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CONTRATUALISMO E JUSNATURALISMO

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Adriana Duarte de Souza Carvalho da Silva

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SERÁ QUE SOMOS UMA PÁGINA EM BRANCO E ESTAMOS EM CONSTANTE
TRANSFORMAÇÃO? 
Os contratualistas não têm uma única resposta para isso, mas o importante é que os autores
estabelecem relações entre a forma como concebem a natureza humana e o regime político. 

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CONVITE AO ESTUDO

Você já parou para pensar no que aconteceria com a nossa sociedade se não

houvesse Estado, governos, leis e sanções para aqueles que não obedecem às leis?
Será que viveríamos em harmonia ou em constantes conflitos? Os seres humanos

são capazes de viver em paz sem que haja um governo definindo aquilo que é

proibido e punindo aqueles que não cumprem as leis? Essa é uma das mais

importantes questões que fundam o pensamento político moderno. Afinal, por

que o Estado foi criado? E como foi criado? Para que o Estado fosse possível, foi

preciso que as pessoas concordassem em abdicar de parte de sua liberdade para


obedecer às leis e viver uma vida em sociedade. Mas por que os indivíduos

concordaram em abrir mão de parte de sua liberdade para viver em sociedade?

Com o fim da Idade Média e o surgimento do Estado moderno, a filosofia política

continuou a refletir a partir do legado de Maquiavel, pensando o Estado e o


poder político de forma realista, tendo por base o que de fato é a ação política. E,

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para isso, os filósofos querem entender como surge esse modelo de Estado, por

que for criado e qual a sua finalidade. Já na contemporaneidade, com a completa


consolidação do Estado moderno em todo o globo, a reflexão não é mais entender

qual é a origem do Estado, mas sim como o Estado deve se relacionar com a

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sociedade civil. Nesse contexto, surgem discussões sobre modelos mais ou menos

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intervencionistas de governo e sobre qual é o papel do Estado em relação à

sociedade civil. Cabe ao Estado garantir apenas a liberdade por meio dos direitos
civis ou o Estado também deve garantir a igualdade por meio de direitos sociais?

E se a função do Estado é garantir a igualdade, isso é financeiramente possível?

Para responder essas questões, a primeira seção desta unidade vai discutir o
pensamento de três grandes filósofos políticos da modernidade, que são Thomas

Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, os quais refletiram e escreveram


obras sobre o contrato social, que teria dado origem ao Estado.

Já na segunda seção desta unidade, vamos conhecer duas visões bastante

antagônicas do Estado. A primeira é o liberalismo, que postula que não cabe ao


Estado a intervenção na economia, mas apenas garantir a propriedade privada e

a segurança pública. No lado oposto, temos também o socialismo, que defende


que ao Estado deveria caber a propriedade de todos os meios de produção e a
igualdade social absoluta.

Na terceira seção, vamos estudar que tais pensamentos acabaram esgotados pela
própria perspectiva histórica, que mostrou que, na prática, ambos entram em
colapso, e iremos entender o surgimento de duas novas visões de Estado: em

primeiro lugar, a social-democracia e, em segundo, o neoliberalismo.


Estudaremos que novamente a equação liberdade e igualdade acaba não sendo

resolvida, porque, enquanto a social-democracia defende um Estado mais


intervencionista, os neoliberais voltam a defender a não intervenção do Estado

na economia. Está curioso? Então vamos começar!

PRATICAR PARA APRENDER

A democracia brasileira é representativa, ou seja, a população vai às urnas votar


em seus representantes. Essa é a forma pela qual o contrato social foi

estabelecido em nosso país. O filósofo Rousseau (1996), por sua vez, pensou sobre

a construção de um contrato social que tivesse como base a soberania popular


direta, ou seja, um contrato pelo qual a população efetivamente tivesse voz e

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pudesse votar em todas as leis. Nesse modelo, não haveria intermediários, não

existiriam políticos eleitos que votassem em nome do povo. Para esse autor, essa
era a única forma justa e correta de democracia.

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Agora, será que podemos pensar no conceito de contrato social de Rousseau

(1996) para entender o sistema brasileiro de ensino e seus organismos

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regulatórios? Podemos, sim, especialmente a partir do conceito dos Conselhos

Municipais de Educação. Você já ouvir falar deles? Os conselhos de educação são

órgãos deliberativos e paritários, nos quais a sociedade local é chamada a decidir

sobre os rumos da escola. Eles são paritários porque fazem parte deles pessoas
do governo, da comunidade escolar e pessoas da sociedade interessadas nos

rumos da educação municipal. Veja a seguir a função dos conselhos conforme o

portal Todos Pela Educação (2019, [s.p.]):


Normatizar: elaborar as regras que adaptam para o município as determinações das leis federais e/ou estaduais e que as

complementem, quando necessário.


Deliberar: autorizar ou não o funcionamento das escolas públicas municipais e da rede privada de ensino. Legalizar cursos e
deliberar sobre o currículo da rede municipal de ensino.

Assessorar: responder aos questionamentos e dúvidas do poder público e da sociedade. As respostas do órgão são
consolidadas por meio de pareceres.
Fiscalizar: acompanhar a execução das políticas públicas e monitorar os resultados educacionais do sistema municipal.

Suponha agora que você seja eleito ou nomeado conselheiro no seu município,

como parte da comunidade escolar. Suponha que você esteja em uma reunião

para deliberar sobre o currículo da rede municipal de ensino. Agora, pense em


como construir um currículo para preparar o aluno para o exercício da

cidadania e em quais estratégias você proporia. Reflita sobre o conselho como

um espaço de construção de um contrato social entre o governo local e as escolas

do município. Nesse sentido, qual é o contrato social que você, como futuro
professor, pensa ser justo, inclusivo, sustentável e transformador para a

educação do seu município?

CONCEITO-CHAVE

CONTRATO SOCIAL 
A filosofia política moderna tem como principal conceito o contrato social, que é

o meio pelo qual os indivíduos fundam a sociedade civil, baseada no Estado

moderno. Trata-se de um contrato coletivo por meio do qual cada indivíduo


concorda em abdicar de parte de sua liberdade para obedecer às leis criadas

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pelos governantes, com o intuito de viver em harmonia e construir uma

sociedade coesa. Pare para pensar um momento na nossa sociedade hoje.

Convivemos diariamente com a violência urbana, com a poluição, acidentes de


trânsito, desastres naturais, enfim... um conjunto de situações que geram

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insegurança e incertezas para todos nós. Agora, imagine passar por tudo isso sem

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nenhum aparelho de Estado, ou seja, sem policiais, bombeiros, profissionais de
saúde pública, leis de trânsito... não seria ainda mais caótico? Não viveríamos

com ainda mais instabilidade? É essa a possibilidade de maior coesão social que

justifica o contrato. E, para esse contrato realmente funcionar, o importante é a

anuência de todos.

CONTRATUALISMO
Os autores contratualistas e jusnaturalistas marcaram a filosofia europeia,
especialmente na França e na Inglaterra entre os séculos XVI e XVIII. A filosofia

contratualista desenvolveu uma teoria sobre o surgimento do Estado moderno,

que se baseia no conceito de natureza humana. Vamos parar e pensar nesse


conceito? 

Os filósofos contratualistas se perguntavam: os seres humanos são naturalmente bons ou


ruins? Você já se perguntou isso? Será que nascemos bons ou ruins? Ou será que somos
uma página em branco e estamos em constante transformação?

Os contratualistas não têm uma única resposta para isso, mas o importante é que
os autores estabelecem relações entre a forma como concebem a natureza

humana e o regime político. Aqui vamos estudar três autores contratualistas:


Hobbes, Locke e Rousseau, cada um com uma perspectiva sobre a natureza

humana.

No entanto, há uma aproximação no pensamento dos três autores que é

importante que você compreenda. Os três criam a metáfora do estado de

natureza, período sem um poder central no qual os homens não teriam laços

familiares ou se organizariam em sociedade; nesse momento os homens seriam

movidos pelos seus desejos, fossem eles bons ou maus. Trata-se de uma metáfora
porque efetivamente não temos dados históricos sobre um momento em que o

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ser humano tenha vivido complemente sem leis e sem líderes. Contudo, os três

supõem esse momento como uma estratégia didática para compreender o

surgimento do Estado. 

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ASSIMILE

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Talvez você esteja se lembrando das suas aulas de história no Ensino

Médio e se perguntando: será que os homens do paleolítico, aqueles que

ficaram conhecidos como “os homens da caverna”, não viviam no estado

de natureza? E os povos pré-colombianos, ou seja, as tribos indígenas que

viviam na América antes da colonização europeia? Não viviam em estado


de natureza? É importante que você entenda que não, porque tais povos,

embora não tivessem o Estado da forma como o concebemos hoje,

também tinham estruturas de poder e inúmeras normas para seguir.

ESTADO DE NATUREZA

O estado de natureza é importante dentro do sistema conceitual contratualista e

jusnaturalista, pois é um momento em que os seres humanos viveriam em total

liberdade, sem um governo que impusesse regras. Mas é primordial entender

que se trata de uma abstração filosófica, pois não há registros históricos desse
momento. Tal abstração foi fundamental para que os filósofos políticos

pensassem em um evento – o contrato social – que fundasse o Estado moderno.

THOMAS HOBBES

Então vamos começar por Hobbes (1588-1679). Para esse autor, os homens, ao

nascer, são naturalmente maus e sem leis e governos, de modo que viveriam em

constante guerra entre si. Nessa perspectiva, Hobbes (2002) afirmava que apenas

um governo autoritário poderia controlá-los. Dessa forma, dentro do sistema


conceitual do autor, o Estado deveria ser como um monstro marinho, e é por isso

que, para ele, o poder político é comparado a um leviatã, um monstro bíblico

assustador. Além disso, Hobbes diz que a ausência do Estado levaria à guerra

civil.

O que funda o Estado é o medo da morte violenta, por isso as pessoas aceitam
o contrato social, abrindo mão do seu poder individual de decidir, para que o

Estado, esse leviatã, seja o centralizador das decisões. Hobbes propõe a

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metáfora de Estado como aquele que coloca uma espada sobre a cabeça das

pessoas, que aceitam assim viver para garantir a autopreservação.

Figura 4.1 | Metáfora hobbesiana

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Fonte: Shutterstock.

Veja, para Hobbes (2002) apenas um Estado absoluto poderia dominar uma
humanidade que é tão má por natureza. Sobre isso, ele explica: “Torna-se

manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum

capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a

que se chama guerra. Uma guerra que é de todos os homens contra todos os

homens” (HOBBES, 2002, p. 98). Por isso, esse autor era um defensor de governos

absolutistas e autoritários.

REFLITA

Ao longo da história da humanidade tivemos muitos governos autoritários

que não estavam comprometidos a garantir políticas de tolerância e

respeito. Os governos autoritários são aqueles que não podem ser


questionados e cujo poder está nas mãos de um só ou de poucos. Podemos

pensar, por exemplo, em monarquias europeias que apoiavam a

escravidão nas Américas colonizadas; podemos recordar o nazismo e o

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fascismo, além dos governos totalitários da URSS. Podemos também


pensar na dominação do mais forte, que ocorre em favelas que são

dominadas pelo tráfico ou em prisões que são dominadas por grupos

internos de prisioneiros. Nesses espaços, onde o Estado deixou de ser

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absoluto, prevalece o individualismo e a lei do mais forte.

Ver anotações
Hobbes (2002, p. 232) mostra que o governo absolutista protege seus súditos da

guerra de todos, contra todos, mas há sanções quando não seguem a vontade do

governante, conforme podemos verificar aqui: “Posto que todo poder soberano

originalmente é dado pelo consentimento de cada um dos súditos, a fim de que

por ele sejam protegidos, enquanto se mantiverem obedientes”.

JOHN LOCKE

Locke (1632-1704) é, assim como Hobbes, um autor contratualista inglês, mas, ao

contrário do primeiro autor, a favor da representação política, da separação dos

poderes e do liberalismo. Veja, não há, em Locke (2002), a percepção do ser

humano como naturalmente mau. Para esse autor, somos uma história a ser

escrita e somos como uma página em branco, nem maus, nem bons. Para ele

havia outra coisa importante sobre a natureza humana: a propriedade privada, o


verdadeiro objeto a ser avaliado para pensar o contrato social. Isto é muito

importante: o fundamento do Estado moderno em Locke (2002) é a propriedade

moderna e é para protegê-la que deveria existir o Estado. Veja, para o autor

inglês, o Estado não se justificaria porque todos os homens são naturalmente

maus, mas porque a propriedade privada precisa ser resguardada pelo poder

político. E note que é também por conta da propriedade privada que Locke (2002)

defende a ideia de representação política e de separação de poderes: um governo


totalitário poderia pegar para si toda propriedade, mas um Estado com mais de

um poder poderia impedir que isso acontecesse. O pensamento de Locke (2002)

marcou a história moderna, porque é esse argumento que está na base do

neoliberalismo presente hoje no planeta.

VOCABULÁRIO

Você já conhecia o conceito de separação dos poderes, que é tão

importante no pensamento de Locke (2002)? Este é um princípio da

democracia e do liberalismo político, e a ideia que o fundamenta é a de

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que sem a separação dos poderes, todo governo se tornaria arbitrário. Por

isso, ter poderes que se fiscalizem mutuamente é a garantia da liberdade

democrática. Por exemplo, você já ouvir falar do Ato Institucional número

5 (AI-5), que ocorreu durante a ditadura militar no Brasil? O AI-5

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determinou o fechamento do Congresso Nacional, endurecendo ainda

Ver anotações
mais o poder dos militares. Ao fechar o Congresso, ficou impedida a ação

do Legislativo, ampliando o poder do Executivo. É importante pensar que

mesmo em sociedades democráticas, com os três poderes definidos

constitucionalmente, estes estão em constantes lutas entre si, tentando

obter vantagens e favorecimentos, que é o que vemos quando o Executivo

propõe alterações que só serão aceitas se o Legislativo tiver alguma

vantagem, ou quando se pretende aprovar alguma lei que prejudica o


Judiciário e este paralisa as ações dos outros poderes até que seus

interesses sejam atendidos. Percebemos que isso é bastante prejudicial

para o bem coletivo.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU 

Rousseau (1712-1778), outro importante contratualista, descreve a natureza


humana como boa, mas facilmente corrompível pela vida em sociedade. Ele foi o

contratualista que mais se preocupou com a dimensão da igualdade no contexto


do contrato social, conforme podemos observar em Rousseau (1996, p. 41): “[...] o

pacto social estabelece tal igualdade entre os cidadãos que todos eles se
comprometem sob as mesmas condições e devem gozar dos mesmos direitos”. 

A percepção do estado de natureza do autor é diferente dos demais autores que


estudamos, porque ele postulou que, nesse momento, o homem viveria feliz,

movido pelos seus desejos mais naturais, sem estar em luta contra os demais e
vivendo em harmonia. Essa percepção também influencia sua construção sobre a

democracia, que veremos a seguir:

Rousseau (1996, p. 48) é um grande apoiador da democracia direta, aquela em que todos
os cidadãos são chamados a decidir juntos sobre os rumos do Estado e determina: “O
povo submetido às leis deve ser o autor delas; somente aos que se associam compete
regulamentar as condições da sociedade”. Justamente por isso é que se torna central na
sua obra o conceito de soberania popular.

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Rousseau (1996), portanto, manifestou-se contra o conceito de representação de

Locke (2002), pois postulava que a democracia representativa não garantia


realmente a soberania popular. Uma democracia que se baseasse em eleições

para representantes que tomariam as decisões pelo povo não era uma real

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democracia para ele, pois, nesse caso, o poder do povo seria usurpado pelos

Ver anotações
representantes. Além disso, opondo-se a Locke, Rousseau (1996) entendia que as
leis deveriam favorecer a todos e não somente uma minoria detentora da
propriedade.

Contudo, é importante pontuar que o autor reconhecia que a democracia direta

ou participativa só seria possível em pequenos estados, porque em grandes


estados dificilmente todos poderiam efetivamente votar em praça pública, como

queriam e defendiam também os autores gregos clássicos que já estudamos.

EXEMPLIFICANDO

Pare para pensar: você se lembra de algum exemplo de algum país que
tenha democracia direta na sociedade contemporânea? De fato, não há

nenhuma. Contudo, o Brasil é um país que garante a soberania popular,


conforme podemos ver no art. 1º da Constituição Federal:


Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como

fundamentos: I - a soberania [...]. (BRASIL, 1988, [s.p.])

Contudo, no Brasil, a soberania popular não é exercida em todos os

momentos, mas especialmente no período de eleições dos nossos


representantes. Você sabia que nossa Constituição Federal também traz

algumas instituições que nos permitem exercer a democracia direta em


alguns momentos decisivos para o país? Vamos conhecê-los?


Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e

secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;

III - iniciativa popular (BRASIL, 1988, [s.p.]).

Embora infelizmente sejam raras as situações em que ocorrem plebiscito


e referente, é fundamental que a sociedade civil se apodere da

possibilidade de criar projetos de lei de iniciativa popular, para que suas


demandas cheguem à esfera pública. 

JUSNATURALISMO

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Agora que entendemos o que é o contratualismo, vamos entender outro conceito


que também foi estudado pelos autores aqui apresentados, que é de direito

natural, dentro do sistema conceitual do jusnaturalismo. Vamos parar para


pensar nas mesmas perguntas que fizeram os contratualistas: será que só existe

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direito positivo, ou seja, esse direito que determina o certo e o errado nas

Ver anotações
sociedades contemporâneas na presença do Estado moderno? Há direito no
Estado de natureza? Há direito sem Estado moderno? 

O direito natural é aquele que existe pelo bom senso, pelo simples uso da razão. Veja,
ainda que uma sociedade não tenha Estado moderno, essa sociedade conseguiria
conviver com constantes homicídios, torturas, roubos e todo tipo de violência? Não há
sociedade possível sem direito natural, porque viveríamos em ampla violência. Portanto,
esse conceito veio justamente para instaurar um sistema de regras que tornasse a vida
possível.

Marayama (2009, p. 51), ao estudar o pensamento hobbesiano sobre o direito


natural, postula: “Em si mesmo, o direito natural não é dado real, coisa ou
substância, nem é essência, mas caracteriza-se como liberdade de usar o próprio

poder para a preservação da vida”. Você se lembra de que Hobbes (2002)


descrevia que, no estado de natureza, o ser humano viveria em constante

conflito? Com o uso dos postulados do direito natural, o ser humano preserva sua
própria vida, justamente porque o direito natural tem como princípio a

preservação da vida humana. Em última instância, permitiria a liberdade porque


os homens não viveriam em constante medo de serem assassinados.

Atualmente o direito positivado é o que tem validade dentro de cada


ordenamento jurídico democrático, ou seja, o direito posto na lei, escrito e

validado pelos parlamentos. Mas há, na estrutura dos chamados direitos


fundamentais ou direitos humanos, uma base que se estrutura nos direitos

naturais. Vamos entender melhor?

Você já ouviu falar da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada


pela ONU em 1948? Essa importante declaração foi feita para que os crimes
cometidos durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazistas nunca mais

voltassem a ocorrer na história humana. Você se lembra do que aconteceu nesse


período? Um genocídio prendeu, torturou e matou judeus na Alemanha,

simplesmente por um critério de raça. Assim, a Declaração foi feita pensando que

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todos os seres humanos têm direito à vida, da mesma forma como pensavam os
jusnaturalistas. Leia a seguir o primeiro parágrafo do preâmbulo da Declaração

Universal dos Direitos Humanos (1948, [s.p.]): “Considerando que o


reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e

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dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da

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justiça e da paz no mundo”.

Note que, assim como o direito natural era para todos os homens, o mesmo é
para a Declaração. Todos merecem uma vida digna, independentemente de

qualquer diferença racial, étnica, de gênero, de orientação sexual, de condição


física, etc. Dessa forma, reconhecemos que o pensamento jusnaturalista deixou

um importante legado para a contemporaneidade.

ASSIMILE

Embora, conforme explicamos no início, a ideia de um contrato social seja


uma metáfora, a democracia tem um importante instrumento de justiça

que se reporte à ideia de contrato. Você sabe qual é? Trata-se da


Constituição Federal, que tem como objetivo criar um pacto entre governo

e sociedade, de forma que seu cumprimento é obrigatório para ambas as


partes, governo e povo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta seção você conheceu os principais conceitos trabalhados por três autores
contratualistas e jusnaturalistas, cujos pensamentos influenciam até hoje a

ciência política. No quadro a seguir, apresentamos um breve resumo do que cada


um deles pensou sobre a natureza humana e sobre o Estado moderno:

Quadro 4.1 | O pensamento contraturalista

HOBBES LOCKE ROUSSEAU

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HOBBES LOCKE ROUSSEAU

O homem é O homem é uma O homem é naturalmente

naturalmente "página" em branco. bom.

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mau.
Defendia o Defendia a democracia

Ver anotações
Defendia um liberalismo político direta, baseada na soberania
governo representativo. popular.

autoritário.

Fonte: elaborado pela autora.

Lembre-se: o fundamental para entender o Estado moderno a partir da

perspectiva do contratualismo é compreender que o Estado só é legítimo se nasce


a partir da vontade de todos, porque a existência do Estado requer de nós,

cidadãos, a obediência a leis, que devem trazer justiça social, garantia de certa
liberdade (desde que dentro da lei) e busca por maior igualdade social.

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em:
https://bit.ly/2DE5fTS. Acesso em: 24 dez. 2019.

HOBBES, T. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil.

São Paulo: Martin Claret, 2002.

LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Martin Claret, 2002.

MARUYAMA, N. Liberdade, lei natural e direito natural em Hobbes: limiar do


direito e da política na modernidade. Trans/Form/Ação, Marília, v. 32, n. 2, p. 45-
62, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3h7ouTv. Aceso: 24 dez. 2019. 

ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. United Nations Human Rights

– office of the high commissioner. 1948. Disponível em:  https://bit.ly/3hamObZ.


Acesso em: 26 dez. 2019.

SANTOS, C. A. P. de S. et al. Conhecimento, atitude e prática dos vacinadores sobre

vacinação infantil em Teresina - PI, 2015. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 26, n.
1, p. 133-140, mar. 2017. Disponível em: https://bit.ly/33cGozv. Acesso em: 29 jan.
2020.

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RIBEIRO, Lucas Mello Carvalho. Contrato social e direito natural em Jean-Jacques


Rousseau. Kriterion, Belo Horizonte, v. 58, n. 136, p. 125-138, 2017. Disponível

em: https://bit.ly/3jYsEPy. Acesso em: 26 dez. 2019. 

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ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Ver anotações
TODOS PELA EDUCAÇÃO. Perguntas e respostas: o que são e como funcionam os

Conselhos Municipais de Educação, 19 fev. 2018. Disponível


em: https://bit.ly/2ZeFQrl. Acesso em: 20 dez. 2019.

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