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A Cabala e a Nova Alquimia - Introdução
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observação - o movimento do universo
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 1
A exemplo de Narciso, punido pela deusa Nêmesis por resistir aos apelos de
Eco, o espírito incrustado na matéria como self - significando a consciência
do corpo - resiste ao chamado do espírito.
Agindo dessa maneira, o espírito encarnado faz uma distinção básica: ao
reconhecer a si mesmo como matéria, fica extasiado, perdido na imagem de
si mesmo separado do espírito.
É uma ilusão poderosa.
Assim, todos nós, enquanto self, começamos o processo que durará toda
uma vida; um processo de distinção entre uma coisa e outra, por meio do
qual obtemos alegria e sofrimento.
A capacidade de realizar essa ação, de fazer discriminações objetivas,
constitui a inteligência científica e ela é necessária à sobrevivência material.
A diferença entre inteligência científica e inteligência espiritual reside nessa
capacidade de discernimento, e esses dois modos de experiência parecem
produzir uma complementaridade.
Explicando melhor: na física quântica, o princípio da complementaridade
menciona que o universo físico não pode ser conhecido de modo separado
do que o observador deseja observar.
Além disso, essas escolhas recaem sobre dois grupos distintos ou
complementares de pontos de observação, ditos observáveis.
Ao observar um desses pontos se exclui necessariamente a possibilidade da
observação simultânea do seu complemento.
Assim, por exemplo, a observação da localização e a observação do
movimento de uma partícula subatômica criam observáveis
complementares, de onde a observação de um cria a indeterminação ou a
incerteza do outro.
Dessa maneira, quanto mais objetivos formos em nossas observações, mais
dificuldade teremos em lidar com o espírito e mais atraídos seremos pelo
mundo material.
De modo oposto, quanto mais despertarmos para a espiritualidade, menos
iremos nos preocupar com a existência material.
É verdade que os cientistas dominaram a habilidade de encontrar partículas
de matéria autônomas com propriedades diferentes; no entanto, também
observaram que todo elétron se comporta exatamente do mesmo modo, e
que um átomo não apresenta qualquer diferença química de outro átomo de
mesmo número atômico.
Hidrogênio é hidrogênio, cobre é cobre, não importa por onde andem.
Esse princípio de identidade científica parece ser invariável no universo e
indica que a matéria apenas existe segundo leis estruturais básicas.
Sob este prisma, embora a matéria seja vista como partículas separadas, o
fato de serem partículas idênticas demonstra que esta separação é ilusória.
Os cientistas poderiam ter imaginado todo tipo de matéria, mas algo os
levou a encontrar uma base racional elementar para tudo que vivenciamos
como matéria, que acabou fazendo com que ela fosse percebida somente de
forma objetiva.
Mas, com o surgimento da física quântica, a ciência desnudou a natureza
subjetiva da realidade, descobrindo que tudo estava ligado e que tudo tinha
a mesma identidade, como se fosse espelhada, e, isso, no sentido da
construção de partículas idênticas, indicava a unidade de toda a matéria.
A ciência também mostrou que uma realidade mais profunda e não material
desempenhava um papel importante em determinar com qual objetividade
a matéria se comportava.
Entretanto, apesar da irrefutável prova da unidade material e do
reconhecimento dessa base mais profunda e não material, os cientistas,
com algumas notáveis exceções', ainda entendem como inquietante a
temática espiritual.
Desse modo, a batalha do espírito, com seu reflexo na matéria, prossegue.
E, juntos, matéria e espírito, fazem do mundo uma série de "ilhas"
separadas.
Toda ilha vê a si mesma e as outras ilhas como diferentes.
Assim, desde que nascemos, começamos a nos ver como seres isolados,
ilhas separadas, aparentemente à deriva, no vasto oceano da vida.
Neste capítulo, iremos explorar a natureza da "formação das ilhas" e a
maneira como surgem as ilhas individuais a que chamamos vidas
separadas.
Veremos como ter sentimentos - a instalação da mente no corpo - nos
oferece, por um lado, a experiência que chamamos vida e, por outro, cria
em todos nós um sentido de solidão e separação dos outros.
Iremos também aprender a ver, mesmo que vagamente, que todos
continuamos sendo um.
Podemos nos ver como ilhas, mas, na realidade, formamos um continente
de vida.
O ego freudiano
Freud entendia o ego como uma construção dentro da psique (ou alma) que
provinha de um constructo psíquico anterior a que chamou id.
Ele imaginava o id como o aparelho psíquico mais antigo, uma ideia nascida
de sua hipótese básica segundo a qual todo ser humano tem uma vida
mental interior que se expressa por meio de um aparelho psíquico.
Para Freud, esse aparelho tinha existência material, possuindo tanto
extensão espacial quanto temporal.
Freud nunca aludiu de onde o id provinha ou do que ele era feito.
Segundo ele, o id "contém tudo que é herdado, tudo que está presente no
nascimento e é formulado na constituição - mais importante, portanto, do
que os instintos, originários de uma organização somática e que encontram
aqui [no id] sua primeira expressão psíquica num formato desconhecido
para nós".
Em termos materialistas, Freud via o id e o ego desse modo: o ego é
proveniente do id porque este precisa fazer a interface com o mundo "real"
de estímulos e sensações.
A parte do id, chamada ego, passa por uma transformação especial.
A partir da superfície do córtex cerebral - ou seja, de uma camada cortical -
, origina-se uma organização especial que atua como zona intermediária
entre o id e os estímulos do mundo exterior.
O ego, em resultado da conexão preestabelecida entre a percepção dos
sentidos e a ação muscular, possui movimento voluntário ao seu comando.
O ego possui a tarefa da autopreservação, uma função que pode ser
realizada pela aceitação ou rejeição aos estímulos, pela memória, pela
adaptação e pelo aprendizado.
O ego opera dentro do id exercendo o controle sobre as demandas do id (os
instintos), escolhendo quais satisfazer, adiando a satisfação do id e
avaliando as tensões produzidas pelos estímulos.
Além disso, consegue diferenciar as tensões em termos do que é sentido
como dor (não-prazer) e prazer.
O sentimento de prazer existe como um padrão vibracional entre dois poios
de tensão, pontos de dor e prazer.
Um aumento do estresse é sentido como dor, e uma redução, como prazer.
Em sua teoria dos instintos, Freud defendeu que as tensões principais são
provenientes não dos pontos de dor e prazer, mas sim de dois instintos
básicos: amor e morte.
Devemos muito ao gênio de Freud.
Desde sua época, ego se tornou palavra importante no vocabulário
ocidental e assunto de muita reflexão para o homem racional.
Mas, hoje, entendemos que o ego se apresenta como uma interface entre
espírito e matéria.
A seguir, abordarei algumas das ideias mais recentes sobre o ego.
O Ego espiritual
Da Free John considera o ego freudiano um constructo devastador que
impede os seres humanos de realizar seu deus interior.
Ele afirma que todos nós vivemos em estresse egóico.
O ego, argumenta, é um processo de reação controlada às circunstâncias da
vida nos âmbitos físico, emocional e mental - a ação do ego é produzir
estresse.
E o estresse, explica, é fácil de ser criado, seja pela frustração da ação do
self, seja pelo medo de realizar a ação.
O estresse, portanto, é liberado quando a ação é concretizada ou quando
relaxa, dando vazão à frustração.
Para obter essa liberação, é preciso aprender a reconhecer quando a tensão
está num crescente, uma compreensão conquistada pelo autoconhecimento.
Parece fácil, mas poucos sabem quando estão ficando estressados.
Na verdade, notar que estamos tensos e, simultaneamente, sentir esse
estresse é como o velho truque de coçar a barriga e afagar a cabeça ao
mesmo tempo.
Um exemplo típico é quando uma pessoa lhe diz algo muito desagradável.
Você pode reagir ficando zangado ou se sentindo deprimido; e, embora
saiba o que está sentindo, em geral não tem conhecimento de que uma
tensão foi criada por essas sensações.
Em outras palavras, você sente, mas não sabe que sente.
Por exemplo, todos já vimos uma pessoa zangada negar o que está
sentindo.
Num primeiro momento, podemos pensar que a pessoa está mentindo.
"Ela deve saber que está zangada", dizemos, "então por que não conta a
verdade"?
Mas, do seu ponto de vista, você tem objetividade, algo que a pessoa
zangada não tem.
Não se esqueça: reconhecer um sentimento e o sentimento em si são coisas
complementares.
Saber que se tem um sentimento irá alterar esse sentimento.
Paramahansa Yogananda descreve o ego como sendo a causa básica do
dualismo - a aparente separação entre o homem e seu criador.
Segundo Yogananda, o ahankara (desejo) deixa os seres humanos sob o
governo de maia (ilusão cósmica), por meio da qual o sujeito (ego)
aparenta falsamente ser um objeto.
J. Krishnamurti sugere que nossos cérebros, quando examinados em
conjunto, são muito antigos.
Um cérebro humano não é um cérebro em particular; não pertence a
ninguém.
Ao contrário, o cérebro evoluiu no decorrer de milhões de anos.
Em consequência, existe padrão embutido para o sucesso e a sobrevivência
que permanecem até hoje, mas que podem ser obsoletos.
Um desses padrões é o ego e suas tendências.
A entidade espiritual desencarnada Seth, canalizada por Jane Roberts,
descreve o ego como especializado em expansões de espaço e
manipulações.
O ego se desenvolveu em ambientes tribais como uma especialização
necessária, permitindo que as informações dos sentidos fossem
diferenciadas emocionalmente ou não.
As tribos se formavam e seus membros eram considerados como
pertencentes ou não a ela.
A consciência tribal foi o primeiro ego grupal.
Mais tarde, conforme a consciência grupal se restringia devido ao aumento
da consciência individual movida pela adaptação evolucionária, a
consciência não foi capaz de lidar com o ego tribal e começou a ocorrer a
individuação.
O efeito do observador
De acordo com o efeito do observador, o ato da observação é sempre
acompanhado por um salto repentino e irreversível na coisa observada.
Quando a luz de um átomo chega ao olho e sua energia é medida, o átomo,
tendo anteriormente existido num estado atemporal de "sem energia" - ou,
simplificando, como uma superposição de todos os possíveis estados
energéticos com igual probabilidade -, de repente expele um estado
energético específico por meio da emissão do fóton luminoso.
Essa expulsão repentina origina-se de um salto quântico descontínuo entre
esses dois estados.
Nenhuma lei física determina qual energia específica será emitida; mas
permanece o fato de que nós, como observadores, de alguma forma,
determinamos isso.
Por exemplo, esses saltos quânticos podem ocorrer em formas diferentes e
complementares, dependendo dos meios como se pretende observá-los.
Constatamos, assim, como a lei da complementaridade da física quântica
opera para dar forma à nossa vida cotidiana, moldando os átomos com os
quais interagimos.
Na complementaridade da nova alquimia, todo pensamento compreende
uma ampla gama de sentimentos em potencial e todo sentimento
compreende uma ampla gama de pensamentos em potencial.
O estado energético de "sentindo-se bem", por exemplo, é composto por
estados de pensamento complementares como "eu me sinto bem" e "eu me
sinto péssimo".
Assim, quando começamos a questionar os sentimentos, ou seja, quando
passamos a examiná-los por meio do mecanismo do pensamento e não pelo
mecanismo complementar do sentimento, não sabemos com certeza se nos
sentimos bem ou não.
Exemplificando, quando se está fazendo amor e as sensações corporais se
transformam em sentimentos, quase nunca pensamos nisso e, nesse não
pensar, vivenciamos sentimentos sublimes; na verdade, essa é a essência
de fazer amor.
Porém, no instante em que se começa a pensar "queria que meu parceiro
fizesse isso" ou "queria ter sentido aquilo", as sensações continuam, mas os
sentimentos mudam por completo.
Considere este outro exemplo: imagine que você está ouvindo um orador
carismático.
Se a postura dele é "sensual" ou "entusiasmada", você pode ser "levado"
pelo discurso, mesmo que o tenha lido sem paixão, podendo até tê-lo
achado enfadonho.
Os sentimentos são estimulados pelo orador, o que diminui a capacidade
lógica de acompanhar o conteúdo do discurso.
Como diz o velho provérbio iídiche: "Quando o pênis acorda, o cérebro
adormece".
Foi por meio desses mecanismos complementares que ditadores chegaram
ao poder.
Pensar e sentir são complementares, como são sentir e intuir.
A intuição depende de sensações corporais e as complementa do mesmo
modo que os sentimentos dependem dos pensamentos.
O arrepio na nuca é a sensação provocada pela intuição de que alguém está
às suas costas ou de que algo pode ocorrer em breve.
Quando o "aparelho psíquico" escolhido é "pensante", os sentimentos são
alterados e, em geral, são indefiníveis.
Do mesmo modo, quando esse mecanismo é um "sentimento", os
pensamentos também mudam e, em geral, são indefiníveis.
Toda observação vem de escolhas tomadas em associação com sentimentos
indeterminados quando os pensamentos aparecem e, de modo inverso,
associados a pensamentos indeterminados quando os sentimentos
aparecem.
Desse modo, associada a toda observação, haverá uma observação
complementar.
O aparelho que faz a escolha ser implementada se encontra no interior do id
e é construído a partir dele.
Este é o ego, e é assim que ele é criado.
O modelo
O modelo que proponho aqui se aplica ao nível humano, sendo baseado no
efeito do observador sobre qualquer partícula, grupo de partículas, células
ou neurônios confinados, nos moldes da física quântica.
Considere um objeto, sem qualquer tipo de interação com outra coisa,
confinado a se movimentar em um espaço determinado.
Na física quântica, esse sistema é chamado "uma partícula numa caixa"
(veja a Figura 1.1 na página seguinte).
De acordo com a física quântica, a "partícula" não irá mais parecer uma
partícula; em vez disso, se espalhará e assumirá o formato de onda.
A partícula, por estar confinada, não consegue existir fora dos limites da
caixa.
Toda vez que alcança uma parede delimitadora, falando em termos da física
clássica, ela bate e volta ao âmbito da caixa fechada.
Na linguagem da nova física, a partícula dentro da caixa nunca possui uma
localização bem definida.
Segundo o princípio da incerteza', uma localização exata proveria a
partícula com uma enorme incerteza em momentun ou energia,
provavelmente resultando em sua fuga da caixa com uma energia
explosiva.
Em vez de se ocupar da posição exata que a partícula assume a cada
instante no tempo, a física quântica aborda a onda de probabilidade da
partícula que desaparece nas paredes da caixa (novamente, veja a Figura
1.1).
Isso significa que a probabilidade de localização da partícula na ou sobre a
parede é zero.
As paredes da caixa agem sobre a onda do mesmo modo que os dedos, as
cravelhas ou o braço atuam dedilhando uma corda de violão.
A cravelha mantém a corda presa, permitindo que produza apenas
determinadas notas.
De acordo com a física quântica, o objeto se comporta como uma corda
esticada.
Somente alguns estados energéticos podem ser experimentados pelo objeto
confinado, da mesma forma que somente algumas notas podem ser ouvidas
em determinada extensão da corda do violão.
Como resultado, devido aos limites, a energia do objeto apenas irá existir
em alguns estados, da mesma forma que os harmônicos existem numa
corda dedilhada.
Quando um violonista ou um violinista posicionam o dedo diminuindo a
porção vibratória da corda, o tom da vibração sobe.
Do mesmo modo, quando o trecho vibratório é aumentado, o tom abaixa.
O contrabaixo, por exemplo, emite um tom mais grave que o violino por ter
uma corda mais longa.
De modo semelhante, na física quântica, se os limites da caixa são
afastados, aumentando seu volume, a onda se espalha e produz uma
energia mais baixa (veja a Figura 1.2 na página seguinte).
Se as paredes da caixa são aproximadas, diminuindo seu volume, a onda se
contrai e produz uma energia mais alta (veja a Figura 1.3 abaixo).
Nos dois exemplos, já que a caixa tem limites menores, torna-se mais
complicado introduzir mudanças na energia (porque caixas contraídas são
mais estáveis que as expandidas).
Mas, de maneira análoga, isso também significa que é difícil mudar um ego
contraído por um meio energético, como a atividade física.
Em consequência, temos memórias remotas duradouras que moldam o ego
dando forma à pessoa que iremos nos tornar.
Se o ego puder se expandir, sua tendência será a de desorganizar o padrão
da memória, da mesma forma que uma caixa expandida desorganiza os
estados energéticos de uma caixa menor ao reduzir o tom.
A expansão do ego irá romper o padrão, tornando possível aprender
novamente quando ocorrer uma nova contração.
A tensão, ou sensação da força, surge quando acontecem expansões ou
contrações.
No exemplo da caixa, a tensão é uma força física sobre a partícula; na
analogia do ego, é a sensação de estresse crescente ou de seu alívio.
Na contração racional inexistem aumentos de tensão; de fato, não existe
nada para mostrar que ocorreu uma mudança.
O ego se forma sem ter conhecimento real de que ela aconteceu.
Na contração irracional, o ego tenta se modificar ou mudar por meio da
contração ou da expansão.
Lembre-se: não me refiro à inflação do ego no sentido junguiano, e sim à
expansão egoica no sentido físico de que a partícula tenta agora ocupar um
espaço maior do que ocupava anteriormente.
Dependendo do tamanho da contração, mudar a memória demanda
trabalho e gasto de energia.
O preço da contração egoica contínua é patente.
Manter um tamanho pequeno requer mais trabalho para que a estrutura
celular sofra as mudanças no sentimento que criam novas memórias,
raramente produzindo contrações racionais.
O normal é termos mais contrações irracionais simplesmente porque
existem mais possibilidades irracionais que racionais, o que explica as
dificuldades que todos temos na vida.
Ninguém escapa ou ingressa na vida sem sofrimento.
Contudo, não quer dizer que memórias agradáveis são impossíveis quando
passamos da idade madura à velhice.
Lembranças gratificantes podem ser obtidas ao se experimentar
sentimentos aprazíveis associados a elas.
Por exemplo, pode ser benéfico ouvir música enquanto se tenta resolver um
problema complicado ou se quer lembrar uma informação nova.
Se sinto que é preciso dar uma pausa nos meus escritos, por exemplo,
gosto de assistir a filmes antigos.
Sinto-me nostálgico sempre que os revejo, provavelmente porque estão
associados à sensação de empolgação que tive ao vê-los pela primeira vez,
muitos anos atrás, quando era adolescente ou um jovem adulto.
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 2
Do sonho à realidade
Quem quiser fazer uma torta de maçã partindo da estaca zero, primeiro
precisa criar o universo.
- Carl Sagan
A matéria sonha
Seguindo a ciência moderna, se acreditarmos que toda consciência se
origina da matéria, a matéria em si deve sonhar.
Sabemos que os sonhos ocorrem e quase todas as coisas sonham.
Assim, quando digo que a matéria sonha, estou apenas seguindo uma linha
lógica de pensamento baseada na filosofia materialista.
O argumento é o seguinte: O universo é feito de matéria que, interagindo
com matéria, cria todos os fenômenos físicos observáveis, inclusive a vida,
sua evolução e a mente.
Afinal, vida e consciência são fenômenos físicos que podem ser observados.
Qualquer coisa associada à vida deve estar ligada aos objetos materiais se
chocando - em interação.
Então, deve ser assim que o estado onírico e a percepção da consciência se
originam de matéria interagindo.
E, assim, chegamos à conclusão de que a matéria sonha ou que essa
deveria ser a conclusão lógica do ponto de vista materialista.
Essa visão, entretanto, não é a conclusão a que cheguei, pois creio que o
materialismo em si está incorreto como base para compreensão da ciência,
por ser reducionista demais.
E não dou tanta ênfase ao reducionismo como dou à base sob a qual este se
assenta - a de que a matéria é a base.
Como expliquei em A conexão entre mente e matéria, acredito que a
matéria deva ser uma qualidade secundária e que deve existir uma
qualidade mais primordial de onde ela se origina.
Do mesmo modo que deve existir uma ordem implicada, como o físico
David Bohm diria, a partir da qual a consciência e a percepção se originam,
também se poderia dizer que deve haver uma ordem, não diretamente
percebível, da qual se originam a matéria, o tempo e o espaço.
Nós sabemos - ou digamos que temos provas experimentais apontando
para isso - que houve um Big Bang, que o universo foi criado a partir de um
único ponto.
A teoria é baseada em duas ou três provas muito fortes, o que não significa
necessariamente que aconteceu dessa maneira, mas é nisso que
atualmente acreditamos tomando por base os indícios - que o universo
passou a existir do nada.
E não só o universo passou a existir: toda a matéria, o espaço e o tempo
também, simultaneamente, passaram a existir.
De acordo com a teoria da relatividade geral, a matéria não apareceu
simplesmente no espaço e tempo.
Seria impossível.
O espaço e o tempo tinham de aparecer de forma simultânea com a matéria
e a energia.
Assim, a matéria não pode ser o fundamento, e a filosofia materialista está
incorreta porque não considera o conceito básico do Big Bang.
É necessário haver alguma coisa mais fundamental do que a matéria em si.
Aqui apresentarei mais uma ideia que nos ajudará no próximo capítulo.
O que é a consciência?
Talvez a mais importante prova que temos da existência da matriz, da qual
todos nós parecemos provir, venha da atividade da mente - da consciência.
A consciência aparenta ser um processo em que um ambiente e um
observador desse ambiente são definidos de forma simultânea.
Essa ação, que pode prescindir do pensamento, mas que, todavia, parece
exigir algum tipo de percepção, causa uma divisão entre o sujeito e o objeto
- entre o "lá fora" e o "aqui dentro", ou entre o self e o não-self.
A consciência permite a cada um referir-se a si mesmo como uma entidade
individual, separada do mundo exterior.
Quando estamos despertos, depois que aprendemos a direcionar o fluxo de
consciência que borbulha dentro de nós, somos inundados por imagens,
sensações, eventos e possibilidades.
A consciência normal despertada perde contato com o processo e nós nem
nos damos ao trabalho de pensar nele.
Durante o sono e o sonho, sem qualquer interrupção significativa do meio
externo, nossos corpos nos preparam para o contato direto.
Parece que o sonho é o lugar em que aprendemos a ter consciência e a
separar o "lá fora" do "aqui dentro".
O sonho é laboratório da autocriação.
Nesse laboratório, uma entidade é definida por si mesma por um processo
autorreferente que se mostra absolutamente necessário para a existência
da consciência.
Em consequência, sonhamos para despertarmos para a contínua
experiência do nascimento da vida.
Se eu pertencesse a uma tribo, meu conceito de self iria diferir daquele que
teria caso fizesse parte, digamos, de uma unidade familiar fechada.
Meu comportamento, por sua vez, dependeria de como me vejo.
Assim, por exemplo, soldados em guerra se veem como parte de uma
unidade maior, e se comportam de modo muito distinto com quem é de fora
da unidade, em particular inimigos, do que se fossem camponeses
recebendo estranhos.
Assim, o modo como nos tornamos conscientes do mundo que nos cerca
depende em grande medida de como pensamos nossa individualidade em
relação ao ambiente.
Os sonhos são vitais para a formação do self, mas o conceito de self sempre
está mudando.
Ele não é necessariamente um "invólucro da pele".
Podemos exemplificar: o sonho do aborígene pode envolver um conceito de
self muito diferente do nosso.
Ao que tudo indica, os aborígenes têm uma consciência de si mesmos que
beira a telepatia, ou seja, eles parecem estar conscientes de situações das
quais no cotidiano nós não estaríamos, como saber que alguém do grupo,
longe dali, está com problemas.
Então, enquanto alguém, digamos, tem de telefonar para informar sobre
uma situação, os aborígenes supostamente têm um conhecimento
proveniente da intuição - lampejos de consciência -, que confirmam ao
voltar ao seio da tribo.
Nas décadas de 1970 e de 1980, Ullman, Stanley Krippner e diversos outros
conduziram pesquisas sobre telepatia e sonhos.
Eles chegaram a conclusões fundamentadas, que afirmam ser possível ter
estados telepáticos de consciência durante os sonhos.
Em outras palavras, uma pessoa desperta e outra que está sonhando
podem estabelecer uma comunicação telepática, o que indicaria ser o sonho
em si o lugar onde essa capacidade se desenvolveu.
Para uma tribo aborígene, era vital que essa consciência telepática se
desenvolvesse, enquanto que para nossa cultura não o é.
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 3
A onda do sentimento
Transformações objetivas
Em resumo, temos a seguinte tabela de transformações:
Transformar ar em água (mantendo a umidade constante) e vice-versa.
Transformar fogo em terra (mantendo a secura constante) e vice-versa.
Transformar água em terra (mantendo o frio constante) e vice-versa.
Mudar ar em fogo (mantendo o calor constante) e vice-versa.
Fogo e pensamento
Assim como o fogo foi percebido como uma combinação das sensações de
quentura e secura, o pensamento se projeta tanto como um processo
cerebral e corporal quanto com os objetos que vivenciamos no mundo.
Desse modo, o pensamento projeta as propriedades externas do tempo e
do espaço.
Assim, o tempo e o espaço são a medida do pensamento.
E qualquer tentativa de mensurar o pensamento envolverá algum tipo de
localização espacial (como, por exemplo, no cérebro ou na cabeça) e algum
reconhecimento do tempo (como quando lembramos um evento ou o
comparamos com um episódio anterior ou posterior).
Antes de qualquer coisa, efetivamente, o pensamento está ligado ao tempo
e ao espaço.
Terra e sensação
Do mesmo modo que a terra foi experienciada por meio de uma combinação
das sensações de frio e secura, a experiência interna da sensação se projeta
como processos que aparecem em nosso corpo - nosso senso comum dos
objetos que vivenciamos no mundo -, e como tendo uma propriedade
energética.
Por exemplo, algumas sensações parecem ser brandas, outras, fortes, e,
neste sentido, a sensação surge pela projeção das propriedades externas da
energia e do espaço.
E, por conseguinte, a energia e a localização espacial são a medida da
sensação.
Essa sensação no espaço é vivenciada por meio de sensações que
associamos ao local onde um objeto está localizado, como quando vemos
uma estrela ou ouvimos um carro se aproximando.
Sendo assim, qualquer tentativa de mensurar a sensação envolverá a
localização de algo no espaço.
Quando localizamos um objeto, o fazemos projetando sensações do "lá
fora" para o local onde acreditamos que ele exista.
Água e sentimento
Do mesmo modo que a água foi percebida como uma combinação das
sensações de frio e umidade, o sentimento se projeta como uma reação ao
movimento e à energia.
Temos sentimentos brandos ou fortes sobre as coisas e eventos que surgem
e também sentimos uma urgência nos sentimentos, uma propensão de
mover uma ou outra coisa em resultado desse sentimento.
Os sentimentos não estão "lá fora" no espaço e tempo, mas lançam
propriedades dinâmicas de movimento e energia em direção às coisas que
vemos "lá fora": quando vemos as coisas mudarem ou se moverem,
costumamos sentir.
Os sentimentos podem gerar sensações ou intuições, mas não
pensamentos, pois estes proveem dos sentimentos somente depois que
intuímos ou sentirmos alguma coisa.
O sentimento sempre possui uma propriedade energética.
Como sabemos, os sentimentos podem ser brandos, fortes ou
avassaladores.
Os cineastas, em particular, conhecem bem esse fato e o utilizam em seu
favor.
Uma vez, um conhecido professor de cinema me disse que um bom filme
"faz as pessoas sentirem".
Quando perguntei o que especificamente o público deveria sentir, ele
respondeu: "qualquer coisa".
Desse modo, o sentimento surge pela projeção das propriedades externas
da energia e do movimento.
Energia e movimento são a medida do sentimento.
Vivenciamos o sentimento como energia; na verdade, é por meio dos
sentimentos que ponderamos com que força iremos responder às situações
que se apresentam diante de nós.
E, assim, toda tentativa de mensurar o sentimento envolve alguma forma
de resposta energética ligada à força.
Também agimos segundo os sentimento.
Colocamos os eventos em movimento dependendo da energia do
sentimento.
Ar e intuição
Do mesmo modo que o ar foi percebido como sendo uma combinação das
sensações de quente e úmido, a intuição se projeta como uma propriedade
externa e interna.
Temos a tendência de ordenar as intuições por meio de expectativas, de
modo que quando uma intuição aparece, em geral temos um sentimento de
déjà vu.
Assim, a intuição projeta movimento no mundo e noção de tempo.
Tempo e movimento, então, são as medidas da intuição.
E toda tentativa de mensurar a intuição envolverá algum tipo de percepção
temporal, da mesma maneira como um evento é esperado.
A intuição nasce por meio do movimento, como quando vemos um objeto
se movendo e intuímos onde ele estará a seguir.
Usamos os olhos quando intuímos: observamos, por exemplo, um golfista e
intuímos onde a bola deve estar depois da tacada.
Nossa capacidade de acompanhar a bola depende dessa intuição que, por
sua vez, depende de nossa noção de tempo e movimento da bola.
Transformações subjetivas
Prosseguindo, examinarei os quatro ciclos da transformação subjetiva em
relação às transformações objetivas.
Transformações baseadas em ar/água... Mudança de intuição em
sentimento (o movimento é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em fogo/terra... Mudança de pensamento em
sensação (a posição é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em água/terra... Mudança de sentimento em
sensação (a energia é constante) e vice-versa.
Transformações baseadas em ar/fogo... Mudança de intuição em
pensamento (o tempo é constante) e vice-versa.
Por exemplo, num jogo de futebol, o armador intui qual jogador estará livre
na próxima jogada.
Ele vê em sua mente o que vai fazer e realiza uma sequência temporal,
sabendo em que direção lançar a bola e quando.
O armador faz tudo isso sem pensar, mesmo tento ciência do tempo.
Quando dá início à jogada, ele transforma a intuição de tempo-movimento
em sentimento de energia-movimento, tocando a bola quando sente que o
passe vai se concluir.
Dessa maneira, muda a percepção de tempo em percepção de energia.
O armador precisa fazer isso para que a ação se desenrole.
A bola tem peso e inércia; o movimento da perna requer que ele chute a
bola com determinada quantidade de força, e como resultado, energia.
E tudo isso é feito sem que um único pensamento aconteça - observe aqui a
constância do movimento e a mudança de tempo em energia.
Fato semelhante ocorre com jazzistas que energizam a intuição na hora de
tocar, dando um formato físico à intuição no instante em que externam a
energia tocando o instrumento.
Contudo, nenhum ciclo subjetivo pode ser completado sem que as quatro
propriedades mudem e seus complementos permaneçam fixos.
Na próxima seção iremos ver como essas propriedades se comportam
quando comparamos constantes e variáveis durante um ciclo.
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 4
Eu tenho um mapa existencial; "você está aqui" está escrito em todo ele.
- Steven Wright
Békésy também narra seus estudos experimentais sobre como a mente cria
a localização externa de sensações:
Acho a localização das sensações no espaço livre um recurso
comportamental muito importante.
Para estudar mais o assunto, coloquei dois aparelhos de surdez, preparados
para captar apenas sons de dois microfones no peito e transmiti-los aos
ouvidos sem mudança na amplitude da pressão.
A audição estereofônica foi bem estabelecida, mas a percepção de distância
do som se perdeu.
Não esquecerei minha frustração ao tentar atravessar a rua durante a hora
do rush usando esse sistema de transmissão.
Quase todos os carros apareciam surgir do nada na consciência, e eu não
conseguia ordená-los segundo onde estavam.
Como explicar o fenômeno da localização?
Talvez a explicação final resida no fato de o padrão vibratório da onda
quântica - de onde provém toda experiência - se manifestar interna e
externamente ao mesmo tempo.
O mundo da experiência parece o mundo visto num holograma - feito de
padrões de interferência de onda.
Mas antes de aprendermos o seu significado, precisamos saber como um
holograma é feito.
Como as ondas luminosas refletidas por um objeto são por ele afetadas,
trazem em si informações sobre o tamanho e o formato tridimensional da
coisa.
Esta informação é principalmente encontrada nas fases das ondas
refletidas.
Denomino as ondas refletidas de onda informativa, que também têm uma
forma matemática precisa e passarei a designar como [0I].
É lógico que nem toda onda de referência será refletida pelo objeto, pois
algumas o atravessam.
Se a [OI] e a [OR] fizessem seu percurso sem serem registradas num meio,
como a emulsão fotográfica, o holograma não poderia ser produzido e nada
seria visto.
Agora o truque.
A onda de referência [OR] e a onda informativa [OI] atingem ao mesmo
tempo o filme holográfico e afetam o material que o compõe.
Assim, as duas ondas atuam e como resultado a energia gravada surge da
soma das amplitudes das duas ondas.
Em outras palavras, a superposição de ondas, [OR] + [OI], grava a
emulsão com a energia resultante delas.
Mas não se esqueça: o holograma precisa gerar um reflexo de onda,
[OR]* + [OI]*, para gravar a energia.
Assim, a energia depositada no filme vem do produto de [OR]* + [OI]* e
de [OR] + [OI].
Lembrando a álgebra - (a+b).(c+d) = ac + ad + bc + bd - veremos a
criação de quatro termos.
O truque revelado
Como um segredo de magia, esses quatro termos estão presentes e
escondidos no holograma.
Mas estão disfarçados e, em conjunto, formam um padrão de interferência
bastante complexo, como o visto no holograma na Figura 4.3 abaixo.
Quando a [OR] passa por eles, o terceiro termo, constituído por três
fatores, [OR] [OR] [OI]*, dá a impres-são de gerar o reflexo de uma onda
informativa, [OI]* (logo falarei sobre isso).
O quarto termo, por ter os fatores [OI]*[OI], serve apenas para amortecer
a [OR].
Como o terceiro termo tem dois fatores [OR], a informação de sua fase de
referência não foi cancelada.
Se fosse possível cancelá-la, o terceiro termo criaria uma imagem real do
objeto.
O projetor concentra a luz que passa pelo fotograma filmado e recria a
imagem na tela.
Imagens reais sempre podem ser projetadas na tela; no entanto, as virtuais
sempre parecem vir de onde não estão.
Para gerar a imagem real, temos de enviar uma onda de referência
refletida, [OR]*, por meio do holograma.
Dessa maneira, o terceiro termo ficaria assim: [OR]*[OR] [OI]*, produzindo
uma onda [OI] * enfraquecida.
Essa onda apareceria como uma imagem na frente da tela, bem diante dos
olhos, por assim dizer, e essa imagem pode ter grande importância para
descrever o que vemos em sonhos lúcidos.
A memória enganadora
No que diz respeito à memória humana, nem sempre podemos saber qual
[0R] será usada, o que poderia explicar as confusões de memória.
Deixe-me explicar: com relação aos hologramas, quando uma nova onda
luminosa, [NO], atinge a mídia a ser gravada, pode nos induzir a ver
imagens que não existem.
Lembre-se de que a mídia de gravação atua como filtro, permitindo a
passagem de parte da luz.
Contudo, ao contrário da imagem fotográfica, que reflete uma imagem
gravada, é a interação da [NO] com o padrão da interferência gravada de
um holograma que é vista como imagem tridimensional.
São três dimensões porque a [No] é modificada pelo padrão de interferência
de onda gravado na emulsão e, dessa maneira, aparece como a onda
luminosa original emitida pelo próprio objeto (veja a Figura 4.3) ou,
possivelmente, por algo completamente diferente.
Quando a [NO] passa pela mídia, o padrão de ondas que chega ao olho
contém o segundo termo: [NO] [OR]*[OI].
Se a [NO] é a [OR] original, esse termo se transforma em [OR] [OR]* [OI];
a multiplicação da [OR]* com a [OR] elimina a informação da fase de
referência e não altera a [OI].
Assim, quando o olho vê esse termo, é levado a crer que está enxergando a
própria [OI], a onda informativa original do objeto.
Além disso, o olho é levado a crer que existe um objeto real "lá fora" no
fundo da mídia gravada.
É por isso que essa imagem é virtual.
Se toda sensação for gravada dessa forma no córtex cerebral, ela sempre
será a reconstrução de objetos no espaço e no tempo a partir de imagens
virtuais desses objetos gravadas no córtex.
Tudo que sentimos como "lá fora" é projetado do nosso "testemunho" da
imagem virtual gravada, o que explicaria os resultados de von Békésy e,
como a mente reconstrói imagens, propõe uma hipótese científica para a
base do antigo conhecimento budista e hindu, segundo o qual "tudo é mala"
(ilusão).
Não temos as sensações que temos, mas temos sensações do que
lembramos termos sentido.
E, agora, repita essa frase trocando "sensação" por "cheiro", "sabor",
"ouvir", "ver" - e até quem sabe "pensar".
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 5
A curva da vida
Talvez você conheça essa curva da escola, se recebeu a nota de uma prova
comparada à média da classe, ou quando sua seguradora, para determinar
a apólice, usou a tabela de mortalidade - a posição na curva supostamente
indica sua probabilidade de viver ou morrer, em conjunto com outros
fatores.
Diretores de beisebol usam essa curva para determinar a chance de um
rebatedor acertar a tacada em qualquer circunstância.
Jogando moedas
A curva da vida é dinâmica.
A cada alteração nas probabilidades, existe uma leve mudança na média, do
mesmo modo que a média de rebatidas se modifica um pouco quando um
jogador de beisebol entra para rebater, em especial no começo da
temporada.
Mais uma vez considere o simples exemplo de jogar moedas.
Vamos comparar as curvas de 16 e 32 lançamentos.
Na Figura 5.2, vemos duas curvas com formato de sino representando a
probabilidade de cair "cara" em dado número de lançamentos da moeda.
Como você sabe que realmente deu "cara" (se foi isso mesmo o que viu)?
Sabe por que conhece a imagem de uma "cara".
Se não soubesse a diferença entre "cara" e "coroa", teria de aprender a
diferença.
Para aprender, os neurõnios devem se envolver no aprendizado do
reconhecimento de padrões.
Ao repetir as tentativas, o padrão é reforçado e é somente pela capacidade
de reconhecer o padrão que o reforço acontece.
Não ter sucesso nisso leva ao erro.
Para aprender o padrão da diferença entre "cara" e "coroa", é preciso
alterar as probabilidades do acionamento dos neurõnios.
E a consciência entra em campo - sua função é simplesmente alterar a
probabilidade por meio do reconhecimento do padrão.
A alteração das probabilidades do acionamento neural produz a experiência
da normalidade.
E, realmente, a normalidade pode estar incorreta, mas os pensamentos
seguem os caminhos da normalidade, que começam por meio de interações
remotas com objetos distantes e relativamente separados do sistema
nervoso.
As interações remotas constituem o mundo externo.
Agora que já exploramos o surgimento da curva da vida com formato de
sino e vimos, de maneira resumida, como mudar o comportamento usando
a mente, é hora de dar mais um passo em nossa pesquisa.
A pergunta é: já que podemos nos adaptar e mudar, o que permite que
exista a diversificação necessária?
Em outras palavras, como surgem as diversas opções que temos?
De alguma maneira, todas as células contêm possibilidades, ativadas
quando passam da homeostase para a heterostase.
Onde estas possibilidades são encontradas?
E, se encontrarmos, onde são armazenadas como memórias?
Por que elas estão presentes se a célula não as usa?
E já que apenas passou a usá-las quando a célula começou a se adaptar,
como ela sabia ao que se adaptar?
A resposta pode ser surpreendente: a célula precisa descobrir o futuro e dar
a mão para ele através do tempo.
Essa capacidade de ver além, de usar a intuição (como explicado no
Capítulo 3), dá à vida as condições de buscar as consequências adaptáveis
da mudança.
E não termina aí.
A capacidade de realizar isso se apresenta na vida cotidiana por meio do
sexo.
Assim, como veremos no próximo capítulo, a criança escolhe os pais antes
de ser concebida.
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 6
É preciso ter cuidado quando não se sabe aonde se vai, porque você pode
não chegar lá.
- Yogi Berra
Existe uma enzima, um fóssil molecular por assim dizer, responsável pela
mais básica função de todas as células vivas - a oxidação intracelular (a
queima de comida na célula para produzir energia) -, e hoje ela realiza a
mesma função que executava quando a vida teve início.
Essa enzima, o Citocromo ‘c’, uma cadeia molecular de 104 aminoácidos,
evoluiu na mesma proporção que as espécies que a carregam, como indica
a genealogia de 500 milhões de anos, estabelecida por meio de descobertas
fósseis.
Todas as suas mutações podem ser combinadas com a aparência das
espécies que usavam a enzima.
Ao comparar as diferenças nas cadeias moleculares de Citocromo c, obtidas
em células de humanos, macacos, cachorros, coelhos, galinhas, sapos,
atuns, borboletas, mofo, levedura e trigo, Ditfurth, de maneira muito hábil,
mostra que as diferenças se encaixam com as descobertas fósseis dessas
espécies; cada espécie surgiu quando o Citocromo c sofreu uma mudança
na estrutura molecular - em outras palavras, deu um salto quântico
evolucionário.
Analisando como a mente veio ao mundo, Ditfurth afirma que "o cérebro
não produz a mente, a mente emerge na nossa consciência por meio deste
órgão do pensamento".
Ele conclui que a "evolução - supostamente tão hostil à religião - mostrou
que a realidade não termina onde a experiência se detém (...) a evolução
nos compele a reconhecer uma 'Transcendência Imanente' que ultrapassa
em muito nosso atual horizonte cognitivo".
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 7
O olho do universo
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte 8
Quem sabe que é Espírito, se torna Espírito, se torna tudo; nem deuses
nem homens podem impedi-lo...
Os deuses não gostam das pessoas que têm esse conhecimento...
Os deuses amam o obscuro e odeiam o óbvio.
- Upanishad Brihadaranyaka
Para poder perceber que sempre existe uma escolha, é preciso ter ciência
da resistência sempre que ela se forma no seu interior.
O sentimento de resistência é a percepção da escolha nascendo dentro de
você; é a percepção contínua da divisão complementar entre matéria e
espírito e do fato de sermos espíritos no mundo material.
A resistência também pode ser entendida como a divisão entre ser e tornar-
se, ou a divisão entre onda e partícula da física quântica.
Em geral, é o sinal da percepção avisando da existência de uma escolha,
envolvendo modos complementares de vivenciar qualquer coisa.
Quem escolhe o caminho "cheio de si" de ver, a partir do instante em que
essa escolha é feita, se torna um "conhecimento virando partícula", a
resistência se transforma em inércia - um objeto mental que se conecta a
um objeto físico "lá fora".
Quando acontece, o ser é vivenciado como algo separado do objeto
percebido.
Entretanto, quem escolhe ver pelo caminho do desapego, a partir do
instante em que a escolha é feita, se torna um coração virando onda, a
resistência se dissolve - o objeto mental não se conecta mais ao objeto
físico "lá fora".
Quando essa escolha é percebida, você vivencia seu intento se dissolvendo,
sem assumir qualquer forma, e o ser é vivenciado como sendo um único
com todos os objetos.
Na verdade, nenhum objeto parece separado de você.
Para alguns de nós, escolher o desapego aparenta ser complicado.
E é, devido às propriedades inerciais de todos os objetos mentais (como
discutido no Capítulo 4).
Um poder maior
O processo do princípio da complementaridade da escolha é universal,
sendo também possível pensar no universo operando dessa maneira.
Quando o universo escolhe ser, vê a si mesmo materialmente, tornando-se
consciente de uma resistência crescente chamada inércia material, que
corresponde à mesma resistência que experimentamos ao descobrir uma
nova ideia.
O universo pode e faz a escolha alternada e, quando temos consciência
espiritual, podemos sentir quando ela é assumida.
Ao realizar escolhas, ele ganha ciência de si mesmo.
Enquanto universo que escolheu o material, ele transforma informação em
matéria, criando objetos físicos, e transforma matéria em informação,
criando um universo mental que dá forma ao físico.
A resistência brota a cada transformação.
Assim é a ordem do processo transformacional.
Enquanto universo que optou pelo espiritual, ele se torna o que é conhecido
como ‘um-verso’.
Toda matéria do espaço-tempo permanece indiferenciada.
Esta é a Mente de Deus, na qual não há resistência e nada se transforma.
Nenhuma informação vira outra coisa porque nada é separado de nada.
Tudo apenas brilha.
Mas, pode-se argumentar: o mundo parece tão confuso, quase nunca brilha
dessa forma, sempre parece que algo está faltando.
O rompimento da ordem de Deus se mostra como o princípio da incerteza
da física quântica.
Assim, nos tornamos impotentes, nos sentimos inadequados e ansiamos por
uma ordem, a qual somos incapazes de criar no universo.
Tudo que podemos fazer é seguir em frente.
Mas nós somos realmente livres para escolher.
Nossa própria incapacidade de criar uma ordem perfeita nos permite criar.
Nossa incapacidade nos convida a nos rendermos e a reconhecer que a
imaginada ordem perfeita não pode existir no mundo material.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o princípio da incerteza é uma faca de
dois gumes: nos liberta do passado porque nada pode ser predeterminado,
e nos dá a liberdade de escolher como iremos encarar o universo.
Porém, não é possível prever os resultados das escolhas.
Podemos escolher, mas sem saber se teremos sucesso.
O formidável é que, ao escolher ver de modo espiritual, perdemos o
interesse pela previsão, nos tornando um com nossa alma.
Continua
A Cabala e a Nova Alquimia – Parte Final
Para criar um universo, (..) Parama Shiva põe em ação o aspecto de seu
Shakti que se manifesta como o princípio da negação, fazendo o Universo
ideal desaparecer do Seu campo de visão, permitindo a Si mesmo sentir o
desejo de um Universo; mas para este sentimento não haveria (..) a
necessidade de um Universo manifesto por quem está completo em Si
mesmo.
- Jagadish Chandra Chatterji
Yahweh e Amor
O tsadde, então, em sua evolução a partir do tayt - representando uma
estrutura celular fundamental - não apenas tem a ver com todas as
estruturas da existência: ele contém um segredo sempre mencionado nas
sagradas escrituras: o universo contém amor e Deus criou o universo a
partir dele.
O amor e a bela estrutura dele proveniente são vistos na formação
anatõmica do tsadde.
Essa estrutura provém do desdobrar de cada letra-símbolo contida na
pronúncia do tsadde, que contém um número infinito de dallets, vistos
como pares espelhados em todos os níveis (ver a Figura 9.1 na página
seguinte; nem todos os pares são exibidos).
Todos buscamos amor e parceria; talvez a força propulsora suprema em
nossas vidas e no universo.
Da perspectiva da nova alquimia, o amor surge a partir das estruturas, das
memórias imbuídas e dos dois contra fluxos das correntes temporais de
nossas vidas, descritas anteriormente.
De acordo com a estrutura espelhada encontrada no tsadde, o amor parece
querer uma parceria.
A palavra em hebraico para Terra é eretz, cuja grafia é aleph-raysh-tsadde
e literalmente quer dizer: espírito (aleph) cria o universo (raysh) em
estruturas (tsadde).
Assim, também a Terra foi criada a partir do amor e o tem em seu núcleo,
apesar das muitas visões científicas que excluem o amor da equação.
Aprender a ver e a expressar o amor é o propósito desta vida.
O argumento deste estudo é mostrar que tudo que é real possui o amor em
seu núcleo, que o universo foi construído a partir do amor e que o amor
está enredado em nossa capacidade de atenção e imaginação.
A física quântica e a Cabala, como expressas pela nova alquimia, podem
aparentar ser um exotismo extremo, mas, quem estiver pronto para aceitar
seu ponto de vista, poderá ver a natureza da consciência de outra maneira.
Com a ajuda da nova alquimia, as surpreendentes ideias adotadas há
milênios por tradições místicas podem acrescentar matizes a ideias e ações.
O princípio é colorir ideias e ações com o amor.
Suponha existir outra pessoa ainda olhando e que continua a ver o jardim
único, enquanto você está na sala escura sem nada enxergar.
O que isso lhe diz?
Do ponto de vista do senso comum, uma pessoa vê a luz e a outra vê a
escuridão.
Sem problemas, já que, para o senso comum, existem duas pessoas com
mentes separadas.
Mas, do ponto de vista da física quântica, na sala escura, tanto aquela
pessoa quanto o jardim existem em vários mundos, já que você não está
olhando para nenhum deles.
Nesse sentido, nos deparamos com um paradoxo: do seu ponto de vista, o
mundo que não é visto, inclusive a pessoa na sala iluminada, são entidades
múltiplas, mas do ponto de vista do outro, a consciência agiu e um único
jardim foi visto.
Claramente não temos as duas coisas: ou os jardins são múltiplos ou não
são.
,Se não são, como afirma o senso comum, então a física quântica deve
estar incorreta, já que do seu ponto de vista não houve observação.
Mas, se a física quântica está correta, existem vários jardins.
E a pessoa na sala iluminada também existe em formatos múltiplos, já que
você não está olhando para ela.
Contudo, caso lhe perguntassem em que estado se achava, ela responderia
em estado perfeitamente normal, frênica (o contrário de esquizofrênica) e
lúcida como ninguém.
E assim nos deparamos com um paradoxo, segundo o qual o mundo segue
determinado conjunto de leis de acordo com o modo com que é visto, e que
o mundo relatado pelos outros entra em conflito com a sua compreensão do
mundo.
Esse paradoxo vai surgir sempre, desde que as mentes possam ser
categorizadas.
Se uma mente pode existir independentemente da sua, então você está
autorizado a considerar que sua operação siga as leis da física quântica.
E a outra mente, com a qual não se tem nenhuma intimidade, deve ser
esquizofrênica.
A única forma de deslindar o paradoxo é percebendo que uma única mente
pode ver a luz e o escuro ao mesmo tempo.
Assim que uma mente age transformando os diversos jardins em um só, ele
é registrado em todas as mentes.