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A Cabala e a Nova Alquimia - Introdução

Introdução: Transformando matéria em sentimento

Será que iremos conseguir realizar, em um plano mais elevado, o velho


sonho alquímico da unidade psicofísica, pela criação de um conceito
fundamental unificado para a compreensão científica do físico e do psíquico?

Wolfang Pauli, físico

O objetivo do meu livro anterior, A conexão entre mente e matéria, era


mostrar que no interior do corpo e da mente existe uma história majestosa
recheada de drama, phátos, humor, inteligência, fantasia e realidade.
Se, por um lado, trata-se da nossa própria história, por outro, também é a
história do universo inteiro, sua criação, transformação e propósito final.

Mostrei como essa história chamada "você" se desdobra, criando um


panorama da vida, literalmente um "universo-você".
Explorei como as operações básicas do que chamo nova alquimia - pensar,
perceber, sentir e intuir - criam e dão forma à matéria-prima da vida
consciente e inconsciente.
E vimos que trabalhar essa matéria-prima dá origem às forças que
transformam o mundo e a nós, sendo elas: criação, animação, resistência,
vitalidade, repetição, oportunidade, unificação, estrutura e transformação.
O intuito final desse processo é a transmutação da informação em matéria;
matéria que vem da mente (um vasto campo de influência comumente
concebido como a Mente de Deus).
Dessa maneira, pode-se considerar ‘A conexão entre mente e matéria’ como
uma introdução ao que os antigos chamavam "grande obra" da nova
alquimia.
E, agora, já tendo apresentado a nova alquimia, muito ainda falta a ser
explorado.
Por exemplo, podemos nos perguntar: "como usar as ferramentas
apresentadas em A conexão entre mente e matéria para mudar a nós
mesmos?
Como perceber essas forças transformadoras?
Como levar uma vida espiritual mais frutífera e criativa?
A compreensão da nova alquimia confere novas formas para as forças
transformadoras criativas entrarem no jogo.
Enquanto a transformação da mente em matéria trabalha com imagens
primárias ou arquetípicas e os meios pelos quais essas imagens ganham
materialidade, a próxima fase da grande obra é a transformação da matéria
recém-formada em sentimento.
É aqui que iremos começar a sentir a vida em nossos corpos, como todos os
seres vivos sentem.
O sentimento vai além dos sentidos e pode ser imaginado como a
consciência fundamental, por meio da qual todos os outros sentidos se
desenvolvem.
O sentimento é resultado do incessante "zumbido" da vida.
Em A conexão entre mente e matéria, apresentei a noção de Adam
Kadmon: o homem arquetípico e universal.
Esse Adam, ao contrário do Adão original da Bíblia, é capaz de compreender
de uma única vez o espírito, a matéria e os plenos poderes da
transformação.
O que torna Adam Kadmon diferente do Adão bíblico pode ser resumido em
apenas uma palavra: sentimento.
O Adão do Livro do Gênesis parece quase um autômato, incapaz de
qualquer sentimento real, exceto, talvez, o sentimento de vergonha que ele
e Eva experimentaram ao serem expulsos do Jardim do Éden.
Adam Kadmon, o Homem Universal, por sua vez, consegue sentir por
inteiro todas as possibilidades transformadoras que guarda dentro de si.
Dessa maneira, podemos dizer que Adão representa a primeira fase da
transformação - da mente em matéria -, enquanto Adam Kadmon
representa a segunda fase - da matéria em sentimento.

Como na obra A conexão entre mente e matéria, A Cabala e a nova


alquimia está dividida em nove capítulos, representados pelas nove letras-
símbolos do alfabeto hebraico, ou "aleph-bayt".
Em A conexão entre mente e matéria, abordamos os arquétipos do espírito,
representado pelo aleph (, 1), por meio da estrutura, representada pelo
tayt (tet)(, 9).
Agora, aqui, iremos nos ocupar de seu desenvolvimento; sua transformação
de sementes em jovens brotos.
Isso é realizado na Cabala pela multiplicação de cada letra-símbolo pelo
número dez.
Como a letra-símbolo para o dez em hebraico é o yod, que significa
existência, vemos que a multiplicação por dez das nove letras-símbolos
arquetípicas as transporta à existência, ou, como digo, transforma a
matéria em sentimento.
Assim o aleph (), representando o número um, transforma-se em yod (),
o número dez; bayt (beit) (, 2) transforma-se em khaf (, 20);
ghimel (, 3) transforma-se em lammed (, 30); dallet (, 4) transforma-se
em mem (, 40); hay (hei) (, 5) transforma-se em noon (nun) (, 50);
vav (, 6) transforma-se em sammekh (, 60); zayn (, 7) transforma-se
em ayn (, 70); hhayt (chet)(, 8) transforma-se em phay (pei) (, 80); e
o tayt (tet) (, 9) transforma-se em tsadde (, 90).
Revisarei essas transformações na abertura de cada capítulo e explicarei, de
forma mais detalhada, o que significam.

O redimensionamento das letras-símbolos leva à experiência, à vida, à


realidade e assim por diante, com os símbolos ganhando vida.
A Cabala e a nova alquimia, então, examina o movimento contínuo dos
nove arquétipos - sementes do mental em material - em direção aos
símbolos vivos, literalmente uma transformação da matéria - englobando a
mente - em vida, em sentimento e na consciência da matéria.
Perceba que, quando juntamos duas letras-símbolos para indicar a
transformação de uma na outra, elas costumam formar uma palavra
hebraica que simboliza essa transformação.
No hebraico antigo devem ter existido mais exemplos de combinações entre
palavras e o significado sagrado das letras.
Procurando exemplos, recorri a um moderno dicionário hebraico/inglês para
encontrar estas palavras, relacionadas a seguir, que exemplificam a
transformação.
Quando não foi possível encontrar uma palavra, utilizei a definição da
Cabala para os símbolos:

aleph em yod ( em ; 1 em 10)


ilha - o movimento rumo à identidade pessoal;

bayt em khaf ( em ; 2 em 20)


nascimento - o movimento do sonho à realidade;

ghimel em lammed ( em ; 3 em 30)


onda - o movimento da onda ao sentimento;

dallet em mem ( em ; 4 em 40)


sangue - o movimento do pregador de peças;

hay em noon ( em ; 5 em 50)


curva da vida - o movimento em busca do equilíbrio;

vav em sammekh ( em ; 6 em 60)


menstruação - o movimento da energia sexual;

zayn em ayn ( em 
 ; 7 em 70)
observação - o movimento do universo

hhayt em phay ( em ; 8 em 80)


pureza - o movimento do ser para a alma;

tayt em tsadde ( em ; 9 em 90)


a estrutura do amor - o movimento da vida.

Ao trazer a mente à matéria, tivemos de lidar com a resistência e o


elemento enganador.
Agora, do mesmo modo, devemos lidar com os conflitos e a resistência que
enfrentamos em nossas vidas conforme tentamos entender o mundo e
aprender a suportar nossas necessidades materiais, vícios, altos e baixos,
sucessos e fracassos.
Para muitos de nós, que trilham o caminho da espiritualidade, a grande
obra fica estagnada aqui: vivemos e morremos sem perceber que as outras
fases da transformação são possíveis.
Em outras palavras, somos enganados por nossos apetites.
Para dar o salto, para perceber as fases remanescentes, é preciso
compreender que a vida "estagnada" é apenas uma fase, na mesma medida
em que um acesso de raiva de uma criança não passa de um "instante".
O movimento que leva da matéria ao sentimento é a segunda fase.
E meu objetivo com A Cabala e a nova alquimia é guiá-lo nesse caminho.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 1

 (Aleph, 1) em  (Yod, 10)


O Livro do Gênesis apresenta a atemporal e metafórica batalha da matéria
com o espírito - a contínua história do homem agindo contra Deus.
Essa história ecoa em vários cenários bíblicos, inclusive em Adão e Eva, que
deliberadamente ignoram Deus no Jardim do Éden; no sacrifício de Isaac
por Abraão; e na proibição imposta por Deus a Moisés, impedindo-o de
entrar no novo mundo.
O alfabeto hebraico oferece letras-símbolos dessa guerra entre matéria e
espírito: aleph, representando o espírito desencarnado, e yod,
representando o espírito contido e limitado na matéria que, devido ao seu
orgulho, luta contra a própria coisa que o trouxe à realidade.
E, assim, a transformação de aleph em yod é simbolizada pela palavra ilha -
o movimento rumo à identidade pessoal.

A ilha de sentimentos chamada corpo

Nenhum homem é uma ilha, completo em si mesmo; todos são partes do


continente.
- John Donne

A exemplo de Narciso, punido pela deusa Nêmesis por resistir aos apelos de
Eco, o espírito incrustado na matéria como self - significando a consciência
do corpo - resiste ao chamado do espírito.
Agindo dessa maneira, o espírito encarnado faz uma distinção básica: ao
reconhecer a si mesmo como matéria, fica extasiado, perdido na imagem de
si mesmo separado do espírito.
É uma ilusão poderosa.
Assim, todos nós, enquanto self, começamos o processo que durará toda
uma vida; um processo de distinção entre uma coisa e outra, por meio do
qual obtemos alegria e sofrimento.
A capacidade de realizar essa ação, de fazer discriminações objetivas,
constitui a inteligência científica e ela é necessária à sobrevivência material.
A diferença entre inteligência científica e inteligência espiritual reside nessa
capacidade de discernimento, e esses dois modos de experiência parecem
produzir uma complementaridade.
Explicando melhor: na física quântica, o princípio da complementaridade
menciona que o universo físico não pode ser conhecido de modo separado
do que o observador deseja observar.
Além disso, essas escolhas recaem sobre dois grupos distintos ou
complementares de pontos de observação, ditos observáveis.
Ao observar um desses pontos se exclui necessariamente a possibilidade da
observação simultânea do seu complemento.
Assim, por exemplo, a observação da localização e a observação do
movimento de uma partícula subatômica criam observáveis
complementares, de onde a observação de um cria a indeterminação ou a
incerteza do outro.
Dessa maneira, quanto mais objetivos formos em nossas observações, mais
dificuldade teremos em lidar com o espírito e mais atraídos seremos pelo
mundo material.
De modo oposto, quanto mais despertarmos para a espiritualidade, menos
iremos nos preocupar com a existência material.
É verdade que os cientistas dominaram a habilidade de encontrar partículas
de matéria autônomas com propriedades diferentes; no entanto, também
observaram que todo elétron se comporta exatamente do mesmo modo, e
que um átomo não apresenta qualquer diferença química de outro átomo de
mesmo número atômico.
Hidrogênio é hidrogênio, cobre é cobre, não importa por onde andem.
Esse princípio de identidade científica parece ser invariável no universo e
indica que a matéria apenas existe segundo leis estruturais básicas.
Sob este prisma, embora a matéria seja vista como partículas separadas, o
fato de serem partículas idênticas demonstra que esta separação é ilusória.
Os cientistas poderiam ter imaginado todo tipo de matéria, mas algo os
levou a encontrar uma base racional elementar para tudo que vivenciamos
como matéria, que acabou fazendo com que ela fosse percebida somente de
forma objetiva.
Mas, com o surgimento da física quântica, a ciência desnudou a natureza
subjetiva da realidade, descobrindo que tudo estava ligado e que tudo tinha
a mesma identidade, como se fosse espelhada, e, isso, no sentido da
construção de partículas idênticas, indicava a unidade de toda a matéria.
A ciência também mostrou que uma realidade mais profunda e não material
desempenhava um papel importante em determinar com qual objetividade
a matéria se comportava.
Entretanto, apesar da irrefutável prova da unidade material e do
reconhecimento dessa base mais profunda e não material, os cientistas,
com algumas notáveis exceções', ainda entendem como inquietante a
temática espiritual.
Desse modo, a batalha do espírito, com seu reflexo na matéria, prossegue.
E, juntos, matéria e espírito, fazem do mundo uma série de "ilhas"
separadas.
Toda ilha vê a si mesma e as outras ilhas como diferentes.
Assim, desde que nascemos, começamos a nos ver como seres isolados,
ilhas separadas, aparentemente à deriva, no vasto oceano da vida.
Neste capítulo, iremos explorar a natureza da "formação das ilhas" e a
maneira como surgem as ilhas individuais a que chamamos vidas
separadas.
Veremos como ter sentimentos - a instalação da mente no corpo - nos
oferece, por um lado, a experiência que chamamos vida e, por outro, cria
em todos nós um sentido de solidão e separação dos outros.
Iremos também aprender a ver, mesmo que vagamente, que todos
continuamos sendo um.
Podemos nos ver como ilhas, mas, na realidade, formamos um continente
de vida.

O Ego, O Estresse e seu Alívio


Narciso morre à beira do rio contemplando seu reflexo.
Todos sofremos uma enfermidade similar quando contemplamos a imagem
do que chamamos corpo.
Ao contrário de Narciso, contudo, não ficamos imobilizados em um único
lugar, encantados com nosso reflexo.
Nós seguimos em frente, sempre lamentando a perda, enquanto sentimos
falta do eco de nossa alma - o chamado que nosso espírito dirige a nós
mesmos.
Vivemos um estresse permanente, proveniente da ansiedade do conflito
contínuo entre matéria e espírito (corpo e alma).
Alguns podem criticar essa ideia, afirmando que, por meio de técnicas
especiais, da meditação, da prática espiritual ou apenas sendo boas pessoas
podemos experimentar algum alívio desse estresse.
Mas, tal como o sofrimento de Narciso, o estresse a que me refiro precisa
originar-se de forma continuada da oposição entre espírito e corpo.
A batalha resulta num eterno conflito que todos percebemos como sendo
parte do sofrimento humano, sofrimento este que temos em comum.
No entanto, e de modo irônico, é essa situação que faz a vida valer a pena
e conduz ao maravilhoso drama de nossa realidade cotidiana.
A condição humana depende do crescimento do estresse espiritual.
E é aqui que a mente entra no jogo: mais do que qualquer outra causa, os
pensamentos amplificam esse estresse e, mais importante do que todos os
outros cuidados médicos, um bom hábito mental promove o alívio dessa
amplificação.
E como bom hábito mental estou me referindo simplesmente a pensar de
maneira positiva em relação a toda situação que surgir à nossa frente,
mesmo quando for necessário ter uma visão crítica.
Enquanto a existência humana depende do pensamento humano, o
pensamento depende do autoconceito - dos nossos egos.
Sigmund Freud nos deu a concepção básica de ego, mas ele estava tão
envolvido pelo materialismo, ao tentar provar cientificamente a existência
do ego como algo real, que se prendeu na armadilha da objetividade
científica.
Desde então, o conceito de ego vem passando por muitas revisões.
As ideias de Freud, ao lado de conceitos mais recentes de professores
espirituais como Da Free John, J. Krishnamurti, Paramahansa Yogananda e
pela entidade desencarnada Seth, deram-me uma compreensão clara da
física quântica na construção do ego.

O ego freudiano
Freud entendia o ego como uma construção dentro da psique (ou alma) que
provinha de um constructo psíquico anterior a que chamou id.
Ele imaginava o id como o aparelho psíquico mais antigo, uma ideia nascida
de sua hipótese básica segundo a qual todo ser humano tem uma vida
mental interior que se expressa por meio de um aparelho psíquico.
Para Freud, esse aparelho tinha existência material, possuindo tanto
extensão espacial quanto temporal.
Freud nunca aludiu de onde o id provinha ou do que ele era feito.
Segundo ele, o id "contém tudo que é herdado, tudo que está presente no
nascimento e é formulado na constituição - mais importante, portanto, do
que os instintos, originários de uma organização somática e que encontram
aqui [no id] sua primeira expressão psíquica num formato desconhecido
para nós".
Em termos materialistas, Freud via o id e o ego desse modo: o ego é
proveniente do id porque este precisa fazer a interface com o mundo "real"
de estímulos e sensações.
A parte do id, chamada ego, passa por uma transformação especial.
A partir da superfície do córtex cerebral - ou seja, de uma camada cortical -
, origina-se uma organização especial que atua como zona intermediária
entre o id e os estímulos do mundo exterior.
O ego, em resultado da conexão preestabelecida entre a percepção dos
sentidos e a ação muscular, possui movimento voluntário ao seu comando.
O ego possui a tarefa da autopreservação, uma função que pode ser
realizada pela aceitação ou rejeição aos estímulos, pela memória, pela
adaptação e pelo aprendizado.
O ego opera dentro do id exercendo o controle sobre as demandas do id (os
instintos), escolhendo quais satisfazer, adiando a satisfação do id e
avaliando as tensões produzidas pelos estímulos.
Além disso, consegue diferenciar as tensões em termos do que é sentido
como dor (não-prazer) e prazer.
O sentimento de prazer existe como um padrão vibracional entre dois poios
de tensão, pontos de dor e prazer.
Um aumento do estresse é sentido como dor, e uma redução, como prazer.
Em sua teoria dos instintos, Freud defendeu que as tensões principais são
provenientes não dos pontos de dor e prazer, mas sim de dois instintos
básicos: amor e morte.
Devemos muito ao gênio de Freud.
Desde sua época, ego se tornou palavra importante no vocabulário
ocidental e assunto de muita reflexão para o homem racional.
Mas, hoje, entendemos que o ego se apresenta como uma interface entre
espírito e matéria.
A seguir, abordarei algumas das ideias mais recentes sobre o ego.

O Ego espiritual
Da Free John considera o ego freudiano um constructo devastador que
impede os seres humanos de realizar seu deus interior.
Ele afirma que todos nós vivemos em estresse egóico.
O ego, argumenta, é um processo de reação controlada às circunstâncias da
vida nos âmbitos físico, emocional e mental - a ação do ego é produzir
estresse.
E o estresse, explica, é fácil de ser criado, seja pela frustração da ação do
self, seja pelo medo de realizar a ação.
O estresse, portanto, é liberado quando a ação é concretizada ou quando
relaxa, dando vazão à frustração.
Para obter essa liberação, é preciso aprender a reconhecer quando a tensão
está num crescente, uma compreensão conquistada pelo autoconhecimento.
Parece fácil, mas poucos sabem quando estão ficando estressados.
Na verdade, notar que estamos tensos e, simultaneamente, sentir esse
estresse é como o velho truque de coçar a barriga e afagar a cabeça ao
mesmo tempo.
Um exemplo típico é quando uma pessoa lhe diz algo muito desagradável.
Você pode reagir ficando zangado ou se sentindo deprimido; e, embora
saiba o que está sentindo, em geral não tem conhecimento de que uma
tensão foi criada por essas sensações.
Em outras palavras, você sente, mas não sabe que sente.
Por exemplo, todos já vimos uma pessoa zangada negar o que está
sentindo.
Num primeiro momento, podemos pensar que a pessoa está mentindo.
"Ela deve saber que está zangada", dizemos, "então por que não conta a
verdade"?
Mas, do seu ponto de vista, você tem objetividade, algo que a pessoa
zangada não tem.
Não se esqueça: reconhecer um sentimento e o sentimento em si são coisas
complementares.
Saber que se tem um sentimento irá alterar esse sentimento.
Paramahansa Yogananda descreve o ego como sendo a causa básica do
dualismo - a aparente separação entre o homem e seu criador.
Segundo Yogananda, o ahankara (desejo) deixa os seres humanos sob o
governo de maia (ilusão cósmica), por meio da qual o sujeito (ego)
aparenta falsamente ser um objeto.
J. Krishnamurti sugere que nossos cérebros, quando examinados em
conjunto, são muito antigos.
Um cérebro humano não é um cérebro em particular; não pertence a
ninguém.
Ao contrário, o cérebro evoluiu no decorrer de milhões de anos.
Em consequência, existe padrão embutido para o sucesso e a sobrevivência
que permanecem até hoje, mas que podem ser obsoletos.
Um desses padrões é o ego e suas tendências.
A entidade espiritual desencarnada Seth, canalizada por Jane Roberts,
descreve o ego como especializado em expansões de espaço e
manipulações.
O ego se desenvolveu em ambientes tribais como uma especialização
necessária, permitindo que as informações dos sentidos fossem
diferenciadas emocionalmente ou não.
As tribos se formavam e seus membros eram considerados como
pertencentes ou não a ela.
A consciência tribal foi o primeiro ego grupal.
Mais tarde, conforme a consciência grupal se restringia devido ao aumento
da consciência individual movida pela adaptação evolucionária, a
consciência não foi capaz de lidar com o ego tribal e começou a ocorrer a
individuação.

Um modelo físico-quântico do ego


E o que todas essas definições de ego querem nos dizer?
Que precisamos reconhecer que o ego é dinâmico, mudando segundo os
sentimentos da pessoa.
Todos conhecemos os termos "ego destruído" e "grande ego".
Baseado nessas expressões do senso comum, podemos afirmar que, se
uma pessoa se sente expansiva, o ego realmente se expande e ela
experimenta um sentimento de exaltação.
Vou explicar isso mais adiante, mas percebam que com ego inflado não me
refiro à noção junguiana de inflação, no sentido de encher-se de orgulho.
De fato, é mais provável que a inflação junguiana resulte de uma lufada no
ego, redundando, paradoxalmente, em sua contração.
Se uma pessoa se sente contida, o ego passa por uma contração,
possivelmente uma depressão ou sentimento de humildade ou compaixão.
Quero expandir (notem o trocadilho) essa imagem metafórica do ego
apresentando um modelo baseado na física quântica.
A física quântica trabalha com formas matemáticas imaginárias, que
representam possibilidades físicas no mundo real.
Nosso modelo da física quântica representa possibilidades psicológicas que
podemos sentir quando nossos egos estão envolvidos nas transações da
vida.
Tal como os modelos da física quântica determinam e representam a
estabilidade e o comportamento energético da matéria, este modelo vai
determinar e representar o comportamento da estabilidade e do sentimento
da mente.
Creio que isso sugere que o ego parece real, não físico - ele não é um
objeto material, e sim apenas um constructo da mente.
Dessa maneira, o local ideal para encontrar o ego seria o domínio do
imaginário, o mundo matemático da física quântica.
Aqui, o ego aparece como uma superfície fechada, como a face de uma
esfera ou os seis lados de um cubo.
Em geral, qualquer objeto encerrado no interior de um espaço delimitado
terá um ego.

As partículas têm egos


Muitos físicos acreditam que toda matéria é composta de luz aprisionada,
uma crença representada pela famosa fórmula de Einstein E = mc2.
Segundo essa equação, quando a matéria emite energia na forma de luz,
perde algo de si - sua massa diminui.
Assim, a matéria é imaginada como sendo luz aprisionada.
Em um de meus livros anteriores, Star wave, especulo porque sentimentos
humanos, como amor e ódio, podem ser descritos por meio de sentimentos
básicos mais simples e primitivos encontrados nas transformações matéria-
luz dos elétrons.
Por exemplo, o ódio (que uso como sinônimo do desejo de isolamento) está
relacionado ao fato de que dois elétrons nunca poderão existir no mesmo
estado quântico.
O amor é explicado pelo comportamento das partículas luminosas, os
fótons.
Todos os fótons tendem a entrar no mesmo estado se tiverem esta chance;
dessa maneira, no sentido físico, a frase "a luz é amor" não é exagero.
Assim, o amor representa as pessoas que tendem a ficar num estado
unificado de consciência, como, por exemplo, os apaixonados que pensam
da mesma forma, ou os indivíduos que buscam a unidade com Deus.
De modo semelhante, todos sofremos de solidão e de outras dores ligadas
aos nossos corpos materiais devido à propriedade de isolamento - ou ódio -
dos elétrons.
Os elétrons, compostos de luz aprisionada, desejam a liberdade e "sentem"
algum tipo de sofrimento por causa desse confinamento.
O sofrimento humano provém do sofrimento dos elétrons e surge do seu
desejo de se tornarem luz novamente.
Todos os sentimentos e emoções humanos estão firmados nessas
propriedades simples da matéria; ou, talvez, melhor dizendo, à luz do
espírito da nova alquimia, as propriedades físicas da matéria e as
propriedades do sentimento que vivenciamos são provenientes de um lugar
mais profundo onde mente e matéria não estão separadas.

O id quântico e seus sentimentos


Como vimos, o id é o útero do ego, uma vez que, segundo Freud, o id é
composto de estados atemporais que acompanham os níveis de energia do
complexo sistema energético humano.
Do id nascem emoções que fazem o corpo se movimentar e dão à luz
sensações, o que significa que os estados de energia e os estados
emocionais são a mesma coisa no corpo.
Nesse sentido, quando o sentimento se expressa, a energia se transforma -
ela muda de um formato para outro, como quando você se levanta de uma
cadeira e transforma a energia química potencial do corpo em energia
cinética ou de movimento.
No entanto, nem tudo que é expresso de forma energética é sentido: o que
chamamos sensação do sentimento provém da transformação da energia, e
essa transformação requer uma rede neural complexa.
Talvez seja útil enfatizar que sentimentos e sensações não são a mesma
coisa.
Estou usando esses termos da forma utilizada por Carl Jung.
As sensações envolvem o movimento de elétrons ou de outras partículas
eletricamente carregadas de um lugar para outro - como, por exemplo, no
sistema nervoso, no cérebro ou nos músculos.
Uma sensação implica a existência de um evento perturbador, como uma
picada de alfinete na pele ou um grão de açúcar derretendo numa papila
gustativa.
Entre as sensações, encontramos a vibração, o calor, o frio, o sabor, o
cheiro, a visão e o som.
Para que uma sensação aconteça, alguma parte do corpo precisa registrá-
la.
As sensações ocorrem quando uma partícula interage com um mecanismo
de registro do corpo, quase sempre uma terminação nervosa na pele ou,
em se tratando da visão, na retina.
Assim, a pele acusa a picada do alfinete, enquanto a língua faz o mesmo
com o sabor.
Os sentimentos, entretanto, correspondem à avaliação impensada de uma
sensação (impensada não no sentido pejorativo, mas literalmente como
ausência de pensamento).
Podemos considerar, por exemplo, como "boa" uma vibração emanada de
um amigo, ou como "má" quando proveniente de alguém hostil.
Podemos sentir euforia antes de provarmos uma comida saborosa ou
conforto ao sentir o calor na pele fria.
E, se sentimentos envolvem sensações, uns não dependem dos outros.
Também em sonhos ou recordações, podemos ter sentimentos sem
sensações que as causem.
Na nova alquimia, os sentimentos criam ondas, enquanto as sensações
correspondem às partículas.
Além disso, os sentimentos não seriam percebidos se as células nervosas
fossem desprovidas de membranas divisórias.
Os sentimentos produzem mudanças elétricas nas bordas das células
nervosas que, por sua vez, se transformam em sensações.
Assim, sentimentos "sentidos" são aqueles transformados em sensações;
em outras palavras, quando os sentimentos são sentidos ou expressos, o
corpo experimenta sensações.
Sentimentos fortes produzem sensações indeterminadas, como, por
exemplo, quando as pessoas não conseguem conter o riso em funerais por
seu sentido de perda ser grande demais.
De modo semelhante, as sensações fortes levam a sentimentos
indeterminados sobre elas - pense, digamos, na primeira vez em que
experimentou pimenta jalapeña.
No entanto, podemos vivenciar determinados sentimentos e sensações
simultaneamente, sem dificuldade.
Podemos sentir alegria, por exemplo, quando seguramos um recém-nascido
nos braços.
Na maioria das vezes, essa capacidade ou incapacidade aparece por meio
do princípio da complementaridade, pois diz respeito à onda de sentimento
e à localização da partícula nas terminações nervosas onde brota uma
sensação.
Assim, determinadas combinações de sentimentos e sensações podem ser
experimentadas ao mesmo tempo, e outras não.
O que funciona e o que não funciona depende, em grande parte, de você e
do formato do seu ego.
O ego emerge de transformações energéticas expressas como sensações
corporais.
Por conseguinte, o ego não existe apenas no cérebro, mas atua como uma
memória que indica onde as células têm fronteiras e quando sofrem
mudanças espaciais.
De algum modo, toda célula tem ego e, assim, toda entidade viva com uma
superfície terá ego.
Animais têm egos, bem como plantas, amebas e outras formas de vida
unicelulares.
Para compreender como o ego se origina e passa por mudanças ou
transformações, precisamos examinar em detalhes um conceito que
mencionei no começo deste capítulo, que é o efeito do observador - o mais
importante fator da física quântica.

O efeito do observador
De acordo com o efeito do observador, o ato da observação é sempre
acompanhado por um salto repentino e irreversível na coisa observada.
Quando a luz de um átomo chega ao olho e sua energia é medida, o átomo,
tendo anteriormente existido num estado atemporal de "sem energia" - ou,
simplificando, como uma superposição de todos os possíveis estados
energéticos com igual probabilidade -, de repente expele um estado
energético específico por meio da emissão do fóton luminoso.
Essa expulsão repentina origina-se de um salto quântico descontínuo entre
esses dois estados.
Nenhuma lei física determina qual energia específica será emitida; mas
permanece o fato de que nós, como observadores, de alguma forma,
determinamos isso.
Por exemplo, esses saltos quânticos podem ocorrer em formas diferentes e
complementares, dependendo dos meios como se pretende observá-los.
Constatamos, assim, como a lei da complementaridade da física quântica
opera para dar forma à nossa vida cotidiana, moldando os átomos com os
quais interagimos.
Na complementaridade da nova alquimia, todo pensamento compreende
uma ampla gama de sentimentos em potencial e todo sentimento
compreende uma ampla gama de pensamentos em potencial.
O estado energético de "sentindo-se bem", por exemplo, é composto por
estados de pensamento complementares como "eu me sinto bem" e "eu me
sinto péssimo".
Assim, quando começamos a questionar os sentimentos, ou seja, quando
passamos a examiná-los por meio do mecanismo do pensamento e não pelo
mecanismo complementar do sentimento, não sabemos com certeza se nos
sentimos bem ou não.
Exemplificando, quando se está fazendo amor e as sensações corporais se
transformam em sentimentos, quase nunca pensamos nisso e, nesse não
pensar, vivenciamos sentimentos sublimes; na verdade, essa é a essência
de fazer amor.
Porém, no instante em que se começa a pensar "queria que meu parceiro
fizesse isso" ou "queria ter sentido aquilo", as sensações continuam, mas os
sentimentos mudam por completo.
Considere este outro exemplo: imagine que você está ouvindo um orador
carismático.
Se a postura dele é "sensual" ou "entusiasmada", você pode ser "levado"
pelo discurso, mesmo que o tenha lido sem paixão, podendo até tê-lo
achado enfadonho.
Os sentimentos são estimulados pelo orador, o que diminui a capacidade
lógica de acompanhar o conteúdo do discurso.
Como diz o velho provérbio iídiche: "Quando o pênis acorda, o cérebro
adormece".
Foi por meio desses mecanismos complementares que ditadores chegaram
ao poder.
Pensar e sentir são complementares, como são sentir e intuir.
A intuição depende de sensações corporais e as complementa do mesmo
modo que os sentimentos dependem dos pensamentos.
O arrepio na nuca é a sensação provocada pela intuição de que alguém está
às suas costas ou de que algo pode ocorrer em breve.
Quando o "aparelho psíquico" escolhido é "pensante", os sentimentos são
alterados e, em geral, são indefiníveis.
Do mesmo modo, quando esse mecanismo é um "sentimento", os
pensamentos também mudam e, em geral, são indefiníveis.
Toda observação vem de escolhas tomadas em associação com sentimentos
indeterminados quando os pensamentos aparecem e, de modo inverso,
associados a pensamentos indeterminados quando os sentimentos
aparecem.
Desse modo, associada a toda observação, haverá uma observação
complementar.
O aparelho que faz a escolha ser implementada se encontra no interior do id
e é construído a partir dele.
Este é o ego, e é assim que ele é criado.

Origem e criação do ego, estresse e dor


O domínio do ego é o corpo-mente, que define a fronteira entre o corpo e a
mente.
Se examinarmos com cuidado essa fronteira, ela se turva e a distinção
entre corpo e mente desaparece.
"O corpo-mente ignorante", segundo Da Free John, "tem por base a ação de
auto retração, expressa como a diferença entre o self, a partir da Condição
Original Transcendental, e qualquer outra suposta forma do não-self.
É também expressa pela definição independente do self e por sua constante
busca e interesse por uma autopreservação independente.
O conceito de existência baseada no self ou em sua retração e na
autopreservação, é manifestada pela psicologia do medo e pelo conflito com
tudo o que é não-self.
Yogananda descreve as várias ligações entre as modificações mentais
normais e as funções nos sistemas da medicina shankhya e do yoga.
Ele afirma: "Os diferentes estímulos sensoriais a que reagimos (tato, visão,
gosto, audição e olfato) são produzidos por variações vibratórias nos
elétrons e nos prótons".
Estes, por sua vez, dependem do que é chamado de maia da dualidade -
maia significa literalmente "ilusão cósmica" e, também, "o medidor".
Assim, maia é o poder mágico na criação por meio do qual as limitações e
divisões aparentes se fazem presentes no Imensurável e no Inseparável.
Da Free John e Yogananda assinalam a separação originada entre o "self” e
o "não-self” que se manifesta na consciência de todos.
Durante um período em silêncio, quando tiver conseguido reduzir as
distrações ao mínimo, tente perceber o self que está consciente do senso
comum que você vivencia.
Por exemplo, feche os olhos por um breve momento e observe o
surgimento dos pensamentos em sua mente.
Não faça caso deles, simplesmente deixe-os passar e torne-se consciente de
que está pensando.
Prossiga, prestando atenção ao processo de pensar.
Você perceberá a divisão entre o pensar e o pensador - o self (ou pensador)
e o não-self (os pensamentos).
Quando nos identificamos com nossos pensamentos, sensações,
sentimentos e intuições, entramos no jogo de maia.
Quando regressamos ao estado atemporal, sem pensamentos, sem
sentimentos ou intuições, abandonamos o jogo; todavia, continuamos a
viver.
A existência egocêntrica é, dessa forma, baseada na ilusão fundamental de
que todos os seres vão existir de forma separada para todo o sempre.
Essa ilusão cria toda espécie de infortúnio, envolvendo o controle do ser, da
existência e das vidas dos outros.
Também causa medo, tristeza e raiva apenas porque em seu centro existe
um erro fundamental.

O modelo
O modelo que proponho aqui se aplica ao nível humano, sendo baseado no
efeito do observador sobre qualquer partícula, grupo de partículas, células
ou neurônios confinados, nos moldes da física quântica.
Considere um objeto, sem qualquer tipo de interação com outra coisa,
confinado a se movimentar em um espaço determinado.
Na física quântica, esse sistema é chamado "uma partícula numa caixa"
(veja a Figura 1.1 na página seguinte).
De acordo com a física quântica, a "partícula" não irá mais parecer uma
partícula; em vez disso, se espalhará e assumirá o formato de onda.
A partícula, por estar confinada, não consegue existir fora dos limites da
caixa.
Toda vez que alcança uma parede delimitadora, falando em termos da física
clássica, ela bate e volta ao âmbito da caixa fechada.
Na linguagem da nova física, a partícula dentro da caixa nunca possui uma
localização bem definida.
Segundo o princípio da incerteza', uma localização exata proveria a
partícula com uma enorme incerteza em momentun ou energia,
provavelmente resultando em sua fuga da caixa com uma energia
explosiva.
Em vez de se ocupar da posição exata que a partícula assume a cada
instante no tempo, a física quântica aborda a onda de probabilidade da
partícula que desaparece nas paredes da caixa (novamente, veja a Figura
1.1).
Isso significa que a probabilidade de localização da partícula na ou sobre a
parede é zero.
As paredes da caixa agem sobre a onda do mesmo modo que os dedos, as
cravelhas ou o braço atuam dedilhando uma corda de violão.
A cravelha mantém a corda presa, permitindo que produza apenas
determinadas notas.
De acordo com a física quântica, o objeto se comporta como uma corda
esticada.
Somente alguns estados energéticos podem ser experimentados pelo objeto
confinado, da mesma forma que somente algumas notas podem ser ouvidas
em determinada extensão da corda do violão.
Como resultado, devido aos limites, a energia do objeto apenas irá existir
em alguns estados, da mesma forma que os harmônicos existem numa
corda dedilhada.
Quando um violonista ou um violinista posicionam o dedo diminuindo a
porção vibratória da corda, o tom da vibração sobe.
Do mesmo modo, quando o trecho vibratório é aumentado, o tom abaixa.
O contrabaixo, por exemplo, emite um tom mais grave que o violino por ter
uma corda mais longa.
De modo semelhante, na física quântica, se os limites da caixa são
afastados, aumentando seu volume, a onda se espalha e produz uma
energia mais baixa (veja a Figura 1.2 na página seguinte).
Se as paredes da caixa são aproximadas, diminuindo seu volume, a onda se
contrai e produz uma energia mais alta (veja a Figura 1.3 abaixo).

Em outras palavras, a energia mais alta é produzida numa caixa menor e a


energia mais baixa numa caixa maior.
Para produzir uma mudança energética, utiliza-se maior quantidade de
energia numa caixa pequena do que numa grande.
Um elétron à solta numa caixa do tamanho de um quarto passaria
continuamente por minúsculas variações de energia, mas um elétron
confinado em um átomo exigiria um volume energético muito maior, como
acontece com as cordas do violino.
Desse fato se conclui que partículas em caixas menores são mais estáveis
ou resistentes a mudanças do que partículas em caixas maiores.
As partículas confinadas em caixas maiores podem passar por mudanças
contínuas, mas são mais suaves e graduais, como as mudanças de tom que
podemos ouvir num contrabaixo.
As partículas confinadas em caixas menores mudam de energia consumindo
um grande valor energético, quase exigindo na troca a mesma quantidade
de energia que a partícula possui na caixa.
As mudanças de tom num contrabaixo, por exemplo, são muito mais difíceis
de discernir do que as que ocorrem em um violino, pois a diferença de
altura entre as notas graves do contrabaixo é menor do que as mudanças
de altura entre as notas mais agudas de um violino.
Assim, quando ouvimos a música O voo do besouro, de Rimsky-Korsakov,
tocada por um violino, percebemos mais claramente as mudanças rápidas
nas notas; porém, quando tocadas num contrabaixo, as notas são mais
difíceis de serem discernidas.

O ego se comporta de modo semelhante a uma caixa que contém uma


partícula.
Permita-me explicar isso utilizando como exemplo o aprendizado de uma
criança.
Primeiro, conforme uma criança vai se formando no útero com impressões
primárias dos sentidos, o limite do ego é bastante amplo; não existe
diferença entre os limites do ego e do universo inteiro.
O feto em desenvolvimento não vê diferenças entre si e o útero que o
cerca.
O bebê sabe tudo, mas desconhece que é uma criança.
Por fim, os acontecimentos futuros se impõem sobre o mecanismo sensorial
associado à dor ou ao prazer.
Por exemplo, a mãe pode cantar ou murmurar uma canção.
As vibrações rítmicas da voz da mãe provavelmente irão produzir uma
sensação reconfortante na criança, levando-a a associar música a prazer, ou
a mãe pode receber notícias desagradáveis que podem deixá-la nervosa e
afetar a criança no ventre, fazendo-a sentir um desconforto muito grande.
Depois de adulta, esta criança pode reagir de forma exagerada a situações
de tensão, quem sabe até comportando-se irracionalmente.
Esses atos formam o ego da criança.
No meu modelo simplificado dessa formação, o estado original do ego - o
ego que você tinha antes de nascer - fica ricocheteando num espaço estável
e bastante amplo - o universo inteiro.
Mas as primeiras experiências logo reduzem o ego às cercanias imediatas.
Nesse novo espaço - o útero -, os níveis energéticos estão ainda próximos e
as transformações entre eles acontecem rapidamente, resultando em uma
experiência sensorial.
O mundo da criança foi separado entre o conhecido e o desconhecido, o self
e o não-self.
As ações do ego, então, são similares às da partícula numa caixa.
Quando acontece uma experiência de aprendizado, o ego se contrai na
mesma medida com que os limites da caixa se contraem. A contração pode
acontecer de duas formas:
1. A caixa recém-formada contém com precisão a onda em seu interior,
sem mudanças no formato, energia ou tom, o que denomino contração
racional.
2. A mudança energética ocorre porque a onda muda seu formato para
caber na nova caixa, o que chamo contração irracional.
Vou retomar o exemplo anterior da mãe e do feto.
Exemplo 1: Conforme um feto escuta a música da mãe no útero, a
contração mais provável do ego seria a racional apenas porque a música em
si requer notas racionais, como as tocadas por um violino.
A memória musical da criança iria reproduzir essas notas e a criança teria
uma melhor apreciação da música do que uma criança nascida num
ambiente menos musical.
Exemplo 2: No entanto, existem muitos barulhos irritantes, como os
produzidos numa vizinhança barulhenta, que podem afetar a mãe e o feto
em desenvolvimento.
Embora eu não possa provar cientificamente, penso que a criança nascida
num ambiente barulhento tende a reagir de forma exagerada ao barulho,
seja experimentando um estresse físico ou despendendo muita energia para
evitá-lo.
Talvez isso ajude a entender a aparente necessidade de alguns jovens
regalarem-se ouvindo música alta.
No exemplo 1, a contração racional do ego reproduz uma experiência
imaculada e agradável do mundo, contendo uma representação da
experiência na mesma medida com que uma miniatura representa o objeto
original.
No exemplo 2, o ego, que sofreu uma contração irracional, vive um trauma;
uma lembrança estará associada ao novo estado, mas ela não será
agradável.

Nos dois exemplos, já que a caixa tem limites menores, torna-se mais
complicado introduzir mudanças na energia (porque caixas contraídas são
mais estáveis que as expandidas).
Mas, de maneira análoga, isso também significa que é difícil mudar um ego
contraído por um meio energético, como a atividade física.
Em consequência, temos memórias remotas duradouras que moldam o ego
dando forma à pessoa que iremos nos tornar.
Se o ego puder se expandir, sua tendência será a de desorganizar o padrão
da memória, da mesma forma que uma caixa expandida desorganiza os
estados energéticos de uma caixa menor ao reduzir o tom.
A expansão do ego irá romper o padrão, tornando possível aprender
novamente quando ocorrer uma nova contração.
A tensão, ou sensação da força, surge quando acontecem expansões ou
contrações.
No exemplo da caixa, a tensão é uma força física sobre a partícula; na
analogia do ego, é a sensação de estresse crescente ou de seu alívio.
Na contração racional inexistem aumentos de tensão; de fato, não existe
nada para mostrar que ocorreu uma mudança.
O ego se forma sem ter conhecimento real de que ela aconteceu.
Na contração irracional, o ego tenta se modificar ou mudar por meio da
contração ou da expansão.
Lembre-se: não me refiro à inflação do ego no sentido junguiano, e sim à
expansão egoica no sentido físico de que a partícula tenta agora ocupar um
espaço maior do que ocupava anteriormente.
Dependendo do tamanho da contração, mudar a memória demanda
trabalho e gasto de energia.
O preço da contração egoica contínua é patente.
Manter um tamanho pequeno requer mais trabalho para que a estrutura
celular sofra as mudanças no sentimento que criam novas memórias,
raramente produzindo contrações racionais.
O normal é termos mais contrações irracionais simplesmente porque
existem mais possibilidades irracionais que racionais, o que explica as
dificuldades que todos temos na vida.
Ninguém escapa ou ingressa na vida sem sofrimento.
Contudo, não quer dizer que memórias agradáveis são impossíveis quando
passamos da idade madura à velhice.
Lembranças gratificantes podem ser obtidas ao se experimentar
sentimentos aprazíveis associados a elas.
Por exemplo, pode ser benéfico ouvir música enquanto se tenta resolver um
problema complicado ou se quer lembrar uma informação nova.
Se sinto que é preciso dar uma pausa nos meus escritos, por exemplo,
gosto de assistir a filmes antigos.
Sinto-me nostálgico sempre que os revejo, provavelmente porque estão
associados à sensação de empolgação que tive ao vê-los pela primeira vez,
muitos anos atrás, quando era adolescente ou um jovem adulto.

A física da expansão do ego, liberação da tensão e prazer


A contínua contração irracional não pode resultar em outra coisa se não em
dor e tédio.
Como vimos no meu simples modelo, a contração irracional apenas pode
levar a emoções negativas associadas à dor, como tristeza, raiva e todos os
tipos de atos destrutivos.
Além disso, a auto contração aparenta ser uma força primitiva associada à
sobrevivência como seres separados.
A contração grava memórias.
Com a redução das células egóicas, o mundo se torna maior e inamistoso.
Cada unidade, ao diminuir a si mesma, se programa para a auto
aniquilação, da mesma forma como o personagem principal do filme
O incrível homem que encolheu.
Ainda assim, nós, humanos, persistimos com este comportamento sob a
ilusão de que a "sobrevivência do mais adaptado" significa a sobrevivência
do indivíduo.
Não se esqueça: a redução do ego requer mais trabalho para estimular
novas memórias.
Mas, hoje, a redução egóica ao tamanho de átomos tornou-se o objetivo de
nossa existência materialista egóica e só interessada em si mesma.
Mas o que podemos fazer com a contração?
Segundo a física quântica, precisamos expandir.
O que acontece quando uma partícula numa caixa encontra mais espaço
para vagar?
Aqui vemos somente um efeito: a liberação da tensão, que pode ser
percebida como prazer, possivelmente como dor e, ainda mais
possivelmente, como iluminação.
A expansão, contudo, não é somente o oposto da contração.
Não é o filme de uma contração rodado de trás para a frente.
A expansão resulta em uma existência livre de tensão.
Sim, sempre surgirão forças quando o sistema físico-quântico sofre uma
expansão de seus limites.
A onda anteriormente confinada, quando por fim se expande, encontra um
espaço maior e, do mesmo modo que uma onda, ricocheteia para a frente e
para trás naquele espaço, buscando um equilíbrio impossível.
Acredito que as forças de expansão provocam a libertação do ego e o prazer
físico, porque são tensões vibratórias ou sensações de rolamento similares
às que experimentamos quando recebemos massagem e liberamos tensão
muscular.
A diferença entre expansão e contração estabelece a distinção entre prazer
e dor.
O prazer nasce de uma expansão contínua ou suave.
Assim, quanto mais o padrão da onda parecer suave, maior será o prazer.
Os picos de tensão, por sua vez, que sempre ocorrem sob contração
irracional, provocam mudanças demais na célula num intervalo de tempo
muito curto, resultando em dor ou raiva.
Com as mudanças em suas fronteiras, o ego percebe as mudanças entre
prazer e dor.
O ego quântico do corpo: a ilha de sentimento
Se, por um lado, nenhum homem é uma ilha, por outro, a formação de ilhas
deve acontecer para que a memória exista.
Seu corpo é um grande banco de memórias cujas superfícies celulares
formam as estruturas egóicas que permitem lidar com a onda da vida.
Os limites do ego dançam com a onda, tentando alcançá-la e surfá-la até o
fim; já vimos como a física quântica pode ser utilizada para exemplificar
esse processo.
A construção do ego afeta e forma o cérebro e o sistema nervoso, do
mesmo modo que a energia forma o mundo quântico de uma partícula
numa caixa.
Segundo Freud, o cérebro possui aparelhos psíquicos, mas não descreve
como eles são.
Especificamente, não nos diz como o id e o ego são criados.
Aqui, proponho que o id é composto de muitos e distintos estados de
sentimentos do aparelho psíquico que opera no sistema nervoso, do mesmo
modo que os estados energéticos que operam no sistema nervoso compõem
seu estado físico.
O ego provém do id como uma operação psíquica, tendendo a escolher
quais estados físicos serão observados e lembrados.
O ego, então, consiste de uma rede complexa de superfícies imaginárias
físico-quânticas no corpo, lembrando uma matriz de caixas tridimensionais
como um cristal entrelaçado.
(Qualquer superfície fechada relevante serve. Aqui utilizei as caixas apenas
como exemplo.)
O ego opera por meio das contrações e expansões dessas superfícies.
A contração racional reproduz a lembrança de experiências físicas
agradáveis; a contração irracional resulta numa memória dolorosa.
A expansão do ego, que significa a expansão física de superfícies fechadas,
resulta em prazer.
Assim, o ego é limitado pela dor e pelo prazer e opera por meio de
expansão e contração.
A liberação da tensão vem com o prazer e, portanto, com uma expansão do
ambiente fechado.
Uma expansão similar ocorre em todas as células do corpo quando a tensão
é liberada.
A seguir, iremos abordar a criatividade da dança do ego na onda.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 2

 (Bayt, 2) em  (Khaf, 20)


Bayt representa todo receptáculo, todo suporte físico, toda gestalt.
Ele é o divisor/separador primeiro ou primário, pois conter ou manter é
separar o que é contido do que não é.
É o primeiro ato, portanto, da consciência reconhecendo a si mesma, pela
divisão.
O bayt se transforma em khaf sempre que uma ideia se torna algo
organicamente tangível.
Como bayt, ela permanece uma semente, o começo de uma forma de
limitação — a separação de uma coisa da outra.
Como khaf, a visão criativa se transforma em algo literal que podemos tocar
ou ter nas mãos.
Em hebraico, khaf significa a palma da mão.

Do sonho à realidade

Quem quiser fazer uma torta de maçã partindo da estaca zero, primeiro
precisa criar o universo.

- Carl Sagan

O mais profundo ato criativo que experimentamos como seres humanos é


dar à luz nossos filhos, pois imensas forças nos impelem a seguir a ordem
da reprodução.
É verdade que alguns de nós quase não sentem esse impulso primitivo, mas
ele existe assim como a vontade que garante nossa existência futura.
Nós o identificamos e quase sempre o vivenciamos como o impulso sexual.
Mas seu ímpeto vai muito além da sobrevivência da humanidade.
Na verdade, vai além da sobrevivência de toda a vida.
É um borbulhar contínuo dentro de nós, impelindo nossa existência pela
produção de ideias que fluem em nossas cabeças, formando as palavras que
falamos.
Toda coisa viva sente um ímpeto de criar.
Seu cachorro sente.
A cobra no gramado sente.
As células de seu corpo sentem.
Os insetos sentem.
E também as plantas.
O fluxo constante de liga/desliga, vida/ morte, começo/fim, essa impossível
presença do aleph - o espírito desencarnado - pulsa em todos nós como
bayt - a consciência que reconhece a si mesma.
Nesse aspecto criativo, somos todos filhos do vasto espírito-mente que
preenche o universo e lhe deu origem.
Da mesma forma que o espírito criador, todos nós temos o poder de criar.
Qual a prova disso?
Nós pensamos e falamos.
Aqui vemos os milagres da ação criativa - a nossa prole, que podem ser
filhos de carne e osso ou pensamentos que nascem da fronte, como no mito
segundo o qual Zeus criou a filha Atena.'
Neste capítulo, iremos explorar as bases alquímicas do impulso criativo - o
sentimento ou desejo de criar - e a importância do conceito de criação
primordial.
Veremos como a criação produz e implica a sensação de vida que todos
experimentamos.
E veremos que, como o criador do universo hindu, Brahma, que sonha para
criar mundos, e o Grande Espírito dos aborígenes australianos, que nos
trouxe à existência por meio do sonho, também nos sonhos reside a fonte
de nossa capacidade criativa.

Tudo começou como um sonho


Durante o sonho, criamos uma história ou peça.
Contar histórias ou simular situações, como no teatro, parecem ser uma
parte bastante importante da evolução humana; nós sonhamos porque
precisamos sonhar para evoluir.
E, na verdade, a maioria das criaturas sonha.
Sonhar é o resultado da crescente percepção de cada criatura de como
poderá adaptar-se ao ambiente.
Se examinássemos o sonho a partir de um ponto de vista puramente
científico, seria necessário dizer que os sonhos são importantes porque
permitem às criaturas criar estratégias para sobreviver ou para alterar a
programação das mudanças ambientais que sempre ocorrem.
Não existe um jeito simples de definir o que são os sonhos, mas as
evidências atuais indicam que eles têm um papel evolucionário.
A teoria da evolução darwiniana sustenta que a evolução da vida é um
processo de seleção natural.
A vida, conforme Darwin sugeriu, é uma luta competitiva para sobreviver,
em geral diante de recursos limitados.
Todo ser vivo precisa competir por comida, espaço e evitar predadores e
doenças enquanto enfrentam alterações imprevisíveis no ambiente.
Darwin sugeriu que em determinada população, em determinado ambiente,
certos indivíduos possuem características que os tornam mais aptos à
sobrevivência e à reprodução.
Como adquirem estas características é um mistério, mas, todavia, elas são
repassadas aos descendentes.
Se as características adquiridas beneficiam o organismo, o número de
organismos com esses novos traços aumenta à medida que cada geração
passa adiante as combinações vantajosas de traços.
De modo inverso, indivíduos sem os traços benéficos vão paulatinamente
diminuindo em número.
Assim, Darwin argumentou, no decorrer do tempo a seleção natural inclina
o equilíbrio de uma população na direção daqueles indivíduos detentores de
uma combinação de traços ou adaptações mais bem adequados ao seu
ambiente.
Mas minha pergunta permanece: Como uma espécie adquire as
características necessárias?
As experiências oníricas dos aborígenes australianos indicam que elas
surgem pela primeira vez nos sonhos.
Toda criatura sonha a possibilidade da próxima evolução, de modo que, por
exemplo, o peixe sonha ser anfíbio, o anfíbio sonha ser pássaro e assim por
diante, ou seja, primeiro sonhamos para tomarmos consciência de nossas
possibilidades futuras - os novos modos pelos quais todos poderão existir.
E a capacidade de se sentir novo ou modificado parece vital à
sobrevivência, para alterar o código genético.
Se essa competência for perdida, não seremos mais capazes de nos sairmos
tão bem como espécie.
Além disso, a habilidade de ver as possibilidades futuras traz o amanhã
para o presente.
Esse movimento do futuro para o presente difere, é claro, do modelo
normal, por meio do qual vemos o fluxo do tempo de modo linear, do
passado para o presente e do presente para o futuro.
Simplificando, a consciência pode trabalhar de forma distinta quando
sonhamos e quando estamos despertos.

A matéria sonha
Seguindo a ciência moderna, se acreditarmos que toda consciência se
origina da matéria, a matéria em si deve sonhar.
Sabemos que os sonhos ocorrem e quase todas as coisas sonham.
Assim, quando digo que a matéria sonha, estou apenas seguindo uma linha
lógica de pensamento baseada na filosofia materialista.
O argumento é o seguinte: O universo é feito de matéria que, interagindo
com matéria, cria todos os fenômenos físicos observáveis, inclusive a vida,
sua evolução e a mente.
Afinal, vida e consciência são fenômenos físicos que podem ser observados.
Qualquer coisa associada à vida deve estar ligada aos objetos materiais se
chocando - em interação.
Então, deve ser assim que o estado onírico e a percepção da consciência se
originam de matéria interagindo.
E, assim, chegamos à conclusão de que a matéria sonha ou que essa
deveria ser a conclusão lógica do ponto de vista materialista.
Essa visão, entretanto, não é a conclusão a que cheguei, pois creio que o
materialismo em si está incorreto como base para compreensão da ciência,
por ser reducionista demais.
E não dou tanta ênfase ao reducionismo como dou à base sob a qual este se
assenta - a de que a matéria é a base.
Como expliquei em A conexão entre mente e matéria, acredito que a
matéria deva ser uma qualidade secundária e que deve existir uma
qualidade mais primordial de onde ela se origina.
Do mesmo modo que deve existir uma ordem implicada, como o físico
David Bohm diria, a partir da qual a consciência e a percepção se originam,
também se poderia dizer que deve haver uma ordem, não diretamente
percebível, da qual se originam a matéria, o tempo e o espaço.
Nós sabemos - ou digamos que temos provas experimentais apontando
para isso - que houve um Big Bang, que o universo foi criado a partir de um
único ponto.
A teoria é baseada em duas ou três provas muito fortes, o que não significa
necessariamente que aconteceu dessa maneira, mas é nisso que
atualmente acreditamos tomando por base os indícios - que o universo
passou a existir do nada.
E não só o universo passou a existir: toda a matéria, o espaço e o tempo
também, simultaneamente, passaram a existir.
De acordo com a teoria da relatividade geral, a matéria não apareceu
simplesmente no espaço e tempo.
Seria impossível.
O espaço e o tempo tinham de aparecer de forma simultânea com a matéria
e a energia.
Assim, a matéria não pode ser o fundamento, e a filosofia materialista está
incorreta porque não considera o conceito básico do Big Bang.
É necessário haver alguma coisa mais fundamental do que a matéria em si.
Aqui apresentarei mais uma ideia que nos ajudará no próximo capítulo.

Segundo o princípio da complementaridade da física quãntica, a matéria e a


energia são complementos do espaço e do tempo, o que significa que não
podemos descrever o mundo de eventos em termos de simultaneidade
espaço/tempo e energia/matéria.
Essa é uma pista muito importante e nos conduz ao axioma da nova
alquimia: o que está em cima é como o que está embaixo, o que está
dentro é como o que está fora.
Essa complementaridade, na verdade, é tudo de que precisamos para
verificar se a evolução se assemelha à visão de Darwin ou a qualquer
neoformato que venha a ter.

O que é mais fundamental?


Podemos conceber a base fundamental da existência sob a qual espaço,
tempo, energia e matéria apareceram pela primeira vez como a grande
deusa-mãe ou como o grande deus-pai.
Essas imagens surgem repetidamente em textos antigos de muitas culturas.
Tudo mais que eu vier a dizer sobre isso será apenas meu ponto de vista.
E aqui está ele.
Existem vários indícios da existência de uma base mais fundamental do ser.
Um deles é a realidade do vácuo espacial.
Sabemos que o espaço "vazio" pode explodir em matéria e energia e que
também pode envolver, reabsorver o que criou.
Assim, pode-se dizer que o vácuo do espaço é capaz de criar e aniquilar, e
nele temos uma dança contínua de objetos aparecendo e desaparecendo
rapidamente em todo lugar, o tempo todo.
Essa dança permeia todas as coisas e, como resultado, nada se repete
exatamente da mesma forma, embora possamos ver assim.
Quando o espaço é completamente vazio, quando não existe nada, o
processo parece instável e existe uma grande tendência de produzir
objetos.
De vez em quando, essa tendência até permite que universos "surjam".
O espaço dentro de um universo, contudo, quando já foi criado, parece o
mais estável temporalmente, em termos relativos; parece que temos menos
universos sendo criados dentro de um universo espaço-tempo.
E quando surgem matéria, espaço-tempo e energia, parece haver uma
menor tendência para que outro universo seja produzido logo a seguir ou
nas vizinhanças imediatas.
Ao que tudo indica, então, existe uma lei que estabelece a forma como se
pode ou não criar um universo.
Da "história" que acabei de contar, baseada na física e em especulações,
surge outra história vinda da espiritualidade, a Dança de Shiva.
Nela, Shiva e Shakti fazem a dança da criação e da destruição.
Shiva é o Criador-Destruidor.
Às vezes, Shiva é apresentado como Shakti, sua consorte.
É ele/ela quem se apresenta como Kali, a deusa que mata e destrói para
que a criação volte a acontecer.
Assim, a Dança da Destruição e da Criação faz tanto parte da física
moderna quanto da mitologia antiga.
E na Cabala, os princípios do antigo misticismo judaico-cristão, que remete
a um tempo anterior aos judeus e cristãos e ao povo da terra de Ur (agora
conhecida como Iraque), havia uma visão de que esse processo estava
ocorrendo.
O espírito, simbolizado pela letra aleph, a "primogênita" do alfabeto
hebraico, era capaz de produzir ou emanar um movimento vibratório em
resistência a si mesmo, que era chamado de água, ou mem (a décima
terceira letra do alfabeto hebraico).
A seguir, o espírito era capaz de soprar vida naquela água e, ao fazê-lo,
ocorria um movimento do espírito em direção à água e da água em direção
ao espírito.
Esse movimento de mão-dupla remetia tanto ao processo de aniquilação e
criação quanto ao ciclo de vida e morte.
O fluxo do espírito para a água é criador; o da água para o espírito é
destruidor, produzindo a dança incessante da vida.
Esse fluxo duplo também pode simbolizar a dança da percepção ou da
consciência, e até o movimento das ondas quânticas da possibilidade de um
evento presente para um evento futuro e, novamente, de volta ao presente.
Temos, assim, várias analogias, indícios e visões que se apresentam para
nós, quem sabe originárias de uma ordem implicada mais profunda, de
épocas diferentes, mas sempre como imagens arquetípicas.
E temos a capacidade de compreender essas imagens conforme aparecem
de éon em éon, por meio dos diferentes níveis de nossa percepção e
inteligência.
Somos provavelmente mais "inteligentes" agora do que nunca.
Temos mais dados, teoria e processos que nos permitem criar modelos
melhores do que jamais fizemos.
Temos muito mais coisas para examinar em se tratando de conhecimento e
ciência.
Esse é um indício que nos conta sobre a ordem oculta; mas, mesmo com
inteligência e informações melhores, o modelo básico do processo
fundamental permanece inalterado: o que está em cima é como o que está
embaixo, o que está dentro é como o que está fora.

O que é a consciência?
Talvez a mais importante prova que temos da existência da matriz, da qual
todos nós parecemos provir, venha da atividade da mente - da consciência.
A consciência aparenta ser um processo em que um ambiente e um
observador desse ambiente são definidos de forma simultânea.
Essa ação, que pode prescindir do pensamento, mas que, todavia, parece
exigir algum tipo de percepção, causa uma divisão entre o sujeito e o objeto
- entre o "lá fora" e o "aqui dentro", ou entre o self e o não-self.
A consciência permite a cada um referir-se a si mesmo como uma entidade
individual, separada do mundo exterior.
Quando estamos despertos, depois que aprendemos a direcionar o fluxo de
consciência que borbulha dentro de nós, somos inundados por imagens,
sensações, eventos e possibilidades.
A consciência normal despertada perde contato com o processo e nós nem
nos damos ao trabalho de pensar nele.
Durante o sono e o sonho, sem qualquer interrupção significativa do meio
externo, nossos corpos nos preparam para o contato direto.
Parece que o sonho é o lugar em que aprendemos a ter consciência e a
separar o "lá fora" do "aqui dentro".
O sonho é laboratório da autocriação.
Nesse laboratório, uma entidade é definida por si mesma por um processo
autorreferente que se mostra absolutamente necessário para a existência
da consciência.
Em consequência, sonhamos para despertarmos para a contínua
experiência do nascimento da vida.

A criação do pequeno self


Alguns pesquisadores sugerem que os primeiros humanos começaram a
sonhar para sobreviver.
O sonho induzia a um tipo de paralisia que mantinha o sonhador imóvel.
Desse modo, o sonho evitaria predadores.
O pesquisador do sonho Montague Ullman sugere que não sonhamos
somente para a sobrevivência individual, mas também para a da espécie.'
Muitas tribos reconhecem o uso do sonho para a continuidade do grupo;
membros dessas tribos usam o estado onírico, por exemplo, para encontrar
comida ou escapar de predadores ou inimigos.
Assim, embora existamos como indivíduos, muitas vezes nos vemos como
integrantes de uma família, agrupamento, nação, bando ou, em geral, como
parte de um grupo maior de criaturas, indicando que algo além da simples
sobrevivência individual está em jogo.
A individuação parece um aspecto importante da sobrevivência_
Mas por quê?
O que é o "meu self'?
Por que eu me reconheço como um indivíduo separado dos outros
indivíduos?
Bem, vamos dar uma olhada nisso.

Se eu pertencesse a uma tribo, meu conceito de self iria diferir daquele que
teria caso fizesse parte, digamos, de uma unidade familiar fechada.
Meu comportamento, por sua vez, dependeria de como me vejo.
Assim, por exemplo, soldados em guerra se veem como parte de uma
unidade maior, e se comportam de modo muito distinto com quem é de fora
da unidade, em particular inimigos, do que se fossem camponeses
recebendo estranhos.
Assim, o modo como nos tornamos conscientes do mundo que nos cerca
depende em grande medida de como pensamos nossa individualidade em
relação ao ambiente.
Os sonhos são vitais para a formação do self, mas o conceito de self sempre
está mudando.
Ele não é necessariamente um "invólucro da pele".
Podemos exemplificar: o sonho do aborígene pode envolver um conceito de
self muito diferente do nosso.
Ao que tudo indica, os aborígenes têm uma consciência de si mesmos que
beira a telepatia, ou seja, eles parecem estar conscientes de situações das
quais no cotidiano nós não estaríamos, como saber que alguém do grupo,
longe dali, está com problemas.
Então, enquanto alguém, digamos, tem de telefonar para informar sobre
uma situação, os aborígenes supostamente têm um conhecimento
proveniente da intuição - lampejos de consciência -, que confirmam ao
voltar ao seio da tribo.
Nas décadas de 1970 e de 1980, Ullman, Stanley Krippner e diversos outros
conduziram pesquisas sobre telepatia e sonhos.
Eles chegaram a conclusões fundamentadas, que afirmam ser possível ter
estados telepáticos de consciência durante os sonhos.
Em outras palavras, uma pessoa desperta e outra que está sonhando
podem estabelecer uma comunicação telepática, o que indicaria ser o sonho
em si o lugar onde essa capacidade se desenvolveu.
Para uma tribo aborígene, era vital que essa consciência telepática se
desenvolvesse, enquanto que para nossa cultura não o é.

Por que existe uma só mente no universo inteiro


A física quântica oferece muitas possibilidades de explicação para a
paranormalidade.
A física, em geral, também.
A questão não é tanto: "Nossa! Puxa vida, por que não sabíamos disso?".
A questão tem mais a ver com qual mecanismo é mais adequado para
descobrir o que está havendo.
É um tema complexo, muito mais do que quando não havia nada na física
para explicá-lo.
Trocando em miúdos, ou usando termos mais gerais, todos os mecanismos
que a física apresentou são baseados na noção de que o tempo e o espaço
não são primários, mas sim, de alguma forma, secundários, e que existe
uma ordem implicada no universo, como David Bohm colocou, anterior ao
tempo e ao espaço.
E que neste nível da ordem implicada, as separações entre tempo e espaço,
que damos como líquidas e certas na nossa visão de mundo cotidiana, não
existem.
Caso exista um processo de pensamento, comunicação ou planejamento no
nível anterior ao espaço e tempo, no instante em que este processo
emergisse no espaço e tempo seria simultaneamente perceptível em
diversos lugares e/ou tempos.
As pessoas que conseguissem se comunicar em nível de Unidade, Unicidade
ou Ordem Implicada, poderiam entrar nele e encontrar alguma forma de
comunicação em que a separação não existe.
Mais tarde, quando se separassem, ter-se-ia a impressão de que a
comunicação ocorreu a uma grande distância quando, na verdade, não
existiu nenhuma distância.
É outra dimensão, poderíamos dizer.
É complicado encontrar as palavras corretas para descrevê-la.
Bohm usou o exemplo de um peixe num tanque, nadando para lá e para cá.
No mundo em que vivemos, não notamos nada de estranho enquanto
observamos o peixe nadando - é um simples peixe nadando para lá e para
cá.
Mas se pensarmos no peixe nadando como analogia da ordem implicada
desse mundo anterior que normalmente não vemos, então o mundo da
ordem explicada - a nossa visão comum da realidade - seria aquele que
iríamos ver caso duas câmeras de televisão estivessem focalizando o peixe.
Digamos que uma cãmera filma o peixe enquanto ele nada da direita para
esquerda, e outra o acompanha do lado adjacente do aquário, de modo que
iríamos ver o peixe se aproximando e recuando.
Você veria a cabeça crescendo, depois uma virada e, de repente, a cauda
estaria crescendo para depois diminuir; outra virada se sucederia e você
poderia ver a cabeça crescendo mais uma vez.
Agora, se as duas câmeras estivessem enviando informações no espaço e
no tempo para dois aparelhos diferentes, um deles teria a informação da
cabeça-cauda, cabeça-cauda, e o outro a da direita-esquerda, direita-
esquerda.
Quando os dois aparelhos comparassem os dados, diriam: "Deve haver
alguma comunicação psíquica entre a cabeça-cauda e a direita-esquerda".
Não compreenderiam que havia apenas um objeto desde o começo, mas
pensariam em duas coisas interligadas de alguma maneira.
Assim, a ideia é de que a consciência "psíquica" ou "telepática" seria um
movimento em direção ao Uno, onde não existe separação, e depois um
movimento de volta à dualidade, onde existe a separação.

De onde vem o sonho?


Outra forma de abordar a ordem implicada segundo a visão de David Bohm,
como acabei de discutir, seria chamando-a de domínio do imaginário.
O mundo que exploramos ao sonhar é uma ordem oculta.
É o mundo do qual extraímos informação para usar no mundo físico.
Ele tem a ver com o Mundo das Ideias de Platão e o lugar para onde os
xamãs vão quando realizam curas ou buscam informação.
Existe a possibilidade de que, em determinados estados meditativos,
possamos entrar nesse mundo e alterar o que está acontecendo lá, dando a
impressão de ser um milagre.
Diz-se, por exemplo, que o indiano Sai Baba, considerado por muitas
pessoas um avatar, pode entrar no domínio do imaginário, por treinamento
ou capacidade inerente, e manifestar objetos, aparentemente trazendo-os
para este mundo.
É quase como se ele tivesse uma janela através da qual pudesse tocar o
tempo e o espaço, pegasse objetos desse lugar e os trouxesse à nossa
visão de mundo - como o peixe que mencionei antes.
Se os feitos de Sai Baba são verdadeiros ou não, eu não sei dizer.
Pode ser apenas que ele seja um excelente mágico, o que, para nossas
mentes ocidentais, seria a explicação mais confortável.
Pode-se dizer que o fenômeno ÓVNI - o enorme número de aparições de
objetos não identificados e supostas abduções - é uma manifestação do
domínio do imaginário.
Filósofos, cientistas e visionários julgam que, talvez, esse domínio esteja
sendo explorado coletivamente, e o que as pessoas estão trazendo dele,
tanto em sonhos quanto em estados alterados de consciência - ou nos
cenários de abdução em si, que são tão similares aos sonhos -, é uma
experiência objetiva daquele local, onde existe alguma similaridade,
tomando por base condicionantes culturais.
Ao longo dos séculos, há provas de que as pessoas são condicionadas por
seu meio a perceber coisas do domínio do imaginário representativas de sua
cultura.
Por exemplo, a cultura irlandesa possui um folclore impregnado de duendes
e fadas, por isso não causa nenhuma surpresa que, durante os séculos
XVIII e XIX, muitos irlandeses relatassem aparições desses seres
sobrenaturais.
De forma similar e numa época mais recente, a cultura norte-americana
está impregnada de ficção científica.
Ao longo dos últimos 80 anos, livros, filmes e a televisão retrataram
estranhas criaturas espaciais.
De Júlio Verne ao filme O dia em que a terra parou, passando por Jornada
nas estrelas, a psique norte-americana está repleta de imagens de
alienígenas.
Nesse sentido, é possível que essas imagens, originadas no domínio do
imaginário de autores e cineastas, emergiram em sua consciência quando
eles tiveram a ideia de escrever um livro ou de fazer um filme.
As imagens voltaram a se manifestar nos cérebros sonhadores - ou num
estado de consciência alterado - das pessoas que presenciavam o fenômeno
ÓVNI.
Pode ser que, na verdade, não estivessem vendo criaturas de outra
dimensão espacial aparecendo em nosso mundo como objetos físicos, mas
sim que estivessem explorando o domínio do imaginário, que fica em algum
lugar entre o "real" e a "fantasia", contendo elementos de ambos.
Não pretendo com isso subestimar essas experiências ou dizer que não
passam de alucinações.
Apenas estou sugerindo que o cérebro pode funcionar de modo coletivo de
maneira mais intensa do que o mundo ocidental jamais pensou.
Sem dúvida, essa ideia, que integra a cultura aborígene e, também, o
folclore cultural, deve receber mais atenção do Ocidente.

A vida não passa de um sonho


Dia após dia, encaramos a vida como uma série de movimentos criativos,
sem deixarem de ser familiares, que sempre se transformam em algo novo.
O incessante borbulhar da ordem implicada, ou o estado do vácuo no
mundo material do espaço e do tempo, altera os mundos do "lá fora" e do
"aqui dentro" de nossas mentes, continuamente apresentando a elas novas
informações.
Os nascimentos se manifestam como pensamentos, sentimentos, intuições
e sensações.
Em conjunto, nos permitem experimentar a fronteira que divide o mundo
interno do externo.
Quando sonhamos, o processo é mais centralizado no mundo interno;
quando despertamos, no mundo externo.
Assim, quando percebemos que os dois mundos existem ou que provêm de
um vácuo mais profundo e fundamental - o aleph -, somos capazes de
explorar a criatividade e de ter uma vida criativa.
No próximo capítulo vamos examinar como fazer isso - como fazer nossas
criações acontecerem.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 3

 (Ghimel, 3) em  (Lammed, 30)


Ghimel representa o movimento, o deslocamento de todos os bayts
(matéria) contendo aleph (espirito).
Para que o movimento exista, o espaço-tempo é necessário; assim o ghimel
pode ser visto como a semente primordial do espaço-tempo.
Ghimel se transforma em lammed sempre que damos um passo, temos
uma nova ideia ou colocamos algo em movimento.
Se ghimel representa o ímpeto de se mover, primitivo e inconsciente,
lammed representa o movimento orgãnico.
O deslizar de uma cobra, o ritmo de um bailarino, a graça que lembra um
balé do jogador que recebe uma bola de futebol, esses movimentos têm
origem quando ghimel se transforma em lammed.
A chave para essa transformação é o sentimento.
Tudo que está vivo sente.

A onda do sentimento

A vida é uma onda que, nunca em dois momentos consecutivos de sua


existência, é composta das mesmas partículas.
- John Tyndall

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já tivemos a experiência


de sermos dominados por um sentimento.
Também já vivenciamos insights repentinos, que parecem vir do nada,
como lampejos de intuição.
Essas visões interiores costumam guiar nossas ações futuras e apresentam
indícios do que deve ocorrer "logo a seguir".
Na maioria das vezes, não nos apercebemos do movimento até que ele,
repentinamente, acontece, surgindo em nossos corpos e mentes, quando
nos sentimos dominados.
Esse movimento nos envolve, como muitas vezes falamos, feito uma onda -
uma descrição que, acredito, é mais do que uma simples metáfora, como
vou explorar neste capítulo.
Em A conexão entre mente e matéria, expliquei que o primeiro princípio da
nova alquimia é o que está em cima é como o que está embaixo, o que está
dentro é como o que está fora.
Esta afirmativa pode ser entendida como um axioma místico, pois aponta a
relevância de comparar ou de criar metáforas entre nossa vida interna com
os objetos e movimentos que vemos "lá fora".
Nesse livro também expliquei como os quatro elementos básicos - terra, ar,
água e fogo - estão ligados às nossas experiências sensoriais.
Aristóteles asseverou que os elementos primários foram descobertos porque
possuíam duas propriedades sensoriais - ambas advindas de um dos dois
pares opostos: frio/calor e úmido/seco.
Assim, o fogo é visto pelos nossos sentidos como seco e quente em relação
ao seu oposto, a água, que é úmida e fria; o ar parece quente e úmido em
relação ao seu oposto, a terra, que se mostra fria e seca.
Assim sendo, se alguém segura uma substância que parece quente e
úmida, trata-se de uma substância feita essencialmente de ar, vapor ou
éter; se ela parece fria e seca, basicamente é feita de terra.
Dessa maneira, para transformar qualquer substância, precisamos mudar
uma ou mais de suas qualidades.
Por exemplo, ao tirar a umidade de uma substância, a qualidade oposta, a
secura, aparece; o material então teria um ou dois elementos do fogo e da
terra.
Se fosse úmido, teria um ou os dois elementos do ar e da água.
Todos nós temos familiaridade com esses elementos e suas várias
combinações.
Uma bebida gaseificada, por exemplo, contém os elementos do ar e da
água.
Dessa maneira, a sentimos como sendo úmida ou molhada e, também, fria.
E o mais importante: nossa familiaridade não tem nada a ver com o fato de
o elemento possuir propriedades que sentimos, mas com a capacidade do
elemento de passar adiante esta qualidade sensorial para um aparelho
físico, como a pele ou a língua.
Essa passagem define o que quero dizer por "transformação".
Por conseguinte, uma pimenta jalapefio produz a sensação de calor nas
papilas gustativas porque o elemento fogo da pimenta passa seu calor para
a língua na forma de uma reação química ácida.
Ao fazer isso, a pimenta se torna mais fria, perdendo o calor.
Meu argumento é que a sensação que chamamos gosto surge da
transformação de elementos de uma coisa em outra.

A vida consiste em transformações - um movimento da onda alquímica.


Todos nós podemos ver e sentir o vento, a chuva, o Sol e o chão em que
pisamos.
Vivenciamos, de maneira direta, os quatro elementos: ar. água, fogo e
terra.
Em termos gerais, sabemos que a água é úmida e fria e que o fogo é
quente e seco.
Sabemos que a terra geralmente é seca e fria.
E que o ar soprando em nossa pele geralmente é frio e seco.
O ar parece mais quente que a terra e mais úmido que o fogo, e assim
manifesta seus atributos de umidade e calor: por exemplo, quando a pele
sente o ar aprazível dos climas da região Sul dos Estados Unidos.
A vida consiste de atos de transformação alquímica ocorrendo numa vasta
gama de escalas temporais.
Esses processos acontecem com tanta frequência que na maioria das vezes
os aceitamos sem pensar, sem se importar.
Quando estamos incomodados com nosso ambiente, procuramos mudar a
formulação alquímica que causa o desconforto: colocamos lenha na
fogueira, ligamos o aquecedor ou o ar-condicionado, abrimos ou fechamos a
janela, esquentamos ou esfriamos o chá que bebemos e alteramos a
iluminação em nossas salas.
Todo o mundo "lá fora" que sentimos em nossa volta surge de modo
contínuo por meio de transformações alquímicas.
Em consequência, não causa surpresa que a nova alquimia também busque
descrever de modo semelhante as transformações que envolvem nosso
mundo interior de sensações, pensamentos, intuições e sentimentos.
Imagine quantas transformações puder - sensações do "lá fora - enquanto
eu o levo ao mundo interno dos sentimentos e das transformações.
Aqui, vamos descobrir as regras da alquimia interna - as regras da onda
alquímica da vida.
Mas, primeiro, para definir o estágio de nossas descobertas, deixe-me
alinhavar com muito cuidado as transformações que vemos acontecer no
mundo "lá fora".

O objetivo maior - Elementos "lá fora"


Em poucas palavras, existem quatro elementos principais que compõem o
mundo "lá fora": fogo, terra, água e ar (veja a Figura 3.1 abaixo).

Cada elemento representa uma limitação objetiva do mundo "lá fora".


Os limites são percebidos pelos sentidos e parecem existir de forma
independente do mundo interior que chamamos mente.
Cada elemento origina dois atributos ou qualidades internas.
Assim, por exemplo, o fogo estimula o sentido de quente e seco; ele se
apresenta aos olhos como luz ou, para a pele, como calor.
Saboreamos o fogo em comidas condimentadas como a pimenta jalapefio.
O fogo estimula os sentidos visual, tátil e gustativo.
A terra estimula a sensação de seco e frio, o que não significa que sempre
sentimos como fria a terra sob nossos pés; todos sabemos como a areia é
quente!
Apenas queremos dizer que o elemento terra em si é frio.
É claro que quando acrescentamos fogo à terra temos areia quente ou uma
erupção vulcânica.
A terra, também, geralmente é seca - mas, mais uma vez, conhecemos a
sensação da areia molhada.
A terra se apresenta para nós em substâncias materiais do cotidiano.
Nossos corpos são feitos de carbono, hidrogênio, oxigênio, sódio e outros
elementos da terra.
De modo literal, consumimos a terra ao comer seus elementos, e, de modo
similar, também excretamos elementos da terra.
Temos consciência da terra tocando, saboreando, vendo e cheirando.
Lembre-se que tanto a terra quanto o fogo geram uma experiência interna
similar, a da secura.
O que distingue a terra do fogo é a mutabilidade do quente e do frio.
Uma substância misteriosa seria identificada como tendo o estilo do fogo ou
da terra de acordo com o grau de frio ou calor que sentíssemos ao tocá-la.
Ao agir assim, poderíamos dizer que o fogo e a terra mantêm o grau
seco/úmido constante (ambos são secos) e o quente/frio variáveis.
Não se esqueça dessa distinção quando investigarmos os elementos
internos do pensamento e da sensação; lembre-se também que tanto a
água quanto a terra estimulam idêntica propriedade interna do frio.
Em consequência, a água e a terra mantêm o grau de quente/frio constante
(ambos são frios) e variável o grau de seco/úmido - recorde-se deste fato
quando examinarmos a sensação e o sentimento.

Retomando o caminho anterior, vemos que a água e o ar mantêm constante


o grau de molhado/seco (ambos são úmidos) e variável o grau de
quente/frio - não se esqueça disto quando compararmos sentimento com
intuição.
E, prosseguindo, vemos que o fogo e o ar são quentes com variação de
grau de úmido/seco; lembre-se disso quando compararmos pensamento e
intuição.

Esses quatro elementos externos se transformam entre si ao trocar suas


qualidades sensoriais complementares "internas" (de quente a frio ou de
seco a úmido) numa escala variável.
Por exemplo, o quente vira morno, depois frio, e quando a mudança é
concluída, um elemento está transformado em outro.
Imagine, por exemplo, estar segurando um balão cheio de água.
Agora, acrescentamos energia à água aquecendo-a, com cuidado, sem
estourar o balão.
Conforme sentimos a mudança de frio para quente, faz sentido pensar que
a intensidade de fogo no material aumenta à medida que a água esquenta e
evapora.
Quando está repleto de fogo, o balão se expande e sobe.
O fogo aumenta o movimento das moléculas contidas dentro do balão e
logo toda a água terá evaporado, transformando-se em ar.
Assim, temos no balão uma substância que permanece tão úmida quanto
antes da adição de calor, mas que não é mais água: ela se transformou na
substância que possui ou estimula as propriedades internas do úmido e do
quente, isto é, ar, ou, se preferir, vapor d'água.
É importante destacar a natureza de todas as transformações, isto é,
aquelas que acontecem em estágios em que um atributo complementar
(por exemplo, úmido/seco) permanece fixo ou constante, enquanto muda o
outro atributo complementar (nesse exemplo, quente/frio).
Todas as transformações ocorrem como nas etapas descritas.
Antes que um líquido (a água) possa mudar para seu oposto complementar,
o fogo, primeiro deve se transformar em ar ou terra e, a partir desse
estágio secundário, pode se transformar de novo em fogo.
Logicamente, é possível transformar um elemento em seu complemento ou
oposto mudando todos os atributos em sequência.
Nós poderíamos, por exemplo, ter transformado o ar úmido do balão em
fogo ao acrescentarmos uma perturbação elétrica que iria provocar a
ionização e decomposição das moléculas de água em hidrogênio e oxigênio.
Depois, quando esses elementos voltassem a se combinar como vapor
d'água, um fogo poderoso seria emitido.
E foi um fogo semelhante a este usado no transporte de veículos espaciais
para a Lua e Marte e no lançamento de satélites artificiais, quando
hidrogênio e oxigênio líquidos foram queimados para gerar água e calor.

Transformações objetivas
Em resumo, temos a seguinte tabela de transformações:
Transformar ar em água (mantendo a umidade constante) e vice-versa.
Transformar fogo em terra (mantendo a secura constante) e vice-versa.
Transformar água em terra (mantendo o frio constante) e vice-versa.
Mudar ar em fogo (mantendo o calor constante) e vice-versa.

O processo de transformação de ar em água pode ser ilustrado pela


condensação que ocorre no para-brisa numa manhã fria, após uma noite
quente.
Aqui, o vapor d'água aparece como o elemento ar que se liquefaz em
contato com o para-brisa frio.
Durante esse processo, a quantidade de umidade permanece a mesma, mas
a temperatura ou grau de quente/frio muda.
O processo de transformação de fogo em terra (matéria) pode ser ilustrado
pela formação de elementos químicos pesados durante a morte de uma
estrela.
Assim, em uma verdadeira alquimia física, os elementos mais leves no
interior da estrela se fundem, ganhando massa e afundando em direção ao
núcleo, produzindo energia radiante no processo.
Conforme a estrela irradia luz durante sua vida, seu núcleo central se
transforma gradualmente em ferro - o elemento mais estável da tabela
periódica.
Quando a estrela começa a formar um núcleo de ferro, a fusão nuclear no
interior do núcleo deixa de produzir energia radiante e, em vez disso,
absorve energia e produz elementos mais pesados que o ferro.
Nesse estágio, o fogo estelar do núcleo literalmente se transforma em terra
sob a forma desses elementos mais pesados que o ferro.
Em consequência do lento e contínuo bombardeamento de nêutrons,
núcleos de massa maior, como ouro ou chumbo, se formam no âmago da
estrela, causando sua morte.
Num espasmo final, a estrela expele um invólucro de elementos pesados no
espaço, como um último suspiro, e morre, transformando-se em uma
obscura anã branca.
O processo de transformação de água em terra é ilustrado pelo
congelamento da água, que produz gelo.
Aqui, a temperatura ou grau de quente/frio permanece fixo, enquanto o
grau de secura/umidade passa de úmido a seco.
E o processo de transformação de ar em fogo é ilustrado pelo aquecimento
de gás, que leva a uma explosão - como quando o vapor d'água se expande
pela adição de mais calor ao sistema.

Vemos muitos dos processos anteriores acontecerem em nosso clima; por


vezes, todos ocorrem numa questão de minutos.
A atmosfera é completamente governada pela transformação alquímica da
água em ar (formando nuvens) ou de ar em água (formando chuva ou
neve).
As estações do ano também estão associadas aos elementos alquímicos e
suas transformações.
Verão com fogo, outono com terra, inverno com água e primavera com ar.
Não é de se admirar, portanto, que existam quatro estações.
Do mesmo modo que o quente se torna frio, o verão/fogo se transforma em
outono/terra; como a terra seca fica úmida com a chuva e a neve, o
outono/terra se altera em inverno/água; conforme a terra fria e úmida se
aquece, o inverno/água vira primavera/ar; e o ciclo se completa quando o
ar úmido e seco se transforma nos dias quentes do verão/fogo.
A vida não é maravilhosa?

Os principais elementos subjetivos do "aqui dentro"


Do mesmo modo que existem quatro elementos principais formando o
mundo "lá fora" (como visto na Figura 3.1), também existem quatro
elementos principais formando o mundo do "aqui dentro" (como se vê na
Figura 3.2 abaixo).

Como vimos anteriormente, os elementos externos objetivos são


experimentados por pares das propriedades sensoriais do "aqui dentro".
Por exemplo, a propriedade objetiva do fogo é vivenciada pelas qualidades
subjetivas do quente e do seco.
Seguindo o primeiro princípio da nova alquimia, o que está em cima é como
o que está embaixo, o que está dentro é como o que está fora, aqui iremos
lidar com os quatro elementos internos e suas transformações.
De modo complementar, faz sentido que todas as propriedades subjetivas
sejam vivenciadas por pares de atributos objetivos do "lá fora".
Estes pares funcionam como suporte, de maneira semelhante como todas
as qualidades objetivas são vivenciadas por pares de propriedades
subjetivas.
Na verdade, nos referimos à própria natureza da psicologia - a medida
lógica da psique interna como determinada por suas relações com as
propriedades objetivas do mundo externo, na medida idêntica em que a
medida lógica do mundo externo é determinada por suas relações com as
propriedades subjetivas da psique interna.
E, do mesmo modo que os quatro elementos externos sofrem mutações
pela mudança da qualidade subjetiva do complemento, os elementos
internos se transformam com as trocas das propriedades objetivas do
complemento externo experiencial.
Na Figura 3.2, vemos esses elementos internos (pensar, perceber, sentir e
intuir) e suas propriedades complementares objetivas externas
(tempo/energia e movimento/ localização espacial).
Vamos examinar isso em detalhe.

Fogo e pensamento
Assim como o fogo foi percebido como uma combinação das sensações de
quentura e secura, o pensamento se projeta tanto como um processo
cerebral e corporal quanto com os objetos que vivenciamos no mundo.
Desse modo, o pensamento projeta as propriedades externas do tempo e
do espaço.
Assim, o tempo e o espaço são a medida do pensamento.
E qualquer tentativa de mensurar o pensamento envolverá algum tipo de
localização espacial (como, por exemplo, no cérebro ou na cabeça) e algum
reconhecimento do tempo (como quando lembramos um evento ou o
comparamos com um episódio anterior ou posterior).
Antes de qualquer coisa, efetivamente, o pensamento está ligado ao tempo
e ao espaço.

Terra e sensação
Do mesmo modo que a terra foi experienciada por meio de uma combinação
das sensações de frio e secura, a experiência interna da sensação se projeta
como processos que aparecem em nosso corpo - nosso senso comum dos
objetos que vivenciamos no mundo -, e como tendo uma propriedade
energética.
Por exemplo, algumas sensações parecem ser brandas, outras, fortes, e,
neste sentido, a sensação surge pela projeção das propriedades externas da
energia e do espaço.
E, por conseguinte, a energia e a localização espacial são a medida da
sensação.
Essa sensação no espaço é vivenciada por meio de sensações que
associamos ao local onde um objeto está localizado, como quando vemos
uma estrela ou ouvimos um carro se aproximando.
Sendo assim, qualquer tentativa de mensurar a sensação envolverá a
localização de algo no espaço.
Quando localizamos um objeto, o fazemos projetando sensações do "lá
fora" para o local onde acreditamos que ele exista.

Água e sentimento
Do mesmo modo que a água foi percebida como uma combinação das
sensações de frio e umidade, o sentimento se projeta como uma reação ao
movimento e à energia.
Temos sentimentos brandos ou fortes sobre as coisas e eventos que surgem
e também sentimos uma urgência nos sentimentos, uma propensão de
mover uma ou outra coisa em resultado desse sentimento.
Os sentimentos não estão "lá fora" no espaço e tempo, mas lançam
propriedades dinâmicas de movimento e energia em direção às coisas que
vemos "lá fora": quando vemos as coisas mudarem ou se moverem,
costumamos sentir.
Os sentimentos podem gerar sensações ou intuições, mas não
pensamentos, pois estes proveem dos sentimentos somente depois que
intuímos ou sentirmos alguma coisa.
O sentimento sempre possui uma propriedade energética.
Como sabemos, os sentimentos podem ser brandos, fortes ou
avassaladores.
Os cineastas, em particular, conhecem bem esse fato e o utilizam em seu
favor.
Uma vez, um conhecido professor de cinema me disse que um bom filme
"faz as pessoas sentirem".
Quando perguntei o que especificamente o público deveria sentir, ele
respondeu: "qualquer coisa".
Desse modo, o sentimento surge pela projeção das propriedades externas
da energia e do movimento.
Energia e movimento são a medida do sentimento.
Vivenciamos o sentimento como energia; na verdade, é por meio dos
sentimentos que ponderamos com que força iremos responder às situações
que se apresentam diante de nós.
E, assim, toda tentativa de mensurar o sentimento envolve alguma forma
de resposta energética ligada à força.
Também agimos segundo os sentimento.
Colocamos os eventos em movimento dependendo da energia do
sentimento.

Ar e intuição
Do mesmo modo que o ar foi percebido como sendo uma combinação das
sensações de quente e úmido, a intuição se projeta como uma propriedade
externa e interna.
Temos a tendência de ordenar as intuições por meio de expectativas, de
modo que quando uma intuição aparece, em geral temos um sentimento de
déjà vu.
Assim, a intuição projeta movimento no mundo e noção de tempo.
Tempo e movimento, então, são as medidas da intuição.
E toda tentativa de mensurar a intuição envolverá algum tipo de percepção
temporal, da mesma maneira como um evento é esperado.
A intuição nasce por meio do movimento, como quando vemos um objeto
se movendo e intuímos onde ele estará a seguir.
Usamos os olhos quando intuímos: observamos, por exemplo, um golfista e
intuímos onde a bola deve estar depois da tacada.
Nossa capacidade de acompanhar a bola depende dessa intuição que, por
sua vez, depende de nossa noção de tempo e movimento da bola.

O que está fora é como o que está dentro


Analisarei a frase o que está em cima é como o que está embaixo, o que
está dentro é como o que está fora comparando as Figuras 3.1 e 3.2.
A posição dos elementos nestas figuras é deliberada.

O fogo (o elemento externo) corresponde diretamente ao pensamento (o


elemento interno), o ar à intuição, a água ao sentimento e a terra à
sensação.
"Isso pode ser provado cientificamente?", você pode perguntar.
Essa é uma imagem mais ou menos intuitiva, embora possa oferecer uma
breve explicação.
O pensamento, a exemplo do fogo, está associado às mudanças imediatas.
Ele não pode ser preso, fugindo no minuto em que surge.
A sensação requer um objeto, uma substância material ou semelhante à
terra, para estar presente nos sentidos.
Os sentimentos, como a água, fluem sobre nós; nunca são apontados nem
localizados.
Nós os sentimos da mesma forma que sentimos uma onda do mar.
A intuição, assim como o ar, parece invisível; não vemos sua chegada e ela
não parece ter solidez - é por isso que desconfiamos dela com facilidade.
A exemplo de uma nuvem no céu, a intuição apenas aparece em cena ou
lentamente toma conta de nossas mentes.
Argumentos plausíveis similares podem ser oferecidos para todos os
elementos externos e seus correspondentes internos, descritos na mesma
posição em cada figura.
Na verdade, irei me referir a estas correspondências como metáforas
primárias: fogo/pensamento, terra/sensação, água/sentimento e
ar/intuição.

Transformações subjetivas
Prosseguindo, examinarei os quatro ciclos da transformação subjetiva em
relação às transformações objetivas.
Transformações baseadas em ar/água... Mudança de intuição em
sentimento (o movimento é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em fogo/terra... Mudança de pensamento em
sensação (a posição é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em água/terra... Mudança de sentimento em
sensação (a energia é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em ar/fogo... Mudança de intuição em
pensamento (o tempo é constante) e vice-versa.

Transformando intuição em sentimento


A intuição envolve a percepção do tempo e do movimento, nos permitindo
sentir um movimento futuro.
Ela sempre envolve movimento e momento linear, mas não
necessariamente energia.
Embora movimento e energia estejam ligados de maneira íntima, a energia
não tem uma direção associada a ela, enquanto o movimento sempre tem.

Por exemplo, num jogo de futebol, o armador intui qual jogador estará livre
na próxima jogada.
Ele vê em sua mente o que vai fazer e realiza uma sequência temporal,
sabendo em que direção lançar a bola e quando.
O armador faz tudo isso sem pensar, mesmo tento ciência do tempo.
Quando dá início à jogada, ele transforma a intuição de tempo-movimento
em sentimento de energia-movimento, tocando a bola quando sente que o
passe vai se concluir.
Dessa maneira, muda a percepção de tempo em percepção de energia.
O armador precisa fazer isso para que a ação se desenrole.
A bola tem peso e inércia; o movimento da perna requer que ele chute a
bola com determinada quantidade de força, e como resultado, energia.
E tudo isso é feito sem que um único pensamento aconteça - observe aqui a
constância do movimento e a mudança de tempo em energia.
Fato semelhante ocorre com jazzistas que energizam a intuição na hora de
tocar, dando um formato físico à intuição no instante em que externam a
energia tocando o instrumento.

Vice-versa: transformando sentimento em intuição


O sentimento envolve a percepção de movimento e energia.
Ele envolve energia e é a força motivadora ou fonte de poder, permitindo
agir sem pensar.
Um clarinetista de jazz, por exemplo, sente a música enquanto toca: se
sente energizado e alerta.
Quando para de tocar um instante, intui como tocará a próxima parte e,
quando principia o processo, transforma o sentimento de energia-
movimento em intuição de tempo-movimento ao trocar a energia do tocar
pela percepção temporal, possibilitando, dessa maneira, intuir a próxima
sequência - na verdade, o segredo está no surgimento de sequências de
tempo, seja tocando música, praticando esportes ou tomando decisões de
negócios.
E tudo isso pode ser feito sem um único pensamento - perceba aqui a
constância do movimento e a mudança de energia em tempo.

Transformando intuição em pensamento


Como já mencionado, a intuição envolve a percepção do tempo e do
movimento.

Assim, por exemplo: um gerente de negócios intui que um produto vai


vender bem em determinado supermercado e anota sua intuição, isto é, cria
um plano de vendas ou o esboço de um ponto de vendas ou, ainda, uma
tabela com a projeção de vendas.
Ele, literalmente, grava seu pensamento ao colocá-lo no papel.
O pensamento, ao envolver a percepção de tempo e espaço, nos permite
criar planos de ação.
Passar da intuição ao pensamento envolve a transformação da percepção do
movimento em percepção da localização no espaço-tempo.
A percepção do tempo é uma constante, o que significa, no exemplo acima,
que o gerente "enxerga" sua intuição transformada num plano de ação
bem-preparado e sincronizado.
Cada passo foi contabilizado.

Vice-versa: transformando de pensamento em intuição


O pensamento permite criar planos de ação.
Neste sentido, quando colocamos um plano (um pensamento) em ação -
com a intenção de permitir que o movimento ocorra -, a intuição continua a
operar.
E, novamente, a percepção temporal permanece fixa.
Para entender isso, imagine uma bailarina que, após aprender um número,
começa a dançar intuindo os novos passos.
Enquanto aprende a nova coreografia, utiliza a intuição e a transforma em
pensamento.
Depois de aprender a nova dança, ela começa a transformar os
pensamentos em movimento ao usar a intuição para realizar a sequência de
passos corretamente.
Conforme dança, percebe que seus primeiros pensamentos estavam
incorretos e muda sua intuição recém-formada em pensamentos corretos,
para que seu desempenho melhore.
Aqui, a transformação segue do pensamento para a intuição e regressa ao
pensamento.
O tempo permanece fixo, pois seu desempenho depende de que ela
complete os passos num intervalo de tempo determinado, ditado pela trilha
sonora.

Transformando pensamento em sensação


Como já mencionado, o pensamento envolve a percepção do tempo e
espaço e nos permite criar planos de ação.
O pensamento sempre envolve o tempo, pois este é necessário para a
noção temporal e trabalha com a ordenação de coisas no tempo e no
espaço.

Por exemplo, um degustador pensa em qual vinho possui um toque de


chocolate; quando começa seu trabalho, transforma o pensamento no
espaço-tempo numa sensação de espaço-energia ao provar e sentir um
sabor achocolatado, o que pode ser feito sem envolver nenhum sentimento.
Aqui, a constância da percepção espacial existe no palato e na ponta da
língua do degustador.
Porém, para provar o vinho ele precisa usar energia - a energia envolvida
na aquisição do gosto.
De maneira literal, toda a consciência do degustador está concentrada nas
papilas gustativas.
Ao contrário do gerente e da bailarina, ele perde toda noção de tempo
durante a transformação que ocorre desde o pensamento à identificação do
sabor pela língua, daí a mudança na percepção tempo-energia.

Vice-versa: transformando sensação em pensamento


A sensação envolve a percepção do espaço e da energia, permitindo
trabalhar com o mundo externo objetivo da experiência.
Na verdade, a sensação nos conta que estamos tendo uma experiência do
mundo externo.
Quando a sensação se transforma em pensamento, a percepção da energia
passa à percepção do tempo, sua complementar.
No exemplo anterior, o degustador de vinho, ao dar início à apreciação,
pensa no sabor.
Ele transforma a sensação de espaço-energia de sua língua em pensamento
no espaço-tempo ao perceber que o vinho tem um toque de chocolate.
Mais uma vez, não há geração de sentimentos.
Aqui, a percepção espacial - o foco da atenção na língua e nas papilas
gustativas - permanece fixa.
Contudo, a percepção se move da energia do sabor ao tempo em que o
pensamento é registrado.

Transformando sensação em sentimento


A sensação sempre envolve energia e percepção do espaço em volta.
O sentimento envolve a percepção do movimento e da energia sem se ligar
ao espaço que nos cerca.

Um gerente de negócios, por exemplo, observa uma vendedora em ação,


escuta suas palavras, sente seu perfume, observa seu gestual e linguagem
e, por fim, discerne os sentimentos que brotaram nele.
O gerente transforma sensações de espaço-energia em sentimento de
movimento-energia.
Ele age tomando por base o sentimento de que, em particular, essa
vendedora será eficiente para determinado produto.
No exemplo anterior, a energia fixa, envolvida na transformação das
sensações do gerente (a voz e o perfu-me da vendedora) em sentimentos,
não envolve pensamentos (a percepção de tempo e do pensar é ignorada
por completo).
A mudança na percepção vai do espaço para o movimento - aqui, o
movimento do corpo e do sistema nervoso do gerente.

Vice-versa: transformando sentimento em sensação


O sentimento envolve percepção do movimento e da energia e nos permite
agir sem refletir.
No exemplo citado, depois que o gerente avalia os sentimentos, ele
continua observando a vendedora, buscando inverter a transformação e
conferindo os sentimentos com a próxima observação, para reafirmar as
suas sensações prévias.
A mesma energia persiste e, outra vez, ele não está pensando, mas apenas
comparando sentimentos e sensações.
O processo continua durante toda a avaliação.

Resumo: transformações subjetivas


Como vimos anteriormente, as quatro transformações e suas reversões
envolvem mudanças na percepção subjetiva e nas quatro propriedades
objetivas: percepção espacial, temporal, energética e de movimento.
Na maioria das vezes, essas transformações subjetivas envolvem um ciclo
de quatro fases.
Por exemplo, poderíamos transformar uma sensação corporal em
sentimento (fase 1), o sentimento em intuição (fase 2), a intuição em
pensamento (fase 3), que se completa quando o pensamento volta a ser a
sensação corporal (fase 4), fechando o ciclo.
Em todo ciclo sempre existem dois caminhos possíveis: horário e anti-
horário, como irei detalhar a seguir.

Contudo, nenhum ciclo subjetivo pode ser completado sem que as quatro
propriedades mudem e seus complementos permaneçam fixos.
Na próxima seção iremos ver como essas propriedades se comportam
quando comparamos constantes e variáveis durante um ciclo.

Constantes e Variáveis: Os dois Ciclos da Vida


A vida passa de acordo com nossa percepção, e nossa percepção depende
criticamente de como observamos cada momento que passa.
A percepção ocorre quando reparamos nas coisas que aparentam existir no
tempo e no espaço com as propriedades da energia e do movimento.
Dependendo de como fazemos isso, vivenciamos as mudanças na vida por
meio das sensações, intuições, sentimentos e pensamentos.
Às vezes, o movimento da vida pode parecer meio caótico, mas não o é.
A vida se move como uma onda gigantesca e estamos presos nela.
Se tentarmos controlar a onda, sempre iremos brigar com ela.
Se aprendermos a apenas sobreviver na crista da onda, nos tornamos sua
vítima.
Mas existe outra opção: podemos compreender as regras do movimento da
onda e aprender a surfá-la com grande habilidade.
Geralmente, utilizamos todas as transformações citadas em nossas vidas.
É complicado, aliás, imaginar como seria se não fosse deste modo.
Na verdade, como o leitor deve imaginar, quase nunca utilizamos duas ou
três fases nas transformações das propriedades da vida.
Na maioria das vezes, utilizamos ciclos completos de transformação.
Como já mencionei, existem apenas dois sentidos possíveis para os ciclos
(veja a Figura 3.2): horário e anti-horário.
Surfar a onda da vida, a exemplo de surfar uma onda do mar, exige imensa
concentração.
Do mesmo modo que um surfista sabe como se portar (isto é, em que
direção virar seu ciclo) para permanecer na onda sem cair, todos nós
podemos aprender a usar as duas direções do ciclo quando fazemos
escolhas na vida.
A utilização de ciclos completos depende principalmente de compreender
qual propriedade permanece fixa enquanto seu complemento muda em
algum instante da transformação.
Indiquei nas Figuras 3.7 e 3.8 as propriedades objetivas da vida: tempo,
espaço, energia e movimento.
Os pares opostos estão ligados por setas de duas pontas indicando a
transformação dos mundos internos subjetivos da mente e do sentimento.
Existem apenas duas variáveis: mudar tempo em energia e vice-versa
(como se vê na Figura 3.7); e mudar movimento em localização espacial e
ao contrário (como mostra a Figura 3.8).
Vou explicar mais detalhadamente.

Durante uma transformação de tempo em energia, duas coisas podem


mudar dentro de nós, dependendo do que escolhermos manter constante -
ou seja, o que não queremos mudar.
No lado esquerdo da Figura 3.7, lidamos com o mundo interno de
sentimentos e intuições.
Não tratamos da questão "como podemos mudar?".
Não temos ideia de onde estamos: simplesmente existimos num estado de
movimento constante, o ritmo da respiração se altera, o passo da
caminhada varia etc.
Estamos profundamente dentro de nós mesmos e mudando da percepção
tempo para energia, e vice-versa.
Temos mostras dessa transformação em qualquer atividade em que o
estado do movimento permanece inalterado; e, com isso, refiro-me a um
padrão de movimento consistente como, por exemplo, quando caminhamos
num ritmo uniforme.
Até mesmo quando escrevemos uma carta essa transformação acontece.
A questão principal permanece na transformação ritmo/síncope/ritmo.
Na Figura 3.7, a transformação do tempo em energia pode tanto produzir
um sentimento quanto uma sensação corpórea, dependendo do que não
muda durante esse procedimento.
Uma intuição vira sentimento sem mudança na consciência do movimento e
sem percepção espacial; já um pensamento vira sensação sem mudança na
posição ou localização corporal, mas sem percepção de movimento.

Na figura 3.8 a transformação de movimento em ausência de movimento


pode produzir tanto um pensamento quanto uma sensação corpórea,
dependendo do que permanecer inalterado durante o processo.
Uma intuição vira pensamento de modo instantâneo sem que haja
percepção de energia; já um sentimento vira uma sensação num período de
tempo indeterminado e não percebido.
A energia envolvida na transformação permanece constante.
É por isso que, quando a energia permanece fixa, os sentimentos se
transformam tão facilmente em emoções, as quais, por sua vez, produzem
sensações corpóreas de alegria ou tristeza, prazer ou dor.

No entanto, é preciso observar como é fácil mudar a percepção entre


manter constantes o movimento e a localização espacial (como visto à
direita na Figura 3.7).
Agora não temos ideia de como estamos nos movendo.
Assim, por exemplo, podemos estar alterando nosso ritmo respiratório ou o
de nossas passadas e, quando fazemos isso, a intuição não se transforma
mais em sentimento e vice-versa.
Ao contrário, estamos cientes das sensações do corpo e usando os
pensamentos - o pensamento se transforma em sensação e vice-versa.
Aqui, a atenção vai dos pensamentos à percepção corporal e vice-versa.
A mesma variável ocorre - a transformação energia em tempo -, mas o
efeito em nossa percepção é completamente diferente.
Exemplificando: pensar e saborear envolve a manutenção constante da
localização espacial da sensação.
Nesta ação, o centro da concentração permanece na superfície da língua.
Poderíamos usar a mesma transformação quando jogamos sinuca ou golfe,
pois qualquer tipo de esporte em que nos concentramos, a forma como o
corpo atua, envolve a transformação de energia em tempo com a
manutenção da percepção espacial.
(Você pode até se movimentar enquanto se concentra no local em que está,
mas o movimento não será determinado nem estará sob seu controle
enquanto você se focalizar na localização espacial. Tudo isso provém do
princípio da complementaridade.)
Conforme a mente muda a ação de manter fixa a localização espacial para a
de manter um estado constante de movimento, muda, de forma
automática, a transformação subjetiva que experimentamos.
Este é um importante segredo da magia, pois enquanto mudamos o que
mantemos fixo, também mudamos nós mesmos no mundo e o mundo com
o qual nos identificamos.
Assim, mantendo constante a percepção espacial, transformamos
pensamentos em sensações e vice-versa.
Ao manter o movimento constante, transformamos intuições em
sentimentos e vice-versa.
Uma situação similar é criada quando não há mudança no tempo ou na
energia (veja a Figura 3.8).
Durante a transformação de movimento em localização espacial, duas
coisas diferentes podem se modificar dentro de nós se escolhermos manter
constantes o tempo ou a energia.
Nós lidamos com o mundo interno de transformar pensamentos em
intuições (veja o lado esquerdo da Figura 3.8).
Aqui, não temos percepção de energia ou intensidade.
Em vez disso, permanecemos fixos na percepção temporal e ficamos,
literalmente, controlando o relógio.
Nós passamos da percepção de movimento à percepção de espaço e,
possivelmente, do seu inverso.
Temos essa experiência quando jogamos xadrez ou outro jogo que exija
consciência do tempo.
Entretanto, mudar a percepção entre manter constante o tempo e manter
fixa a energia (veja o lado direito da Figura 3.8), envolve a transformação
de sentimentos e sensações corporais.
Quando fazemos isso, a intuição não pode mais se transformar em
pensamento e vice-versa: ao contrário, o sentimento se transforma em
pensamento e vice-versa.
Aqui, a atenção se move sem precisarmos pensar ou termos noção do
tempo, indo do sentimento à percepção corpórea.
A mesma variável ocorre - a transformação de movimento em espaço -,
mas o efeito na percepção é completamente diferente.
Policiais, psicólogos, gerentes de negócio, professores - profissionais que
trabalham com pessoas - estão cientes dessa transformação.
Essas profissões exigem que observemos aqueles com quem trabalhamos -
suspeitos, pacientes, funcionários, estudantes - e façamos julgamentos
baseados nessas observações.
Podemos parecer calmos e relaxados e podemos julgar sem despender
muita energia ou esforço.
Na maioria das vezes, não existe tempo para pensar na situação que
encaramos, mas devemos observar, ter um sentimento e usar os sentidos
com cautela.

Os dois ciclos: um exemplo


Agora que já vimos como cada fase dos ciclos funciona, pensei que seria útil
acompanhar como tudo isso ocorre examinando um exemplo.
Talvez você veja que, ao fazer a escolha adequada, pode mudar o mundo e
sua presença no mundo, além de aprender algo novo que, quem sabe,
ainda não tenha percebido.
Imagine um ciclo que começa e termina com um pensamento.
O ciclo pode ser:
(a) pensamento-sensação-sentimento-pensamento ou
(b), pensamento-intuição-sensação-pensamento (veja a Figura 3.2).
Sua experiência será muito diferente dependendo da escolha que fizer - isto
é, o modo que escolher para completar o ciclo.
Por exem-plo, seguindo o caminho (a):
Você pensa em alguém que acabou de conhecer e presta atenção ao seu
modo de falar, nos seus gestos, cheiro ou perfume e, quem sabe, no toque
de sua mão.
Essas sensações criam um sentimento sobre a pessoa.
Talvez seu mau cheiro ou postura ruim criem sentimentos de desconfiança.
Talvez ela seja alta e bonita e você se sinta atraído por sua presença e
tenha sentimentos românticos.
Esses sentimentos criam uma noção de repulsão ou de atração que
conduzem a intuições sobre como deseja se comportar com esta pessoa no
futuro.
À medida que conhece a pessoa, as intuições naturalmente levam a
pensamentos futuros sobre ela, e o ciclo talvez recomece.

Vamos repetir o mesmo encontro, só que desta vez seguindo o caminho


(b).
Os pensamentos o levam a ter uma intuição sobre a pessoa, talvez uma
fantasia sobre como seria bom ou não estar de novo com ela.
Essas intuições conduzem aos sentimentos de atração ou de desconfiança.
Os sentimentos fazem você sentir a presença da pessoa com grande carinho
ou até o deixam cego diante das sensações, ignorando o que sente ou
escuta na voz dela.
Essas sensações, ou seu bloqueio, levam você a ter mais pensamentos
sobre ela, quando a aceita ou a dispensa.
Como se viu, é possível ter impressões diferentes da pessoa, sentimentos
distintos e críticas, dependendo de como o ciclo se completa.
Por um lado, uma pessoa malcheirosa pode ser uma boa escolha, caso os
pensamentos sejam seguidos pelas intuições e não pelos sentidos; por
outro lado, se as sensações seguirem os pensamentos, você pode
considerar a pessoa atraente por causa do tipo físico.
Se tivesse deixado a intuição seguir seus pensamentos, poderia julgar a
pessoa completamente não confiável e, após assumir seus sentimentos, vê-
la sob outra óptica.
Talvez seja útil usar outros exemplos de sua própria vida.
O ciclo pode começar de qualquer lugar, desde que seja completado.
Presumindo, por exemplo, que você comece pelo pensamento, tente seguir
o caminho contrário e ver se consegue terminá-lo com as mesmas ideias de
quando começou.
No Capítulo 4 iremos ver como essas regras de transformação se aplicam à
memória, sejam elas recentes, muito antigas e até, quem sabe, parte do
código genético.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 4

 (Dallet, 4) em  (Mem, 40)


Dallet representa a resistência ou reação ao movimento; é a inércia comum
dos materiais e desempenha um papel vital no universo.
É a força de resistência do universo.
Dallet se transforma em Mem quando a resistência primordial desemboca
no oceano da memória.
Sem a capacidade de transformar a resistência em registro, a vida não
conseguiria armazenar informações, o DNA não iria surgir nem teríamos
ideia do que somos.
Na verdade, nem essa pergunta seria formulada.

Um pregador de peças em nossa memória

Eu tenho um mapa existencial; "você está aqui" está escrito em todo ele.
- Steven Wright

A vida de cada um de nós é feita de memórias.


A memória nos permite criar fábulas maravilhosas, histórias, desculpas e
explicações, e todas a partir de cenas da vida que reconstruímos.
As células contêm memórias de nossos familiares e do ambiente; contêm o
material genético de nossos ancestrais e dos ancestrais que viveram antes
que existisse a raça humana.
Chamamos essas memórias de características raciais, genes, DNA e assim
por diante, e acreditamos que podemos nos entender melhor se pudermos
compreender nossas memórias.
Para recuperar as memórias, de onde quer que possamos imaginar que
estejam armazenadas, precisamos confiar em algumas ferramentas.
Como descrevi em A conexão entre mente e matéria, conhecemos quatro
ferramentas: intuições, sentimentos, pensamentos e sensações.
Por meio dessas quatro ferramentas, acionamos a memória para modelar a
existência - para dar forma e significado a ela, para transformar as
variáveis mencionadas no capítulo anterior e acionar diferentes
combinações de sentimentos, pensamentos, sensações e intuições.
Mas, é preciso ter cuidado.
Essas ferramentas também têm um lado sombrio - ou, como prefiro dizer,
enganador, que nos prega peças, pois quando as usamos, vemos que
obedecem regras, as leis quânticas da complementaridade.
O mundo se mostra maleável, infinitamente cambiável.
Então, não apenas somos capazes de modificar o presente, mas também o
passado - ou, pelo menos, nossas memórias.
Na verdade, estudos recentes sobre a memória mostraram que as
lembranças costumam mudar, em especial após longos períodos de tempo,
mas não apenas.
Gostaríamos de acreditar que nossas queridas lembranças de infância e de
outras épocas da vida são reproduções fiéis do passado.
Também gostaríamos de acreditar que lembramos com precisão de um
evento acontecido poucos dias atrás.
Contudo, diversos estudos e experimentos mostram que as memórias,
mesmo quando mantidas em segredo, podem estar completamente
incorretas.
Por vezes, é possível inserir em nossas lembranças cenas que aconteceram
em outras épocas, misturando recordações.
Isso também acontece quando lembramos rostos ou a localização de uma
rua numa cidade que já visitamos.
Há muito reconhecido pelos povos antigos e indígenas ao redor do mundo
como um aspecto de nossas mentes, esse lado enganador distorce as
lembranças verdadeiras.
Apesar disso, ele - refiro-me ao enganador no masculino apenas por
conveniência - desempenha um papel vital na criação de sentido em nossas
vidas, fazendo aparições para nos lembrar que podemos estar nos iludindo,
que nossas memórias podem nos levar a acreditar em quase tudo, desde
uma falsa noção de superioridade a um também falso sentimento de
inferioridade.
Assim, iremos explorar neste capítulo como nossas memórias afetam tudo,
desde o modo como nos avaliamos até o modo como vemos o mundo.
Veremos o enganador em ação e iremos compreender que esse camarada
mágico é nosso aliado, se aprendermos a lidar com ele da maneira correta.

A memória enganadora: uma evolução de mundos paralelos


Estamos no ano 80 mil a.C. e você está vendo o Sol se pôr.
É uma hora calma do dia; hora de procurar mantimentos.
À frente, você se depara com um ponto de referência familiar; porém,
alguma coisa acontece, algo está mudado.
Talvez seja culpa da tíbia luz na grama alta ou pode ser que exista uma
criatura pavorosa pronta para dar o bote.
De qualquer maneira, é preciso tomar uma decisão; a vida de todos em sua
família depende de você fazer a escolha correta.
Na última vez em que saiu, você seguiu pela direita.
Ou foi pela esquerda?
Você não tem certeza.
Sentindo-se pressionado para tomar uma decisão, segue pela esquerda.
Enquanto se move com pressa pelo que aparenta ser um caminho familiar,
sente o perigo e tenta se certificar de que está na trilha correta.
Mas, assim que começa a relaxar, a grande fera o ataca.
Uma dor aguda é tudo que percebe, enquanto tudo escurece.
A cena acabou e você morreu.
Espere aí.
Pare a ação.
Vamos refazer o caminho.
Você está na grama alta, mas desta vez segue pelo lado direito.
Enquanto caminha com cautela pela picada, da qual não se lembra, sente
um estranhamento.
O lugar não é de todo desconhecido, mas é diferente.
Logo à frente, encontra a lenha que procurava e volta para sua família.
A cena acaba e você sobreviveu.
Tudo parece predefinido: ou você sobrevive ou não.
Certo?
Bem, mais ou menos.
Você tanto morreu quanto sobreviveu na savana pré-histórica, pois tomou
os dois caminhos.
Ainda assim, escolheu apenas um deles.
Tinha de ser assim.
Mas como teve os dois destinos?
A resposta a esse aparente paradoxo é produto da teoria dos universos
paralelos da física quântica e, como se vê, um ponto central para a
compreensão do funcionamento da memória - e de como, às vezes, ela nos
prega peças.
Por mais fantástico que possa parecer, a teoria dos universos paralelos
postula a existência - num nível diferente, mas paralelo - de outro mundo,
uma cópia um pouco diferente, mas ao mesmo tempo idêntica a este
mundo.
E não apenas dois mundos paralelos, mas três, quatro e mais - uma
quantidade infinita criando um universo de universos.
Em cada um destes universos, você, eu e todos os seres vivos, já viveram,
vão viver, nunca terão vivido, estão vivos.
E onde está esse universo?
Podemos imaginá-lo - e àquele onde vivemos - como camadas de um bolo.
Por mais incrível que possa ser, adentramos em cada camada quando
temos uma experiência; na verdade, temos feito isso, talvez de forma
inconsciente, desde o começo dos tempos.
Essa ideia radical desempenha um papel em nossa vida cotidiana e, de fato,
constitui a nossa vida cotidiana.
Ao compreendermos como os universos paralelos funcionam, obtemos uma
perspectiva firme de por que experimentamos dor e prazer - como os dois
naturalmente surgem de atos fundamentais da consciência que "criam" o
universo onde todos vivemos.
Esses atos imprescindíveis separam nossos pedacinhos de consciência do
oceano, são gotas do mar do universo infinito e constante de todos os
possíveis universos paralelos.
Esses atos, esses sentidos de "saber" alguma coisa, estão na origem de
todo sofrimento e prazer.
Em cada um desses atos nasce a maior ilusão de todas, a ilusão do "eu".
Essa sempre presente "euzificação", esse desejo constante de transformar o
"eu" em nosso "soberano," é o único show de mágica que existe.

Universos em camadas de bolos


A chave da compreensão da memória enganadora reside em grande parte
na compreensão de como surgem os universos paralelos e de como eles
produzem a percepção temporal, provocada por atos da consciência.
Ela aparece quando ficamos, de algum modo, entrincheirados, achando que
todas as nossas experiências acontecem numa única camada universal.
Essa ideia tem a ver com o que um cavalo sente quando antolhos são
colocados para cobrir parcialmente sua visão, para impedi-lo que se distraia
pelo tráfego numa rua movimentada.
O efeito seria como se esta experiência - o ato de estar consciente -
"saltasse" a onda quântica da consciência, de modo repentino e
aparentemente descontínuo, em um universo único.
Englobar todas as camadas do multiverso traz à luz a holográfica Mente de
Deus, que nos faz experimentar o que existe em qualquer uma das
camadas.
Do mesmo modo que o cavalo ficaria estupefato com a rua movimentada
quando seus antolhos fossem removidos, você também ficaria se soubesse
que sua existência ocorre de modo simultâneo num número infinito de
camadas de universo onde, em cada uma dessas camadas, existe um
"você" paralelo!
Todas as camadas incluem padrões que parecem o rastro de bolhas num
experimento físico de alta energia, ou a trilha de nuvens deixada por um
avião voando alto.
Quando essas camadas de bolhas são sobrepostas, como se fossem folhas
de papel transparente, um padrão geral aparece.
Esse padrão é o holograma universal: a Mente de Deus.
A partir dessa posição favorável, a localização espacial completa, ou o fluxo
do momento linear dos objetos, pode ser observada.
O tempo se apresenta em uma única camada como pensamento.
Quando englobamos todas as camadas, o tempo mostra-se como a mente
da alma; mas ele não é verdadeiramente observável, como o momentum de
uma partícula ou sua localização espacial.
Não podemos congelar o tempo; então, de alguma maneira, o tempo não
pode ser contabilizado como algo que pode ser observável, a exemplo da
localização espacial.
Observamos sequências de memórias quando observamos o tempo e, como
o tempo não existe, somente existem sequências de memórias.
Trocando em miúdos, o que chamamos tempo, na verdade, é uma
sequência de memórias registrada de maneira arbitrária e que pode ser
reproduzida.
Desse modo, o que chamamos passado não passa de uma questão de
registro.
Não existe algo chamado passado, mas sequências de memórias
relacionadas entre si.
O padrão geral - a memória da alma - pode ser refletido na memória
individual em cada camada, mas o padrão geral e o padrão individual de
uma única camada são complementares.
Se examinarmos e contabilizarmos todas as sequências de memórias
previstas pela mecânica quântica, iremos verificar que algumas são mais
frequentes do que outras.
Por exemplo, suponha que a sequência 1 consista de um quase igual
número de caras e coroas observados quando uma moeda é jogada dez
vezes, ou seja, contém uma das seguintes sequências:
1a) 5 caras + 5 coroas; 1b) 6 caras + 4 coroas; ou 1c) 4 coroas + 6 caras.
Suponha que a sequência 2, seja assim:
2a) 8 caras + 2 coroas, ou 2b), 2 caras + 8 coroas.
As sequências 2a e 2b combinadas não aconteceriam com tanta frequência
como as da sequência 1, que contém, mais ou menos, idêntico número de
caras e coroas.
Será que o simples fato numérico de as sequências do exemplo 1 ocorrerem
com mais frequência do que as do exemplo 2 possui alguma relação com a
mente?
Se presumirmos que a mente existe em todos os universos paralelos, então
todas as sequências seriam lembradas.
A superioridade numérica do primeiro exemplo sobre o segundo significa
que existem mais universos com o 1 do que com o 2.
Isso quer dizer que temos mais sequências de memória com o primeiro
exemplo do que com o segundo.
Se os exemplos 1 e 2 ocorressem em sua mente, a tendência seria de
lembrar mais do primeiro do que do segundo.
O exemplo 1 seria visto como uma associação mais forte ou dominante no
lançamento de moedas e seria de se esperar que, a um novo lançamento de
dez moedas, as sequências do exemplo 1 aparecessem outra vez.
Nesse sentido, todos os dados factuais são apenas uma simples questão de
votação em que a maioria manda.
Contudo, mesmo que não ocorram ou não se espere que ocorram, as
sequências do exemplo 2 continuam existindo.
Nos tribunais, por exemplo, a verdade é desconhecida: é por meio da
votação do júri que se chega a um acordo.
De modo similar, quando se consideram várias sequências possíveis de
memórias, seu júri interno decide as experiências passadas.
Os fatos legais nunca são presumidos; é o acúmulo de jurisprudência que
nos leva até eles.
Em última análise, é como se fosse uma pesquisa entre juristas.
As sequências paralelas, as mais comuns na vida humana, são as que mais
percebemos, porque são quase imutáveis.
Em outras palavras, existem muitas outras sequências sugerindo o exemplo
1 do que existem para o exemplo 2, porque existem muitas outras
alternativas de gerar um número quase igual de caras e coroas no
lançamento de moedas do que a preponderância de um ou de outro lado.
A lavagem cerebral pode acontecer "votando" desse jeito.
Quem sofreu lavagem cerebral foi exposto a um grupo poderoso de
pessoas.
Seu voto é contado junto com os dos outros e a maioria vence, essa maioria
é que decide.
Podemos dizer que existe uma consciência em toda possível sequência de
memórias - em toda possível camada de universos.
Se, por assim dizer, existem diversas consciências paralelas - isto é, vários
bons espíritos com os quais nos identificamos, boas vibrações etc. -, o
simples fato de as sequências serem quase as mesmas, no geral, levaria à
criação de uma forma entre elas, do mesmo modo que a sobreposição de
imagens nebulosas produz uma nuvem espessa.
Essa nuvem de sequências de memórias costuma produzir uma memória
coletiva - uma memória que todas as pessoas acreditam ser "a verdade".
A mente coletiva permite às pessoas ver o mundo como imutável, quer
gerando respostas habituais a mudanças, quer deixando as coisas como
estão.
O que temos a frente, então, parece ser o mesmo que já aconteceu.
Sem dúvida, existem muitos exemplos disso.
Pense na situação dos judeus alemães durante a ascensão nazista: muitos
simplesmente se recusaram a acreditar que alguma coisa estava mudando,
mesmo quando o mundo perigosamente desmoronava.
Quando confrontados com a hipótese de que algo terrível vai nos acontecer,
não é difícil compreender que sintamos descrença e negação.
Mas como e por que nossa mente nos engana?
O holograma cerebral faz surgir o enganador
O holograma é uma das mais notáveis invenções que o laser possibilitou.
O holograma apenas pode ser criado devido à coerência das propriedades
das ondas luminosas, e esta coerência é o resultado das estatísticas do
fóton, a capacidade de dois ou mais fótons entrarem no mesmo estado.
Quanto mais fótons existirem num estado determinado, maior é a coerência
da onda luminosa.
Nossos cérebros e corpos também operam de modo holográfico.
Um trabalho experimental descrito pelo neurocirurgião Karl Pribram indica
que processos que ocorrem no cérebro - o qual relutamos como interno -,
como sentimento ou fome, não são diferentes dos processos que registram
a maneira como sentimos o mundo exterior.
Como Pribram afirma: "O experimento neurológico clínico nos diz que a
localização de uma imagem perceptível não é um processo simples.
O fenômeno paradoxal do membro-fantasma após uma amputação, por
exemplo, torna improvável que a experiência da estimulação do receptor
'resida' onde estamos aptos a localizá-la".
Assim, embora possa parecer que podemos sentir com os dedos, há provas
contundentes de que a detecção desses sentimentos, de fato, não acontece
neles.
De maneira semelhante, vemos a luz que afeta as retinas e ouvimos sons
que perturbam os tímpanos, mas colocamos a fonte desses sons em sua
localização aproximada no espaço-tempo.
Não detectamos a luz das estrelas nas retinas, mas a milhares de anos-luz
de distância, como também não localizamos a música de um pianista na
membrana basilar da cóclea, mas sim no teclado do piano de cauda.
Projetamos a experiência para além do cérebro e do sistema nervoso.
Aprendemos a fazer isso na infância.
Assim, sons e imagens parecem estar "lá fora".
No entanto, mesmo que não tenhamos aprendido a fazer isso com o tato, é
possível aprender a criar uma sensação no espaço em que nem "pele" nem
órgão sensorial existam.
Pribram descreve o importante trabalho de pesquisa com o tato de Georg
Von Békésy, o fisiologista ganhador do prêmio Nobel.

Após relatar experimentos preliminares usando vibradores para estimular


simultaneamente dois dedos, criando a sensação de vibração entre eles,
Békésy escreveu:
Ainda mais dramático que esse experimento é aquele no qual vibradores
são colocados nas coxas, um acima de cada joelho...
Com treinamento, um [voluntário] (...) pode ser levado a perceber uma
sensação que passa de forma contínua de um joelho para o outro.
Se o [voluntário] afasta os joelhos, ele sentirá que a sensação saltará de
um joelho para o outro.
Com o tempo, todavia, o [voluntário] vai se convencer de que a sensação
vibratória pode ser localizada no espaço livre entre os joelhos.

Békésy também narra seus estudos experimentais sobre como a mente cria
a localização externa de sensações:
Acho a localização das sensações no espaço livre um recurso
comportamental muito importante.
Para estudar mais o assunto, coloquei dois aparelhos de surdez, preparados
para captar apenas sons de dois microfones no peito e transmiti-los aos
ouvidos sem mudança na amplitude da pressão.
A audição estereofônica foi bem estabelecida, mas a percepção de distância
do som se perdeu.
Não esquecerei minha frustração ao tentar atravessar a rua durante a hora
do rush usando esse sistema de transmissão.
Quase todos os carros apareciam surgir do nada na consciência, e eu não
conseguia ordená-los segundo onde estavam.
Como explicar o fenômeno da localização?
Talvez a explicação final resida no fato de o padrão vibratório da onda
quântica - de onde provém toda experiência - se manifestar interna e
externamente ao mesmo tempo.
O mundo da experiência parece o mundo visto num holograma - feito de
padrões de interferência de onda.
Mas antes de aprendermos o seu significado, precisamos saber como um
holograma é feito.

Em resumo, um holograma funciona desta maneira: imagine um laser


criando uma onda luminosa.
As ondas luminosas dos lasers possuem uma forma matemática precisa,
que chamarei de [OR], isto é, onda de referência.
Os colchetes em volta do OR servem para lembrar que essa onda tem dois
tipos de informação: fase e amplitude (como se vê na Figura 4.1 abaixo).

Essas duas propriedades podem ser vistas como os ponteiros do relógio.


A amplitude da onda é indicada pelo ponteiro maior e a fase pelo que indica
a hora.
Se a [OR] continuar seu percurso sem acertar um objeto, nada será visto,
nem mesmo a onda luminosa.
Imagine que a onda de luz [OR] acerte uma mídia gravada como um
holograma, que funciona como instrumento de gravação para a luz.
Para gravar luz, o holograma precisa absorver a energia da onda luminosa;
porém, a energia depende do quadrado da amplitude da onda, e não de sua
fase.
Esse "quadrado" é obtido matematicamente a partir da [OR] por meio de
uma multiplicação curiosa: é preciso imaginar que a onda [OR] seja
multiplicada pelo reflexo da onda (representado por [OR]*, em que o
asterisco nos lembra que este é o reflexo de uma onda).

Uma maneira de pensar no reflexo da onda é imaginar que o holograma


gera o reflexo em resposta à onda luminosa.
Não se esqueça de que falei que as ondas têm fases.
Mas, imagine que a fase da onda era 3h00; o reflexo da fase seria, então,
9h00.
A onda e seu reflexo se multiplicam e deixam sua impressão combinada no
holograma.
Quando esta multiplicação acontece, a fase se cancela.
O que ocorre pode ser imaginado desta maneira: a fase 3h00 da onda é
cancelada pelo reflexo 9h00 da onda: o resultado da multiplicação é o
produto da onda luminosa, [OR]*[OR], onde apenas o quadrado da
amplitude aparece.
Isso é muito importante porque a energia que representa a gravação não
pode ter informação da fase.
Na verdade, todas as gravações são feitas desse modo.
Agora, imagine que a [OR] chegue ao olho.
A retina age do mesmo modo que uma mídia de gravação.
Novamente, um reflexo de onda aparece e a fase da onda luminosa é
perdida.
Como o que vemos sempre é produzido pela gravação na retina, as imagens
nunca são completas.
Não percebemos a [oR], porque o olho e o cérebro gravam a [OR]*[OR].
Essa gravação sempre é irreversível, ou seja, não mais recuperamos a
informação da fase quando a gravação for feita.
Paradoxal e simultaneamente, a retina destrói a informação para poder
gravá-la.
Como as imagens holográficas queimadas a laser também são resultado da
energia criada por [OR] * [OR], a gravação sem a informação da fase é
visualizada como o escurecimento uniforme e geral da mídia.
Esse escurecimento não contém informação útil.
A chave para obter uma imagem tridimensional não se origina do quadrado
da amplitude da onda, mas precisa vir da informação da fase da onda.
Para conseguir isso, recorremos a um truque: precisamos enganar as ondas
luminosas fazendo com que interfiram umas nas outras antes de atingir a
mídia a ser gravada.
Para isso, deixamos que as ondas de luz atinjam um objeto e sejam
refletidas (como se vê na Figura 4.2 na próxima página).

Como as ondas luminosas refletidas por um objeto são por ele afetadas,
trazem em si informações sobre o tamanho e o formato tridimensional da
coisa.
Esta informação é principalmente encontrada nas fases das ondas
refletidas.
Denomino as ondas refletidas de onda informativa, que também têm uma
forma matemática precisa e passarei a designar como [0I].
É lógico que nem toda onda de referência será refletida pelo objeto, pois
algumas o atravessam.
Se a [OI] e a [OR] fizessem seu percurso sem serem registradas num meio,
como a emulsão fotográfica, o holograma não poderia ser produzido e nada
seria visto.
Agora o truque.
A onda de referência [OR] e a onda informativa [OI] atingem ao mesmo
tempo o filme holográfico e afetam o material que o compõe.
Assim, as duas ondas atuam e como resultado a energia gravada surge da
soma das amplitudes das duas ondas.
Em outras palavras, a superposição de ondas, [OR] + [OI], grava a
emulsão com a energia resultante delas.
Mas não se esqueça: o holograma precisa gerar um reflexo de onda,
[OR]* + [OI]*, para gravar a energia.
Assim, a energia depositada no filme vem do produto de [OR]* + [OI]* e
de [OR] + [OI].
Lembrando a álgebra - (a+b).(c+d) = ac + ad + bc + bd - veremos a
criação de quatro termos.

O primeiro e o quarto termos, por serem referências de si mesmos,


perderam toda informação de fase.
O primeiro termo, por ser o resultado da onda de referência interferindo
consigo mesma, irá produzir o escurecimento uniforme da emulsão.
O quarto termo, por consistir da onda informativa interferindo consigo
mesma, irá produzir uma pequena variação no escurecimento, também sem
reproduzir informação.
Já os segundo e terceiro termos têm informações sobre o objeto por
conterem dados da fase e da amplitude da [OI] e da [OR].
O segundo termo tem diretamente a [OI], enquanto o terceiro traz o reflexo
da onda informativa, [OI]*.
A informação da fase não se perdeu aqui, está oculta devido à fase da onda
de referência.
É agora que temos de recorrer ao truque, eliminando a fase da onda de
referência.

O truque revelado
Como um segredo de magia, esses quatro termos estão presentes e
escondidos no holograma.
Mas estão disfarçados e, em conjunto, formam um padrão de interferência
bastante complexo, como o visto no holograma na Figura 4.3 abaixo.

Como o esforço que precisamos fazer para enxergar um mecanismo oculto


preparado por um mágico astuto, também precisamos realizar algo para
extrair informação do holograma.
Escondidos naquela mídia, os quatro termos contêm as importantes
relações das fases, inclusive o registro do objeto tridimensional por
completo.
Na verdade, ele contém dois desses termos.
Se dirigirmos a mesma [OR] de um laser pelo holograma gravado, ele
passará pela mídia, mas o padrão encontrado no holograma vai bloquear
parte da luz e também vai interferir na fase da luz.
O holograma atua como um filtro e a [OR], na tentativa de atravessar a
mídia, tem a força de onda e os dados da fase alterados pela presença do
padrão de interferência gravado nele.
Em termos matemáticos, tudo que precisamos fazer é multiplicar a [OR]
pelos termos no holograma.
Dessa maneira, a onda que atravessa o holograma tem os seguintes
termos:
Perceba na Figura 4.3 que a onda luminosa segue seu caminho depois de
passar pelo holograma, e é muito parecida com as ondas luminosas da
interferência que criaram o holograma!
O holograma diminui a [OR] ao multiplicá-la pela soma dos quatro termos.
A seguir, examinarei cada termo em separado.

O primeiro termo tem três fatores: [OR] [OR]* multiplicando [OR].


O segundo termo também tem três fatores, [OR] [OR]* multiplicando [OI].
Os fatores [OR] [OR]* não têm informações da fase e controlam o
volume abaixando a amplitude.
No primeiro termo, o resultado é uma onda de referência enfraquecida, no
segundo termo, o resultado é o produto de uma onda informativa
enfraquecida, ou seja, reconstruímos as ondas refletidas pelo objeto, dando
a impressão de haver realmente um objeto no fundo do holograma.
Na verdade, a onda de referência reconstruiu o objeto.
Observe que o segundo termo contém a [OI] original reduzida em
amplitude pelo quadrado da amplitude da [OR].
Assim, toda a informação produzida pela onda refletida está aí.
Olhando na direção geral do holograma, de lado, para não sermos
ofuscados pela luz direta da onda de referência, iremos encontrar um objeto
tridimensional completo, como se realmente estivesse ali, o que se chama
imagem virtual, como a que vemos ao nos olharmos no espelho.
Uma pessoa no espelho parece estar atrás do vidro, mas sabemos que isso
não é verdade.
E o terceiro e quarto termos?

Quando a [OR] passa por eles, o terceiro termo, constituído por três
fatores, [OR] [OR] [OI]*, dá a impres-são de gerar o reflexo de uma onda
informativa, [OI]* (logo falarei sobre isso).
O quarto termo, por ter os fatores [OI]*[OI], serve apenas para amortecer
a [OR].
Como o terceiro termo tem dois fatores [OR], a informação de sua fase de
referência não foi cancelada.
Se fosse possível cancelá-la, o terceiro termo criaria uma imagem real do
objeto.
O projetor concentra a luz que passa pelo fotograma filmado e recria a
imagem na tela.
Imagens reais sempre podem ser projetadas na tela; no entanto, as virtuais
sempre parecem vir de onde não estão.
Para gerar a imagem real, temos de enviar uma onda de referência
refletida, [OR]*, por meio do holograma.
Dessa maneira, o terceiro termo ficaria assim: [OR]*[OR] [OI]*, produzindo
uma onda [OI] * enfraquecida.
Essa onda apareceria como uma imagem na frente da tela, bem diante dos
olhos, por assim dizer, e essa imagem pode ter grande importância para
descrever o que vemos em sonhos lúcidos.

A memória enganadora
No que diz respeito à memória humana, nem sempre podemos saber qual
[0R] será usada, o que poderia explicar as confusões de memória.
Deixe-me explicar: com relação aos hologramas, quando uma nova onda
luminosa, [NO], atinge a mídia a ser gravada, pode nos induzir a ver
imagens que não existem.
Lembre-se de que a mídia de gravação atua como filtro, permitindo a
passagem de parte da luz.
Contudo, ao contrário da imagem fotográfica, que reflete uma imagem
gravada, é a interação da [NO] com o padrão da interferência gravada de
um holograma que é vista como imagem tridimensional.
São três dimensões porque a [No] é modificada pelo padrão de interferência
de onda gravado na emulsão e, dessa maneira, aparece como a onda
luminosa original emitida pelo próprio objeto (veja a Figura 4.3) ou,
possivelmente, por algo completamente diferente.
Quando a [NO] passa pela mídia, o padrão de ondas que chega ao olho
contém o segundo termo: [NO] [OR]*[OI].
Se a [NO] é a [OR] original, esse termo se transforma em [OR] [OR]* [OI];
a multiplicação da [OR]* com a [OR] elimina a informação da fase de
referência e não altera a [OI].
Assim, quando o olho vê esse termo, é levado a crer que está enxergando a
própria [OI], a onda informativa original do objeto.
Além disso, o olho é levado a crer que existe um objeto real "lá fora" no
fundo da mídia gravada.
É por isso que essa imagem é virtual.
Se toda sensação for gravada dessa forma no córtex cerebral, ela sempre
será a reconstrução de objetos no espaço e no tempo a partir de imagens
virtuais desses objetos gravadas no córtex.
Tudo que sentimos como "lá fora" é projetado do nosso "testemunho" da
imagem virtual gravada, o que explicaria os resultados de von Békésy e,
como a mente reconstrói imagens, propõe uma hipótese científica para a
base do antigo conhecimento budista e hindu, segundo o qual "tudo é mala"
(ilusão).
Não temos as sensações que temos, mas temos sensações do que
lembramos termos sentido.
E, agora, repita essa frase trocando "sensação" por "cheiro", "sabor",
"ouvir", "ver" - e até quem sabe "pensar".

O intervalo de tempo entre o evento real e o momento em que ele é


gravado no córtex é pequeno o bastante para nos dar a ilusão temporal de
que o que sentimos ocorre em conjunto com o evento que o motivou.

Imagens reais e realidade virtual


Mencionei antes que quando uma [NO] é emitida por meio de uma mídia de
gravação, duas imagens poderiam ser geradas: uma virtual e outra real.
Depois, expliquei como a imagem virtual aparenta vir da parte de trás do
holograma, porque a [NO] que passa pelo holograma é "projetada" pelo
padrão holográfico como se fosse as ondas luminosas provenientes do
objeto original.
Essas ondas luminosas também podem produzir informação adicional.
Se o reflexo de uma onda de referência for emitido, vai se concentrar no
espaço, criando a imagem real do objeto.
Quando é vista, essa imagem dará a impressão de estar flutuando no
espaço.
A razão de essa imagem ser real e não virtual se deve ao fato de as ondas
luminosas surgirem da imagem real quando são vistas.
Entretanto, as ondas luminosas aparentam vir de uma imagem virtual, mas
não é esse o caso.
Nos usos rotineiros da holografia, pouca atenção é dada à imagem real
porque ela é tridimensional e exige cuidados especiais para ser visualizada.
Colocar uma tela no ponto focal da imagem serve apenas para pegar a
parte da imagem que é interceptada pela superfície achatada, uma fatia da
imagem.
A imagem virtual parece ter três dimensões, porém é uma ilusão produzida
pelo holograma bidimensional.
As ondas de luz verdadeiras, por sua vez, são concentradas pelo holograma,
e os pontos focais são os pontos da imagem no espaço na frente do
holograma.
Que usos teriam as imagens reais e virtuais no holograma cerebral?
Sugiro que ambas possam ser vistas enquanto dormimos.
As imagens reais constituem um sonho do tipo lúcido, e as virtuais são as
responsáveis pelos sonhos comuns.
No entanto, para saber como esses sonhos nascem, precisamos considerar
o que acontece quando objetos diferentes são encontrados em momentos
distintos da vida.
Mais uma vez o cérebro é descrito como a mídia de gravação.
As [OI]s, que correspondem às ondas de luz provenientes dos diversos
objetos, são identificadas como [OI.1], [OI.2] e assim por diante.
Todas as ondas contêm dados sobre um objeto em questão visto numa data
específica, quem sabe há anos, e podem ser trechos de dados
computacionais, informação óptica, dados correspondentes a sensações etc.
Imagine que o córtex contenha as informações gravadas obtidas dos
padrões de interferência desses objetos com uma única onda de referência.
A gravação foi feita a partir do padrão de interferência produzido pela [NO]
em conjunto com as [OI]s de eventos passados. Se examinarmos uma série
de registros gravados em tempo real numa sequência 1, 2, 3, 4 etc.
[OR] + [OI.1] + [OI.2] + [OI.3] + [OI.4] + ...

enquanto são gravadas, vão gerar reflexos de ondas

[OR]* + [OI.1]* + [OI.2]* + [OI.3]* + [OI.4]* + ...

e vão produzir toda a memória gravada

Quando a [OR] é retransmitida, ela pega esses termos, produzindo as


próprias [OI].
Como resultado, quando a [OR] é emitida por meio da mídia,
testemunhamos isto:

enquanto os outros termos criam um pano de fundo "de interferência".


Como são combinadas, essas ondas originam uma sobreposição de onda e o
padrão de interferência.
Todos os sonhos normais seriam produzidos assim.
Do mesmo modo, quando vemos objetos "lá fora", não apenas os
enxergamos como também reproduzimos todos os dados prévios a eles
ligados através de registros passados.
Como resultado, temos a reprodução da imagem virtual, uma representação
da imagem no mundo externo, tal quando uma onda luminosa chega ao
nosso olho ou um som repercute o tímpano.
Qualquer fonte externa de sensação vai estimular o registro, produzindo a
imagem.
A sobreposição dessa imagem, em conjunto com a imposição da informação
externa, constitui a comparação holográfica de uma memória com a nova
fonte externa de informação.
Assim, a experiência contínua de novidades é tida como redundante pela
mente.
Nunca iremos ver o que está "lá fora" como algo distinto do nosso próprio
registro de memórias.
Essa é a física do tédio e do hábito.
Tudo é novo, mas sempre conferimos nossos registros - e tudo sempre
parece ser a mesma velharia!
Nosso cérebro trabalha dessa forma para que possamos sobreviver.
Precisamos garantir que as ameaças serão reconhecidas, e para isso
servem os registros.
Em essência, o cérebro se parece com um fã de música que insiste em levar
um gravador para o concerto: quando uma peça é executada, o gravador é
ligado e toca a mesma música da orquestra.
Nós não apenas levamos gravadores mentais para os concertos como
também insistimos em reproduzir todas as músicas remotamente parecidas
com as que ouvimos ali!
No caso de um sonho lúcido, ocorre outra coisa.
Quando atingimos esse estado alterado de consciência, uma música
diferente é executada.
Mais uma vez, uma nova onda é gerada, mas desta vez não é uma onda
externa.
Ao contrário, é uma onda de referência de conjugação complexa, [NO] =
[0R]*.
Se acontecer de reproduzirmos a *onda correta (onda estelar) no lugar da
onda de referência - o cérebro emite [OR]* em vez de [OR] -, os termos
que produzem imagens virtuais ficam ociosos e as imagens reais das
experiências anteriores são executadas em seu lugar:

Aqui começam os sonhos lúcidos, onde vivenciamos o mundo sob o foco


dessas *ondas.
Em sonho, estaremos despertos e teremos sensações e sentimentos
provocados pelas experiências "aprendidas" no mundo externo e que
geraram as ondas de informação.
Uma vez que essas ondas informativas são *ondas, elas são imagens
refletidas de episódios no tempo e no espaço.
Enquanto um termo pode ter acontecido antes de outro, nos sonhos eles
irão surgir em ordem reversa de tempo.
O que tem tudo a ver com vivenciar diretamente o id, onde, como Freud
disse, "as regras lógicas do pensamento não se aplicam... não há nada que
corresponda à ideia de tempo (...)”.

Vivenciamos o tempo em sonhos lúcidos, mas não é o tempo real; é o


tempo que as ondas de informação anteriores nos contaram que era.
Ao mudar de forma seletiva a [OR], como o fazemos ao olhar os objetos
que nos cercam, temos diversas sensações e sentimentos, temos
pensamentos e intuições diferentes.
Os universos paralelos ou a teoria holográfica não apenas explicam a
memória como também oferecem um meio para explicar como o mundo da
mente interna trabalha, causando sentimentos, pensamentos, intuições e
sensações — tudo o que precisamos para nos sentirmos vivos.

Ver a Figura 4.5


Os sonhos lúcidos possuem esta origem.
Ao emitir a onda estelar de referência [OR]* através do holograma, o
padrão de interferência registrado gera imagens reais anteriormente
gravadas.
Um processo similar no cérebro pode ser o responsável pelas imagens dos
sonhos lúcidos.
No próximo capítulo, veremos como a memória e as observações nos levam
a um estado de concordância e equilíbrio, permitindo que a vida se mova de
um ser para o outro.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 5

 (Hay, 5) em  (Noon, 50)


Hay representa Vida, uma noção toda inclusiva.
Quando existe uma reação (dallet) ao movimento (ghimel) da matéria
(bayt) movida pelo espírito (aleph), temos Vida.
O hay se transforma em noon quando a vida em forma de semente se torna
um ser vivo adulto.
Para que essa transformação aconteça, a semente precisa romper a casca,
o que parece se aplicar a todo reino vivo.
Não importa se através de uma casca de noz ou se pelo canal vaginal, a
vida luta para nascer.

A curva da vida

As oportunidades se multiplicam quando são aproveitadas.


- Sun Tzu

Embora nem sempre seja compreendida assim, a vida é o equilíbrio entre


transformação e resistência à transformação.
Nosso corpo existe e sente a vida porque a mente que existe dentro de
nossos corpos impele a matéria o tempo todo.
Esse ímpeto permite à vida continuar como é ou mudar.
As células precisam chegar a um ponto de equilíbrio entre viver e morrer.
Aqui, neste capítulo, exploraremos um aspecto da natureza desse ato de
equilíbrio que nos mostra que o processo é uma parte natural da vida,
dando a ela a possibilidade de continuar e de mudar, não raro fazendo
surgir novas formas de vida.
A vida aparece em breves instantes pontuados pela morte.
A vida, como a matéria, existe e morre de forma descontínua e pontilhada,
de modo semelhante ao comportamento da luz.
A matéria emite luz em jatos descontínuos.
Cada jato é chamado fóton, que se move e age como se fosse fruto de uma
onda contínua, se espalhando pelo espaço e pelo tempo, como ondas do
mar lavando a praia.
Porém, quando observada, a luz sempre aparece como se fosse emitida -
marcas pontilhadas -, pontos de luz que fazem surgir uma série de imagens
"pixelizadas" em qualquer tela que encontre.
Toda observação de luz é a um só tempo a experiência da luz e da morte do
fóton.
Por isso, a luz que vemos não existe mais.
De modo semelhante, o self-corpo também deixa de existir quando é
observado.
Explicarei melhor.

Segundo a perspectiva budista, não existe um self não-permanente,


limitado pelo corpo.
Ao contrário, cada self nasce de forma momentânea, emitido como um
fóton, e como um fóton, viajando pelo espaço, carrega em si tudo que
aquele self em particular precisa.
A cada ato de consciência, gerado por um ou mais dos seis sentidos, aquele
self morre.
Cada self vive por um instante muito breve de, talvez, 20 milissegundos, e
depois morre; e assim que morre, outro nasce.
Dessa maneira, a vida é uma harmonia coerente entre esses selves
momentâneos.
Neste capítulo, estudaremos um aspecto da visão quântica segundo o qual a
vida é uma série de momentos pontuados de consciência; no capítulo
seguinte, exploraremos outro aspecto desta questão.
Aqui, começaremos com uma lição sobre possibilidades.

A curva da vida com formato de sino


Os selves-vida surgem e evaporam como bolhas de sabão: muitas "bolhas"
aparecem, oferecem vida e consciência aos nossos corpos e, a seguir,
desaparecem.
Não todos de uma vez, pois, se fosse assim, você estaria morto!
Esse borbulhar acontece em alta velocidade; é tão veloz que sequer o
notamos.
Do mesmo modo que os fotogramas de um longa-metragem criam uma
imagem ao passar pelo projetor e depois desaparecem, a auto percepção da
vida também muda o tempo todo.
Como não conseguimos contar todos os selves, é preciso examiná-los de
modo estatístico.
Apenas dessa maneira será possível começar a ver esse evento borbulhante
criar um padrão ou um espectro.
O conceito que desejo apresentar aqui se chama distribuição de espectro
gaussiano ou maxwelliano.
Ele é visto como uma curva com formato de sino ou abóbada (veja a Figura
5.1 abaixo).

Talvez você conheça essa curva da escola, se recebeu a nota de uma prova
comparada à média da classe, ou quando sua seguradora, para determinar
a apólice, usou a tabela de mortalidade - a posição na curva supostamente
indica sua probabilidade de viver ou morrer, em conjunto com outros
fatores.
Diretores de beisebol usam essa curva para determinar a chance de um
rebatedor acertar a tacada em qualquer circunstância.

Nada na matemática descreve nosso comportamento melhor do que essa


curva, e do ponto de vista da expressão política, ela também se aplica.
A maioria de nós vive confortavelmente aninhada no ponto mais alto da
abóbada da curva, perto ou praticamente em cima do ponto central em que
ficam homens e mulheres comuns, pois com relação ao nosso
comportamento, a maioria se vê como pessoas normais ou médias.
Em nossa visão incluímos o ponto onde ficamos, as coisas que nos
permitimos como expressão e comportamento, e o que vamos tolerar em
nós mesmos ou como "liberdade" concedida aos outros.
Entretanto, a curva política também nos conta que existem pessoas que se
desviam da média.
Quando vamos para uma de suas extremidades - onde, francamente,
poucos vivem - encontramos os extremistas, aqueles cuja opinião difere
dramaticamente do padrão.
Por exemplo, se na ponta direita da curva temos quem quer mais liberdade
do que nós, e que sofre por sentir sua liberdade tolhida, na ponta esquerda
encontraremos os de opinião oposta - os que acham que temos liberdade
demais e se sentem incomodados quando outros exibem um
comportamento que não é tolerado em si mesmo.
A metáfora direita versus esquerda sempre traz um colorido à conversa.
Rotulamos aqueles com quem não concordamos porque tememos que sua
opinião viole a nossa.
Assim, se estamos no meio da curva em termos de desejar algum limite de
liberdade, tememos que o desejo dos extremistas por mais ou menos
liberdade afete a nossa liberdade - temos receio de ser levados para a
direita ou para a esquerda e sermos forçados a ter mais ou menos liberdade
do que julgamos confortável.
Do mesmo modo que a decisão política segue o formato dessa curva,
vemos em nosso comportamento uma "curva da vida" muito semelhante
que modela as escolhas individuais.
Dessa maneira, nem sempre aparecemos no topo exato da curva.
Todos os selves da bolha podem aparecer em todo lugar, mas a curva nos
diz que eles têm uma chance maior de surgir próximos à região central,
onde nos vemos concordando de perto ou, quem sabe, levemente
discordando de nosso self anterior.
Essa concordância ou discordância constitui nosso diálogo interno, criando a
ilusão de que um "eu" imutável aceitou seguir adiante ou decidiu mudar de
rota.
A curva nos influencia porque todos nós somos compostos por um grande
número de eus: quase nada que fazemos deixa de envolver um grande
número de eventos, que acontece de modo simultâneo ou num intervalo
pequeno de apenas milésimos de segundo.
Existem cerca de cem bilhões (dez multiplicado por si mesmo onze vezes)
de neurônios no sistema nervoso, e cada um ativa perto de 10 mil elos de
retroalimentação em contato com outros neurônios, com o ambiente
externo, com os músculos e assim por diante.
Dessa maneira, todo pensamento, todo breve lampejo de insight, pode ser
composto por 1 bilhão de neurônios disparando, com cada um
retroalimentando 10 mil mensagens ao ambiente, para olhos, dedos,
pernas, língua e outros órgãos.
Em seu livro The hedonistic neuron, A. Harry Klopf, do Laboratório de
Aviônica do Laboratório Aeronáutico Wright da base da Força Aérea Wright-
Patterson, em Ohio, mostrou que somos feitos de neurõnios
autocomplacentes, e que esses minúsculos caçadores de prazer são
responsáveis pela memória, pelo aprendizado e pela inteligência.
Klopf estabelece duas condições diferentes do sistema nervoso humano:
homeostase e heterostase.
A homeostase diz respeito a uma condição em que o sistema busca reforçar
ou manter um comportamento estável ou "médio".
Este comportamento, por exemplo, pode ser bastante consistente com a
sobrevivência da pessoa.
A heterostase é definida como sendo a busca pela condição máxima, pelo
estar acima da multidão, por assim dizer.
A homeostase nos faz ficar em casa vendo TV, enquanto a heterostase nos
estimula a nos tornar astros da TV.
A homeostase opera por meio da lei dos grandes números; a heterostase
não; ela abomina as massas - tenta mover cada self do centro da curva e
levá-lo para a extremidade.
Dessa maneira, o próprio pensamento sofre a influência dessa dicotomia.
Nossa expectativa "normal" é resultado de sentar no topo da curva, perto
da média.
Os sonhos e as esperanças, por sua vez, são eventos quãnticos da
heterostase - o desejo de alçar voo.

Não zombe disso!


Tudo que fazemos envolve esse liga/desliga.
Sempre que levantamos uma sobrancelha em incredulidade ou começamos
a zombar, ocorre um grande número de eventos mentais e todos se
encaixam na curva com formato de sino.
Nem todos os neurônios, fibras musculares, pele e terminações nervosas
querem mostrar nossa incrédula zombaria com o discurso de alguns
políticos.
Alguns dos componentes corporais, sem dúvida, querem rir ou inibir as
ações dos outros componentes que produzem a zombaria.
Mas, como mostrarei a seguir, em geral, a maioria homeostática vence não
só porque se sobrepõe à minoria, mas porque pode reforçar o
comportamento médio de forma muito mais diversificada do que pela
modificação da heterostase.
Numa sociedade de zombadores, a zombaria é sempre esperada.
Você aprendeu a zombar e viu seus pares zombarem.
Você aprendeu a posicionar a cabeça, alargar as narinas e assumir um ar
superior.
A sociedade de zombadores poderia englobar um país inteiro; quem sabe a
França ou a Inglaterra!
Em um desses países, zombar pode se tornar a norma aceita e esperada e,
se vivêssemos lá, talvez nossa expressão fosse zombeteira.
Assim, nossos rostos se tornam o rosto da nação.
E não apenas isso: nosso jeito de falar também pode ser modelado por
nossos rostos, com as expressões literalmente dando forma à pronúncia da
palavra.
Os padrões de fala também são moldados pela curva com formato de sino.
Os japoneses são conhecidos pela incapacidade de pronunciar a letra erre;
mas, as crianças japonesas, criadas num país onde o idioma é o inglês, não
têm essa dificuldade.
Padrões similares podem ser encontrados em outras comparações de
idiomas.
Alemães e franceses têm dificuldades com o som do th inglês.
Do mesmo modo, quem fala inglês com fluência pode achar complicado
falar o erre francês e alemão.
As pessoas podem ser iguais, mas o ambiente molda a curva da vida e
altera os padrões aceitáveis de fala.
O grande desejo por normalidade - que se comprime rumo ao meio - é
reforçado conforme cada pessoa aprende a característica adquirida.
O que acontece com as nações se repete com os neurônios, o que não quer
dizer que uma nação de zombadores seja compelida a zombar devido a
engenheiros genéticos que se reuniram para criar a zombaria.
Ao contrário, temos uma alteração nacional de probabilidades para cada
neurônio, de maneira que um neurõnio norte-americano tem maior
probabilidade de produzir uma contração muscular resultando em um tipo
diferente de zombaria daquela produzida por um neurônio francês.

Jogando moedas
A curva da vida é dinâmica.
A cada alteração nas probabilidades, existe uma leve mudança na média, do
mesmo modo que a média de rebatidas se modifica um pouco quando um
jogador de beisebol entra para rebater, em especial no começo da
temporada.
Mais uma vez considere o simples exemplo de jogar moedas.
Vamos comparar as curvas de 16 e 32 lançamentos.
Na Figura 5.2, vemos duas curvas com formato de sino representando a
probabilidade de cair "cara" em dado número de lançamentos da moeda.

Aqui, notamos que o pico da distribuição - correspondente ao número


médio de "caras" ao fim do experimento - passa de oito "caras" em 16, de
16 em 24, como era de se esperar.
Ao alterar o número de lançamentos, podemos mudar a curva.
À medida que os lançamentos aumentam, a curva se afunila, para levar em
consideração que a área da curva - representando a probabilidade total de
um - permaneça a mesma.
Na Figura 5.3, com 32 lançamentos, vemos a comparação entre o
lançamento de uma moeda "viciada" (a probabilidade de cair "cara" é de
94%, contra 6% de sair "coroa") e o de uma moeda normal, em que a
probabilidade de dar "cara" é de 50%.
A média ou resultado esperado da moeda viciada é agora de 30 em 32,
contra 16 em 32.

"Viciar" uma moeda para garantir um resultado é semelhante a adquirir


uma característica que nos permite mudar de comportamento.
Uma característica adquirida muda a probabilidade ao alterar o padrão de
funcionamento neural.

No Capítulo 3, expliquei como podemos mudar o comportamento segundo


as leis da nova alquimia.
Agora, quero explicar por que a mudança de hábitos é lenta e por que
demoramos a perdê-los.
Tudo se deve às propriedades matemáticas da curva da vida, muitas vezes
chamada lei dos números grandes.
Na Figura 5.3, vemos como a curva muda conforme vão aumentando as
chances de obtermos "cara" no lançamento da moeda.
Em termos de comportamento humano, isso representa a aquisição de uma
característica.
Embora tenhamos apenas 32 eventos, é o suficiente para exemplificar a
ideia.
À esquerda, a curva de 32 lançamentos está centralizada ou normalizada
em 16 eventos.
Isso pode ser observado quando usamos uma moeda honesta (como
apresentado na Figura 5.2).
A barra vertical indica o padrão, e a curva, centralizada em 16, mostra a
probabilidade do número de eventos "bem-sucedidos".
A barra horizontal aponta a extensão de dois desvios-padrão que, neste
caso, variam aproximadamente entre 13 e 19 e, portanto, uma amplitude
de 6 "bem-sucedidos".
A barra horizontal conterá cerca de dois terços dos resultados dos 32
lançamentos.
Transportando estes valores para o comportamento humano, dentro dessa
área da curva encontraríamos o dito comportamento normal.
Seríamos tolerantes, portanto, com as pessoas cujo comportamento se
adequasse à norma dentro do desvio-padrão da média.
Assim, a barra horizontal marca a zona de tolerância.
Existem quase dois terços de chance de encontrarmos de 13 a 19 "caras"
no lançamento de 32 moedas.
Sair da "cruz da normalidade" apenas acontece em um terço das vezes e,
na maioria dos casos, esse desvio é de somente um ponto em direção a
qualquer lado da cruz.
Assim, a chance de obtermos de 8 a 12 "caras" é de cerca de uma em 6;
também de uma em 6 é a chance de vermos de 20 a 24 "caras".
Seis ou 26 "caras" ocorrem menos de 2% das vezes, e 28 ou 4 "caras"
quase nunca acontecem, com uma probabilidade inferior a 1%.
Agora, suponha que você está acompanhando os 32 eventos neurais que
compõem o mais leve sinal de zombaria no rosto.
Com uma probabilidade de distribuição de meio a meio, ninguém saberia
dizer a diferença, examinando seu rosto, entre desdenhar e sorrir.
Imagine que sejam necessários, pelo menos, 26 eventos bem-sucedidos
(como no exemplo de a moeda dar 26 "caras") para criar o escárnio.
Dezesseis sucessos já deixam seu rosto estressado!
Se não fosse possível alterar a probabilidade de um único neurônio "criar" o
perfil do zombeteiro, você estaria condenado ao puro escárnio.
Nesse caso, na verdade, a zombaria seria seu estado de homeostase.
Raramente, talvez uma ou duas tentativas em cem, se teria sucesso em
obter o desdém de um verdadeiro zombeteiro.
Talvez você esteja se vendo no espelho quando esse raro evento ocorrer.
Você estava consciente da zombaria e chegou a vibrar por ela.
Naquele instante, a consciência entrou em campo e virou o jogo da
eternidade.
Um evento pequeno, não menos importante que o maior deles, a
probabilidade de um simples acontecimento, um único acionamento neural,
foi instantaneamente "colapsado".
As chances de você ser capaz de zombar mudaram agora para talvez 60/40.
Imagine que com treino e disciplina, agora a zombaria aconteça, por
exemplo, com uma probabilidade de 94% ou de, aproximadamente, 30
vezes em 32.
Bastavam apenas a percepção e a intenção para mudar a média, gerando
retroalimentação para a heterostase acontecer.
Algo foi aprendido.
Na verdade, os neurônios foram treinados para zombar.
De repente, o jogo mudou de figura e a tolerância ao erro diminuiu.
Ainda existe a cruz da normalidade, mas desta vez o comportamento
normal se encontra aproximadamente em 30 eventos bem-sucedidos (como
visto no lado direito da Figura 5.3).
A barra horizontal ainda se estica sobre um desvio-padrão de 2, porém é
mais curta.
A amplitude de sucesso é de cerca de 2,5.
Com um sucesso maior, há menor tolerância ao erro.
Agora, qualquer número entre 29 a 31 sucessos resulta em clara zombaria,
o que ocorre em dois terços das vezes.
Assim, com o aumento da probabilidade do evento, poderíamos esperar
mais ocorrências bem-sucedidas, o que explica por que de 29 a 31 sucessos
agora são normais, e que menos de 28, ou exatamente 32, quase nunca
ocorrem.
Mas por que a tolerância ao erro diminuiu tanto?
Se a probabilidade de um único sucesso fosse elevada para 1, de modo que
todo lançamento fosse bem-sucedido, seria impossível ocorrer um fracasso,
pois não haveria espaço para isso, nem tolerância ao erro.
A curva se apresentaria como uma barra vertical com a altura de 32
eventos.
Do mesmo modo, se a probabilidade de sucesso fosse reduzida a zero,
teríamos a barra vertical em zero evento.
Conforme a probabilidade de um sucesso único aumenta de zero a um, a
barra vertical sobe no gráfico de zero a 32; já a barra horizontal cresce em
extensão de zero evento a quase 6 com 16 sucessos, e de 16 a 32 a barra
volta a ter a extensão zero.

Ao que parece, a natureza e a estatística oferecem uma grande margem ao


puro acaso, mas quase não têm tolerância ao erro quando algo se mostra
um sucesso ou um fracasso.
Muito da teoria da evolução, ao descrever o sucesso de uma espécie em se
adaptar a uma mudança ambiental, provém desse simples fato matemático.
Dessa maneira, a vida começa a partir de um estado de tábula rasa, ou de
lousa em branco, aberta para todas as possibilidades.
Em meio a isso, com a possibilidade de sucesso em 50% no jogo de dados,
a tolerância para progressos ou fracassos é maior.
Conforme o tempo passa, a forma de vida individual aprende a se adaptar,
a ter sucesso ou a fracassar, o que vale também para nós.
Porém, o preço que pagamos para ter sucesso ou falhar é que agora existe
uma expectativa sobre nós.
O fracasso traz fracasso e o sucesso traz sucesso.
Embora não se possa ter absoluta garantia, é mais difícil fracassar depois
de aconteceram sucessos do que ter sucesso na primeira vez!
E, por falar nisso, "difícil" apenas quer dizer que a probabilidade é menor.

Um pequeno experimento de vida


O que muda a curva?
A resposta é a observação.
Como a observação altera a probabilidade?
O que observar?
Para responder à primeira pergunta, gostaria que você tentasse fazer uma
pequena experiência com a ajuda de outra pessoa.
Com seu amigo presente, jogue uma moeda no ar.
Pegue a moeda sem que você ou seu amigo saibam que face está voltada
para cima.
Agora faça a seguinte pergunta a ele: "Qual a probabilidade de ter dado
`cara' na moeda em minha mão?".
Espere seu amigo responder essa pergunta capciosa.
Lembre-se: você não está perguntando sobre a moeda, mas sobre seu
conhecimento dela.
Depois de algum tempo, seu amigo responderá "50%".
Sei que concordará com o que ele disse, já que não sabe qual é a face da
moeda que está voltada para cima, nem o que esperar.
Como se trata de uma moeda honesta, as chances de dar "cara" ou "coroa"
são idênticas.
Mas, agora, enquanto seu amigo olha para você, veja a moeda para saber o
resultado.
Repita a pergunta: "Qual a probabilidade de ter dado 'cara' na moeda em
minha mão?".
Sem dúvida, a situação mudou, pois agora você sabe que lado saiu.
A resposta não pode ser mais "50%".
Seu amigo dará uma risadinha e dirá algo como "100%".
Mas não é bem assim.
A resposta correta seria: "Ou é 100% ou é nada".
O fato de você conhecer a situação mudou instantaneamente a
probabilidade.
Ao saber o resultado, você alterou a probabilidade.
Sei que você percebe que se trata de uma situação capciosa.
Apenas sua "mente" mudou com o conhecimento, não a moeda; e como
apenas observou a moeda, as mudanças em você não deveriam contar.
Mas vamos seguir adiante.

Como você sabe que realmente deu "cara" (se foi isso mesmo o que viu)?
Sabe por que conhece a imagem de uma "cara".
Se não soubesse a diferença entre "cara" e "coroa", teria de aprender a
diferença.
Para aprender, os neurõnios devem se envolver no aprendizado do
reconhecimento de padrões.
Ao repetir as tentativas, o padrão é reforçado e é somente pela capacidade
de reconhecer o padrão que o reforço acontece.
Não ter sucesso nisso leva ao erro.
Para aprender o padrão da diferença entre "cara" e "coroa", é preciso
alterar as probabilidades do acionamento dos neurõnios.
E a consciência entra em campo - sua função é simplesmente alterar a
probabilidade por meio do reconhecimento do padrão.
A alteração das probabilidades do acionamento neural produz a experiência
da normalidade.
E, realmente, a normalidade pode estar incorreta, mas os pensamentos
seguem os caminhos da normalidade, que começam por meio de interações
remotas com objetos distantes e relativamente separados do sistema
nervoso.
As interações remotas constituem o mundo externo.
Agora que já exploramos o surgimento da curva da vida com formato de
sino e vimos, de maneira resumida, como mudar o comportamento usando
a mente, é hora de dar mais um passo em nossa pesquisa.
A pergunta é: já que podemos nos adaptar e mudar, o que permite que
exista a diversificação necessária?
Em outras palavras, como surgem as diversas opções que temos?
De alguma maneira, todas as células contêm possibilidades, ativadas
quando passam da homeostase para a heterostase.
Onde estas possibilidades são encontradas?
E, se encontrarmos, onde são armazenadas como memórias?
Por que elas estão presentes se a célula não as usa?
E já que apenas passou a usá-las quando a célula começou a se adaptar,
como ela sabia ao que se adaptar?
A resposta pode ser surpreendente: a célula precisa descobrir o futuro e dar
a mão para ele através do tempo.
Essa capacidade de ver além, de usar a intuição (como explicado no
Capítulo 3), dá à vida as condições de buscar as consequências adaptáveis
da mudança.
E não termina aí.
A capacidade de realizar isso se apresenta na vida cotidiana por meio do
sexo.
Assim, como veremos no próximo capítulo, a criança escolhe os pais antes
de ser concebida.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 6

 (Vav, 6) em  (Sammekh, 60)


Vav representa o elemento copulador, a energia "masculina", o ato primário
ou fundamental da fertilização.
Vav é um arquétipo da potencialidade e significa "e" em hebraico.
Vav e sammekh são os companheiros da vida engajados no jogo da
sobrevivência e da criação.
Eles são parceiros sexuais.
Vav representa a semente masculina e a mobilidade do esperma, e
sammekh representa a semente feminina, imóvel e protetora.
Vav corre indeciso, trazendo possibilidades múltiplas, das quais apenas
algumas se materializarão.
Sammekh também contém a possibilidade, mas seu jogo é de espera.
Ela escuta o futuro, sente o que pode estar vindo e ressoa com ele.

Sexo: a informação que vem do futuro

É preciso ter cuidado quando não se sabe aonde se vai, porque você pode
não chegar lá.
- Yogi Berra

A parceria entre espermatozoide e óvulo, chamada gameta na biologia,


parece uma adaptação da vida celular, uma evolução útil para produzir
diversidade biológica e aprimorar a sobrevivência, fazendo toda e cada
célula dançar num estilo bastante conhecido.
A ideia é que uma das células fica correndo, enquanto a outra permanece
descansando, por assim dizer.
O jogo é uma troca de DNA, de tiras de informação.
A nova célula, resultante da união do espermatozoide com o óvulo, parece
ter mais chances de sobreviver do que seus pais.
Ela tem uma oportunidade de adquirir características e de se adaptar ao
novo ambiente que as células dos pais não tinham, por combinar dados de
ambos.
Sim, é simples, mas falta uma informação interessante aqui.
As mudanças ambientais criam resistência à vida.
E a vida ou morre ou reage por meio da adaptação e prospera.
Mas como?
Como os filhos da vida podem possuir características que os pais não
tinham, características que equilibram à perfeição as mudanças em seu
novo ambiente?
A vida permite à progênie possuir uma matriz de possibilidades; inclusive as
que não tiveram serventia para os pais.
De repente, o ambiente muda e um dos filhotes sobrevive, enquanto os
outros perecem.
Essa lei parece ter aplicação universal, englobando o vírus da Aids, o bacilo
da tuberculose, as baleias migratórias e até a família que mora no fim da
sua rua.
Mas como o sobrevivente adquire as características que lhe deram a
possibilidade de permanecer vivo?
Ele simplesmente já nasceu com elas?
A teoria da evolução sugere que a diversidade biológica, por meio de
processos aleatórios, aprimorados pelo contato sexual, sempre produz uma
progênie com mudanças ao acaso - mutações, por assim dizer - que, em
geral, não têm propósito, a não ser que uma catástrofe ambiental aconteça
e essa transformação viabilize a sobrevivência do mutante, enquanto seus
irmãos perecem.
Mas já que os pais não tinham a adaptação, o que produziu na progênie o
espectro de diversificação que continha exatamente a característica correta
e adequada ao novo ambiente?
A teoria da evolução não explica esse espectro: ela simplesmente assume
que por meio da seleção aleatória, em que pai e mãe escolhem um ao outro
para adquirir a característica correta que não encontram em si mesmos, a
prole nascerá capaz de se adaptar à futura mudança ambiental.
Porém, como os pais sabem?
E como têm certeza de que a mistura dos genes irá produzir descendentes
com chance de se adaptar ao novo ambiente?
E, ainda falando isso, o que determina os saltos quânticos na corrente da
vida, a capacidade de novas formas de vida surgirem?

Do ponto de vista alquímico, esse processo pode ser encontrado no velho


conceito de Adão, cujo nome significa espírito em sangue.
O sangue, nesse caso, pode ser entendido de forma metafórica, como o
DNA das espécies e como a substância vermelha que corre nas veias e
artérias.
Ele nutre as células do corpo e, também, simboliza o fluxo do espírito de
célula a célula e o fluxo do espírito dos pais à progênie.
Segundo a Cabala, as letras-símbolo vav e sammekh dizem respeito à
sexualidade masculina e feminina.
Em geral, elas formam o equilíbrio entre um arquétipo e sua representação
na existência.
A semente arquetípica masculina, vav (, 6), torna-se realidade como o
óvulo feminino sammekh (, 60).
Aqui, vamos prestar atenção à profunda conexão existente entre a energia
sexual e a relação entre as novas e antigas formas de vida.
Embora pareça algo distante e uma ideia estranha, imagine que a energia
sexual nasce das respostas do corpo a fluxos temporais vindos do futuro.
De alguma forma, então, sentimos desejo sexual porque recebemos um
"telefonema" de uma progênie que ainda será concebida.
Esses fluxos temporais formam a base da relação físico-quântica entre
consciência e matéria, que irei explicar em poucas palavras.
Sabemos que o sexo, em relação à natureza, atende primariamente à futura
prole: assim, essa ideia talvez não seja tão difícil de compreender.
Neste capítulo, irei mostrar como esses fluxos temporais funcionam e como
originam uma noção de corrente dentro de nós, permitindo que ocorram
saltos quânticos na evolução.
Veremos como a intuição se liga a essa noção temporal.
Um desenvolvimento interessante a ser explorado aqui é a ligação dos
seves momentâneos que aparecem e desaparecem ao longo do tempo
(discutido no Capítulo 5) com os fluxos temporais do futuro.
Neste capítulo, irei apresentar uma base sólida para a teleologia.
De fato, o conflito entre espiritualidade e ciência pode ser reorganizado
como o choque entre dois fluxos temporais.
O fluxo temporal, baseado na noção de propósito final, representa a
corrente de informação vinda do futuro para o presente; o fluxo do tempo
científico, baseado na causalidade, corre do passado para o futuro.
O choque entre eles é inevitável, uma vez que nós, humanos, tentamos
lidar com ambos para sobreviver - para manter as coisas como estão e
evoluir - e fazer a escolha correta para o futuro.

Fluxos temporais do futuro e evolução molecular


A física quântica oferece uma visão do choque entre os fluxos temporais.
Ela diz que um evento futuro e um evento passado são importantes para
que uma sequência - uma narrativa - surja para ligá-los.
Pense nos dois fluxos como vindos de cachoeiras localizadas em
extremidades opostas e que acabam desaguando num longo canal.
Conforme os dois contra fluxos se encontram, temos muita espuma e
mistura das águas, resultando em um turbulento caos, revolvendo todo tipo
de coisa no canal e fazendo com que novos, e aparentemente aleatórios,
eventos aconteçam.
Vivemos em meio a essa mistura turbulenta.
Existem muitas pessoas que podem ridicularizar essa noção de informação
vinda do futuro que afeta o presente.
Mas, antes de chegar nisso, vamos analisar outra objeção.
Noções como a teleologia, mesmo quando aplicadas ao mundo subatômico
da física quântica, não desempenhariam nenhum papel no cotidiano.
Afinal, o que a física quântica, que trata do comportamento de átomos,
moléculas e partículas subatômicas, tem a ver com a evolução das
espécies?
A resposta é que as moléculas, por mais surpreendente que pareça, na
superfície governadas pelas leis da física quântica, também evoluem!
A prova disso vem de um livro intitulado The origins of life: evolution as
creation, no qual o autor, Hoimar von Ditfurth, descortina hipóteses
interessantes sobre a evolução e o universo.
Ditfurth esclarece pontos no controverso debate entre criacionistas e
evolucionistas.
Embora desdenhe dos fundamentalistas religiosos e tenda a ser cientificista
na argumentação, tem uma opinião desfavorável sobre a explicação
materialista da origem e criação da vida, sustentando que criação sem
evolução é bobagem e mostrando que, inversamente, a evolução não pode
ser explicada sem a criação.
Ditfurth acha que a evolução é o jeito de o Criador governar o mundo longe
da visão limitada da perspectiva humana.
É sua explicação sobre a evolução molecular que me interessa em
particular.
A simples ideia de que as moléculas podem evoluir arrepiam minha nuca.
E como funciona?

Existe uma enzima, um fóssil molecular por assim dizer, responsável pela
mais básica função de todas as células vivas - a oxidação intracelular (a
queima de comida na célula para produzir energia) -, e hoje ela realiza a
mesma função que executava quando a vida teve início.
Essa enzima, o Citocromo ‘c’, uma cadeia molecular de 104 aminoácidos,
evoluiu na mesma proporção que as espécies que a carregam, como indica
a genealogia de 500 milhões de anos, estabelecida por meio de descobertas
fósseis.
Todas as suas mutações podem ser combinadas com a aparência das
espécies que usavam a enzima.
Ao comparar as diferenças nas cadeias moleculares de Citocromo c, obtidas
em células de humanos, macacos, cachorros, coelhos, galinhas, sapos,
atuns, borboletas, mofo, levedura e trigo, Ditfurth, de maneira muito hábil,
mostra que as diferenças se encaixam com as descobertas fósseis dessas
espécies; cada espécie surgiu quando o Citocromo c sofreu uma mudança
na estrutura molecular - em outras palavras, deu um salto quântico
evolucionário.
Analisando como a mente veio ao mundo, Ditfurth afirma que "o cérebro
não produz a mente, a mente emerge na nossa consciência por meio deste
órgão do pensamento".
Ele conclui que a "evolução - supostamente tão hostil à religião - mostrou
que a realidade não termina onde a experiência se detém (...) a evolução
nos compele a reconhecer uma 'Transcendência Imanente' que ultrapassa
em muito nosso atual horizonte cognitivo".

Provas do futuro influenciando o presente?


Como um fluxo temporal gerado no futuro explica a evolução das espécies?
Primeiro, considere a clássica explicação darwiniana pós-causal.
Segundo essa teoria, a natureza produz quantidades imensas de material
genético, um pool de genes que contém, em sua maioria, cadeias
moleculares que garantem a sobrevivência das espécies às quais o pool
pertence.
Por meio de mutações genéticas aleatórias, produzidas por eventos ao
acaso, são criadas cadeias que não têm chance de sobreviver no ambiente
no qual se encontram.
Por exemplo, durante a era em que os animais viviam no mar, mutantes de
sangue quente - animais capazes de manter a temperatura corporal, que os
diferia do ambiente da água marinha - morriam.
De maneira idêntica, albinos não sobreviviam às fortes condições luminosas
encontradas na África.
Mesmo assim, essas mutações continuam aparecendo de tempos em
tempos como simples eventos aleatórios.
É como se a natureza criasse continuamente formas de vida que podem
sobreviver caso exista um ambiente adequado para elas, mas que, de outra
forma, perecem.
Sem dúvida, essa não pode ser toda a resposta.
Existem possibilidades demais para cobrir todas as eventuais mudanças
climáticas.
Quero dar um exemplo: a capacidade de uma cadeia de bactérias
sobreviver ao ataque furioso de um ambiente futuro criado por um
antibiótico que ainda não foi inventado!
Ditfurth cita as experiências de Joshua Lederberg, o microbiologista
ganhador do prêmio Nobel, nas quais a bactéria em placas de Petri ganha
resistência à estreptomicina.
Após uma série de experimentos, Lederberg se mostrou preocupado com a
adaptação de micro-organismos a novos agentes antibacterianos.
A questão encarada por Lederberg era se a bactéria era pré ou pós-
adaptada.
A pré-adaptação significaria que a bactéria já seria geneticamente
resistente ao agente antibacteriano; a pós-adaptação significaria que,
quando confrontada com um agente, conseguiria resistir.
A pré-adaptação implicaria em que as moléculas, ao compor um gene,
foram modificadas e sofreram mutação.
A pós-adaptação implicaria que não houve mudança molecular nos genes,
mas, talvez, no ambiente químico da célula ao reagir ao agente.
A maioria das adaptações ocorre lentamente ao longo de várias gerações,
sugerindo um mecanismo de pós-adaptação.
Assim, a prole de uma cadeia resistente pode apresentar tendências a se
adaptar quando surge um ambiente hostil, mas quase sempre a maioria dos
descendentes não resiste.
Contudo, a estreptomicina parece indicar um estágio único de adaptação.
Em outras palavras, assim que a prole da cadeia resistente é introduzida,
ela continua a resistir e sobrevive, o que parece sugerir que, de algum
modo, alguns dos ancestrais da bactéria devem ter sido modificados
geneticamente, ou seja, sofreram uma pré-adaptação anterior à introdução
do agente antibacteriano, a estreptomicina.
Além disso, as bactérias existiam muito tempo antes do aparecimento
desses agentes.
Lederberg afirma que a maioria das bactérias não é resistente a
antibióticos.
Se a estreptomicina fosse colocada numa placa de Petri, quase todas as
bactérias iriam morrer; mas, se alguma escapasse, segundo a teoria da
pré-adaptação, ela já teria a resistência.
No entanto, como isso é possível?
Suponha que a cadeia tenha existido em algum momento passado.
Então, de acordo com a seleção natural, a cadeia resistente teria
normalmente morrido no ambiente natural onde a estreptomicina não
estivesse presente.
Se não morreu, por que a natureza manteria essa variante?
Por certo, no turbilhão preexistente da vida bacteriana, éons antes dos
agentes antibacterianos, essa cadeia não teria utilidade.
Assim, a seleção natural a teria extinto após incontáveis gerações que
precederam aos agentes.
Sem dúvida, existe a possibilidade de a natureza manter mutações que não
causam prejuízos.
E, claro, devido ao número de possíveis mutações que poderiam aparecer,
muitas mutações benignas devem ter surgido ao longo da vida desses
animais unicelulares.
Em outras palavras, ou, (a), a bactéria sabia antes da hora que
características adquirir para estar preparada para o surgimento da
estreptomicina (violando a seleção natural); ou, (b), a natureza produz um
número infinito de cadeias mutantes que sobrevivem a cada geração.
De algum modo, tanto duvido de (a) quanto de (b), isoladamente.
Onde isso nos leva?
Quem sabe a resposta se encontre tanto em (a) quanto em (b) - no
entanto, é uma ideia muito estranha.
Provas da mecânica quântica sobre a não-localidade
A história da estreptomicina ainda não terminou.
Ao separar duas colônias de bactérias idênticas em placas de Petri e colocar
uma delas sob efeito do patógeno, a estreptomicina, matando quase todas
as bactérias, Lederberg descobriu, num dos cantinhos da placa, espécimes
resistentes à mudança.
Surpreendentemente, na mesma localização da outra placa, ele também
encontrou bactérias resistentes à estreptomicina.
Poder-se-ia acreditar que, como as duas placas tiveram a mesma
preparação, a cadeia resistente ao patógeno já existia nas duas e que a
natureza havia produzido essa resistência caso precisasse dela numa
alteração do ambiente.
Essa ideia favorece a hipótese (a), citada anteriormente.
Lederberg utilizou uma técnica conhecida como replica platting, que permite
criar, na mesma posição, em diversas placas de Petri, clones idênticos de
colônias de uma cadeia.
Em outras palavras, se uma colônia particularmente resistente fosse
localizada no lado noroeste de uma placa, clones da mesma colônia também
apareceriam em idêntica posição em todas as placas replicadas.
O segredo é que a colônia clonada surge como prole na mesma localização
relativa em cada uma das placas utilizadas na experiência.
Existe uma explicação alternativa: a não-localidade da física quântica.
Segundo essa ideia, dois sistemas que estiveram em contato irão manter
esta correlação mesmo não mais interagindo.
Uma medição realizada num dos sistemas, de forma instantânea, produz o
mesmo atributo no outro.
O que aconteceu foi o seguinte: as duas placas foram separadas depois de
passar pelo mesmo padrão de crescimento, o que não garante que uma
determinada cadeia molecular genética, criada em determinado local da
placa, fosse reproduzida com exatidão na mesma posição em outra placa.
Todavia, os dois grupos de moléculas seriam correlatos em termos de física
quântica.
Deixe-me explicar.

De acordo com a física quântica, as moléculas não podem possuir atributos


idênticos complementares ao mesmo tempo.
Dessa maneira, por exemplo, uma molécula não pode estar na mesma
localização espacial e simultaneamente possuir a mesma dinâmica.
As correlações da física quântica exploram essa incerteza.
Uma correlação da física quântica trata especificamente de uma medição
realizada em determinada parte de um sistema físico, enquanto deixa
intocada a outra parte que havia estado em contato com ele.
O que acontece é que a parte medida (parte um) afeta no mesmo instante,
no momento da medição, uma parte não medida (parte dois), mesmo que
não exista mais ligação entre elas.
Se, por exemplo, o medidor determina o momento linear da parte um, o
momento da parte dois é estabelecido de modo instantâneo.
Se, entretanto, o observador mede a posição da parte um, a posição da
parte dois também é determinada na mesma hora.
Assim, os grupos de moléculas localizados em posições similares nas duas
placas estavam correlacionados.
Quando o cientista mudou as condições numa das placas, ele produziu uma
alteração não localizada instantânea na outra placa.
Em consequência, esta correlação seria esperada, previamente, em todos
os espécimes relacionados entre si.
Não é que a cadeia de bactérias já contivesse o arranjo molecular
resistente, mas ele foi criado quando o ambiente "selecionou" essa
possibilidade e o tornou um fato.
Desenvolveram-se os espécimes que tiveram interações enriquecedoras e
divisoras de mundos paralelos.
Os que sempre repetiram o mesmo processo não sobreviveram.

Por que informação da física quântica?


Mas isso ainda não explicaria como as moléculas na bactéria adquiriram a
característica necessária.
A informação requerida não poderia existir nas moléculas antes da invenção
da estreptomicina?
Talvez não existisse uma quantidade infinita de dados nelas, mas não seria
possível que a seleção natural - os eventos aleatórios - permitisse a
preexistência dessa opção?
A compreensão de que a seleção aleatória, a partir de escolhas
preexistentes, fosse, na melhor das hipóteses, remotamente possível,
enquanto a seleção físico-quântica, baseada em informação potencial, fosse
claramente concebível, ocorreu-me quando percebi que a informação da
física quântica tem um potencial infinito para a realização; já a informação
clássica tem um potencial finito de sucesso.
A demonstração desse fato surge da tecnologia de hoje.
A nova era de transferência e geração de informação da qual estamos nos
aproximando deixa isso claro.
A tecnologia chamada computação quântica vai propiciar a solução de
problemas que a tecnologia computacional atual é incapaz de resolver
porque a manipulação da informação quântica trabalha com possibilidades
infinitas, enquanto a informação clássica - como a que lidamos no mundo
cotidiano - opera com realidades contabilizáveis.
Os elementos da informática quântica são, a exemplo da mente, entidades
não energéticas, fragmentos e fantasmas de realidades potenciais, mas
capazes de ganhar forma por meio da manipulação matemática.

No jargão da computação quântica, os termos manipuláveis recebem o


nome de ‘qubits’; todos capazes de existir em estados potencialmente
infinitos e que, mesmo assim, se materializam como um dos dois estados
reais: zero ou um.
Os bits, os elementos da informática clássica, por sua vez, são capazes de
se materializar, como ato ou potência, apenas como zeros ou números um.
Como existem mais possibilidades imagináveis na manipulação da
informática quântica do que na clássica, parece razoável que ela permita a
concretização de mais possibilidades do que aquelas atualmente existentes.

Usando a argumentação da física quântica, vamos retomar as possibilidades


mencionadas anteriormente: (a) pós-adaptação e (b) pré-adaptação.
Qual delas é a correta?
Como já mencionei, talvez as duas.
A hipótese (a) funciona simplesmente porque a estreptomicina despertou
ou, de alguma forma, escolheu a possibilidade de sobrevivência, ou seja,
sem o agente antibacteriano, nunca teria aparecido.
Já a (b) funciona porque a natureza permitiu aos animais resistentes
possuírem o potencial para sobrevivência, a partir de uma escala infinita de
possibilidades contidas dentro do domínio quântico de possibilidades
infinitas.
A inclusão de possibilidades infinitas e das hipóteses (a) e (b) na estrutura
biológica da bactéria não diferem do fato de o átomo de hidrogênio possuir
uma escala infinita de possibilidades energéticas embutidas em sua própria
estrutura atômica.
Qualquer interação desse átomo com um objeto quântico, como a dispersão
de um único fóton luminoso, traz à baila esse potencial infinito.
Na verdade, a dispersão de luz pelo hidrogênio atômico demanda todo o
nível energético da estrutura do átomo, a fim de prever a correta dispersão
do corte transversal observado experimentalmente.
É apenas uma questão de contagem.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 7

 (Zayn, 7) em  (Ayn, 70)


Zayn representa a energia em processo de colapso, um estado favorável ao
surgimento de novas possibilidades.
Zayn é o campo de possibilidades em formato de onda proveniente das
sementes do vav, e também pode ser visto como o princípio primário da
incerteza.
Zayn e ayn, a exemplo dos parceiros sexuais vav e sammekh que os
precedem, lidam com as possibilidades.
Zayn representa os dois fluxos da possibilidade: um rumo ao futuro, o outro
ecoando daquele futuro.
No ayn, essas correntes informativas de possibilidades se aglutinam e tudo
que era possível se torna provável de modo tangível.

O olho do universo

A realidade é meramente uma ilusão, apesar de ser uma ilusão muito


persistente.
Albert Einstein

A letra-símbolo hebraica zayn lida com os fluxos de possibilidades infinitas


não observadas.
Olho nenhum as percebe, nenhum ouvido as escuta, nada sente sua
presença e nenhuma memória as registra como fato.
Elas permanecem no domínio do imaginário.
Em ayn, a letra-símbolo hebraica, vemos esses fluxos informativos de
possibilidades se aglutinarem e tudo que era possível se torna uma
probabilidade tangível - significando que toda possibilidade existe de
verdade, mesmo que não seja imediatamente evidente.
O redemoinho de realidades imagináveis do domínio do imaginário, em
número elevado demais para serem concretizadas por completo, de uma
hora para outra se manifesta num turbilhão de realidades prováveis.
Aqui, lidamos com os resultados computáveis e, portanto, contáveis, desses
fluxos imagéticos.
Agora, a percepção acontece; na verdade, talvez muitas percepções
aconteçam, e todas se tornam contáveis, se pudermos contá-las, porque se
materializaram, transformando possibilidades em probabilidades.
A mente, guiada pela força da curva da vida descrita no Capítulo 5, virou
matéria.
O número de eventos, materializado quase sempre na casa dos bilhões de
bilhões por segundo, os traduzem como entidades estatísticas sujeitas a
muitas influências, principalmente das que exercem uns sobre os outros.
Ayn, em hebraico, quer dizer olho, e as duas letras-símbolos, zayn e ayn,
com exceção da primeira letra, têm a mesma pronúncia - zayn-yod-noon e
ayn-yod-noon - não por simples coincidência.
Zayn aponta os dois fluxos despercebidos (indicados pela primeira letra de
sua pronúncia); ayn mostra que uma observação aconteceu no fluxo duplo
(indicado pela primeira letra de sua pronúncia).
Essa observação transforma infinitas possibilidades despercebidas em
probabilidades percebíveis quase incontáveis.
O olho de ayn segura as possibilidades de zayn e liga os pontos, por assim
dizer, do universo "lá fora" com a mente "aqui dentro".
Os sonhos de zayn formam as realidades prometidas por ayn.
Por essa razão, com ayn, uma história se forma com as possibilidades
tangíveis e reais do domínio do imaginário de zayn.
Pode-se pensar no olho de ayn como uma testemunha dessa história.
A criação da história obedece às regras da física quântica - observa,
perturba e, ao mesmo tempo, cria, usando apenas a possibilidade.
Quando preso ou confinado dentro da mente, um fluxo temporal flui do
começo e reflete do fim da história para seu início, como uma serpente
engolindo a própria cauda.
Uma história completa, com começo, meio e fim, se forma na mente.
Quando aberto ou expresso para o mundo, o fluxo temporal interno se
sincroniza com os eventos que estão acontecendo no mundo - ou,
resumindo, as histórias internas e externas se aglutinam como duas
serpentes entrelaçadas e fechadas em si mesmas.
Esse processo acontece sem cessar, permitindo que novas memórias se
formem e novas informações se entrelacem às velhas memórias, como se
as duas serpentes relaxassem para descansar da vida antes de voltar a se
entrelaçar.

Neste capítulo, exploraremos como isso ocorre ao passarmos pela noção de


contra fluxo do tempo - uma corrente proveniente do futuro e outra do
passado, tema que comecei a abordar em A conexão entre mente e
matéria.
Para dizer o mínimo, a Mente de Deus é prodigiosa: inumeráveis ideias e
incontáveis eventos continuam a surgir.
Mesmo assim, não conseguimos reconhecer a novidade dessas aparições.
Sempre tentamos nos voltar para o passado - "é a mesma velha história, a
luta por amor e glória" - em busca de respostas para o presente.
A sobrevivência impõe que assim seja.
A sobrevivência exige que desejemos compreender as novas situações
como consequências inevitáveis do passado, e não como resultado das
escolhas que estamos fazendo.
Buscamos a lógica do novo utilizando o velho por base, para minimizar o
risco e a responsabilidade.
Em outras palavras, criamos uma história que caiba na sequência de nossas
experiências, ou seja, criamos uma ilusão.
A expressão máxima dessa ilusão de minimização de risco e
responsabilidade produz um sentimento de segurança.
"Fui mal na prova porque o cachorro comeu meu trabalho escolar."
"Eu só estava seguindo ordens."
"Olha o que você me fez fazer!"
E assim por diante.
Como, às vezes, precisamos sofrer na carne para aprender, cada opção
guarda um risco.
Não podemos nem evitar nem deter esse processo de escolher, de correr
riscos e de criar um carma como resultado das escolhas, porque as opções
precisam seguir as leis quãnticas.
Elas provêm do princípio da incerteza de Heisenberg e do princípio da
complementaridade de Bohr.'
Duplique o prazer
Transformar a mente em matéria exige retroalimentação do futuro, além do
que chamo pró-alimentação do passado.
A retroalimentação do futuro chega à mente como intuição e pensamento.
A pró-alimentação do passado surge como sentimento e percepções
sensoriais.
Para pensar e expressar os pensamentos em palavras, é preciso que exista
um roteiro.
E ele aparece, por incrível que pareça, permitindo, a cada um de nós,
completar frases e pensamentos.
Podemos exprimir os pensamentos como palavras escritas ou faladas que
parecem brotar do nada.
Podemos ordenar às palavras que surjam?
Se, por um lado, a vontade desempenha algum papel, por outro, não pode
fazer nascer palavras.
De algum modo, as palavras chegam à mente.
Penso que elas aparecem porque são formadas a partir de uma perspectiva
futura.
De modo semelhante, todos podemos intuir, ter um palpite do que
precisamos fazer a seguir, o que vamos encarar na sequência da vida, por
assim dizer.
Novamente, sugiro que a informação venha do porvir.
Sentimentos envolvem energia.
A energia é o modo utilizado pela natureza para lembrar, considerando o
delicado equilíbrio dos processos naturais.
Sempre que algo acontece na natureza, toda a energia envolvida deve ser
considerada.
Uma nova energia não pode aparecer nem desaparecer.
Assim, o que estava presente no passado se torna disponível no presente. O
sentimento também é o modo usado pela natureza para levar em
consideração as experiências passadas da mente.
Quando reencontramos um velho amigo, após muitos anos, os sentimentos
imediatamente passam a existir.
Em geral, não vemos os amigos antigos com a aparência de agora, mas
como nos lembramos deles.
Com que frequência você não disse ao rever um amigo: "Puxa, mas parece
que foi ontem...".
As percepções sensoriais também são memórias, que podem ser expressas
em termos de "gosto" ou "não gosto".
Por exemplo, todos temos lembranças de aromas e sabores do passado e
quase sempre essas lembranças influenciam como sentimos o cheiro da
comida e até as papilas gustativas.
Gostar ou não de alguém pode ser influenciado pelas percepções sensoriais
- de onde se origina o mecanismo de pró-alimentação supracitado.

Os dois pra lá, dois pra cá da vida e da memória.


Usando a retroalimentação e a pró-alimentação, dois processos se põem em
marcha: auto referência e renormalização.
Como discuti no Capítulo 5, a curva da vida sempre redefine sua forma a
cada nova experiência.
É assim que funciona: toda experiência resulta da ação dupla dos dois
fluxos abordados no Capítulo 6, quando utilizei a metáfora das correntes ou
fluxos temporais.
Aqui, irei utilizar a velha metáfora adotada pelos aborígenes australianos:
as duas serpentes do tempo.
Uma desliza do futuro, a outra, do passado.
O seu movimento altera as probabilidades dos eventos, e cada modificação
chega à realidade como a sensação de uma ilha individual chamada "self".
Vou identificar a pró-alimentação com a letra ‘P’, para representar o
movimento que caminha do passado para o presente, e um ‘R’ para
identificar o contrário, a retroalimentação do futuro em direção ao presente.
As operações básicas de P e R criam uma espiral no tempo.
Sem essa espiral, não haveria a sensação do "eu", base para o
reconhecimento de padrões, nem existiria qualquer memória, sentimento,
pensamento ou sensação.
A espiral começa com um evento, claramente definido como possibilidade
na física quântica como agora, ou ‘A’.
A seguir, um rio de possibilidades flui para um evento futuro, ‘F’, um dos
vários possíveis eventos futuros que foram desencadeados pelo evento A,
segundo as leis da física quântica, e que, depois, reflui contra ou a favor da
corrente temporal, criando uma perturbação destruidora.
A interação entre as duas correntes, A -> F e A <- F, faz nascer um
observador e um observado; uma história e seu narrador.
A sensação do "eu" e uma apreensão ou antecipação de eventos F formam
uma intuição.
A sensação do "eu" pessoal, o medo ou a ansiedade, a sensação de
continuidade e a concretização do A como um padrão em relação a um
evento futuro F, criam o que comumente chamamos intuição.
O agora é quase sempre entendido como a sensação de presença ou de
identidade que todos sentimos surgir da memória, quando examinamos
eventos passados na memória que nos ajudem a definir como agir.
Na verdade, também fazemos isso; mas não podemos esquecer que a
"memória" que analisamos existe agora, no momento presente.
Na verdade, não vamos ao passado procurar respostas para os problemas
presentes.
Afirmo que olhamos para o futuro por meio desse processo de A -> F -> A,
agindo como se o F fosse a memória futura.
Quando o fluxo de meia-volta acontece, é criado um caminho entre o A e o
F, de modo que F também aconteça.
Todo evento A se liga a um evento ocorrido, ‘O’, cujo A, de certa maneira,
causou; e a um evento futuro, que da perspectiva do A é somente provável,
mas que da perspectiva do F já aconteceu.
Em outras palavras, quando um evento se torna certeza, é o A, e vice-
versa.

Todos os eventos que permanecem indefinidos nessa espiral formam o


grande inconsciente coletivo: a Mente de Deus.
Tais ligações definem nosso propósito e nossa "coletividade".
Dessa maneira, imagine que existam diversos possíveis eventos futuros, F1,
F2 até F..
Da perspectiva do evento A, o A tenta se ligar a todos esses eventos
futuros.
Alguns são particularmente parecidos, diferindo apenas em pequenos
detalhes, e sua quantidade é impressionante.
Sem qualquer distinção entre os detalhes dos eventos futuros - sem
qualquer tentativa de esclarecer onde, o que, quando etc., eles ocorrem -,
todos os eventos F fazem a retroalimentação do evento "eu", resultando em
um forte senso de destino.
Mesmo assim, um dos possíveis eventos F vai acontecer, se tornando um
novo evento A.
Depois, será a vez de um novo conjunto de eventos F aparecer, mas dessa
vez vão diferir por ser a realização a partir de uma nova perspectiva "eu",
as possibilidades "eu"- F.
Um refinamento ocorreu, e com a concretização de outro evento F, teremos
mais um refinamento.

Um modelo do futuro ao presente refinamento


Para entender isso como um modelo escolhi um problema simples para os
matemáticos.
O problema é saber como a incógnita algébrica ‘xis’ obterá uma identidade
de uma possível forma futura.
Todo ‘xis’ existe no futuro como o número um dividido por um mais ‘xis’.
Ou:

Embora esta expressão pareça uma equação, ela não o é.


Ela significa que é preciso realizar uma substituição.
A seta para a direita nos diz que devemos substituir o ‘xis’ por uma nova
forma, 1 / (1 + x).
Os processos de auto referência e de renormalização estão em andamento.
Na tentativa de se definir, o ‘xis’ (a incógnita do lado esquerdo da seta)
"olha para si mesmo", numa espécie de espelho matemático.
Porém, na verdade, somos nós que olhamos.
E, assim, vemos o ‘xis’ no lado direito da seta em uma nova forma, como o
algarismo um dividido por si mesmo mais um.
Ao tentar adivinhar qualquer valor positivo para ‘xis’, tentamos fazê-lo valer
nas duas expressões.
Conforme o ‘xis’ continua a se reafirmar no futuro, como 1 / (1 + x), ele
começa a convergir para um valor e, assim, a se renormalizar.
Assim, o ‘xis’, que simboliza qualquer número, se torna o mesmo que o
número um dividido pela soma de um mais ‘xis’.
Pense no lado direito da seta como um futuro possível e no lado esquerdo
como o presente ou evento A.
O evento A busca se definir em relação ao futuro; entretanto, assim que
essa igualdade é buscada, uma restrição é imposta ao ‘xis’: agora ele deve
ser algo que nunca foi.
Um processo dinâmico tem início quando o ‘xis’ tenta completar seu
potencial tornando-se aquilo que foi imposto pelo futuro.
Nos próximos parágrafos, irei imaginar que o ‘xis’ tem mente própria.
O processo imaginário funciona mais ou menos assim:

Quem sou eu?


Sou um número 50?
Um 35?
Será que sou um cem?
Vou usar ‘xis’ igual a 50 e ver o que acontece:
Será que 50 —> 1 / (1 + 50)?
Não, claro que não.
E o que faço agora?
A seta menciona que no lado direito temos 1/51, um número pequeno que é
igual a 0,0196.
À esquerda temos o número inicial, 50, algarismo que chutei.
Não deu certo.
Mas por quê?
Vou pegar o valor da direita, definindo-me como sendo igual a 0,0196.
Será que funciona?
Será que 0,0196 —> 1 / (1 + 0,0196)?
Não, de novo.
O lado direito, 1/1,0196 é igual a 0,9808.
Ele é maior que o valor anterior, 0,0196, e menor que 50.
Talvez o alcance das possibilidades esteja diminuindo.
Talvez, o ‘xis’ esteja se aproximando de um valor real.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,9806 como o futuro.
Será que 0,9806 —> 1 / (1 + 0,9806)?
De novo, não.
O lado direito, 1/1,9806, é igual a 0,5049, o que é menos que 0,9806 e a
faixa de valores possíveis para ‘xis’ está menor que antes.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,5049 no lado direito da seta.
Será que 0,5049 —> 1 / (1 + 0,5049)?
De novo, não.
O lado direito, 1 / 1,5049, é igual a 0,6645 e maior que 0,5049.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,6645.
Será que 0,6645 —> 1 / (1 + 0,6645)?
Não, de novo. O lado direito, 1 / 1,6645, é igual a 0,6008 e menor que
0,6645.
Vou tentar xis é igual a 0,6008.
Será que 0,6008 —> 1 / (1 + 0,6008)?
Não, de novo.
O lado direito, 1 / 1,6008, é igual a 0,6247 e maior que 0,6008.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,6247.
Será que 0,6247 t 1 / (1 + 0,6247)?
Não, de novo.
O lado direito, 1 / 1,6247, é igual a 0,6155 e menor que 0,6247.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,6155.
Será que 0,6155 —> 1/(1+0,6155)?
Não, de novo.
O lado direito, 1/1,6155, é igual a 0,6190 e maior que 0,6155.
Vou tentar ‘xis’ é igual a 0,6190.
Será que 0,6190 1 / (1 + 0,6190)?
Ao examinarmos as tentativas do ‘xis’ de ganhar identidade, veremos que,
se a princípio parecia não haver esperança, uma progressão parece estar se
formando.

Quando ‘xis’ tenta se identificar com uma forma futura de si mesmo,


1 / (1 + x), logo converge para um número consistente autorreferente.
Não importava o valor do ‘xis’ no começo.
O processo se renormalizou.
Se fôssemos continuar a fazer contas para sempre, acabaríamos vendo que
‘xis’ poderia se aproximar, mas nunca iria chegar a um valor exato.
Em algum ponto, o processo pararia.
Assim, diríamos que esse ponto era "bom para todos os efeitos práticos".
Portanto, para todos os efeitos práticos, ‘xis’ é igual a 0,6183.
A auto referência se parece com isso.
É um processo contínuo de reavaliação que para quando é "bom".
Isso também é verdadeiro para nossas tentativas de identificação,
formando egos.
Todo passo é uma tentativa de ser aquilo que não podemos ser, uma forma
que vem do mundo externo ou de dentro de nós, uma imagem ideal, um
herói.

O argumento é que a identidade não está em ‘xis’, mas no processo pelo


qual ele tenta se projetar no que não é.
Com esse processo, o futuro e o presente "se dão as mãos" através do
tempo.
Todo valor experimental de ‘xis’ levou a um maior refinamento, com uma
convergência ou renormalização-identificação-realização na consciência.
Por ser um processo, é dinâmico.
Por ser dinâmico, indo e vindo no tempo, não pode ser "visto" como um
processo físico que apenas acontece no sentido do tempo, do presente para
o futuro.

Na nova alquimia, o futuro decide o presente!


O passado é controlado pelo presente!
Sombras do livro 1984, de Orwell.
A partir da perspectiva do presente, o futuro apenas pode ser imaginado
como uma onda de probabilidade.
O passado é relembrado, remontado, reconstruído e recriado como um
evento verdadeiro, já acontecido e completamente fixo na mente.
Os computadores, os aparelhos com inteligência artificial e determinadas
pessoas robotizadas que conhecemos pelo fiel cumprimento às ordens, têm
programas embutidos que lhes dizem como agir diante de situações novas.
Pelo menos fazem alguma coisa.
Esses "indivíduos" são inteligentes somente na medida em que o passado
forma a única fundação para suas ações presentes.
Os seres humanos são guiados por meio da noção de suas identidades
evoluídas do futuro, e é por isso que, no geral, não parecem mecânicos.
E, na verdade, não o são, em qualquer sentido da palavra.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 8

 (Hhayt, 8) em  (Phay, 80)


Hhayt representa a síntese fundamental das possibilidades que ocorrem no
nível imaginário, onde as outras sete letras-símbolos também residem.
Agora, com o hhayt, temos o confuso começo da existência física.
Embora continue uma semente, o hhayt representa a soma ou o
armazenamento das várias possibilidades encontradas no zayn.
No nível imaginário, todas as possibilidades são tentadas antes que alguma
tenha sucesso.
Quando isso ocorre, o hhayt imaginário se transforma no phay material,
formando a personalidade de um ser real - um rosto na janela da vida.

Da possibilidade à personalidade e alma

Quem sabe que é Espírito, se torna Espírito, se torna tudo; nem deuses
nem homens podem impedi-lo...
Os deuses não gostam das pessoas que têm esse conhecimento...
Os deuses amam o obscuro e odeiam o óbvio.
- Upanishad Brihadaranyaka

A letra-símbolo hebraica hhayt representa a ação de reunir as


possibilidades, como a tentativa de descobrir o código genético de sementes
de margarida num tubo de proveta.
A letra-símbolo hebraica phay coloca essa ação em movimento, como a
colheita de margaridas em flor no campo.
Com o phay, a história se desdobra como as duas serpentes do tempo
(mencionadas no Capítulo 7) mordendo o "eu" - a ilha do ser emergente,
moldando o ego/personalidade e criando outro episódio na história pessoal
de cada um.
Comumente, quando as serpentes picam, duas narrativas conflitantes
emergem.
Em uma, perguntamos: "Como nós, pessoas, tiramos o melhor proveito de
nossas vidas?"
Na outra trama, bem mais sutil, trabalhamos com o reconhecimento de nós
mesmos como parte do cenário humano.
Nessa história, complicada demais para a maioria perceber, vemo-nos como
parte de uma mente, em vez de corpos no espaço e no tempo, diferentes e
separados dos outros.
Nessa história sutil, você, como pessoa, desempenha um papel de alguma
forma secundário, embora nunca perca a personalidade individual que criou
para si.
Enquanto tece a história de sua vida, encontra sentimentos presos à teia
que vai tecendo.
Esses sentimentos estão embutidos no que chamo máscara-sonho.
Outros rostos mascarados aparecem nos sonhos, na vida desperta, e são
reconhecidos como rostos pertencentes ao mundo "lá fora".
Quando tiver despertado para esse processo, você terá a oportunidade de
limpar ou purificar o rosto que usa "lá fora", trocando o que usa "aqui
dentro", no interior da consciência coletiva de imagens agrupadas no
percurso da vida - e, possivelmente, também antes de ter nascido, mas
enterradas profundamente no código genético.
O processo continua pela vida afora sempre que você é mordido pela
serpente do tempo.
A serpente do passado o avisa para não perturbar a interface
cuidadosamente criada com o mundo, enquanto a serpente do futuro
sussurra possibilidades nos seus ouvidos, tentando despertar a percepção
da alma ao alterar aquela interface, sempre mutante e autoabsorvida.

Neste capítulo, exploraremos como podemos fazer a personalidade encarar


a alma, mesmo sendo um desafio que, confessadamente, nunca é um
sucesso completo.

Levando a personalidade à alma


É um paradoxo, mas enquanto os budistas professam não acreditar na ideia
da alma, reconhecem o "caminho do desapego", também chamado o
caminho do Boddhisattva.
Ao tomar essa vereda, o budista promete salvar todos os seres conscientes,
mesmo incontáveis.
Todos professam o desejo de superar as ilusões, mesmo inesgotáveis, e
seguir os muitos caminhos do dharma (a boa prática), embora infinitos.
Mesmo que pareça ser uma tarefa impossível, não é, desde que estejamos
dispostos a abrir mão das personalidades e tirar as máscaras - os egos -
enquanto tocamos a vida.
Imagine o seguinte: todos que vemos "lá fora", na vida ou em sonhos, são
apenas reflexos do nosso ser sem máscaras ou, em outras palavras, cada
um deles é "você", mas usando outra máscara/personalidade, todos lidando
com seu próprio carma, seguindo o próprio dharma, fazendo promessas,
vivendo e desempenhando o papel designado a cada um pelo sindicato de
atores da tela cósmica.
Tirar a máscara significa encarar a alma - o rosto que se tem antes de
nascer; significa colocar a alma sem face no mapa do rosto, por assim
dizer, bem no meio da nossa tão bem acabada personalidade.
E como se consegue fazer isso?
A resposta a essa pergunta vem da física quântica.
O mundo não é o que parece e você também não é o que pode pensar.
A física quântica nos permite verificar que o mundo é repleto de mudanças
que não param de acontecer.
Ela mostra que nossas observações fazem o mundo existir, criando a
oportunidade de mudar o mundo e nós mesmos.
Pode-se tentar permanecer imune às contínuas mudanças da vida buscando
refúgio na ilusão, produzindo uma máscara melhor que o esconda dos
outros.
Pode-se, também, encarar o mundo com um sorriso feliz e continuar a olhar
para dentro, imaginando como irá sobreviver ao mais recente massacre.
À medida que se cria uma personalidade "cheia de si", tende-se a esquecer
o rosto original.
É incontestável que todos nós precisamos encarar questões locais de
sobrevivência.
Torcemos pelo melhor, ou seja, que nossa alma vai cuidar dos problemas
globais enquanto "cuidamos da própria vida".
No entanto, sentimos o mundo mudando e sentimos uma responsabilidade
a que chamamos consciência.
O conflito entre a consciência e as necessidades individuais de sobrevivência
dá origem a roteiros de cinemas interessantes e, embora, às vezes, tudo
fique confuso, devido ao desejo inato por estimulação objetiva ou vinda "de
fora", seguimos aos trancos e barrancos, torcendo pelo melhor.
Pense neste capítulo como um guia, uma maneira de dar um significado
maior à nossa história pessoal e de sermos felizes, apesar do mundo onde
vivemos e dos acontecimentos, por mais trágicos que sejam, que nele se
desenrolam.

O primeiro passo é mudar a percepção.


Já discuti anteriormente o efeito do observador, o qual, segundo a física
quântica, argumenta não existir realidade até que ela seja percebida.
Esse profundo insight nos diz que transformamos todos os objetos do
mundo apenas por prestarmos atenção neles.
Durante esse processo de transformação, mudam o objeto e a mente do
observador.
Como, de modo geral, não prestamos atenção em nós mesmos durante o
transcurso da percepção, a experiência imediata não irá apontar que as
ações da percepção mudaram alguma coisa.
Contudo, se construirmos um histórico cuidadoso de nossas percepções,
elas costumam mostrar que a maneira de perceber muda o curso de nossa
história pessoal.
No mundo da mecânica quântica em que vivemos, nós, como observadores,
afetamos o universo, ou algo que pertença a ele, de modo fundamental e
decisivo sempre que o observamos.
Portanto, o mundo não é o que parece.
Sem dúvida, ele dá a impressão de estar "lá fora", independentemente de
nós e das escolhas que fazemos.
Porém, a física quântica destrói essa ideia.
Embora o senso comum diga o contrário, o mundo não é composto de
objetos. A
o contrário, os objetos do mundo estão ligados às nossas mentes de uma
maneira surpreendente e misteriosa.
A ligação fica aparente por meio do efeito das observações sobre o mundo.
Então, para entendermos tudo que vemos e fazemos, tudo o que os
humanos observam, é preciso levar em consideração o ato da observação e
o papel desempenhado pelas escolhas do observador.
A simples observação é suficiente para transformar a história de tudo e de
todos, inclusive a de um país inteiro.
Ao observar, todo observador perturba o que é observável e, em resultado,
também é perturbado.
Apesar disso, sequer notamos a perturbação.
Por quê?
Porque toda observação cria uma memória do mundo que existe "lá fora".
Essa lembrança é reproduzida toda vez que percebemos um objeto familiar
obscurecendo o papel que desempenhamos quando fazemos escolhas.
Assim, a capacidade de afetar o mundo costuma ser obscurecida.
Pela observação, todo observador se divide em ser e coisa.
Por vezes, essa coisa é o rosto de alguém, o corpo ou sua estrutura de
personalidade e crenças.
Como resultado, pela observação, o observador ganha conhecimento, mas
também paga um preço, pois fica cada vez mais afastado e isolado da coisa
observada.
Talvez esse seja o significado da história bíblica da maçã e da árvore do
conhecimento no Jardim do Éden: a primeira mordida na maçã é doce, mas
custa caro.
Os olhos são abertos e vemos um mundo "lá fora"; e nos vemos sozinhos e
separados de tudo e de todos.
Ganhamos conhecimento e o mundo fica estranho e muito hostil.

Perdendo a percepção da alma


Adquirir conhecimento tem custado caro desde aquela primeira mordida.
A cada mastigar, a cada saber conquistado, experimentamos um pequenino
"viva!", logo seguido por um "grande coisa".
Ao nos tornarmos conscientes do universo, prestando atenção nele, nós o
transformamos.
Como o universo engloba a todos nós, a fronteira entre nós e ele muda
sempre que algo é observado.
Resumindo, ele muda porque nós mudamos.
Estamos ligados de modo invisível ao universo inteiro, de modo que a
mudança não ocorre apenas dentro de nós, mas também fora de nós.
Chamamos todas essas transformações de divisão eu/ele.
E cada divisão resulta em consciência.
A consciência é o que faz, e desempenha um duplo papel no universo.
No mundo da física quântica, é a percepção e a criação da experiência.
A experiência do saber se transforma na mente e a coisa conhecida em
matéria.
A distinção entre mente e matéria depende principalmente das escolhas
feitas.
Ao escolher ver o mundo de um modo, os modos complementares de
vivenciar se ocultam ou ficam inacessíveis.
Se, por um lado, essas visões ocultas não se mostram mais à mente como
propriedades objetivas visíveis no mundo, como coisas, lembradas na
mente como memórias, por outro, elas não deixam de fazer parte do
inconsciente mundo-mente de possibilidades.
Diante de uma mudança de escolha, que traz à baila o modo complementar
de vivência, as visões antes ocultas ficam visíveis - "lá fora" - enquanto as
propriedades anteriores desaparecem no mundo físico, mas continuam
existindo como memórias.
Um mágico usa esse truque para nos iludir a ver uma coisa como era antes
da prestidigitação.
Quando escolhemos ver uma coisa repetidas vezes, o tempo cessa para o
observador, sendo criada uma consistência e as propriedades observadas
permanecem imutáveis - esse conceito já foi visto no Capítulo 3, quando
exploramos constantes e variáveis.
Eis um exemplo: você encontra uma pessoa que não vê há muito tempo.
É claro que a pessoa envelheceu, ganhando rugas e cabelo grisalho.
Em sua mente, a relação com essa pessoa começará do ponto em que
parou anos atrás.
Em sua mente, você não a verá como ela está agora, com rugas no rosto e
cabelo grisalho, mas sim como era.
Na verdade, muitos casais vivem nesse domínio do imaginário, mesmo que
muitas coisas, além do seu relacionamento, tenham mudado na passagem
dos anos.
Nesse estado, o verdadeiro estado físico da pessoa na sua frente
permanece oculto da visão, mesmo que a aparência física atual seja vista
pelos outros.
Mudar o jeito de olhar para a pessoa, trazendo sua visão para o agora e
prestando atenção à sua aparência, a lembrança imediatamente fica de
lado, eliminando todos os sentimentos que você poderia ter por ela.
De repente, a pessoa é vista de uma nova maneira.
Então, é possível mudar entre a percepção nova e a antiga, dos antigos
sentimentos às novas informações sensoriais e, ao fazer isso, se tem uma
avaliação completamente diferente do velho amigo.
Nem sempre é fácil perceber que existe uma escolha em tudo que fazemos.
Embora possa parecer uma simples questão de conveniência, tudo depende
do mundo da física quântica em que vivemos e das leis quânticas que o
mundo precisa obedecer - como discuti no Capítulo 1.

Para poder perceber que sempre existe uma escolha, é preciso ter ciência
da resistência sempre que ela se forma no seu interior.
O sentimento de resistência é a percepção da escolha nascendo dentro de
você; é a percepção contínua da divisão complementar entre matéria e
espírito e do fato de sermos espíritos no mundo material.
A resistência também pode ser entendida como a divisão entre ser e tornar-
se, ou a divisão entre onda e partícula da física quântica.
Em geral, é o sinal da percepção avisando da existência de uma escolha,
envolvendo modos complementares de vivenciar qualquer coisa.
Quem escolhe o caminho "cheio de si" de ver, a partir do instante em que
essa escolha é feita, se torna um "conhecimento virando partícula", a
resistência se transforma em inércia - um objeto mental que se conecta a
um objeto físico "lá fora".
Quando acontece, o ser é vivenciado como algo separado do objeto
percebido.
Entretanto, quem escolhe ver pelo caminho do desapego, a partir do
instante em que a escolha é feita, se torna um coração virando onda, a
resistência se dissolve - o objeto mental não se conecta mais ao objeto
físico "lá fora".
Quando essa escolha é percebida, você vivencia seu intento se dissolvendo,
sem assumir qualquer forma, e o ser é vivenciado como sendo um único
com todos os objetos.
Na verdade, nenhum objeto parece separado de você.
Para alguns de nós, escolher o desapego aparenta ser complicado.
E é, devido às propriedades inerciais de todos os objetos mentais (como
discutido no Capítulo 4).

Um poder maior
O processo do princípio da complementaridade da escolha é universal,
sendo também possível pensar no universo operando dessa maneira.
Quando o universo escolhe ser, vê a si mesmo materialmente, tornando-se
consciente de uma resistência crescente chamada inércia material, que
corresponde à mesma resistência que experimentamos ao descobrir uma
nova ideia.
O universo pode e faz a escolha alternada e, quando temos consciência
espiritual, podemos sentir quando ela é assumida.
Ao realizar escolhas, ele ganha ciência de si mesmo.
Enquanto universo que escolheu o material, ele transforma informação em
matéria, criando objetos físicos, e transforma matéria em informação,
criando um universo mental que dá forma ao físico.
A resistência brota a cada transformação.
Assim é a ordem do processo transformacional.
Enquanto universo que optou pelo espiritual, ele se torna o que é conhecido
como ‘um-verso’.
Toda matéria do espaço-tempo permanece indiferenciada.
Esta é a Mente de Deus, na qual não há resistência e nada se transforma.
Nenhuma informação vira outra coisa porque nada é separado de nada.
Tudo apenas brilha.
Mas, pode-se argumentar: o mundo parece tão confuso, quase nunca brilha
dessa forma, sempre parece que algo está faltando.
O rompimento da ordem de Deus se mostra como o princípio da incerteza
da física quântica.
Assim, nos tornamos impotentes, nos sentimos inadequados e ansiamos por
uma ordem, a qual somos incapazes de criar no universo.
Tudo que podemos fazer é seguir em frente.
Mas nós somos realmente livres para escolher.
Nossa própria incapacidade de criar uma ordem perfeita nos permite criar.
Nossa incapacidade nos convida a nos rendermos e a reconhecer que a
imaginada ordem perfeita não pode existir no mundo material.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o princípio da incerteza é uma faca de
dois gumes: nos liberta do passado porque nada pode ser predeterminado,
e nos dá a liberdade de escolher como iremos encarar o universo.
Porém, não é possível prever os resultados das escolhas.
Podemos escolher, mas sem saber se teremos sucesso.
O formidável é que, ao escolher ver de modo espiritual, perdemos o
interesse pela previsão, nos tornando um com nossa alma.

Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte Final

 (Tayt, 9) em  (Tsadde, 90)


Tayt representa a célula — todo foco, centro ou concentração de energia —
que se torna fêmea.
É o útero, um lugar para o nascimento começar.
Quando tayt se manifesta, modificando-se em tsadde, se transforma em
todo o universo material e mental.
Considerando que o resultado final do tayt era a resistência cósmica, o
resultado final de tsadde é yod — o próprio universo material.

A estrutura do amor no universo

Para criar um universo, (..) Parama Shiva põe em ação o aspecto de seu
Shakti que se manifesta como o princípio da negação, fazendo o Universo
ideal desaparecer do Seu campo de visão, permitindo a Si mesmo sentir o
desejo de um Universo; mas para este sentimento não haveria (..) a
necessidade de um Universo manifesto por quem está completo em Si
mesmo.
- Jagadish Chandra Chatterji

Quando a letra-símbolo hebraica tayt (, 9) se modifica em tsadde (, 90),


ocorre algo realmente notável.
Para explicar, primeiro vou revisar o significado de tayt.

Bayt, hhayt e tayt têm grafias similares: bayt-yod-tav, hhayt-yod-tav e


tayt-yod-tav.
A terminação yod-tav indica que essas letras-símbolos desempenham
papéis semelhantes em suas ações de semeadura.
Todas trabalham com a existência (yod, , 10) e a resistência (tav, , 400).
Yod simboliza o mundo que habitamos.
Tav simboliza uma coisa antiga que se põe em movimento e uma
resistência final ou cósmica - a última letra do aleph-bayt hebraico.
E, como mencionei no Capítulo 4, a resistência é crucial para a vida, pois
sem ela nada poderia existir.
O tav nos avisa que a resistência permanece um grande e fundamental
mistério.

Bayt, hhayt e tayt desempenham papéis criativos e têm a ver com as


propriedades refletivas da resistência suprema, sem a qual nada pode vir a
existir.
Em bayt, a ação é explosiva e tem a ver com o Big Bang e todas as ações
fundamentais da criação.
Em hhayt, a ação é sintética e criativa na capacidade de concentrar
possibilidades; em tayt, a ação é concêntrica e criativa no sentido de formar
uma unidade fundamental, um objeto do mundo físico ou mental.
Dessa maneira, o bayt explode em novas possibilidades criativas, o hhayt
sintetiza todas elas e o tayt as reúne na forma material.
As ações de semeadura de bayt, hhayt e tayt ocorrem no domínio do
imaginário, mas quando multiplicamos qualquer um deles por dez, as
letras-símbolos ganham presença material.

Quando o tayt se manifesta como tsadde, ele se torna todo o universo da


matéria e da mente.
A grafia de tsadde é tsadde-dallet-yod; assim, se o resultado final de tayt
era a resistência cósmica, tav, o resultado final de tsadde, é yod, o próprio
universo material.
Muito mais é revelado se soletrarmos todas as letras do tsadde, inclusive o
yod final (em itálico): tsadde-dallet-yod-vav-dallet.
Acontece que o dallet-vav-dallet-yod (cuja pronúncia é dodi) significa "meu
ama-do", segundo a versão hebraica do Cântico dos cânticos'
Dessa maneira, não é coincidência encontrarmos esses caracteres quando
abrimos as letras como indiquei.

Outra pista é revelada ao escrevermos dodi ao contrário: yod-dallet-vav-


dallet.
Vemos que a grafia invertida é muito parecida à de Yahweh (yod-hay-vav-
hay) [Jeová]; a única diferença é o dallet ser substituído pelo hay.
O mestre da Cabala Carlo Suarès afirma que esses dois esquemas têm uma
importância imensa e formam uma apostasia sagrada.

Por meio de seus dois dallets, dodi representa a resistência fertilizando um


ao outro e trazendo-os à existência.
Por isso, o "meu amado" é quem resiste e reage às nossas resistências e
respostas.
Mas como as letras de dodi são as letras invertidas de Yahweh - dallet-vav-
dallet-yod (em vez de yod-dallet-vav-dallet) em oposição a yod-hay-vav-
hay dodi vem a ser a resposta a Yahweh.
Essa resposta costuma ser sentida como amor e compaixão.
Da mesma maneira, dodi reflete o amor e a compaixão que Deus tem pelo
universo.

Yahweh e Amor
O tsadde, então, em sua evolução a partir do tayt - representando uma
estrutura celular fundamental - não apenas tem a ver com todas as
estruturas da existência: ele contém um segredo sempre mencionado nas
sagradas escrituras: o universo contém amor e Deus criou o universo a
partir dele.
O amor e a bela estrutura dele proveniente são vistos na formação
anatõmica do tsadde.
Essa estrutura provém do desdobrar de cada letra-símbolo contida na
pronúncia do tsadde, que contém um número infinito de dallets, vistos
como pares espelhados em todos os níveis (ver a Figura 9.1 na página
seguinte; nem todos os pares são exibidos).
Todos buscamos amor e parceria; talvez a força propulsora suprema em
nossas vidas e no universo.
Da perspectiva da nova alquimia, o amor surge a partir das estruturas, das
memórias imbuídas e dos dois contra fluxos das correntes temporais de
nossas vidas, descritas anteriormente.
De acordo com a estrutura espelhada encontrada no tsadde, o amor parece
querer uma parceria.
A palavra em hebraico para Terra é eretz, cuja grafia é aleph-raysh-tsadde
e literalmente quer dizer: espírito (aleph) cria o universo (raysh) em
estruturas (tsadde).
Assim, também a Terra foi criada a partir do amor e o tem em seu núcleo,
apesar das muitas visões científicas que excluem o amor da equação.
Aprender a ver e a expressar o amor é o propósito desta vida.
O argumento deste estudo é mostrar que tudo que é real possui o amor em
seu núcleo, que o universo foi construído a partir do amor e que o amor
está enredado em nossa capacidade de atenção e imaginação.
A física quântica e a Cabala, como expressas pela nova alquimia, podem
aparentar ser um exotismo extremo, mas, quem estiver pronto para aceitar
seu ponto de vista, poderá ver a natureza da consciência de outra maneira.
Com a ajuda da nova alquimia, as surpreendentes ideias adotadas há
milênios por tradições místicas podem acrescentar matizes a ideias e ações.
O princípio é colorir ideias e ações com o amor.

Minha história de amor, em poucas palavras


Descobri o amor em tenra idade.
Não, não me refiro ao amor da minha família ou de amigos, que sem dúvida
representam uma forma muito importante do amor.
Estou falando de uma forma maior do amor — aquela que tem uma ligação
firme com assombro, mistério e devoção.
Em minha primeira infância, eu me interessava por magia.
Não me lembro de uma época em que ela não despertasse minha atenção.
A magia me levou a estudar física porque eu via o mundo em minha volta,
mesmo quando criança, como algo mágico.
Eu questionava muito as coisas.
E, de modo surpreendente, tudo que questionava acabava aparecendo em
minha vida, claro que não da noite para o dia, mas aparecia.
Era algo natural para mim, mas, naquela época, não percebia como aquilo
era uma expressão do amor de Deus.
Amor e magia estão ligados.
Pergunte a qualquer poeta ou compositor.
A magia me parece um modo natural de investigar a natureza.
Na verdade, proferir conjurações, fazer encantamentos, imaginar como os
mágicos fazem seus truques, tudo isso me levou a estudar física, o que
acabou me conduzindo aos seus aspectos mais profundos, depois à
metafísica e, por fim, ao misticismo e à espiritualidade.

Ciência e magia se opõem?


O território do misticismo e da espiritualidade me atrai e, sim, sentimentos
de deleite místico se fizeram presentes em toda minha vida.
De alguma forma, eu não havia percebido que Deus e eu nos tornamos
namorados.
Meu Deus me mostrou o amor ao permitir que eu visse a grande magia e o
mundo abstrato diante de mim por meio das descobertas da física teórica.
Estas descobertas eram fantásticas e eu tinha o sentimento avassalador de
que elas faziam parte da excursão mágica e misteriosa a que chamamos
universo.
Eu não havia percebido que, ao ser amado por Deus, poderia ser visto como
estranho pelos meus colegas.
Depois, vi que tinha me "afastado" do mundo rotineiro e que a maioria dos
cientistas que busca respostas para os mistérios do universo, como eu, é
considerada bizarra.
Zombamos dos cientistas, os isolamos e os afastamos o máximo possível do
mundo comum.
Ninguém suspeitaria que o amor estimulasse os cientistas, mas é verdade.
Um dos fatos que levaram ao surgimento da ciência foi a necessidade de
lidar com o conflito nascido entre os sentimentos místicos que, creio, todo
cientista tem, e o desejo por uma explicação, que atribuo à mesma
necessidade de segurança que possuímos.
Queremos, de alguma forma, compreender o mundo.
Pode não ser do mesmo jeito em outras culturas, mas queremos ter uma
compreensão que nos permita lidar com as várias coisas prováveis e
improváveis que nos acontecem dia após dia no decorrer da vida.
A ciência representa a necessidade de explicar a natureza para nós mesmos
e, no meu entender, a necessidade de viver com alguma alegria no mundo;
sendo essa alegria o que chamamos de experiência mística ou espiritual.
Na mente e no coração de todo cientista, e acho que em todos nós, sempre
surge um conflito entre a necessidade de explicar e a necessidade de
vivenciar o amor do universo.

Do ponto de vista da nova alquimia, vemos esse conflito nos termos do


princípio da complementaridade, discutido anteriormente.
Ele reflete a batalha básica do espírito (aleph) com a matéria (yod).
Não acredito que algum cientista diga que a ciência explica tudo: com toda
certeza, não penso assim.
No entanto, de forma similar, nenhum cientista estaria disposto a aceitar a
visão mística do mundo como palavra final.
Em todos nós existe uma batalha contínua entre espírito e corpo.
Não importa como possa soar, mas o amor é o responsável por essa guerra,
com a chegada do tempo ao campo de batalha chamado universo.

Amor e incerteza: as bases da vida da nova alquimia


Se a vida nos ensinou algo, é que não temos como saber o que nos
aguarda, pois todas as situações da vida são novas.
Procuramos no passado as respostas para o presente, torcendo para que as
novas situações sejam as consequências inevitáveis das escolhas e dos
riscos que aceitamos correr.
Não podemos evitar ou impedir a escalada do risco e do carma que provêm
dos caminhos trilhados.
O risco e o carma são consequências inevitáveis porque o princípio da
incerteza de Heisenberg e o princípio da complementaridade de Bohr atuam
em nossas vidas cotidianas, transformando em desconhecido o conhecido e
ocultando o óbvio.
O sofrimento sempre aparece devido ao modo aparentemente secreto pelo
qual Deus opera.
Parece que Deus cria problemas, permitindo que as pessoas façam
escolhas.
Quando vemos um "problema" de uma forma, não conseguimos vê-lo de
outra.
Esse fracasso reforça para nós a ideia de que é um problema.
O outro lado do problema é apenas o reconhecimento de que, se alguém
está sofrendo, você está sofrendo, todos estamos sofrendo.
Se uma folha de grama é esmagada, dentro de você alguma coisa também
é esmagada. Reconhecer esta verdade nos ajuda a compreender que o
sofrimento é inevitável.
Libertar-se do sofrimento e de todos os padrões redundantes de auto
identificação não é fácil porque se trata de um sentimento de humilhação e
vergonha, trazendo em si a impotência que costumamos ver nos rostos das
pessoas muito velhas e muito novas.
Para nos libertarmos desse sofrimento, temos de reconhecer que ele foi
criado por nós.
Existe esperança se escolhermos ter esperança.
Somos os criadores deste universo, damos forma à sua matéria-prima em
nossas fantasias, o que chamamos realidade.
Atingimos esse estágio de compreensão do modo mais esquisito, ou seja,
pela industrialização e pela ciência ocidental.
Aprendemos a manipular o físico e descobrimos o espiritual.
Da próxima vez em que estiver sofrendo, tente fazer isto: torne-se naquilo
que odeia por um instante.
Faça isso em pensamentos e converse a respeito com amigos e familiares.
Oferecer a outra face e amar seu inimigo não é um ato de tola caridade.
É uma solução real.
Ao aceitar os defeitos dos outros como nossos, nos libertamos do
sofrimento.

Física quântica e sofrimento


A física quântica e a consciência humana estão intimamente ligadas, e a
base desta afirmativa está no papel do observador no ato da observação.
O observador não é passivo e desempenha uma função única que depende
do que ele acredita existir "lá fora".
(Quem procura ondas, achará ondas; quem procura partículas, achará
partículas.)
Assim, nós, humanos, temos um papel bem maior em nossos destinos do
que pensaríamos em princípio.
Na verdade, aparentemente somos governados pelas projeções do que é e
do que não é.
Vivemos segundo nosso juízo, projetando abstrações no mundo físico.
Todos temos dois motivos na vida: procurar prazer e evitar a dor.
A religião se apresenta como um meio pelo qual tentamos atingir esse
estado de bem-aventurança.
Se tomarmos como tautologia que a remoção do sofrimento e a busca do
prazer são uma religião, todos os humanos são religiosos.
Nesse sentido, também a nova alquimia é uma religião, ou se tornará uma,
por ser fonte de atração para a iluminação e para o mistério que, por
intuição, sentimos ser verdadeiros, oferecendo uma base sólida para a
compreensão do que é expresso pelo elemento espiritual ou mental.
A universalidade de todas as religiões é o reconhecimento de nossa ligação
com todos os seres vivos.
Essa ligação é feito uma corrente; quem a puxa cria um sentimento em
quem nela também estiver ligado.
Não nos resta opção se não sentir os elos de ligação criados pelas
interações físicas, mas os contínuos padrões repetitivos de egos separados
buscam mudar, criar e romper essas ligações.
Paramahansa Yogananda afirmou que a ausência da bem-aventurança, o
sofrimento, é provocada pelo processo de identificação com o corpo
transitório e a mente inquieta.
Na perspectiva da nova alquimia, os dois fluxos do tempo criam uma busca
sem fim pela felicidade, não sossegam, sendo alterados pelas sequências de
escolhas para servir o ser e que interrompem o estado de bem-
aventurança.
As sequências de retroalimentações biológicas ou de autorreferências
produzem eventos repetíveis, diretamente percebidos como não
ameaçadores e estimulantes à sobrevivência.
Essas operações foram herdadas de nossos antepassados répteis e
mamíferos, apresentando-se como desejos poderosos que, em nosso
presente estado evolucionário, não são mais necessários para sobrevivência
ou para evitar a dor.
De fato, hoje, seu efeito é o contrário, criando ameaças e propiciando os
meios que vão nos levar à extinção.
Um modo de concretizar o prazer se dá pelos insights da nova alquimia, que
nos dizem que a matéria não é a rainha do universo; ao contrário, é
escrava do amor.
Dessa maneira, a matéria se rebela e escapa. Ao perceber que a matéria
tem duração limitada, mas que as duas correntes do tempo não estão
vinculadas nem à matéria, nem à energia, nem ao espaço, nem ao tempo,
temos uma escolha de identificação.
Não é mais necessário identificar-se com o medo e a sobrevivência.
Se nos identificarmos com a alma, como descrito no capítulo anterior, todos
iremos nos libertar.
Você, num sentido muito realista, tem a todos nós na palma da mão.
Você é o libertador de todas as formas de vida inteligentes.

O bom senso sobre nosso universo incomum


Tenho muita fé na sensatez com que enxergo o mundo.
Aceito o lado bom e o lado ruim de se ter bom senso.
Antes de aprender isso, eu tentava ir além dessa visão buscando algo que
resolvesse meu problema inicial, mas que acabava prejudicando o resto.
Vou dar um exemplo.

Você namora alguém, mas acontece algo desagradável.


Para dar um jeito na situação, você oferece soluções ao que pressupõe que
será um problema no futuro.
Em resultado, cria-se um conflito que pode até acabar com o namoro.
Mas, se tivesse deixado seu bom senso guiá-lo, teria percebido que apenas
precisava abraçar seu parceiro.
Em outras palavras, não pense que tudo é um problema quando não há
problemas.
Aceite que o universo não é uma máquina, que não pode somente funcionar
com mecanismos de causa e efeito; os seres humanos não são máquinas.
Esse simples insight alargou minha compreensão e me fez entender as
coisas pelo bom senso e, também, de forma mais profunda.
Podemos descer aos níveis mais profundos do real significado das coisas e
reduzir nossa investigação ao nível da física quântica, de Deus e do Espírito.
Dessa maneira, vivemos numa terra linda e vivenciamos o amor; tudo sem
pensar.
Essa é a compreensão por meio do bom senso.
Vemos isso pela perspectiva da nova alquimia, segundo a qual existe uma
compreensão mais profunda - neste mundo, o amor em parceria é
construído em correspondência universal com o Espírito.
As pessoas com quem trabalho nos workshops e as que reagem aos meus
livros, trabalham comigo, de maneira intuitiva, nesse entendimento mais
profundo e comum.
Se digo que tenho uma crença firme em Deus, por exemplo, elas sabem
que não venho necessariamente de uma fé cega e superficial, mas sim de
uma crença mais profunda.
Quem seguir meus pensamentos até uma conclusão lógica, verá que existe
apenas uma Alma no universo, apenas uma Consciência capaz de fazer a
matéria surgir e desaparecer da realidade.
Se você tiver essa experiência é porque se identificou com essa percepção
única.
Não é porque você tem uma mente, porque fulano tem outra, porque
beltrano tem outra, mas porque você, fulano e beltrano são parte de uma
única mente.
Pode soar agradável e espiritual dizer que todos nós perfazemos uma única
mente, mas a física quântica indica que é verdade.
O fazer surgir e desaparecer é uma parte muito importante dela, indicando
que essa mente, a Mente Una, é em grande medida parte do mundo físico.

Maia, ilusão e mentes múltiplas?


Deixe-me tentar explicar o ponto de vista da Mente Una.
Se o mundo físico é maia (ilusão), o que é real?
Essa, sem dúvida, é a pergunta que deixa todo mundo meio maluco.
Entretanto, a realidade não é apenas o mundo físico; é a relação da mente
com o mundo físico que cria a percepção da realidade - não existe realidade
sem a sua percepção.
Se assumirmos que o mundo é o que parece ser, mesmo quando não
estamos olhando, evocamos uma premissa eivada de problemas.
A física quântica existe há mais de cem anos e consiste num conjunto de
regras universais bem definidas.
E o que ela prediz sobre o mundo não é o que mundo aparenta ser.
Ela prediz, entre outras coisas, estranhas sobreposições de realidades,
realidades paralelas e objetos que estão em dois ou mais lugares ao mesmo
tempo.
Em geral, não vemos o mundo assim, mas (como discutido no Capítulo 5)
pode haver várias exceções à regra.
De modo circular, as leis da física quântica afirmam que, enquanto ninguém
estiver olhando, o mundo obedecerá às leis da física quântica, ou seja, as
realidades múltiplas devem emergir em abundância.
Contudo, você pode pensar, como é que os objetos não aparecem em dois
lugares ao mesmo tempo e o mundo aparenta ser um só?
Este resultado, segundo nossa compreensão da mecânica quântica - de
modo geral, os paradoxos da física quântica podem ser resolvidos por meio
dessa compreensão -, surge sempre que ocorre uma observação.
Toda a multiplicidade do universo da física quântica brota em uma única
realidade, não em múltiplas.
Quando alguém olha, uma realidade se revela, enquanto as outras se
escondem.
E é isso o que a mente faz.
No entanto, e se existirem duas mentes no mundo?
Existe um antigo problema filosófico que é mais ou menos assim: você está
em uma sala olhando um jardim pela janela.
Você decide sair dessa sala, ir para outra, fechando cortinas e janelas, para
deixar tudo às escuras.
Em resultado, o que aconteceu ao jardim?
A resposta, segundo a física quântica, é que, se a sua mente foi a primeira
e a única, o jardim vai se transformar em jardins múltiplos no instante em
que você entrar na sala escura.
A maioria de nós acha complicado compreender isso; assim, irei modificar
um pouco a história.

Suponha existir outra pessoa ainda olhando e que continua a ver o jardim
único, enquanto você está na sala escura sem nada enxergar.
O que isso lhe diz?
Do ponto de vista do senso comum, uma pessoa vê a luz e a outra vê a
escuridão.
Sem problemas, já que, para o senso comum, existem duas pessoas com
mentes separadas.
Mas, do ponto de vista da física quântica, na sala escura, tanto aquela
pessoa quanto o jardim existem em vários mundos, já que você não está
olhando para nenhum deles.
Nesse sentido, nos deparamos com um paradoxo: do seu ponto de vista, o
mundo que não é visto, inclusive a pessoa na sala iluminada, são entidades
múltiplas, mas do ponto de vista do outro, a consciência agiu e um único
jardim foi visto.
Claramente não temos as duas coisas: ou os jardins são múltiplos ou não
são.
,Se não são, como afirma o senso comum, então a física quântica deve
estar incorreta, já que do seu ponto de vista não houve observação.
Mas, se a física quântica está correta, existem vários jardins.
E a pessoa na sala iluminada também existe em formatos múltiplos, já que
você não está olhando para ela.
Contudo, caso lhe perguntassem em que estado se achava, ela responderia
em estado perfeitamente normal, frênica (o contrário de esquizofrênica) e
lúcida como ninguém.
E assim nos deparamos com um paradoxo, segundo o qual o mundo segue
determinado conjunto de leis de acordo com o modo com que é visto, e que
o mundo relatado pelos outros entra em conflito com a sua compreensão do
mundo.
Esse paradoxo vai surgir sempre, desde que as mentes possam ser
categorizadas.
Se uma mente pode existir independentemente da sua, então você está
autorizado a considerar que sua operação siga as leis da física quântica.
E a outra mente, com a qual não se tem nenhuma intimidade, deve ser
esquizofrênica.
A única forma de deslindar o paradoxo é percebendo que uma única mente
pode ver a luz e o escuro ao mesmo tempo.
Assim que uma mente age transformando os diversos jardins em um só, ele
é registrado em todas as mentes.

Mas continuamos ainda com um problema sem solução.


Como pode uma consciência existir no que parecem ser duas partes, e
continuar sendo apenas uma única mente?
Mesmo que a mente pareça estar em dois lugares, não está.
Tudo que tiver consciência no mundo não pode estar apenas entre os seus
ouvidos, os meus e os de todo o mundo, mas precisa existir de forma não
local, estando em vários lugares.
E, ainda assim, como uma mente pode criar a ilusão de tantas mentes?

O que é a dualidade? Pode o um se separar do um?


Se você aceitar que existe apenas a Mente Una, então a experiência da
ilusão da separação do Um, de haver sua própria existência singular
aparentemente separada do Um, deve ser maia.
A partir desse ponto de vista, maia é baseada no conceito da dualidade.
Sem dualidade, não pode existir separação do Um.
Pode-se responder a esse paradoxo dizendo que a unidade é inconcebível,
inabordável, que sequer pode ser definida porque o simples ato da definição
distinguiria uma coisa da outra.
O ato de definir é, por sua própria natureza, dualidade ou separação. Já
exploramos a natureza dos números um e dois, um (unidade), simbolizado
pelo aleph, e dois, simbolizado pelo bayt.
O símbolo da unidade (aleph) é o grande e indivisível poder do Espírito.
O símbolo do bayt, ou dois, é uma casa ou recipiente representando a ação
que separa o interno do externo, ou que define um limite entre esquerda e
direta, em cima e embaixo ou qualquer outra distinção.

No baralho de tarô, a carta número dois costuma ser a do mago.


É a ação do mago - bayt, 2 - que traz à existência alguma coisa de outra
coisa.
Esse ato de trazer à existência alguma coisa de outra coisa, como por
magia, representa a dualidade.
O paradoxo está em reconhecer que, se virmos uma distinção, seguimos o
truque do mágico e nos enganamos.
Dessa maneira, existe algo dentro de nós capaz de ser enganado ao
vivenciar nossa unidade sagrada como dualidade, profana e, talvez, o jogo
da vida deva ser jogado assim.
A lei suprema da unidade da nova alquimia é formar a dualidade, e somente
nessa ilusão a unidade pode ser vivenciada.
Não podemos começar a conceber a unidade sem essa ilusão de dualidade.

Lembre-se que no tsadde vimos tudo espelhado quando abrimos as letras.


E que para cada dallet havia outro dallet.
Assim, para vivenciar o amor e a beleza do universo precisamos criar
espelhos.
Apenas nesses espelhos vemos a unidade.
Somente na grande multiplicidade da vida podemos ver o Um.

Vendo nos espelhos da mente


Na verdade, existe apenas uma Mente, e os pensamentos que temos,
mesmo que pareçam pessoais e estejam confinados em nossas cabeças,
são compartilhados em toda parte, por todo mundo, de alguma forma, em
algum instante.
Não precisa ser do mesmo modo que você está pensando agora, mas eles
são parte de uma consciência coletiva, como Carl Jung diria, ou da Mente
Una.
Acredito que a evolução também é parte da Mente Una.
Conforme a vida segue - do piscar de olhos de milhares de anos atrás
quando Buda e Yeshua [Jesus] caminharam neste planeta, até o presente
momento - um número enorme de movimentos tem ocorrido, tudo, desde a
primeira aparição de Maomé à revolução científica que vivemos hoje.
Há muitos anos, o renascimento científico começou como uma reação ao
misticismo que fervilhava na Europa, afetando tudo, da política dos reis à
saúde das pessoas que morriam em decorrência da peste negra.
Hoje, os mesmos conflitos ocorrem, significando que vivemos uma era de
estresse mental.
Com isso, quero dizer que existe um estresse em nossa inclinação espiritual
natural à Mente Una, resultante de conflitos gerados pelo secularismo
religioso e pelas discussões dentro da presente base materialista do
marxismo, do darwinismo e da corrente do materialismo científico.
É como se a mente fosse esticada como um filme de PVC pelas mãos do
tempo: estamos presos nessa distorção e ninguém consegue pensar com
calma em como sair dela.
Ao contrário, temos de achar o caminho em meio à distorção e ao estresse
que reverbera sempre que temos um novo insight sobre a natureza do que
é real e do que não é real.
Assim, o mundo parece, à vezes, ser um lugar muito escuro para habitar,
mas a luz da Mente Una sempre irá brilhar.
O brilho que atravessa o presente mágico nunca irá se apagar.
O simples fato de que o mundo existe é um milagre tão grande, tão
impossível de explicar, que deveríamos, reconhecendo e confiando nisso,
estar sempre boquiabertos numa alegria contínua, não importando o que
possa nos fazer falta no dia-a-dia.
O fato de existirmos materialmente não é um milagre menor, e pode muito
bem ser que o sofrimento comum que vemos em nossa volta, e que
sentimos dentro de nós, seja concomitante ao - ou resultado do - fato de
sermos espíritos vivendo num mundo material.
Somos simples reflexos de uma única mente em um espelho multi reflexivo.

Por: Fred Alan Wolf


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