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FACULDADE DE ENGENHARIA, UNIVERSIDADE DO PORTO ESCAVACOES ESCORADAS EM MACICOS ARGILOSOS MOLES. UMA CONTRIBUIGAO PARA O SEU DIMENSIONAMENTO. Dissertagéo apresentada & Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, para a obtengao do Grew de Mestre em Estruturas de Engenharia Civil Eduardo Manuel Cabrita Fortunato Fevereiro 1994 INDICE GERAL INDICE GERAL RESUMO ABSTRACT AGRADECIMENTOS INDICE DE TEXTO SNDICE DE FIGURAS INDICE DE QUADROS SIMBOLOGIA CAPITULO 1 - CAPITULO 2 - CAPITULO 3 - CAPITULO 4 - CAPITULO 5 - CAPITULO 6 - INTRODUCAO ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO COMPORTAMENTO DE ESCAVACOES ESCORADAS EM SOLOS ARGILOSOS MOLES MODELO POR ELEMENTOS FINITOS APLICADO AUMA ESCAVACAO ESCORADA NUM MACICO ARGILOSO MOLE ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLO NUMERICO 1 ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLOS NUMERICOS 2 E 3 ANALISE DOS ESFORGOS MAXIMOS DE FLEXAO. NA CORTINA E SUA PREVISAO CONSIDERAGOES FINAIS REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANEXO 1 Pag. ii vii ix xiv xvii xxix 55 79 129 157 169 173 Al RESUMO O presente trabalho constitui uma andlise do comportamento de escavagdes suportadas por cortinas escoradas em solos argilosos de baixa resisténcia. No Capitulo 1 procede-se a uma breve abordagem ao problema, referindo-se 0 contexto em que so normalmente utilizadas as estruturas a estudar, assim como os problemas associados ao seu dimensionamento ¢ os requisitos a que estio sujeitas. So apresentadas, no Capitulo 2, algumas obras bem documentadas, através das quais & possivel apreender 0 comportamento global das estruturas de suporte escoradas em solos moles. Faz-se referéncia as pressbes de terras sobre a cortina, assim como & sua dependéncia em relagio estabilidade do fundo da escavacio, cuja andlise é apresentada por diferentes metodologias. Sao referidos resultados que evidenciam a dependéncia dos deslocamentos associados a0 proceso de escavagdo em relagio a diversas grandezas referentes as caracteristicas do macigo e da estrututra de suporte, sendo salientada a importancia da altura enterrada da parede. No Capitulo 3 feita referéncia geral ao método dos elementos finitos e as suas potencialidades. B apresentada a simulagdo numérica de uma escavag&o com um modelo por elementos finitos e so comentados os resultados obtidos, assim como algumas questées relacionadas com a modelagao do problema. Nos capitulos 4 e 5 desenvolvem-se diversos estudos paramétricos com 0 objective de avaliar a influgacia das caracteristicas mecanices e geométricas do macigo e da cortina no comportamento global. Discute-se a interacgo entre 0 macigo e a estrutura de suporte & analisam-se as redistribuigdes de tenses nela envolvides. Comparam-se os resultados dos céloulos com os valores previstos por métodos baseados em outras simulagdes numéricas ¢ em observagdes de obras. No Capitulo 6 comentam-se os esforgos de flexio na cortina, e comparam-se os valores fornecidos pelo modelo de cAlculo com os calculados por meio de métodos expeditos referidos na bibliografia, E proposta uma metodologia baseada em métodos simplificados que permite, em determinadas situag6es, proceder 4 estimativa do momento flector maximo em cortinas prolongadas até a um estrato profundo de melhores caracteristicas mecdnicas, Por tiltimo, séo feitas algumas consideragées gerais sobre o presente trabalho, salientadas as mais relevantes conclusées nele obtidas e apontadas algumas linhas de desenvolvimento futuro da investigacao no tema ABSTRACT In this work an analysis of braced excavations performance in soft clays is presented In Chapter 1 a brief description of the problem is given together with a reference to the conditions under which this type of structure is used, the problems met in their design and their functional demands. In Chapter 2 some well documented case histories are presented, facilitating the understanding of the behaviour of retaining structures in soft clays. A reference is made to earth pressures and their influence on the stability of the base of the excavation, the analysis of which is presented using different methodologies. Results show the dependence of displacements associated with the excavation process on the characteristics of the soil and the supporting structure. In Chapter 3 a general reference is made on finite element method of analysis and its potencials, The numerical simulation of the excavation using this method is presented and the results are commented upon together with some questions on the modelling technique used. In Chapters 4 and 5 parametric studies are performed in order to evaluate the influence of mechanical and geometrical characteristics of the soil and the supporting structure on the global behaviour. Soil-structure interaction is discussed and the resulting stress redistributions are analysed, The results are compared with others obtained in different numerical simulations and case studies In Chapter 6 the bending moments on the wall are commented and compared with values obtained using other different methods. A methodology based on simplified methods is suggested in order to estimate, in particular cases, the maximum bending moment in embeded walls extended to a deeper layer with better mechanical characteristics, Finally, some general considerations on the present work are made and some possible investigation proceedings related with this subject are suggested. AGRADECIMENTOS Deseja © autor expressar os seus mais sinceros agradecimentos a todas as pessoas € entidades que de algum modo contribuiram para a elaborago deste trabalho: - Ao Prof, Doutor Manuel Anténio de Matos Fernandes pela forma como conseguiu, durante a licenciatura, transmitir os conhecimentos da Mecénica dos Solos, pelo entusiasmo e empenho com que orientou este trabalho, pela quantidade e qualidade de ensinamentos transmitidos, pela amizade e disponibilidade demonstrada a cada momento; « Ao Prof, Doutor Anténio Silva Cardoso, pela disponibilidade em ceder 0 modelo de ciloulo utilizado, pelos esclarecimentos em relag&o 20 mesmo e pelos conhecimentos relativos A modelagao matematica dos problemas; - Ao Eng, Miguel Goncalves pelas valiosas trocas de impresso sobre 0 modelo de céleulo e pela cedéncia de alguns dos programas de caloulo automético utilizados; - Ao Eng. Alvaro Azevedo pelas diversas contribuigGes ao nivel da informatica; - A Junta Nacional de Investigagdo Cientifica e Tecnolégica, que através do Programa Ciéncia, permitiu a realizago deste trabalho; - Ao Chefe do Departamento de Geotecnia do Laboratério Nacional de Engenharia Civil, Eng. Maranha das Neves pelas facilidades que proporcionou, nomeadamente nos ultimos meses do trabalho; ~ Aos coleges ¢ amigos da Faculdade de Engenharia, com particular destaque para o Eng, David Pinto, pela sua amizade e pelas importantes trocas de conhecimentos a0 longo de varios anos; ~ Ao Eng, Tias Papadimitropoulos pela amizade e estimulo nos tlimos meses do trabalho; ~ A todos os funcionérios da secretaria da Secgdo de Estruturas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, pela disponibilidade permanente, - Ao St° Manuel Carvalho, pela prontidao e cuidado postos na execugao das figuras; Quer o autor por fim expressar 0 seu profundo agradecimento aos Pais, e de um modo especial Carmo pelo incentivo, contribuigo e compreenséo que sempre souberam demostrar. INDICE DO TEXTO CAPITULO 1 INTRODUCAO 1 CAPITULO 2 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO COMPORTAMENTO DE ESCAVACOES ESCORADAS EM SOLOS ARGILOSOS MOLES 2.1 -GENERALIDADES 2.1.1 - Introdug&o..... 2.1.2 - Escavagio Vaterland 1 (Oslo)...... 2.1.3 - Escavagio em Chicago (HDR-4)... 2.1.4 - Escavagio com paredes moldadas em Oslo... 2.1.5 - Sintese do comportamento de uma cortina escorada... 2.2 - IMPULSOS DE TERRAS SOBRE CORTINAS ESCORADAS 2.3 - ESTABILIDADE DA BASE DA ESCAVACAO. 2.3.1 = Introdugto 2.3.2 - Método de Terzaghi e suas generalizagoes... 2.3.3 - Método de Bjerrum e Eide ¢ suas generalizag6es... 2.3.4 - Método de Ehrlich . 2.3.5 - Método de O'Rourke para avaliar a contribuig&o da altura enterrada da, cortin 2.4 - DESLOCAMENTOS. Pag. 13 218 1) 21 oo 25 Eas 26 30 33 235) 40 indice do texto 2.4.1 - Introdugio... 2.4.2 - Influéncia dos parametros referentes a estrutura de suporte e 20 préprio macigo nos deslocamentos, nnn 2.4.3 - Previséo de deslocamentos... 2.5 - AIMPORTANCIA ESPECIAL DA ALTURA ENTERRADA DA CORTINA. 2.6 ~ CONCLUSAO. CAPITULO 3 MODELO POR ELEMENTOS FINITOS APLICADO A UMA ESCAVACAO ESCORADA NUM MACICO ARGILOSO MOLE 3.1 - INTRODUGAO 3.2 - METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (M.BF)...sssssssesono eon 3.2.1 - Descrig&o geral 3.2.2 - Fiabilidade do método....... 3.3 - CARACTERISTICAS GERAIS DO MODELO DE CALCULO UTILIZADO 3.4 - EXEMPLO NUMERICO. eo 3.4.1 - Caracteristicas da escavagio e da respectiva modelagio numérica 3.4.2 - Anélise de resultados 3.4.2.1 - Deslocamentos 3.4.2.2 - Niveis de tensfo n0 maCig0 .nroscenssstenese 3.4.2.3 - Presses de terras na cortina..... 3.4.2.4 - Esforgos axiais no escoramento 3.4.2.5 - Momentos flectores na cortina... 3.4.3 - Discussio de aspectos relacionados com a modelagdo do problema, 3.4.3.1 - Interface entre o macigo argiloso brando e o firme xii 40 42 AT 54 35 55 55 57 58 58 58 62 62 a 64 oo 64 69 70 72 72 indice do texto 3.4.3.2 - Condigées de fronteira da cortina.. esse seve TA 3.4.3.3 - Condigdes de convergéncia numérica.......:cssnneesnsteeteees 4 3.5 - CONCLUSAO....... 76 CAPITULO 4 ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLO NUMERICO 1 4.1- INTRODUGAO. oe 7 eovseeeeserersnssseenesensee 1D 4.2 - CARACTERISTICAS DA ESCAVACAO 1 43 - ANALISE DOS RESULTADOS........ : poeeeel 4.3.1 -Deslocamentos... 81 4.3.1.1 - Deslocamentos no plano da parede 81 4.3.1.2 « Assentamentos da superticie . : severe 84 4.3.1.3 - Deslocamentos verticais do fundo da escavagio 87 4.3.1.4 - Influéncia da resisténcia da interface solo-cortina nos deslocamentos..... 88 4.3.1.5 - Relagdes entre deslocamentos......... 91 4.3.2 - Niveis de tenséo..... autistic 4.3.3 - Pressdes sobre a cortina..... 95 4.3.4 - Esforgos no escoramento .... 99 4.3.5 ~ Mecanismo de transferéncia de tens6€8 ...c.uese a 102 4.3.5.1 ~ Tenses horizontais 102 43.5.2 - Tens®es Verticals ..oscnsnennee .. 106 43,6 - Momentos flectores na cortina..... ee 6 4.3.7 - Variagdo da rigidez de flexdo da cortina... eeentnnnnsen ng wit 4.4 - CONCLUSAO.... indice do texto 4.3.8 - Contribuigao da deformago por flexdo da cortina no incremento da estabilidade do fundo. CAPITULO 5 ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLOS NUMERICOS 2 E 3 5.1 - INTRODUGAO. 5.2 - CARACTERISTICAS DAS ESCAVAGOES CONSIDERADAS E DAS ANALISES EFECTUADAS - ANALISE DOS RESULTADOS... 5.3.1 - Apresentago resumida dos resultados para as escavagdes 2€ 3 5.3.2 - Deslocamentos............... 5.3.3 - Niveis de tensio. 5.3.4 - Presses de terras 5.3.5 - Esforgos no escoramento 5.3.6 - Momentos flectores na cortina 5.4 - GENERALIZACAO DOS RESULTADOS OBTIDOS. xiv 5.4.1 ~ Relago entre deslocamentos e estabilidade do fundo .... 5.4.2 - Generalizagao de relagdes entre deslocamentos.. 5.4.3 - Comparagio entre deslocamentos previstos e calculados 5.4.4 - Configuragio do perfil de assentamentos no terrapleno 5.4.5 - Efeito conjunto da rigidez de flexdo da cortina e da estabilidade do fundo nos deslocamentos 5.4.6 - Célculo do coeficiente de seguranga com a contribuigo da altura enterrada da cortina ... aneeonntes 5.4.1 ~ Anélise global dos esforgos no escoramento....c::ses 122 126 . 129 129 . 135 .. 135 135 138 138 138 .. 144 144 144 . 146 148 151 .. 153 154 Indice do texto 5.4 - CONCLUSAO. . 156 CAPITULO 6 ANALISE DOS ESFORCOS MAXIMOS DE FLEXAO NA CORTINA E SUA PREVISAO 6.1 - INTRODUGAO. corer a 157 6.2 - METODOS EXPEDITOS BASEADOS NO CALCULO DE VIGAS SOB A ACCAO DE DIAGRAMAS DE PRESSOES 157 6.2.1 - Cortina com altura enterrada nula eT 197; 6.2.2 - Cortinas prolongadas até a0 firme......e-sneesses Ht sesetses 160 6.3 - METODO PROPOSTO PARA A ESTIMATIVA DOS MOMENTOS MAXIMOS EM CORTINAS PROLONGADAS ATE AO FIRME....ecssssscsneeeesseeeines 164 6.4 - CONCLUSAO. . 167 CONSIDERACOES FINAIS eon eee 169 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS......... z fee 173 INDICE DE FIGURAS CAPITULO 2 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO COMPORTAMENTO DE ESCAVACOES ESCORADAS EM SOLOS ARGILOSOS MOLES Fig. 2.1 - Caracteristicas da escavagdo (Escavagao Oslo-Vaterland 1, NGI, Technical Report 6, 1962, adapatado) Fig. 2.2 - Deslocamentos da cortina e assentamentos do terrapleno (Escavagéio Oslo- Vaterland 1): a) fase 2; b) fase 5; c) fase 7; d) fase 8 Fig, 2.3 - Esforgos no escoramento: a) em todas as fases da escavagdo; b) pressdes aparentes (Escavago Oslo-Vaterland 1) sent Fig. 2.4 - PressGes actuantes nas duas faces da cortina (Escavagio Oslo-Vaterland 1) a) fases 2; b) fase 3; 0) fase 5; d) fase 7 Fig, 2.5 - Valores medidos e calculados: a) deslocamentos horizontais méximos da cortina; b) assentamentos méximos do terrapleno (Escavagio Oslo- Vaterland 1).. eons Fig, 2.6 - Valores medidos e caleulados das presses actuantes nas duas faces da cortina na fase 7 (Escavagio Oslo-Vaterland 1) Fig. 2.7 - Superficie em cedéncia no final da escavagao (Escavagio Oslo-Vaterland 1).... Fig. 2.8 - Aspecto geral da obra (Finno et al, 1988) Fig, 2.9 - Caracteristicas da escavagio (Escavagiio Chicago HDR-4, Finno et al, 1988) evn ferent Fig, 2.10 - Deslocamentos horizontais da cortina e assentamentos da superficie (Escavagiio Chicago HDR-4) Fig 2.11 - Deslocamentos do solo para o interior da escavagio (Escavagio Chicago HDR) sessennnnnstnninsnsnnsee ee Fig, 2.12 ~ Pressdes neutras no macigo (Escavagao Chicago HDR-4). Fig. 2.13 - Esforgos no escoramento (Escavagio Chicago HDR-4).. Pag, 10 12 a3) 14 15 16 7 17 Fig. Fig. Fig. Fig. Fig Fig. Fig. Fig, Fig Fig Fig xviii indice de Spree 2.14 - Caracteristicas da escavagio (Escavag#o Oslo-Telefonhuset , DiBiagio ¢ Roti, 1972)... . : = : 2.15 = Movimentos na escavagfo (Escavagdo Oslo-Telefonhuset): a) deslocamentos horizontais da cortina; b) assentamentos da superficie 2.16 - Medig&o das pressdes de terras durante a escavagio (Escavago Oslo- Telefonhuset) eve . 2.17 - Redistribuigtio de presses por eftito de arco em escavagdes escoradas (Bjerrum et al, 1972): 2) escavagio em solo de boas caracteristicas; b) escavacdo num espesso estrato de argila mole... 2.18 - Diagramas de Terzaghi e Peck (1967) para dimensionamento de cortinas escoradas .. : : 2.19 = Diagrama de presses aparentes para dimensionamento de cortinas escoradas (Peck, 1969),..rnisnnunnnnnununnes 2.20 - Escavaglio escorada em argila mole em que a estabiliadde & assegurada pelo prolongamento da cortina até um estrato rio inferior... 2.21 - Analise da estabilidade do fundo segundoTerzaghi (1943): a) caso geral; b) estrato rijo a pouca profundidade; ¢) cortina prolongada abaixo do fundo 2.22 - Andlise da estabilidade do fundo segundo Tschebotarioff (1951): a) caso geral; b) estrato rijo a pouca profundidade. sensei 2.23 - Variaglo do coeficiente de seguranga com 0 coeficiente de anisotropia (Hansen, 1980) 2.24 - Valores do factor de capacidade de carga de sapatas (No) estabelecidos por Skempton, : = , 2.25 - Esquema construtivo para atingir grandes profundidades em solos moles sem rotura do fundo (Eide et al, 1972)... 2.26 - Métodos de anélise da rotura do fundo (Ehrlich, 1987). ;, 2.27 » Analise da rotura do fundo envolvendo a energia de deformagao da cortina (O' Rourke, 1992): a) cortina livre no interior do macigo; b) cortina com extremidade fixa; c) cortina com deslocamento parcial na extremidade.... 2.28 - Assentamentos previsiveis junto a escavagdes suportadas por estruturas flexiveis tradicionzis (Peck, 1969), . . 2.29 - Perfil de assentamentos adimensionais para estimativa da distribuigéo dos assentamentos adjacentes a escavaces (Clough ¢ O' Rourke, 1990) 18, 19 20 22 22 24 25 28 229) 30 31 32, 34 36 wal {indice de figuras Fig. 2.30 - Relago entre o coeficiente de seguranga & rotura do fundo e os deslocamentos méximos da cortina (Clough e Reed, 1984)....... Fig. 2.31 ~ Relago entre os assentamentos méximos da superficie e os deslocamentos méximos da parede (Mana e Clough, 1981)...... Fig, 2.32 - Dependéncia dos deslocamentos da parede relativamente ao nimero de estabilidade da base e ao parimetro de rigidez (Goldberg et al, 1976)... Fig. 2.33 - Dependéncia entre os deslocamentos da parede e a altura do solo retirada em cada fase da escavagao (Clough et al, 1979), Fig. 2.34 - RelagHo entre os deslocamentos laterais da parede (percentagem da escavaciio) ea rigidez do sistema (Clough et al, 1989) Fig. 2.35 - Deslocamentos calculados ¢ medidos de uma cortina escorada suportando ‘uma escavagao nas argilas moles de San Francisco ( Clough e Mana, 1976) Fig. 2.36 - Relag&o entre 0 coeficiente de seguranga a rotura do fundo e os deslocamentos maximos da cortina e os assentamentos (Mana, 1978)... Fig. 2.37a - Relagdo entre os deslocamentos laterais da cortina e 0 médulo de deformabilidade (Mana, 1978), Fig. 2.37 - Efeito da rigidez da cortina nos deslocamentos laterais e nos assentamentos da superficie (Mana, 1978) Fig, 2.37c - Efeito da rigidez do escoramento nos destocamentos laterais e nos assentamentos da superficie (Mana, 1978) Fig. 2.37d - Efeito da profundidade do estrato rijo nos deslocamentos laterais ¢ nos assentamentos da superficie (Mana, 1978) Fig. 2.37e - Efeito da largura da escavagéo nos deslocamentos laterais ¢ nos assentamentos da superficie (Mana, 1978) Fig, 2.378 - Efeito do pré-esforgo do escoramento nos destocamentos laterais © nos assentamentos da superficie (Mana, 1978) Fig. 2.38 - Estado de tenstio abaixo do nivel da escavagdo: a) elementos em situagdes caracteristicas; b) cortina muito flexivel; c) rotura do find; d) cortina com grande rigidez e encastrada num estrato rijo subjacente..... Fig, 2.39 - Relagto entre 0 coeficiente de seguranca @ rotura do fundo e os deslocamentos maximos da cortina 43 43 44 45 46 46 48 48 49 49 50 50 50 my) 54 Indice de figures CAPITULO 3 MODELO POR ELEMENTOS FINITOS APLICADO A UMA ESCAVACAO ESCORADA NUM MACICO ARGILOSO MOLE Fig. 3.1 - Caracteristicas da Escavagao 1 Fig. 3.2 - Malha de elementos finitos para a Escavaga0 1....... Fig, 3.3 - Deslocamentos horizontais no plano da cortina em todas as fases da escavacao.. Fig, 3.4 - Assentamentos em todas as fases da escavagao. Fig, 3.5 - Levantamento do fundo em todas as fases da escavago Niveis de tens&o na malha inicial e na malha deformada em todas as fases do céleulo, Fig, 3.6 Fig, 3.7 - Tensées principais em todas as fases do calculo: a) fase 1; b) fase 2; c) fase 35 d) FASC 4 crsnenennenn aeaenee fans . Fig, 3.8 - Press6es de terras: a) presses de ambos os lados da parede em todas as fases; b) presses resultantes abaixo da base da escavago em todas as fases.... Fig, 3.9 - Esforgos no escoramento.... Fig. 3.10 - Presses aparentes no eSCOramentO ..saeenseeranie Fig. 3.11 - Momentos flectores na cortina: a) diagrama de momentos em todas as fases da escavagao; b) momentos méximos Fig, 3.12 - Pressées atrés da parede com e sem junta entre 0 estrato de argila mole e 0 estrato subjacente Fig 3.13 - Esforgos no escoramento com e sem junta entre o estrato de argila mole e © estrato subjacente Fig. 3.14 - Condigdes de apoio do pé da cortina e respectivas modelagdes. Fig. 3.15 Esforgos méximos no escoramento para dois valores da tolerdncia: a) cortina com extremidade inferior encastrada no firme, b) cortina com altura enterrada nula 60 61 62 63 65 67 68 69 70 71 2B TB ei) 77 Indice de Sguras Fig. 3.16 - Niveis de tensio no final da escavagio (cortina com altura enterrada nula): a) tolerancia de 0,2%; b) tolerancia de 1,0%..... CAPITULO 4 ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLO NUMERICO 1 Fig. 4.1 - Deslocamentos horizontais no plano da cortina em todas as fases da escavagao nos célculos T10 a T16 Fig. 4.2 - Deslocamentos horizontais no plano da cortina no fim da escavgao nos célculos T10 a T16 Fig. 4.3 - Variagdo dos deslocamentos horizontais méximos no plano da cortina nos clculos T10 a T16 em relag&o ao homélogo do Céleulo T10 Fig. 4.4 - Assentamentos do terrapleno em todas as fases da escavago nos célculos TloaTi6. Fig, 4,5 - Assentamentos do terrapleno no fim da escavagio nos célculos T10 a T16... Fig. 4.6 - Variagdo dos assentamentos méximos nos célculos T10 a T16 em relagao a0 homélogo do calculo T10.. s Fig, 4.7 - Levantamentos do fundo no fim da escavagao nos célculos T10 a T16..... Fig, 4.8 - Variagdo dos levantamentos méximos do fundo da escavagio nos célculos T10 a T16 em relagao ao homélogo do Céleulo T10, Fig, 4.9 - Influéncia da adeséo solo-cortina nos deslocamentos horizontais finais no plano\de oorinate tetanic ts Fig, 4.10 - Assentamentos do terrapleno em todas as fases da escavagao no céloulo T20a Fig. 4.11 - Influéncia da adesto solo-cortina nos assentamentos finais do terrapleno . Fig, 4.12 - Influéncia da adesto solo-cortina nos levantamentos méximos do fundo da escavagao. Fig. 4.13 - Influéncia da adesto solo-cortina nos deslocamentos horizontais finais no plano da parede quando esta no € prolongada abaixo do fundo. oo 82 2 83 84 85 86 86 87 87 88 88 89 90 Indice de figuras Fig. 4.14 - Influéncia da adesfo solo-cortina nos assentamentos finais do terrapleno quando esta no ¢ prolongada abaixo do fundo da escavagio. Fig, 4.15 - Influéncia da adesfo solo-cortina nos levantamentos finais do fundo da escavagiio quando esta nfo é prolongada abaixo do fundo .... Fig. 4.16 - Correlago de deslocamentos: a) deslocamentos horizontais maximos e médios com assentamentos maximos; b) levantamentos méximos do fundo com assentamentos maximos Fig, - 4.17 - Areas movimentadas devido ao processo de escavagao.. Fig. 4.18 - Variagdio dos diversos destocamentos da parede e do terreno nos célculos T10 a T16 em relaco aos homélogos do Calculo T10. Fig. 4.19 - Niveis de tensto no final da escavagao nos céloulos T10 a T16 Fig.4.20 - Presses de terras sobre a cortina em todas as fases da escavaglo nos cileulos T10 a T16. Fig, 4.21 - Presses de terras sobre a cortina no final da escavagao. Fig 4.22 - Diferenga de presses de terras absixo do fundo no final da escavacio... Fig, 4.23 - Esforgos no escoramento nos céleulos T10 a T16 Fig, 4.24 - Variagiio dos esforgos no escoramento nos célculos T10 a T16 em relagio aos homélogos do célculo T10: a) maximos; b) fim da escavagio; ¢) soma Fig, 4.25 Pressdes aparentes no escoramento nos célculos T10 # T16...... a Fig, 4.26 - Resultantes de pressGes sobre a cortina: a) cortina prolongada até ao estrato rijo; b) cortina com altura variavel 7 Fig, 4.27 - Transferéncia de tenses por efeito de arco atris da cortina escorada...... Fig, 4.28 - Tens6es verticais: a) Célculo Ti2, cortina prolongada até ao estrato rijo ¢ articulada (ca = cu); b) Calculo T20a, cortina prolongeda até ao estrato rijo e articulada (ca = 0); ©) Célculo T15, cortina com altura enterrada nula (ca =a) Fig, 4.29 - Tenses verticais; a) Célculo T12, cortina prolongada até ao estrato rijo articulada (ca = cu); b) Céloulo T20a, cortina prolongada até ao estrato rijo e articulada (ca = 0), c) Céloulo T15, cortina com altura enterrada nula (ca=cu).... Fig. 4.30 - Tenses principais no fim da escavagio no Célculo T12. Fig. 4.31 - Tenses principais no fim da escavagdo no Cilculo T20a..... xxi 90 ao) 92 93 94 96 97 98 2 98 100 101 102 105 106 108 109 wa 12 fodic figuras Fig. 4.32 - Tenses atrés da cortina no Célculo T12: a) tensdes verticais ¢ tensdes principais méximas nos pontos de Gauss dos elementos 2D adjacentes & parede; b) tensdes horizontais ¢ tensdes principais minimas nos mesmos pontos e tensdes nos elementos Fig, 4,33 - Tensdes atris da cortina no Céleulo T20a: a) tensdes verticais e tensdes principais méximas nos pontos de Gauss dos elementos 2D adjacentes A parede; b) tenses horizontais e tensdes principais minimas nos mesmos pontos e tensdes nos elementos Fig. 4.34 - Mecanismo de funcionamento do sistema solo-estrutura Fig. 4.35 - Momentos flectores na cortina em todas as fases nos calculos T10 a TI6..... Fig. 4.36 - Momentos flectores maximos nos célculos T10 a T16....... Fig. 4.37 - Influéncia da adesto solo-cortina nos momentos flectores méximos (céloulos T12 e T20a). Fig. 4.38 - Influéncia da rigidez a flexdo da cortina (encastrada no pé) nos deslocamentos: a) deslocamentos horizontais; b) assentamentos..... Fig, 4.39 - Influéncia da rigidez a flexio da cortina (articulada no pé) nos deslocamentos:a) deslocamentos horizontais; b) assentamentos. Fig. 4.40 - Influéncia da rigidez a flexZo da cortina (altura enterrada nula) nos deslocamentos: a) deslocamentos horizontais, b) assentamentos Fig 4.41 - Niveis de tens no final da escavag0: a) Célculo T17; b) Calculo T20..... Fig.4.42 - Influéncia da variago da rigidez de flexdo da cortina nas pressdes de terras(extremidade articulada)... Fig, 4,43- Influéncia da variagzo da rigidez de flexiio da cortina nos momentos flectores (extremidade articulada) Fig, 4.44 - Deformadas por flexio e curvas aproximativas: a) cortina encastrada; b) cortina semi-encastrada; c) cortina articulada; d1) cortina livre; d2) cortina com deslocamento horizontal parcialmente restringido; e) cortina enterrada 7,0 m; f) cortina, 113 114 11s 117 118 118 120 120 120 121 121 122 124 oxi fadice d figuras CAPITULO 5 ESTUDO PARAMETRICO - EXEMPLOS NUMERICOS 2 E 3 Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. 5.1 - Escavagao 2... 5.2 - Malha 2. 5.3 - Escavagao 3... 5.4 -Malha 3... 5.5 - Deslocamentos no fim da escavagao nos célculos T30 a T36 (Escavagao 2): a) deslocamento horizontal no plano da cortina; b) assentamento do terrapleno; c) levantamento do fundo...... 5.6 - Deslocamentos no fim da escavacio para os célculos TS0 a TSS (Escavagao 3):a) deslocamento horizontal no plano da cortina; b) assentamento do terrapleno; c) levantamento do fundo . 5.7 - Niveis de tenso no fim da escavago nos célculos T30 a T36 (Escavagao 2) 5.8 - Niveis de tensio no fim da escavagao nos célculos TSO a TSS (Escavagao 3). . 5,9 - Pressées de terras sobre a cortina no fim da escavagio nos célculos T30 a T36 (Escavagao 2) Fig, 5.10 - PressGes de terras no fim da escavaco nos célculos T50 a TSS (Escavacdo 3). Fig.5.11 - Esforgos no escoramento nos célculos T30 a T36 36 (Esavaro » a fim da escevagdo; b) maximos. Fig,5.12 - Esforgos no escoramento nos cflculos TSO a TSS 55 (Esxvagio 3): a) fim da escavagaio; b) maximos Fig. 5.13 - Momentos flectores maximos nos céleulos T30 a T36 (Escavaco 2) Fig. 5.14 - Momentos flectores maximos nos céleulos T50 a TSS (Escavacao 3) Fig. 5.15 - Relagiio entre 0 coeficiente de seguranga a rotura do fundo e os xxiv deslocamentos horizontais maximos no plano da cortina...... .. 130 131 . 132 133 136 137 139 140 141 141 .. 142 143 145 145 146 dice de figuras Fig. 5.16 - Correlagao entre deslocamentos: a) deslocamentos horizontais maximos com assentamentos méximos e deslocamentos horizontais médios com assentamentos méximos; b) levantamentos maximos do fundo com assentamentos maximos. Fig. 5.17 - Perfis de assentamento no terrapleno..... Fig. 5.18 - Deslocamento horizontal maximo no plano da cortina em fungio da rigidez flexio: a) cortina com altura enterrada nula; b) cortina articulada; c) cortina encastrada...... ene deesnsent tees Fig 5.19 - Presses aparentes no escoramento: a) Escavagio 1; b) Escavagio 2; ) Escavagio 3 eee CAPITULO 6 ANALISE DOS ESFORCOS MAXIMOS DE FLEXAO NA CORTINA E SUA PREVISAO Fig. 6.1 - Modelos simplificados de célculo de cortinas ndo enterradas. Fig. 6.2 - Momentos flectores nas cortinas nfo enterradas (MEF. e métodos simplificados) Fig, 6.3 - Esquema de simulago da estrutura e respectiva solicitagao Fig. 6.4 - Presses (cortina articulada): a) Escavagéo 1; b) Escavago 2; ¢) Escavagio Fig, 6.5 - Momentos flectores previstos e calculados (cortina rotulada): a) Escavagao 1; b) Escavagiio 2; ¢) Escavagio 3 a 7 Fig. 66 - Deformadas adimensionais des cortinas apoiadas no estrato rijo: a) Escavagio 1; b) Escavagaio 2; ¢) Escavagao 3 . 147 150 152 155 158 159 161 . 162 163 165 INDICE DE QUADROS Pag, Quadro 2.I- Resumo das caracterfsticas do solo e da estrutura de escavagdes em argilas moles com precétias condigbes de estabilidade... 40 Quadro 2.1I- Escavagdes suportadas por paredes moldadas com profundidade superior & profundidade critica 53 Quadro 4.1- Céloulos da Escavagio 1... 81 Quadro 4.1L - Coeficientes de seguranga em relaco a rotura do fundo em célculos da Escavago La... 125 Quadro 5.1 - Céloulos da Escavagdo 2...csscnnnetnnnen oe 134 Quadro 5.1L - Cfloulos da BscavEg0 3....ccncnsnsmnnnnnninnnennsnne neues 134 Quadro 5.III - Deslocamentos previstos e calculados....... . 149 Quadro 5.IV - Coeficientes de seguranga em relagiio & rotura do fundo em célculos da Escavagio 2. 153 Quadro 5.V - Coeficientes de seguranga em relagdo & rotura do fundo em céleulos da Escavago 3... 2 7 : 153 Quadro 6.1 - Momentos previstos e calculados em cortinas nao prolongadas. 159 Quadro 6.1L - Momentos previstos e calculados em cortinas prolongadas......::siseseeness 166 SIMBOLOGIA Embora os simbolos utilizados sejam definidos ao longo do texto, a medida que vio aparecendo, afigura-se com interesse apresentar uma listagem dos mesmos. Nao se incluem, contudo, alguns daqueles que constam de figuras de obras de outros autores incluidas no presente trabalho, por entrarem em contradi¢2o com os neste adoptados. B - Largura da escavagio Ca - Ades cy ~ Resisténcia nfo drenada do solo cup - Resisténcia no drenada do solo subjacente escavagao D__ - Distancia da base da escavagdo a0 bedrock Dy Distfncia da superficie ao firme dé - Altura enterrada da cortina E - Médulo de Elasticidade EL - Rigideza flexto FS - Coeficiente de seguranca em relagio & rotura do fundo da escavagdo H - Altura total da cortina hh = Profundidade da escavagao hg = Profuundidade critica da escavago hg = Espagamento entre niveis de escoramento I = Inércia a flextio IK] - Matriz de rigidez Kg - Pardmetro definidor da anisctropia de resisténcia ko Coeficiente de impulso em repouso L - Desenvolvimento da escavagaio L! ~ Distancia entre o nivel de escoramento mais profundo ¢ a extremidade inferiorda cortina rox oh - Simbologia ‘Momento resistente da cortina por metro linear ‘Niimero de estabilidade da base da escavagio ‘Niimero de estabilidade da base critico da escavaglo Factor de capacidade de carga Factor de capacidade de carga global Vector das forgas nodais Sobrecarga Vector dos deslocamentos nodais Capacidade de carga do solo subjacente & escavagao Espessura da parede Energia de deformagao Abcissa referenciada ao ponto (0,0) da malha de elementos finitos Ordenada referenciada ao ponto (0,0) da malha de elementos finitos Cota geométrica Incremento da profundidade da escavagio Incremento critico da profundidade da escavagio Diferenga entre as sobrecargas exteriores e interiores & escavacto ~Variagdo da tensfo efectiva vertical de repouso Deslocamento Deslocamento méximo Peso especifico total Peso especifico seco Coeficiente de Poisson Tensio horizontal Tensio horizontal de repouso Tensao vertical 1 02 93 Tenséo vertical de repouso Tensto principal maxima Tenséo principal intermédia Tensio principal minima Simbologia «...A estabilidade, os esforgos estruturzis e os movimentos das escavagdes e sistemas de suporte sfo fingdo de grande numero de varidveis, algumas destas no totalmente sob controlo.» (Clough and Schmidt, 1981). CAPITULO 1 INTRODUCAO O desenvolvimento das sociedades associado 4 necessidade do aumento da qualidade de vida das populagdes e a0 entusiasmo dos técnicos em conceberem e executarem estruturas cada vez mais funcionais, econémicas e arrojadas conduzem aos progressos na area da Engenharia, As solugdes encontradas devem, elém de satisfazer os requisitos previamente impostos, constituir formas seguras de resoluggo dos problemas. Nesta perspectiva, & importante o entendimento dos fendmenos envolvidos em cada obra e a evolugdo dos métodos de anélise e de dimensionamento. presente trabalho pretende ser um contributo para o estudo do comportamento e do dimensionamento de cortinas escoradas em escavagbes realizadas em solos argilosos de baixa resisténci O tema é pertinente, na medida em que a realizagio deste tipo de obras & cada vez mais, frequente, especialmente nas grandes cidades, para a execuedo de pisos enterrados de edificios, de parques de estacionamento, de redes de metropolitano ¢ de tineis rodoviérios e ferrovidrios, e porque em mumerosos casos aquelas se localizam em zonas aluvionares onde se encontram espessos estratos de argilas de baixa resisténcia, Quando a espessura dos estratos argilosos ¢ considerdvel, a execugio de estruturas de suporte com ancoragens torna-se tecnicamente desaconselhvel e até, em alguns casos, invidvel, na medida em que os impulsos de terras sio muito elevados, ¢ 0 comprimento ea inclinagio das ancoragens teriam que ser necessariamente muito grandes. Nestas condigdes é pois necessério conceber uma estrutura constituida por uma cortina de estacas-prancha ou de paredes moldadas associada a varios niveis de escoramento. A execugio de escavagées de certa profundidade em macigos com espessos estratos de argilas moles, acarreta tipicamente a mobilizagao da totalidade da resisténcia a0 corte em amplas zonas do macigo, em geral com consequentes grandes deformagies ¢ deslocamentos do terreno envolvente da escavagdo e ainda com mobilizago de esforgos muito severos nas estruturas de contengao. Mais recentemente, 0 uso de estruturas de grande rigidez, em geral cortinas de paredes moldadas prolongadas até a um estrato inferior mais resistente, associadas a escoramentos de ago, tem permitido a realizagdo de obras nestas condigdes, associadas a movimentos do terreno vizinho relativamente modestos, aspecto que, como é obvio, é extremamente importante nas obras urbanas. © dimensionamento destas estruturas, assume naturalmente uma relevancia muito significativa, tendo em vista os delicados aspectos de seguranca associados ao problema, seja a seguranga da propria obra, seja a das estruturas ou infraestruturas vizinhas, ¢ também as muito avultadas verbas envolvidas nas solug6es indicadas, Caputo} Acontece, todavia, que o problema em causa é particularmente complexo jé que depende de todos os pardmetros - e so muitos - de que depende uma escavagao escorada em macigos de mais elevada resisténcia, por exemplo, em macigos arenosos, ¢ ainda do desenvolvimento dos fendmenos de plastificago - redistribuig#o de tenses no macigo, em particular na zona subjacente ao fundo da escavagao. Refira-se que séo precisamente estes fendmenos os responsaveis pelos muito altos esforgos de compress que tipicamente se registam nos niveis inferiores do escoramento, bem como pelos muito altos esforgos de flexio e corte que se mobilizam na cortina abaixo do titimo nivel do escoramento, Estes fenémenos, pela sua particular complexidade, nfo esto sinda perfeitamente identificados ¢ compreendidos mesmo na mais actualizada bibliografia da especialidade. Tal no tem impedido, como & aliés corrente em numerosos outros problemas geotécnicos, que muitas obras tenham vindo a ser efectuadas nestas dificeis condigdes com comportamento francamente satisfatério das respectivas estruturas de contengio. Da observagdo dessas obras tem sido possivel extrair preciosas conclusées e ensinamentos, os quais, em associagao com outros provenientes da aplicagdo de modelos por elementos finitos (Palmer e Kenney, 1972; Clough e Tsui, 1971; Clough e Mana, 1976; Clough e Hansen, 1981; Matos Fernandes, 1983; Clough et al, 1989) tém conduzido a notaveis progressos, nestas duas ultimas décadas, na contengio dos movimentos associados & escavagao. Dispondo-se na Faculdade de Engenharia de um modelo por elementos finitos que se tem mostrado particularmente fidvel na anilise de outros complexos problemas geotécnicos nos quais a plastificago do macigo desempenha papel preponderante, ele foi aplicado, no ambito do presente trabalho, ao problema das escavagées escoradas em macigos argilosos moles de modo a procurar um entendimento 0 mais claro possivel da fenomenologia envolvida naquele problema e, também, a extrair algumas conclusdes titeis para o projecto, nomeadamente no que respeita aos espectos mais dependentes da precdria resisténcia do macigo e dos elevados esforgos estruturais que esta acarreta. No Capitulo 2 sto referidos alguns aspectos fundamentais relacionados com o comportamento das escavagdes escoradas em solos argilosos moles. Séo apresentadas trés escavagdes que foram instrumentadas e cujos resultados foram comparados com anélises feitas pelo Método dos Elementos Finitos (MEF). E feita uma abordagem sintética A questfo da determinacao dos impulsos de terras sobre cortinas escoradas. Sao revistos alguns métodos correntes de andlise de estabilidade de fundo de escavagdes em macigos argilosos. Refere-se a importancia dos diversos aspectos envolvidos na grandeza dos deslocamentos da cortina e dos assentamentos da superficie. & abordada a influéncia das caracteristicas mecanicas e geométricas da cortina no comportamento global da escevagat. No Capitulo 3 ¢ feita uma breve abordagem ao método dos elementos finitos. Apresenta- se 0 modelo de célculo a utilizar nos estudos descritos no capitulo 4, & analisado um exemplo numérico e procede-se a discussdo de alguns aspectos referentes & modelac&o do problema, No Capitulo 4 sao apresentados diversos estudos paramétricos, através dos quais se pretende avaliar a influéncia das condigdes de apoio e da altura enterrada da cortina, da sua rigidez de flexao e da resisténcia da interface entre o solo ¢ a parede, no comportamento global da estrutura, Invodusto No Capitulo 5 so descritas e analisadas duas novas escavag6es com alteragdes em relac&o ao exemplo dos dois capitulos anteriores, quer da profundidade quer da possanga do estrato argiloso escavado. So generalizados alguns resultados obtidos anteriormente, procede-se 4 enélise conjunta de alguns dos resultados obtidos para os trés exemplos analisados e sio feitas comparagGes sisteméticas com valores e resultados obtidos através da aplicago de outros métodos e da observago de obras. ‘No Capitulo 6 so abordadas algumas questdes relacionadas com o dimensionamento das cortinas. Sao referidas e utilizadas duas formas tradicionais de dimensionamento de cortinas realizadas em estacas-prancha no enterradas abaixo do fundo da escavacdo, Ensaia- se um processo simplificado para determinagio dos momentos flectores nas cortinas prolongadas até ao estrato firme e avaliam-se as diferengas entre os momentos flectores calculados pelo MEF. e por esse processo. E proposto um método para dimensionamento de cortinas prolongadas até ao firme, baseado na previstio deslocamentos. Finalmente, incluem-se algumas consideragdes finais nas quais se resumem os aspectos mais salientes € as conclusdes mais relevantes do presente trabalho e se enunciam algumas linhas para aprofiundamento futuro da investigac&o no tema. CAPITULO 2 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO COMPORTAMENTO DE ESCAVACOES ESCORADAS EM SOLOS ARGILOSOS MOLES 2.1 -GENERALIDADES 2Lal - Introdugio O comportamento de uma estrutura de suporte flexivel constituida por cortina e escoras € avaliado pela distribuigio de pressbes ¢ momentos flectores na cortina, pelas forges instaladas nas escoras, pelos deslocamentos horizontais da parede para o interior da escavagio, pelos assentamentos do terrapleno adjacente e pela estabilidade do fundo da escavacito. Para a evolugZo destas grandezas contribuem muitos factores sendo, os mais importantes: a) as caracteristicas mecdnicas do solo; b) 0 tipo ea concepedo da estrutura; ©) a geometria da escavagao; 4) 0 processo ¢ 0 faseamento construtivos; @) as solicitagdes exteriores, nomeadamente sobrecargas no terrapleno; ) a qualidade da mio de obra. A contribuiggo de cada um dos fectores enumerados envolve um conjunto de aspectos de dificil andlise e formulago, 0 que conduz em regra a dificuldades na estimativa aproximada dos esforgos estruturais ¢, no caso de escavagdes em espessos estratos de argilas moles, no controlo dos deslocamentos dentro de valores aceitiveis. Alguns destes aspectos podem ser equacionados e considerados no dimensionamento de forma teoricamente findamenteda, enquanto outros exigem tratamento baseado em observagdes de obras realizadas em condigdes similares. Julga-se conveniente, assim, incluir j4 em seguida alguns casos de obras particularmente bem documentados, de modo a estabelecer, logo no inicio do presente trabalho, os tragos essenciais do comportamento das escavagdes escoradas em solos moles. Ccapttalo 2 2.1.2 - Escavagio Vaterland 1 (Oslo) A escavago designada por Vaterland 1 (Figura 2.1) foi realizada durante os trabalhos de construgao do Metropolitano de Oslo, Tratou-se de uma escavagao escorada com uma cortina em estacas-prancha Ievada até ao bedrock, O processo de escavagao foi acompanhado da observagio dos deslocamentos, pressdes de terras esforgos no escoramento através de instrumentagdo adequada. Na Figura 2.1 resumem-se 0s aspectos essenciais da escavagiio e as caracteristicas geométricas e mecfnicas da estrutura e do macigo, Na Figura 2.2 esto representados os deslocamentos horizontais ¢ 0s assentamentos da superficie em diferentes fases da escavaco. Os deslocamentos sao crescentes com o aumento de profindidade escavada e consideravelmente distintos entre as diferentes secgdes da escavagdo analisadas. No fim da construgio o deslocamento maximo é da ordem dos 2 % da profundidade da escavagio, A diferenga entre os deslocamentos méximos no inclinémetro D2 e D4 na ultima fase 6 cerca de 30 %. Os assentamentos da superficie ocorrem até uma distancia de aproximadamente 13 m da cortina e atingem na tltima fase cerca de 1,6 % da profundidade da escavagio. Estes assentamentos so reduzidos junto da cortina ¢ 0 valor maximo ocorre aproximadamente a 5,0 m daquela. A evolugio do intervalo dos esforgos medidos no escoramento ilustra-se na Figura 2.3a. A diferenga entre os valores méximos e minimos dos esforgos medidos a0 mesmo nivel & significativa quer no que respeita aos valores entre secgdes diferentes da escavagio, quer no que se refere & evolugao temporal dos trabalhos. O esforgo méximo é atingido no pentiltimo nivel colocado. Os esforgos em cada nivel de escoramento decrescem depois de atingir um valor maximo, ocorrendo mesmo ligeiras tracgdes nas fases finais da contrugao para o nivel A. Na Figura 2.3b esto representados os diagramas de pressdes aparentes ', obtidos a partir da média dos esforgos das escoras observados em diferentes alinhamentos verticais e os Giagramas de Terzaghi-Peck (as abcissas destes iltimos diagramas sio dadas por yh~m4c,, em que 7 representa 0 peso voliimico do solo, h a altura da escavago, cy a resisténcia nfo drenada do solo e os valores de m séo 1,0 © 0,4). Pode constatar-se uma razodvel concordéncia das presses aparentes medidas com as previstas pelo diagrama de Terzaghi- Peck, tomando m=1,0, com excepcao do pentiltimo nivel onde a previsto usando m=0,4 se mostra a mais adequada, Os diagramas de presses de terras sobre a cortina em fases distintas da escavagiio so apresentados na Figura 2.4, Nas primeiras fases pode-se observar uma distribuigo das presses em profundidade praticamente triangular em ambas as faces da cortina, Nas fases 5 € 7 constata-se uma nitida redistribuig&o das presses atrés da cortina para a zona escorada e para o pé daquela, ‘ipresstes aparentes so as pressGes sobre a cortina obtidas fazendo a divislo do esforco axial registado num dado nivel de escoramento pela érea de influéncia do mesmo, ‘Aspectos fandamenais do comportamenta de eseavagdes etcoradas em solo agilosos moles echt sina i. ‘ ‘ ' Loree a Fast m dete h4/?) oo © @ © m caso) ‘ Vl eT 24 | Stents ero, | Hew ‘ tes or tems ae 24t eo, |] ress a oass “| amc et FT Le nun scent “ Wa “ a sig “n (6 te lc do sete Seegto A-A Fig. 2.1 - Caracteristicas da escavagiio (Escavagdo Oslo-Vaterland 1, NGI, Technical Report 6, 1962, adapatado) Capitulo 2 I Fig, 2.2 Deslocamentos da cortina e assentamentos do terrapleno (Escavacdo Oslo-Vaterland 1): a) fase 2; b) fase 5; c) fase 7; d) fase 8 Aspects fundamentas do comportameto de excavaBes essoraas em solos arglosos moles ps a ‘ H+ Ht eterna RT Tet aren a Bob ee eee eee ee a) oo ( oe Soyronas de eogiFeck 2 ' s—e_| 0 s— 4 2 al 5 oe | 6 >o— 8 2 3 OC wo tof} oa Presto opr Hn? » Fig, 2.3 - Esforgos no escoramento; a) em todas as fases da escavagdo; b) press6es aparentes (Escavario Oslo- Vaterland 1) Ccaptato2 wome 4 = 3 ales 4 Ne 4 3 st meee 4 ° “ on Ca af 4. 4 4 el ee teoaa| yt rena | 4, ot ei? ® Fig, 24 - Pressbes actuantes nas duas faces da cortina (Escavagdo Oslo-Vaterland 1): a) fases 2; b) fase 3; ¢) fase 5; d) fase 7 10 Aspects fundamentis do comporamento de excavagSes exons em Soles argilosos moles Palmer ¢ Kenney (1972), Mana (1978) e Trigo (1990) procederam a simulagdes pelo Método dos Elementos Finitos desta escavaco, tendo os resultados obtidos sido comparados com os observados. Nas Figuras 2.5 e 2.6 ilustram-se algumas dessas comparagGes. s valores calculados constituem uma razodvel aproximago aos valores medidos, quer no respeita a deslocamentos da parede e assentamentos da superficie, quer no que se refere as presses de terras, sendo neste caso de assinalar o facto de o bolbo de pressdes observado na zona escorada nfo ter sido bem reproduzido pelas analises numéricas et tT =e ois ere nt » rset) Fig, 2.5 - Valores medidos e calculados: 2) deslocamentos horizontais méximos da cortina; b) assentamentos miéximos do terrapleno (Escavago Oslo-Vaterland 1) u

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