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CONVERSANDO SOBRE AS NOVAS TECNOLOGIAS

NA EDUCAÇÃO
Este texto foi copiado e adaptado da página do PROJETO TECLEC
(http://teleduc@penta.ufrgs.br/edu/telelab/teclec/port1.htm)

O DESASSOSSEGO

As práticas tradicionais de conviver, trabalhar, educar e, mesmo, de pensar e de conhecer têm


sofrido abalos e transformações com o advento das novas tecnologias de comunicação e
informação. Instituições sociais, dentre elas a escola, recebem, cotidianamente, o impacto de um
bombardeio de informações provindas de diferentes meios. As novas possibilidades de acesso à
informação questionam, principalmente, a base oralista e unidirecional da comunicação (do
professor ao aluno; do livro didático ao aluno) nas quais a escola sustenta sua prática pedagógica.
Segundo Guattari (1993), se de um lado, as transformações técnico-científicas contêm
potencialidades de criação e de concretização de novas e diferentes formas de educar e de pensar;
de outro, as possibilidades sociais e subjetivas de criação das mesmas encontram-se ainda em
estado de devir. Existe uma defasagem entre o avanço tecnológico e a criatividade social e
individual de apropriação significativa e não somente adaptativa dos recursos disponíveis.

QUESTÕES
1. Segundo sua experiência, o que os professores pensam e sentem frente as novas tecnologias?
2. Você pode dar seu depoimento sobre o impacto das novas tecnologias nas práticas
educativas?
3. Você concorda com Guattari quando aponta uma defasagem entre o avanço tecnológico e o
avanço das possibilidades sociais e subjetivas?
4. Pesquise quem foi Félix Guattari e qual a sua contribuição na área da Educação.

UM CERTO MAL ESTAR


Agora o convite que lhe fazemos é pensar um pouco mais nos efeitos das transformações
tecnológicas no cotidiano da vida escolar. Pode ser interessante destacar alguns pedidos feitos à
psicologia por parte das escolas, já que são reveladores da tensão e, porque não dizer, de um certo
mal estar na escola. Como professora da área de psicologia escolar e trabalhando no curso de
licenciatura em psicologia o contato com escolas públicas de 1º e de 2º graus é intenso, o que me
possibilita agrupar as demandas à psicologia em dois grandes temas: o primeiro diz respeito ao
problema do conhecimento e da sua significação social. Os professores têm se perguntado se o que
ensinam pode ser significativo para seus alunos viverem nessa sociedade em transformação;
indagam sobre a viabilidade de suas práticas; sobre o que chamam de "concorrência" com as
tecnologias. O segundo tema abrange questões relativas às rupturas dos laços sociais e interativos
no cotidiano escolar, evidenciado na questão da violência que permeia as relações entre os sujeitos
escolares, no desreconhecimento/estranhamento entre professores e alunos e na desmotivação de
aprender e de ensinar.

QUESTÕES
1. Você poderia descrever quais os principais problemas que causam mal estar entre os
professores e alunos?
2. Seria possível relacionar alguns dos sintomas escolares, tais como o desinteresse dos alunos,
o desânimo dos professores e a dificuldade das interações professor/aluno com o impacto
das novas tecnologias na sociedade?
CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO
Conhecimento e informação são sinônimos? Vamos partir da idéia de que conhecimento e
informação são diferentes. A informação está relacionada com a marca significante. Constitui-se
dos dados, dos fatos. É composta de unidades designadas sob a forma de bits. A informação não
tem em si uma estrutura, é potencial. Já o conhecimento é a própria capacidade de integração, de
combinação das informações. O conhecimento organiza, operando sobre as informações. O
conhecimento concebido como relação, ou produto da relação é atividade e não faculdade. Não é
um objeto que se possua ou não. É ação, exercício, movimento. Edgar Morin (op.cit.) nos diz que o
pensamento mutilante, o pensamento que se engana, ocorre não porque não tem informação
suficiente mas porque não é capaz de ordenar as informações e os saberes.

Pensando nessa diferenciação, a escola e o professor não seriam os divulgadores das informações, já
que para isso dispomos de outros meios com eficiência superior. Teriam sim a função de possibilitar
o conhecimento. A escola da informação, da memorização deveria dar lugar à escola do
conhecimento. Não existiria a necessidade de competição com os novos recursos da informação,
mas sim a descoberta, a construção de modos criativos de conhecimento usando as múltiplas e
variadas modalidades de informação já disponíveis. Deveríamos ter a possibilidade de fazer uma
inversão necessária, proposta por Papert (1995): ao invés de perguntar o que o avanço tecnológico
fará conosco, deveríamos nos propor a pesquisar o que faremos com o avanço tecnológico.

QUESTÕES
1. A escola que você freqüentou enfatizava mais a informação ou o conhecimento?
2. Estaria a escola da informação com seus dias contados?
3. Como seria possível transformar a escola da informação na escola do conhecimento?

AS TECNOLOGIAS E O CONHECIMENTO
Como as tecnologias participam da construção do conhecimento? Seriam elas ferramentas com que
contamos para organizar as informações? Se tomarmos a hipótese teórica de Piaget (1982), o
primeiro organizador de informações é a ação, a própria atividade. Desde o início da vida do bebê
sua atividade sensório-motora organiza o espaço dos objetos, conferindo sentido às diversas
estimulações provenientes do meio. Não nascemos com faculdades mentais com qualidades e
conteúdos específicos, mas com a capacidade de aprender e de descentrar.
Mas gostaria de falar de outros instrumentos que poderíamos chamar de ferramentas do
pensamento. Quero discutir o papel da tecnologia como uma ferramenta do conhecimento.
As tecnologias podem ser pensadas como tecnologias da inteligência (Lévy, 1993). Elas se
articulariam com nosso sistema cognitivo de tal forma que não conseguiriamos pensar sem seu
auxílio. De acordo com o autor citado, as tecnologias se transformam em tecnologias da
inteligência, ao se constituirem em ferramentas que auxiliam e configuram o pensamento, tendo
nele, portanto, um papel constitutivo. Ao mesmo tempo, tornam-se metáforas, servindo como
instrumentos do raciocínio, que ampliam e transformam as maneiras precedentes de pensar. As
tecnologias interagem com o sistema cognitivo principalmente sob duas formas: (a) transformam a
configuração da rede social de significação, cimentando novos agenciamentos, possibilitando novas
pautas interativas de representação e de leitura do mundo; (b) permitem construções novas,
constituindo-se em fonte de metáforas e analogias.
A palavra oral, a escrita, a cibernética, a informática são exemplos de tecnologias intelectuais: são
práticas sociais, na medida em que criam signos, possibilitam ou limitam modos de expressão e
intercâmbio, pautam as interações, constróem universos de sentido. Cada nova tecnologia constrói
um mundo de novas relações sígnicas, cada sistema semiótico abre novos caminhos para o
pensamento, um mundo, não só concreto, mas também mental, conceitual.
Um projeto de apropriação crítico e criativo das tecnologias nas relações de aprendizagem tomaria
as tecnologias como potencializadoras da atividade cognitiva. No prólogo de seu livro "Logo:
computadores e educação", Seymour Papert (1985) relata um exemplo de como a tecnologia pode
funcionar como uma metáfora do pensamento. Ele confessa sua paixão infantil por engrenagens.
Escreve que passava bons momentos manipulando e testando efeitos ocasionados pelo engate de
diferentes engrenagens. Segundo o autor, sua curiosidade e a decorrente atividade com as
engrenagens propiciaram-lhe a construção de um modelo mental que lhe permitiu compreender
muitas idéias, principalmente os algoritmos matemáticos que, de outra forma, lhe teriam sido
abstratos. O próprio autor comenta que "Lentamente comecei a formular o que ainda considero o
fato fundamental da aprendizagem: qualquer coisa é fácil se é possível assimilá-la à própria
coleção de modelos (ib., p. 12)." Daí sua conclusão de que os ambientes de aprendizagem deveriam
ser pródigos no oferecimento de modelos para se pensar. Os modelos e as tecnologias potencializam
a cognição e funcionam, em certa medida, como "objetos para se pensar com", ou como "próteses
mentais" (Battro, 1986; Lecocq, 1988).

QUESTÕES
1. As tecnologias também são formas de organizar a informação?
2. O que você entende por "tecnologias da mente"?
3. De que forma os modos de organizar as informações, propostos por algumas tecnologias
ajudariam a explorar o conhecimento? Dê um exemplo.

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