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UNIDADE I

Fundamentos
do Concreto
Protendido
Me. Anderson Gobbi Drun
Aula 01

Conceitos Básicos do Concreto
Protendido, Tipos de Protensão,
Diagramas de Tensões

Introdução
Caro(a) aluno(a), muito provavelmente você deve ter estudado ou sabe os conceitos
relacionados ao concreto armado. A grande maioria das edificações no Brasil e no
mundo u lizam esse material como elemento estrutural devido às suas várias
vantagens. No entanto, como qualquer outro material, o concreto armado apresenta
algumas desvantagens, entre elas, o seu alto peso próprio, possuir um vão limitado
para sua construção, entre outros. É nesse contexto que o concreto protendido se
apresenta como um avanço tecnológico do concreto armado.

O ar cio de se introduzir a protensão em estruturas de concreto configura a ele
uma maior resistência à tração, sendo u lizado em estruturas onde apresentam
esforços de flexão elevados. Essa tecnologia, mesmo não sendo nova, traz bastante
eficácia e durabilidade às estruturas, oferecendo, assim, uma ó ma relação custo
bene cio. Se bem executada, seguindo todos os parâmetros de qualidade, uma
estrutura protendida pode resultar em pouca ou nenhuma manutenção no decorrer
de sua vida ú l.

Nesta aula, serão apresentados os conceitos iniciais acerca do concreto protendido,
seu contexto histórico, a protensão aplicada ao concreto, suas principais
caracterís cas e os  pos de protensão que existem atualmente.

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Ao final desta aula, você será capaz de:

conhecer o contexto histórico e avanço do concreto protendido no Brasil e no
mundo;

entender o conceito de protensão aplicado ao concreto;

conhecer os diferentes  pos de protensão visando saber quais são os mais
indicados para os diferentes casos.

Contexto Histórico do Concreto


Protendido
Os primeiros conceitos acerca do concreto armado e concreto protendido iniciaram‑
se na Inglaterra com a criação da primeira fábrica de cimento Portland, no ano de
1884. A par r de tal fato, desenvolveram‑se tecnologias para a construção desse
po de estrutura, difundindo‑se, assim, para o resto do mundo.

As técnicas de reforço de elementos de concreto realizados através da colocação de
armaduras (concreto armado) já eram conhecidos em meados do século 19. No
entanto, várias patentes de métodos de protensão e ensaios foram requeridos,
porém sem sucesso. Isso se devia às perdas de protensão devido, principalmente, à
fluência e à retração do concreto, conceitos que até então eram desconhecidos na
época.

Pereira et. al (2005) comenta que o americano P. J. Jackson, no ano de 1886, fez a
primeira proposta de pré‑tensionar a armadura com o objev o de aumentar a
resistência da peça de concreto. Já no século 20, Morsh e Koenen desenvolveram
uma teoria que, por muito tempo, foram os fundamentos do concreto armado,
sendo até hoje validados por ensaios. Os dois pesquisadores começaram a entender
os efeitos da retração e fluência do concreto que acabavam provocando as perdas
de protensão observadas no século 19.

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Com isso, no ano de 1923, o americano R. H. Dill reconheceu a necessidade da
u lização de aços de alta resistência subme dos a elevadas tensões com o intuito
de superar as perdas de protensão que eram provocadas pelas caracterís cas do
concreto u lizado. Em 1924, o engenheiro Francês Eugene Freyssinet u lizou‑se da
protensão para reduzir o alongamento de  rantes em galpões de grandes vãos.

Caro(a) aluno(a), sabemos que o concreto armado u liza apenas armadura passivas.
apresentando, assim, inconvenientes e limitações como fissuras em condições de
serviço e impossibilidade de u lização de aços com alta resistência ao escoamento.
Sendo assim, em alguns casos, as estruturas convencionais de concreto armado
tornam‑se anec onômicas.

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ATENÇÃO
Atente‑se para o conceito de armadura passiva.

As armaduras passivas são simplesmente
colocadas na estrutura e só passam a trabalhar
quando o concreto começa a se deformar. Assim
é preciso rer ar o escoramento da estrutura de
concreto armado para que, iniciada a
deformação das fibras de concreto, a armadura,
que tem aderência ao concreto, comece a se
deformar e passe então a resis r aos esforços.
Sendo assim as armaduras passivas só passam a
desenvolver seu papel depois de solicitada pela
deformação advinda do concreto.

Fonte: Carvalho (2013, p. 01).

Para tentar salvar o concreto armado dessas limitações, os primeiros conceitos de
protensão vieram da Europa entre os anos 30 e 40. No final da década de 1950,
surgiu a primeira patente de protensão com u lização de bainha individual de
plásc o extrudadas sobre a cordoalha. Desde então, essa técnica de protensão em
estruturas de concreto possui larga aceitação no mundo e vem se popularizando nas
edificações em geral.

Já, no Brasil, a primeira obra que fez uso da protensão foi a Ponte do Galeão na
cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1948, com o projeto do Engenheiro Eugene
Freyssinet. Essa obra foi a primeira que u lizou estruturas protendidas no

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connen te das Américas e foi recorde mundial de extensão na época, com 380m de
comprimento. Essa obra fez uso de cabos lisos envolvidos com até três camadas de
papel Kra  pintados com betume. Portanto,  nha‑se, assim, o sistema de protensão
não aderente. A seguir, na Figura 1, podemos visualizar a Ponte do Galeão, sua
localização e  pologia.

Figura 1‑ Ponte do Galeão localizada no Rio de Janeiro (RJ) 
Fonte: Thomaz (2010, p. 2) e Vieira (2011).

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FATOS E DADOS
A execução da Ponte do Galeão foi acompanhada por um jovem engenheiro
brasileiro, que, futuramente, seria o presidente da STUP – Sociedade Técnica
para U lização da Protensão –, chamado Carlos Freire Machado No Brasil, a
STUP, além de realizar várias obras de grande importância, formou vários
técnicos, projest as, engenheiros de obra. Todos capacitados para a elaboração
de projetos e execução de estruturas protendidas, permi ndo, com isso, uma
rápida assimilação das técnicas de protensão Freyssinet.

Fonte: Silva Filho (2010, p. 2).

Após o sistema Freyssinet, desenvolveu‑se uma patente de protensão
genuinamente brasileira, desenvolvida pelo engenheiro civil e mecânico José Rudloff
Manns, nos anos 50. Esse sistema de protensão leva o nome de seu criador,
chamado Rudloff ‑ VSL. O VSL vem da fusão da empresa que o engenheiro possuía,
em 1981, com a empresa suiça VSL, que já estava no Brasil desde 1968.

Com isso, posteriormente, abriram‑se as portas para o surgimento de vários outros
sistemas de protensão. No Ceará e em alguns estados, destaca‑se o Sistema
Impacto de protensão, desenvolvido pelo Engenheiro Joaquim Caracas.

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O Que se Entende por Protensão?
A palavra protensão, pré‑tensão, presstressing (no inglês) já nos transmite a ideia de
um estado prévio de tensões aplicado a algo, que, na nossa área de interesse, a
Engenharia Civil, aplica‑se em materiais de construção e estruturas.

Inicialmente, antes de apresentar os primeiros comentários sobre concreto
protendido em si, veremos como o conceito da protensão pode ser aplicado,
recorrendo a exemplos corriqueiros do nosso dia a dia.

Caro(a) aluno(a), você já reparou como muito dos nossos atos co dianos podem ser
analisados tomando conceitos de Física e Matemá ca e, até mesmo, aplicados para
a Engenharia? Vejamos um exemplo disso.

Imagine uma fila de livros, conforme mostra a Figura 2.a, onde estes não podem se
apoiar em dois pontos dis ntos, pois a resistência à flexão depende das tensões de
tração que não existem entre dois livros. Ou seja, dificilmente os livros connuariam
na posição mostrada e cairiam no chão. No entanto, se aplicarmos uma força de
compressão no sen do horizontal dos livros, estes passam a funcionar como uma
viga conseguindo vencer o vão livre e se mantendo em equilíbrio, como mostra a
Figura 2.b.

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Figura 2 ‑ a) Fila de livros. b) Força de compressão aplicada aos livros para conferir
equilíbrio ao conjunto 
Fonte: Carneiro (2007, p. 1).

A aplicação da força de compressão normal pode vir a ser entendida como uma
forma de se protender o conjunto de componentes estruturais, que, no caso
mostrado, trata‑se de uma pilha de livros. O peso próprio dos livros atua no sendo
de fazê‑los escorregar, de tracionar a região inferior da viga hipoté ca. A força de
compressão externa aplicada produz tensões de compressão, mobilizando, assim, o
atrito entre os livros, bem como a eliminar as tensões normais de tração  (HANAI, J.
B. de, 2005).

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REFLEXÃO
Caro(a) aluno(a), com o exemplo co diano apresentado, ainda podemos refler
um pouco sobre alguns dados conceituais, o que fica a cargo da sua curiosidade.

Pense o que aconteceria se a força normal, em vez de ser aplicada ao longo da
linha do centro de gravidade dos livros, for aplicada mais acima ou mais abaixo?
Quais são as possíveis consequências em termos de esforços e tensões?

Fonte: O autor.

Então, a protensão pode ser definida como:

aquelas nas quais parte das armaduras é previamente alongada por
equipamentos especiais de protensão, com a finalidade de, em condições de
serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da estrutura, bem
como propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no estado‑
limite úl mo (ELU) (NBR 6118, 2014, p. 3). 
 
o ar cio de introduzir, numa estrutura, um estado prévio de tensões, de modo a
melhorar a sua resistência ou seu comportamento, sob ação de diversas
solicitações (PFEIL, 1984, p. 1).

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Protensão Aplicada ao Concreto
Caro(a) aluno(a), sabe‑se que o concreto é um material largamente empregado no
Brasil e no mundo, em que a grande maioria das estruturas são confeccionadas com
esse material, já que seus componentes (cimento, areia, pedra) são de baixo custo e
presentes em todas as regiões do planeta. O concreto convencional possui uma
excelente resistência à compressão e, com o avanço da tecnologia, hoje podem ser
fabricados com essa resistência superior a 100 MPa.

SAIBA MAIS
O Cimento Portland, um dos componentes do concreto, é o segundo material
mais consumido no mundo, perdendo apenas para a água. A produção, apenas
no Brasil, es ma‑se em mais de 100 milhões de toneladas por ano.

Fonte: O autor.

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No entanto, tal concreto possui como desvantagem a baixa resistência à tração, na
ordem de 8% a 12% do valor da resistência à compressão. Além de ser baixa, é
pouco confiável, tanto que, para o dimensionamento de elementos de concreto, a
resistência à tração dele é desconsiderada, segundo, por exemplo, a norma brasileira
NBR 6118 (2014), que trata das recomendações para estruturas de concreto.

Outra desvantagem acerca da baixa resistência à tração do concreto é o
aparecimento de fissuração. Embora a fissuração seja tolerada dentro de limites
previstos em normas, estas acabam representando uma desvantagem ao concreto,
pois acabam acarretando na redução da inércia da peça e possibilidade de
manifestações patológicas.

Ao saber que na maioria das estruturas de concreto e na distribuição de tensões
atuantes sempre existe uma região com esforços de compressão e outra com
esforços de tração, como o comportamento dessas estruturas pode ser melhorado?

É nesse ques onamento que se introduz o conceito de protensão aplicada ao
concreto, pois, dessa forma, surgiu a ideia de se introduzir, previamente e de forma
permanente, tensões de compressão nas regiões do elemento estrutural que
estariam sob tração, ou seja, tenta‑se combater os esforços de tração gerados pelo
carregamento externo com tensões de compressão aplicadas pela protensão.

A Figura 3 mostra uma viga de concreto armado convencional, sujeita a uma
solicitação de flexão simples. A parte superior da seção de concreto é comprimida e
a inferior é tracionada, admi ndo‑se fissurada para efeito de análise. Os efeitos de
tração são resis dos pelas armaduras de aço (armadura passiva).

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Figura 3 ‑ Viga de concreto armado convencional 
Fonte: Adaptada de Pfeil (1984, p. 2).

A Figura 4 mostra a configuração de uma viga de concreto com a presença dos
cabos de protensão ancorados nas suas extremidades. A carga P representada é o
esforço transmi do ao concreto devido à protensão, chamado de esforço de
protensão.

Figura 4 ‑ Representação da protensão em uma viga de concreto 
Fonte: Hanai (2005, p. 5).

O infográfico a seguir mostra a distribuição de tensões em uma viga bi‑apoiada
protendida.

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Carregamento
da viga
o carregamento vem da análise das cargas que irão atuar 
na viga, por exemplo, seu peso próprio, reações da laje etc.

INFOGRÁFICO INTERATIVO

Para consultar o Infográfico Interav o,  
acesse a versão digital deste material

Nota‑se que a adição da força de protensão (P) causa na viga uma tensão de
compressão nas fibras inferiores a linha neutra e de tração nas fibras superiores. Já
na ação do momento fletor (M), causa‑se a flexão na viga, que gera tensões de
compressão nas fibras superiores e de tração nas inferiores. Ao somar esses dois
esforços atuantes, temos apenas esforços de compressão atuando na viga. É
importante lembrar que, nesse caso, trata‑se de uma protensão completa, ou seja,
sem esforços de tração. Porém, podem exis r casos que diante da atuação de um
momento fletor posi vo resulte nas fibras inferiores tensões de tração ou também
de compressão.

Concluímos, então, que, quando se projeta uma peça em concreto protendido,
procura‑se fazê‑lo de maneira que em todas regiões e nas diversas combinações de
ação as tensões sejam somente de compressão ou de pequenos valores de tração.
Carvalho (2013, p. 2), em seu livro sobre dimensionamento de estruturas
protendidas, brinca plagiando uma oração de São Francisco, ao afirmar o seguinte:

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o projest a quando detalha estruturas subme das à flexão deve levar em conta
para o concreto armado: Onde houver tração que eu leve armadura; e no caso do
concreto protendido: Onde houver tração que eu leve a compressão.

SAIBA MAIS
Caro(a) aluno(a), você sabia que até o ano de 2003 as
normas de concreto armado e concreto protendido eram
disn tas? Antes desse ano, a norma para concreto armado
era a conhecida NBR 6118 e, para concreto protendido,
nha‑se a NBR 7197. Hoje, as estruturas de concreto
armado e de concreto protendido já são consideradas
como sendo do mesmo  po, ou seja, são normalizadas por
uma mesma norma que usa especificações diferentes
quando for o caso. Assim, a NBR 6118:2003, homologada
em abril de 2004, já trata do “Projeto de estruturas de
concreto”, englobando o concreto simples (sem armadura),
o armado (apenas com armadura passiva) e o protendido
(em que pelo menos parte da armadura é av a).

Fonte: O autor.

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Diferenças Tecnológicas entre
Concreto Armado e Concreto
Protendido
Como mencionado anteriormente, por muito tempo o concreto armado e concreto
protendido foram tratados como materiais dis ntos. Nesse contexto, surge o
quesonamen to: se os dois materiais são tão parecidos e possuem caracteríscas
mecânicas semelhantes, por que tratar em separado?

A principal e única diferença entre os dois materiais está na existência da força de
compressão que é aplicada no concreto protendido. Essa armadura dita av a acaba
requerendo alguns processos especiais na fase de execução e projeto,
diferenciando‑se, assim, do concreto armado tradicional.

Dessa forma, podemos definir que a principal diferença entre os dois está na sua
forma tecnológica, ou seja, a adição ou não de conhecimentos mais específicos e
adicionais para a sua execução. Porém, sempre atentando‑se ao fato de que os dois
são os mesmos materiais.

Ao tomar esse conceito como referência, quais são as possíveis vantagens do
concreto protendido frente ao concreto armado?

A estrutura que conta com o concreto protendido na sua execução é mais
rígida e é provocada pela adição do estado prévio de tensão, diminuindo a
fissuração da peça e usufruindo de todas as vantagens devido a isso.

O concreto protendido possui menor deterioração da peça, protegendo, assim,
a armadura de agentes externos, como a corrosão.

Como usualmente o concreto desenvolvido para a protensão possui uma maior
resistência mecânica, pode‑se projetar estruturas mais esbeltas, diminuindo
seu peso próprio e propiciando, assim, projetar grandes vãos (principalmente
em pontes e viadutos).

A estrutura devido à aplicação da força de protensão possui a capacidade de se
recompor frente à formação de fissuras que possam ocorrer de forma
inesperada.

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Pelo fato de a maioria das estruturas protendidas serem pré‑moldadas, ou seja,
são fabricadas em empresas especializadas, isso reduz a geração de resíduos e
torna o canteiro de obras mais limpo e organizado.

Para a execução das lajes, permite‑se a diminuição da sua espessura,
acarretando, assim, em diminuição da altura total do edi cio, bem como o seu
peso próprio, de modo a aliviar as cargas nas fundações.

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ATENÇÃO
Ao entender o concreto protendido como um avanço
tecnológico em relação ao concreto convencional, pode
ficar a ideia de que o concreto protendido seria sempre a
melhor opção do que o concreto armado. Entretanto,
devemos considerar dois aspectos importantes:

Em primeiro lugar, nem sempre existe a
disponibilidade tecnológica (conhecimento, recursos
humanos e materiais) para se projetar e executar
obras de concreto protendido;

Em segundo lugar, nem todas as situações o uso de
protensão se manifesta tão favorável em estruturas.
Cita‑se, por exemplo, a execução de fundações e de
pilares sujeitos a compressão com pequenas
excentricidades.

Fonte: Hanai (2005, p. 19).

O Quadro 1 mostra algumas obras nacionais que u lizaram a técnica de concreto
protendido e algumas de suas especificações técnicas.

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Quadro 1 ‑ Obras em concreto protendido pelo Brasil 
Todas as imagens mostradas estão disponíveis no seguinte link:
<h p://www.rudloff.com.br/downloads/catalogo_concreto_protendido_rev‑06.pdf>.

Tipos de Protensão (Completa, Parcial


e Limitada)
Protensão completa: nesse  po de protensão, temos que a estrutura não é
solicitada por esforços e tração, não permi ndo, assim, a formação de fissuras. É

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muito u lizada em obras especiais, como reservatórios, pisos e pontes.

Protensão parcial:  nesse caso, a estrutura é programada para trabalhar parcialmente
com esforços de tração, no qual o sistema de protensão dê a função de equilibrar as
cargas provenientes do seu uso e são permi das algumas fissuras.

Protensão limitada: nesse caso, há um predomínio das armaduras av as em que não
se é permi da a formação de fissuras no estado limite de serviço (ELS).

Um pouco mais sobre o assunto será discu do na videoaula a seguir:

Fechamento
Ao final desta aula, é importante que fixamos alguns pontos que são cruciais para o
entendimento e avanço dos estudos em torno do concreto protendido. Temos de ter
em mente que a aplicação de uma carga de protensão em um elemento de concreto
tem como objev o eliminar as tensões de tração, fazendo com que esse elemento
trabalhe apenas a compressão, propriedade em que o concreto possui elevados
valores.

Sendo assim, é possível a construção de estruturas mais esbeltas com vãos muito
superiores aos conseguidos pelo concreto armado convencional. É devido a isso
que, hoje, as estruturas de pontes e de viadutos são, na sua maioria, construídas
com concreto protendido.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

conhecer a evolução do concreto protendido no mundo, suas primeiras
aplicações e seus avanços tecnológicos com o passar do tempo;

entender os conceitos da protensão aplicadas ao concreto, principalmente no
que diz respeito à distribuição de tensões na seção do concreto;

conhecer os  pos de protensão (limitada, parcial e completa), bem como as
especificações de cada uma delas.

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21
Aula 02

Caracterísc as dos Materiais
Empregados na Protensão

Introdução
Caro(a) aluno(a), é muito importante quando começamos a estudar um assunto
novo, ainda mais na Engenharia, mergulhar, de fato, em todos os seus conceitos,
especificações e cálculos. Em assuntos da área de estrutura mais ainda, pois existem
muitas considerações em que se deve ter toda a atenção quando se está estudando.

No caso do concreto protendido, além de aprendermos seus conceitos e
dimensionamento, é importante saber como ele é executado. Quais materiais são
u lizados? Como cada um deles é empregado? Quais são os  pos de protensão que
existem?

O obje vo principal desta aula é de responder essas perguntas e mostrar a você,
aluno(a), os materiais u lizados para que você tenha mentalmente todo o esquema
que é realizado para a execução de estruturas de concreto protendido.

Reforço a você, aluno(a), para que não se atenha apenas a esse material. Busque por
informações extras e, se for o caso, tente acompanhar a execução da protensão em
uma obra, para que tenha contato direto com o tema e auxilie no seu aprendizado.

Ao final desta aula, você será capaz de:

22
conhecer os materiais que são empregados para a execução da protensão;

entender o processo constru vo de estruturas protendidas;

conhecer os sistemas de protensão.

Os materiais u lizados para a produção do concreto protendido são pra camente os


mesmos u lizados para o concreto armado. Obviamente, a sua principal matéria‑
prima é o concreto juntamente com os aços de alta resistência. Temos, ainda, o
emprego das bainhas, injeção de calda de cimento e ancoragem para os sistemas de
protensão.

ATENÇÃO
Em um primeiro momento, podemos pensar que, no concreto protendido, não
se adiciona a armadura passiva. No entanto, na maioria dos casos, a armadura
passiva é colocada com os aços CA‑25, 50 ou 60.

Fonte: Elaborada pelo autor.

23
Concreto
O concreto é ob do através da mistura adequada de cimento, agregado fino (areia),
agregado graúdo (pedra brita) e água. Em algumas situações, são incorporados
produtos químicos ou outras adições, como microssílica, casca de arroz ou outros. A
adição de produtos químicos ou outros materiais têm a finalidade de melhorar
alguma propriedade, tais como: trabalhabilidade, retardar a velocidade das reações
químicas ou aumentar a resistência.

O emprego da protensão no concreto requer, no geral, u lização de técnicas mais
sofis cadas do que em relação ao concreto armado tradicional. O controle de
qualidade deve ser mais eficiente e o uso de concretos com uma melhor qualidade
são imprescindíveis.

Um exemplo que pode ser citado é a resistência caracterís ca à compressão de
concretos que são empregados em concreto protendido. Normalmente, situam‑se
na faixa entre 30 a 40 MPa, podendo até, em alguns casos, superar os 50 MPa
(concreto de alta resistência), enquanto no concreto armado tradicional, a
resistência varia de 20 a 30 MPa.

Os mo vos que levam o concreto a ser mais resistente são os seguintes:

quando se introduz a força de protensão, esta pode causar solicitações muito
elevadas. Esse valor frequentemente é superior aos valores observados para a
situação de serviço;

o uso, tanto do aço como do concreto, de alta resistência contribuí para que as
peças estruturais possuam dimensões menores que consequentemente
diminuem o seu peso próprio, facilitando, assim, o manuseio, já que a maioria
dessas peças são pré‑moldadas;

sabe‑se que o módulo de elas cidade é proporcional à resistência do concreto,
ou seja, para concreto de alta resistência, o módulo de elas cidade é mais
elevado, diminuindo, assim, as deformações imediatas, bem como as
deformações progressivas, que ocorrem com o passar do tempo, entre elas a
retração e a fluência.

A seguir, a Figura 1 mostra a concretagem de uma laje. Pode‑se notar a armadura
passiva disposta juntamente com a armadura a va (com cordoalha engraxada)

24
reves da pelas bainhas plás cas na cor azul.

Figura 1 ‑ Concretagem de laje em concreto protendido 
Fonte: Bastos (2018, p.17).

Além das caracterís cas citadas, é importante que o concreto tenha boas
caracterís cas de compacidade e baixa permeabilidade, para que, assim, tenha uma
proteção eficiente da armadura contra a corrosão. Especialmente no caso do aço da
armadura a va, solicitado por tensões elevadas, torna‑se mais suscep vel à
corrosão, sobretudo a conhecida "corrosão sob tensão".

25
SAIBA MAIS
A aplicação do cimento CP V ARI é muito comum, porque possibilita a aplicação
da força de protensão em um tempo menor. Especialmente nas peças de
concreto protendido, a cura do concreto deve ser cuidadosa, a fim de
possibilitar a sua melhor qualidade possível. A cura térmica a vapor é frequente
na fabricação das peças pré‑fabricadas, para a produção de maior quan dade de
peças.

Exemplo: com cimento ARI e cura a vapor, consegue‑se, em 12 h, cerca de 70 %
da resistência à compressão aos 28 dias de cura normal.

Fonte: Bastos (2018, p.18).

É primordial que o concreto possua as melhores caracterís cas no que se refere às
propriedades mecânicas. Quanto ao que se refere à durabilidade das construções,
há o rigor compa vel com os elevados requisitos de desempenho normalmente
impostos às estruturas de concreto protendido.

Conforme recomenda a NBR 6118 (ABNT, 2014, p. 18), no item 7.4.1,  “a
durabilidade das estruturas é altamente dependente das caracterís cas do concreto
e da espessura e qualidade do concreto de cobrimento da armadura”.

26
Para que o concreto atenda aos elevados critérios impostos às estruturas de
concreto protendido, é necessário possuir os requisitos essenciais para a execução
dos critérios de projeto. Dentre esses requisitos, é possível destacar:

os  pos mais adequados de cimento (Portland, ARI, AF, Pozolânico etc);

as recomendações da tecnologia de produção de concreto;

aplicar adequadamente agregado quanto à origem mineralógica e
granulométrica;

observar as proporções adequadas de água, cimento, agregados e adi vos
(traço);

executar a cura adequada do concreto;

somente empregar adi vos que não venham a prejudicar a integridade das
armaduras (GOMES JÚNIOR, 2009).

Aluno(a), assim como em qualquer outro caso de produção de concreto, a cura deve
ser cuidadosa, para permi r, assim, que o concreto a nja o máximo de suas
qualidades. Em par cular, observa‑se que o uso da cura térmica é frequente nas
instalações de produção em série de elementos pré‑fabricados, para manter um
ritmo de produção diária de lotes, reu lizando as fôrmas e demais equipamentos a
cada ciclo de 24h.

No exterior, existem fábricas que u lizam sistemas de aquecimento por meio de
circuitos hidráulicos de água quente. A cura térmica à pressão atmosférica consegue
obter altas resistências em poucas horas de cura, pelo fato de se acelerar, pela
elevação da temperatura, o processo e maturação do concreto.

Para o projeto de estruturas de concreto protendido, os seguintes dados são de
par cular interesse:

resistência caracterís ca à compressão e à tração direta na data de aplicação
da protensão (fckj e fctkj);

resistência caracterís ca à compressão e à tração aos 28 dias (fck28 e fctk28);

módulo de elas cidade do concreto na idade t0, em que se aplique uma ação
permanente, como é o caso da protensão (Eci(t0));

módulo de elas cidade do concreto aos 28 dias (Eci28);

27
relação água cimento (a/c) da massa de concreto empregada na sua dosagem.

Aço para Armadura Ativa


Quando se iniciou o uso do concreto protendido, no começo do século passado,
constatou‑se que, depois de decorrido um certo tempo, os esforços de compressão
introduzidos pela protensão deixavam de exis r, em grande parte ou totalmente
devido às perdas que ocorriam, principalmente, ao longo do tempo. Ficou então
claro, por volta dos anos 40, que, para poder aplicar a protensão e ter efe vamente
tensões de compressão no concreto, mesmo decorrido um grande período de
tempo, seria necessário u lizar aços de grande resistência, mesmo que, para isso,
fosse preciso ultrapassar o valor do alongamento específico de 1%, limite para se
manter a aderência entre o aço e o concreto no sistema de concreto armado. Assim,
os aços de protensão possuem valores de escoamento bem mais altos que os
usados no concreto armado (CARVALHO, 2013).

Aluno(a), o aço u lizado na protensão em estruturas de concreto se caracteriza,
principalmente, pela elevada resistência e pela ausência de patamar de escoamento.
O aço para armadura a va, no geral, é mais econômico que o aço da armadura
passiva, pois a sua resistência pode chegar a até três vezes o valor da armadura
passiva.

Imagine que, ao u lizar esse  po de aço, evita‑se, também, outro problema


apresentado pelo concreto armado: as emendas de barras presentes em grandes
vãos. Esse empecilho é contornado pelo fato do aço de alta resistência ser fornecido
em grandes comprimento, basicamente na forma de fios e cordoalhas.

28
ATENÇÃO
Pode‑se imaginar erroneamente o uso do aço de alta resistência para o concreto
armado. Mas por que isso não é possível? É an econômico, pois não explora
suas potencialidades em virtude das deformações pelo fato de ocorrer
alongamentos excessivos por parte da armadura que acarretam na abertura de
grandes fissuras. Esse é um problema no qual as peças protendidas não sofrem
devido ao alongamento prévio em que a armadura é subme da.

Fonte: O autor.

Geralmente, os aços para protensão podem ser fornecidos em barras, fios, cordões e
cordoalhas. A classificação de cada um pode ser dada como:

Barras: elementos fornecidos em segmentos retos com comprimento
normalmente compreendido entre 10 e 12 m;

Fios: elementos de diâmetro nominal não maior que 12 mm cujo processo de
fabricação permita o fornecimento em rolo, com grande comprimento (Figura
2a);

Cordões: os grupamentos de 2 ou 3 fios enrolados em hélice com passo
constante e com eixo longitudinal comum (Figura 2b e 2c);

29
Cordoalhas: grupamento de pelo menos 6 fios enrolados em uma ou mais
camadas, em torno de um fio cujo eixo coincida com o eixo longitudinal do
conjunto (Figura 2d).

Figura 2 ‑ a) Fio isolado. b) Cordão com 2 fios. c) Cordão com 3 fios. d) Cordoalha 
Fonte: Carvalho (2013, p. 13).

Os aços u lizados para a protensão se diferenciam também pela modalidade de
tratamento, englobando as seguintes classes:

Relaxação normal (RN): conhecidos também por aços aliviados, caracterizados
pela re ficação do aço por meio de tratamento térmico, que visa aliviar as
tensões de trefilação;

Relaxação baixa (RB): conhecidos como aços estabilizados, recebem um
tratamento termomecânico que melhora as caracterís cas elás cas e reduz a
perda por relaxação.

Aluno(a), é importante conhecermos a designação adotada comercialmente para os
aços de protensão. Temos que o aço, para esse fim, é designado pelas letras CP, de
concreto protendido, em alusão ao CA u lizado para o concreto armado, seguido da
categoria do aço, o valor da sua resistência caracterís ca à tração em kgf/mm², das
classes RN ou RB e o diâmetro do fio, barra ou cordoalha. Para a designação de fios,

30
ainda temos a indicação da conformação superficial L ou E (lisa ou entalhada). Dessa
forma, a armadura de protensão é designada, conforme é apresentado nas Figuras 3
e 4.

Designação para fios:

Figura 3 ‑ Designação dos fios para protensão 
Fonte: Carneiro (2007, p.18).

Designação para cordoalhas:

31
Figura 4 ‑ Designação das cordoalhas para protensão 
Fonte: Carneiro (2007, p.18).

APLICAÇÃO DE CONCEITOS
Imagine que você se depara com um aço com a seguinte
especificação: CP 150 RB 8 L. O que isso quer dizer?

Nesse caso, temos um aço para protensão com resistência
à tração de 150 kgf/mm² (1500 MPa), com relaxação baixa
com 8 milímetros de diâmetro na forma lisa.

Outro exemplo: CP 190 RB 3 x 3,5

32
Aço para concreto protendido com resistência à tração de
190 kgf/mm² (1900 MPa) de relaxação baixa, com
cordoalha composta por três fios de 3,5 mm cada um de
diâmetro.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tipos de Aço para Armadura Ativa


Fios e Cordoalhas
Como visto na definição anteriormente, os fios trefilados de aço carbono e as
cordoalhas são um conjunto de fios enrolados em forma de hélice. Temos que o
módulo de elas cidade do fio isolado é pouco superior em compara vo ao da
cordoalha. Tal fato é notado durante o carregamento, pois os fios que cons tuem a
cordoalha se acomodam e, de certa forma, acabam mascarando a sua deformação.
Em número, temos que o módulo para os fios é de 205 GPa, enquanto para as
cordoalhas é de 195 GPa.

A seguir, a Figura 5 mostra o acondicionamento das cordoalhas em rolos e bobinas.
Pode‑se notar a diferença em relação ao aço u lizado para armadura passiva, em
que este é comercializado em forma de barras com comprimentos padronizados.

33
Figura 5 ‑ Aço em cordoalha na forma de rolo e bobina 
Fonte: Bastos (2018, p. 22).

SAIBA MAIS
Caro(a) aluno(a), é muito importante que, além do
conhecimento técnico acerca do assunto, tenhamos a
curiosidade em buscar informações e dados sobre o
assunto. Para esse caso, é imprescindível que o
Engenheiro Civil conheça os produtos que são fornecidos
pelo mercado, suas especificações e principais
propriedades.

34
Diante disso, como sugestão de leitura, segue o link do
Catálogo de fios e cordoalhas da Arcelor Mi al. Esse
material traz todos os materiais comercializados pela
empresa junto de suas especificações. Atente‑se nas
tabelas para os valores de coeficiente de relaxação de
cada  po de fio ou cordoalha, pois esses valores serão
importantes para o cálculo das perdas de protensão que
estão presentes no nosso curso.

Link:
<h p://longos.arcelormi al.com.br/pdf/produtos/construcao‑
civil/fios‑cordoalhas/catalogo‑fios‑cordoalhas.pdf>.

Cordoalhas Engraxadas
As cordoalhas engraxadas são aquelas em que recebem um banho de graxa mineral
e são reves das por extrusão com polie leno de alta densidade. Sendo assim, uma
cordoalha engraxada pode cons tuir um cabo de protensão monocordoalha,
u lizados em protensão sem aderência ao concreto.

No Brasil, esse  po de cordoalha encontra‑se no mercado com diâmetro de 12,7 e
15,2 mm, de aço CP 190 RB e CP 210 RB. Para se ter uma ideia, em uma cordoalha
de 12,7 mm, pode‑se aplicar uma força de 150 kN (ou 15 toneladas).

A Figura 6a mostra a  pologia da cordoalha engraxada, evidenciando os seus
principais elementos e como é cons tuída. Já a Figura 6b mostra uma imagem real
de uma cordoalha engraxada u lizada em concreto protendido.

35
Figura 6 ‑ a) Representação da cordoalha engraxada. b) Cordoalha engraxada 
Fonte: Hanai (2005, p. 29); Bastos (2018, p.19).

A aplicação desse  po de cordoalha tem sido bastante verificada em lajes de
edi cios, tanto as do  po cogumelo maciças como as nervuradas. Devido à sua
versa lidade e facilidade de montagem, podem ser aplicadas na protensão (por pós‑
tração sem aderência) em diversos elementos estruturais, sejam pré‑moldados,
sejam moldados in loco.

Bainha
As bainhas são tubos cons tuídos por chapas de aço laminadas a frio. São
empregadas em casos de protensão sem aderência e com aderência posterior. Esses
tubos têm por finalidade permi r que a armadura de protensão deslize através da
peça de concreto, minimizando o atrito entre armadura e concreto.

36
As bainhas devem ser dutos perfeitamente estanques, para que, na hora da
concretagem, não haja a penetração do concreto em seu interior, impossibilitando,
assim, a passagem da armadura de protensão.

Durante o seu processo de fabricação, além das costuras, são produzidas
ondulações na forma de hélice, mas isso por quê? A adoção dessas ondulações tem
como obje vo aumentar a rigidez da bainha sem reduzir a sua flexibilidade, o que
permite, assim, enrolar cabos de grande comprimento e facilitar o manuseio.

Comercialmente, as bainhas são divididas em três  pos: flexíveis, semirrígida e
plás cas. A Figura 7 mostra dois  pos de bainhas comumente u lizadas.

Figura 7 ‑ Bainhas colocação de armadura do  po achatada e circular 
Fonte: Bastos (2018, p. 23‑24).

37
ATENÇÃO
No caso de cordoalhas engraxadas, cada uma cons tui um cabo monocordoalha,
com a bainha de plás co já incorporada. Sendo assim, só podem ser u lizadas
em protensão sem aderência.

Fonte: Hanai (2005, p. 31).

Injeção de Calda de Cimento


A injeção da calda de cimento é feita basicamente para preencher, por completo, o
vazio entre a armadura de protensão e a parede interna da bainha. Possui como
principais finalidades:

proteger a armadura contra corrosão. A qualidade dessa operação depende da
durabilidade da obra;

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estabelecer, de forma permanente, a aderência entre armadura e o concreto.
Esse procedimento é responsável também por transmi r os esforços de
protensão à peça de concreto, bem como por permi r a realização da
ancoragem morta da armadura de protensão (GOMES JÚNIOR, 2009).

Para que a injeção da calda de cimento seja sa sfatória e, de fato, contribua para o
bom funcionamento do sistema de protensão, são necessárias que sejam seguidas
algumas condições. Dentre as principais, destacam‑se:

além de preencher todo o vazio no interior da bainha, a calda não pode conter
nenhum elemento que possa causar corrosão da armadura quando essa mesma
es ver subme da à tensão de protensão;

a bainha não deve apresentar obstáculos que possam dificultar a penetração
da calda e preencher todo seu interior;

o maquinário responsável pela injeção deve possuir potência suficiente para
assegurar a con nuidade do processo. Apesar das perdas de carga que
ocorrem, os cabos nas suas extremidades devem prover de disposi vos
capazes de manter a calda sobre pressão até o seu endurecimento.

A Figura 8a mostra o equipamento que comumente é u lizado para esse  po de


procedimento,em que a nata de cimento é colocada no recipiente adequado e, por
meio de pressão do equipamento, é inserida dentro das bainhas. A Figura 8b mostra
a configuração final desse procedimento, em que podemos notar a bainha metálica
com as armaduras de protensão em seu interior emergidas na nata de cimento.

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Figura 8: a) Equipamento para injeção da nata de cimento. b) Bainha com armaduras de
protensão e a nata de cimento endurecida 
Fonte: a) Bastos (2016, p.16). b) Catálogo Rudloff (2015, p. 7).

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SAIBA MAIS
Caro(a) aluno(a), no mundo da Engenharia, pra camente todos os
procedimentos técnicos envolvidos existe por trás de uma regulamentação que
fornece as diretrizes para a execução de tal, com o obje vo de garan r a sua
correta execução e qualidade. No caso da injeção de calda de cimento em
bainhas, não é diferente, pois, para esse caso, existe a norma ABNT NBR
7681:2013. É interessante a leitura dessa norma a fim de verificar quais são as
recomendações indicadas para o seu procedimento.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ancoragem
Por definição, a

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ancoragem é o disposiv o e/ou ar cio responsável por fixar os cabos de
protensão tensionados. A ancoragem tem por objev o evitar que os cabos de
protensão percam a carga aplicada pelo macaco hidráulico, ou seja, evitar que os
cabos retornem ao seu estado original, perdendo dessa forma a tensão aplicada
aos cabos. (GOMES JÚNIOR, 2009, p. 19).

Existem diferentes  pos de ancoragens. Como o nosso obje vo, porém, é de maior


pra cidade, iremos citar o mais empregado em fábricas de pré‑moldados
protendidos e na maioria dos sistemas de protensão, que é a ancoragem feita por
meio de cunhas de aço.

A ancoragem por cunhas é feita basicamente por duas peças, um cone macho e um
cone fêmea. Ainda são subdivididos em duas categorias: ancoragem com cunha
cravada e ancoragem com cunha deslizante.

Ancoragem com cunha cravada: neste  pos de sistema, o macaco hidráulico
aplica uma força e tensiona os fios de protensão até que se a nja a força de
protensão inicial. Após alcançar esse valor, um disposi vo do macaco aciona a
cunha contra uma peça fixa. Quando o macaco hidráulico cessar a tensão
sobre os fios, a peça fixa e a cunha serão as responsáveis por absorver a força
de protensão, cons tuindo, assim, uma ancoragem defini va.

Ancoragem com cunhas deslizantes: neste sistema de ancoragem, os fios
quando tensionados pelo macaco hidráulico se movimentarão entre as cunhas,
que ainda estão soltas, e que deverão ser colocadas manualmente ou com
auxílio de um martelo, antes da liberação dos fios, a fim de garan r o
surgimento de uma compressão transversal. Quando os cabos são liberados
pelo macaco, as cunhas recuam para dentro do cone fêmea por conta do atrito
existente, gerado pela compressão axial.

A Figura 9 mostra alguns  pos de ancoragem que são executadas em estruturas de
concreto protendido.

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Figura 9 ‑ Diferentes  pos de ancoragem 
Fonte: Bastos (2018, p.16 e 25).

Sistemas de Protensão
Os sistemas de protensão basicamente são divididos entre como ocorre a aderência
entre armadura a va e concreto (com ou sem aderência interna ou externa) e pelo
momento da aplicação da carga de protensão (pré e pós‑tração).

O mapa mental apresentado a seguir explica, de forma didá ca, a diferença entre os
principais  pos de protensão e suas caracterís cas.

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Fechamento
Nesta aula, você, aluno(a), foi apresentado aos materiais que são u lizados para a
execução da protensão em estruturas de concreto. Reforçamos, na sequência,
alguns pontos.

O concreto u lizado para a protensão possui a sua resistência superior ao
comparado com estruturas de concreto armado convencional. Deve‑se assegurar
que o concreto possui uma elevada qualidade e, devido a isso, para execução de
estruturas protendidas, o concreto é feito em concreteiras que possuem uma
qualidade superior do que rodado na obra.

O aço, também especial, possui uma resistência muito superior ao u lizado no
concreto armado: a vantagem de ser comercializados em rolos com comprimentos
longos, evitando, assim, a realização de emendas.

Os demais materiais mostrados (bainha, nata de cimento, ancoragem), como
estudado no decorrer da aula, devem possuir todas as especificações para que
funcionem perfeitamente e dêem ao concreto protendido todas as condições
necessárias para o seu pleno funcionamento.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

conhecer os materiais que são empregados na protensão;

entender o mecanismo do processo constru vo acerca da protensão no
concreto;

conhecer os sistemas de protensão e suas caracterís cas principais.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR

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Caro(a) aluno(a), em nossa primeira aula, abordamos o
contexto histórico em que o concreto protendido está
inserido. Relembrando alguns fatos, por exemplo, que a
primeira construção a u lizar essa técnica no Brasil foi a
Ponte do Galeão, no Rio de Janeiro. Diante disso, o
material, que pode ser acessado pelo link apresentado a
seguir, traz os cálculos da primeira viga de protensão feita
no Brasil e monitorada pelo Engenheiro Fernando Lobo
Carneiro, do INT.

Link:
<h p://aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/lobocarneiro/ponte_galeao.pdf>.

Vale salientar que, na época, não exis am normas
brasileiras sobre o assunto, logo as considerações
adotadas para os cálculos vieram da norma
americana  ACI 423‑3R / 2005.

Atente‑se ao Anexo 1, que traz os comentários
realizados pelo Engenheiro Fernando Lobo Carneiro.

Atente‑se, também, para o Anexo 2, que traz alguns
relatos do Professor Antônio Carlos Vasconcelos,
um especialista no assunto de concreto protendido.

Teoria e Prática
Para contextualizar com os assuntos abordados na aula, iremos mostrar, agora, uma
obra onde o concreto protendido foi u lizado. É a famosa ponte estaiada Octavio
Frias de Oliveira, localizada na cidade de São Paulo. Nessa obra, o concreto
protendido foi usado nas vigas pré‑moldadas dos vãos de acesso ao trecho estaiado

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e nas peças mais esbeltas, como a laje do tabuleiro, que trabalha transversalmente à
direção do tráfego de veículos.

Segundo Faria:

“Se a laje fosse de concreto armado, sua espessura teria de ser maior e,
consequentemente, seria necessário mais concreto. O aumento da quan dade de
concreto geraria um acréscimo de aço nos estais, que suportam o peso do tabuleiro,
assim como mais fundações e etc.” (FARIA, 2016, on‑line).  

Para Faria (2016), o concreto protendido tornou a obra mais econômica. A seguir,
podemos ver uma imagem da ponte.

Figura: Ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira 
Fonte: Concreto… (2016, on‑line).

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ESTUDO DE CASO
Diante do que foi mostrado nas aulas desta unidade,
ilustra‑se, como caso prá co, grandes obras que u lizaram
a tecnologia do concreto protendido no Brasil.  A maior
obras em concreto protendido nacional é a ponte
Jornalista Phelippe Daou, que está localizada no
Amazonas e cruza o Rio Negro. Para essa obra, foram
consumidos 138 mil m³ de concreto e 2200 toneladas de
aço para protensão.

Em obras residenciais, cita‑se o edi cio Yachthouse
Residence Club, localizado na cidade de Balneário
Camboriú (SC). Essa obra trata‑se, nada mais e nada
menos, do maior edi cio do Brasil quando concluído,
chegando a uma altura total de 275m distribuídos em 80
andares.

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Mapa Conceitual

CONCRETO PROTENDIDO

Pré-tração Pós-tração

Protensão com aderência Protensão com aderência


Protensão sem aderência
inicial posterior

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