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PUC MINAS

Antropologia e ethos renascentista

Rogério Jolins Martins


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16/11/2021
Bacon - 1561-1626
Antropologia e ethos renascentista
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Francis Bacon = “Fé na Ciência”: critica o pensamento


filosófico anterior que tão pouco proveito trouxe para a
vida humana. Os filósofos antigos não deram devida
atenção à natureza, que deve ser ouvida e interpretada.

O conhecimento científico tem por finalidade servir o


homem e dar-lhe poder sobre a natureza. Desse modo,
a “ciência é poder”, e deve ser superada toda visão de
ciência (filosofia escolástica) sem vínculo com a vida
prática, pois é concebida como estéril e sem nenhum
resultado prático para a vida do homem.

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“Saber é Poder”

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Tarefa da Filosofia: Esse novo conhecimento (prático)


somente será alcançado através da eliminação e
purificação de uma série de preconceitos, ilusões ou
supertições que Bacon denominou de ídolos.

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Teoria dos ídolos
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1) Ídolos da tribo – recebe esse nome porque a família


humana, tribo, se dirige de forma inadequada sobre a
natureza. A ação humana é influenciada pelo afeto e
pelas vontades humanas que corrompem a ciência;

2) Ídolos da caverna – cada pessoa possui sua própria


caverna particular, que interpreta e distorce a luz da
natureza. Recordando a Alegoria da Caverna, cada
pessoa, no interior de sua caverna, tem sua crença,
sua verdade particular como única e indiscutível.

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3) Ídolos do foro – trata-se dos ídolos do mercado, da


feira, do contexto, das relações que os homens
estabelecem entre si. A comunicação acontece
mediante palavras, convenções que acabam
atrapalhando e perturbando o intelecto na busca da
verdade;
4) Ídolos do teatro – não proporcionam um retrato fiel do
Universo. Penetram no espírito humano por causa das
péssimas regras de demonstração e devido às
falaciosas doutrinas filosóficas pouco fundamentadas.
Bacon se refere aos dogmas (fábulas, falácias...).

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 Para combater os erros, Bacon


desenvolveu as etapas do método
indutivo de investigação:
1. Observação da natureza para a
coleta de informações.
2. Organização racional dos dados
recolhidos empiricamente.
3. Formulação de explicações gerais
(hipóteses) para compreender os
fenômenos estudados.
4. Comprovação da Hipótese
formulada mediante
experimentações repetidas, em
novas circunstâncias.
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Grotius - 1583-1645

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Hugo Grotius – Para a convivência humana, os homens


têm como fundamentos a razão e a natureza, que
coincidem entre si.

Por isso, o “direito natural” traz em sua raiz um


fundamento racional e natural, ou seja, traz a marca da
estabilidade e da imutabilidade: os princípios do direito
natural seriam válidos mesmo que se quisesse supor que
Deus não existisse, pois o que é perfeito não muda.

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Tem-se assim, a passagem para o jusnaturalismo – doutrina segundo


a qual há uma lei inata a todo homem (direito natural),
reconhecendo em cada indivíduo a existência de direitos naturais.
Este direito natural tem validade em si mesmo.

Este direito é anterior e superior ao direito positivo (humano) e, em


caso de conflito, é ele que deve prevalecer.

O jusnaturalismo é bem diferente do atual positivismo jurídico, para


o qual só há um direito, o estabelecido pelo Estado, cuja
validade independe de qualquer referência a valores éticos.
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O jusnaturalismo do séc XVII e XVIII reconheceu em cada


indivíduo a existência de direitos naturais, o que moldou
doutrinas políticas e éticas de tendência individualista e
liberais.

Em conformidade com o jusnaturalismo, a autoridade política


deve respeitar os direitos inatos do indivíduo, e o próprio
Estado deve ser concebido como uma livre criação dos
indivíduos, em busca da defesa dos seus direitos individuais.

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Séc XIX – enfraquecimento do jusnaturalismo (caiu em


descrédito). Nasce a ideia racional e liberal de leis e normas,
que se harmonizava com as tendências iluministas. Emerge o
juspositivismo como tentativa de superar os problemas da
metafísica do jusnaturalismo. Passa a ter valor somente as
orientações e construções da razão humana.

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Contudo, o jusnaturalismo ainda marca:

1. A Declaração da Independência dos Estados Unidos


da América;

2. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do


Cidadão (Rev. Francesa);

3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos.


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Thomas Hobbes -1588-1679
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O ser humano em seu estado natural, objetivando a sua preservação,


é individualista, egoísta e violento. Não poderá haver paz e
segurança enquanto perdurar o estado natural.

No estado natural não há espaço para o bem e o mal objetivos e,


portanto, para os valores morais.

Com efeito, o bem é aquilo para o qual tendemos e o mal aquilo do


qual fugimos; mas como alguns homens desejam algumas coisas e
outros desejam outras, e como alguns fogem de algumas coisas e
outros não, daí decorre que bem e mal é algo relativo - relativo à
pessoa, ao local, ao tempo e às circunstâncias.
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Não havendo valores absolutos, como é possível construir uma moral


e uma vida social? Como é possível a convivência dos homens em
sociedade?
O De Cive e o Leviatã

Não havendo valores absolutos não existe uma justiça e uma injustiça
naturais. Desse modo, os valores são frutos de convenções
estabelecidas pelos próprios homens. Desse modo, o egoísmo e o
convencionalismo são pontos-chaves para nova ética e política.

Liberdade e Igualdade → iguais para todos os seres humanos.

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“... na natureza do homem encontramos três causas


principais de discórdia. Primeiro, a competição;
segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória”.

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Nesta situação, como proceder para assegurar a paz?

O próprio homem reconhece a necessidade de renunciar o direito


natural, especialmente para garantir sua defesa. Isso será possível
somente por meio de um Pacto.

Em meio a relatividade de todos os bens encontramos um bem


primeiro e originário: a vida e sua conservação. O primeiro mal a
evitar é a morte.

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Não havendo limites impostos pela natureza, nasce, assim, a


predominância de uns sobre os outros = homo homini lupus.

Em decorrência disso, o Estado não é natural, mas artificial.

Leviatã = 19 regras fundamentais para a vida social:


1ª regra: ordena que o homem se esforce por buscar a paz;
2ª regra: impõe que se renuncie ao direito sobre tudo;
3ª regra: que se cumpram os acordos feitos, etc.

Em si mesmas as leis não bastam para constituir a sociedade. É preciso


um poder que obrigue os homens a respeitá-las. Portanto, é preciso que
todos os homens transfiram a um único homem (ou a uma assembleia)
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o poder de os governar.
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Esse pacto não é firmado pelos súditos com o


soberano, mas, sim, pelos próprios súditos. O
soberano fica fora do pacto, permanecendo
como único a manter todos os direitos
originários. O poder do soberano é indivisível e
absoluto.

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NICOLAU MAQUIAVEL
(1469-1527)
• Considerado o fundador do pensamento
político moderno.
• Idade Antiga: Política relacionada à
ética.
• Idade Média: acrescem-se os valores
cristãos.
• Havia na época de Maquiavel um
distanciamento entre o ideal de Política e a
sua realidade.
Ele escreveu O Príncipe (1513-1515).
Tratou da Política, tal qual ela se dá.
Procurou compreender e esclarecer a
Política real:
• Sempre há tensão entre
poderosos e povo. É ilusão o “bem
comum” para ambos.
• O poder político regula essas
tensões.
Chamamos pejorativamente de “maquiavélica” a
pessoa sem escrúpulos, traiçoeira, astuciosa, que, para
atingir seus fins, usa de má-fé (...). Como expressão dessa
conduta, costuma-se atribuir a Maquiavel, de maneira
descontextualizada, a famosa máxima: “Os fins justificam
os meios.
“Muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca
se viram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros.
Faz tanta diferença entre o como se vive e o modo por que
se deveria viver, que quem se preocupar com o que se
deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína
própria, do que o modo de se preservar;
e um homem que quiser fazer profissão de bondade é
natural que se arruíne entre tantos que são maus. Assim, é
necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a
poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso
segundo a necessidade.”

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Abril


Cultural, 1973. p. 69. (Coleção Os Pensadores)
Virtú

Significa “virtude”, no sentido grego de


força, valor, qualidade de lutador e
guerreiro viril. Príncipes de virtù são
governantes especiais, capazes de realizar
grandes obras e provocar mudanças na
história.
(p. 338)
Virtú

Não se trata, portanto, do príncipe virtuoso


conforme preceitos da moral cristã
(bondade e justiça, por exemplo), mas
daquele que tem a capacidade de
perceber o jogo de forças da política para
então agir com energia, a fim de conquistar
e manter o poder.
(p. 338)
Fortuna

Significa “ocasião”, “acaso”, “sorte”: Para agir


bem, o príncipe não deve deixar escapar a
ocasião oportuna. De nada adiantaria ser virtuoso,
se o príncipe não soubesse ser ousado, mas
precavido para aguardar a ocasião propícia,
aproveitando o acaso ou a sorte das circunstâncias,
como observador atento do curso da história.
Moral

A ação política não deve orientar-se por qualquer


hierarquia de valores dada a priori, como até então
era proposto na concepção grega do “bom
governante”. Ao contrário, a nova ética política
analisa as ações tendo em vista as consequências, ou
seja, os resultados que serão alcançados na busca do
bem comum.
Referências

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da


complexidade. Belo Horizonte: PAX; A vida é mais,
2010.

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