Normalmente nos alimentamos e bebemos de-
mais. Isso ocorre por volta da meia-noite mais ou me-
nos. Quando chego em casa estou tão cansado – e às
vezes até embriagado. Caio na cama e acordo somente
no dia seguinte lá pela 1 hora da tarde. Acordo exausto,
sem ânimo para nada, não tenho nem mesmo vontade
de sair da cama. De onde vem tanto cansaço se durmo
mais de sete horas normalmente?

MESTRE Nosso organismo tem um ritmo que deve ser


respeitado. Segundo a MTC, possuímos um ciclo do dia e
da noite, onde se observa maior ou menor grau de fun-
cionamento dos órgãos, de acordo com a hora. Esse rit-
mo se manifesta na circulação dos meridianos, sendo que

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74 Máera Moretto

uma hora na Medicina Ocidental equivale a duas horas


na Oriental.

PEDR O Como assim? Não entendi essa equivalência.

MESTRE As 24 do dia interferem diretamente no nos-


so organismo, pois são divididas entre os nossos doze
meridianos – ou os caminhos que o Qi percorre para al-
cançar os principais órgãos. A cada duas horas um órgão
encontra-se em funcionamento total. Nesse relógio, o
primeiro órgão é a vesícula biliar. E ela tem como seu
tempo máximo de atividade das 23 horas à 1 hora.
O período seguinte, da 1 às 3 é a hora do fígado.

PEDR O O que acontece na chamada hora do fígado?

MESTRE Dizemos que é a hora do fígado porque é


quando ele trabalha com toda a sua potência. E como o
trabalho do fígado é armazenar o sangue e cuidar para
que ele seja cuidadosamente recarregado, é muito im-
portante que nessa hora você esteja dormindo. Assim,
o sangue pode se encaminhar para o fígado mantendo
somente uma pequena parte nos músculos, articulações
e no restante do corpo.
Das 3 às 5 horas da manhã é a hora do pulmão. O
que explica o fato de as pessoas terem alguma alteração
pulmonar – desde falta de ar, asma até uma gripe forte –
principalmente nessas duas horas.
O intestino grosso tem como horário de pico de
funcionamento da 5 às 7 horas. Por isso o intestino
tende a funcionar mais de manhã. E, dessa forma,
pode ser doutrinado com sucesso para que funcione
na parte da manhã. Você deve conhecer pessoas que
só saem de casa para trabalhar depois que o intestino
funciona. E ele nunca falha – a não ser em situações
de patologias, é claro. E você sabia que o termo “enfe-

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O mestre do seu sistema 75

zado” vem do fato de o intestino estar cheio de fezes?


Para a MTC, um intestino que não cumpre o seu papel
com assiduidade gera raiva, irritação e outras emoções
do gênero.
O estômago tem o pico máximo de funcionamento
das 7 às 9 horas, portanto essa deve ser a hora escolhida
para o desjejum. Nós podemos identificar com clareza
a importância de nos alimentarmos nesse horário. Isso
porque se o seu estômago não receber uma energia do
alimento para começar o dia – e garantir o seu bom fun-
cionamento –, na hora do almoço é muito comum as
pessoas sentirem muita fome, porque não se alimenta-
ram bem de manhã e, após ingerir o alimento, acabam
se sentindo estufadas, com mal-estar, sonolentas e com
muita dificuldade para digerir.
O baço vem na sequência do estômago. Tendo como
horário de maior funcionamento de 9 às 11 horas. Pois
assim ele pode distribuir para todo o organismo o Qi –
ou seja, a energia que retirou do alimento e o estômago
recebeu, favorecendo assim o processo digestivo.
O coração tem seu horário das 11 às 13 horas. E é
nessa hora o maior risco de infarto, pois o órgão está em
plena atividade.
O intestino delgado funciona com força total das 13 às
15 horas. Isso deve coincidir com o horário pós-almoço.
Pois assim ele pode realizar o seu trabalho de separar o
que é puro do impuro, com total eficiência.
Das 15 às 17 horas é a vez da bexiga. E o rim fun-
ciona em potência máxima das 17 às 19 horas. Por isso,
quem tem deficiência de YIN do rim, como as mulheres
na menopausa, sentem mais os chamados fogachos – ou
calores excessivos nesse horário.
O horário da mente é das 19 às 21 horas. Por isso, nes-
sa hora deveríamos nos preparar para acalmar a mente.

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76 Máera Moretto

Isso porque se ela se agita nesse horário, ela entra agita-


da na hora de pico dos demais órgãos. Assim, atrapalha
a harmonia do organismo em geral.
As duas horas seguintes são de trabalho máximo do
chamado triplo aquecedor.

PEDR O O que é isso? Nunca ouvi falar de triplo aque-


cedor? No meu organismo? Como?

MESTRE O triplo aquecedor é nome dado pela Medi-


cina Chinesa ao conjunto de “aquecedores” conhecidos
por superior (que correspondem aos órgãos que se en-
contram do diafragma para cima); médio (órgãos locali-

Figura 3

Relógio com os horários de pico dos órgãos

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O mestre do seu sistema 77

zados entre o diafragma e o umbigo); e inferior (órgãos


situados do umbigo para baixo). Eles ocupam o nosso
tórax e são chamados assim porque têm um funciona-
mento em conjunto e são analisados em conjunto. Isso
quer dizer que das 21 às 23 horas, o organismo estará
com a força máxima voltada para que a associação da-
queles órgãos seja perfeita. E aí, novamente, se inicia o
horário da vesícula biliar.
Portanto, à meia-noite, o seu organismo não está
preparado para se alimentar em demasia, pois o horá-
rio de maior funcionamento do estômago é às 8 horas.
À meia-noite, a produção de substâncias digestivas está
muito reduzida para uma alimentação tão pesada.
Fora isso, no final da tarde a energia YIN, aquela que
acalma todos os movimentos do seu organismo, começa
a subir. E a energia YANG, aquela que nos estimula e
impulsiona, começa a cair para que suas funções sejam
reduzidas. Assim, lá pelas 22 horas o sono se instala de
forma perfeita.

PEDR O Então estou fazendo tudo em horário errado?

MESTRE Exato. Isso significa que seu organismo está to-


talmente lento e com todas as funções reduzidas. E tam­
bém explica por que essa refeição noturna é tão agressi-
va: suas reservas de Qi terão de ser acionadas para que
você não tenha uma congestão. Por isso, a última refei-
ção do dia deve ser mais leve para que possamos auxi-
liar o próprio organismo a não dispor de tanta energia
ao fazer a digestão.
Justamente no horário em que você deveria estar se
alimentando – 8 horas –, para que seu estômago possa
receber de forma adequada o primeiro alimento do dia, e
assim garantir o início saudável das suas atividades, você
está dormindo.

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78 Máera Moretto

No horário do baço, ele não tem o que transformar em


energia para distribuir para o organismo, pois o estômago
não recebeu alimento. Então você inicia o seu dia com
deficiência do Qi que deveria ser retirado dos alimentos.
Isso explica a importância de acordarmos mais cedo e fa-
zermos nosso desjejum no horário do estômago.
Além disso, da 1 às 3 horas, por ser o horário do fíga-
do, você obrigatoriamente deveria estar dormindo, para
que o sangue pudesse ser estocado no fígado e assim se
refazer. Como não é o que acontece no seu caso, inicia-
se aí sua deficiência de sangue.

PEDR O Então o cansaço vem da falta de alimentação


adequada de manhã?

MESTRE Veja bem. O cansaço vem da sua falta de Qi.


A sua máquina precisa estar em perfeito equilíbrio. E
para isso cada órgão do seu corpo tem um período a ser
estimulado e um período a ser recarregado. Além dis-
so, o excesso de álcool destrói o Qi do fígado, alterando
também sua produção de sangue.
E, pelo fato de você iniciar o seu dia com deficiência
de Qi e sangue no organismo, no seu caso, o cansaço se
instala. E como o Qi e o sangue do fígado estão esgotados,
isso faz com que você não consiga se levantar da cama
com disposição. Parece que sempre poderia dormir mais
um pouco.
Muitas pessoas sentem uma certa moleza para levantar
pela manhã. E todas dizem que acordam e não conseguem
sair da cama, num estado de cansaço muito grande. Essa
situação está quase sempre relacionada a uma sobrecarga
do fígado. No seu caso o que prejudicou o fígado foi o sono
inadequado. Principalmente porque você não respeitou o
horário do órgão, ingeriu bebida alcoólica em excesso, e
tem deficiência geral de Qi falhando em nutrir o fígado.

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O mestre do seu sistema 79

Mas existem muitas outras causas que podem lesar o


fígado. Como, por exemplo, a cobrança excessiva, a rai-
va e até o comportamento explosivo. Pessoas que gritam
muito ou falam gritando têm o fígado prejudicado.

PEDR O É verdade. Além de me comportar de modo


errado, em desrespeito ao meu próprio organismo, ainda
sinto uma cobrança muito grande. O fato de ter muita
gente dependendo de mim me obriga a ser forte e estar
sempre disposto, vencendo na marra as limitações que
meu organismo me impõe, como o fato de não me le-
vantar de manhã. Pois levanto e ainda me sinto na obri-
gação de sorrir para todos.

MESTRE Pelo que você me falou, Pedro, você terminou


um namoro por não ter mais certeza dos seus sentimen-
tos e dois meses depois se instalou a angústia.

PEDR O Foi, sim, porque eu não sabia o que queria.

MESTRE O que ocorreu é que todo o Qi do seu cora-


ção foi consumido devido ao longo período de ansiedade
gerada pelo peso da grande responsabilidade que você
sentia. E quando o Qi do coração é deficiente, não con-
seguimos nos relacionar. Isso porque a mente fica inde-
cisa e perdemos a direção. Não podemos mais definir o
que nos agrada ou não. Tudo perde a graça e o sentido.
Essa indefinição dos seus sentimentos contribuiu para
que tomasse a decisão de terminar o namoro. Provavel-
mente tudo estava morno e sem graça.

PEDR O O senhor quer dizer que eu estava esgotado em


todos os sentidos e, por isso, parecia nem amar mais?

MESTRE Pelo fato de ser jovem, bem-sucedido, susten-


tar-se sozinho, levar uma vida totalmente independente
e se julgar o ponto de apoio daqueles que o cercam, o

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80 Máera Moretto

seu consumo de Qi é muito grande. Para manter tudo


isso, você gera um estado permanente de alerta na sua
mente, pois não pode errar e tampouco decepcionar. Aí
chegou uma hora em que o Qi do organismo foi se des-
gastando naturalmente por causa da sua forma de viver.
Por estar em um contínuo estado de excitação, o fogo
do seu fígado aumentou e atingiu o coração. Normal-
mente, isso não deveria acontecer, já que o nosso or-
ganismo possui um sistema responsável por controlar a
subida do calor interno. Mas, no seu caso, esse sistema
se tornou deficiente com o tempo.

PEDR O Então, como eu posso acalmar o fígado?


MESTRE O responsável por esse equilíbrio é o bom fun-
cionamento do seu rim. Para equilibrar o coração, o fíga-
do e o pulmão, o rim manda uma energia YIN para eles.
Isso acalma e esfria aqueles três órgãos. Para você ter
uma ideia, segundo a MTC o fígado é comparado a um
fogo que aquece um grande caldeirão cheio de água. Esse
caldeirão com água simboliza o rim. Se o fogo e a água
estiverem em equilíbrio, a água acalma o fogo e o fogo,
portanto, não é suficiente para fazer a água borbulhar.
Mas se por algum motivo aumenta-se o fogo, como
em um estado de excitação, por exemplo, ou se por aca-
so o rim falha em controlar a água e ela diminui em
relação ao fogo (como no caso de uma deficiência do Qi
do rim, por exemplo), aquela água começa a borbulhar
e forma-se uma fumaça que sobe em direção à mente e
ao coração. Assim, quando o calor atinge aqueles órgãos
acaba por consumir o Qi dos mesmos.
Isso é o que chamamos de “fogo do fígado aumenta-
do”. Por isso é tão importante controlar nossas emoções
como ansiedade e fúria, principalmente; e ainda ao mes-
mo tempo cuidar muito bem da saúde do nosso rim.

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O mestre do seu sistema 81

Figura 4

Rim

Fígado

Caldeirão do fogo do fígado

PEDR O Como poderemos cuidar da saúde do nosso


rim?

MESTRE No seu caso, como a energia do rim é fraca


– pela falta de Qi no seu organismo –, o fogo atingiu o
coração. O ideal seria respeitar o corpo para repor o Qi
seguindo horários regulares e alimentação saudável. E
também procurar viver sem excessos na emoção, na ali-
mentação e também na forma de movimentação. Expli-
co melhor: até um exercício físico – uma das formas de
você recuperar o seu Qi, se for feito de forma exagerada,
consome o Qi do seu organismo, levando músculos e
tendões à falência.

PEDR O Não posso compreender como o exercício fí-


sico poderia fazer mal, pois todos os médicos o indicam
como se isso fosse salvar a humanidade!

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82 Máera Moretto

MESTRE Quando você faz uma atividade física inten-


sa, boa parte do seu sangue e Qi vai para os múscu-
los, garantindo assim o seu funcionamento perfeito.
Isso gera um grande consumo de Qi – que pode ser
benéfico, uma vez que esse Qi, não consumido du-
rante o dia, é uma energia em excesso. Ela pode estar
estagnada no seu organismo gerando desequilíbrios e
dores. Quando o Qi estagna nas articulações, provoca
tendinites e outras patologias relacionadas ao exercí-
cio excessivo.
Por outro lado, quando você faz exercício físico e o
Qi é consumido, mas você respira adequadamente e foca
sua mente no exercício, uma nova quantidade de Qi é
produzida. Aí, se o descanso for respeitado, esse Qi é
renovado e vai cumprir sua meta chegando a todos os
lugares do organismo.

PEDR O Não sabia que era assim que funcionava. Mas


então posso comparar o que faço nos palcos todos os dias
com uma atividade física que não respeita um descanso
adequado?

MESTRE Veja, quando você representa, durante a cena,


você tem que falar alto de forma expressiva, o tempo
todo, gesticulando sem parar. Isso por um ano seguido,
no ritmo de três apresentações por dia – em uma média
de seis dias na semana. Isso acabou por esgotar o Qi que
lhe restava e você não o soube recuperar.
O fato de gesticular sem parar, falar alto, estar com
a mente presente o tempo todo durante a cena fez com
que o Qi que lhe restava fosse ao coração, para manter
esse fogo todo aceso. Ou seja, para dar sustentação a
essa euforia. E mais: quando o fogo se encontra no cora-
ção esse órgão experimenta a euforia que, infelizmente,

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O mestre do seu sistema 83

não se encerra com o espetáculo. Ela continua no seu


dia a dia, tornando-se uma característica sua.
Para a MTC, a euforia é um estado exacerbado de
alegria em que a pessoa sorri em exagero, fala sem pa-
rar, sempre tem uma piada ou comentário para tudo
o que escuta. Geralmente, em uma roda de amigos é
quem sempre se destaca. Pois é o mais engraçado, o
mais presente, aquele que topa tudo e gesticula o tem-
po todo.

PEDR O O senhor está me descrevendo. Então eu sou


eufórico?

MESTRE Esse é um dos motivos de a pessoa eufórica


ser tão adorada pelos amigos. Pois, pela sua deficiência,
ela se coloca sempre em prontidão, mesmo quando can-
sada. Muitas vezes exausta, a ponto de não querer falar,
não perde o bom humor. Ou melhor, não perde a eufo-
ria, atuando de forma perfeita no papel de boa amiga,
boa ouvinte e pessoa agradável.
No seu caso, todo esse sentimento foi gerando uma
vida de ansiedade que, até então, era perfeitamente pos-
sível de ser controlada. Mas o desgaste continuou fazen-
do com que a reposição de Qi fosse insuficiente perante
tanta lesão.
Com isso, o Qi foi se depauperando mais ainda. E a
ansiedade que agora já é contínua e incontrolável passa
a lesar o Qi do coração e pulmão tornando-os suscetíveis
de uma pane a qualquer momento.
Quando sua irmã foi embora e você se sentiu realmen-
te sozinho, perdeu a única situação de vida em que podia
ser você mesmo, em que realmente se sentia em casa e
era verdadeiramente amado. Seus defeitos, mais do que
conhecidos, não o ameaçavam. Então, o sentimento de
solidão acabou por agravar os padrões de deficiência.

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84 Máera Moretto

PEDR O Nossa, causei tudo isso sem saber. Se eu sou-


besse disso antes, teria feito tudo diferente.

MESTRE Certo, mas mesmo enfraquecido você teima


em manter uma imagem perante os amigos, o que no
caso lhe custou um consumo ainda maior de Qi.
Seu baço já estava lesado pela forma inadequada de
alimentar-se e, quando ele entra em deficiência de Qi,
desencadeia pensamentos e atitudes obsessivas. Isso ex-
plica a luta em manter a aparência de pessoa equilibrada
a qualquer custo.
Como o maior alvo foi a energia do coração, foi im-
possível se relacionar com sua namorada porque, quan-
do o coração está deficiente, a mente torna-se confusa.
Tudo perde a graça e você não é mais capaz de saber o
que quer, e assim ocorreu o fim do namoro.
Com isso, sua vida tornou-se mais desregrada ainda,
pois o que você entendeu por “curtir a vida” se tornou
“beber muito, dormir pouco, se desgastar”. E você aca-
bou se relacionando de forma não saudável com mais
pessoas. Aí sua euforia teve seu pico máximo. Dois meses
depois do fim do namoro, levando esse ritmo de vida des-
trutivo, você é tomado pela sensação de angústia e morte.
Isso ocorreu porque o Qi do seu coração e o do pulmão se
tornaram tão deficientes que quase chegaram a estagnar,
pararam de circular, deixando de cumprir seu papel.
PEDR O E toda essa deficiência leva a quê?

MESTRE Pelo fato de a deficiência de Qi atingir o co-


ração, você sente a opressão no peito, a ansiedade e a
angústia. Sua mente se torna mais confusa ainda a pon-
to de acreditar que existe uma doença verdadeira e que
esta doença está colocando em risco a sua vida. Daí a
sensação nítida de que vai morrer.

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O mestre do seu sistema 85

Por isso, neste momento você precisa tanto ficar per-


to de alguém. Só pelo fato de estar acompanhado já con-
segue sentir-se melhor. Algumas pessoas nesse ponto de
lesão pedem para dormir acompanhadas por amigos.

PEDR O Mas por que tenho que ficar perto de alguém?

MESTRE A companhia no caso significa estar amparado


por uma mente clara e capaz de discernir se realmente
há ou não um perigo real, e assim você consegue acal-
mar a mente.

PEDR O E por que tenho crises de choro?

MESTRE Como seu pulmão foi afetado, e uma das coi-


sas que mais afetam o pulmão é o sentir-se só e desam-
parado, ele gera fadiga, falta de ar, sensação de tristeza e
você tem crises de choro incontroláveis.
Nessa altura, além da ansiedade que tinha origem nos
seus compromissos do dia a dia, a própria deficiência in-
terna do coração gera mais ansiedade ainda. Mas essa se
origina de um desequilíbrio interno, ou seja, de algum ór-
gão desequilibrado. Com o aumento desse sentimento por
um período prolongado, você acaba por lesar o fígado.

PEDR O E por que quando estou ansioso sinto frio e


fico gelado?

MESTRE Quando o fígado é afetado, ele gera mais an-


siedade ainda, e o sangue do fígado, insuficiente, não
chega às extremidades. Suas mãos começam a formigar
e você sente frio. Além disso, parece que seu peito vai
explodir de tanta ansiedade.
E mais: inicia-se o medo que também é causado pe­
la própria deficiência do fígado. O medo de morrer, de
tomar um remédio e passar mal, de ficar sozinho e ou-
tros medos sem fundamentos, já que sua mente agora

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86 Máera Moretto

está muito fraca para reconhecer o que é real e o que


é irreal, ou seja, discernir o que realmente lhe oferece
perigo daquilo que não pode lhe afetar.
A mente só identifica perigos. Isso pode, por alguns
momentos, fazer a pessoa realmente acreditar que só a
morte sanaria essas sensações que agora já estão insu-
portáveis.

PEDR O Mas, mestre, o que eu posso fazer agora, dian-


te de tanta destruição que causei a mim mesmo; isso tem
retorno?

MESTRE Tem, sim, Pedro. Primeiro, usaremos a acu-


puntura para recuperar o equilíbrio e tonificar os ór-
gãos. Mas sua ajuda será fundamental no nosso trata-
mento. Pois só as agulhas não reverterão o processo de
desequilíbrio se você não alterar o padrão destrutivo
em que vive.
Depois você deve ter a consciência de que respeitar
as necessidades do seu organismo é muito importante.
Caso não seja possível fazer isso todos os dias procure
fazê-lo o maior número de dias que puder.
Inicie o seu dia com uma alimentação planejada, de
preferência no horário do seu estômago, já que sua forma
de vida consome mais energia do que as demais pessoas.
Inclua no seu dia exercícios físicos que priorizem a res-
piração e movimentos lentos como Tai Chi ou Qi Kum.
Pare para almoçar – e esta refeição deve ser acompa-
nhada por silêncio ou no máximo sons agradáveis. Pre-
fira grãos e brotos – eles contêm a energia da vida, do
início, e é o que mais lhe falta.
Antes de entrar em cena, acalme sua mente por trin-
ta minutos mais ou menos, através de exercícios de me-
ditação. Em seguida acalme seu fígado, lembrando-se de
coisas que o façam sorrir.

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O mestre do seu sistema 87

Mantenha o hábito de praticar o silêncio uma hora


no seu dia, todos os dias – isso é o que acalma seu cora-
ção revertendo a euforia em estado de bem-estar.
Seja você mesmo mais vezes no dia, pois se parar para
analisar como é bom se permitir errar, vivendo de forma
desarmada em busca do que lhe faz bem, verá que a eco-
nomia de Qi será enorme. E a calma virá quando perce-
ber que o amor das pessoas e dos amigos simplesmente
será o mesmo. Com isso você se tornará mais feliz.

O sucesso e suas armadilhas


Para encarar as pressões do cotidiano e sobreviver às
turbulências da modernidade, houve uma certa diferen-
ciação em relação à forma de expressão das pessoas. Isso
deu origem a dois grupos distintos.
Um primeiro grupo, que poderia ser classificado como
grupo ativo, assume o papel de liderança, seja em casa,
no trabalho ou em outros setores da vida.
O outro grupo, que poderia ser classificado como pas-
sivo, se enquadra no segundo conjunto de pessoas. Ou
seja, ele é formado por pessoas que perante problemas
ou dificuldades, ao invés de reagir e resolver tais dificul-
dades, sempre esperam que a ação ou a solução parta de
outra pessoa. Esta, provavelmente, pertence ao primeiro
grupo, o grupo dos ativos.
Assumindo essa posição, elas transferem parte de suas
preocupações para as pessoas do grupo ativo. E, como
esses são líderes natos, qualquer pessoa do grupo ativo,
quando é solicitada, imediatamente se responsabiliza pelo
problema alheio, assumindo assim a necessidade da reso-
lução e vivenciando o problema como se fosse dela.

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88 Máera Moretto

Isso é muito comum. Se você parar para observar,


possivelmente exista na sua própria família alguém dis-
posto a assumir e solucionar os problemas; e alguém
sempre disposto a pedir ajuda para resolvê-los.
Essas pessoas que estão pedindo auxílio para solucio-
nar seus próprios problemas carregam um peso menor
em si, pois estão sempre dividindo suas aflições.
Em contrapartida, as pessoas que têm por princí-
pio ajudar e assumir aflições alheias vão se sobrecarre-
gando de uma forma muito grande, pois, além de seus
problemas, acumulam outros, de diversas pessoas, e
quase nunca se dão conta desse fato. Sentem-se bem
em ser úteis.
Por serem pessoas fortes e guerreiras, o sucesso fatal-
mente fará parte das suas vidas. E tal sucesso já pode ser
reconhecido até mesmo no meio desse caminho.
Geralmente são pessoas jovens, que acumulam fun-
ções – como, por exemplo, estudar e trabalhar, ambos
realizados com êxito, pois, como conhecem sua capaci-
dade, não se permitem estar na média. Para tais pessoas,
estar na média seria ser medíocre. Precisam sempre do
primeiro lugar, a melhor nota, o melhor posto e tudo isso
acompanhado por muito reconhecimento. Esforçam-se
ao máximo em suas tarefas. Primeiro por reconhecerem
que podem responder com eficácia a qualquer coisa que
se proponham a fazer, pois são inteligentes e persistentes
o suficiente para isso. Em segundo lugar, por ocuparem
posições de destaque em quase tudo durante a vida, as
pessoas à sua volta acabam criando uma expectativa de
sucesso para elas.
Dessa forma, não permanecer entre os melhores seria
duplamente frustrante; primeiro por suas próprias ex-
pectativas e, depois, pelas dos outros.
Sem que percebam, elas se transformam em pessoas

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O mestre do seu sistema 89

modelos, pois demonstram sinais de sucesso em tudo o


que participam. Parecem saber todas as respostas, pois
são maduras e equilibradas.
Frequentemente são procuradas pelos amigos em
busca de conselhos e confidências. E seus comentários,
sempre brilhantes, geralmente são seguidos avidamente
– acompanhados por resultados satisfatórios.
Assim começa a ser construída a imagem do líder.
Perante os olhos dos outros, ele passa a ser um semi-
deus. Pois é uma pessoa equilibrada que lida com as di-
ficuldades com consciência, é otimista e seguro na maio-
ria das vezes.
Como é um guerreiro, em sua vida particular pro-
vavelmente também chegará longe, construindo uma
ótima família, uma bela casa e uma qualidade de vida
invejável. Isso já pode ser percebido até mesmo no meio
do caminho enquanto galga os primeiros degraus.
Com isso, as pessoas o posicionam como um exem-
plo a seguir. Elas projetam o futuro do líder com per-
feição, como se para eles nada pudesse sair errado – “É
claro que é um vencedor!” – exclamam mesmo que em
pensamento.
Esses conceitos chegam aos ouvidos desse guerreiro
todos os dias. Sempre tem alguém parabenizando-o,
acreditando ou incentivando o seu merecimento. E essa
pessoa tão forte e brilhante, na maioria das vezes, é jus-
tamente assim por ter um ego muito grande. Quando se
vê, e se sente endeusada pelos outros, ela adora a situa­
ção e passa a agir cada vez mais em função da imagem
que criou.
De repente, em certa altura da sua vida, ela não mais
se permite decepcionar as expectativas que as pessoas
construíram sobre ela. Assim, passa a se cobrar perfeição
nas 24 horas do seu dia.

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90 Máera Moretto

Ela sabe o que é certo ou errado, o que é bonito ou


feio e não se permite em momento algum de sua vida
ser ela mesma. Não se vê tomando atitudes que possam
contrariar as expectativas das outras pessoas.
Por um bom tempo isso funciona, mas manter essa
imagem é muito difícil. Somos humanos, e como tais
cheios de imperfeições. Temos manias, carências, vícios
e inúmeros defeitos, que nos são muito úteis, justamen-
te para aliviar a pressão da vida.
Depois daquele dia exaustivo de trabalho, quando
reuniões importantes aconteceram, fatos que poderiam
abalar sua carreira passaram pelo seu dia. Situações que
ameaçaram sua estabilidade foram vivenciadas. Depois
de tudo isso, ninguém pode estar em total equilíbrio.
Após essa pressão toda, nossas próprias falhas são
válvulas de escape. Existe aquele que bebe com os ami-
gos e nesse dia provavelmente beberá um pouco mais;
ou há aquele que vai precisar desabafar com alguém e
pedir um colo, compartilhando e assumindo que sentiu
medo por inúmeras vezes.
Essas atitudes mais do que normais para qualquer um
passam a ser difíceis de ser vividas por essas pessoas.
Como ele pode beber um pouco a mais da conta? Pois
sempre haverá um conhecido por perto que o observará
com ar de surpresa ou reprovação.
Como ele, tão forte e grande – pois nessa altura do
campeonato ele adora acreditar que é mesmo forte e
grande –, pode falar que sente medo para algum amigo
ou parente se esse mesmo amigo ou parente, quando se
sente inseguro, o procura e o escuta como se suas sábias
palavras fossem sempre o caminho para a solução?
Em sua mente, se ele é o ponto de referência, o equilí-
brio para os outros, jamais poderia quebrar essa tão precio-
sa imagem, assumindo suas meras imperfeições humanas.

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O mestre do seu sistema 91

Dessa forma, a pessoa passa a não mais compartilhar e,


sim, interiorizar seus medos, ansiedades e inseguranças.
Isso vai gerando uma sobrecarga de emoções que a
leva ao seu limite emocional. Além dos seus próprios
problemas, há os problemas dos outros.
Tudo isso envolto em um cenário de plena solidão,
pois está sozinha e não tem a quem recorrer. Qualquer
pedido de ajuda pode abalar a imagem que foi cuida-
dosamente criada durante anos de sua vida, imagem da
qual se orgulha em possuir. E é nessa hora que a pes-
soa se sente perdida; e, de alguma forma, isso pode de-
sencadear uma crise, seja ela de depressão, ansiedade
ou pânico.
Deparamo-nos então com a importância de não per-
mitir rótulos em nossas vidas. Pois estes, depois de cria-
dos, são muito perigosos e difíceis de ser derrubados.
Nosso próprio ego busca rótulos, nos sentimos feli-
zes quando alguém nos aponta como super, semideuses,
etc., mas não nos damos conta do quanto é difícil man-
ter essa imagem, quanto caro isso nos custa.
E o mais difícil em relação a esses rótulos é derru-
bá-los para nós mesmos, pois quem seríamos daqui em
diante perante as outras pessoas?
Seríamos vistos como fracos? Continuaríamos a ser
respeitados? Será que as pessoas ainda nos procurariam
para compartilhar confidências e pedir conselhos?
Todas essas questões só surgiram nesse momento
porque é um momento de desequilíbrio e de sobrecarga
emocional.
Em qualquer outro momento da sua vida essas per-
guntas seriam respondidas através de suas palavras fir-
mes, racionais e otimistas.
Você nunca vai deixar de ser quem é. Você é forte por
natureza, é líder em todas as formas possíveis da palavra.

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92 Máera Moretto

Somente está sobrecarregado por não saber se impor à


imagem que lhe foi atribuída.
Em algum lugar no meio do caminho, sua imagem
passa a ser mais importante do que você. Mas você só
adquiriu essa imagem por ser quem é.
Sua força o desafia e a sua cobrança o leva à busca
da perfeição. Essa combinação fatalmente culminará em
êxito e vitória.
O rótulo de “super” não é mérito, é destruição para
uma pessoa que tem por natureza a procura da perfei-
ção. Pois se na condição de humano já não existe ser
perfeito, o que dirá “super”.
É destruição, porque, com esse rótulo, quando menos
esperar, você estará usando toda a sua cobrança para dar
o melhor de si e fazer jus a ela – ou seja, ser algo que não
existe. Vai fazer de tudo para ser super. Usará toda sua
força e determinação para ser um semideus. E quando
perceber que isso nunca será possível, você se frustrará
e começará a viver a destruição. O que, aliás, viverá de
forma muito intensa, pois nesse momento toda sua for-
ça, que até então foi usada para uma construção, será
usada para sua destruição e desmerecimento.
Portanto, orgulhe-se da sua condição de ser humano,
de ter defeitos e se permita errar e decepcionar.
Quando você consegue isso, automaticamente torna
mais leve sua existência. Você dá a entender para as ou-
tras pessoas, e a si mesmo, que podem existir questões
que você não resolve. Haverá dias em que você não
estará disposto a ouvir e sim, terá necessidade somente
de falar. E isso jamais será sinal de fraqueza.
Você tem que ser muito forte para admitir sua con-
dição de imperfeição. E, principalmente, deixar de lutar
pela perfeição. Adquirir essa consciência traz de volta a
força para as suas mãos e, com muita humildade, apos-

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O mestre do seu sistema 93

to que ela será direcionada para a construção na sua


vida – nunca mais para a sua destruição.
Você é a única pessoa que deveria ter expectativas so-
bre você mesmo. Mas, infelizmente, nos deparamos com
chefes, professores, clientes e inúmeras outras formas de
cobranças que vêm junto com a nossa vida profissional.
Não convide mais ninguém a fazer isso com você.
Somente você tem que saber da sua força, para que
exista apenas sua cobrança interior, assim ela se trans-
forma em impulsão, mas sempre de acordo com suas
limitações.
Chamar para você mais cobranças significa sobrecarre-
gar a si mesmo, transformando impulsão em estagnação.
Sempre que puder, permita-se não ser rotulado, per-
mita-se não ser super, permita-se errar e decepcionar.
Com isso você confirma apenas sua condição de ser
humano. Entenda que negar isso só o levará a confli-
tos, pois você é cheio de limitações e defeitos comuns
a todos nós.

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8. As conquistas
e suas armadilhas
,
Historia de Amanda
Amanda tem 23 anos, é filha de pais separados e
mora com a mãe. Trabalha em uma multinacional e
atualmente está no último ano da faculdade, cursando
comércio exterior. Sempre foi uma das melhores alu-
nas da classe. É bonita, amiga e conselheira de todos.
Sempre é escolhida como representante de grupo ou
coisa parecida. É muito articulada e desinibida. De re-
pente começou a ficar desanimada, não conseguia mais
se concentrar. A mente trabalhava excessivamente e ela
não conseguia se desligar do dia a dia.
Amanda nunca aceitou completamente a separação
dos pais e tem problemas com a nova família dele. Não
se conforma de não ter o pai presente o tempo todo – ou
o tempo que ela consideraria ser suficiente.
Como sempre foi ótima filha, na época da sepa-
ração assumiu o papel de líder na casa. Isso para ela
não foi nada difícil, pois liderança é uma coisa que
faz parte da sua personalidade. E a revolta que sur-
giu com a separação foi transformada em combustível
para tudo isso.
Enquanto o irmão mais velho se recolhia no seu so-
frimento e sua mãe se desesperava com o susto da se-
paração, ela sentiu-se na obrigação de dar força a todos,
garantindo que a vida da família continuasse. Como ela
assumiu o papel de líder, toda a família, inclusive a mãe,
não tomava uma única decisão sem consultá-la.

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O mestre do seu sistema 95

Em meio a muita luta, desde os 16 anos quando a se-


paração ocorreu, conseguiu se superar em tudo em que
se envolvia. Logo arrumou um bom emprego, na época
algo surpreendente, tendo em vista sua pouca idade e
experiência.
Como o êxito fazia parte do seu dia a dia, foi recebendo
promoções e assim concluiu o primeiro grau em uma óti-
ma escola, a qual pagava com seu próprio salário – e ainda
contribuía com uma pequena parte das despesas da casa.
O segundo passo foi colecionar ótimos lugares nos
vestibulares que prestou e entrar em uma faculdade,
onde conseguiu bolsa integral. Aí, nos quatro anos se-
guintes, tirou notas exemplares para que, assim, a bolsa
lhe fosse garantida.
Como é uma pessoa muito articulada e segura, nunca
ficou sem namorado. E esses eram muito bem escolhidos
para que realmente fossem companheiros na sua vida.
No segundo ano de faculdade conseguiu uma vaga
de estagiária em uma multinacional, onde se realizava a
cada dia por estar ali e ter a possibilidade de um futuro
promissor. Sua ambição era o maior impulso na vida.
Sempre repetia que seria muito bem-sucedida profissio-
nalmente e que seria ótima mãe e esposa.
Na época do estágio, começou a ter problemas com
o namoro que já durava dois anos, pois não se sentia
correspondida.
Nesse ano começou a sentir alguns problemas de saú-
de. “Eu tinha queda de pressão, cheguei a desmaiar al-
gumas vezes e de repente não saía mais de consultórios
médicos. O emprego do qual eu me orgulhava passou a
ser um martírio. Não conseguia nem mesmo levantar da
cama para ir trabalhar”, relata Amanda.
Os estudos decaíram e o namoro passou a ser outro
problema. Novamente não se sentia amada. Foi então

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96 Máera Moretto

que teve sua primeira grande crise, seguida por muitas


outras até que resolveu buscar ajuda. Amanda procurou
o mestre Shen Menn, indicado por uma amiga de sua
mãe. Na primeira consulta desabafou.

Amanda e o Mestre
AMA N D a Minha mente não para e isso me deixa louca.
Entro em um estado de ansiedade e tristeza, parece que
vou ter um colapso. Sinto falta de ar, o corpo formiga,
estou fraca e não consigo ficar sozinha nem mais para
estudar ou trabalhar. Só quero chorar e nem sei por que
estou chorando. Por que isso acontece comigo?

MESTRE Segundo a Medicina Chinesa, você causou


isso a si própria pela forma desequilibrada como leva a
vida. Hoje seu organismo pediu uma pausa, entrando
em pane.
Um corpo em perfeito equilíbrio é fruto de um dia a
dia equilibrado. E isso começa pelo sono. Nosso sangue
carrega o Qi. O Qi e o sangue caminham juntos para
nutrir todos os órgãos e extremidades do nosso orga-
nismo, garantindo assim a nutrição e defesa de todo o
sistema.
Durante o dia gastamos Qi para nos movimentar,
pensar, falar. É durante a noite que o Qi, através do san-
gue, volta para o fígado para se refazer energeticamente
– e é o “Hun” que os conduz até lá.
“Hun”, palavra chinesa que significa “alma dos
olhos”, é aquele brilho que vemos nos olhos das pessoas
saudáveis – ou seja, o Hun é um dos reflexos da saúde
do organismo.

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O mestre do seu sistema 97

Ele mora no fígado e, durante a noite, conduz o Qi e


o sangue para que sejam refeitos. Se existir um estímulo
visual como um feixe de luz, por exemplo, o Hun vai
para os olhos despertando a mente. Portanto, um bom
descanso tem que ser feito no período da noite, no es-
curo e em uma temperatura agradável. Dessa forma, a
mente deixa de permanecer alerta e descansa. Agora eu
lhe pergunto: como é o seu sono e o seu despertar?

AMA N DA Vou dormir muito tarde, pois fico estudando,


trabalhando ou assistindo à televisão. Quando me deito,
minha mente não para de trabalhar. Fico pensando em
tudo ao mesmo tempo: o que preciso fazer, o que não
acabei, coisas que aconteceram no dia, etc. Quando per-
cebo já é muito tarde, fico mais agitada ainda por não
conseguir dormir. Quando acordo, percebo que dormi
quatro ou cinco horas e estou muito cansada. Não con-
sigo acordar, sinto sonolência e preguiça pela manhã.

MESTRE O responsável pelo pensar demais é o meri-


diano do baço. O baço retira a energia dos alimentos que
ingerimos e a distribui pelo corpo todo, em forma de Qi
e sangue. Se esse processo de retirada for eficiente – e
a sua distribuição também –, todos os órgãos e vísceras
receberão energia para um bom funcionamento.
Segundo a MTC, o Qi do coração governa o sangue
e é responsável por sua circulação dentro dos vasos. E o
baço mantém o sangue dentro dos vasos. Se esse proces-
so deixar de ser eficiente por algum motivo, o baço ten-
de a trabalhar demais e se esgota. Assim, ele passa a ser
deficiente em sua função de distribuir energia. A energia
não chega de forma suficiente ao coração e, como o co-
ração é a morada da mente, a mente perde seu freio e
começamos a pensar em excesso e, consequentemente,
demoramos a adormecer.

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98 Máera Moretto

O esforço mental excessivo – como ler demais, estu-


dar demais e dormir pouco – lesa o baço. A deficiência
do baço, associada ao excesso do fígado, faz com que seu
organismo permaneça em alerta. Isso porque, se o fíga-
do não está equilibrado, não consegue manter o sangue
para que se recupere dos desgastes do dia a dia. Assim,
sua mente e seus músculos se mantêm em alerta a noite
toda e o sono passa a ser insuficiente para você. Quando
acordar, você estará extremamente cansada, sem energia
para despertar.
Ao adormecer, seu sangue deveria ir, teoricamente,
para o fígado – para que se recarregue de energia. Isso se
seu sono for normal. Porém, se o sono não é profundo
significa que seu sangue está de prontidão nas extremi-
dades do seu organismo.
Durante todo o seu sono e também no dia seguinte, o
sangue que deveria estar recarregado de energia está es-
gotado. Aí você se sente cansada e com dificuldade para
acordar. E mais: sente que sempre poderia dormir mais
um pouquinho e acaba relacionando o fato de precisar
dormir mais com o cansaço que lhe acompanha durante
todo o dia.
Ao despertar, o organismo deve ser acordado com cui-
dado. O espreguiçar deve anteceder o levantar porque, as-
sim, o Qi e o sangue acordam e despertam os órgãos e vís-
ceras para um novo dia. E como é o seu café da manhã?

AMA N DA Praticamente não faço o café da manhã.


MESTRE O desjejum deve ser feito obrigatoriamente.
Pois o meridiano do baço/pâncreas precisa novamente
retirar mais energia dos alimentos, para transformá-los
em Qi e sangue. Essa refeição deve ser composta por ali-
mentos coloridos contendo os cinco sabores: doce, salga-
do, amargo, azedo e picante.

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O mestre do seu sistema 99

Assim, cada órgão e cada víscera poderá ser nutrido


adequadamente. Essa refeição pede calma, deve ser len-
ta como todo o organismo naquele momento. Por isso é
melhor não ler ou ver televisão nessa hora. Eu explico:
como o fígado “abre” (ou é exteriorizado) nos olhos, se
eles estiverem captando informações, quando elas che-
garem ao fígado vão desencadear uma resposta emocio-
nal àquelas situações observadas ou lidas.
E aí sua nutrição deixa de ser o foco principal e a
digestão não será perfeita. Além disso, o processo de re-
tirada de energia dos alimentos será prejudicado. Por-
tanto, a hora do café da manhã pode, no máximo, ser
acompanhada por uma conversa relaxante e agradável.
E assim você garante uma boa fonte de energia para o
seu dia. Isso vale para todas as refeições.

AMA N DA Como acordo cansada, sempre atrasada, pulo


da cama para o chuveiro e às vezes, quando dá tempo,
apanho uma fruta para comer pelo caminho. Mas, na
maioria das vezes, não como nada e tomo um café preto
no escritório.

MESTRE Essa atitude faz com que você inicie o seu


dia com uma deficiência de energia, como se seu cor-
po fosse despertado às pressas. Isso dificulta o caminho
do Qi e, fatalmente, nem todo órgão receberá energia
de forma equilibrada. E o pior: por não se alimentar
adequadamente, você faz com que o organismo traba-
lhe com suas próprias reservas energéticas, enviando
energia preferencialmente para os órgãos mais impor-
tantes, como o cérebro. E deixa novamente alguns ór-
gãos ou vísceras deficientes. Assim você vai definindo
seus futuros pontos fracos, ou seja, os órgãos e siste-
mas mais suscetíveis vão apresentar doenças com o
decorrer do tempo.

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100 Máera Moretto

Mas, vamos voltar ao que seria saudável. No meio da


manhã, devemos nos alimentar com uma fruta. E equi-
librar a mente com exercícios de respiração. Isso porque
o Qi retirado dos alimentos pelo baço vai até o pulmão e
une-se ao Qi que vem do ar para formar o Qi defensivo –
ou seja, a imunidade do seu organismo.
E, da mesma forma que o seu dia é tomado pela pres-
sa de realizar e concretizar, seu pulmão acompanha esse
ritmo acelerado ao inalar. Seu dia cheio de pressa e afa-
zeres passa a ser uma fonte de grande exigência de ener-
gia para que todas as suas funções orgânicas e mentais
sejam realizadas de forma adequada.
Com isso, os movimentos de inspirar e expirar passam a
ser superficiais e rápidos demais, sendo comum muitas ve-
zes o ritmo respiratório se perder dando espaço a períodos
de apneia (ausência de respiração), ou seja, você fica tão
entretida com seus afazeres que se esquece de respirar.
Quando a respiração é ineficiente o Qi retirado do ar é
fraco, não impulsiona o sangue de forma adequada, geran-
do deficiência de sangue. E por isso você começa a sentir os
sintomas de desequilíbrio, como aperto no peito, falta de ar,
tristeza, além de baixa imunidade. Por isso é tão importante
a realização de exercícios respiratórios ao longo do seu dia.
AMA N DA No meio da manhã, não tenho tempo para
nada e não costumo nem mesmo me alimentar a não
ser tomar um café preto novamente; a minha próxima
refeição será o almoço e ai, sim, me alimento bem.

MESTRE O que é se alimentar bem?


AMA N DA Geralmente almoço com clientes, em ótimos
restaurantes, onde, enquanto comemos, discutimos sobre
negócios. Aproveito essa refeição e me alimento de uma
grande quantidade de comida, sendo que a essa hora do
dia estou com muita fome. Logo em seguida do almoço

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O mestre do seu sistema 101

sinto-me com sono e às vezes acho que poderia deitar ali


mesmo no chão e dormir.

MESTRE Alimentar-se bem não significa quantidade e


sim qualidade de alimentos. Os cinco sabores e as cinco
cores devem estar incluídos na sua dieta. Os sabores pos-
suem influência direta sobre os órgãos internos.
O homem, quando se alimenta, absorve a essência
pura dos alimentos que nutrem o corpo. Um corpo bem
nutrido possui uma energia propícia a manter a vida.
Cada um dos cinco sabores da nossa alimentação nutre
um órgão. Por exemplo: os alimentos que possuem sa-
bor picante podem agir nos pulmões e no intestino gros-
so. Os alimentos com sabor doce no estômago e baço;
azedo, no fígado e vesícula biliar; amargo, no coração e
intestino delgado; e salgado, no rim e na bexiga.

AMA N DA Mas agir como? Como os alimentos agem


nesses órgãos?

MESTRE Por exemplo: se você tiver uma deficiência de


energia no pulmão e ingerir alimentos picantes, você vai
“agradar” o pulmão. Ou seja, o sabor picante dá energia
ao pulmão. Se você tiver o pulmão com excesso de ener-
gia, os alimentos picantes vão aumentar mais ainda essa
energia – e podem até levar a uma doença nesse órgão
por estagnação ou excesso dessa energia. Por outro lado,
quando um dos sabores é ingerido em demasia, pode
ferir o órgão correspondente.

AMA N DA Então eu não devo discutir negócios durante


o meu almoço?

MESTRE Certo, jamais devemos discutir negócios du-


rante as refeições. A começar pelo local, devemos estar
num ambiente tranquilo. O ideal é respeitar um mes-
mo horário, repetindo-o de preferência todos os dias.

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102 Máera Moretto

Figura 5
Alimentos de Alimentos de
sabor picante sabor amargo

Alimentos de
sabor azedo

Pulmão e Coração e
Intestino grosso Intestino delgado

Alimentos de Alimentos
sabor salgado de sabor doce

Fígado

Rim e Bexiga Estômago e Baço

Órgãos e sabores

As refeições devem ser momentos de relaxamento para


que o baço e o estômago, responsáveis pela digestão,
possam trabalhar de forma adequada. E mais: deverí-
amos encerrá-las com um chá morno e amargo, pois
tanto a temperatura morna quanto o sabor amargo
agradam e favorecem o trabalho do baço.

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O mestre do seu sistema 103

O estômago também é responsável pela descida do


Qi “impuro” – ou seja, os elementos que não interessam
para a nutrição do organismo –, que é enviado para os
órgãos excretores, como o intestino e a bexiga, para que
sejam eliminados na forma de fezes e urina.
Já o baço é responsável pela ascensão do “Qi puro”
dos alimentos, os nutrientes, para os órgãos superio-
res, como o coração e o pulmão. Se o equilíbrio entre
eles for quebrado, o baço não será suficiente para fa-
zer o Qi puro subir e isso pode gerar a estagnação de
Qi no estômago. Com isso ocorre a sensação de disten-
são abdominal, estômago estufado ou mesmo vômito
e aerofagia.
Você já sentiu algo parecido, Amanda?

AMA N DA Já senti, sim. Na verdade, isso ocorre até com


certa frequência. É comum eu me sentir estufada como
se não digerisse os alimentos do almoço; e, além disso,
fico arrotando o dia todo. O que devo fazer para que isso
não aconteça?

MESTRE Deve se alimentar de forma variada e colo-


rida, em um ambiente calmo e jamais discutir negócios
ou mesmo tristezas ou problemas de qualquer origem
durante a refeição. Agora me diga, Amanda, depois do
almoço o que você faz?

AMA N DA Eu corro para o trabalho porque estou sempre


atrasada e com muitas tarefas a cumprir.

MESTRE Logo após a refeição deve existir um momen-


to de relaxamento de pelo menos dez minutos, em que
a mente deve ser esvaziada, dando ênfase à respiração
coordenada e tranquila. Feito isso, sua tarde renderá em
dobro, pois a mente e os músculos favorecerão os movi-
mentos e pensamentos.

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104 Máera Moretto

Quando nossa mente foca um raciocínio, para que o


foco seja mantido você diminui a frequência respiratória.
Sem perceber você quase para de respirar e, como precisa
do Qi que o pulmão retira do ar para manter tudo fun-
cionando em equilíbrio, imagine o que vai ocorrer com
o seu processo digestivo se, logo em seguida às refeições,
todo o Qi e sangue necessários para a digestão forem
desviados para sua mente resolver um problema?
Já no final da tarde, entre 6 e 7 horas, a energia YANG
– que é aquela que nos mantém dispostos e alertas – co-
meça a declinar para dar lugar à energia YIN, que nos
acalma e começa a nos preparar para que o sono chegue
mais tarde. É quando a pessoa sente certa sonolência.
Você sente o organismo diminuir seu ritmo preparando-
-se para adormecer. Esse horário tem que ser respeitado,
diminuindo as atividades físicas e intelectuais.

AMA N DA Nossa, esse é o horário em que mais trabalho,


enquanto como alguma coisa, na maioria das vezes um
sanduíche. Ligo a televisão para me manter informada
e logo em seguida começo a trabalhar. Já entendi, estou
fazendo tudo errado!

MESTRE Está, sim, Amanda. Mas sempre é tempo de


se corrigir. O jantar deve ser servido com alimentos leves
e de fácil digestão, pois tudo começa a ficar mais len-
to. Uma hora antes de dormir, os estímulos da mente
devem ser diminuídos. E devemos pensar somente em
coisas agradáveis.
A hora de dormir deve envolver um ritual, desde es-
colher roupas confortáveis, cuidar para que o ambien-
te seja climaticamente adequado, silencioso e escuro,
para proporcionar mais ou menos sete horas de sono.
Se o sono for reparador, ele garante o equilíbrio do
dia seguinte.

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O mestre do seu sistema 105

Você pode estar se indagando novamente “como fazer


isso no meu dia corrido?”. E eu respondo; sempre existe
um jeito e se você fizer um teste seguindo esses princípios
por uma semana vai ver como essa mudança será reverti-
da a seu favor em forma de vida, e esse é um ótimo come-
ço para que seus sintomas comecem a desaparecer.

AMA N DA Eu entendi que fiz tudo errado. Compreendi


por que alguns mecanismos falharam e desenvolvi aque-
les sintomas. Mas por que esse mal-estar tão intenso to-
mou conta de mim se tantas outras pessoas que conheço
vivem da mesma forma e não sentem o que eu sinto?

MESTRE Muito bem, Amanda. O que ocorreu é que para


que fosse desencadeada essa grande pane você precisou
de um gatilho, ou seja, uma situação extrema que que-
brasse a rotina de viver vencendo seus desequilíbrios.
No seu caso, por não repor a energia para um bom fun-
cionamento do seu organismo, somado ao desgaste por se
sentir responsável pelos amigos e familiares, seu corpo não
aguentou e deu sinais mais fortes de que iria parar.

AMA N DA Então por que o desânimo?


MESTRE Pela deficiência de Qi de todo o organismo. Pois
tudo o que você fez durante o dia foi não dar a oportuni-
dade ao seu organismo de retirar o Qi de forma adequada
do ambiente, dos alimentos e passou gastando excessiva-
mente a sua reserva de energia. Durante a noite, não con-
seguiu recuperar esse Qi com um descanso adequado.

AMA N DA E a tristeza?
MESTRE A tristeza ocorre porque como o Qi está dimi-
nuído diminui também o Qi do pulmão. O pulmão está re-
lacionado à emoção da tristeza. Se o Qi do pulmão for fra-
co, o paciente é triste. E, como é o pulmão que impulsiona

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106 Máera Moretto

o Qi para o coração, ele já chega ao coração enfraquecido,


pois como você está em desequilíbrio tudo passa a ser um
problema – e cada vez que sua mente se foca tentando
resolver o problema você diminui sua respiração e, se o Qi
do coração for insuficiente, você tem crises de choro.
Se o Qi do pulmão for insuficiente, ocorre opressão
no peito, respiração curta e palpitações. Se o sangue do
coração for deficiente, o sangue se movimenta mal e
afeta o pulmão, gerando tosse, respiração difícil e aperto
no peito.
AMA N DA Então tudo isso é uma questão de desequilí-
brio da energia Qi?
MESTRE Certo. Como o Qi é deficiente, e a pessoa não
diminui o ritmo de consumo de energia – ou seja, ela
continua cada vez mais fazendo esforço para dar conta
do seu dia a dia –, ela cada vez mais vai gastando Qi e
sangue de forma que, a qualquer minuto, o organismo
desliga, apaga.
Isso faz com que a pessoa pare na marra, gerando
tontura. Porque o sangue e o Qi não são suficientes para
atingir a cabeça. Aí há formigamentos em mãos e pés e
um frio intenso. Isso porque o Qi e o sangue não atin-
gem de forma adequada as extremidades.
AMA N DA E a ansiedade?
MESTRE A ansiedade acontece porque a preocupação
excessiva ou o pensar demais lesa o Qi do baço, da mes-
ma forma que lesa o Qi do pulmão, gerando assim a an-
siedade, a dispneia (falta de ar) e a tensão nos ombros e
pescoço. Já o medo ocorre por deficiência do Qi do rim.
AMA N DA Então as emoções também provocam doenças?
MESTRE Exato. A Medicina Tradicional Chinesa acre-
dita que as emoções sejam uma das causas das doen-

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O mestre do seu sistema 107

ças. Sete delas são consideradas principais, mas outras


podem ser decorrentes: a fúria, a alegria, a tristeza, a
preocupação, a abstração, o medo e o choque, cada uma
dessas sensações tem um efeito sobre o Qi e interfere
diretamente em todo o sistema.
A fúria que também pode ser entendida por ressen-
timento, raiva contida, irritabilidade, frustração, ódio,
amargura, qualquer uma dessas emoções – afeta o fígado
e, se for por um período prolongado, irá estagnar o Qi e
o sangue do fígado ou aumentar o YANG do fígado.

AMA N DA Não entendi. O que é o YANG do fígado? O


que ele faz?

MESTRE Quando falamos em dualidade como princípio


básico da MTC estamos justamente nos referindo às carac-
terísticas opostas das energias YIN e YANG. Da mesma for-
ma que existe o dia e a noite – e o dia claro e ensolarado,
representado pelo YANG, dá lugar à noite escura e fria, re-
presentada pelo YIN –, o homem também é a representa-
ção dessas duas forças em todos os seus órgãos e sistemas,
e só haverá saúde se houver equilíbrio entre elas.
Cada órgão e sistema possui energia YANG, que im-
pulsiona e mantém a eficiência no cumprimento da fun-
ção do órgão; já a energia YIN acalma e diminui o fun-
cionamento dele para que haja um equilíbrio. Portanto,
Amanda, com o seu fígado não é diferente. O normal se-
ria que ele mantivesse um nível constante de YANG du-
rante o dia, garantindo seu funcionamento; e esse desse
lugar para a energia YIN à noite – ou mesmo quando
você está em relaxamento.
Mas como o fígado é um órgão quente por natureza,
comparado ao fogo que aquece a chaleira do nosso orga-
nismo, um alimento mais forte, uma preocupação mais
intensa ou qualquer outra emoção inesperada aumen-

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108 Máera Moretto

ta o YANG do fígado. Como o YANG é quente, fala-se


que aumenta o “fogo do fígado”. Quando isso ocorre, o
fogo do fígado sobe em direção à cabeça causando dor
de cabeça. O rosto pode ficar avermelhado, a pessoa fi-
car irritada, cansada e inúmeros outros sintomas podem
ocorrer dependendo do órgão que ele afetar.
Isso mostra a importância do equilíbrio. Da mesma
forma que o fígado já é um órgão quente, existem siste-
mas YIN no organismo, como o rim, por exemplo, res-
ponsáveis pelo esfriamento desse calor, mantendo assim
o equilíbrio.
A preocupação, ou seja, o pensar demais, como o tra-
balho mental ou estudo em excesso, debilita o baço ge-
rando cansaço, anorexia e diarreia. Principalmente se a
pessoa não seguir uma alimentação regular, se alimentar
muito rápido ou trabalhar durante as refeições.
O medo depaupera ou empobrece o Qi do rim; o
medo e a ansiedade provocam uma deficiência no Qi
do rim, gerando calor na face, sudorese noturna, palpi-
tações, boca e garganta secas. Assim, o choque mental
interrompe o Qi e afeta o coração e o rim, gerando pal-
pitação, falta de ar, insônia e tontura.

AMA N DA Então se eu for alegre o tempo todo não fica-


rei doente?

MESTRE Veja bem, temos que manter o equilíbrio. A


alegria em excesso, é conhecida como euforia e lesa o co-
ração; pois faz com que ele trabalhe excessivamente e de
forma contínua – é como se o coração não tivesse tempo
de se recarregar. Está sempre alerta, sempre doando e
você sempre sorrindo. Isso esgota o Qi do coração, po-
dendo causar enxaqueca e desânimo, por exemplo. Daí
vem a importância de controlar as emoções, não viver os
excessos, nem mesmo excesso de alegria.

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O mestre do seu sistema 109

AMA N DA É, eu sou muito elétrica, sou uma máquina de


pensar.

MESTRE Sua mente vive em contínua estimulação,


como se não bastassem as emoções que nos acompa-
nham – porque acordamos atrasados, nos alimentamos
cercados por aflições, nos cobrando pontualidade –,
ainda nos importunamos com simples acontecimentos
que podem repercutir negativamente nas nossas vidas,
como, por exemplo, um congestionamento que nos leva
a perder reuniões de negócios ou provas na faculdade.

AMA N DA Isso sem falar que nos dias atuais somos bom-
bardeados por informações positivas e negativas cons-
tantemente.

MESTRE É verdade. Somos invadidos por uma série


de informações visuais, cheia de cores e formas; infor-
mações auditivas com ruídos constantes, aos quais nos
acostumamos tanto a ponto de nem mais nos agredir ou
incomodar.
Com isso, sua mente não para e ainda tem que coor-
denar tudo isso, com os seus problemas pessoais, parentes,
amigos, etc. E você acha isso normal, ou melhor, é progra-
mada pela sociedade para achar que tudo isso é normal.
Aceita e vive dessa forma um dia após o outro. E, sem per-
ceber, isso vai se tornando uma rotina negativa e você não
consegue relaxar nem mesmo na cama, porque a mente é
atropelada por pensamentos e preocupações referentes às
tarefas do dia seguinte. Com o tempo, isso passa a agredir
seu organismo, gerando desequilíbrios e doenças.

AMA N DA Por que é importante conter as emoções em


excesso?

MESTRE Porque silenciar a sua mente é uma necessida-


de. Se você não pará-la ela vai parar você. E bastaria que

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110 Máera Moretto

você a silenciasse uma vez ao dia para que transformasse


aquele turbilhão de emoções em luz, ou seja, equilíbrio.
E sua mente entenderia que, seja qual for o problema ou
desafio a vencer, tudo está bem e tudo ficará bem.

As conquistas e suas armadilhas


Atualmente, muitas pessoas são objetivas e racionais
demais. Em um mundo onde aparentemente o que conta
é o dinheiro, seu emprego e suas posses, elas passam a
vida correndo atrás dessas conquistas. Depois que as al-
cançam, passam todo o tempo em anseios voltados para
mantê-las.
Para trilhar esse caminho, essas pessoas não desviam
seu foco do material, do racional. Acreditam que se têm
dinheiro, podem comprar saúde, alimento, amizades, etc.;
ou seja, se têm dinheiro, possuem certo domínio da vida.
Por serem pessoas determinadas e fortes, aqueles que
as cercam por muitas vezes se referem a elas como pessoas
especiais.
Com o passar do tempo, essas pessoas acabam real-
mente acreditando serem mesmo seres superiores. Todas
as suas aflições e dificuldades são sempre solucionadas
com muito empenho, paciência e racionalidade.
Nunca se desesperam, pois se tornam tão racionais que
não se permitem esse tipo de atitude. Não se abrem com
seus conhecidos, pois não encontram sentido nisso – já
que quem sempre resolve de forma majestosa os próprios
problemas e os problemas dos outros são elas mesmas.
Sem que percebam, de tanto serem classificadas como
“as tais que detêm o poder das soluções”, ou mesmo de

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O mestre do seu sistema 111

ouvirem: “Só você poderia me ajudar” ou, pior, depois


de dar um conselho, ouvirem a frase: “Eu sabia que você
conseguiria solucionar este problema”, elas mesmas aca-
bam acreditando nisso. Nessa hora, passam a não encon-
trar nada superior a elas mesmas.
Esse tipo de pessoa é tão racional e controlada peran-
te os problemas que qualquer deus que não possa ser
palpável ou visível passa a ser irracional demais para a
sua compreensão. E é nessa hora que ela experimenta
o desamparo.
Desamparo a tal ponto que pensa: “Se todos me pe-
dem socorro, e se não sinto ninguém superior a mim,
quem será por mim nas minhas aflições?”.
Com isso, se dá conta de sua fragilidade. E de que
todo o poder que lhe é atribuído não passa de prepotên-
cia, pois como alguém tão poderoso pode ser tão frágil a
ponto de uma simples queda ameaçar sua vida?
Nem tudo está ao seu alcance. E, por mais racional
que você seja, é muito importante admitir que existe uma
energia maior, de união e totalidade. Aquela energia que
garante a sua volta para casa no final de cada dia. Pois esse
ser tão racional tem a consciência de que isso não pode ser
garantido e, definitivamente, não está ao seu alcance.
Então, sem essa energia superior e com toda essa ra-
cionalidade, chegará a hora em que não mais sairá de
casa. Mas o que é essa energia? Essa energia é o seu
Deus, ou chame-o como quiser. Agora, ou você confia
no seu Deus ou se fecha em você mesmo.
E confiar é praticar, praticar a entrega e a fé. É usar
sua racionalidade para se sentir acompanhado por Deus
e conseguir encontrar a paz nessa sensação. E então você
se depara com o início de tudo: a importância de Deus.
Na trajetória da sua vida, você já foi criança, ado-
lescente, foi humilde, passou a ser admirado por todos,

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112 Máera Moretto

viveu essa admiração como uma verdade, tendo seu ego


muito valorizado. Encontrou sucesso, poder, dinheiro e
passou a dominar o seu mundo, pois tendo dinheiro e
poder suas necessidades estariam garantidas.
Mas nunca teve o poder de controlar o mundo contra
perigos e ameaças. De repente, sem que perceba, suas
fragilidades se tornam uma prisão. E para a mente racio-
nal não é concebível viver preso sem grades à sua volta.
Nessa hora, a mente usa todo seu poder de objetividade
e conclusão para construir essas grades.
E assim o faz, as constrói em forma de doenças e sen-
sações que o impedem literalmente de ir e vir. Agora
você se encontra em uma prisão interior. Essa prisão
pode se revelar na falta de ar, frio intenso, formigamen-
to nas mãos. O coração bate acelerado e você sente que
pode perder o controle a qualquer minuto.
Na verdade, coisas ruins acontecem porque sim-
plesmente acontecem. O pneu pode estourar porque
está velho e é de borracha. Um copo pode quebrar pelo
simples fato de que o vidro se quebra. Mas o que temos
que acreditar é que sempre somos amparados por uma
força maior. E ela acorda com você, atravessa seu dia
e não dorme como você: ela cuida de você até quando
está dormindo. E por isso você pode dormir em paz.
Entenda que seu poder é limitado demais e sua co-
ragem jamais poderá ir além do racional, e este é seu
limite. Portanto, tem que ser forte, sim, um grande lu-
tador, para se sentir sempre acompanhado por alguém
muito mais forte que você. Alguém que tenha o poder
de protegê-lo. Alguém que direcione você na Terra.
É preciso sentir a companhia de Deus.
Para isso, basta ter a plena consciência de que se
está amparado. Você está completo e há uma força su-
perior que zela por você. E saber que você não manda

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O mestre do seu sistema 113

em nada, apenas possui inteligência e força para cui-


dar da sua vida e, se possível, ajudar as outras pessoas
menos afortunadas – mas não tem a obrigação de dar
conta de nada.
Cada um tem seu aprendizado e você não tem o di-
reito de tirar isso de ninguém. Interessa somente a Deus
a responsabilidade pelos que o cercam.
Você é a força da Terra que precisa da força do ar. Seu
ar é seu Deus, sem ar seu corpo padece; sem Deus sua
alma adoece; e não existe exame na Terra que diagnos-
tique esse mal.
Portanto, não assuma o papel de Deus, e, sim, de ser
filho de Deus. Dessa forma, sempre terá um pai e nunca
mais se sentirá desamparado.

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˜
9. A solidao e suas armadilhas
, ,
Historia de Mario
Mário tem 29 anos, é casado e ex-estudante de medi-
cina. Desde o início ele se autodiagnosticava como por-
tador de uma depressão muito antiga. A vida não tinha
mais sabor. Ele foi perdendo o gosto de viver e de ver
pessoas. Não sentia nem raiva, nem amor. Extremamen-
te magro, apático, não comia, tinha resistência muito
baixa, vivia resfriado, perdera o desejo sexual e sentia
repulsa pelas pessoas.
Quando fazia residência em uma faculdade no Para-
ná, começou a sentir crises de ansiedade muito fortes.
Ele tinha a sensação de não conseguir mais continuar
o que estava fazendo, a ponto de interromper a ação,
qualquer que fosse ela. Durante toda a vida, sentia uma
tristeza tão grande que chegou a dizer que simplesmente
não sentia mais nada: nem alegria, nem necessidades,
nem mesmo amor.
Desenvolveu fobia social. Não atendia telefone, por-
que não tinha o que falar e não queria falar. Só retorna-
va quando deixavam mensagens e apenas para algumas
pessoas permitia aproximação. De outras pessoas, inclu-
sive familiares, ele se afastou completamente. Quando
casou foi deixando os amigos – até pelo sentimento de
posse da mulher – e gradativamente parou de encontrar
e falar com as pessoas.
Mário é de uma família cujos pais têm posição social
elevada, ambos bem-sucedidos. Tem uma irmã mais nova.
“Para meus pais, o que conta na vida é o que a pessoa
tem, tanto financeiramente como na vida em sociedade.

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O mestre do seu sistema 115

Para eles, uma boa pessoa tem que ter estudo e ser re-
conhecida por isso. Por imposição de meus pais fui fazer
medicina”, confessa.
Nunca se deu bem com a mãe, uma pessoa muito
racional, que dificilmente o abraçava, nunca expressava
amor e cobrava o tempo todo, desde a responsabilida-
de com o estudo até o compromisso com as pessoas da
família. Suas conversas eram sobre cobranças e respon-
sabilidades. A vida toda ele tentou fazer tudo certo, de
acordo com o que a mãe considerava certo. Passava por
cima de si mesmo para agradar a mãe. Percebia que nun-
ca era o suficiente, mas, mesmo assim, se esforçava para
ser o melhor em tudo. Tirava as melhores notas, passou
na melhor faculdade, mas nunca se sentia totalmente
reconhecido em seus esforços.
No quinto ano, quando já cursava residência médica,
foi considerado um dos alunos mais brilhantes. Até des-
cobrir que nem tudo dependia dele – e a responsabilida-
de era enorme. “Cheguei a perder pacientes que morre-
ram por vários motivos que fugiam ao meu controle. Por
exemplo: por não haver leito suficiente no hospital; não
haver medicamento necessário; e não ter quem tomasse
decisões importantes no momento preciso de uma ocor-
rência”, desabafa.
Além disso, se relacionava com pessoas que se tor-
naram frias para poder superar aquelas situações. Trata-
va-se de uma defesa. E ele não conseguia entender essa
atitude como uma simples saída para contornar as difi-
culdades.
Foi nesse momento que as fobias vieram à tona. Ele
se isolou das pessoas, não conseguia conversar com nin-
guém. Ficava 24 horas trancado em casa. Sua mente
trabalhava sem cessar. Tinha um sono incontrolável e
passava os dias dormindo e se alimentando mal.

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116 Máera Moretto

,
Mario e o Mestre
Quando Mário chegou ao mestre, já tentara várias
formas de tratamento por cerca de dois anos mais ou
menos. Fez terapia cognitiva, usou medicamentos, ele-
trochoque, etc. E nada havia proporcionado uma me-
lhora significativa. Por períodos curtos, vivia momentos
de bem-estar, mas nunca duradouros e efetivos.
Abandonou todos os tratamentos e há dois anos se
fechou em casa. Foi quando sua mãe pediu encarecida-
mente que conversasse com o mestre Shen Menn. De-
pois de muito relutar – uma vez que, como estudante de
medicina, cheio de princípios da alopatia, não acredita-
va que a acupuntura pudesse fazer alguma diferença no
quadro emocional –, consentiu.
A desconfiança era tanta que a primeira pergunta
que fez ao mestre foi:
,
M a RIO Shen, por que por mais que eu me esforce
não consigo engordar?

MESTRE Na visão da MTC, a resposta para a sua per-


gunta é muito complexa. Para começar, acreditamos
que o desequilíbrio no seu peso tenha uma origem
mais profunda e não implica apenas emagrecer ou en-
gordar.
Acreditamos em um equilíbrio de todo o sistema.
Esse sistema é o seu organismo. Se algo não vai bem no
seu organismo, é gerada uma série de desequilíbrios, em
diferentes graus de intensidade.
Portanto, o fato de não engordar provavelmente seja
decorrente de outros desequilíbrios que deveremos in-
vestigar. Assim que eles forem sanados, seu corpo assu-
mirá uma série de transformações rumo ao equilíbrio,

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O mestre do seu sistema 117

e você encontrará o peso ideal. O pouco peso que você


tem hoje é sinal de que algo não vai bem.
,
M a RIO Mas que tipo de investigação deverá ser feita?
Mais exames de sangue?

MESTRE Não, Mário. Acreditamos que você seja fruto


do que pensa, do que come e da vida que leva. Portanto,
não há exames de sangue para diagnosticar isso. E sim
a anamnese, o que você como médico já conhece, pelo
menos o termo. Para nós, isso quer dizer um bate-papo
com uma série de perguntas em que vamos conhecer
você e saber tudo o que puder lembrar para enriquecer as
respostas às minhas perguntas. Isso se torna importante
para que possamos fechar um diagnóstico claro segundo
a MTC. Esse diagnóstico será confirmado pela observação
da sua língua e de seu pulso. Trata-se de um método de
diagnóstico totalmente diferente daquele usado pela me-
dicina que você estudou, ou seja, a Medicina Ocidental.
,
M a RIO Mas por que a língua?
MESTRE A língua é um importante instrumento para
fecharmos o diagnóstico. Ela foi mapeada e descobriu-
-se que cada parte dela corresponde a um órgão interno.
Pelo aspecto da língua, podemos identificar alterações de
cada órgão do corpo.
A observação da língua está baseada na cor, forma,
maleabilidade e saburra – isto é, a camada lodosa que
se acumula sobre ela. O aspecto de cada um desses itens
confirma o que levantamos na anamnese.
Outra forma de diagnóstico é sentir o pulso no local
da artéria radial.
Essas formas de diagnóstico para alguns ocidentais
podem parecer mágicas ou místicas. E chega a ser de di-
fícil compreensão para culturas tão céticas e racionais.

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118 Máera Moretto

Conta a lenda que houve uma época na China antiga


que, para serem tratadas por seus médicos, as mulheres
chinesas, até por motivos culturais, não podiam ser to-
cadas. Então, elas permaneciam sentadas por trás de um
toldo e o médico somente tinha acesso aos pulsos e à lín-
gua. Imagine que ambos, pulsos e língua, eram expostos
por pequenos orifícios no centro do toldo.
Foi assim que os médicos sentiram necessidade de
mapear a língua por meio de observação das áreas cor-
respondentes aos principais órgãos internos. Por exem-
plo: a ponta da língua corresponde ao meridiano do co-
ração; logo atrás se encontra o pulmão; a parte central
da língua é ocupada pelo baço; depois pelo estômago; e,

Figura 6

Rim
Bexiga
Intestinos

Estômago

Vesícula
biliar Fígado
Baço

Pulmão

Coração

A língua mapeada segundo os órgãos correspondentes

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O mestre do seu sistema 119

por fim, o fundo da língua refere-se ao estado dos intes-


tinos, bexiga e rim. Lateralmente encontra-se o fígado
do lado esquerdo; e a vesícula biliar do lado direito. Se-
gundo os chineses, a língua reflete o estado de equilíbrio
ou desequilíbrio do corpo.
Da mesma forma ocorre com o pulso. Quando o mé-
dico chinês toca seu pulso, ele vai analisar o estado e as
modificações das doenças. Ele toma o pulso, sentado de
frente para você, que também está sentado com as mãos
abertas na altura do coração.
Primeiro ele toca de forma superficial o seu pulso
para sentir como está o seu Qi. Em seguida, pressiona
de forma mais forte, ou mais profunda, para perceber o
nível de energia circulante.
Quando tocado superficialmente, o pulso da artéria ra-
dial da sua mão esquerda demonstra o estado de seu intes-
tino delgado, da vesícula biliar e da bexiga. Ao toque mais
profundo sente-se o estado do seu coração, fígado e rim.
Na artéria radial da sua mão direita encontraríamos, no
toque superficial, o intestino grosso, o estômago e o triplo
aquecedor. Já ao apertar mais profundamente encontra-
se o pulmão, o baço e o meridiano sexo-circulação.
E são justamente as variações entre fluidez, velocida-
de e outras características do pulsar que denunciam o es-
tado de saúde ou doença da pessoa. Todos os doze pulsos
básicos, referentes aos principais órgãos do organismo,
devem bater muito intensamente para que o paciente
esteja em boas condições de saúde.
Qualquer pulso que fuja a essas características de-
monstra ausência de saúde.
Assim, existem inúmeras formas de desequilíbrio
que só podem ser diagnosticadas de maneira confiá-
vel por um acupunturista muito experiente. Isso por-
que tanto a língua como o pulso podem ser alterados,

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120 Máera Moretto

dificultando a confirmação do diagnóstico. Como, por


exemplo, alguns alimentos que possuam corantes, café
ou até balas podem tingir a língua, modificando sua co-
loração verdadeira.
Por outro lado, se o paciente subiu uma escada e
está ofegante, ou mesmo se acaba de receber uma no-
tícia desagradável, o pulso estará totalmente alterado.
Por isso a experiência do médico é importante até mes-
mo para atentar a esses detalhes que não podem ser
negligenciados.
E esses serão os passos que seguiremos para encontrar
os desequilíbrios que culminaram nas suas queixas. Ago-
ra, conte-me, Mário, quais são suas principais queixas?
,
M a RIO Depressão; acho que sempre fui depressivo.
Tenho falta de ar, aperto no peito, muito frio, dormência
nas mãos e pés. Já cheguei a desmaiar. Não tenho mais
alegria de viver. Estou apático, sem vontade de nada.
Estou muito ansioso, vivo doente, não durmo à noite e
tenho muito sono de dia. Há dois anos não consigo nem
trabalhar, não me concentro em nada. Então não pos-
so estudar, e a minha cabeça não para nem um minuto
de funcionar. Nos últimos tempos não atendo telefone e
nem falo muito com as pessoas, tudo me leva a um esta-
do de ansiedade terrível.

MESTRE Então,Mário, vamos devagar. Você me diz que


sempre foi depressivo. Isso, para a MTC, demonstra uma
falta de YANG no seu organismo, que até mesmo pode
ter origem genética. Ou seja, você pode ter nascido com
uma deficiência que o leve a esse padrão de desequilí-
brio ou tê-la adquirido durante sua vida.
Na hora da concepção, a união das energias sexuais
do homem e da mulher forma o que os chineses cha-
mam de energia Jing pré-celestial, porque veio antes do

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O mestre do seu sistema 121

nascimento. Jing é uma energia refinada e deriva de um


processo de purificação de outras energias mais densas e,
nesse caso, essas energias vêm de seus pais.
Existem três tipos de Jing. O Jing pré-celestial, que
é formado pela união das energias do pai e da mãe na
hora da concepção – e que alimentam o feto até o nas-
cimento, juntamente com a energia do rim da mãe.
Trata-se do que chamamos de uma energia fixa. Daí a
importância do estado de saúde dos pais ser o melhor
possível durante a hora da concepção. Quer dizer, o fato
de não estarem alcoolizados ou drogados – porque isso
interfere na qualidade da energia que será doada para a
formação do feto e, consequentemente, influi na saúde
dos órgãos da criança.
O Jing pós-celestial é o nome dado à energia que re-
tiramos dos alimentos e dos fluidos através do baço e do
estômago. Após o nascimento, o bebê se nutre retirando
energia dos alimentos – e respira retirando energia do ar
através do pulmão. Esses dois tipos de energia formam
o Jing pós-celestial. E a sua qualidade pode ser alterada
segundo o modo pelo qual vivemos.
A terceira forma de Jing é a Essência Jing do rim,
que é formada pela união da essência pré-celestial e da
pós-celestial, sendo alimentada pela pós-celestial. É a es-
sência Jing do rim que vai determinar o crescimento, a
reprodução, o desenvolvimento, a maturação sexual, a
concepção e a gravidez da mulher. Por isso não devemos
gastá-la em demasia e precisamos levar uma vida mais
tranquila e equilibrada.
,
M a RIO Entendi, mas o que isso tem a ver comigo?
MESTRE Possivelmente, a essência Jing que você rece-
beu dos seus pais pode ter vindo alterada. Essa essência
pré-celestial é que vai determinar a constituição, força e

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122 Máera Moretto

vitalidade de cada indivíduo. É o que faz de cada pessoa


um ser único.
Resumindo: a alteração de equilíbrio pode ter sua ori-
gem em uma deficiência da energia de seus pais durante
a concepção – ou mesmo de um deles apenas – que lhe
foi passada naquele momento.
,
M a RIO Você está dizendo que eu herdei minha de-
pressão dos meus pais?

MESTRE Não. Estou dizendo que o seu padrão her-


dado no momento da concepção o tornou uma pes-
soa que sempre teve uma quantidade de energia YANG
(que o impulsiona) diminuída; e a energia YIN (aquela
energia que acalma) aumentada, a ponto de deixá-lo
mais quieto, parado, sem grandes vontades de movi-
mento na vida.
Por outro lado, como a energia YANG é a responsável
por movimentar tudo no nosso organismo, quando ela se
encontra deficiente, falta energia nas extremidades. Ou
seja, falta Qi na mente, mãos e nos pés. Com isso você
sempre deve ter tido uma tendência maior a sentir frio ao
invés de calor nas extremidades; e também é mais quieto
e com tendência à depressão e sonolência durante o dia.
,
M a RIO O fato de eu estar sempre com frio está rela-
cionado com a falta de energia YANG?

MESTRE Sim. Além disso, a falta de Qi nas extremida-


des faz com que diminua o fluxo de sangue para essas
áreas também. Pois o Qi é o comandante do sangue, o
Qi e o sangue caminham juntos. Com isso, a dormência
aparece nas mãos e pés.
,
M a RIO E o que explica a imunidade do meu orga-
nismo ser tão baixa que fico doente sempre? Chego a
emendar uma gripe atrás da outra.

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O mestre do seu sistema 123

MESTRE O sangue é a mãe do Qi, porque ele carrega o


Qi defensivo, conhecido como Wei Qi, da mesma forma
que a mãe carrega seu filho nos braços. Ele é responsável
por defender o nosso organismo de agentes agressores
que causam doenças, já que ele controla o fechamento e
abertura dos poros.
Se o Wei Qi não for forte o suficiente, os poros perma-
necem abertos e o corpo é invadido por agentes agresso-
res externos como vírus, bactérias, etc. Isso explica seus
resfriados repetitivos e de certa forma o fato de transpi-
rar excessivamente, pois o Wei Qi fraco faz com que os
poros não se fechem e o suor escorra sem parar.
,
M a RIO Como posso fortalecer esse Wei Qi, isto é, o
meu Qi defensivo?

MESTRE Muito simples. De uma forma geral, o ser


humano retira o Qi dos alimentos, quando eles che-
gam ao estômago. Esse é o chamado Qi nutritivo. Essa
energia mais purificada é enviada para o pulmão. No
pulmão, o Qi dos alimentos se une ao Qi que o pulmão
retira do ar e forma o chamado Qi defensivo. Por isso,
para fortalecer o Wei Qi você deve ser bem alimentado
e, através de exercícios respiratórios, aprender a respi-
rar sem ansiedade.
,
M a RIO Agora que já aprendi a fortalecer o meu Qi
defensivo, como faço para parar a minha mente?

MESTRE Você passa a vida toda se cobrando. Quer


ser o melhor aluno. Não quer decepcionar seus pais e
pessoas que depositam expectativas em você. Essa co-
brança exagerada está relacionada ao pensar excessiva-
mente. Isso prejudica as funções do baço, encarregado
de transportar e transformar as substâncias retiradas da
alimentação. Quando o baço falha nessas duas funções,

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124 Máera Moretto

faz a mente pensar mais ainda. A mente perde o foco


e não consegue memorizar o que é lido; consequente-
mente tem dificuldade para estudar.
Portanto, deve fortalecer seu baço se alimentando
corretamente, de forma equilibrada, com os cinco sa-
bores e, ao mesmo tempo, evitar alimentos e atitudes
que lesem seu baço, por exemplo: o baço não gosta de
alimentos frios como saladas cruas de forma excessiva,
doces em grandes quantidades ou líquidos gelados. O
líquido morno como os chás, por exemplo, agradam o
baço. Os alimentos mornos e cozidos tonificam o baço.
Por outro lado, o grande responsável por lesar o baço
é o trabalho excessivo da mente – que pode ser desde
um estudo em demasia, sem respeitar seus momentos
de descanso, até o estado em que a mente trabalha ex-
cessivamente devido a pensamentos de cobrança, ou
repetitivos.
Aí você deve acalmar sua mente pensando em uma
coisa por vez. Isso porque, para resolver duas preocu-
pações ao mesmo tempo, o seu Qi não será suficiente.
Nessa hora a mente perde a direção. Por exemplo, é
muito comum termos um prazo exíguo para terminar
um trabalho e, ao mesmo tempo pensarmos em resol-
ver um problema pessoal no banco. Essas duas preo-
cupações vão desgastar o seu Qi de tal forma que ele
não será suficiente para ser usado na realização de uma
ou das duas tarefas, pois você entra num estado de an-
siedade tão grande que adoece e não consegue cumprir
suas metas.
,
M a RIO E a falta de apetite pode ter vindo dessa defi-
ciência do baço?

MESTRE Pode, sim. Quando o Qi do baço e do estôma-


go se encontram debilitados, a pessoa perde o apetite pe-

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O mestre do seu sistema 125

los alimentos, originando um estado de magreza, rosto


amarelado e murcho. Para reverter o quadro novamente,
devemos agradar o baço e, agora que você já aprendeu a
fazê-lo, pode colocar em prática.
,
M a RIO E a sensação de caroço na garganta também
vem do baço deficiente?

MESTRE Na maioria das vezes, essa sensação na gar-


ganta vem de um desequilíbrio do fígado, que é atingido
quando você fica emocionalmente abalado ou entra em
um estado muito grande de ansiedade.
Mas um baço deficiente falha em transportar e trans-
formar a água e assim líquido e umidade se acumulam
no organismo. Isso se chama mucosidade em MTC. E
quando ela pega a garganta você sente aquela espécie de
“caroço” na garganta também. Uma das causas da mu-
cosidade é o excesso de um dos sete sentimentos, como
preocupação excessiva, melancolia, depressão, o que,
provavelmente, seja o seu caso.
,
M a RIO E como se forma a mucosidade?
MESTRE A mucosidade se forma devido ao acúmulo
de líquidos impuros, que se transformam em muco
em consequência da ineficiência do baço de transfor-
mar a energia impura do líquido que você bebe em
uma energia pura.
,
M a RIO Eu sinto muita falta de ar e taquicardia, qual
a explicação para isso segundo a MTC?

MESTRE O responsável pela taquicardia é o coração. É


sabido que a tristeza agita o coração e, por consequência,
atinge o pulmão obstruindo o livre fluxo de Qi nutritivo
e defensivo. Isso gera um estado de calor que acaba por
destruir o Qi.

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126 Máera Moretto

Como você tem uma diminuição de Qi e de sangue,


o seu coração encontra-se em deficiência. E, como já sa-
bemos que o coração é a morada da mente, esse órgão,
em deficiência, além da taquicardia e falta de ar, gera
insônia, sonhos conturbados e suor espontâneo. E a de-
ficiência de sangue do coração possivelmente seja o res-
ponsável pelas suas vertigens.
,
M a RIO E a falta de ar, de onde vem?
MESTRE Quando a mente perde a sua morada, ela se
agita atingindo o pulmão. E, sem que você perceba, sua
respiração torna-se superficial, curta, e seu ritmo res-
piratório torna-se acelerado. Por isso o ar parece-lhe
faltar.
,
M a RIO E como eu reverto isso, em sua opinião?
MESTRE Essa é a hora de primeiro estabilizar seus pen-
samentos identificando o que está abalando o seu equi-
líbrio. Enquanto identifica o motivo, você deve investir
na sua respiração, principalmente na expiração, através
de exercícios respiratórios.
Quando respira de forma eficiente, retira mais Qi do
ar. E este consegue ser impulsionado de forma adequada
para as extremidades e para a sua mente. Aí a mente se
acalma e desacelera o pulmão, restabelecendo o equilí-
brio novamente.
,
M a RIO O que levou a tudo isso?
MESTRE Na verdade, tudo isso, no seu caso, é um padrão
de desequilíbrio que deve ter vindo do seu Qi pré-natal.
Esse sempre foi o seu padrão de deficiência, e esses sin-
tomas são as manifestações dos seus pontos fracos. Com
o passar do tempo, tais pontos foram se agravando e de-
finindo mais ainda algumas debilidades. Até certo mo-

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O mestre do seu sistema 127

mento de sua vida, eles eram suportáveis e você conse-


guia administrá-los com sucesso.
Por exemplo, você deve ter sido ansioso toda a sua
vida. Mas isso não o impediu de ter uma vida normal.
Provavelmente você sabia como contornar a situação.
Porém, pelo que você me contou, houve uma ocasião,
no seu período de residência na faculdade de medicina,
em que a pressão psicológica que você sofreu foi muito
grande.
E isso, associado à maneira desequilibrada de respon-
der aos estímulos emocionais, somado à forma ineficien-
te de retirar energia das inúmeras oportunidades que o
dia lhe oferece – e ainda devido ao fato de não diminuir
o seu gasto energético, negligenciando a qualidade e o
tempo reservado para o seu sono, não descansando o su-
ficiente, estudando demais –, fez você sentir os primeiros
sintomas de desequilíbrio, que lhe incomodavam, mas
você os ignorava.
,
M a RIO É, foi na residência que enfrentei mais res-
ponsabilidades, passei por situações de extrema tensão,
sem ter a quem recorrer.

MESTRE Entendo, pois um erro poderia ocasionar uma


morte. Você se sentiu abandonado por seus superiores,
que deveriam dar suporte aos seus atendimentos clíni-
cos. Foi aí que você sentiu um grande medo e vivia em
extremo estresse e ansiedade.
Um dia seu organismo não aguentou e entrou em
pane. Isso gerou um apagão no seu sistema para obrigá-
lo a poupar energia – já que suas reservas foram todas
gastas pelo excesso de medo, aflição e ansiedade.
Essa pressão toda depaupera o Qi, principalmen-
te o Qi do rim. Isso afeta diretamente o coração, ge-
rando mais ansiedade. Nessa hora os sintomas físicos

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128 Máera Moretto

aparecem e você acha que vai enfartar desmaiar ou


até mesmo morrer.
Com o coração em deficiência, a mente perde a mo-
rada, e com isso não tem mais firmeza para direcionar
o pensamento. Dessa maneira, você não percebe que se
trata de uma sensação ilusória, uma verdadeira pane em
seu sistema – e não uma lesão física ou doença que lhe
ofereça risco de morte. É nessa hora que uma crise é de-
sencadeada. A pessoa sente que realmente pode morrer.
,
M a RIO Mas e agora como eu faço para me tratar?
MESTRE A MTC pode oferecer muitas maneiras, mas
no seu caso reverteremos sua deficiência de Qi, sangue e
YANG com o uso da acupuntura e algumas ervas em for-
ma de chá. Para o tratamento funcionar, você terá de rever
alguns hábitos diários e incluir outros no seu dia a dia.
O caminho de volta está em acabar com os excessos. Por
mais que sinta sono durante o dia, quanto mais dormir,
mais sono sentirá. Esse padrão, e muitos outros, deve-
rão ser transformados e adaptados a uma nova maneira
de viver.

A solidao
˜
e suas armadilhas
Solidão – essa palavra, por si só, é forte e temida. As
pessoas se relacionam, passam por cima delas mesmas,
constroem amizades frágeis, tudo para evitar essa sensa-
ção de vazio e falta de proteção.
Vivemos e construímos uma falsa relação com amigos
e com as demais pessoas que nos cercam. Tudo isso em
busca de nos sentirmos amados. Isso é uma coisa comum
no nosso trabalho, no estudo, no prédio onde moramos,

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O mestre do seu sistema 129

na academia, com os vizinhos. E nos sentimos lisonjea-


dos por sermos rodeados por pessoas.
De repente, nos deparamos com essa sensação de va-
zio que, quando questionada, não encontramos a ori-
gem. “Como posso estar me sentindo só tendo tantos
amigos e pessoas à minha volta?”
Essa questão só é levantada porque não identificamos
o fato de esses relacionamentos serem tão superficiais.
Quanto maior a cidade em que vivemos, mais as pes-
soas estão isoladas, vivendo as suas próprias vidas, en-
volvidas com os problemas pessoais. E não têm disponi-
bilidade de tempo para lhe ouvir na hora em que você
precisa. Muitas vezes, ligamos para um amigo para co-
mentar algo importante para nós e ouvimos um sonoro
“agora não posso falar”. Nessa hora, essa falta de atenção
para quem está vivendo um problema passa a ser uma
eternidade e, aí, voltamos a nos deparar com a nossa so-
lidão e fragilidade. E despertamos de novo a sensação de
não sermos amados.
Toda energia que você gasta para fazer amigos, ser
agradável, passando por cima de você mesmo, até para
comparecer àquela comemoração chata de aniversário
de alguém que nem era tão importante para você, é des-
perdiçada com a intenção de ser aceito, enquanto deve-
ria ser usada para você se amar.
Como o ser humano aprende por repetição, se essa
situação ocorre repetidas vezes no dia, ele vai acabar se
sentindo só, mesmo no meio de muita gente amiga e até
entre os familiares.
É muito comum na sociedade atual encontrarmos
casais que chegam em casa depois de uma jornada de
trabalho e mal se cumprimentam. Sentam para jantar
juntos, com a televisão ligada, e não trocam uma pala-
vra. Logo depois do jantar, um vai para o computador e

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130 Máera Moretto

o outro vai ler um livro. Eles estão juntos, mas um não


tem a companhia do outro.
Muitas vezes, quando chegamos ao escritório, cum-
primentamos pessoas entretidas nos seus afazeres que
nem sequer se dão ao trabalho de levantar os olhos para
responder ao nosso “bom dia”. E quantas vezes passamos
horas na frente de uma pessoa que trabalha conosco e
nem sabemos que ela pode estar passando por um pro-
blema pessoal, de perda, pois ela própria não dá abertura
para uma conversa amigável.
E mais: ainda no ambiente de trabalho, criamos apeli-
dos secretos para as pessoas como um código pessoal que
somente dividimos com quem está fora desse ambiente.
O que é uma forma de não se relacionar – confirmando
a superficialidade e até a falsidade do relacionamento
nesses ambientes.
Nas empresas, o relacionamento de amizade se limita
a uma reunião de fim de ano, no jantar de confraterni-
zação. E chamam isso de integração dos funcionários.
Será que eles sabem o nome da “moça do café”?
Elisabeth relata que um de seus maridos chegou ao
cúmulo de convidá-la para jantar num restaurante e,
como companhia, levou um livro. Depois de pedir o pra-
to que queria saborear, passou a ler na frente da com-
panheira, sem trocar nenhuma palavra durante todo o
jantar. Essa mesma pessoa, em outra ocasião, estava em
casa com o marido quando recebeu um telefonema que
a deixou inquieta. O marido lia na sala e quando ela
desligou o telefone foi contar a novidade cheia de en-
tusiasmo. Ao iniciar a conversa, logo foi bruscamente
interrompida com a seguinte frase: “Ei, você não está
vendo que eu estou lendo?”.
Adriana, profissional de alto cargo administrativo,
encontrava-se com o marido, todos os dias, para tomar

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O mestre do seu sistema 131

um café antes de voltarem para casa juntos. Na lancho-


nete, todas as tardes, o marido passava horas lendo, ou
um jornal ou uma revista, ou qualquer coisa sem impor-
tância – e também não trocavam uma única palavra. O
pior: ela se dizia constrangida, não por se sentir ignora-
da, mas porque certamente as pessoas estariam notando
a cena e perceberiam como ela era insignificante para o
companheiro.
No final dos relacionamentos, a situação é mais crí-
tica. Há pessoas que passam semanas e até meses sem
se falar e desenvolvem um sentimento de desprezo que
pode chegar ao ódio só porque não identificaram ante-
riormente as armadilhas do relacionamento que as dis-
tanciaram da vida a dois – e passaram a viver uma rela-
ção a um: ele para com ele mesmo, através da televisão,
livros, computador, telefone.
Na academia, as pessoas suam juntas e, cada uma
com seu Ipod, nem mesmo percebem quem está ao seu
lado. E no seu prédio, você sabe quem é o vizinho de
cima? E o de baixo? Nos transportes coletivos, você mal
consegue se sentar de tanta gente apinhada e, se de re-
pente alguém rouba a carteira de outro, todos ignoram o
fato e agem como se nada tivesse acontecido.
Num treinamento de autodefesa, um bombeiro che-
gou a aconselhar: “Em uma situação de perigo nunca
grite por socorro” – o que, segundo ele, afastaria imedia-
tamente as pessoas, com medo de uma arma, por exem-
plo. Mas recomendou que gritassem “fogo” para que as
pessoas viessem para ver o que estava acontecendo, seja
por curiosidade ou para ajudar.
Todas essas armadilhas isolam o ser humano, redu-
zindo a vida a um grau de individualismo tão grande que
pode ser confundido até mesmo com egoísmo. Esse ego-
ísmo faz com que as pessoas se afastem. E falar de amor

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132 Máera Moretto

pelo outro é tão difícil e constrangedor que ficar sem o


toque do outro é perder a última compreensão que o seu
corpo tem de amor.
O toque é uma das maiores expressões de amor.
Quando você era criança, o ato da sua mãe lhe dar ali-
mento pelo seio vinculava o fato de nutrir o corpo com
o alimentar a alma. Durante a amamentação existe uma
cumplicidade, uma troca de olhares entre mãe e filho,
uma proximidade que faz com que a criança desperte
para compreender o amor.
Esse é o primeiro contato com o amor. Quando a
mãe banha a criança, passando segurança com seus bra-
ços fortes, acompanhada por deliciosos movimentos de
carinho – tudo isso envolto por um ambiente líquido e
quentinho, como era o útero há tão pouco tempo –, faz
do toque outra forma de expressão de amor.
Assim, a somatória das inúmeras formas de toque
que a acompanhou durante a infância a fez relacionar
por várias vezes a proximidade física com o sentimento
de amar e ser amado.
Ao entrar na adolescência, o toque passa a ser mais
escasso na sua vida. Por exemplo: não senta mais no
colo do seu pai e lhe dá aquele enorme beijo molhado,
pois você não é mais criança e tem que treinar para agir
como um adulto. Os adultos não têm esse tipo de atitu-
de, que passa a ser interpretada até mesmo como uma
cena agressiva perante outros adultos.
Passa a ser vergonhoso para o adolescente se despe-
dir dos pais na porta do colégio, ou mesmo na frente de
outras pessoas, com beijos e abraços. Adultos não fazem
isso. Trata-se de um marco de passagem da infância para
a adolescência.
Com o passar do tempo, um adulto, que ainda mora
com os pais e provavelmente cursa a faculdade, já tem

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O mestre do seu sistema 133

um emprego e praticamente é dono da sua vida. Não


tem mais como hábito cumprimentar com beijos os mo-
radores da casa, incluindo os pais, irmãos e outros fami-
liares. Afinal, nos vimos hoje de manhã, por que deve-
ríamos nos cumprimentar agora, às 11 horas da noite
com tanta cerimônia? Na manhã seguinte, ao levantar
da cama também não faz sentido, pois nos vimos há
poucas horas.
Com isso, aquela expressão maravilhosa de amor com
a qual tivemos contato na infância passa aos poucos a ser
cada vez mais rara no nosso dia a dia.
E, além disso, expressar o nosso amor com palavras
é muito difícil, até constrangedor para algumas pessoas.
Constrangedor porque no curso de sua educação seu pai
e sua mãe muitas vezes tiveram que ser severos e man-
ter a imagem de força para que, quando maior, você os
respeitasse sem desafiá-los. Portanto, ser rígido, superior
e intocável passa a ser um sinônimo de força – e só os
fortes são respeitados.
Beijos e carícias nessa situação podem ser confun-
didos com flexibilidade e fraqueza, colocando a perder
todo o trabalho de uma vida para construir uma imagem
de superioridade. Assim, pais não beijam mais os filhos e
os filhos não acariciam os pais. Isso se torna comum na
maioria das famílias.
Por outro lado, as famílias praticamente só se unem
quando alguém tem um mal-estar físico ou qualquer
dificuldade. Aí todos os membros da casa se mobilizam
para resolver o problema.
Mas um mal-estar ou dificuldade não acontece todos
os dias, fazendo com que a frequência dessas demons-
trações não seja suficiente para suprir nossas carências
de amor. E mesmo sabendo que é amada, a pessoa não
consegue sentir o acolhimento que o amor dá; e nessa

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134 Máera Moretto

hora sente-se desprotegida em relação ao mundo e seus


perigos, ou seja, sente-se sozinha.
No caso de um casamento, isso se apresenta de forma
diferente. Os compromissos, as responsabilidades vão fa-
zendo com que as pessoas se tornem pensativas, menos
comunicativas, e às vezes cansadas demais para se ex-
pressarem para comentar sobre seu dia.
Então, agem por atos mecânicos, como aquele beijo
de cumprimento que deveria ser na boca e passa a ser
no rosto quando um dos dois dá a face para ser beija-
da, sem mesmo perceber que não está cumprimentando
um simples conhecido. Isso passa a ser força do hábito,
algo insignificante.
Esse e outros atos mecânicos, sem sentimento e sem
interação, fazem com que as pessoas se sintam sós, de-
samparadas e frágeis perante a vida.
A solidão é sentida como um enorme vazio, que vem
acompanhado por culpa. Não tem sentido existir soli-
dão na vida de alguém que tem tudo. Afinal de contas,
minha vida familiar é ótima, a família é muito unida;
meu casamento também é muito bom, meu marido é
uma pessoa boa e faz tudo para o bem do casal. Ou seja,
se nos amamos, não é justo que eu sinta solidão.
No fundo a única culpa que temos de verdade é ser-
mos carentes e egoístas o suficiente para achar que todos
devem nos demonstrar amor o tempo todo. Achamos
que esclarecer, conversar, invalida o amor. Isso para a
maioria das pessoas é implorar. Achamos que a pessoa
tem que adivinhar e suprir necessidades.
Esta, sim, é a sua culpa, não se amar o suficiente a
ponto de entender o amor do outro.
Portanto, compartilhar descobertas e amor pode sal-
var a outra pessoa da solidão. De diferentes maneiras ela
sente o mesmo que você, sem se dar conta disso.

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O mestre do seu sistema 135

No caso dos familiares, os mais velhos acabam se iso-


lando e vivem todo esse vazio. Também não se sentem
amados, sofrem de solidão igualmente, só que adoecem
e desenvolvem dores e doenças não identificadas para se
sentirem amados.
Portanto, compartilhar seu amor e suas descobertas
com seus familiares pode salvá-los de enfermidades.
Desligue eletrodomésticos por uma hora que seja
quando estiver em família.
Se tiver filhos, repita muitas vezes que os ama.
Encontre um motivo em comum para compartilhar
do seu tempo e trocar as vivências do dia. Seja à hora
do chá ou em um ritual de preparação do sono em que
ambos se desligam da casa e dos compromissos do dia
para acalmar a mente antes de dormir, saboreando um
leite quente.
Salve sua família, pois se você experimentou essa
sensação de solidão, provavelmente outros membros da
casa a sentiram também. Uma hora essa solidão também
virá à tona e essa pessoa que você tanto ama passará por
momentos muito ruins. Portanto, abrace-a mais e con-
vide-a a ser salva hoje de algo que ainda está por vir.

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˜
10. A doacao
, e suas armadilhas
,
Historia de Gabriela
Gabriela é uma jovem de 38 anos, casada e mãe de
três filhos: Carlos Eduardo, de 6 anos; Renata, de 7; e
Maria Paula, de 11. Fez faculdade de arquitetura e de-
coração de ambientes. Depois de alguns estágios, logo
ingressou em uma grande empresa de decoração onde
tinha um trabalho muito gratificante, mas que tomava
todo o seu tempo. Não tinha hora certa para entrar e
muito menos para sair.
Exerceu sua profissão até o nascimento da sua primei-
ra filha, Maria Paula. Logo após, se dedicou a ser esposa e
mãe, pois tinha como objetivo ter mais de um filho.
Os três partos foram cesarianas. Sofreu muito com
insônia depois do nascimento do segundo filho, pois
Maria Paula tinha frequentes infecções, enquanto o re-
cém-nascido mamava de três em três horas e, por isso, às
vezes ela permanecia 24 horas acordada.
Com a chegada do terceiro filho, sentiu uma gran-
de mudança na maneira de encarar a vida. Sentia-se
frequentemente exaurida. Não tinha mais motivação
para fazer as tarefas do cotidiano nem a paciência que
um dia a fez pensar ter nascido para ser dona de casa
e mãe.
O tempo foi passando e as crianças foram crescendo,
em meio a tantas noites sem dormir, devido às doenças
comuns de cada idade. Quando não era um, o outro a
fazia correr de madrugada para o hospital.
Sempre teve compreensão e muita ajuda do marido,
mas durante o dia era ela quem resolvia tudo, correndo

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O mestre do seu sistema 137

com as crianças – seja de uma consulta para outra, do


balé ao inglês – enfim, com o passar do tempo, foi se en-
quadrando como a motorista particular da família.
Tudo isso sempre acompanhado por brigas e gritos
que a esgotavam. “Essas discussões e provocações entre
as crianças sempre terminavam com os três brigando e
eu gritando de forma desequilibrada, independentemen-
te do local em que nos encontrávamos ou das pessoas
que assistissem à cena”, relata.
Isso a deixava arrasada, pois toda sua vida fora uma
pessoa calma, muito decidida e nunca precisou de nin-
guém para resolver seus problemas. Pelo contrário. Re-
solvia os dela e os das pessoas que a cercavam, já que
sempre permanecia atenta a tudo e a todos.
Há um ano, justamente quando estava reformando a
casa, acordou no meio da noite sentindo o coração bater
descompassadamente. Teve uma crise de ansiedade tão
grande que precisou ir para o hospital. Achava que es-
tava prestes a ter um ataque de nervos.
Uma semana depois, o quadro se repetiu e novamen-
te foi parar no hospital e nada foi diagnosticado. Dois
dias depois ocorreu uma crise mais grave – e aí se reini-
ciou a busca por um diagnóstico.
Gabriela passou por inúmeros especialistas e nada foi
encontrado. Nessa época, as crises de taquicardia e falta
de ar começaram a ser muito fortes, tanto que tinha
medo de ficar sozinha, pois achava que poderia morrer.
Não aguentava mais o barulho das crianças, sentia uma
agonia que lhe apertava o peito e a garganta era um nó
tão intenso que parecia que ia sufocá-la. Começou a ter
muitas dores na nuca, na face e na região das costas.
Mais médicos foram consultados e nada resultava. As
dores pioraram e as mãos começaram a formigar e a
perder a força.

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138 Máera Moretto

Chegou a pensar até que estava com esclerose múl-


tipla, uma doença degenerativa na qual os músculos
vão perdendo a força gradativamente até que a pessoa
perde a capacidade de locomoção.
Descartada essa hipótese por exames específicos,
continuou sua busca enquanto mais sintomas e dores
iam aparecendo.
Certa vez, em consulta médica, recebeu o diagnóstico
de fibromialgia, doença que desencadeia dores em várias
partes do corpo. Como teve acesso a informações sobre
os sintomas da doença, começou a sentir todos eles.
Agora estava certa de que era esse o seu mal. Mas,
quando procurou um especialista para o tratamento da
doença, logo se descartou aquela hipótese.
Então, Gabriela voltou à estaca zero. Até que, com
mais sintomas do que antes, sentindo uma tristeza que
não tinha fim, chegou ao mestre Shen Menn.

Gabriela e o Mestre
GABRIELA A acupuntura ou os ensinamentos tradicio-
nais chineses podem fazer algo pelo meu sofrimento?

MESTRE A acupuntura tem muito a fazer para a sua


cura. O que lhe fez acumular toda uma lista de sintomas,
causando-lhe sofrimento, foi não ter freado as suas insa-
tisfações muito antes, quando eram apenas contrarieda-
des. Você deveria ter entendido o fato de sentir-se insa-
tisfeita constantemente como o primeiro sinal de alerta
do seu organismo.
Mas como para um trator uma pedrinha não é obstá-
culo, para você a ausência do bem-estar também não foi

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O mestre do seu sistema 139

um empecilho. E você não percebeu o mal que a rotina


estava lhe causando.
Da mesma forma que o trator não se intimida, você
continuou administrando tudo e se cansando além de
suas forças. Com isso, somado às deficiências de Qi ad-
quiridas ao longo da vida, você conseguiu esgotar sua
energia e assim iniciou o seu caminho até aqui.

GABRIELA O que você quer dizer com deficiências ad-


quiridas?

MESTRE Você mencionou que teve três cesáreas, não foi?

GABRIELA Foi isso mesmo, houve uma distância curta


entre a segunda e a terceira. Nessa, passei muito mal.
Tive tudo o que uma grávida pode ter de ruim e, quando
meu filho nasceu, pequeno e com baixo peso, foi logo
para a UTI. Além disso, as outras duas crianças tiveram
muito ciúme e uma delas chegou a ter pneumonia.

MESTRE Sabe, Gabriela, o que alimenta o feto na gravi-


dez, segundo os princípios da MTC, é a energia Jing pré-ce-
lestial somada à energia do rim da mãe. Como você veio de
duas cesárias anteriores, e inúmeras noites sem dormir, seu
rim provavelmente já se encontrava em grande desequilí-
brio e seu sangue também. Esse sangue carrega a energia
que nutre o feto, garantindo assim o seu bom desenvolvi-
mento. Isso se o sangue e o Qi da mãe forem fortes.
Daí, para o chinês, dar à luz é, literalmente, dar a sua
luz, ou sua energia para seu filho.
Por isso, durante uma gravidez, é de suma impor-
tância o bom funcionamento de órgãos relacionados à
estocagem e formação de sangue, como o rim, o fígado e
o baço, por exemplo.
Durante toda a sua gestação você dividiu sua energia
Qi e sangue com o bebê, mas nem sempre se esforçou

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140 Máera Moretto

para refazê-la, ou talvez desconhecesse como. Por ter


três gestações seguidas, seu Qi e sangue foram se enfra-
quecendo no meio do caminho.
E, além disso, os três partos foram cesarianas, quando
a perda de sangue é maior em consequência da própria
cirurgia.

GABRIELA Lembro-me de que tive uma grande hemor-


ragia no último parto. Os médicos chegaram a pensar até
em retirar meu útero, caso ela não cedesse.

MESTRE Então, essas sucessivas perdas de Qi e sangue


enfraqueceram o sangue do seu coração. Consequente-
mente, sua mente perdeu a direção; o raciocínio ficou
confuso; e a memória começou a falhar. Ficou difícil até
mesmo se concentrar em uma simples leitura que fosse.

GABRIELA Você tem razão no que está dizendo. Assim


que minha segunda filha nasceu, minha memória ficou
péssima; foi quando desisti de vez da ideia de exercer a
minha profissão. Não me sentia segura, não conseguia
nem mesmo me lembrar da lista de compras do super-
mercado!

MESTRE Essa falta de memória está relacionada ao


declínio da energia do seu rim. Tenho certeza de que,
depois que as crianças nasceram, suas noites de sono fi-
caram insuficientes; sua preocupação e ansiedade – que
já não eram pequenas – triplicaram; e você passou a dar
toda sua atenção à família.

GABRIELA Realmente, depois do segundo filho acho que


não dormi mais. A mais velha sentiu muito ciúme, co-
meçou a adoecer com muita frequência. A pequena ma-
mava e eu não conseguia administrar a situação. Passei
muitas noites em claro. E quando as coisas começaram
a melhorar, nasceu o terceiro – e tudo voltou ao que era

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O mestre do seu sistema 141

antes. Sinto que isso mudou o meu sono. Nunca tive


um sono muito pesado, mas sempre foi “eficiente”. Não
acordava durante a noite e pela manhã estava muito dis-
posta. Agora, parece que, quando durmo, uma parte de
mim continua acordada, alerta a qualquer barulho ou
chamado durante a madrugada.

MESTRE As noites em claro consumiram mais ainda a


energia do seu rim. Quando o rim é insuficiente para
conter o fogo do coração, este sobe, atinge a mente, e
esta permanece sempre atenta. E você não consegue
mais dormir profundamente ou nem mesmo adorme-
cer, como no seu caso.
Esse consumo da energia do rim ocorre sempre que você
não dorme, seja por causa dos filhos, passeios ou compro-
missos. Por isso a insônia é tão comum nos dias de hoje.

GABRIELA Então é por isso que já acordo cansada?


MESTRE Quase isso. Porque sua mente está em alerta, o
sangue não permanece no seu fígado durante a noite para
se recuperar da energia gasta durante o dia. Assim, na ma-
nhã seguinte, mesmo que tenha adormecido, você não des-
cansou. O sono passa a ser ineficiente e você não recupera
a energia que gastou durante o dia. Você tem um déficit de
energia, ou seja, seu desequilíbrio aumenta ainda mais.

GABRIELA Mas o que isso tudo tem a ver com a crise e


meu mal-estar?

MESTRE Como me disse anteriormente, você vinha ad-


ministrando os contratempos do cotidiano, cumprindo o
papel de mãe e esposa, apesar do cansaço, da falta de âni-
mo e da tristeza que aos poucos tomavam conta de você.
Você nem imagina, mas a sua tristeza já era uma con-
sequência da falta de Qi, que, por ser insuficiente, não
chegava ao pulmão – e a tristeza se instalava.

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142 Máera Moretto

Quanto mais energia gastava, levada pela intenção


de cumprir seus compromissos, e pelas pequenas preo-
cupações do dia, maior ia ficando sua deficiência. Com o
passar dos dias, o fígado é exigido de forma máxima – já
que o estresse faz com que o fogo do fígado aumente – e
seu rim estava deficiente demais para contê-lo. Isso faz
com que você passe a viver a ansiedade de forma extre-
ma. Tudo lhe causa ansiedade no mesmo grau, desde
um pequeno compromisso sem importância a algo que
realmente mereça sua preocupação.
Devido a esse estado de estímulo excessivo, você aca-
ba consumindo seu Qi de uma forma tão grande que seu
organismo não encontra mais energia para nutrir todos
os órgãos de forma adequada.
Quando isso ocorre, ele dá uma pausa e diminui a
velocidade de funcionamento de todos os seus sistemas
para que o consumo de energia diminua e sobre Qi para
os órgãos vitais.
Foi nessa hora que seu coração perdeu o ritmo, e
você começou a sentir frio, tonturas e acabou indo parar
no hospital.

GABRIELA Mas o que explica o fato de haver tantos ou-


tros sintomas que me levaram até a suspeitar de esclero-
se múltipla, por exemplo?

MESTRE Os formigamentos acontecem porque seu san-


gue não é forte o suficiente para chegar às extremidades. E
como sua mente está sem direção, você pode se enquadrar
em qualquer síndrome da qual conheça os sintomas.
Muitas pessoas possuem essa mesma deficiência, só que
ela se manifesta de maneira ou intensidade diferentes. Co-
nheço uma pessoa que quando adoece, mesmo com uma
gripe forte, vai até o médico, é medicada e não consegue
ingerir os medicamentos – porque tem medo das reações

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O mestre do seu sistema 143

do remédio. Portanto, acaba se prejudicando por algo que


nem sabe se realmente acontecerá. Ainda por não tomar
os medicamentos, coloca sua saúde em risco.
Outra pessoa evita ler artigos sobre doenças, pois se
identifica como portadora de todas e passa a sentir os
sintomas.
Uma adolescente passou a não se alimentar fora de
casa por dois anos após saber que sua amiga teve uma
grave intoxicação ao fazer uma refeição em um concei-
tuado restaurante. E quantas pessoas evitam cinemas,
pois têm medo de sentir-se mal?
Todas elas são fruto dessa mesma deficiência: suas
mentes perdem o discernimento e passam a enxergar
perigos e ameaças nas coisas mais simples da vida.

GABRIELA Mas isso tem cura? O que posso fazer?


MESTRE Tem, sim. É só você escutar seu organismo.
Tudo o que seu corpo quer é que preste atenção em
você, pelo menos na mesma intensidade que dedica aos
outros, mesmo que esses sejam sua família.

A doacao
,
˜
e suas armadilhas
Por que você acha que veio a este mundo?
Uns diriam: “Eu estou aqui a passeio”. Outros acredi-
tam que estão constantemente aprendendo algo. E exis-
tem aqueles que garantem terem chegado até aqui para
resgatar alguma coisa.
O propósito pode ser diferente, mas, no fundo, em
todos esses exemplos existe a troca ou a doação. Estamos
sempre compartilhando alguma coisa, já que esse é o
sentido de vivermos em grupo, em sociedade.

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144 Máera Moretto

No entanto, nos perdemos quando interpretamos


de forma errada a doação. E isso dá origem a três gru-
pos distintos de pessoas: as servidoras, as doadoras e
as revoltadas.
Antigamente, a cooperação era ensinada de uma for-
ma tão rígida que o aprendiz, caso não a praticasse com
êxito, era castigado severamente. Essa prática deu ori-
gem a pessoas servidoras. Eram pessoas sem autoridade,
medrosas e oprimidas que só sabiam servir, executar ou
serem mandadas.
Com o passar do tempo, a sociedade continuou sua
transformação. Entre elas desenvolveu-se a ideia de res-
peito pelo ser humano. O carinho que antes era con-
siderado uma demonstração de fraqueza, agora ganha
espaço como uma das demonstrações de amor. O rela-
cionamento entre as pessoas passa a ser baseado mais
em incentivos positivos, como, por exemplo, os elogios,
do que em castigos físicos como antigamente.
Esses elogios diante de acertos tornam-se alimento
para o ego. As frases: “Muito bem!”; “Como você é espe-
cial”; ou “Mas que eficiência invejável!”, acabam por ser
compreendidas pelo aprendiz como forma de carinho,
atenção ou até mesmo amor. E nessa hora o aprendiz se
esmera mais e mais em busca desse alimento do ego.
Por outro lado, quando ele não faz sua parte acre-
dita que está sendo rejeitado. E imediatamente associa
a rejeição a não ser amado. A partir daí, vive buscando
aceitação para se sentir amado. Devido a esse erro de
compreensão, essa pessoa agora passa a se doar aos ou-
tros em busca de elogios, aceitação e amor. É assim que
se origina o grupo de pessoas doadoras.
Existem ainda aqueles que se revoltam, se tornam
do contra, fazendo exatamente o oposto. Não cumprem
com sua parte, se negam a ter obrigações em casa e não

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O mestre do seu sistema 145

valorizam a participação de ninguém nos afazeres co-


muns da vida social. Eles são classificados como os “ove-
lhas negras”, os errantes.
Por incrível que pareça, até mesmo esses rebeldes –
que classificamos como pessoas revoltadas – confundem
a recompensa com demonstração de amor, já que cres-
ceram com esse modelo em suas vidas. E um dia tam-
bém serão surpreendidos praticando de maneira errônea
a doação.
Porém, se você fizer um balanço de todos que conhe-
ce, verá que poucas pessoas escapam ao modelo errôneo
de doação – sejam elas servidoras, doadoras ou revolta-
das. Vivem uma espécie de código próprio, não divulga-
do abertamente, mas bem conhecido por todos.
Isto é, a pessoa “entende” que ama porque faz algo
por ou para alguém e acredita que o outro vai amá-la
porque reconhece esse esforço.
Essa é a forma de doação mais encontrada hoje em
dia. As pessoas se doam uma às outras sem se importar
com o ato em si. Pelo contrário, quanto mais custosa
for a doação, mais elas sentem que estão demonstran-
do amor; e mais se sentem seguras em relação a rece-
ber o amor, pois passam a se sentir essenciais na vida
do outro.
Por exemplo: Creusa tem 82 anos, quase não segura
um copo nas mãos por causa do reumatismo e acorda
duas horas mais cedo todos os dias para preparar um
suco para que a filha, de 50 anos, não vá para o trabalho
sem se alimentar.
Em contraponto, é muito comum encontrarmos fi-
lhos que escravizam suas vidas deixando de lado a fa-
mília para se doar para o pai e a mãe idosos. Ele se doa
tanto, chegando a passar dos limites, achando que está
fazendo a sua parte e, na verdade, a única coisa que faz

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146 Máera Moretto

é buscar reconhecimento ou demonstração de amor por


parte dessa pessoa. Quer se sentir amado e por isso se
esforça até o limite sem perceber o que está fazendo.
Isso não quer dizer que devamos abandonar os ido-
sos e sim que identifiquemos os motivos reais que te-
mos para nos doarmos tanto. Identifique seus próprios
limites e, o mais importante, delegue funções. Pois isso
é compartilhar, viver em sociedade e fazer sua parte.
Qualquer ato contrário – seja por busca de amor, culpa
ou qualquer outro nome que você tenha dado para a
doação – lhe trará desequilíbrios que fatalmente vão lhe
causar doenças.
Conheço muitas mães que não têm grandes posses e,
mesmo assim, deixam a vida de lado, carreira e o conví-
vio social para se trancarem em casa e cuidarem da famí-
lia. E em menos de cinco anos encontram-se deprimidas,
sentem-se feias ou obesas e não sabem por que estão tris-
tes, já que atingiram todos os objetivos de suas vidas.
Na maioria das vezes, o que as levou a isso foi a ca-
rência. Entendem por algum motivo que somente se do-
ando intensamente tornam-se essenciais à vida de seus
familiares. O grande equívoco está no fato de cada um
ser dono da sua própria vida e um dia, fatalmente, os
caminhos se distanciarão. Quando isso ocorrer, elas co-
meçarão a sentir solidão e angústia.
Percebem que cada um tem sua vida, seus motivos
de alegria, tristeza, expectativas, derrotas e vitórias. A
motivação da vida dessas pessoas passa a ser a expec-
tativa pela nota da prova de um filho, diminuir o sofri-
mento de outro. Suas alegrias se resumem ao sucesso
do marido, à promoção do filho, ou seja, suas emoções
se resumem à experiência de outras vidas. Essas pessoas
passam a viver somente se alguém lhes oferece um mo-
tivo, emprestando-lhes histórias e vivências.

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O mestre do seu sistema 147

Então, um dia elas acordam e percebem que não têm


mais vida, que sua vida parou quando, por motivos erra-
dos, resolveram viver em doação e que “doar a sua ação”
levou-as a doar a própria vida.
O tempo passou, sua face tem marcas, mas sua histó-
ria não existe: só existem as histórias dos outros.
Sorte daqueles que acordam, por mais doloroso que
isso seja, pois qualquer hora é hora de acordar, acordar
para a “sua ação”.
A doação é muito importante e pode até mesmo ser
gratificante nas nossas vidas. Mas doação como forma de
participação, de estar presente, e não para suprir insegu-
ranças em relação a amar e ser amado.
Cada vez que você deixa alguém livre para suas pró-
prias ações, permite que esse alguém descubra novas
possibilidades de vida, novos sabores, novas responsabi-
lidades. E, com essa ação, você estará dando a oportuni-
dade de mais alguém compreender o verdadeiro sentido
da palavra doação.
Assim, sobra-lhe mais tempo para descobrir os seus
próprios sabores, responsabilidades com sua própria
vida, outras possibilidades – e por fim nascer para uma
nova existência.

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˜
11. O apagao
Basta uma última gota. Depois de responder durante
toda a sua vida às armadilhas que o amor nos traz; de
ser pego de surpresa pela solidão e suas armadilhas; de
vivenciar o sucesso e cair nas trapaças das conquistas,
essas situações culminam num pico máximo de estimu-
lação e, como não se consegue voltar ao estado normal
– pois todas aquelas armadilhas continuam presentes no
dia a dia –, seu organismo entra em colapso.
Ao menor sinal de ameaça, um pequeno problema –
no trabalho, em casa, ou mesmo com uma simples dor de
cabeça –, você explode. Sua mente distorce a realidade,
entendendo cada sentimento mais forte do que ele real-
mente é. Todas essas emoções tão intensas não podem
ser descarregadas ou eliminadas de dentro de você.
Você sente que vai morrer nos próximos quinze se-
gundos. Seu coração está tão descompassado que parece
que vai parar. A pressão cai. Você sente muito frio e acha
que vai desmaiar. Não vai dar tempo de conseguir so-
corro. Dessa vez não chegará ao hospital vivo. Começa a
tremer e as pessoas em volta não entendem a gravidade
da situação. Você está só. Não tem saída. Por mais que
respire, o ar não chega aos pulmões e a angústia se insta-
la de tal forma que o peito está prestes a explodir.
A descrição acima é comum na maioria dos casos de
crise de pânico ou pane total do sistema. Essa crise pode
durar de dez minutos a duas horas ou mais. E muitas
pessoas passam por isso em algum momento da vida,
quando se sentem no limite, acuadas, porque o organis-
mo perde a capacidade de analisar o perigo real e res-
ponde como se a ameaça fosse total.

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O mestre do seu sistema 149

Você começa a liberar substâncias químicas e hormô-


nios que preparam o seu corpo para a reação de uma
grande agressão: ou você ataca ou foge. Trata-se das
mesmas substâncias que os animais liberam quando es-
tão em situação de extremo perigo na natureza. O ani-
mal desencadeia essa reação e, quando passa o perigo,
ele volta ao equilíbrio normal de seu físico.
No caso do ser humano, esse apagão acontece quando
você já passou por muitas armadilhas da vida. E esse ex-
cesso de estímulo faz com que o seu mecanismo de defesa
esteja em contínua estimulação – ou seja, você permane-
ce em alerta constantemente. Não volta mais ao equilí-
brio e sente-se sempre ameaçado. Assim, a liberação da-
quelas substâncias químicas se repete preparando-o para
um ataque crucial ou uma fuga que não existem.
Você não vê saída. Não sabe como se libertar. E acu-
mula cada vez mais tensões. Não percebe, mas não des-
cansa mais – ou não dorme o suficiente e, mesmo quan-
do dorme, não relaxa, pois a mente não para. As pessoas
à sua volta perguntam o que o aflige, pois percebem que
você está distante, com o olhar perdido, sempre ausen-
te. Você se justifica se escondendo atrás de um cansaço
tão grande a ponto de só querer calar. Não quer pensar,
muito menos falar.
Depois de certo tempo, começa a perceber que o
seu coração às vezes acelera; você se assusta com fre-
quência; está sempre desanimado. Nada está bom e
nenhum lugar é agradável. Até mesmo o que antes lhe
parecia um paraíso agora é um lugar insignificante,
pois, como tudo à sua volta, também perdeu o brilho.
Você se encontra cansado demais para enxergar beleza
ou bem-estar ao seu redor. Permanece sempre prepa-
rado para um perigo maior ou na expectativa de que
algo muito errado aconteça.

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150 Máera Moretto

A preocupação passa a fazer parte do seu dia. Você


não se dá conta de que já está perdendo o controle de
si mesmo. Evita lugares e situações cotidianas que an-
tes eram agradáveis e, agora, se tornaram maçantes. Aí
se inicia o isolamento. Você não tem mais energia para
conviver com as outras pessoas. Pensa duas vezes até
para atender ao telefone.
Após o isolamento, o próximo passo é a solidão, que
se instala de forma sorrateira. Sente que não existe nin-
guém no mundo com quem possa contar. As pessoas es-
tão distantes e as mais próximas são frágeis demais para
ajudá-lo. Até mesmo aqueles que você ama passam a
ser um problema, pois podem adoecer, precisando ainda
mais de você. Podem morrer, abandonando você no seu
mundo solitário – e a vida vai perdendo o sentido.
“De que adianta acordar, trabalhar, viver se tudo que
amo um dia vai se perder?” Essa lamentação é comum
entre pessoas na hora do apagão. É quando a mente
perde totalmente o sentido. O organismo não suporta
mais tanto estímulo destrutivo. Não há lugar seguro
para você neste mundo. Suas mãos adormecem, a cabe-
ça doe, o frio congela e você acredita que o seu coração
não vai aguentar.
“O que vai acontecer em seguida?” Essa é outra per-
gunta comum, que ronda a cabeça das pessoas na hora
da pane. E, muitas vezes, essa pane nem é tão agressi-
va. O que a torna insuportável é que a pessoa espera, a
qualquer momento, reviver a experiência de forma mais
intensa. Esse estresse faz com que a pessoa não relaxe,
não se desarme e não saia da crise. Aí ela passa a ser uma
frequentadora assídua de hospitais e os exames não re-
velam nenhum diagnóstico conclusivo.
Tudo isso pode parecer o fim da linha. No entanto,
não é o fim da sua vida. Trata-se de um alerta importante

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O mestre do seu sistema 151

justamente para que a sua vida seja poupada. Isto é: o


apagão não é o fim, mas a solução para que o fim não
chegue. É um forte sinal de atenção para você e para os
que o cercam de que é preciso mudar.
Essa geração leva a vida de forma muito intensa, se
desrespeitando a cada segundo e quanto maior o desres-
peito mais forte o apagão.
A pane geral não é sua inimiga. Pelo contrário, apa-
rece para salvá-lo. Salvar de uma vida de destruição. Sal-
var de não sentir o amor verdadeiro, de se cobrar ser
amado e aceito; de viver a solidão e de achar segurança
nas mais frágeis pilastras, que são suas conquistas. O que
você conquistou é um mérito para ser vivido hoje e não
no futuro.
A única conquista que vale a pena é seu bem-estar, é o
sentir-se bem – a ponto de não ser devorado pela violên-
cia que o cerca, acreditando em um Deus que supre o que
não está ao seu alcance. Acreditar que as pessoas amam,
sim, umas às outras, independentemente do dia ou da si-
tuação. E mais: a solidão é uma consequência do modo
no qual você vive suas conquistas que devem ser usufruí-
das para o seu bem-estar e não para serem acumuladas.
Seja feliz, seja livre, compreenda o problema do ou-
tro como sendo do outro. Isto é, não pegue para si a dor
ou a emoção que não lhe pertence. Pois, muitas vezes,
levado pela carência, um pai, uma mãe, um filho, ou até
mesmo um amigo carrega nas tintas quando quer des-
crever um problema ou uma situação que parece sem
saída. Muitas vezes essa aflição fica maior para você do
que para quem a está vivendo. Você compra uma angús-
tia que não é real. Só que a pessoa se sai bem, porque se
sente amada. E você adoece.
Permita-se entregar a Deus o que você não tem com-
petência para resolver. E sinta paz em vez de viver o fu-

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152 Máera Moretto

turo, imaginando um cenário negativo que pode ou não


se tornar real. Viva o presente e acredite que seu futuro
está a salvo, pois existe uma energia maior para decidir
por você. E você é merecedor de toda a felicidade.
Na Medicina Tradicional Chinesa, aquele estímulo
máximo de excitação, que não descansa, é relacionado a
um consumo do seu Qi de uma forma tão excessiva que
as reservas do organismo se esgotam. Você não tem ener-
gia para alimentar seu coração e a mente – que na MTC
tem sua raiz no coração – perde sua morada. Quanto
menos energia chegar ao seu coração, mais a sua mente
estará enfraquecida e a realidade será distorcida.
Por isso, o tratamento de acupuntura para esses casos
está baseado no fortalecimento do meridiano do coração
e da circulação do Qi. Com isso, a mente vai retomar a
sua razão e o coração se tranquiliza permitindo que todo
o organismo sinta-se em paz. Além disso, é necessária a
tonificação do sangue da pessoa em crise.
Mas, de qualquer maneira, cada caso é específico, exi-
ge diagnóstico preciso e um tratamento individualizado.
E mais: além das sessões de acupuntura, os pacientes
em crise de pânico se beneficiam das tradições da cultura
chinesa, como o respeito ao organismo através da disci-
plina e da compreensão do funcionamento e dos limites
da sua máquina perfeita. O combustível da vida é ofere-
cido pela terra, através dos alimentos, e pelo ar. Cabe a
nós aprendermos a administrar o gasto dessa energia – e
é isso que os orientais têm a nos ensinar.

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PARTE 3

Os caminhos
da cura
Disse Quibo: a acupuntura somen-
te pode conduzir a energia e o sangue,
mas não pode fazer nada com o espíri-
to e a consciência do paciente.

o Imperador Amarelo,
Bing Wang, cap. 14

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˜
12. A respiracao
, e a cura
Você pode ficar dias sem dormir, sem beber ou até
mesmo passar quatro semanas sem se alimentar. Mas
não pode ficar nem mesmo alguns minutos sem respi-
rar – porque isso põe em risco a sua vida. Porém o que
você nem imagina é o quanto uma respiração ineficiente
pode prejudicar sua saúde.
Por meio da respiração retiramos boa parte do Qi que
circula no nosso organismo, pois esse Qi vem do ar. O
Qi do ar entra no nosso organismo seguindo o caminho
da respiração. Acessa o interior do corpo pelas narinas, é
recebido pelo pulmão, onde sofre interação com a ener-
gia de outros órgãos e em seguida é distribuído por todo
o corpo.
Por isso uma respiração eficiente está totalmente re-
lacionada à boa qualidade e eficiência do Qi no organis-
mo. É muito importante respirar certo para distribuir a
energia que captamos do ar pelo corpo. E até mesmo
a modulação da frequência cardíaca está relacionada à
respiração correta.
O Qi é o grande responsável por levar a nutrição para
todo o nosso sistema – e isso é possível por sua cumpli-
cidade com o sangue. O sangue nutre o Qi. E, por sua
vez, precisa do poder de impulsão do Qi para circular nos
vasos sanguíneos.
Segundo a MTC, uma respiração deficiente acaba por
estagnar o Qi do coração, que, com o tempo, vai estagnar
o sangue do coração. E aí então a pessoa começa a ter
palpitação, dor no tórax, as mãos podem ficar frias, etc.
Esses sintomas são mais ou menos os mesmos que
encontramos em uma crise de ansiedade: palpitação, às

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O mestre do seu sistema 155

vezes dor no peito, transpiração excessiva, mãos e pés ge-


lados. Durante uma situação de estresse intenso ou an-
siedade, nosso ritmo respiratório se modifica tornando-se
superficial e rápido. Isso porque o estresse aciona o nosso
sistema nervoso simpático e este, por sua vez, nos prepara
para fugir ou enfrentar a situação.
E, como o nosso dia a dia é repleto de situações es-
tressantes, aos poucos vamos assumindo como forma
respiratória essa tão conhecida respiração rápida, super-
ficial e ineficiente.
Normalmente deveríamos respirar com uma distri-
buição do ar em toda a nossa caixa torácica e abdome.
Mas não é o que acontece. Respiramos mais com a par-
te superior do pulmão – e a parte inferior permanece
com uma oxigenação insuficiente. Você pode perceber
o ritmo da sua respiração. Basta que observe o movi-
mento da caixa torácica. Ponha uma das suas mãos no
peito e a outra na barriga. Respire. Você vai sentir que
esse movimento é muito maior no peito e quase inexis-
tente na barriga.
Aí está o problema: quanto mais superficial é a res-
piração menos Qi é retirado do ar. Consequentemente
a função de nutrição pelo ar no nosso corpo acaba sen-
do comprometida – é quando são desencadeados aque-
les sintomas.
Mas por que quando criança respiramos pela barriga?
A respiração do feto, enquanto está no útero, se dá pelo
cordão umbilical. Nessa fase da vida, o Qi também entra
no corpo pelo cordão umbilical. Logo após o nascimento,
somos obrigados a usar nossos pulmões para respirar – e
assim absorver o Qi do ar.
Os taoístas acreditam que a criança quando nasce
mantém a respiração abdominal pelos primeiros anos
de vida porque o pulmão ainda não é forte o suficiente.

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156 Máera Moretto

E a região abdominal auxilia no processo respiratório


puxando o diafragma para baixo e fazendo com que o
ar entre nos pulmões. Isso ocorre porque a região do
umbigo é mais forte por estar próxima da fonte original
de energia, ou seja, do cordão umbilical, que abrigava
uma reserva maior de Qi.
Se você observar uma criança durante o ciclo respira-
tório – uma inspiração e uma expiração completa – verá
que ela realiza basicamente a movimentação abdominal.
Muito diferente do adulto, que vai deixando sua respira-
ção acontecer sem prestar atenção a ela. Assim, a influên-
cia emocional vai transformando aos poucos a respiração
abdominal em uma respiração superficial que acontece
na maioria das vezes na região superior do tórax.
E essa respiração deficiente – também chamada de
apical –, além de falha, requer um gasto maior de ener-
gia para que ocorra uma expansão na caixa torácica.
Além disso, devido ao fato de o tórax permanecer in-
suflado por um longo período, ele inibe a ação do cha-
mado freio vagal, importante parte do nosso sistema
nervoso autônomo.
O freio vagal é aquele responsável por modular a fre-
quência cardíaca. Durante a inspiração, a pressão dentro
do tórax aumenta porque ele está cheio de ar. Com o au-
mento dessa pressão, esse freio é desativado e o coração
acaba acelerando os seus batimentos cardíacos.
Durante a expiração, com a saída do ar, diminuímos
a pressão na caixa torácica. Nessa hora, a função do freio
vagal é novamente efetiva e os batimentos cardíacos vol-
tam ao normal.
Portanto, um tórax insuflado é sinônimo de um co-
ração acelerado. E um tórax vazio é sinônimo de um
coração controlado. Veja, então, como a entrada e saída
do ar, feita corretamente, é uma perfeita sinfonia que

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O mestre do seu sistema 157

pode evitar a taquicardia, presente na pane do sistema, e


também tirar você da crise no momento certo.
Dominar a arte de respirar corretamente é uma das for-
mas de você sair de uma emoção destrutiva de forma cons-
ciente. Por exemplo, durante uma crise de ansiedade, o fato
de respirar produtiva e pausadamente muda a direção do
Qi no seu organismo e reverte o quadro de desequilíbrio.
Por isso, a MTC utiliza de seus conhecimentos mile-
nares e propõe um reequilíbrio respiratório através de
exercícios que devolvam a harmonia do Qi.

,
Exercicio 1 - Conhecendo a sua respiracao
,
˜

O primeiro exercício consiste em simplesmente identifi-


car a sua respiração. Trata-se de um exercício preparatório.

Fase 1
d Deite-se sobre uma superfície confortável de barriga
para cima. Coloque uma das mãos no tórax, na região
superior do peito, e a outra mão no abdome, três dedos
abaixo do umbigo.
d Simplesmente perceba a sua respiração: respire normal-
mente e observe os movimentos do tórax, conforme o ar
entra e sai completando assim o ciclo respiratório.
d Perceba qual das suas mãos se movimenta mais e em
que fase da respiração: na inspiração ou na expiração?
d Depois de identificar sua respiração, concentre-se em
respirar de forma eficiente.
d Quando inspirar o ar pelo nariz, sinta seu abdome subir
de forma que seu umbigo aponte para o teto.

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158 Máera Moretto

Figura 7

Pessoa deitada com as mãos na barriga e tórax respirando

d Durante a expiração esvazie seu abdome por completo


e sinta sua mão afundar junto com a barriga. Aí, todo o
corpo se encontra vazio de ar.
d Agora veja o “pulo do gato”: enquanto completa o ciclo
respiratório, procure fazer com que o seu peito perma-
neça com a mínima movimentação possível, tanto na
inspiração como na expiração.
d Garanta que durante todo o tempo seu peito se mova o
mínimo possível – mas sempre de forma relaxada, nun-
ca impondo força nesse movimento.
d Durante a inspiração, quando o peito estiver repleto de ar,
inicia-se uma leve movimentação de distensão do tórax.

Fase 2
d Quando esse processo estiver sob o seu total domínio
– coisa que não é tão fácil como você imagina, pois são
movimentos contrários aos nossos hábitos respiratórios –,

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O mestre do seu sistema 159

progrida o exercício distribuindo o ar por todo o abdome,


inclusive para as partes laterais da cintura e região das
costas.
d Treine essa respiração até que sinta um cinturão de ar que
se forma circulando sua barriga, logo abaixo das costelas.
Relaxe o tórax lembrando sempre que o ar entra pelas
narinas, vai direto ao abdome, onde você sente formar o
cinturão de ar, e só depois atinge o tórax.
d A expiração deve ser contínua e lenta, com o dobro de
tempo da inspiração. Você tem que sentir todo o peito
esvaziar e o osso esterno, que se encontra no tórax, deve
abaixar por completo em um longo movimento. É como
se você inspirasse com a barriga e expirasse com o tórax,
pois durante a expiração o tórax desce mais para que o
ar saia. Somente depois que o ar sair do tórax é que ex-
piramos o ar que estava no abdome.

, ,
Exercicio 2 - Respirando em pe
d Quando você já estiver dominando o Exercício 1 nas
fases 1 e 2, de forma harmônica, vamos praticá-lo de
modo mais eficiente, na posição em pé.
d Fique em pé; afaste os pés de modo que estes permane-
çam alinhados ao seu quadril.
d Mantenha os dedos dos pés apontando para frente e le-
vemente para fora.
d Sinta o peso do corpo nas plantas dos pés, igualmente
distribuído em ambos os lados.
d Os joelhos devem permanecer levemente flexionados.
d A coluna lombar deve estar levemente retificada de
modo que seu quadril fique encaixado confortavelmen-

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160 Máera Moretto

te, sempre de forma relaxada. Lembre-se: nunca exer-


ça força em seu quadril, mantenha-o livre e levemente
encaixado. E sinta o cinturão de ar.
d A coluna deve estar ereta, os ombros relaxados e os bra-
ços soltos ao longo do corpo.

Figura 8

Pessoa respirando em pé

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O mestre do seu sistema 161

d Mantenha as mãos soltas, livres de tensões.


d Simplesmente relaxe na postura.
d Olhe para a frente e mantenha o queixo paralelo ao chão.
d Relaxe a musculatura da face enquanto inspira e expira
lentamente.
d Imagine uma linha que corta o seu corpo, entrando pelo
topo da cabeça, passando pelo meio da coluna e saindo
pelo cóxis.
d Essa linha imaginária desce por entre os joelhos e tor-
nozelos, passando pelo meio de seus pés e atingindo o
chão.
d Ao assumir a postura em pé, certifique-se de que seu
corpo todo está relaxado e inicie os ciclos respiratórios.
d Inspire e expire mantendo todo o seu corpo relaxado;
tente expirar o dobro do tempo que inspirar.
d Inicie inspirando por quatro segundos e soltando o ar
em oito.
d Lembre-se de distribuir o ar preenchendo toda a circun-
ferência abdominal, na inspiração; e de expirar esva-
ziando primeiro o tórax e somente depois o abdome.
d Com o passar do tempo vá, gradativamente, aumentan-
do os segundos de forma progressiva, isto é, cinco por
dez, seis por doze e assim por diante, até atingir um pa-
tamar em que a expiração seja duradoura e produtiva,
mas sem provocar desconforto em momento algum.
d O ideal seria manter-se na postura em pé durante cinco
minutos por dia. No entanto, pratique esse exercício de
forma disciplinada, respeitando seus limites. Se inicial-
mente os cinco minutos forem muito tempo para você,
sinta-se à vontade para fazê-lo no seu tempo. Mas lembre-
se: a intenção é chegar aos cinco minutos todos os dias.

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162 Máera Moretto

Esse exercício pode ser feito na hora que você dese-


jar ou quando conseguir encaixá-lo no seu dia. Logo ao
acordar, o exercício é mais produtivo. Porque, assim que
levantar da cama, a sensação de sonolência faz com que
o excesso de pensamentos e a agitação da sua mente se
acalmem – e você vivencie melhor o exercício.
Como diria o mestre Shen, pela manhã seu corpo
precisa de energia para que o despertar aconteça de for-
ma natural e os sistemas iniciem seus trabalhos de ma-
neira eficiente.
Semanas depois de ter ensinado a Amanda o Exercí-
cio 2 de forma detalhada, Shen Menn pergunta:

MESTRE Amanda, quais são os resultados que você


conseguiu com a prática do Exercício 2?

AMA N DA Estou praticando os cinco minutos de respi-


ração abdominal em pé há sete semanas. Confesso que,
quando você me ensinou o exercício e pediu que o fi-
zesse todos os dias da semana, achei que se tratava de
uma coisa fácil e simples demais. Não podia entender
como algo tão simples, que naquele momento parecia
até mesmo bobo, poderia ajudar a reverter meu qua-
dro de desequilíbrio emocional. Saí decepcionada. Mas,
como prometi que iria praticar com disciplina por todos
os dias, assim o fiz.

MESTRE Muito bem, Amanda, a disciplina e a conti-


nuidade garantem a eficiência do método. A repetição
favorece a memorização. Portanto uma prática discipli-
nada é tão importante quanto o posicionamento corre-
to durante o exercício. O posicionamento adequado no
exercício é o responsável pelo fluir da energia retirada
do ar por todo o corpo sem que ela se acumule em lu-
gares indevidos.

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O mestre do seu sistema 163

Quanto à simplicidade, saiba que muitas vezes nos-


sos olhos traem nossa compreensão. É do simples que
surge o complexo; da inércia que surge o movimento. E
ainda, no caso da mente humana, é a partir da inércia
que acontecem os melhores movimentos. A sua men-
te é bombardeada por informações o tempo todo. Você
consegue imaginar o beneficio que o descanso, ou seja,
a não movimentação, traria para ela?

AMA N DA Agora eu consigo entender, mas, antes de pra-


ticar o exercício, isso não entrava na minha cabeça.

MESTRE É em cima dessa teoria da inércia que eu lhe


digo: não há nada mais difícil para sua mente e corpo do
que cinco minutos de não ação, principalmente acompa-
nhada por uma respiração de qualidade.
Mas, voltando ao exercício, gostaria de saber: o que
sentiu durante a prática diária?

AMA N DA Bom, no primeiro dia acordei cinco minutos


mais cedo e me posicionei de forma adequada para ini-
ciar o exercício.
Um minuto depois, meu corpo coçava; minhas mãos
formigavam e parecia impossível chegar ao terceiro mi-
nuto, quanto mais ao quinto! E foi com dois minutos e
meio que parei, desisti.
No dia seguinte, de volta à posição ideal, meus pés
pareciam inchados, minha mente não parava, meu
corpo pinicava todo e só consegui chegar ao terceiro
minuto.
O terceiro minuto foi o meu limite por mais quatro
dias. E nessa altura eu não achava mais o exercício fraco
nem bobo. Ao contrário, percebi que, na verdade, ele
era complexo demais, pois envolvia situações que prati-
camente eu nunca tinha vivenciado anteriormente.

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164 Máera Moretto

Um bom exemplo disso era dar uma ordem de relaxa-


mento para um corpo que não parava de pinicar, coçar e
se rebelar contra aquela imobilidade tão trabalhosa.

MESTRE Engano seu, Amanda. Essa sensação é, sim,


conhecida pelo seu corpo. Talvez ele não se recorde, mas
já a conhece, pois era exatamente isso que você fazia no
útero da sua mãe: retirava o Qi pelo abdome e flutuava
no mais profundo bem-estar.

AMA N DA Nossa, eu não tinha relacionado uma coisa


com a outra! Mas você tem razão quando fala em sen-
sação de profundo bem-estar. Porque acho que vivi isso
novamente.
No sétimo dia, o corpo tinha parado de se rebelar e
aceitou o meu comando; eu já consegui passar quatro
minutos na posição em pé sem que houvesse grandes
sofrimentos. Só parei no quarto minuto porque fui in-
terrompida pela minha mãe.
Do oitavo dia em diante já consegui ficar cinco mi-
nutos. E, mais ou menos no décimo segundo dia, perce-
bi que o meu sono começou a ser mais produtivo. Não
demorava tanto tempo para adormecer, pois, apesar de
realizar a prática pela manhã, quando chegava a hora de
dormir e minha mente perturbadora começava a pensar
e a falar desesperada sobre tudo ao mesmo tempo, eu
realizava a respiração até mesmo deitada.
Então, minha mente se acalmava. Quando eu parava
de praticar, os pensamentos estavam mais calmos e se
tornavam mais leves, descompromissados, totalmente
diferentes dos pensamentos de cobrança que me ator-
mentavam anteriormente. Agora eles incluíam coisas
amenas e gostosas de serem pensadas, e, sem que me
desse conta, em poucos minutos pegava no sono de for-
ma profunda.

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O mestre do seu sistema 165

Aí passou a ser uma delícia a minha prática, e eu já


podia perceber a grandeza dos benefícios que começa-
ram a surgir.

MESTRE Esse passa a ser o nosso objetivo, Amanda, sen-


tir-se bem ao distribuir essa sensação pelo corpo todo.

AMA N DA E eu consegui. E tem mais: com dezoito dias


de prática, minha pedra no rim voltou a me incomodar
e precisei ser internada.
No hospital senti muita dor e deveria ser submetida
a uma cirurgia na uretra, pois duas pedras estavam lo-
calizadas ali.
Com tudo isso, o meu medo maior, por incrível que
pareça, era desencadear uma crise de pânico. A rela-
ção entre a dor, estar internada num hospital e prestes
a fazer uma cirurgia não é uma combinação adequada
para quem tem crises de pânico.
Mas, por incrível que pareça, nas horas de maior dor,
quando os remédios não surtiam efeito, eu me lembrava
da sensação que obtinha depois da prática do exercício
de respirar em pé.
Imaginava-me em pé, na minha casa, praticando. E só
de imaginar a sensação eu me controlava a ponto de achar
que a dor nem era tão grande assim. No pré-cirúrgico,
quando, anteriormente eu surtaria de tanta ansiedade,
combinada com o desespero gerado pela dor, misturado
com o medo de tudo e de todos, dessa vez, ao fazer o
exercício, eu consegui me sentir calma e centrada.
Se disser que não tive medo estaria mentindo, mas,
posso afirmar com toda certeza, que não tive pânico.

MESTRE Muito bom, Amanda, vejo que você pegou o


espírito da coisa. Foi capaz de entender que a simplicida-
de do ambiente do útero materno foi sendo aos poucos

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166 Máera Moretto

substituída pela complexidade do dia a dia. Essa maneira


complicada de viver levou-a à ansiedade, ao pânico. As-
sim, cada vez que saímos do complexo e voltamos para o
simples, nosso organismo responde da forma que conhe-
cia no útero, ou seja, desarmado, relaxado e equilibrado.
A simplicidade de retirar o Qi do ar de forma adequa-
da pode ser de extrema importância durante o seu dia.
O exercício de respirar em pé vale em qualquer situação
em que você perceba que seu equilíbrio emocional está
sendo abalado, bastando para isso alguns segundos.
E mais: ele pode ser feito no trânsito, antes de uma
reunião importante, em uma situação de perigo, no den-
tista, ou sempre que se sentir ameaçada.

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13. O desejo e a cura
“Quanto tempo vai se passar até que eu me sinta
curada? Preciso voltar à vida normal o quanto antes. Os
meus compromissos continuam. Eu não posso ficar as-
sim, vivendo preocupada se vou ou não dar conta; se
vou ou não me sentir mal! Isso tem que mudar agora.
Quando? Como? O que devo fazer?”
Essas questões estão na cabeça de todos que sentem
pela primeira vez uma pane no sistema. A impossibilida-
de de viver, de se relacionar e dar continuidade aos seus
compromissos está presente a cada minuto. E a cura é
desejada com desespero.
No cotidiano vivemos correndo, parece até que
nascemos com pressa e, na hora de nos encontrarmos
com a nossa cura, ou até mesmo com a solução de um
grande problema, não poderia ser diferente. Quere-
mos nos curar logo, precisamos de respostas imedia-
tas, desejamos o fim da situação para que a vida volte
ao normal.
Esquecemos que justamente essa pressa nos trouxe
até essa situação de desequilíbrio. A pressa em acordar,
em não se atrasar. A pressa em se alimentar, a pressa de
aprender, de ensinar, de dirigir, de falar. A euforia para
conseguir resultados. E quem não conhece até mesmo a
pressa em pegar no sono?
Quantas vezes você já se pegou falando consigo mes-
mo deitado na cama, rolando de um lado para o outro e
se questionando de forma frenética: “Meu Deus eu pre-
ciso dormir, amanhã tenho que acordar muito cedo!”.
Quem pode dormir com pressa se, justamente, dormir é
parar e desligar?

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168 Máera Moretto

Essa pressa faz com que você fique ligado o tempo


todo, mas não ao momento presente, como deveria ser.
Você fica focado no problema. Você tem pressa porque
tem um problema. Seja ele relacionado ao trabalho que
não pode perder, pois perder o emprego é um grande
problema; seja ligado à preocupação com sua cura, o que
diminui o seu rendimento no dia a dia – e esse é um pro-
blema inaceitável.
E, como o seu dia é cheio de desencontros, cada
pequeno desencontro é vivido como um grande pro-
blema. Esse excesso de preocupação faz com que você
responda acionando de forma errônea outra emoção: o
desejo.”Tenho um problema e desejo desesperadamente
a solução.”
Nessa hora, a compreensão distorcida da realidade,
ou seja, a transformação de simples e corriqueiros de-
sencontros em grandes problemas, faz com que você co-
mece a desejar compulsivamente.
No entanto, não se trata de um desejo saudável como
deveria ser. Por exemplo: “Eu quero chegar no horário,
pois assim cumpro o meu trabalho com mais atenção e
conforto”, ou “quero minha cura para simplesmente me
sentir bem”. Isso seria a forma saudável de desejar.
Mas, sem nos darmos conta, começamos a desejar
loucamente coisas que estão fora do nosso alcance: que
os faróis se abram no trânsito; que o chefe ainda não
tenha chegado quando estamos atrasados; que não cho-
va para não atrapalhar o nosso caminho de volta para
casa. Tomara isso, tomara aquilo – e só “desejamos” o
tempo todo.
Não percebemos que desejar é uma forma de gastar
energia desnecessariamente. Uma energia da qual você
já é carente, pois passa a vida toda desperdiçando. E des-
perdiçando sem fundamento, já que o seu desejo não

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O mestre do seu sistema 169

vai abrir o farol, não vai atrasar o chefe e muito menos


impedir a chuva.
Tudo isso só vai fazê-lo perder o tão precioso Qi. O
problema é que somos viciados no desejar. Passamos o
nosso dia torcendo, querendo e nos cansando com isso
sem perceber.
Mas o que está por traz da pressa e do desejar? Mui-
tas vezes a preocupação, outra emoção usada de forma
negativa. Motivados por ela achamos que um dia algo
possa nos faltar e aí acionamos os desejos; de ganhar na
loteria, de ter aumento de salário – e muitas vezes não
sabemos ao certo o que queremos e nem por que, mas
desejamos.
Até mesmo quando estamos de férias, hospedados em
hotéis maravilhosos, nos preocupamos em acordar cedo,
com pressa para tomar o café da manhã antes dos outros
hóspedes do hotel; estabelecemos horários nada compa-
tíveis ao momento de férias para almoçar ou jantar. Fa-
zemos isso porque estamos acostumados a nos preocupar
tanto quanto a desejarmos qualquer coisa. Isso faz parte
do nosso dia de forma tão natural como respirar.
Para a Medicina Tradicional Chinesa, desejar excessi-
vamente está relacionado ao meridiano do coração, pois,
tanto quanto a euforia, o desejo excessivo aquece o co-
ração e esgota a energia, dependendo do padrão energé-
tico que a pessoa tenha.
Já o fato de se preocupar agita o coração e repercute
no pulmão, baço e fígado, gerando sintomas diferentes
de acordo com o órgão atingido.
Por tudo isso, a partir de agora, não gaste mais sua
energia desnecessariamente com desejos, preocupações
ou anseios, principalmente quando a solução não se en-
contra ao seu alcance. Economize energia para a ação,
ou seja, para resolver o problema em si.

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170 Máera Moretto

,
Exercicio 3 - Aprendendo a nao
˜
desejar
Uma das formas de poupar energia é aprender a iden-
tificar se sua atitude tem ou não o poder de modificar
uma determinada situação. Se você não tiver como in-
terferir para resolver o caso, como, por exemplo, a aber-
tura do farol quando lhe interessa ou parar a chuva ao
sair do trabalho, assuma para você mesmo que esse pro-
blema não merece sua preocupação e diminua a impor-
tância que deu a ele. Aprenda a respeitar que tudo tem
um tempo e isso não pode se transformar num grande
desgaste para você.
Durante sete dias, vamos treinar o “não se preocu-
par” e o “não desejar excessivamente”. Para isso adota-
mos três comandos: PARE, QUESTIONE E RESPEITE.

d Em primeiro lugar, diante de qualquer dificuldade,


PARE sempre para observar se você está relaxado. Se a
resposta for negativa, identifique qual o problema.
d Em seguida, QUESTIONE se você é ou não capaz de in-
terferir de alguma forma na resolução da questão. Se
novamente a resposta for negativa, não se permita dese-
jar ou se preocupar desnecessariamente.
d Localizado o problema, RESPEITE o tempo natural de
resolução que as coisas têm. Mesmo que esse tempo seja
contrário ao seu anseio.
d Para não se preocupar, desvie a sua atenção do foco da
questão, usando afirmações como:
Este problema está além das minhas possibilidades de ação.
Meu desejo não altera esta situação.
A paciência é o caminho que me fará atravessar este momento.
Somente agora não vou me preocupar com isso.

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O mestre do seu sistema 171

d Transforme os acontecimentos do dia em práticas de pa-


ciência. Ao sair de casa atrasado você NÃO VAI MAIS
DESEJAR que os faróis se abram; que o chefe se atrase;
que o sol apareça ou mesmo que a chuva vá embora.
d Agora, você vai aceitar que faz parte do mundo e que
tudo tem um tempo e um espaço para acontecer.
d Sempre que estiver no trânsito, de carro ou de ônibus,
lembre-se de agradecer suas últimas conquistas, sua
saúde e o fato de estar vivo.
d Toda vez que estiver numa fila, não pense que está per-
dendo tempo, mas aproveite para acessar memórias vi-
vidas relacionadas a um bom momento, degustando as
sensações de felicidade das férias ou em companhia de
amigos e familiares, por exemplo.
d Quando estiver esperando um telefonema ou um e-mail,
desligue-se do fato, acreditando que ele chegará mais
cedo ou mais tarde.
d Aprenda a relaxar diante das suas próprias ameaças. Por
exemplo, aceitar que o chefe chegou primeiro não é o
fim do mundo. Quantas vezes isso já aconteceu e você
ainda tem emprego. E, se por acaso chegar a perdê-lo,
certamente em algum lugar haverá outro.

Tudo isso é um treino para a sua mente. Não será fácil


e, mesmo que você não consiga ter um êxito de 100%
nesse exercício, o que você conquistar já é lucro e vai
lhe proporcionar uma enorme reserva de Qi no final de
sete dias. Essa reserva certamente substituirá a tensão
nervosa do seu dia a dia pelo bem-estar.
E mais: como o nosso cérebro aprende por repeti-
ção, no começo esse exercício de “não desejar” ou “não
se preocupar” será somente uma mentira. Você vai en-
ganar a si mesmo descaradamente. Mas, com o treino,

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172 Máera Moretto

seu cérebro vai aprender cada vez mais a diminuir o


gasto energético que direciona para acontecimentos de
menor importância ou até mesmo para acontecimentos
de real importância.
Quando o mestre Shen propôs esse exercício de “não
desejar” para Gabriela, ela logo reagiu de forma extre-
mamente negativa.

GABRIELA Isso que você está me pedindo é humana-


mente impossível! Como posso não me preocupar se a
empregada vai atrasar e não vai dar tempo de as crian-
ças tomarem o seu café da manhã antes de irem para a
escola? Como posso não me preocupar se chegaremos a
tempo para a aula? Sou uma pessoa muito responsável e
não admito que meus filhos cheguem atrasados.
E na hora do almoço então? Muitas vezes saio da aca-
demia sem terminar a série ou mesmo acelero o tempo
que permaneço nos aparelhos, pois tenho que ir para casa
verificar se o almoço está no horário. Isso porque, se eu
falhar, quando o meu marido chegar em casa para almo-
çar, não vai dar tempo de ele descansar depois de comer.
E quando as crianças chegam, enquanto providencio
o prato delas, preparo as mochilas e roupas das ativida-
des do período da tarde. Tenho que revisar umas duas
vezes cada mochila, pois elas fazem atividades diferen-
tes, como balé, judô, inglês e não posso me esquecer de
nada, senão atrapalho a aula deles.
Como não devo me preocupar com o trânsito? Você
já imaginou a loucura que seria um atraso na hora de
pegá-los de suas respectivas atividades? Eu não posso
me dar a esse luxo.

MESTRE Não sei como o seu quadro ainda não é pior,


Gabriela. Você já parou para observar a quantidade de

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O mestre do seu sistema 173

energia jogada fora durante o seu dia somente com essas


preocupações desnecessárias, como a pressa e o desejo
de dar conta de tudo, custe o que custar?
Você já imaginou o bem-estar que traria a você mes-
ma se essa energia pudesse ser armazenada em seu orga-
nismo para ser usada em casos de real necessidade? Não
precisamos ir longe: já passou pela sua cabeça que o fato
de poder estocar essa energia significa usá-la de forma a
transformar os seus desequilíbrios em sua cura? E você
ainda me fala que poupar essa energia é impossível para
você? Qual é a sua prioridade na vida, Gabriela? Porque
eu acho que a sua saúde, sem dúvida, seria prioritária.

GABRIELA Eu nunca tinha pensado por esse ângulo. Cla-


ro que poupar essa energia é de extrema valia para a
minha recuperação. Eu sempre me comporto como um
trator. Independentemente do tamanho do obstáculo, eu
vou em frente. Não me importo se tenho ou não forças.
Em relação às prioridades, acho que mais uma vez
me perdi no meio do caminho. Parece que tudo em mi-
nha vida é uma prioridade, menos eu mesma.
Mas como poderia fazer essas mudanças? Você viu
como é o meu cotidiano, não consigo ver como poderia
torná-lo diferente.

MESTRE Sabe, Gabriela, muitas vezes aquilo que acre-


ditamos ser de fundamental importância não passa de
uma mera ilusão. Aceitamos tais ilusões como se fossem
verdadeiras ameaças. Apegamo-nos a elas e, sem per-
ceber, estamos totalmente seduzidos por tais fantasias.
Nessa hora, acreditamos que não temos competência ou
força para tomar alguma providência. Esquecemos que,
mesmo se houver um atraso na entrada da aula, isso não
os fará serem expulsos da escola e muito menos dificul-
tará o aprendizado.

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174 Máera Moretto

Quanto à sua ginástica, ela é um bem para você e


deve ser respeitada acima de tudo. Se se exercitar fizer
com que chegue atrasada para o almoço, tudo bem. Sir-
va o que estiver à mão e deixe para caprichar no dia em
que o tempo for suficiente.
Por último, num dia de trânsito intenso, quem foi
que disse que o mundo vai acabar se as crianças tiverem
que esperar por você uns dez ou quinze minutos? Para
isso, basta que elas estejam em um lugar seguro.

GABRIELA Você tem razão. Tudo não passa de uma ilu-


são que criamos e juramos de pé junto que essa é nossa
realidade. Eu posso, sim, fazer tudo da forma que você
falou. Aliás, quando você fala, parece tudo tão fácil...
Vou me empenhar para mudar, mas será que vai ser fácil
assim como você fala?

MESTRE Será, sim, Gabriela. Você vai acabar sendo do-


minada por essa energia de tranquilidade. E logo sentirá os
benefícios de não gastar o seu Qi de forma desorientada.
Quanto mais você tirar o pé do acelerador, quanto mais
caminhar em direção contrária à preocupação, mais tempo
terá. Quando menos esperar, seu dia será invadido por um
bem-estar. Aí, um simples farol passa a assumir o papel de
um mero farol de trânsito e não o martírio do dia.
Quando a máscara da ilusão sair da frente dos seus
olhos, você começará a estabelecer o devido peso que as
coisas têm. E levará seu dia com uma leveza maior.

GABRIELA Pode ter certeza de que vou tentar, mestre, e


na próxima sessão conto como foi a minha experiência.

Uma semana depois, Gabriela apareceu cheia de bri-


lho no olhar, mais calma. Até sua forma de falar estava
menos pesada.

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O mestre do seu sistema 175

MESTRE E então, Gabriela, gostaria de saber como foi


a sua semana, como foi transformar o seu tempo em um
exercício de paciência, aceitação e compreensão?

GABRIELA Minha semana foi muito boa. Comecei a pra-


ticar o exercício no dia que saí daqui. Naquela noite meu
marido teve uma reunião que acabou terminando muito
tarde, não podíamos nos comunicar nem pelo telefone –
nesse tipo de evento os celulares são proibidos. Quando
a hora de ele chegar em casa foi se aproximando, meu
coração ficou apertado, como sempre. Sempre fico tensa
com ele dirigindo à noite, tenho medo de assalto e costu-
mo tranquilizar minha aflição somente quando ele entra
em casa. Eu nunca tinha parado para perceber o quanto
isso me consumia até pôr em prática o exercício.
Quando percebi que já havia se passado mais de uma
hora do tempo que normalmente ele leva para chegar,
eu quis me desesperar, comecei a ficar agitada, preocu-
pada; e, quando o ar ia começar a faltar, me lembrei de
pôr em prática o exercício. Na hora avaliei a situação,
percebi que o meu querer e preocupação não iriam tra-
zê-lo mais rápido e então parei de pensar no assunto.
Entreguei seu retorno em segurança a Deus e confiei na
minha entrega. Simplesmente me deitei e, por incrível
que pareça, consegui adormecer.
Duas horas depois, fui despertada pelo movimento
da coberta, quando ele se deitava na cama, então lhe dei
um beijo e voltei a dormir.
Sabe, antes eu seria acordada pelo barulho da chave.
Nessa hora percebi que eu conseguira sim fazer o exer-
cício. E foi aí que entendi o quanto esse tipo de situação
me desgastava.
Antes, eu jamais dormiria, ficaria andando de um lado
para o outro com o telefone nas mãos e muita agonia no

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176 Máera Moretto

peito; desejando a cada minuto que o telefone tocasse ou


que a porta se abrisse. E então vi o quanto eu desperdiça-
va energia.
No dia seguinte, acordei animada para pôr em prática
meu aprendizado de dominar a minha vida. A empre-
gada não faltou, o café não atrasou, saímos de casa na
hora. Não olhei no relógio nenhuma vez no percurso
entre a minha casa e a escola. Assumi que sairia de casa
e chegaria no tempo que o trânsito me permitisse.
Foi uma delícia o caminho, reparei em coisas que em
três anos do mesmo percurso nunca havia reparado, me
senti muito bem. Praticar o controle da minha vida hoje
passou a ser uma necessidade. Percebi que grande parte
do peso que carregava no coração vinha da forma ilu-
dida com que enxergava o meu dia e os compromissos.
Hoje já me sinto mais leve. Isso me faz sentir liberdade.
Com certeza vou continuar praticando.
=MESTRE Ótimo. Continue praticando pôr todos os mo-
mentos do seu dia e assuma assim as rédeas da vida no-
vamente. Você vai ver que logo sentirá os benefícios des-
sa energia que poupou. Mas não se esqueça de que nem
mesmo deve desejar a sua cura com pressa; pois a pressa,
seja por qual for o motivo, desperdiça o Qi de forma des-
controlada no ar, e, de repente, a pressa da cura pode se
transformar no caminho para a doença.
Portanto, aceite o tempo que a sua cura precisa para que
o equilíbrio volte a reinar na sua vida, sem pressa, sem de-
sejar demais. Por fim, não se preocupe. Tenha a certeza de
que, se fizer a sua parte, na hora certa a cura acontecerá.

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14. O tempo e a cura
Ao longo dos anos, nossos relógios passaram de me-
ros súditos a nossos senhores. De alguma maneira come-
çamos a enxergar um dos ponteiros como o indicador da
necessidade de nos movimentarmos. E sentimos o outro
ponteiro como uma lança afiada apontada para o nosso
peito o tempo todo. Isso nos leva a pensar quanto é difí-
cil conviver com o tempo.
Nem bem começa o dia e já não temos tempo para
tomar o café da manhã. Saímos correndo, apressados,
às vezes comemos qualquer coisa no meio do caminho.
Depois de uma manhã atribulada, aproveitamos o ho-
rário do almoço para reuniões profissionais ou mesmo
para resolver problemas pessoais.
Seguimos pelo dia afora, imaginando tudo o que ain-
da temos por fazer entre uma reunião e outra, entre um
telefonema e outro, e, de repente, nos damos conta de
que não vai dar tempo de resolver tudo o que planejamos
para aquele dia. E aí você se pega enchendo aquele seu
“arquivo imaginário” de compromissos com a frase tão
conhecida e utilizada por todos nós: “Amanhã eu faço”.
Lá pelas cinco horas da tarde percebemos que não
tivemos tempo sequer de ir ao banheiro. Pois são tan-
tos os compromissos, tantos afazeres, que as 24 horas
do dia passam a ser insuficientes para nós, pois esta-
mos sempre correndo, sempre com coisas pendentes e
com algo por fazer.
No início da noite, chegamos em casa, com o estôma-
go embrulhado de tanta correria; estamos tão cansados
que a preguiça de elaborar um bom prato passa na frente
da fome. E, enquanto mastigamos um simples e pouco

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178 Máera Moretto

nutritivo sanduíche, lembramos que mais um dia se pas-


sou e não encontramos tempo para ir à academia.
O dia acabou e você não encomendou aquele remédio
que lhe foi prescrito. Mais uma semana se passou e você
não foi ao dentista. Há seis meses você prometeu a si mes-
mo que mandaria pintar o apartamento, só que ainda não
deu tempo sequer de pensar em mais esse assunto.
E o dia se transforma em semanas, a semana em me-
ses e na verdade são anos e anos de pendências, de coi-
sas que ficaram por fazer. Aquele “arquivo imaginário”
do “amanhã eu faço” nunca está vazio, porque nunca
nos permitimos ficar livres de pendências.
O que você não imagina é que frases como “amanhã
eu faço”, “depois eu resolvo”, ou “qualquer hora tenho
que ver isso” funcionam como aquele tique-taque do des-
pertador antigo que ecoava na sua cabeça a noite toda.
Por mais que você não preste atenção, as pendências
continuam ali; e elas incomodam, pois fazem com que
o seu subconsciente não se desligue. Sem que você per-
ceba, passa a viver preocupado com o amanhã, com as
coisas de ontem que não podem deixar de ser resolvidas;
só que, quando se dá conta, tudo já virou uma bola de
neve – você não sabe mais como reverter essa situação.
E, para piorar ainda mais, você se acostuma a viver no
amanhã. Passa a não mais desfrutar do hoje nem mesmo
nas horas de lazer. Como a sua cabeça nunca se livra de
compromissos futuros, para encontrar o equilíbrio, sua
mente passa a buscar também no futuro os prazeres que
deveria encontrar no agora.
E aí, enquanto você saboreia um ótimo jantar em um
bom restaurante, rodeado por companhias agradabilís-
simas, em vez de desfrutar o tão prazeroso momento, o
seu cérebro treinado para viver o amanhã só pensa no
próximo passeio.

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O mestre do seu sistema 179

Se terá um encontro no jantar, não desfruta do al-


moço com os amigos, pois não para de olhar no relógio
e imaginar o quão agradável será a noite. Você passa a
se alimentar do futuro, ou seja, consegue sentir prazer
em pensar no jantar, mas se esquece de como se faz para
retirar a felicidade do “agora”, do momento presente,
durante o almoço com seus amigos.
Sua semana se reduz a uma contagem regressiva para
chegar logo o final de semana, as férias ou mesmo um
simples feriado.
Você sabe por que isso acontece?
Isso acontece porque é dos bons momentos do seu
dia que você tira energia. Já parou para pensar como
um café com amigos no final do expediente pode ser re-
vigorante? (Desde que você não esteja preocupado com
a hora de ir embora, é claro.) Quanta energia você retira
de simplesmente olhar o mar sentado na areia? Mas isso
se não gastar sua força se sentindo culpado porque tem
que terminar um trabalho, fazer o almoço ou simples-
mente levar o cachorro para tomar banho.
Pela força desses bons momentos renovamos a nossa
energia – isso quando conseguimos atingir o ponto zero
da nossa mente. O ponto zero é aquele onde você se li-
berta do ontem e do amanhã e vive o hoje, o agora.
Quando você consegue manter a mente no agora,
abre espaço para vivenciar a emoção, a sensação, o chei-
ro e o som daquele instante. Sem atingir esse estágio, a
mente ocupa os sentidos com um monte de pendências,
misturadas com a lança afiada do relógio que não sai do
seu peito.
Segundo a MTC, você tem que dar espaço para que
o coração – através daquele leve sorriso que se esboça
em seus lábios – movimente o Qi do seu tórax; que o
fígado – com aquela gargalhada gostosa – tenha seu Qi

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180 Máera Moretto

desestagnado; que o rim – que tem seu Qi depauperado


pelo medo –, consiga estocar o Qi através da segurança
que o momento lhe traz; que o pulmão possa reorga-
nizar o Qi através do sentimento de felicidade peculiar
a esse momento. E tudo isso leva sua mente a parar
de gastar energia com preocupações e redistribuir toda
essa energia adquirida pelo próprio organismo.
Quando você vive o agora, sua mente simplesmente
se desliga do mundo externo e se volta para seu interior.
Nesse momento, toda energia se movimenta em você e,
sem que perceba, você está mais recuperado energetica-
mente do que quando acordou hoje de manhã, depois
de uma noite de sono superficial porque ficou ligado em
tudo o que tinha para fazer no dia seguinte.
Mas, para atingir o ponto zero, devemos fazer com que
nosso dia nos permita ter o mínimo de pendências possí-
veis e, quando não for possível resolver alguma pendên-
cia hoje, devemos colocá-la no amanhã e vivê-la somente
no amanhã, sem nos incomodarmos com isso agora.
Ocupar os pensamentos com as pendências de ontem
não nos deixa saborear todas as nuances do agora. Só as-
sim percebemos que não precisamos das férias para ser-
mos felizes. Nosso dia pode ser o cenário de muito bem-
estar desde que nos permitamos vivê-lo aqui, agora.
Como tudo isso é um novo aprendizado na nossa vida
– e da mesma forma que o excesso de obrigações desper-
tou sua mente para viver no amanhã –, precisamos de
um exercício que treine a nossa mente a viver o agora.
Para isso, o convido a praticar o Projeto Samurai.
Esse exercício consiste em treinar uma maneira de
transformar a relação com o tempo em um convívio
harmonioso. Para isso, lançaremos mão da disciplina e
veremos o quanto ela pode nos ajudar a transformar “o
gastar” em “poupar o Qi”.

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O mestre do seu sistema 181

,
Exercicio 4 - Projeto Samurai
O Projeto Samurai pretende ensiná-lo a reorganizar
o tempo a seu favor e a potencializar suas capacidades
naturais. Nesse caso, a disciplina é fundamental. A ideia
é que você se coloque como prioridade no centro do seu
dia. Assim, você vai perceber o quanto gasta de energia
desnecessária. E aos poucos vai usar essa energia – que
antes era desperdiçada – em combustível para realiza-
ções e concretizações tornando assim o seu dia mais efi-
ciente e menos desgastante.
Este exercício deve ser praticado por sete dias con-
tínuos. Organize-se antes de iniciar sua prática, pois o
mais importante é que ela não seja interrompida no
meio do caminho. Se por acaso isso acontecer, você deve
reiniciar o projeto por mais sete dias até que a realização
do exercício seja completa. Vamos a ele:

d Estabeleça uma hora para acordar, que deverá ser res-


peitada pelos sete dias consecutivos. Nossa intenção é
poupar tempo de forma saudável. Portanto, acorde meia
hora antes do seu horário habitual.
d Não pule da cama. Espreguice-se e lembre-se: o des-
pertar não acontece apenas na sua mente. O corpo
também precisa acordar e ao espreguiçar-se você faz
com que o Qi e o sangue circulem por todo o orga-
nismo. Nessa hora ambos se encontram mais lentos
devido ao longo tempo de imobilidade que a noite
proporcionou.
d Pratique o exercício de respirar em pé por cinco minutos
(vide exercício 2, Respirando em pé), assim você inicia o
seu dia retirando o Qi do ar.

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182 Máera Moretto

d Faça o café da manhã com o cuidado de ingerir quatro


cores diferentes. Dessa forma, seu estômago inicia o pro-
cesso de retirada da energia dos alimentos. Você já sabe:
alimentos de sabor azedo agradam ao fígado; os de sabor
amargo, ao coração; o doce agrada ao baço; o picante
agrada ao pulmão e o salgado, ao rim.
d No caminho para o trabalho, viva o percurso, não olhe
no relógio, nem fale ao celular. Aceite que você já está
a caminho e aproveite para prestar atenção nas árvores,
nas cores das casas. Note as pessoas que estão nos car-
ros ao lado e qualquer coisa bonita que mereça ser vis-
ta. Pois os olhos são um dos meios de troca de energia
com o meio ambiente. Por exemplo, a cor verde acalma
o fígado e a vesícula biliar. Já a vermelha, estimula o
coração e o intestino delgado; por isso, quando se sen-
tir desanimado, olhe mais para tons de vermelho. O
amarelo estimula o baço e o estômago para cumprirem
suas funções. Quando se sentir sem energia durante o
dia, olhe mais para a cor amarela. O branco purifica o
pulmão e o intestino grosso; quando você sentir mágoa
ou tristeza, imagine ou olhe para o branco, pois ele vai
trazer uma sensação de paz e tranquilidade. O rim e a
bexiga são tonificados pela cor preta. Por isso, no fim
da tarde, quando sentir aquele cansaço que, na maio-
ria das vezes, vem da deficiência do rim, procure uma
superfície preta e esvazie seus pensamentos enquanto
olha para ela; assim, verá que em alguns minutos esta-
rá mais disposto.
d Quando entrar no ambiente de trabalho, não corra; olhe
nos olhos das pessoas e cumprimente-as com um sorri-
so. O sorriso agrada ao coração, desfazendo a estagnação
de Qi e do sangue. Com isso você vai se sentir melhor a
cada minuto do dia. Mas, atenção, não use aquele riso

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O mestre do seu sistema 183

eufórico e descontrolado, pois esse depaupera o Qi do


coração e, portanto, deve ser evitado. No segundo ou
terceiro dia do projeto, você receberá tantos sorrisos das
pessoas que o dia já vai se iniciar com outra frequência.
Através dos olhos trocam-se emoções de aceitação, cari-
nho, amor, companheirismo – e aí vai perceber que não
mais vai sentir solidão, porque agora você passa a notar
as pessoas à sua volta.
d Por duas vezes no dia pergunte-se: como estou me sen-
tindo agora? Bem, mal, feliz, triste, faminto, sedento,
ansioso, etc. Identificar suas emoções é o primeiro pas-
so para controlar o seu Qi. Trata-se do caminho para
equilibrá-lo. Muitas vezes você pode estar irritado, inco-
modado – e na verdade só está com fome. Pode se en-
contrar estressado, com a mente confusa. Mas, na ver-
dade, o que pode estar acontecendo é que simplesmente
seus olhos estão cansados. Nesse momento, um minu-
to olhando para a cor verde pode refazê-los. Segundo
a Medicina Tradicional Chinesa o fígado se exterioriza
pelos olhos e por isso a cor verde revitaliza o fígado.
d Sentado à mesa de trabalho, separe alguns minutos para
ler e-mails ou fazer telefonemas pessoais, pois você é a
prioridade do seu dia – e nem imagina o quanto faz bem
nos lembrarmos disso durante várias vezes no dia. Na
verdade, você acorda de manhã para o seu bem-estar; vai
trabalhar para que tenha uma vida melhor; ou seja, você
é a sua prioridade. Muitas vezes, levados pelo movimento
do mundo, nos esquecemos de que tudo o que fazemos
é para nós mesmos, para sermos felizes e nos sentirmos
bem. A partir de agora avalie seus esforços, procure não
se exceder em seus afazeres, emoções e desejos.
d No meio da manhã, interrompa seus afazeres e se ali-
mente de uma fruta. A energia retirada dos alimentos

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184 Máera Moretto

no café da manhã a essa hora já está precisando de re-


forços. Marque o horário para esse lanche e repita-o pelo
resto da semana. Não vale comê-la em pé ou mesmo na
frente do computador. Pare, sente-se e saboreie. Preste
atenção à cor, ao aroma e ao sabor. Com isso, você estará
treinando seus tão adormecidos sentidos, que devem ser
acordados para que possam retirar de forma automática
esse prazer de outras coisas durante o seu dia. Quantas
vezes já aconteceu de você estar entretido com os seus
afazeres e alguém perguntar: de onde será que vem este
cheiro tão gostoso? E sem perceber você responde: qual
cheiro? Quem ouve sua resposta pode até entender que
você não esteja sentindo o aroma, mas na verdade você
só não estava prestando atenção a ele.
d Estabeleça uma hora para o seu almoço. Antes disso, re-
serve cinquenta minutos para dar atenção aos assuntos
que ficaram guardados naquele seu “arquivo imaginá-
rio” do “amanha eu faço”. Você vai ter quase uma hora
por dia para dar atenção aos assuntos pendentes – mas
somente esse tempo. No final, devolva os assuntos para
o seu “arquivo imaginário” e vá para o seu almoço.
d Almoce de forma tranquila, não fale demais e muito
menos discuta assuntos relacionados a negócios. Essa
é a hora sagrada de seu estômago retirar mais Qi dos
alimentos, enviar para o baço e assim dar início a todo
um circuito energético que irá garantir sua saúde física
e mental. Portanto, nada de assuntos pesados ou es-
tressantes, já que eles desviam o Qi do estômago para
o cérebro para ativar o seu raciocínio – e com isso você
diminui a quantidade de Qi que deveria retirar dos ali-
mentos e sua energia será deficiente no resto do dia.
d Ao voltar do almoço, sente-se confortavelmente em sua
cadeira, tire os sapatos discretamente (se o ambiente

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O mestre do seu sistema 185

permitir) e, com as solas dos pés sentindo o chão, fe-


che os olhos, inspire e expire profundamente por cin-
co minutos. Aí você permitiu que o organismo usasse a
respiração para impulsionar o Qi para os outros órgãos
– inclusive o cérebro. E você permanecerá atento ao seu
momento presente.
d Antes de voltar ao trabalho, use mais cinco minutos
para arrumar uma gaveta, um arquivo, a superfície da
sua mesa, ou o que puder ser arrumado. Tomar contato
com as coisas faz com que você memorize todo o mate-
rial e no decorrer da semana muito tempo será poupado
no sentido de procurar um documento, um objeto ou
mesmo um prazo de entrega de trabalho pode ter sua
data perdida por falta de organização.
d Agora, sim, reinicie o seu trabalho com força total. Não
se esqueça de sorrir; ele pode até não permanecer o tem-
po todo na sua face, mas não deve sair do seu coração.
Mesmo quando algo der errado e seu fígado estiver pres-
tes a explodir de raiva. Alimentar o fogo do seu fígado
vai fazer com que você consuma toda a energia delicio-
sa que retirou do seu dia. Gritar, esbravejar, resmungar
palavras negativas ou coisas parecidas só irão aumentar
ainda mais as labaredas do seu fígado. E aí com certeza
esse fogo descontrolado atingirá outros órgãos e con-
sequentemente você terá que administrar os sintomas
como gastrite ou úlcera, se o fogo do fígado atingir seu
estômago, por exemplo. E não é só isso: irritação, insô-
nia e até mesmo infarto se o coração for o alvo da sua
raiva e assim por diante.
d Por sete dias substitua grito por palavras doces – ou quem
sabe por uma canção. Aquela sensação de irritação ou
contrariedade troque pela lembrança de uma cena de
um filme ou mesmo a lembrança de uma viagem que

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186 Máera Moretto

você fez. Se a irritação ou a raiva persistirem, vá até um


lugar reservado, inspire profundamente e, em seguida,
solte o ar com muita força e emita um som de desabafo
pela sua garganta que deve vir do meio do seu peito.
Faça o som: HÂÂÂÂÂÂÂÂÂÂ quantas vezes forem ne-
cessárias, mas não alimente o fogo do seu fígado durante
sete dias.
d No meio da tarde, alimente-se num horário prefixa-
do. Repita as mesmas orientações do lanche da manhã.
Lembre-se, você deu um descanso para a sua mente en-
quanto saboreava seu lanche. Esse Qi retirado do ali-
mento reequilibra o baço, responsável pela nossa con-
centração. Mantenha o foco e não se perca envolvido
em pensamentos que não sejam a sua ocupação naquele
exato momento. Se isso acontecer, não será motivado
por uma deficiência da qual você antes não tinha con-
trole. Antes seu baço era deficiente, mas agora seria só
um mau costume.
d Quando chegar a hora de ir para casa, não saia corren-
do. Arrume sua mesa e seus pertences, caminhe sem
pressa. Despeça-se das pessoas com o mesmo sorriso que
as abordou pela manhã.
d Inclua algo agradável para fazer nesses sete dias de Pro-
jeto Samurai. Sejam exercícios, jantar em um restauran-
te, se dar um presente ou qualquer outra coisa que seja
prazerosa. Sentir-se bem e feliz é uma sensação muito
diferente do não se sentir mal; para isso cuide para que
essa sensação seja incluída no seu dia. Caso não consiga,
lute por ela. Porque cada vez que você sentir felicidade,
seja ela pelo motivo que for, seu coração se enche de
Qi. Quanto mais Qi circulante, menos somos vítimas das
situações que nos fazem perder o Qi. Se quatro sucessos

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O mestre do seu sistema 187

você viver no seu dia, não se abalará pela perda de Qi


que uma grande derrota pode lhe causar, pois sua reser-
va ainda será maior.
d Não se esqueça que deve estabelecer também um horá-
rio para o jantar. Se por acaso o jantar for o presente do
dia, ele também deve ter o horário respeitado.
d Defina o horário em que vai se deitar, pois durante es-
ses sete dias deverá estar em casa no mínimo três horas
antes de dormir.
d Antes de dormir, realize um ritual que envolva um ba-
nho gostoso, uma boa música ou um livro agradável.
Durante essa semana permita-se acumular informações
agradáveis, imagens bonitas, sons delicados e suavidade
em tudo o que chegar até você.
d Ao deitar-se, lembre-se de uma piada que alguém
tenha lhe contado, de um fato engraçado que tenha
acontecido anteriormente, ou mesmo de qualquer coi-
sa que o faça rir; esse será o boa-noite que você vai dar
para o seu fígado, uma vez que sorrir desestagna o Qi
do fígado, e ele é um dos responsáveis pela boa quali-
dade do seu sono.
d Lembre-se de apagar todas as luzes para tornar o am-
biente adequado, garantindo assim a boa qualidade do
seu sono. A iluminação faz com que seu fígado desperte
e o mantenha em alerta. É durante o sono que o Qi e o
sangue vão para o fígado para se refazerem. Sem sono,
não adianta retirar o Qi do ar e nem dos alimentos, pois
não haverá sangue para que os mesmos circulem pelo
organismo para levar à nutrição.
d No dia seguinte, quando der bom dia ao seu corpo, es-
preguiçando-se, já poderá notar os benefícios acumula-
dos no dia anterior.

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188 Máera Moretto

Os benefícios do Projeto Samurai foram tema de con-


versa entre Pedro e o mestre Shen Menn.

MESTRE Pedro, mesmo levando uma vida totalmente


desregrada e com horários contrários ao nosso relógio
biológico, ainda assim o Projeto Samurai pode ser prati-
cado com bons resultados para você.

PEDR O Não consigo imaginar como, pois na minha


profissão de ator, saio do trabalho muito tarde. Vou jan-
tar sempre depois da meia-noite. Bebo muito, durmo e
acordo muito tarde. Enfim como poderia adequar esse
projeto ao meu dia?

MESTRE Esse projeto pode se adequar à vida de qual-


quer um. Basta que você defina os horários a serem se-
guidos, tenha disciplina e persistência. Isso porque será
tentado pela preguiça, pela falta de paciência ou simples-
mente por não ter o hábito de cultivar bons costumes.

PEDR O Pois bem, mestre, aceito o desafio. Vou tentar


pôr em prática esse projeto por uma semana e depois
voltamos a conversar.

Na semana seguinte, Pedro chegou ao consultório


bem mais calmo. Sorria mais e até os seus movimentos
pareciam menos estabanados.

MESTRE E então, Pedro, como foi a sua semana?


PEDR O Confesso que não foi nada fácil. No início,
predeterminei que me levantaria da cama às 11 horas,
independentemente dos meus compromissos na noite
anterior. Por todos os dias esse foi o meu horário. Houve
dias em que eu fiquei muito cansado, me arrastava da
cama, mas levantava.

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O mestre do seu sistema 189

Dei atenção especial ao café da manhã como você pe-


diu. Normalmente acordava e logo almoçava. Ao contrá-
rio do que eu pensava, me senti muito bem acordando e
ingerindo algo mais leve.
Consegui tempo para fazer ginástica, encontrar os
amigos e foi incrível, pois até minha família passou a fa-
zer parte da minha semana. Até agora ainda não acredi-
to o quanto isso me ajudou. Também não me esqueci do
lanche com frutas duas vezes ao dia; foi estranho, pois
quase não como frutas, porém achei ótimo.
Às 15 horas, estava sentando para almoçar. Alimen-
tei-me com verduras e legumes. Fazia muito tempo que
não tinha uma sensação de bem-estar tão grande. E tam-
bém adorei dar uma descansadinha depois do almoço;
foram cinco minutos que valeram por muito tempo.
Às 17 horas sempre organizava algo em casa. Uma
gaveta, parte do armário, meus CDs. Acabei perceben-
do que minhas coisas estavam uma bagunça. Eu tinha
caixas de bugigangas que não olhava há anos e joguei
muita coisa fora. Hoje minha casa está até mais gostosa.
Isso porque foram só sete dias.
Às 20 horas já estava no teatro. Fazia a minha prepara-
ção e, nesse momento, incluía o Exercício Respirando em
Pé por cinco minutos. Em seguida, aproveitava para pen-
sar em passagens felizes da minha vida. E ainda reservava
mais quinze minutos de silêncio, porque, como você me
ensinou, isso equilibraria o meu excesso de euforia no pal-
co. E foi isso mesmo que aconteceu. Eu me senti mais pre-
sente na peça e menos desgastado no final do espetáculo.
Durante toda a semana, estabeleci que o meu jantar
seria à meia-noite. E consegui também não comer ali-
mentos pesados. Durante essa semana aboli o álcool.
Chegava em casa lá pelas 2 horas, tomava outro ba-
nho e não mais ia para a internet como fazia antes. Ago-

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190 Máera Moretto

ra estou lendo um livro que fala da história do teatro.


Redescobri o prazer de ler. Sem que percebesse, o sono
chegava – e a cada noite ficava mais fácil e mais rápido
adormecer.
MESTRE Que bom que você conseguiu adaptar o pro-
jeto ao seu cotidiano. Vejo que a sua qualidade de vida
está bem melhor e isso é um ótimo começo. O que mais,
Pedro?
PEDR O Essa semana foi muito diferente. Eu me lem-
bro de que você disse para olhar as cores, as paisagens,
os cheiros e sorrir mais. E eu acabei me policiando nos
dois primeiros dias para conseguir isso. Mas depois do
terceiro dia essa ação já acontecia de forma automática.
Foi incrível, no final da semana meus amigos vieram me
perguntar o que eu tinha feito, pois eu parecia mais feliz,
mais animado. Tudo aconteceu de forma natural – e é
tão simples.
Outra coisa que notei foi a disposição do meu corpo.
Meu cansaço sumiu no quarto dia. Meus movimentos
em cena melhoraram muito; eu realmente consegui fi-
car ligado no momento. Essa semana entrei em cena
sem medo e comecei a saborear os momentos e me di-
verti muito mais no palco, foi ótimo.
Muita coisa dessa semana eu não vou deixar sair da
minha vida nunca mais. E, em relação às crises, que
deve ser o que você está querendo mesmo saber agora,
elas não passaram. Às vezes querem aparecer, mas estou
aprendendo a lidar com elas. Viver o minuto presente
está me ajudando muito.
Por exemplo: eu percebia que as minhas crises eram
desencadeadas em dois momentos. Um, antes de entrar
em cena, pois eu começava a pensar que algo errado
iria acontecer e as pessoas me olhariam com reprovação.

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O mestre do seu sistema 191

Mas como eu estava proibido de pensar em coisas nega-


tivas ou fora do meu controle, resolvi repetindo a frase:
“Se algo der errado, paciência”. No quarto dia, parece
que eu tinha incorporado essa vivência e pensar de for-
ma positiva passou a ser automático. Nem meu coração
acelerou mais no sexto dia antes de entrar em cena; é
fabuloso como isso funciona.
O outro momento ruim era na hora de dormir, por-
que sentia uma agitação que me levava a pensar coisas
negativas. Mas acho que pelo fato de acordar no mesmo
horário, de fazer esporte e de comer melhor, agora pare-
cia que eu simplesmente estava mais disposto a dormir.
E, como não permitia que a minha mente repetisse coi-
sas ruins, eu respirava, pensava na sensação dos cinco
minutos e por fim adormecia.

MESTRE Na verdade esse é o resultado do Projeto Sa-


murai. Essa experiência fez com que você se alimentasse
melhor, permitindo que o seu organismo retirasse o Qi
dos alimentos de forma mais eficiente. E com isso sobrou
mais Qi para o seu coração. Esse Qi acalmou sua mente.
Por outro lado, você parou de usar o computador antes
de dormir. A claridade da tela do computador nos seus
olhos fazia com que o seu fígado permanecesse em esta-
do de alerta. Isso gastava muita energia e inibia o sono.
Além disso, sem o álcool e livre de pressões causadas
por você mesmo, seu fígado parou de ter suas chamas
descontroladas. E prestar atenção nas coisas agradáveis
o acalmou ainda mais.
Talvez você nem tenha percebido, mas a intensida-
de com que sua mente o perturbou deve ter sido me-
nor. Por outro lado, você ficou mais acordado não só
no sentido de dormir menos, mas de estar atento às
coisas boas, aos momentos bons e à beleza. Isso gera o

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192 Máera Moretto

equilíbrio da vida; e dela retiramos a energia necessária


para lutar contra as cobranças e pressões. Fico muito
satisfeito com suas conclusões, mas gostaria de sugerir
que você repetisse na íntegra esse projeto umas duas
vezes ao ano, pois só assim você conseguirá prolongar
tais hábitos por mais tempo em sua vida.

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15. O eu interior e a cura
Pare o que você está pensando agora e responda:
como você está se sentindo neste momento? Seu om-
bro está tenso? Suas mãos estão relaxadas ou você as
conserva fechadas desnecessariamente? E seu maxilar,
está solto ou você está apertando os próprios dentes uns
contra os outros?
Você já se questionou sobre tudo isso hoje? Você cos-
tuma responder a essas questões? Porque a maioria das
pessoas nem sequer sabe definir o que sente. E isso as
leva a um emaranhado de emoções que acaba por colo-
car em xeque-mate as respostas da mente.
Para a Medicina Chinesa, o fato de o Qi e o sangue
caminharem juntos é tão importante quanto a mente e o
corpo se movimentarem na mesma direção. Ou seja, em
relação às emoções, a mente é responsável por reconhecer
uma situação. E, através do corpo, ela reage a essa situa-
ção, por intermédio dos movimentos de sorrir, chorar, se
agoniar, tremer, o coração disparar, a respiração se alterar.
Assim, mente e corpo caminham juntos, mas, se a
mente não for forte o suficiente, ela pode distorcer as
respostas do corpo. Por exemplo: quando você está em
perigo, seu coração acelera para que você possa fugir se
for preciso. Isso coloca todo o seu corpo em alerta, com
os músculos em prontidão, a respiração alterada e outras
coisas mais.
Se sua mente estiver enfraquecida pela deficiência de
Qi, por exemplo, ela pode entender que o simples fato de
atravessar a rua seja um fator de grande risco e começa
a provocar os mesmos sintomas que são desencadeados
em uma situação de perigo real.

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194 Máera Moretto

E assim, como resposta, seu corpo acelera o coração,


transpira frio, a respiração torna-se rápida, superficial,
etc. Isso pode acontecer várias vezes ao dia, desencadea-
do por inúmeras outras informações, como a própria ten-
são no pescoço.
Quando nos encontramos em perigo, o fígado aciona
músculos e tendões para preparar-nos para a fuga – uma
vez que esse órgão rege os nossos músculos e tendões. Mas,
se sua mente é fraca, ou mesmo se você dormiu de mau
jeito, acordando com dor na musculatura dos ombros, essa
simples tensão muscular pode ser traduzida pela mente
como uma forma de perigo. Para ela, se o fígado colocou
os seus músculos em prontidão é porque existe um perigo
real. E dessa forma desencadeia todos os outros sintomas
já conhecidos, como taquicardia, transpiração e outros.
A deficiência de Qi ocasiona a falta de discernimento
da mente em relação à origem da tensão. Ela não enxer-
ga mais a situação e passa a responder de acordo com o
movimento do corpo. Para a tensão no ombro, a mente
em pane entende que o fígado acionou os músculos na
intenção de nos defender do perigo. Nem cogita que essa
tensão possa ter vindo de um trauma; ou de carregar
peso; ou ainda de dormir de mau jeito.
Muitas vezes você se sente irritado e simplesmente
pode estar com fome, sede ou precisando ir ao banheiro,
como vimos no capítulo anterior. Pode estar sentindo
falta de ar ou apenas com uma roupa que está apertando
seu tórax.
Portanto, definir essas situações de forma conscien-
te é de extrema ajuda até que sua mente recupere o
Qi e possa cumprir essa função naturalmente, sem que
precisemos estar olhando para o nosso interior o tempo
todo para vigiar nossas sensações e sentimentos várias
vezes ao dia.

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O mestre do seu sistema 195

Vigiar essas sensações é importante para identifi-


carmos também o que nos faz bem e o que nos deixa
felizes. E assim possamos nos dar mais presentes. Pois
quando nos sentimos felizes nosso corpo reage com um
delicioso sorriso. Da mesma forma que o perigo prepara
nosso corpo para fugir, o sorriso alerta nosso corpo para
sentir felicidade.
Porém, não estamos nos referindo ao sorriso amare-
lo, aquele que acontece só com os lábios. Se você reparar
em uma pessoa realmente feliz, verá que ela sorri com os
olhos. E os olhos são o espelho da alma, que mora no fí-
gado; portanto, sorrir com os olhos de forma verdadeira
acalma o fígado – além de movimentar o Qi do coração.
Como o dia a dia só nos faz estagnar o Qi do peito,
com nossos excessos de movimento, de pensamento, de
cobranças, etc., essa estagnação provoca mais ansieda-
de, alterações no sono, pesadelos e palpitações. Sentir-se
feliz anula tudo isso; então defina o que gosta para se
presentear; assim livrará seu coração da ansiedade e sua
noite, da insônia.
Por isso, saber o que lhe faz sorrir com os olhos é
o caminho para sentir-se feliz muitas vezes no seu dia.
Além disso, cada vez que você sorri com os olhos para al-
guém, você convida a alma dos olhos dessa pessoa a sen-
tir felicidade. Experimente sorrir com felicidade, mude
o seu dia e o das pessoas que forem presenteadas com o
seu sorriso.
Aprender a identificar a raiva, entender o que nos
faz despertá-la e qual a melhor forma de reagirmos é o
cerne da questão. Pois se você parar para lembrar a últi-
ma vez que se alterou e gritou com alguém, vai perceber
como sua raiva não foi amenizada. Depois da discussão
ou explosão, aquela sensação continuou apertando o
seu peito. E você sabe por que isso acontece?

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196 Máera Moretto

Reagir de modo explosivo acende o fogo do fígado a


tal ponto que ele sobe em direção à sua cabeça, gerando
uma enorme explosão – de raiva! Agora, mesmo se a
emoção sentida não for raiva, o movimento de gritar faz
com que o fogo do fígado suba da mesma maneira e você
poderá ter a mesma explosão.
Você pode estar incomodado com um assunto pessoal
quando, ainda por cima, seu estagiário faz um erro. O
ideal seria identificar que seu desconforto é com o assun-
to pessoal e não com o subalterno. Só assim você usaria
seu conhecimento interior para modificar uma atitude
extremamente desnecessária – isto é, uma explosão com
seu colaborador.
E com isso, além de não magoá-lo, você seria o
maior beneficiário dessa atitude. Não perderia Qi, não
provocaria a ascensão do fogo do seu fígado – uma
vez que esse fogo em excesso pode fazer de você a
sua própria vítima. E mais: esse mesmo fogo do fígado
pode invadir seu coração e causar um infarto entre
outros estragos.
Voltar-se para o seu interior e também identificar o
que realmente lhe deixa triste é fundamental para que,
da mesma forma que você aprendeu a lidar com a raiva,
saiba se relacionar com sua tristeza.
Em primeiro lugar, verifique se tem motivos reais
para estar triste ou se simplesmente essa tristeza não
pertence a você, mas é algo que aconteceu com um ami-
go ou parente – ou se está triste por algo que ainda nem
aconteceu, como a morte de alguém; a evolução de uma
doença que pode ou não piorar.
A tristeza depaupera o Qi do pulmão através do cora-
ção. Isso porque o coração fica agitado, confinado àquela
emoção e, consequentemente, comprime o pulmão fa-
zendo com que este se manifeste.

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O mestre do seu sistema 197

Segundo a Medicina Chinesa, o pulmão é o respon-


sável pela defesa do nosso organismo. Portanto, sem
Qi ele não o defende e a imunidade do organismo cai.
Além disso, quanto mais Qi o pulmão perder, menos
força ele terá para retirar o Qi do ar e usar o Qi dos ali-
mentos. Ele entra em um padrão contínuo de declínio
em que tristeza acaba chamando mais tristeza; a voz fica
fraca, o desânimo se instala, e torna-se um processo di-
fícil de reverter.
Nesse caso, identifique a tristeza e, se perceber que
ela é relativa a algo que pode ou não acontecer, ou
mesmo algo que não lhe diz respeito, fuja dessa sensa-
ção. A tristeza afasta você do sorriso. E chama para fora
as lágrimas, outra forma de manifestação do fígado. Aí,
quanto mais você chora, mais seu fígado se manifesta
em forma de lágrimas e mais você quer chorar, poden-
do ter início um processo depressivo por esgotamento
de Qi.
Então, reconheça sua tristeza. Se não for relativa ao
agora, ou não pertencer a você, saia dessa frequência
através de presentes, sorrisos e distrações. Mas, se o
motivo da tristeza for real, respeite e libere suas lágri-
mas. Porém, saiba a hora de parar, pois quando você
para de chorar o Qi do fígado se reorganiza e você se
sente melhor.
Portanto, defina a angústia, a ansiedade e todas as
emoções que puder sentir, pois isso ajuda sua mente a
reagir através do seu corpo de forma coerente, poupan-
do o tão precioso Qi.
É muito importante sentir essas emoções. Porém,
mais importante ainda é não sermos dominados por
elas. Para isso, temos que dominar a nossa reação a elas
– de forma a sermos beneficiados. Isso só será possível se
soubermos identificá-las.

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198 Máera Moretto

Convido você a olhar para dentro como primeiro


passo. Você deve aprender a se desligar do barulho
do mundo lá fora. E, quando falo do mundo exterior,
me refiro também a todo o barulho que sua mente
faz na forma de pensamentos e cobranças referentes
ao mundo lá fora. Portanto, vamos aprender a silenciá-
-la através da meditação, para podermos ouvir o nosso
interior.

Aprendendo a meditar
Da mesma forma que você exercita seu corpo em
busca de saúde, é através da meditação que treinamos a
mente em busca de equilíbrio.
Quando você faz exercício físico, deve aquecer o cor-
po preparando-o para a ação. A meditação também deve
ser precedida por uma espécie de aquecimento, só que
este tem a intenção da não ação, do silenciar. Vamos
mergulhar no mundo interior para compreender que
existe quietude também no mundo exterior.
Se você nunca meditou, existem alguns exercícios
que podem treinar a sua concentração para isso.

,
Exercicio 5 - Contando palavras
Um aquecimento para silenciar a mente é o exercício
de contar as palavras de um livro. Vamos a ele:

d Sente-se confortavelmente. Escolha qualquer livro ou


revista à mão. Lembre-se: você não vai lê-lo, portanto o
assunto e a língua não importam nesse caso.

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O mestre do seu sistema 199

d Preste muita atenção nesse movimento de, simplesmen-


te, contar cada uma das palavras do livro. Comece con-
tando duas páginas.
d Quando sua mente for invadida por algum pensamento
que não seja os números das palavras, volte para o início.
d Use 100% da sua concentração, de forma a impedir que
outros pensamentos invadam sua mente.
d No dia seguinte, conte as palavras de quatro páginas.
E, novamente, se você se perder no meio do caminho,
ou for invadido por pensamentos, volte para a primeira
palavra da primeira página e recomece. A intenção aqui
é calar a sua mente.
d Depois de pelo menos duas semanas desse exercício dia-
riamente, a sua mente desenvolve um poder de concen-
tração tão grande que os barulhos externos não mais o
incomodam.

,
Exercicio 6 - Imaginacao
,
˜
e visualizacao
,
˜

Outro exercício muito eficiente para treinar sua con-


centração é imaginar uma cena prazerosa. Como exem-
plo, escolhemos a cena abaixo, mas você pode substituí-
-la por outra.

d Imagine-se em uma praia deserta, com o mar azul, on-


das com espumas brancas.
d Sinta o cheiro do mar.
d Sinta a textura da areia nos seus pés, a temperatura dos
grãos, a maciez e a leveza que o contato com sua pele
revelam.

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200 Máera Moretto

d Ouça o som dos pássaros e, nesse cenário, deixe sua


mente livre para se fixar em coisas agradáveis.
d Crie a sua história, com sensações alegres e interaja com
o cenário: os animais, a vegetação, o vento, a tempera-
tura, etc.
d Novamente, se no meio do caminho sua mente inter-
ferir com algum pensamento, volte ao início da cena e
comece tudo novamente.
d Essas visualizações podem ser praticadas no trânsito, na
fila do supermercado, na sala de espera do dentista ou
em qualquer outro lugar. Você só precisa criar e se con-
centrar na sua criação, vivenciando cada detalhe.
d Pela ótica oriental, esse exercício faz com que o Qi e o
sangue circulem no seu organismo. Assim, sua mente
sente como se fosse real e você se transporta para aque-
la praia, montanha ou outro cenário de seus sonhos. A
mente se desliga totalmente de suas preocupações ao re-
conhecer a sensação de bem-estar.
d Quanto melhor sentir a cena, mais sua mente consegui-
rá se concentrar nela e você terá mais benefícios para
seu Qi e sangue.

,
Exercicio 7 - Uma meditacao
,
˜

Agora que você se concentrou, vamos sentar para


meditar.

d Procure um ambiente calmo, com clima agradável.


d Sente-se confortavelmente em uma cadeira ou almofa-
da com o cuidado de manter sua coluna ereta.
d Relaxe todos os seus músculos.

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O mestre do seu sistema 201

d Certifique-se de que poderá manter-se nessa postura


por cerca de dez minutos inicialmente, para que mais
tarde esse tempo seja aumentado.
d Simplesmente inspire e expire compassadamente, per-
mitindo que sua mente se livre de qualquer pensamento
ou preocupação.
d Insista neste exercício até sentir-se bem.

Figura 9

Pessoa meditando

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202 Máera Moretto

Não será fácil de início, pois sua mente e seu corpo


não estão acostumados a permanecer imóveis – já que
para seu inconsciente o sinônimo de estar vivo é estar
em constante movimento –, mas será muito recompen-
sador para a sua saúde a curto prazo.
Algumas vezes, seu corpo resiste à imobilidade com
formigamentos, coceiras ou pensamentos intrusos que
acabam por desviar a atenção da meditação (como já vi-
mos). E esse foi um dos obstáculos encontrados por Má-
rio durante sua prática.

,
M a RIO Sabe, mestre, eu tentei sentar e desligar a
minha mente como disse que faria. Mas acho que para
mim esse é um exercício impossível. É que minha mente
não para; a perna dói e a minha respiração, ao invés de
se acalmar, acelera demais.

MESTRE Nunca lhe disse que seria fácil, mas tenho


certeza de que é totalmente possível para qualquer um
que tenha persistência. Portanto, eu o convido a sentar-
-se confortavelmente, fechar os olhos e se desligar dos
seus pensamentos agora mesmo.
Mário acomodou-se em uma almofada, fechou os
olhos, endireitou sua coluna e ali permaneceu. Enquan-
to isso Shen o orientava de forma sutil.

MESTRE Mário, respire, preste atenção no ar que entra


e sai dos seus pulmões. Certifique-se de que sua movi-
mentação torácica esteja livre de tensões. Relaxe a man-
díbula e a língua. Repouse as mãos em seu colo de forma
que os músculos dos ombros, braços e mãos estejam to-
talmente soltos e relaxados.
Imagine um ponto brilhante no meio do seu cérebro,
mas imagine-o sem fazer força para pensar nele, vizua-
lize-o de forma que ele simplesmente faça parte do inte-

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O mestre do seu sistema 203

rior do seu cérebro de forma relaxada e harmoniosa. Um


ponto brilhante no meio de toda a escuridão.
Quando estiver confortável, simplesmente apague o
ponto e permaneça contemplando somente a escuridão.
Se algum pensamento se aproximar, não brigue com
ele, simplesmente deixe-o passar.
Volte para o nada, para a ausência de luz, som, cor
ou imagem. Quando outro pensamento se aproximar,
deixe-o ir – é como se seus pensamentos fossem ape-
nas uma fumaça densa que o impede de enxergar do
outro lado, mas que mesmo sendo densa é tão leve e
fluida que facilmente é levada pelo vento e vai se des-
fazendo perante aos seus olhos deixando de impedir
sua visão.
Agora, se você pensar ou visualizar qualquer coisa,
simplesmente não lute com ela; deixe-a se desfazer len-
tamente.
Se por acaso seu pé ou outra parte qualquer do
corpo começar a formigar, doer ou incomodar, tam-
bém não lute com a sensação, não se mexa e convi-
de-a a entrar. Volte-se para a parte do corpo que está
incomodando.
Preste atenção ao incômodo, perceba, examine e não
se mova – logo vai notar que lentamente ele vai paran-
do de formigar, de doer ou qualquer outro desconforto,
permitindo que assim você volte para a ausência de pen-
samentos, imagens e sons.
Doze minutos se passaram e Mário continuava ali
imóvel. Agora seu rosto mostrava uma expressão leve,
doce. Até mesmo os vincos de sua testa tinham total-
mente desaparecido, dando lugar a um brilho que antes
era encoberto por linhas de preocupação.
No décimo terceiro minuto, Shen convidou-o a des-
pertar.

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204 Máera Moretto

MESTRE Mário, inspire profundamente, expire e len-


tamente volte a consciência para o seu corpo. Inspire,
expire e volte sua consciência para a temperatura ex-
terna, para o ambiente que o cerca. E, enquanto respi-
ra, comece a despertar lentamente espreguiçando o seu
corpo e abrindo os olhos.

Alguns segundos depois Shen pergunta:

MESTRE E então, Mário, como você se sente?


,
MARIO Sinto-me muito bem. Não achei que seria
possível, pois, no começo, minha mente, como sempre,
não parava.
MESTRE O que vinha à sua mente?
,
MARIO Eram imagens, coisas que eu tenho que fa-
zer. Tudo o que você possa imaginar passou pela minha
cabeça. Mas, quando comecei a não mais lutar contra o
pensamento, quando comecei a deixar os pensamentos
simplesmente irem embora da mesma forma que vie-
ram, eles começaram a diminuir. Só que nessa hora a
minha perna começou a formigar.
MESTRE E como você lidou com isso?
,
M a RIO Começou a ficar doloroso. Quase desisti. Aí,
justamente nesse momento, você começou a falar para
eu deixar entrar qualquer desconforto. Não fugir, prestar
atenção ao incômodo. E, conforme eu ia focando a mi-
nha atenção na perna, sem luta, ia perdendo o medo da
sensação. E percebi que o incômodo foi diminuindo, até
que simplesmente houve um momento em que ele não
estava mais lá, passara totalmente.
MESTRE Depois que aquele desconforto foi dominado
por sua coragem, o que você fez?

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O mestre do seu sistema 205

,
M a RIO Voltei para o vazio da minha mente. Vez ou
outra, um pensamento tentava aparecer. Mas eu já esta-
va ficando craque em deixá-los passar. No final, estava
tão bem, tão confortável que não queria despertar. Por
mim ficaria mais tempo na meditação. Agora me sin-
to relaxado, mas presente. Estou muito bem e não me
lembro de ter me sentido assim antes. Vou repetir esse
exercício em casa mais vezes.

MESTRE Muito bem, Mário, tudo o que você falou está


dentro do esperado. Tanto os pensamentos indesejáveis
como os incômodos físicos e principalmente o bem-estar
após a prática. Os pensamentos ocorrem porque não es-
tamos acostumados a simplesmente parar de pensar. O
corpo vai incomodar, pois também não está acostumado
a parar. E a vontade de se mexer, de sair do lugar para
interromper a dor ou o formigamento se refere ao nosso
instinto de sobrevivência, ao nosso medo de perder o
controle, pois sem o tão conhecido controle nossa vida
estaria em risco.
Quando você disse que estava prestes a desistir, aciona-
va o seu instinto de manter-se vivo e inteiro. Isso porque
não sabia o que poderia encontrar caso se deixasse levar.
Nós nunca nos soltamos, temos medo do desconhecido e
então o bloqueamos; mantemo-nos em alerta; no contro-
le o tempo todo; e assim consumimos nossa energia.
Quando encontramos coragem para nos entregar ao
vazio, poupamos e revitalizamos todos os nossos sistemas.
E assim conhecemos um enorme bem-estar. Há a sensa-
ção de que está tudo bem justamente porque você pode
confiar, se entregar, relaxar – isso é estar no controle.

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16. A crise e a cura
Quando você corre com frequência, muda sua con-
dição de sedentário para maratonista. Da mesma forma,
se fizer um treino adequado da sua mente, você pode
passar de um estado permanente de ansiedade ou até de
pânico para a tranquilidade e autocontrole.
Mas isso só é possível se houver dedicação e atenção
às suas emoções e reações. Se você perceber alguma al-
teração no seu corpo, ou achar que está próximo a ter
uma crise de ansiedade, pânico ou simplesmente à beira
de perder o controle de si mesmo, em qualquer situação
que seja, precisa ter em mente algumas ideias básicas
que vão lhe direcionar ao caminho de volta.
Para isso, procure praticar as dicas a seguir e men-
talizar as frases. Elas são resultado de uma série de ex-
periências reais que ajudaram várias pessoas. Nossa in-
tenção é fazer com que você não chegue ao seu limite e
assuma o controle antes que a crise se instale.
Quando você sente falta de ar, coração acelerado
ou mesmo a sensação de que a pressão caiu, vá para
um lugar mais tranquilo, longe dos olhos curiosos das
pessoas.
Procure um ambiente com temperatura fresca e agra-
dável. O vento em excesso estimula mais ainda o fígado;
o calor quando é demais agride o coração; o frio em ex-
cesso faz com que seu rim ative memórias de medo; e a
secura, o abafado em excesso, faz com que seu baço não
retire o Qi de forma adequada.

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O mestre do seu sistema 207

Dicas para momentos de crise


d Fique em silêncio poupando o seu Qi.
d Não descreva suas sensações para as pessoas à sua volta
nesse momento. Isso pode intensificar os sintomas.
d Solte o ar devagar, esvaziando todo o peito.
d Identifique qual foi o motivo que desencadeou os seus
sintomas.
d Reflita se o motivo é tão real a ponto de justificar as
suas reações naquele momento – ou se o seu organismo
simplesmente está tendo uma resposta exagerada à de-
terminada situação.
p Caso não consiga identificar o motivo, não se importe
com isso. Mas, atenção: não transforme a busca da res-
posta em mais um motivo de tensão.
p Enquanto você respira profunda e pausadamente,
lembre-se de que isso já aconteceu com você inúme-
ras outras vezes. E esse mal-estar sempre vai embora e
não oferece perigo para a sua saúde.
p Procure lembrar-se de outras ocasiões em que ele veio
e passou.
p Relembre-se de como tudo voltou ao normal das últimas
vezes. E repita mais uma vez: “Tudo vai ficar bem”.
p Acima de tudo não se esqueça de que sua mente está
sem morada, sem rumo e por isso você sente essa sen-
sação ruim.
p Como você está sem rumo, a mente não tem discerni-
mento para saber o que realmente oferece perigo ou não.
p Use seu consciente e repita muitas vezes para você
mesmo: “Está tudo bem. Isso já aconteceu antes e
sempre passou, por que não passaria dessa vez!”

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208 Máera Moretto

p Se você estiver em público, vá para um banheiro. Ex-


pire fundo – a essa altura, seu peito deve estar cheio
de ar, diminuindo o espaço para que o ar novo entre.
E essa pode ser a causa de uma possível falta de ar.
p Então comece expirando todo o ar que tem no pulmão
e somente depois inspire novamente. Pela Medicina
Chinesa, o expirar faz com que você alivie o tórax para
que este possa receber mais Qi do ar.
p Molhe os pulsos e a nuca e preste atenção à sensação
da água gelada na sua pele. Isso desvia sua mente do
mal-estar e acorda outros sensores que serão de funda-
mental importância para que você reverta o quadro.
p Repita que você já vai melhorar.
p Se possível, ponha as palmas das mãos cobrindo os
olhos para que estes não recebam estímulos lumino-
sos. Nesse momento, o sangue vai, por alguns minu-
tos, para o fígado para ser refeito; isso faz com que
ele chegue ao coração e a mente com uma quantidade
maior de Qi, melhorando o seu estado geral.
p Verifique como está o seu corpo; se existe tensão nos
seus músculos, o primeiro passo é tentar relaxá-los,
assim você desarma o comando que o fígado deu para
que o corpo permaneça em alerta.
p Respire fundo e, enquanto expira o ar, lentamente
inicie o relaxamento da face. Imagine a musculatura
da testa relaxando; sinta as sobrancelhas descerem; a
testa desfranzir; os olhos simplesmente relaxarem en-
quanto os dentes se afastam levemente. A mandíbula
se solta, e a face é ocupada por uma sensação gostosa
que vai descendo pescoço abaixo.
p Enquanto inspira e expira lentamente, essa sensação
vai invadindo seus ombros, que vão relaxando, tendo

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O mestre do seu sistema 209

sua tensão diminuída. Essa onda de relaxamento vai


descendo lentamente pelos braços, soltando, relaxan-
do-os até atingir suas mãos.
p Dê atenção especial às mãos. Solte os dedos, relaxe os
punhos, perceba todo o seu braço com um peso dife-
rente do que costuma sentir, um peso de relaxamento,
um peso agradável.
p Enquanto inspira e expira de forma contínua e gra-
dual, esvaziando totalmente o peito de ar, sinta o seu
tórax livre de tensão; sinta o movimento de expansão
das suas costelas.
p Sinta o ar formar um cinturão redondo em volta da
sua cintura enquanto você mantém o seu esterno –
que é aquele osso que fica no meio do peito – para
dentro e para baixo.
p Faça nove respirações abdominais com toda a parte de
cima do corpo relaxado, principalmente ombros e man-
díbulas soltos, enquanto sente toda barriga se expandir
em todas as direções formando o cinturão de ar.
p Em seguida, sinta o movimento de saída do ar até que
não reste mais nada no seu peito. Depois da nona respira-
ção, sinta a sua cintura pélvica relaxando, solte as náde-
gas, os músculos da coxa, os joelhos, os tornozelos e por
último os seus pés, solte os dedos, relaxe os pés no chão.
p Concluído o relaxamento do corpo, faça mais nove
respirações com o tórax, movimentando as costelas
para dentro, sentindo o cinturão de ar.
p Olhe para o escuro, se o ambiente permitir.
p Solte o ar mais do que inspira, para que assim o seu
pulmão possa retirar uma quantidade maior de Qi do
ar, de forma a acalmar seu coração e sua mente.

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210 Máera Moretto

p Agora, com essas respirações e relaxamento, você já


está melhor. Então, procure um lugar no qual você se
sinta seguro ou uma mente consciente na qual você
confia. Já que, no momento, você não tem um racio-
cínio claro.

Não fique sozinho. Busque companhia, mas com-


panhia de confiança. Nesse momento, alguém que lhe
diga palavras de confiança será muito bem-vindo. É
preciso se acalmar – e palavras que ajudem nesse sen-
tido são aceitas pela sua mente como verdadeiras. Pois
sua mente assume a razão da outra pessoa como sendo
capaz de avaliar de forma real os riscos que você corre
nesse momento.
Cuidado, pois o contrário também é verdadeiro: se
nessa hora alguém se apavorar e falar coisas que não
mostrem segurança, você realmente acreditará que está
doente. Por isso, cuidado.
Lembre-se de que o cérebro interfere no seu corpo
tanto quanto o corpo interfere no cérebro. Por exemplo,
um pensamento ruim pode provocar medo, ansiedade,
tristeza, etc. e esses sentimentos são vivenciados pelo
corpo alterando seus batimentos cardíacos, a temperatu-
ra da sua pele, sua respiração, a tensão dos seus múscu-
los e muito mais.
Existe um ponto de acupuntura usado em momen-
tos de emergência, que se encontra logo abaixo da linha
média do nariz entre o lábio superior e a raiz medial do
nariz; este ponto deve ser estimulado com a unha, obli-
quamente em direção ao cérebro. É um ponto muito
eficiente para restaurar a consciência, acalmar a mente
e revigorar o Qi. Aperte por alguns segundos e solte em
seguida, repita quantas vezes forem necessárias.

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O mestre do seu sistema 211

,
A familia e os amigos na crise
Quando você estiver sentindo o seu coração acelera-
do e achar que vai infartar, é importante ter alguém em
quem você confia ao seu lado, segurando na sua mão e
repetindo: “Calma, isso já aconteceu antes, é só uma an-
siedade que logo vai passar”, ou mesmo repetir: “Calma
está tudo bem, estamos seguros”; ou “Estamos a cami-
nho do hospital e logo tudo ficará bem, respire que logo
tudo vai passar”.
Essa seria a atitude ideal em um momento de crise.
Mas nem sempre é o que encontramos, pois a desinfor-
mação da família e dos amigos, na maioria dos casos,
somente agrava os sintomas tornando muito difícil a re-
cuperação do paciente.
Gabriela por muitas vezes relatou que no auge de
algumas crises, com falta de ar, palpitação e tonturas,
pedia ajuda de seu marido para buscar as crianças em
uma festa ou compromisso, evitando sair e dirigir na-
quele estado. O marido, por sua vez, de forma grosseira,
repetia que, segundo os resultados dos seus exames, ela
não tinha nada. E então que parasse de frescura e fosse
buscar as crianças, pois todas essas sensações eram so-
mente coisas da sua cabeça.
Isso é um exemplo do despreparo da família em re-
lação a tal desequilíbrio. Esse tipo de atitude só reforça
a insegurança, os medos e, consequentemente, os sinto-
mas que a pessoa está sentindo.
Nessa hora, o correto seria convencê-la de que está
tudo bem e acompanhá-la no compromisso. Assim, com
o passar do tempo, depois de algumas vezes que esse fato
se repetisse, ela mesmo iria começar a se sentir segura e
deixaria de desencadear os sintomas de mal-estar.

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212 Máera Moretto

Andrea conta que no ano passado viveu um perío-


do de grande estresse que desencadeou crises de pânico.
Segundo ela, o que mais temia é que durante as crises o
lugar mais seguro que encontrava era a sua casa, onde
morava com os pais e uma irmã. Mas, quando a mãe a
via pálida ou com a sensação de frio, falta de ar ou o que
quer que fosse, logo entrava em desespero. Ficava repe-
tindo que ela estava pálida ou gelada e era o que basta-
va para que Andrea precisasse ir ao pronto-socorro. Ela
conta que muitas vezes nem estava se sentindo tão mal,
mas as observações repetidas de sua mãe pareciam tão
convincentes que realmente desencadeavam uma crise.
Nunca devemos reforçar os sintomas de quem está
numa crise. O que essa mãe deveria fazer, sabendo que
ela passava por uma crise de pânico, seria simplesmente
permanecer ao lado dela, observando sua reação e atitu-
des, estando pronta a ajudá-la caso ela pedisse ajuda.
Juliana conta que sua mãe telefonava cinco vezes por
dia para saber se ela estava sentindo palpitações ou algo
parecido. Seria ótimo ouvir a mãe várias vezes, pois as-
sim poderia se sentir cuidada e amada. Mas para falar
coisas boas e positivas. Entre uma ligação e outra, ela
saberia se sua filha estava ou não se sentindo bem. E, se
não estivesse, Andrea mesma acabaria falando, em vir-
tude da confiança transmitida por sua mãe.
Isabela relata que, na intenção de ajudar a distraí-la, o
marido alugava filmes para que vissem juntos, mas eram
sempre filmes que envolviam sangue, hospital ou tragé-
dias que acabavam por iniciar mal-estar, taquicardia, etc.
A pessoa que está passando por um quadro de dese-
quilíbrio deve ser poupada de qualquer assunto que en-
volva morte, acidente, desgraça ou hospital. Sua mente,
de certa forma, teme tudo isso e, portanto, os filmes e
assuntos dessa natureza devem ser evitados.

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O mestre do seu sistema 213

O papel da família é fundamental para que essa pes-


soa recupere sua segurança e bem-estar. Por isso, os fa-
miliares devem buscar informações sobre o caso que es-
tão vivenciando para que melhor possam colaborar.
O fato de os exames laboratoriais não indicarem
qualquer alteração não significa que a pessoa esteja in-
ventando sintomas tão desagradáveis. As sensações são
reais e cada uma delas tem uma explicação viável para
acontecer. Portanto, conversar com o médico especialis-
ta faz da família o maior aliado para a cura do paciente.

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17. Os alimentos e a cura
Um dia alguém disse: você é o que come. Então os
mais crédulos levaram a frase ao pé da letra e, como bons
aprendizes em busca da saúde perfeita, rechearam seus
pratos com os alimentos mais caros da prateleira, com as
embalagens mais bonitas, de preferência importados. No
entanto, o exagero dessa prática de se alimentar desre-
gradamente pode causar desequilíbrio.
Quando aquelas pessoas se deram conta do tamanho
do desequilíbrio, indagaram-se com estranheza: como
posso estar passando por tais alterações se não economi-
zo dinheiro algum na minha alimentação?
O alimento age de forma direta no organismo. Trata-
-se de uma fonte de cura natural. Porém, quando inge-
rido de forma errada, ele pode elevar o nível de gordu-
ra no sangue, causar obesidade ou desnutrição; e ainda
induzir lentamente a gastrites, úlceras e alterações in-
testinais. Essas pessoas passam o tempo em consultas
médicas e a sobremesa é um comprimido digestivo.
Mas é no problema que se encontra a solução. Não é
o preço do alimento que define a sua capacidade de cura
ou nutrição; pelo contrário, quanto mais simples e de
fácil alcance, mais ele serve para você.
Segundo a Medicina Chinesa, o alimento vem da
terra e sofre influência do clima e do ambiente. Portan-
to, no Verão em um país tropical, por exemplo, a terra
nos presenteia com uma grande variedade de frutas e
verduras que refrescam. Por isso, ao buscar alimentos
em outro país, cujo clima é diferente do seu, você pode
estar indo contra aquilo que seu organismo precisa na-
quela estação.

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O mestre do seu sistema 215

Da mesma forma, os alimentos próprios de cada


estação são mais fáceis de ser encontrados, pois são
abundantes, vêm carregados com a energia da esta-
ção e são os mais baratos das prateleiras. Justamente é
o que seu organismo precisa ingerir, pois, como sábia
que é, a natureza providencia o equilíbrio do seu corpo
através do fruto que a terra nos dá. Então, sirva-se e
cure-se.
A alimentação ideal deve ser formada pelas cinco co-
res: branco, preto, verde, vermelho e amarelo; e os cin-
co sabores: picante, salgado, azedo, amargo e doce. Tem
que se respeitar o clima, ingerindo alimentos que aque-
cem no inverno e refrescam no verão.

,
Reconhecendo o desequilibrio
Segundo a MTC, existem alimentos que aumentam
o calor interno do corpo e outros que o esfriam interna-
mente. Isso quer dizer que, se você ingerir pimenta, por
exemplo, a propriedade inerente desse alimento fará seu
corpo esquentar. Assim como a hortelã tende a esfriar o
organismo, mesmo em forma de chá quente.
Há ainda alimentos especiais para equilibrar o Qi dos
principais órgãos. Por exemplo, existem alguns que nu-
trem o Qi do baço e favorecem a função primordial do
sistema baço/pâncreas, que é retirar energia dos alimen-
tos e enviar para os demais órgãos. Outros ainda equili-
bram o Qi do fígado, coração e rim.
Conhecer as propriedades dos alimentos certamente
transformará seu prato em fonte natural de saúde. Para
isso devemos saber quando cada alimento deve ou não
ser usado. E o que vai direcionar seu uso são os estados
de equilíbrio ou desequilíbrio em que se encontram os

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216 Máera Moretto

órgãos, seja por excesso de Qi, YIN, YANG ou sangue,


além de estagnação ou falta de energia.
Exemplos: uma alimentação gordurosa e muito con-
dimentada, assim como o abuso do álcool, produz calor
e até mesmo estagnação de Qi e de sangue. Segundo a
MTC, o excesso de azedo relaxa os vasos e agride a es-
sência e o espírito.
Uma alimentação fria, com produtos crus – ou o ex-
cesso de saladas –, além de líquidos gelados, acompa-
nhados de pedras de gelo, produzirá frio no organismo
e acabará por enfraquecer o baço. O baço, por sua vez,
pode falhar em sua função de extrair energia dos ali-
mentos, o que pode até trazer acúmulo de gordura na
região baixa do abdome e em volta da cintura.

Aspectos do YIN e do YANG


no preparo dos alimentos
Como tudo na Medicina Tradicional Chinesa é baseado
nos movimentos do YIN e do YANG, com nosso organismo
não poderia ser diferente. Apesar de possuirmos ambas as
energias, em algumas pessoas predominam as energias YIN
e em outras prevalecem as energias YANG. É importante
reconhecermos no nosso organismo essas predominâncias
para que possamos usar os alimentos a nosso favor.
Por isso, de acordo com as características abaixo, respon-
da à pergunta: você se considera mais YANG ou mais YIN?
As pessoas YANG são mais agitadas e têm muita
energia. Calorentas, elas falam alto, gesticulam muito,
se inflamam facilmente, têm um entusiasmo natural e
muita disposição. Também são expansivas e coram com
facilidade. Elas se enfurecem facilmente e acabam ex-

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O mestre do seu sistema 217

plodindo na maioria das vezes. Adoram esportes, trans-


piram mais, geralmente dormem descobertas e esticadas
na cama. Sentem-se melhor em clima frio ou fresco. Pre-
ferem alimentos frios e muito gelo nos líquidos, mesmo
que estes já estejam gelados. Na maioria das vezes suas
dores são pulsantes; têm pele e mucosas com tendência
a ressecamentos e sentem sede constantemente.
As pessoas YIN são mais calmas, contidas e possuem
menos energia. Falam baixo, gesticulam pouco, são mais
observadoras. Cansam facilmente, nunca explodem e
engolem as emoções. Dificilmente gritam e frequente-
mente choram. Preferem os climas quentes, porque sen-
tem mais frio. Têm mãos e pés gelados, acumulam líqui-
dos principalmente nas pernas e pés; gostam de comidas
quentes, líquidos na temperatura ambiente. Resfriam-se
facilmente. Dormem encolhidas e cobertas até mesmo
no verão. Geralmente transpiram à noite e sentem es-
gotamento com pouco esforço. As dores são contínuas e
melhoram com a pressão dos dedos. Possuem pele oleo-
sa, lábios úmidos e poucas vezes sentem sede.
Ao se reconhecer em uma ou outra característica você
pode equilibrar essas energias com os alimentos. Assim
perceberá que, em poucas semanas, você pode reverter
um quadro de excesso fazendo seu organismo trabalhar
menos e de forma mais eficiente. Para isso, basta seguir
uma dieta específica para o seu tipo de dominância.

Para aqueles que possuem


predominancia
ˆ
YIN
Se você é mais YIN, seu organismo funciona com
uma quantidade menor de energia. Para digerir preci-

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218 Máera Moretto

samos de certo gasto de energia. Quando ingerimos ali-


mentos frios e crus, obrigamos o corpo a trabalhar mais
para elevar a temperatura desses alimentos de forma a
se igualarem com a temperatura corpórea – por isso di-
gerir passa a ser mais desgastante. Então, para poupar
energia, quebre a temperatura fria das frutas e verduras
aquecendo-as por dois minutos. Assim você mantém os
nutrientes e favorece o seu processo digestivo.
Na antiga China era costume ferver a água por quin-
ze minutos para reforçar o seu fator YANG. Pessoas YIN
devem ingerir a água fervida por quinze minutos, en-
quanto ainda quente, para aumentar o calor interno.
Seguindo esse princípio, procure alimentar-se com legu-
mes cozidos por mais tempo para reforçar as característi-
cas YANG do alimento.
Também quando ingerimos pedaços grandes de alimen-
tos, nosso organismo gasta mais energia, com a liberação
de enzimas e substâncias químicas para fazer a digestão.
Portanto, auxilie seu organismo cortando os alimentos em
pequenos pedaços, inclusive antes de prepará-los.
Acrescente caldos e sopas na sua dieta. Isso aumenta
o calor interno, deficiente na pessoa YIN. E também dê
preferência a chás quentes de ervas.

Para aqueles que possuem


predominancia
ˆ
YANG
Se você é YANG tem muita energia circulante. Para
equilibrar essa energia, adicione YIN à sua dieta com ali-
mentação em que predomine a água. Por exemplo, fru-
tas como pera, maçã, papaia, cereja, carambola, moran-
go, melancia e melão. Legumes que possuam bastante

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O mestre do seu sistema 219

líquido na sua composição, como pepino e abobrinha. E


sucos naturais, mesmo de verdura.
Use ervas que esfriem o seu organismo, como hortelã
ou menta, em forma de chá ou mesmo temperos.
Alimente-se de carnes brancas, principalmente de
peixes e frutos do mar, de preferência refogados, para
acentuar o YIN. E faça uso reduzido de estimulantes
como café, chá preto, chocolate, refrigerantes à base de
cola e pimenta vermelha.

Alimentos que ajudam nas crises


de ansiedade e panico
ˆ

Incluir alimentos como castanhas, soja, castanha-do-


-pará e outros que contenham ômega-3 ajuda o equi-
líbrio do seu sistema emocional. Em contrapartida, di-
minuir o consumo de cafeína e estimulantes do gênero
também contribui para a estabilidade.
Mas, segundo a MTC, é de fundamental importân-
cia identificarmos o órgão que está debilitado no nos-
so organismo – e consequentemente gera desequilíbrios
emocionais. Assim você pode fazer uso dos alimentos
de forma inteligente. Para isso devemos conhecer algu-
mas características dos principais órgãos, suas funções,
os sintomas gerados por seus desgastes e os principais
alimentos que os equilibram.

,
Figado
Segundo a MTC, o fígado representa a madeira, o nas-
cimento e o movimento. Seu órgão correspondente é a

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220 Máera Moretto

vesícula biliar. Está relacionado à Primavera, à cor verde


e ao sabor ácido. O fígado não gosta de vento. Manifesta-
-se no corpo através dos olhos e das unhas. Se ele está
equilibrado, os músculos e tendões se movimentam em
harmonia, sentimos disposição ao acordar, possuímos
autocontrole e paciência. Sua virtude é a bondade.
A principal função do fígado é assegurar a circulação
de Qi por todo o organismo, permitindo assim que o Qi
seja suficiente para que os outros órgãos cumpram com
eficiência suas funções. Com isso, ele é fundamental na
nossa vida emocional. Isso porque se o Qi do fígado es-
tiver estagnado por um longo período, essa estagnação
pode gerar desde tensão emocional até depressão; tris-
teza acompanhada pela sensação de caroço na garganta,
melancolia, suspiros frequentes.
Pelo fato de o fígado não estar envolvido na produção
do Qi, ele não possui padrões de deficiência de Qi. Mas,
por outro lado, pode apresentar deficiência de sangue
e de YIN – além de estagnação de Qi, por exemplo. No
caso de estagnação de Qi do fígado, vários outros siste-
mas serão comprometidos como o estômago, o baço, a
vesícula biliar, os intestinos, etc.
Quando o fígado está em desequilíbrio, tudo é ir-
ritante. O sangue sobe e a face fica vermelha. As explo-
sões se tornam frequentes, a pressão sanguínea sobe, os
músculos ficam tensos. Sente-se um gosto amargo na
boca e emoções fortes, como desmaiar perante situações
inesperadas; ou se desesperar. Desordens motoras e rea-
ções repentinas são manifestações do fígado em desequi-
líbrio, assim como febre alta, dores de cabeça latejantes e
aquelas que nos causam sensibilidade à luz.
Além disso, as alterações ligadas às funções hormonais
como TPM, irregularidades menstruais, olhos vermelhos,
coceira ou irritação ocular são características de desequi-

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O mestre do seu sistema 221

líbrio no fígado. Piscar os olhos de forma excessiva, mãos


trêmulas, unhas fracas, tiques nervosos, alterações abrup-
tas de humor – da extrema alegria à depressão profunda –
também podem ser sintomas de desequilíbrio do fígado.

,
Alimentos que equilibram o figado
O sabor azedo equilibra o fígado; o picante dispersa a
energia nesse órgão. Todos esses sabores em quantidade
moderada beneficiam o fígado. Mas qualquer um deles em
excesso prejudica o órgão. Por exemplo, o abuso do alimen-
to azedo faz o fígado se sobrecarregar e exaurir o baço.
Exemplos de alimentos para agradar o fígado: iogur-
te, canela, gergelim, amendoim. Temperos como salsa,
coentro, canela e vinagre. Frutas como maçã, lichia,
tomate, abacaxi, kiwi, ameixa, cereja, uvas, tangerina,
framboesa. Legumes e verduras como alho-poró, espi-
nafre, folhas, batata-doce, ervilha, vagem, arroz, cebo-
la, cogumelo shitake, cana-de-açúcar, girassol, repolho,
valeriana e verbena. Carnes ou peixes como camarão,
lagosta, carpa, caranguejo, enguia, escargot, carne de por-
co, fígado de boi, carneiro, galinha, moela de galinha,
ostra, rã, fígado de porco e fígado de vitela.

Coracao
,
˜

O coração representa o elemento fogo, a energia da


transformação. O órgão acoplado é o intestino delgado.
Sua estação é o Verão. A cor correspondente é a verme-
lha. Não gosta do calor, seu sabor é o amargo. Exteriori-
za-se na língua. O coração governa os vasos sanguíneos,
rege os ouvidos e sua secreção no organismo é o suor. A

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222 Máera Moretto

emoção relacionada ao órgão é a alegria e a comunica-


ção. Sua virtude, para o chinês, é a moralidade.
As funções mais importantes do coração são go-
vernar o sangue e abrigar a mente. E isso garante uma
mente feliz e forte. Se o sangue for deficiente, a mente
passa a ser deficiente e a pessoa será infeliz, depressiva
e terá deficiência de vitalidade.
Quando a energia do coração está em desequilí-
brio podem ocorrer: palpitação, respiração curta; rosto
pálido, cinza ou azulado. Insônia, muitos sonhos, pe-
sadelos e amnésia. Alterações na frequência cardíaca,
doenças circulatórias e acúmulo de líquidos. Risos sem
motivo, palavras sem sentido, gagueira e alterações na
fala. Leve perturbação mental, nervosismo, euforia,
memória fraca, não se consegue formular raciocínio,
depressão. No intestino, diarreia, presença de gases. A
ponta da língua fica vermelha.

Deficiencia
ˆ
do Qi do coracao
,
˜

A deficiência é causada pela preocupação ou tristeza


em excesso. E pode gerar fadiga, palpitação, suspiros, fal-
ta de ar moderada, sensação de caroço na garganta, com
dificuldade de engolir, voz fraca, face pálida, tristeza, de-
pressão e choro.

Alimentos que agradam o coracao


,
˜

O alimento amargo equilibra o coração, já o sabor salga-


do dispersa o Qi deste órgão. Lembrando sempre que qual-
quer um deles em excesso pode vir a prejudicar o coração.

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O mestre do seu sistema 223

Legumes e verduras como: beterraba, chicória, salada


de endívia, salada de alface, radicchio, couve-de-bruxe-
las, abóbora, moranga. Frutas como: caqui, melão e me-
lancia. Carnes e peixes como: camarão, carneiro, carne
grelhada, coração de porco, faisão. E outros: aveia, trigo,
noz-moscada, café, canela, chá, cebolinha, grão de soja,
pimenta, raiz e semente de lótus, trigo e leite de vaca.
O abuso do açúcar sufoca o coração.
Sal em excesso contrai os músculos e freia o coração.

Baco
,

O baço representa o elemento terra, o órgão acoplado é


o pâncreas. A cor é amarela e sua estação correspondente é
o final do Verão. Não gosta de umidade. O sabor correspon-
dente é o doce, a boca fica adocicada quando o órgão está
deficiente. Por isso os chineses dizem que o baço “se exte-
rioriza na boca”. Rege os tecidos conjuntivos do nosso corpo
e sua emoção é a preocupação. Sua virtude é a confiança.
A principal função do baço é transportar e transfor-
mar os alimentos e fluidos.
Quando a energia do baço está em desequilíbrio,
surgem as doenças consequentes do clima frio e úmido,
como resfriados e gripes. Em estado alterado pode cau-
sar muitas doenças do estômago como gastrite, diabetes,
sensação de estufamento (abdome distendido), vômito e
refluxo. E também acarreta doenças nos tecidos conjun-
tivos do organismo, vertigens, perda de sangue na forma
de hemorragias, sensação de peso, edemas, gosto de gor-
dura ou acidez na boca, aftas e gengivites. O baço está
relacionado à obesidade, bulimia, incluindo qualquer al-
teração alimentar e apetite descontrolado. Quando em
desequilíbrio, traz a tendência de se preocupar demais.

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224 Máera Moretto

Deficiencia
ˆ
do Qi do baco
,

Quando o Qi do baço está deficiente, podem ocorrer:


pouco apetite, fadiga, fraqueza muscular, sensação desa-
gradável no abdome logo após a refeição, fezes soltas e
tez amarelada.

Alimentos que agradam o baco


,

O sabor doce equilibra o baço, já o sabor azedo dis-


persa a energia do órgão; e o sabor amargo tonifica, ou
seja, dá energia ao baço.
, O baço não gosta de alimentos frios e crus, portan-
to evite líquidos gelados e crie o hábito de incluir em
sua dieta líquidos sempre em temperatura ambiente, ou
mesmo mornos, como chás, por exemplo; prefira legu-
mes e verduras cozidos, para assim manter o equilíbrio
do baço.
Vegetais e legumes como: ervilha, batata, abóbora-
-moranga, beringela, batata-doce, batatinha, cana-de-
-açúcar, cenoura, espinafre, feijão-preto, pepino, pimen-
tão e tomate. Frutas como: laranja, tangerina, tâmara,
pera, banana, figo, maçã, melão, tangerina, uva. Carnes
e peixes como: carne de vitela, carne de vaca, faisão, car-
neiro, frango, porco, pato, cação, carpa, camarão, enguia,
estômago de vaca, porco, moela de frango, pâncreas e
baço de porco. E outros: laticínios, mel, ovo de pata, tri-
go, erva-doce, nozes, alho, alga, arroz, amendoim, óleos,
gorduras, camomila, coentro, cascas de canela, castanha,
cebola, gengibre, manjericão, queijo de soja, pimenta,
raiz e semente de lótus.

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O mestre do seu sistema 225

Pulmao
˜

O pulmão representa o elemento metal. Seu órgão


acoplado é o intestino grosso. As cores corresponden-
tes ao pulmão são branca e cinza-claro. Sua estação é o
Outono. Não gosta de clima frio, seu sabor é picante e se
exterioriza no nariz. Sua emoção é a tristeza. E a virtude
relacionada a este órgão é a honra.
Sua principal função é governar o Qi. Está envolvi-
do com a nossa pele e o sistema de defesa do nosso or-
ganismo segundo os conceitos da Medicina Tradicional
Chinesa.
Quando o pulmão se encontra em desequilíbrio,
podemos ser acometidos por doenças respiratórias: na-
riz entupido; olfato enfraquecido; falta de ar, tosse. As
doenças do intestino grosso – como diarreia e prisão de
ventre – também são sinais desse desequilíbrio. Defici-
ência de imunidade, doenças causadas pelo clima seco,
como coceira na pele, descamação, vermelhidão. E mais:
tristeza, desgosto, angústia, desânimo, falta de vontade
de falar, voz fraca podem ser sintomas de deficiência do
órgão, assim como a transpiração espontânea, timidez,
depressão, crises de choro, baixa imunidade e frio nas
extremidades.

Deficiencia
ˆ
do Qi do pulmao
˜

Quando o pulmão é deficiente, temos fadiga, falta de


ar moderada, voz baixa, pele pálida. Há propensão a se
resfriar e a transpiração é moderada. A timidez é outra
característica dessa deficiência de Qi.

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226 Máera Moretto

Alimentos que agradam o pulmao


˜

O sabor picante equilibra o pulmão, já o sabor amar-


go dispersa a energia deste órgão.
Legumes e verduras como: rabanete, pimentão, pepi-
no, repolho, alho-poró, espinafre, cenoura, nabo, agrião,
aipo. Carnes e peixes como: camarão, carpa, ganso, pato,
coelho, rã, vesícula biliar e pâncreas de porco, cabrito e
frango. Frutas como: damasco, banana, caqui, laranja,
pêssego, maçã, casca de laranja, tangerina, pera e uva.
E outros: arroz, cebola, hortelã, mostarda, cravo, curry,
alho, alga, amendoim, café, canela, chá, girassol, gengi-
bre, manjericão, menta, soja, amêndoa, nozes, gema de
ovo, leite de vaca, mel, ovo de pata, queijo.

Rim
O rim representa o elemento água, o órgão acopla-
do é a bexiga. A cor correspondente é preta. Está rela-
cionado ao Inverno, quando ele mais pode sofrer. Não
gosta do clima seco e o sabor correspondente é o sal-
gado. No organismo, ele rege os ossos. Sua virtude é a
sabedoria.
A função principal do rim é estocar essência e go-
vernar o nascimento, crescimento e reprodução. A emo-
ção relacionada ao rim é o medo. Mas tanto a ansiedade
como o choque também estão relacionados a ele. Uma
situação de medo na criança pode fazer o Qi descer e ela
urinar durante o sono. Já no adulto, uma situação de
ansiedade prolongada pode atingir o rim causando boca
seca, agitação mental e insônia. Isto é, um rim fortaleci-
do significa uma pessoa segura, sem medos.

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O mestre do seu sistema 227

Quando o rim está em desequilíbrio, surgem do-


enças relacionadas à temperatura fria, como dispneia,
asma e outras. Lombalgias, dores nos joelhos, sensação
exagerada de frio também denunciam esse desequi-
líbrio. Impotência sexual, ejaculação precoce – e nas
mulheres, esterilidade. Vertigens, amnésia. Calor nas
palmas das mãos e solas dos pés podem causar tal umi-
dade que os pés deslizam nos sapatos. Aperto no pei-
to. Problemas urinários, como infecção urinária; doen-
ças da bexiga, incontinência urinária; pés e mãos frias.
Pedras nos rins. Medos e fobias. Problemas auditivos,
zumbidos e ruídos no ouvido. Cansaço no fim da tarde.
Acordar muitas vezes durante a noite e transpiração
noturna.

Deficiencia
ˆ
do Qi do rim
O Qi do rim é enfraquecido pela velhice, fadiga e por
doenças de longa duração. Retenção de urina, micção
repetitiva, micções noturnas, incontinência, ejaculação
precoce, corrimentos e risco de abortos.

Alimentos que agradam o rim


O sabor salgado equilibra a energia do rim, já o sabor
doce a dispersa.
Legumes e verduras como: cenoura, beringela,
alho-poró, batata-doce, nabo, pepino. Frutas como:
ameixa, groselha, lichia e uva, Carnes e peixes como:
mariscos, carpa, arenque, bagre, camarão, linguado,
lula, carpa, carnes de carneiro e de porco, enguia, fí-
gado de galinha, pé de porco, rim de porco, de boi e

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228 Máera Moretto

de carneiro. E outros: cevada, soja, nozes, amendoim,


alga, cebola, cebolinha, arroz, cogumelo shitake, erva-
doce, feijão-preto, gergelim, girassol, raiz de lótus, sal-
sa, trigo, castanha.

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,
18. Epilogo
Os personagens de Manuela, Pedro, Amanda, Mário
e Gabriela são fictícios e reúnem experiências de vários
pacientes que chegaram até mim para se tratar de um
desequilíbrio comum: em maior ou menor escala, eles
sentiam os sintomas de desequilíbrio descritos aqui, seja
com uma pequena ansiedade ou até uma crise grave de
pânico. Enfrentavam ainda as mesmas dificuldades de
conviver na sociedade de forma harmoniosa.
É claro que cada um desses pacientes que acompanho
há anos tem um tratamento específico na acupuntura que
não cabe revelarmos aqui. O importante é que eles tam-
bém tentam cada vez mais desenvolver suas vidas de modo
saudável e com maior qualidade, seguindo as recomenda-
ções da cultura tradicional chinesa adaptada a cada caso.
Todos esses pacientes, independentemente do órgão
deficiente, tinham uma característica: a mente enfra-
quecida, isto é, uma capacidade reduzida de direção e
discernimento. O que não condizia com uma postura de
liderança, ponderação e equilíbrio que todos eles tam-
bém compartilhavam. Isso tornava o diagnóstico mais
difícil e, ao mesmo tempo, era a arma mais importante
para chegar ao equilíbrio.
Uma vez diagnosticado o meridiano responsável de
forma direta ou indireta pelo enfraquecimento da mente –
seja do fígado, do coração ou do rim, por exemplo –, o
tratamento era direcionado de forma a reverter o pro-
cesso de desequilíbrio. Para isso, o uso das agulhas as-
sociado às informações sobre alimentação, formas de
pensamentos e atividades cotidianas formaram o cenário
para atingirmos resultados positivos na grande maioria

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230 Máera Moretto

dos casos, chegando ao caminho perfeito para que eles


reencontrassem o equilíbrio.
Para se ter uma ideia, entre todos os pacientes tra-
tados pelos princípios da Medicina Tradicional Chinesa,
há casos de cura total e casos de pacientes que, espo-
radicamente, ainda sentem alguns sintomas de dese-
quilíbrio. Mas, na maioria das vezes, eles conseguem
reverter o processo pondo em prática exercícios, alguns
deles relatados aqui.
Por outro lado, não foi por acaso que escolhemos o
mestre Shen Menn para falar com os personagens deste
livro. Isso porque shenmenn (em português poderia ser tra-
duzido por “porta da mente”), na acupuntura é um ponto
localizado no pulso e usado para o tratamento da mente.
Ao ser estimulado, ele acalma a mente quando há forte
ansiedade e nutre o sangue do coração – só para citar dois
de muitos de seus benefícios no nosso organismo.
Portanto, o mestre Shen Menn pode ser definido como
o mestre do seu sistema, pois ele é a porta de entrada dos
conhecimentos para o equilíbrio da sua mente.

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Agradecimentos

Quero agradecer a meu pai, Eu-


valdo, e a minha mãe, Marina, que
despertaram em mim o conceito de
família. Ao entender esse conceito,
hoje agradeço a minha família: meu
marido, Jeferson, e meu filho, Ma-
teus, pela paciência, confiança e doa-
ção de tempo e coragem para que este
livro fosse escrito.
Agradeço também à amiga Ana
Paula, que durante todo o meu
aprendizado me acompanhou e in-
centivou.
E, por fim, à jornalista Marielza Au-
gelli, com quem, no convívio para a
elaboração deste livro, construí uma
grande amizade.

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Este livro foi composto por
2 Estúdio Gráfico para a Sá Editora
na fonte Meridien e impresso
pela Bartira Gráfica e Editora S/A
em julho de 2010.

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