Tal como foi referido na introdução, esta primeira seção do presente trabalho é
dedicada à psicologia da criação de artes visuais, por isso abordaremos questões
como: “o que é a criatividade e a imaginação?”, “de que é que depende a atividade
criativa?”, “qual o processo ou mecanismo psicológico subjacente à atividade
criativa?”; e relacioná-las-emos com exemplos no domínio específico das artes visuais.
Por sua vez, seguir-se-á uma breve exposição sobre o que é a psicologia da
representação pictórica dos processos psíquicos desenvolvida pelo psicólogo Carl
Gustav Jung e uma crítica à Psicologia Cognitivista por parte do Psicólogo Mihaly
Csikszentmihalyi no sentido de desmistificar a identificação errada do papel da
racionalidade em processos de pensamento complexos no domínio da criatividade. A
psicologia de Jung de certo modo complementa o tema da criatividade e imaginação
abordado por Vygotsky no sentido de esclarecer o processo mental no qual a
imaginação assume uma forma representativa durante a atividade criativa e de certa
maneira até acaba por contrariar Vygotsky e referir que a atividade criativa não tem
apenas começo na experiência porque também poderá surgir do inconsciente.
Por último, quero apelar à crítica de Csikszentmihalyi feita à Psicologia Cognitiva a fim
de desmistificar a compreensão errada dos processos criativos e uma vez que a
corrente cognitivista é umas das perspetivas que mais vigora no nosso espírito do
tempo, penso que é necessário refletir sobre o seu reducionismo e teor mecanicista. A
objeção destinada ao Cognitivismo é a seguinte: os cientistas cognitivistas que
modelam o pensamento criativo em computadores reivindicam que a habilidade dos
seus programas para replicar a descoberta de leis científicas (por exemplo, a 3ª lei de
Kepler a partir dos dados de Brahe) quer significar que o pensamento criativo dos
humanos não é mais nada para além do tipo de heurísticas a que estes computadores
recorrem ou apenas algo que permite resolver problemas. Csikszentmihalyi refere que
a ideia de que o pensamento criativo não é nada mais que resolução de problemas só
expressa uma mistificação baseada na incompreensão da criatividade, nas replicações
irrealistas das condições iniciais presentes na génese do processo criativo e numa
identificação errada do papel da racionalidade em processos de pensamento
complexos no domínio da criatividade. Ora o psicólogo crítico argumenta que
“problem finding” e “problem solving” não são o mesmo processo, apesar de ambos
envolverem operações análogas e poderem ser alternados funcionalmente; e
Csikszentmihalyi fundamenta a sua argumentação com base em numerosos estudos
(Getzels & Jackson, 1962; Getzels & Csikszentmihalyi 1976; Csikszentmihalyi, Getzels, &
Kahn, 1984; Csikszentmihalyi & Robinson, 1986) que demonstram como o pensamento
criativo corresponde à habilidade de descobrir novos problemas antes que sejam
formulados, o que é bastante independente da capacidade racional de resolução de
problemas. Ainda outros autores corroboram as mesmas conclusões dos referidos
estudos, por exemplo Guilford (1967) que distingue processos de pensamento
divergente e convergente. (Csikszentmihalyi, 1988). Mais importante que o espírito do
tempo é o espírito crítico, e o estudo de Csikszentmihalyi, apesarde pouco explorado
neste trabalho, revela-nos que a metáfora computacional não abarca uma série de
fenómenos mentais que tem lugar no Homem e não em máquinas.
A psicologia de artes visuais foca dumas temáticas bastante distintas mas claramente
complementares: a criação da obra de arte e a apreciação da obra de arte. Como o a
psicologia da criação da obra de arte foi pouquíssimo explorada nas aulas de Psicologia
de Arte, decidimos focar as duas primeiras secções deste trabalho nessa mesma área.
A primeira seção é dedicada à imaginação e à criatividade porque são dumas temáticas
muito exploradas noutros domínios como a filosofia (Husserl, Sartre, etc.) ou religião,
porém existe pouca investigação na psicologia neste âmbito dado a complexidade do
seu estudo. A minha intenção com a exposição e reflexão acerca do trabalho de
Vygotsky nesta área é elucidar certas questões bastante recorrentes na psicologia da
arte, como “o que é a atividade criativa?”, “quais as fases que constituem esse
processo?”. Outros dois psicólogos serão abordados neste trabalho, nomeadamente
Carl Gustav Jung e Mihaly Csikzentmihalyi, e as ideias aqui apresentadas prendem-se
com a representação pictórica e uma crítica à Psicologia Cognitiva, respetivamente. No
sentido de recordar e partilhar a relevância dos trabalhos destes autores e os seus
contributos para a psicologia da criação de arte pretendo levar o leitor a refletir sobre
a pertinência e inspiração que estes estudos nos podem provocar para a avançar esta
área tão pouco explorada.
Csikszentmihalyi, M. (1988). Motivation and creativity: Toward a synthesis of structural and energistic
approaches to cognition. New Ideas in psychology, 6(2), 159-176.