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A TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO

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A ideia de “Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é caracterizada


simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras, baseada em manipulações de datas.

Para ver o vídeo da “Transferência de Geração” no youtube, clique AQUI.

O argumento utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que existe uma promessa em
Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que uma geração dura em torno de 40 anos. Além disso,
afirmam que um país só é considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil só
ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até meados dos anos 1980. Os defensores
deste pensamento afirmam especificamente o ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por
promulgar um santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos os moradores da
terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14).

O primeiro problema com o argumento utilizado é para quem foi destinada a promessa de Joel 1:3. Para
quem o Texto está falando?

O contexto do livro de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla praga, de locustas [3] e seca.
Então, a promessa de Joel é de que se o povo de Israel voltar à adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será
restaurada, tanto da praga dos gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às pragas derramadas
sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de Joel. Dessa forma, se o fundamento para a
transferência de Gerações, praticada pelo Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando
publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel.

O profeta Joel alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por isso, precisava ser
relembrada às gerações futuras para que estas gerações entendessem que ela era a representação de um
juízo ainda maior no porvir. Se esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto,
o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de Deus, que não tem
nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações.
O segundo problema com o argumento utilizado é que não há nenhuma evidência bíblica de que uma geração
dure 40 anos, como essas pessoas desejam.

Orlando Boyer afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998, p.292) [4], e Werner
Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a “sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos,
netos, bisnetos, trinetos, tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram que geração pode ser
o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem).

Então, o texto bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações, em que temos um tempo
médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média 71 anos. Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da
nossa vida chegam a setenta anos”, que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração dura em
média 70 anos.

Com isso, não há nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem os defensores dos Atos
Proféticos e da Transferência de Geração.

O terceiro problema com o argumento utilizado é afirmar que um país só é considerado como tal após a sua
independência.
Mas a promessa de Joel não tem nenhuma relação com a formação de um país, especialmente porque o Israel
étnico sempre existiu como nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo quando não tinha um
território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo só passou a ser reconhecido como um país em 1948,
quando foi fundado o Estado Moderno de Israel.

O quarto problema com o argumento utilizado é tentar fazer uma correlação entre esta profecia e o Brasil.

Não existe nada no texto, absolutamente nada, que dê chance para isso. Dessa forma, podemos ver claramente
como esses grupos distorcem a Bíblia deliberadamente e como fazem isso contando sempre com a falta de
conhecimento, falta de discernimento e falta de entendimento do povo. Esse é um claro exemplo de como a
Bíblia tem sido tratada com desprezo e descaso por esses grupos.

Para piorar a situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios 3:4-6 para fundamentar a
prática de Transferência de Geração. Vejamos os textos:

Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do
SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá. (1Sm 16:13)

E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de
pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos
habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o
espírito vivifica. (2Co 3:4-6)

O texto de 1Sm 16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela primeira vez. Esse
texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não pode ser visto como algo que se repete nos dias de
hoje, especialmente porque o texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele.
Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da conversão. Por isso que o
apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz mais, pois
“não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido
com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e nem para a Sua descida. Muito
menos que é sinal da aprovação Divina.

O que vemos com isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em outro contexto, dentro de
outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um texto que é descritivo e que é manipulado para parecer uma
ordem direta ou orientação Divina para sua repetição na atualidade.

O texto de 2 Coríntios 3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado por muitas pessoas. Essa
passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo membro é um sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na
antiga Aliança havia um grupo exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e sacerdote,
como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é um ministro da Nova Aliança, e esta
Aliança não é da letra, ou seja, não é igual àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata
(3:6). Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em pedras (3:7), isto é, a Lei que foi dada à
Moisés. Esta letra que mata, portanto, não tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do
Antigo Testamento.

Nesse sentido, Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele passou a usar um véu sobre
a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de
Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje, quando
fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido”
(3:14). Por isso, não precisamos de certos artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como
“ministério da condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o ministério da
justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício
utilizado por ele para que o povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso desse
tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o povo, um artifício, para que este pense que
a glória de Deus está presente ali, naquele “rosto”.

Por isso, não precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas.

Por isso, podemos ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura, a exemplo da utilização de
2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”.

Bem, a liberdade quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a verdade do Evangelho (1Pe
2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse não tem sido o caso desses grupos só podemos concluir,
biblicamente, que essa liberdade que têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto bíblico
utilizado não fundamenta as suas práticas.

Por último, só para entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma distorção e como tem sido
utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René Terranova diz sobre a relação que existe entre Ato Profético,
mapeamento de genealogia e maldição hereditária:

A Bíblia relata que os judeus davam muita importância à genealogia, ao conhecimento de suas origens. Os judeus
ortodoxos têm o costume de registrar a genealogia de suas famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa
história é muito mal formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito menos do nosso povo e nem
sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos nomes de Jesus é Raiz de Davi, porque no contexto
messiânico se Jesus não fosse a Raiz de Davi, não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos tentar
uma conquista de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser empecilho por não termos respaldo
local ou não termos um nome de família honrado. Deus pode mudar esse quadro restaurando a nossa genealogia
com um ato profético de quebra de maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir quem foram seus
familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando resgatamos a nossa história genealógica conhecendo
nossas origens, fica mais fácil quebrar maldições hereditárias [6].

Contudo, Colin Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma heresia, e que já era
praticada por grupos anticristãos a exemplo do gnosticismo, ebionismo e pelos defensores dos misticismos
judaicos:

Genealogia ocorre no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de pesquisar a árvore
genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam
somente podem ter sido judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando todos os
tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações gnósticas pré-cristãs. É também possível que
os ebionitas empregassem argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de Jesus
que circulava na igreja cristã [7].

Portanto, a única coisa que podemos perceber com tudo isso é que estamos simplesmente presenciando o
surgimento de heresia em cima de heresia e que não há nada novo debaixo do sol (Ec 1:9).

NOTAS

Extraído do site: NAPEC – Apologética cristã

[1] Atos proféticos na Igreja – comandos do Espírito Santo. Disponível em:


<http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=9>. Acesso em: 24 abr 2014.

[2] O que é um ATO PROFÉTICO?. Disponível em: <http://reavivamentoeuropa.wordpress.com/o-que-e-um-


ato-profetico/>. Acesso em: 24 abr 2014.
[3] Locusta é uma espécie de gafanhoto.

[4] BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo: Vida, 1998.

[5] KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

[6] Atos proféticos na Igreja – comandos do Espírito Santo. Disponível em:


<http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=9>. Acesso em: 24 abr 2014.

[7] LOTHAR, Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
2000. p.855

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