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FUNDAMENTOS E GESTÃO
DE TESOURARIA
Parte I 4
Introdução 5
1. Conceitos Básicos 8
1.1. Liquidez Estática 8
2. Caixa X Lucros 12
3. Ciclos Operacionais 14
8. Efeito Tesoura 31
Considerações finais 38
Referências 39
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PARTE II 41
Introdução 42
1.3. Modelo de Miller-Orr 45
2. Orçamento de Caixa 49
3. Concentração de Caixa 52
Considerações finais 61
Referências 62
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MBA em Controladoria e Finanças
PARTE I
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INTRODUÇÃO
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de caixa, garantindo que não falte dinheiro quando necessário. Assim, a gestão de
investimentos deve avaliar e garantir a devida correspondência entre o vencimento
das aplicações financeiras e as necessidades projetadas de caixa.
e. Gestão de Risco: os juros que uma empresa paga sobre seus empréstimos bancários
podem variar diretamente em função da mudança dos juros de mercado. Em momentos
em que a tendência é de aumento nas taxas de juros de mercado, essa sensibilidade
do custo de financiamento pode se tornar um problema sério, podendo inclusive
transformar um negócio viável em um negócio inviável. Da mesma forma, recursos
financeiros mantidos ou tomados em moeda estrangeira estão sujeitos à variação na
taxa de câmbio. Para ambos os riscos, a tesouraria deve estabelecer estratégias de
gestão de risco e de proteção da posição financeira da empresa.
f. Relação com bancos: uma relação aberta e de longo prazo com os bancos pode resultar
em um certo nível de preferência e cooperação deles com a empresa. Geralmente os
bancos estão mais dispostos a emprestar para aqueles clientes em quem confiam.
Essa confiança é móvel, depende das condições financeiras e operacionais do negócio,
mas pode ser fortemente influenciada pela relação entre as partes.
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dos investimentos em instrumentos financeiros com benchmarks de mercado e teste
da aderência às políticas e controles estabelecidos pela alta administração da empresa.
Para melhor compreensão dos desafios enfrentados pela tesouraria, passa-se a analisar
alguns importantes conceitos que permeiam as atividades cotidianas do tesoureiro.
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1. CONCEITOS BÁSICOS
Ativos de alta liquidez são aqueles que podem ser convertidos em dinheiro com rapidez
e a um baixo custo. Esse é um conceito aplicável tanto para empresas, quanto para
indivíduos.
Suponha que você receba uma chamada extra em seu condomínio, no valor de 5 mil reais
e você tenha apenas 3 mil reais disponível na sua conta corrente. Você poderia facilmente
resgatar um investimento em caderneta de poupança, no valor de 2 mil reais. No entanto,
teria dificuldades para vender sua televisão de 55 polegadas, mesmo que essa tenha sido
adquirida há dois meses pelo valor de 2,5 mil reais. Esses ativos têm graus diferentes de
liquidez. A televisão usada não possui um mercado ativo fácil, demandando muitas vezes
uma venda por preço mais baixo que o esperado. Transformar a televisão em dinheiro
custa mais caro que o valor do próprio dinheiro aplicado, e, muitas vezes, essa operação
pode não se realizar ou demorar a se realizar, por isso não tem tanta liquidez.
Empresas possuem ativos (bens, direitos, caixa) com graus variados de liquidez. É comum
que recebíveis derivados de venda e estoques tenham razoável liquidez. Os estoques são
vendidos, os clientes pagam suas contas, e o dinheiro acaba nas mãos do tesoureiro.
Um ativo imobilizado, como um terreno ou uma sala comercial, pode apresentar pouca
liquidez. Pode ser difícil encontrar um comprador, negociar um preço justo e fechar um
negócio rapidamente.
Há outra diferença importante entre ativos mais e menos líquidos. Segundo Brealey,
Myers e Allen (2012), os bancos preferem confiar em empresas com ativos mais líquidos
pois os valores contábeis desses ativos são geralmente mais confiáveis que os valores
dos ativos menos líquidos. São comprados e vendidos em um intervalo de tempo menor,
resultando em um melhor nível de informação quanto aos preços de mercado.
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A característica de liquidez de determinados ativos não é fixa. Pelo contrário, momentos
de crise financeira oferecem ricos exemplos em que ativos até então líquidos perdem seu
mercado, tornando-se fundamentalmente ilíquidos. É o caso de um CDB em um Banco
que teve sua falência decretada.
Bancos e investidores preferem colocar seu dinheiro em empresas com alta liquidez. Esse
comportamento é compreensível, pois essas empresas apresentam melhores condições
de pagar suas dívidas, mesmo em circunstâncias negativas de mercado. Elas são menos
afetadas por variações de mercado e por isso tem mais chances de manter-se estáveis em
momentos de crise financeira.
Liquidez Corrente: Apresenta quanto a empresa possui no Ativo Circulante para cada R$
1,00 de Passivo Circulante.
Fórmula:
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
Liquidez Seca: Indica quanto a empresa possui de ativos de alta liquidez para cada R$
1,00 de Passivo Circulante
Fórmula:
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
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Liquidez Geral: Indica quanto a empresa possui no ativo circulante e realizável a longo
prazo para cada R$ 1,00 que possui de endividamento total.
Fórmula:
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧á𝑣𝑒𝑙 𝐴 𝐿𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝐸𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑎 𝐿𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜
Para todos estes indicadores de liquidez, a intuição principal é que quanto maior o
indicador, melhor a situação da empresa em função da existência de folga financeira.
Os indicadores estáticos de liquidez não refletem qualidade de desempenho da gestão,
pois são apurados em um determinado momento no tempo, mostrando uma fotografia
da situação financeira. Para avaliar desempenho, é necessário avaliar a evolução dos
indicadores ao longo do tempo, e a sua cuidadosa e ponderada comparação com os
indicadores de empresas comparáveis ou concorrentes.
Em sua tese de doutorado, Matias (1992) identificou que empresas que se tornaram
insolventes ou concordatárias em sua amostra de pesquisa possuíam índices de liquidez
(geral, corrente e seca) adequados ao padrão de mercado nos três anos que antecederam
o pedido de concordata. Essa constatação reforça o fato de que bons indicadores de
liquidez estática não necessariamente implicam em um baixo risco de insolvência.
Indicadores estáticos de liquidez ruins, no entanto, servem como alertas para os analistas,
e em conjunto com os indicadores dinâmicos de liquidez, tratados nos próximos capítulos,
e com uma análise da sensibilidade da empresa às condições de mercado, complementam
e melhoram a capacidade preditiva dos analistas quanto à situação financeira da empresa.
Também conhecido como Capital de Giro (CG), o Capital Circulante (CC) corresponde ao
ativo circulante de uma empresa, evidenciando o caixa e todos os bens e direitos que
a empresa espera transformar em caixa nos próximos doze meses. O CC expressa as
necessidades circulantes da empresa desde a aquisição de matérias primas até a venda
e o recebimento dos preços cobrados pelos produtos vendidos. Nesse ciclo, os lucros
auferidos nas vendas devem aumentar o ativo disponível, sendo reinvestidos no ciclo
produtivo, direcionados a investimentos de longo prazo ou distribuídos aos acionistas/
sócios.
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1.3 Capital Circulante Líquido (CCL)
Sinônimo de Capital de Giro Líquido (CGL), o Capital Circulante Líquido (CCL) indica a folga
de liquidez da empresa, sendo expresso pela seguinte fórmula:
Nos casos em que o CCL é positivo, a empresa dispõe de ativos líquidos em montante
suficiente para satisfazer suas obrigações de curto prazo. Caso seja negativo, há indicação
de que os passivos circulantes da empresa estão financiando não apenas o ciclo
operacional, representado pelo ativo circulante, mas também os ativos não correntes da
empresa. Em um cenário extremo, a empresa pode estar tomando empréstimos de curto
prazo para financiar ativos que gerarão retorno financeiro somente no longo prazo, o que
prejudica seu ciclo financeiro.
Para Assaf Neto (2010), essa posição de CCL negativo indica um aperto na liquidez da
empresa, principalmente ao observar-se que parte de suas dívidas vencerá em prazos
menores que o retorno das aplicações dos recursos. Exemplificando, adquirir uma máquina
que produzirá retorno positivo somente após cinco anos, e ter que pagá-la integralmente
em apenas um ano consumirá recursos reduzindo a liquidez da empresa.
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2. CAIXA X LUCROS
De acordo com o autor, despesas operacionais são aquelas que fornecem benefícios
e geram receitas apenas no período de reporte (matérias primas, custos de produção
vendida, despesas com vendas). Despesas de financiamento são aquelas que surgem
da utilização de capitais de terceiros como fonte de financiamento, sendo necessárias
para remunerar os provedores de capital. Já os desembolsos de capital, mesmo que
integralmente pagos em um determinado período, deverão gerar benefícios econômicos
ao longo de múltiplos períodos. A lógica de apropriação desses desembolsos ao resultado
é que se o bem estará em utilização por um período de X anos, gerará receitas em X anos.
O reconhecimento da despesa necessária para a geração dessas receitas também será
distribuído ao longo do tempo, para melhor refletir a utilização econômica do bem.
O lucro contábil de uma empresa depende da opinião dos agentes econômicos que o
reportam, e pode estar sujeito ao juízo crítico de auditores independentes e de órgãos
reguladores ou fiscalizadores. Consequentemente, o lucro pode ser considerado, do
ponto de vista financeiro, como uma medida menos confiável que a geração de caixa. Em
uma frase consagrada nos mercados financeiros, de autoria desconhecida, temos que o
lucro é uma questão de opinião, ao passo que o caixa gerado é um fato.
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Felizmente, em benefício da maior informação aos interessados (stakeholders), a geração
de caixa de uma empresa em um determinado período também é reportada obrigato-
riamente pelas empresas por meio da Demonstração dos Fluxos de Caixa. No mercado
de capitais brasileiro, tal obrigação surgiu com a harmonização das práticas contábeis
brasileiras aos princípios internacionais de reporte financeiro (IFRS), promovida pela Lei
nº 11.638 de 2007 e regulamentada pelos documentos emitidos pelo Comitê de Pronun-
ciamentos Contábeis (CPC) desde então.
Na Demonstração dos Fluxos de Caixa, inicialmente as variações nos fluxos de caixa são
segregadas em três categorias, (i) caixa gerado ou consumido nas atividades operacionais
da empresa, (ii) caixa gerado ou consumido nas atividades de financiamento (obtenção de
capitais) e (iii) caixa gerado ou consumido em atividades de investimento. Para maiores
detalhes, sugere-se a consulta ao Pronunciamento CPC 03 (R2) - Demonstração dos Fluxos
de Caixa.
Damodaran (2004) argumenta que há uma razão bastante direta para que os fluxos de caixa
sejam considerados superiores como medida de desempenho das empresas e negócios.
Segundo o autor, nenhum fornecedor aceitará lucros contábeis como pagamento por
bens vendidos e serviços prestados; todos exigem dinheiro, que são obtidos através da
geração de caixa. Projetos ou empresas com lucros contábeis mas com geração negativa
de fluxo de caixa não são sustentáveis por muito tempo, sendo necessário o equilíbrio
entre os lucros e a geração de caixa. Projetos ou empresas com prejuízo contábil, mas com
geração de caixa positiva podem se sustentar por mais tempo, pois a sua capacidade de
pagamento é reforçada a cada período. No entanto, em algum momento será necessário
gerar lucros, sob pena de não ser possível remunerar os acionistas via dividendos.
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3. CICLOS OPERACIONAIS
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Conforme evidenciado na Figura 1, o ciclo operacional total médio de uma empresa
industrial inicia no momento em que ocorre o recebimento dos materiais que serão in-
dustrializados, engloba o prazo médio em que os materiais permanecem estocados à
espera do início da produção (PMEMP), o prazo médio de fabricação do produto final
(PMF), o prazo médio em que o produto pronto permanece estocado à espera de ser
vendido aos consumidores (PMV) e o prazo médio em que a empresa recebe as vendas
realizadas a prazo. O ciclo econômico desconsidera o recebimento das vendas, levando
em consideração apenas a base de produção da empresa até o momento em que a venda
é concretizada. Já o ciclo financeiro capta o fluxo de caixa das operações, iniciando-se
no momento em que as matérias primas adquiridas são pagas aos fornecedores e
encerrando-se quando os recursos das vendas são finalmente recebidos. Consequente-
mente, o ciclo financeiro é igual ao ciclo operacional total subtraído do prazo médio de
pagamento de fornecedores.
Aqui cabe uma importante ressalva à utilização de prazos médios para fins da determinação
do ciclo financeiro. O gestor financeiro deve conhecer de forma profunda a distribuição
estatística das operações de compras e pagamentos, vendas e recebimentos de suas
empresas. Em alguns casos, a média pode esconder informações importantes. Uma
empresa que apresenta prazo médio de pagamento de fornecedores de 60 dias pode
pagar todos seus fornecedores em 60 dias ou metade de seus fornecedores à vista e
metade em 120 dias. Obviamente, o espaçamento temporal da necessidade de disponibi-
lidade de caixa será bastante diferente nos dois casos.
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Quadro 1: Índices Operacionais
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4. INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO NÃO MONETÁRIO
A definição simples de capital de giro líquido, como a diferença entre ativos circulantes e
passivos circulantes é muito ampla para que seja possível medir a influência do capital de
giro nos fluxos de caixa das empresas.
Damodaran (2004) propõe dois ajustes para tornar essa medida mais útil. Inicialmente,
o autor entende como inapropriado considerar dinheiro como parte do capital de giro,
pois o dinheiro pode ser mantido por razões além da simples necessidade do dia a dia.
O dinheiro pode ser mantido por empresas que pretendem investir em projetos futuros
que possam ser identificados por sua administração ou como rede de segurança para o
caso de momentos difíceis. Também temos que considerar que o dinheiro geralmente
é aplicado, rendendo juros conforme as condições de mercado, não tendo custo de
oportunidade intrínseco. Recursos aplicados em estoques e contas a receber, por outro
lado, tem custo de oportunidade, pois poderiam estar aplicados em outras alternativas,
como em maquinário produtivo.
O segundo ajuste proposto por Damodaran (2004, p 328) é retirar do capital de giro todos
os passivos circulantes com incidência de juros. Assim retira-se do cálculo do capital de
giro o componente de curto prazo de dívidas tomadas em prazo longo, separando-se os
passivos assumidos na atividade operacional da empresa das suas fontes de financiamento
propriamente ditas.
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5. NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO
A necessidade de capital de giro de uma empresa é derivada diretamente do número de
produtos fabricados e vendidos e do seu ciclo financeiro. Em momentos de crescimento de
vendas, espera-se que aumente a necessidade de manutenção de produtos em estoque.
Se a empresa vende a prazo, quanto maiores as vendas, maior o aumento esperado em
duplicatas a receber. O ciclo operacional da empresa resulta em uma necessidade de
investimento em capital de giro.
A NCG aumenta quando ocorre aumento nos estoques e nos recebíveis de clientes ou
com a redução dos fornecedores e contas a pagar (salários, contribuições sociais, etc.). Ter
necessidade de capital de giro é algo usual, não representa uma situação negativa para a
empresa, desde que ela tenha acesso a fontes de financiamento a um custo adequado e
em tempo hábil para financiar sua necessidade.
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Quadro 2
Caixa e equiva-
37.172 27.628 Fornecedores 27.922 24.775
lentes de caixa
Títulos e valores
9.101 21.316 Financiamentos 18.744 15.283
mobiliários
Imposto de renda e
Estoques 33.324 29.736 659 704
contribuição social
Imposto de
Impostos e contribui-
renda e contri- 2.484 2.989 10.938 11.818
ções
buição social
Impostos e Dividendos
9.162 8.398 9.301 6.154
contribuições propostos
Salários, férias,
Adiantamento a
1.600 1.895 encargos e participa- 4.806 4.420
fornecedores
ções
Outras contas e
5.691 4.820
despesas a pagar
Fonte: Adaptado pelo professor a partir das demonstrações contábeis da Petrobrás em 2013,
disponíveis em: http://investidorpetrobras.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A-
78D68443E2C48901454D76963A272E.
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Quadro 3
Quadro 4
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MBA em Controladoria e Finanças
Descrição 2013 2012
Verifica-se no Quadro 4 que os passivos operacionais financiam apenas parte dos ativos
operacionais. Como podemos presumir que esses ativos operacionais são fundamentais
para o ciclo operacional da companhia, é necessário que eles sejam financiados por
capitais de terceiros, sujeitos a custo financeiro, ou por capitais próprios, sujeitos ao custo
de oportunidade dos acionistas. A decisão de financiamento das operações terá impacto
direto nos fluxos de caixa projetados da companhia, pois resultará em despesas financeiras
ou na geração de expectativa de dividendos mais elevados por parte dos acionistas.
Destaca-se que a função da tesouraria vai muito além de mensurar a necessidade presente
de capital de giro. Conforme destacado nos parágrafos anteriores, a administração dos
componentes do capital de giro resulta em impactos diretos no caixa das empresas,
portanto deve ser considerada pela tesouraria na elaboração do orçamento de caixa da
empresa.
É usual que os componentes do capital de giro sejam projetados das seguintes formas:
b. estimar a demanda por capital de giro como uma função do montante de custos e
despesas operacionais;
É usual que a receita de vendas tenha um maior impacto nos níveis de recebíveis. Os
níveis de estoques, no entanto, podem ter uma relação mais próxima com os níveis de
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despesas operacionais e custos. Consequentemente, as projeções de cada componente
do capital de giro podem ser associadas a diferentes formas de estimação, de modo a
aumentar o poder preditivo das projeções.
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6. NÍVEL ÓTIMO DE CAPITAL DE GIRO
Não se pode, contudo, trabalhar com um objetivo imutável de reduzir os níveis de capital
de giro ao mínimo. Há circunstâncias nas quais o aumento de capital de giro é necessário
e justificável. É o caso dos ciclos de expansão de atividades. Segundo Damodaran (2004),
as empresas mantêm estoques e permitem que os clientes comprem a crédito para que
possam atender às necessidades dos clientes no tempo devido, diminuindo as chances de
que os clientes procurem obter os produtos que demandam em outros vendedores. No
mesmo sentido, a política de concessão de crédito comercial aos clientes é necessária para
que clientes sem condições financeiras para compra à vista possam comprar, evitando
que vendas sejam perdidas.
As decisões quanto ao nível de capital de giro, tais como o tamanho dos estoques e o
nível de exigência adotado no processo de concessão de crédito devem ser ponderadas.
Um capital de giro maior pode resultar em menos caixa de imediato, mas pode ser
consequência de uma expansão nas atividades com o objetivo de aumentar os lucros,
que serão transformados em fluxo de caixa em um momento futuro.
Ao avaliar os ganhos de caixa imediatos pela redução nos níveis de capital de giro, temos
que medir a extensão em que essa redução de capital de giro afetará as receitas e o
crescimento da empresa. Dada a dificuldade de estimar o tamanho dos efeitos que as
variações no capital de giro podem gerar nas operações, as empresas utilizam métodos
simplificados para estimar o capital de giro ótimo, tais como a padronização dos índices
de capital de giro a partir de empresas ou negócios comparáveis que operam na mesma
linha de negócios (DAMODARAN, 2004).
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A agregação de empresas comparáveis e a determinação de padrões setoriais oferece
alguns argumentos bastante razoáveis para a definição de um nível ótimo de capital de
giro. O primeiro argumento é que o processo de agregação diluirá erros que empresas
isoladas cometem na sua gestão de capital de giro, resultando em uma média que
fornece uma visão sem viés dos níveis ideais de capital de giro. O segundo argumento
é que investidores, agências de pesquisa e de classificação de investimentos realizam
comparações entre empresas e seus setores, podendo penalizar ou questionar empresas
que apresentem níveis de capital de giro muito diferentes dos do seu setor.
Quadro 5
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Os índices de necessidade de capital de giro variam significativamente de setor para
setor. Da mesma forma, empresas em países diferentes, mesmo que em um mesmo
setor, tendem a apresentar significativa variabilidade nos níveis de capital de giro. É o
que se verifica nos dados divulgados por Damodaran (2014). No Quadro 6, apresenta-se a
comparação para fins ilustrativos de alguns importantes setores da economia.
Quadro 6
Fonte: Preparado pelo professor a partir de dados divulgados por Damodaran (2014)
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os níveis dos componentes do ativo operacional e do passivo operacional. Uma avaliação
criteriosa, criticando práticas históricas consolidadas na empresa e propondo a avaliação
técnica da efetividade dessas práticas e de alternativas pode resultar em melhores
resultados econômicos e financeiros, além de resultar em um aumento do conhecimento
acerca dos complexos componentes que afetam o ciclo operacional da empresa.
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7. FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO
Por outro lado, há diversas linhas de crédito de curto prazo específicas para setores da
economia, muitas vezes também contando com subsídio governamental. Um exemplo
importante de linha de curto prazo para financiamento de capital de giro é o dos
Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) (FORTUNA, 2010). Essa linha de crédito conta
com taxas de juros muito atrativas e inferiores às taxas de mercado. Nessa modalidade, os
exportadores tomam recursos para financiar o capital de giro necessário para exportar.
A preferência pela captação de recursos de curto prazo, quando esses são mais baratos
que os de longo prazo, para financiamento das necessidades de capital de giro das
empresas resulta em dois efeitos conflitantes. O primeiro deles é a possibilidade de
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obtenção de lucros maiores, como consequência de juros menores associados à tomada
de crédito no curto prazo. O segundo é o aumento do risco geral da empresa para o
acionista e para os credores (inclusive as instituições financeiras que emprestam para a
empresa) em função da maior sensibilidade das taxas de juro de curto prazo às alterações
de conjuntura econômica e da necessidade de constante renovação dos empréstimos
de curto prazo. Assim, a empresa que financia sua NCG primariamente utilizando-se de
recursos de curto prazo terá maiores problemas quando ocorrerem aumentos nas taxas
de juros de mercado, e estará muito mais exposta a momentos de escassez de crédito no
mercado.
Brealey, Myers e Allen (2012) afirmam que não há uma teoria convincente para responder
qual o nível ideal de distribuição de fontes de financiamento entre curto e longo prazo,
mas há evidências empíricas de que os gestores financeiros tentam manter correspon-
dência de prazos de maturidade (maturity) dos ativos e passivos, sendo essa maturidade
o principal fator que determina as decisões tomadas por esses gestores no que se refere
à distribuição temporal do endividamento.
Assaf Neto (2010) propõe duas abordagens para o financiamento do capital de giro, quais
sejam a abordagem pelo equilíbrio tradicional e abordagem de risco mínimo.
A abordagem de risco mínimo é teoricamente mais simples, mas de difícil execução prática
no caso de empresas que utilizam endividamento bancário como fonte de financiamento.
Sob essa abordagem, tanto o capital de giro permanente, que se repete periodicamente
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em função das atividades normais de uma empresa, quanto o capital de giro sazonal,
representado por variações temporárias nos negócios, são integralmente financiados por
recursos de longo prazo.
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No entanto, destaca-se que a acumulação permanente de caixa pode ser prejudicial aos
acionistas da companhia, tendo em vista que esses acionistas desejam receber dividendos
em algum momento e que a existência de saldos elevados de caixa está associada a
conflitos de agência, decorrentes da separação entre a propriedade da empresa (sócios) e
a administração (diretores profissionais).
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MBA em Controladoria e Finanças
8. EFEITO TESOURA
A Área 1 da Figura 2 representa o período em que o CGL é maior do que a NCG. Como
consequência, a NCG é financiada por origens de recurso de longo prazo. A partir do
ponto central da tesoura, a NCG e o CGL se cruzam e assumem tendências opostas. Na
Área 2 a NCG cresce muito mais que o CGL, tornando os saldos de tesouraria cada vez
mais negativos.
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MBA em Controladoria e Finanças
O efeito tesoura foi proposto por Fleuriet, Kehdy e Blanc (1978). Os autores desenvolveram
um modelo para análise das dinâmicas do saldo de tesouraria para reconhecer e analisar
em profundidade os riscos decorrentes de fraquezas estruturais nas demonstrações
contábeis das empresas. De acordo com Fleuriet (2005), a NCG expande quando as vendas
aumentam e diminui quando as vendas diminuem, sendo crítica para a performance
financeira da empresa a forma adotada para satisfazer as necessidades crescentes de
capital de giro. Se o capital circulante líquido da empresa não cobre a NCG crescente, a
empresa comumente recorre a endividamento de curto prazo, resultando em um saldo
negativo de tesouraria e um ciclo negativo de aumento do custo de captação.
Para Matias (2014), há casos em que empresas podem utilizar o efeito tesoura em uma
situação de alavancagem financeira, captando a um custo financeiro menor do que o
retorno obtido pelo capital de giro. Se a empresa tomar empréstimos bancários a 2%
ao mês e 4% ao mês sobre vendas a prazo, estará obtendo um spread que resultará em
maior lucratividade. O efeito tesoura não é sempre prejudicial para a condição econômica
da empresa, que pode manter-se lucrativa. No entanto, considerando que o efeito
tesoura leva a uma espiral negativa em termos de liquidez e capacidade de pagamento,
espera-se que não seja possível manter-se lucrativo no longo prazo quando a NCG é cada
vez maior que o CGL e o saldo de tesouraria é negativo. Nesse caso, temos a ocorrência
de overtrading, nomenclatura dada ao ato de conduzir negócios além da capacidade de
financiamento da NCG decorrente desses negócios, impossibilitando o financiamento do
efeito tesoura.
Quadro 7
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MBA em Controladoria e Finanças
Aplicações Financeiras - 7.972 17.380
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MBA em Controladoria e Finanças
(-) PO 257.784 214.873 203.005
Fonte: Elaborado pelo professor a partir das demonstrações contábeis da Bombril S.A 2.
Figura 3
Quais atitudes dos gestores poderiam resolver o problema de uma empresa que se
encontra em situação semelhante à representada na Figura 3? A ação dos gestores pode
ser focada em duas áreas. A solução mais direta seria o aumento do CGL para fazer frente
2 http://www.mzweb.com.br/bombril/web/download_arquivos.asp?id_arquivo=43E956E7-69A1-407C-A-
6D0-095DB883B188, acesso em 06 de novembro de 2014
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à crescente NCG. Para tanto, a empresa deveria captar recursos de longo prazo com seus
sócios ou no mercado financeiro. Não se trata, contudo, de solução simples. Empresas
altamente endividadas sofrem com os chamados custos de falência (Brealey, Myers e
Allen, 2011).
Outra alternativa para conter ou reverter o efeito tesoura é a redução da NCG mediante
revisão das políticas de administração dos seus componentes. Reduzir os saldos de
estoques por meio de uma administração mais eficiente, melhorar o ciclo financeiro
negociando melhores condições de pagamento de seus fornecedores, e reduzir o ciclo de
recebimento de vendas a prazo, são medidas que podem reverter a tendência negativa
do efeito tesoura. Essa alternativa nem sempre é viável, pois depende de condições
mercadológicas e da credibilidade da empresa perante seus clientes e fornecedores.
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9. INDICADORES DINÂMICOS DE LIQUIDEZ
Quadro 8
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MBA em Controladoria e Finanças
É importante ressaltar também que a análise de liquidez não deve se resumir a indicadores
baseados em saldos contábeis. É fundamental conhecer a fundo os prazos de recebimento
e pagamento que afetarão o caixa da empresa de modo a garantir a existência de caixa
sempre que preciso, ao melhor custo possível. Trataremos desse tópico em uma seção
específica sobre orçamento de caixa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desafios enfrentados pela área de gestão de tesouraria são bastante complexos. Existe
uma evidente correlação entre o desempenho operacional da empresa e a necessidade de
garantir a existência de caixa nos momentos apropriados ao menor custo possível. Con-
sequentemente, a tesouraria e as demais áreas da gestão da empresa devem trabalhar
em harmonia, conhecendo os impactos que suas decisões acarretam no desempenho da
empresa e otimizando os fluxos financeiros, com o objetivo final de proteger e entregar
valor aos acionistas.
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MBA em Controladoria e Finanças
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 5a edição. São Paulo: Atlas, 2010.
BAUMOL, William. The transaction demand for cash: an inventory theoretic approach.
Quarterly Journal of Economics, Vol. LXVI, No. 4. Novembro, 1952.
BRAGG, Steven. Treasury Management: The Practitioner’s Guide. John Wiley & Sons, Inc.
New Jersey, 2010.
Project Management Journal, vol. 37, no. 3, August 2006, pp. 5-15
FORTUNA, E. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 18a ed. Rev. E atual. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2010.
GRAHAM, J e HARVEY, C (2001) The theory and practice of corporate finance: evidence
from the field. Journal of Financial Economics. Volume 60, Issues 2–3, May 2001, Pages
187–243
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KAHNEMAN, D. Thinking, fast and slow. New York: Farrar, Strauss, and Giroux, 2011.
MILLER, M.; ORR, D. A model of the demand for money by firms. The Quarterly Journal of
Economics, 81, 413-435, 1966.
SHARPE, William Forsyth. Capital asset prices: a theory of market equilibrium under
conditions of risk. Journal of Finance, [S.l.]: v. 19, p. 425-442, sep. 1964.
40
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PARTE II
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INTRODUÇÃO
De acordo com Assaf Neto (2010), a falta de sincronização entre os recebimentos de clientes
e os pagamentos a fornecedores é que determina a demanda por caixa das empresas, ao
lado da precaução necessária para fazer frente a despesas ou gastos extraordinários.
Para ambos os casos, quanto maior a sobra de caixa, maior a margem de segurança
financeira ao dispor da empresa. E, quanto maior a facilidade de captação de recursos de
uma empresa para fazer frente às demandas inesperadas, menor a necessidade dessa
margem de segurança.
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1. MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA
Assaf Neto (2010) propõe uma métrica simples para aferir o saldo mínimo de caixa a ser
mantido pela empresa, que consiste na aplicação da seguinte fórmula:
Supondo que o ciclo financeiro de uma determinada empresa seja de 120 dias (quatro
meses), seu caixa girará três vezes em um determinado ano. Assumindo uma expectativa
de desembolsos totais de caixa em um determinado ano no montante de R$ 2,1 milhões,
temos que o saldo mínimo de caixa será equivalente a R$ 2,1 milhões dividido por 3. Como
consequência, se a empresa iniciar o ano com R$ 700 mil em caixa, deverá ter condições
de suportar seu ciclo financeiro integralmente sem a necessidade de novas captações de
recursos ao longo do período.
Destaca-se que este modelo apresenta limitações importantes, pois pressupõe fluxos de
caixa uniformes ao longo do período. Assim, caso a empresa tenha previsão de gastos
maiores no primeiro semestre em comparação ao segundo semestre, o saldo mínimo
pode mostrar-se insuficiente no primeiro semestre e excessivo no segundo. Da mesma
forma, efeitos inflacionários devem ser levados em consideração, e os ajustes apropriados
devem ser refletidos nas projeções de caixa mínimo. Finalmente, não há no modelo
simplificado qualquer consideração quanto à incerteza inerente às projeções de caixa.
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Figura 4
Fonte: Adaptado pelo professor a partir de Matias (2014) e Famá e Grava (2000).
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A cada reposição de caixa, realizada pelo resgate de aplicações financeiras em valor Q,
a empresa repõe seu caixa. Deve existir um valor ótimo de reposição de caixa (C*) para
o qual a remuneração e os custos de transação das aplicações financeiras se igualam.
Baumol chegou à conclusão de que esse valor ótimo é igual a:
Esse modelo apresenta limitações consideráveis. Assaf Neto (2010) destaca que o modelo
pressupõe a certeza quanto à distribuição temporal dos fluxos de caixa, não sendo uma
boa aproximação da realidade em empresas que estão sujeitas a incertezas de caixa e a
variações sazonais.
Famá e Grava (2000) afirmam que os problemas de imprecisão do modelo são maiores
em períodos de taxas de juros mais elevadas, exatamente quando a otimização do caixa
é mais necessária, em função da não uniformidade dos desembolsos ao longo do tempo.
A lógica desse modelo é que acima do limite máximo de caixa, o custo de manter recursos
parados e não aplicados rendendo juros torna-se ilógico ou antieconômico. Abaixo do
limite mínimo, no entanto, manter tão pouco caixa é arriscado, podendo afetar o ciclo
operacional da empresa. Assim, decisões de aplicação e resgate de aplicações financeiras
somente são efetivadas quando o caixa atinge os limites ótimo superior e inferior, respec-
tivamente. Dentro desses limites, o caixa pode variar aleatoriamente.
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O primeiro passo para utilização do modelo de Miller e Orr é a determinação do saldo
de caixa mínimo, que pode assumir valor zero ou pode ser baseada na experiência do
tesoureiro quando às necessidades mínimas. O segundo passo é estimar a variância
diária do saldo de caixa, o que pode ser feito com o exame do comportamento histórico
do caixa da empresa.
∗
3 0,75𝑏𝛿 2
𝑧 =𝑚+
𝑖
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Figura 5
De acordo com Famá e Grava (2000), a adoção do modelo de Miller e Orr não apresentou
superioridade empírica aos resultados de uma gestão de caixa baseada em regras simples
derivadas da experiência dos gestores financeiros.
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caixa futuros, taxas de juros e outros fatores que podem resultar em desafios à gestão de
caixa (Brealey, Myers e Allen, 2012).
É importante lembrar da clássica sentença proferida por Box e Draper (1987) que
afirmaram que essencialmente todos os modelos são errados, mas alguns são úteis. Nas
circunstâncias apropriadas, tanto o modelo de Baumol (1952) quanto o modelo de Miller
e Orr (1966) podem ser úteis.
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2. ORÇAMENTO DE CAIXA
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d. gastos de capital: compra de maquinário, obras civis, aquisição de participações
societárias, terrenos, etc.
Para situações nas quais a empresa trabalha com o mínimo necessário de caixa, projeções
diárias são recomendáveis, pois permitem à tesouraria assegurar a suficiência de fundos
no dia-a-dia das operações.
A tesouraria deve considerar o impacto das projeções nos indicadores de liquidez, pois
a deterioração desses índices afetará a capacidade de crédito da empresa. No mesmo
sentido, cenários de redução de estoques e alongamento do prazo de pagamento de
fornecedores podem ser avaliados de modo a otimizar a gestão de caixa.
Estimativas de caixa somente são úteis quando podem descrever com razoável
confiabilidade o comportamento futuro dos fluxos de caixa. A principal ferramenta para
melhorar a confiabilidade dessa estimativa é a comparação contínua das projeções com
os resultados efetivos, corrigindo o sistema de elaboração de projeções para garantir a
melhora constante das projeções futuras.
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de vendas pode realizar estimativas conservadoras para não ser cobrado no caso do não
atingimento das projeções, o que prejudicaria a qualidade da estimativa.
Os orçamentos de caixa podem ter como base o desempenho dos fluxos de entradas e
saídas em períodos anteriores. Alternativamente, podem ser elaborados em base zero,
método pelo qual todos os elementos de entradas e saídas são avaliados cuidadosamente
pelos responsáveis operacionais a fim de se estabelecer a melhor estimativa possível. A
elaboração de um orçamento de caixa em base zero está diretamente ligada ao processo
de elaboração de orçamento de resultados também em base zero, a qual pode ser uma
importante ferramenta para a revisão da necessidade e importância de desembolsos com
o objetivo de obtenção de redução de custos.
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3. CONCENTRAÇÃO DE CAIXA
Empresas que possuem diversas filiais podem operar com múltiplas contas bancárias em
cidades e estados diferentes. A gestão dessas contas correntes pode ser um exercício
bastante complexo dificultando a otimização dos fluxos de caixa. O tesoureiro deve
direcionar recursos entre as contas para evitar dinheiro acumulado sem render juros ou a
tomada desnecessária de empréstimos bancários quando há recursos disponíveis dentro
da mesma empresa.
Para minimizar esses problemas e permitir uma gestão mais eficiente de caixa, Bragg
(2010) sugere a centralização do caixa, por meio da utilização de uma conta corrente
principal pela empresa para os principais recebimentos e pagamentos, deixando nas
unidades operacionais apenas o saldo mínimo para pequenos pagamentos.
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4. CAIXA, INVESTIMENTOS DE LIQUIDEZ IMEDIATA E
INVESTIMENTOS EM TÍTULOS DE RISCO
Damodaran (2004) apresenta três situações nas quais um grande saldo de caixa e
equivalentes de caixa podem afetar negativamente o valor da empresa, prejudicando os
acionistas:
a. os recursos são investidos a taxas abaixo do mercado, fazendo com que o dinheiro
tenha um retorno menor que o mínimo exigido pelos acionistas para um investimento
com baixo ou nenhum risco;
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problema, uma empresa jamais deveria adquirir ativo imobilizado com pagamento
à vista quando é possível obter financiamento com taxas subsidiadas por meio do
BNDES.
Por outro lado, a acumulação de um grande saldo de caixa e equivalentes pode acrescentar
valor à empresa devido à segurança financeira que esse caixa representa. Investidores
naturalmente tendem a preferir empresas com menor risco de insolvência. Nos casos
em que as empresas têm a sua frente muitas oportunidades de investimento em novas
tecnologias e novos projetos, um saldo elevado de caixa dá ao mercado maior segurança
de que essas oportunidades serão aproveitadas. É o que se verifica no caso da Apple
Inc. (fabricante do iPhone, entre outros produtos), conforme evidenciado no quadro 9,
no qual é possível ver a evolução de alguns dados financeiros selecionados da empresa.
No período entre setembro de 2010 e setembro de 2014, o saldo de caixa à disposição
da empresa cresceu substancialmente. No mesmo período, as ações da empresa
apresentaram retorno cumulativo muito superior a índices de referência do mercado
de ações americano, sinalizando que os investidores não estão penalizando as ações da
empresa por conta da acumulação de caixa.
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Quadro 9
Lucro Líquido 14 26 42 37 40
3 http://files.shareholder.com/downloads/AAPL/3616327410x0x789040/ED3853DA-2E3F-448D-ADB-
4-34816C375F5D/2014_Form_10_K_As_Filed.PDF
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prazo, sendo a sua liquidação imediata mais difícil e custosa do que o que ocorreria com
investimentos de liquidez imediata.
A realização de investimentos em títulos de risco pode ser utilizada como meio para
aumento no retorno sobre o investimento dos acionistas, tendo em vista a expectativa
de retornos mais elevados associados ao maior risco. Investir em títulos corporativos
(debentures, CRA, etc.) deve produzir uma taxa de juros mais elevada do que a aquisição
de títulos públicos. No caso da Apple Inc., mais de 60% das aplicações em títulos de longo
prazo são aplicações em títulos de dívida corporativa, característicos do mercado de
capitais norte-americanos.
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5. MÉTRICAS DE AVALIAÇÃO DE TESOURARIA
Dadas as particularidades das funções da tesouraria, não faz sentido medir a efetividade
desse departamento por métricas aplicáveis à indústria e aos serviços. O lucro líquido
ou o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (LAJIDA, ou em língua
inglesa, EBITDA) não captam a eficiência e eficácia dos resultados da função tesouraria.
Com essa segregação, pode-se também calcular o retorno ajustado para o risco, ou retorno
anormal. Para tanto, é necessário que se defina o retorno esperado para cada classe de
ativo no qual a empresa investe. Essa definição depende de um modelo econômico de
expectativa de retornos, como é o caso do Modelo CAPM, proposto por Sharpe (1964).
A segunda métrica sugerida por Bragg (2010) chama-se percentual de uso da base de
empréstimos, e monitora o total de recursos que a empresa poderia potencialmente
tomar emprestado com base na porção de seus ativos que não é usada como garantia
para empréstimos existentes. Essa métrica permite ao tesoureiro controlar com bastante
rapidez a capacidade da empresa de tomar recursos emprestados. A fórmula dessa
métrica é a seguinte:
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𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑒𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑏𝑎𝑛𝑐á𝑟𝑖𝑜 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑥 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑔𝑎𝑟𝑎𝑛𝑡𝑖𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏í𝑣𝑒𝑖𝑠
+
(𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑥 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑔𝑎𝑟𝑎𝑛𝑡𝑖𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠)
A terceira métrica proposta por Bragg (2010) é a qualidade das previsões de caixa
elaboradas pela tesouraria, comparando-se o fluxo de caixa orçado com o fluxo de caixa
realizado. No entanto, essa métrica pode penalizar a análise do desempenho da tesouraria
em função de aspectos que não estão sob seu controle, tais como o comportamento das
vendas e os níveis de despesas operacionais e custos. Nesse particular, uma alternativa
seria a utilização de um orçamento flexível de caixa paralelamente ao orçamento nominal
de caixa. A previsão da variação das expectativas de caixa em decorrência de variação em
níveis de atividade pode constituir uma importante ferramenta para a tesouraria.
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Há ainda um conjunto de métricas para a determinação do valor gerado nas atividades de
tesouraria, descritas em detalhe por Matias (2014) em seu capítulo 6 - Gestão do Valor no
Capital de Giro. Essas métricas, de razoável complexidade, decorrem do objetivo básico
da função tesouraria, que é maximizar a geração de retorno no investimento de caixa e
minimizar os custos de captação de recursos, obtendo o maior spread financeiro possível.
O principal indicador de geração de valor da função tesouraria apresentado por Matias
(2014) pode ser expresso da seguinte forma:
Sendo:
O cálculo acima demanda a análise detalhada dos retornos dos diversos componentes
dos ativos circulantes financeiros, que podem apresentar bastante variação em função
dos prazos e perfis de risco. Em um exemplo simples, considere uma empresa que investe
100% de seu ativo circulante financeiro, no montante de R$ 100 mil, em uma aplicação
que rende 20% ao ano. O custo de captação da tesouraria advém integralmente de
empréstimos de curto prazo, com custo de 18% a.a. A alíquota de impostos sobre lucro é
de 34%. Temos o seguinte resultado:
Um valor negativo do indicador VGT pode ser aceitável e até esperado tendo em vista as
condições financeiras da empresa. A necessidade de obtenção de recursos no mercado
financeiro pode impor um custo médio de captação muito superior ao rendimento que
seria possível obter em aplicações financeiras. Soma-se a isso o fato de que investimentos
de baixo risco são preferíveis aos de risco mais elevado sob a ótica da tesouraria, pois
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apresentam uma probabilidade maior de garantir que a empresa terá caixa para satisfazer
suas necessidades em momento futuro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa unidade, tratamos de problemas reais enfrentados pelas empresas no que se refere
à gestão de caixa. A realidade empresarial muitas vezes impõe condições de restrição
financeira. Essas condições demandam criatividade e capacidade de adaptação por parte
da tesouraria, que deve atuar sempre com o objetivo de garantir a disponibilidade do
caixa necessário às necessidades da empresa, ao menor custo e no tempo certo.
Naturalmente, fazer com que esse caixa se comporte como esperado demanda uma
grande integração com todas as áreas da empresa. Por conta dessa demanda, é muito
salutar que exista uma compreensão mútua entre a tesouraria e as demais áreas da
empresa, pois todas as decisões operacionais em algum momento gerarão impactos de
caixa.
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REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 5a edição. São Paulo: Atlas, 2010.
BAUMOL, William. The transaction demand for cash: an inventory theoretic approach.
Quarterly Journal of Economics, Vol. LXVI, No. 4. Novembro, 1952.
BRAGG, Steven. Treasury Management: The Practitioner’s Guide. John Wiley & Sons, Inc.
New Jersey, 2010.
Project Management Journal, vol. 37, no. 3, August 2006, pp. 5-15
FORTUNA, E. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 18a ed. Rev. E atual. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2010.
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MILLER, M.; ORR, D. A model of the demand for money by firms. The Quarterly Journal of
Economics, 81, 413-435, 1966.
SHARPE, William Forsyth. Capital asset prices: a theory of market equilibrium under
conditions of risk. Journal of Finance, [S.l.]: v. 19, p. 425-442, sep. 1964.
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