e v(s) é a curva s 7→ v(s) ∈ Tp M com v(0) = v, v 0 (0) = w e kv(s)k = constante = kvk. Queremos estudar
(d expp )v (w)
, pois este valor indica intuitivamente a velocidade de afastamento das geodésicas
que saem de p.
Para isso vamos primeiro estudar o campo variacional V (t) da variação f (t, s) = expp (tv(s)) dada por
∂f
d(expp )tv (tw) = (0, t)
∂s
Chamando
∂f
J(t) = (0, t), (9.1)
∂s
1
obteremos que J satisfaz a equação
D2 J
+ R (J, γ 0 ) γ 0 = 0. (9.2)
dt 2
A Equação 9.2 é chamada equação de Jacobi.
Portanto, o campo definido na Expressão 9.1 é um exemplo de um tipo de campo definido sobre
geodésicas, chamado campo de Jacobi.
Definição 9.1 (campo de Jacobi) Um campo J(t) ao longo de uma geodésica γ(t) é chamado um campo de
Jacobi se satisfaz a Expressão 9.2.
DJ
Observação 9.2 Um campo de Jacobi é determinado pelas condições iniciais J(0), dt (0). De fato, seja
{ei (t)}ni=1 campos paralelos e ortonormais ao longo de γ. Escrevendo
X D E
J(t) = fi (t)ei (t) e aij (t) = R ej (t), γ 0 (t) γ 0 (t), ej (t)
i
D2 J X d 2 fi
= ei (t)
dt 2 dt 2
i
e
XD E
R (J, γ 0 ) γ 0 = R (J, γ 0 ) γ 0 , ej ej
j
X * X
+
0 0
= R
fi (t)ei (t), γ γ , ej ej
j i
X D E
= fi (t) R (ei , γ 0 ) γ 0 , ej (t) ej
i,j
X
= fi aij ei .
i,j
d 2 fj X
+ fi (t)aij (t) = 0, ∀ j ∈ {1, . . . , n},
dt 2
i
Exemplo 9.3
1. γ 0 (t) e tγ 0 (t) são campos de Jacobi ao longo de γ, ambas tangentes a γ. Elas são chamadas campos de
Jacobi triviais. Observe que neste exemplo
2
DJ
• γ 0 com condições iniciais J(0) = γ 0 (0) e dt (0) = 0.
DJ
• tγ 0 com condições iniciais J(0) = 0 e 0
dt (0) = γ (0).
De fato:
• se J = γ 0 (t), então
*0 !0
D2 γ 0
0 0 0
D 2γ 0
D D
+ R(γ
, γ )γ = = γ0
dt 2 dt 2 dt dt
=0 (γ é geodésica)
• se J = tγ 0 (t), então
D2 (tγ 0 ) :0
D 0
+ 0 , γ 0 )γ 0 =
R(tγ
(γ ) = 0.
dt 2 dt
2. (Campos de Jacobi em variedades de curvatura constante K0 ). Seja (M, g) uma variedade riemanniana
com curvatura seccional constante K ≡ K0 . Seja γ : [0, `] → M uma geodésica parametrizada por
comprimento de arco (
γ 0 (t)
= 1) e seja J um campo de Jacobi ao longo de γ com J(t) ⊥ γ 0 (t). Temos
0
n
>
o
2
R(J, γ 0 )γ 0 = K0 γ 0 , γ 0 J − J,γ 0 γ 0 = K0
γ 0
J = K0 J.
D2 J
+ K0 J = 0 para J(t) ⊥ γ 0 (t). (9.3)
dt 2
Seja agora w(t) um campo paralelo ao longo de γ com w ⊥ γ 0 (t) e kw(t)k = 1. Logo segue-se que
sen(t√K )
0
√
K0
w(t) se K0 > 0,
J(t) =
tw(t) √ se K0 = 0,
senh(t
−K)
√ w(t) se K0 < 0,
−K0
DJ
é a solução de 9.3 com as condições iniciais J(0) = 0 e dt (0) = w(0).
3
Proposição 9.4 (existência e unicidade de campos de Jacobi) Seja γ : [0, a] → M geodésica e seja p =
γ(0). Para qualquer par de vetores X, Y ∈ Tp M existe um único campo de Jacobi J ao longo de γ satisfazendo
as condições iniciais
DJ
J(0) = X e (0) = Y .
dt
Demonstração: Segue-se da solução de EDO de segunda ordem com duas condições iniciais.
Corolário 9.5 Ao longo de qualquer geodésica, o conjunto de campos de Jacobi é um subespaço 2n-dimensional
do espaço de campos ao longo de γ.
Demonstração: Seja p = γ(0) e seja Jγ o conjunto dos campos de Jacobi ao longo de γ. Considere a
aplicação
` : Jγ → Tp M ⊕ Tp M
DJ
J 7→ `(J) = J(0), (0) .
dt
Proposição 9.6 Seja γ : (−, ) → M geodésica. Todo campo de Jacobi J ao longo de γ pode ser decomposto
como:
Demonstração: Sejam
a = g(γ 0 (0), J(0)),
b = g(γ 0 (0), J 0 (0)) e
Y = J − aγ 0 (t) − btγ 0 (t).
Como J, γ 0 (t) e tγ 0 (t) satisfazem a equação de Jacobi, tem-se que Y é um campo de Jacobi ao longo de
γ. Logo, tomando o produto interno de γ 0 (t) pela equação de Jacobi satisfeita por Y , tem-se que
g(Y 00 , γ 0 ) + g(R(Y , γ 0 )γ 0 , γ 0 ) = 0.
Pela antissimetria do tensor R, o 2º termo da equação acima é 0; logo, g(Y 00 , γ 0 ) = 0. Ademais, como
D 0
dt γ (t) = 0, segue-se que
d2 0 D2
g(Y , γ ) = g(Y , γ 0 ) = g(Y 00 , γ 0 ) = 0.
dt 2 dt 2
4
Logo, g(Y , γ 0 ) = At + B, A, B ∈ R. Além disso, como em γ(0) tem-se que tγ 0 (t) = 0, segue que
Logo, g(Y , γ 0 ) = 0. Logo, Y é normal à γ, e de Jacobi; assim, temos que J(t) = aγ 0 (t) + btγ 0 (t) + Y (t).
Para provar a unicidade da decomposição, suponha que exista outra J(t) = aγ 0 (t) + btγ 0 (t) + Z(t) com
Z normal à γ. Então para cada t tem-se que
a + bt = a + bt e Y (t) = Z(t).
Logo, a = a, b = b e Y = Z.
Corolário 9.7 Se Jγ⊥ é o subespaço dos campos de Jacobi ao longo de γ que são normais ao campo tangente
γ 0 , então dimJγ⊥ = 2dimM − 2.
Corolário 9.8 Se um campo de Jacobi ao longo de γ é normal a γ em dois pontos, então é ortogonal a γ em
todo ponto.
Demonstração: Seja Jγ o conjunto dos campos de Jacobi ao longo de γ. Dado J ∈ Jγ , suponha que
existem t1 , t2 tais que g(J(t1 ), γ 0 (t1 )) = 0 e g(J(t2 ), γ 0 (t2 )) = 0. Usando a notação da prova anterior,
temos que (a + bt1 )γ 0 (t1 ) = 0 = (a + bt2 )γ 0 (t2 ). Logo a = b = 0 implica que J consiste apenas da parte
normal a γ 0 .
No começo construímos um campo de Jacobi ao longo da geodésica γ : [0, 1] → M dada por γ(t) =
expp (tv), usando a superfície f (s, t) = expp (tv(s)). Neste caso J(0) = 0. Então a seguinte proposição
mostra que esta é a única maneira de construir campos de Jacobi ao longo de γ(t) com J(0) = 0.
Proposição 9.9 Seja γ : [0, a] → M uma geodésica e seja J(t) um campo de Jacobi ao longo de γ com J(0) = 0.
Faça DJ 0
dt (0) = w. Sejam p = γ(0) e γ (0) = v. Considere w ∈ Tav (Tp M) e construa uma curva v(s) em Tp M
∂f
com v(0) = av, v 0 (0) = w. Faça f (t, s) = expp tv(s). E defina um campo de Jacobi J por J(t) = ∂s (0, t). Então
J = J em [0, a].
5
Demonstração: Para s = 0, teremos
D D ∂f Dh i Dh i
J(t) = (0, t) = d(expp )tv(0) tw = t d(expp )tv(0) w
dt ∂t ∂s ∂t ∂t
Dh i
= d(expp )tv(0) w + t d(expp )tv(0) (w) .
dt
Para t = 0,
D D ∂f
J(0) = (0, 0) = d(expp )0 w = w.
dt ∂t ∂s
D D
Como J(0) = 0 = J(0) e dt J(0) =w= dt J(0), temos pelo teorema de unicidade de campos de Jacobi que
J = J.
Corolário 9.10 Seja γ : [0, a] → M uma geodésica. Então um campo de Jacobi J ao longo de γ com J(0) = 0
é dado por
Observação para o Corolário 9.10. Qualquer campo de Jacobi J ao longo de uma geodésica γ : [0, a] →
M com J(0) = 0 é o campo de uma variação de γ por geodésicas:
Proposição 9.11 Seja p ∈ M e γ : [0, a] → M uma geodésica com γ(0) = p, γ 0 (0) = v. Seja w ∈ Tv (Tp M) com
kwk = 1 e seja J o campo de Jacobi ao longo de γ dado por
1
kJ(t)k2 = t 2 − hR(v, w)w, vi t 4 + ϕ(t).
3
ϕ(t)
onde limt→0 t4
= 0.
*0 *0
(0) 0
hJ, Ji00 (0) 2
=
hJ, Ji (0) +
hJ,Ji (0)t +
t + ...
2
2 hR(w, v)v, wi 4
= t2 − 8 t + ϕ(t)
2 24
1
= t 2 − hR(w, v)v, wi t 4 + ϕ(t).
3
6
Corolário 9.12 Seja γ : [0, `] → M geodésica parametrizada pelo comprimento de arco; (
γ 0 (t)
= 1) com
γ(0) = p. E seja w ∈ Tv (Tp M) com kwk = 1, w ⊥ v e v = γ 0 (0). Então neste caso
1
kJ(t)k2 = t 2 − hR(v, w)w, vit 4 + ϕ(t)
3
2 1
= t − K(p, σ )t 4 + ϕ(t),
3
1 R(t)
e
kJ(t)k = t − K(p, σ )t 3 + R(t),
e onde lim = 0.
6 t→0 t 3
Observação 9.14 Pode-se concluir do Corolário 9.13 que as geodésicas t 7→ expp (tv(s)), em que v(s) é uma
curva unitária em Tp M (kv(s)k = 1, v(0) = v, v 0 (0) = w) se afastam da geodésica t 7→ expp (tv(0)) com
velocidade que difere de t por um termo de terceira ordem em t, dado por − 61 K(p, σ )t 3 . Assim, localmente, as
geodésicas
Note que:
• a velocidade de afastamento das geodésicas t 7→ expp (tv(s)) da geodésica principal t 7→ expp (tv(0)) é
dada por:
∂ exp (tv(s)) (0)
=
∂f (0, t)
=
∂s p
∂s
kJ(t)k .
• A velocidade de afastamento dos raios t 7→ tv(s) do raio principal t 7→ tv(0) é dado por
∂ (tv(s)) (0)
=
tv 0 (0)
=
∂s
ktwk = t.
Observação 9.16 Se dimM = n então existem exatamente n campos de Jacobi linearmente independentes ao
longo de uma geodésica γ : [0, a] → M e tais que J(0) = 0.
7
Além disto, o campo de Jacobi J(t) = tγ 0 (t) nunca se anula para t , 0 — isto é, J(t) = tγ 0 (t) não tem
pontos conjugados; segue-se então que a multiplicidade de um ponto conjugado nunca excede n − 1. Assim, a
multiplicidade mq de um ponto conjugado γ(t0 ) = q é tal que 1 ≤ mq ≤ n − 1.
Logo, para estudar pontos conjugados precisamos unicamente considerar campos de Jacobi perpendiculares
(pois os triviais γ 0 (t) e tγ 0 (t) são de Jacobi ao longo de γ que não se anulam).
(2) Além disto, a multiplicidade de q como ponto conjugado de p é igual a dimensão do núcleo da aplicação
linear d(expp )v0 .
Demonstração:
0
>
0 0 0
00 0 0 00
J (t), γ (t) = J (t), γ (t) + hJ (t), γ (t)i
00 0
= J ,γ (γ 0 é paralelo)
= −R(J, γ 0 )γ 0 , γ 0 = 0.
Logo,
0
J (t), γ 0 (t) = J 0 (0), γ 0 (0)
∀ t ∈ [0, a].
Mas
0
0 0
0 0 7
J, γ = J , γ + hJ,γ00 i = J 0 , γ 0
= J 0 (0), γ 0 (0) .
8
Integrando em t,
0
0
J, γ = J (0), γ 0 (0) t + J(0), γ 0 (0) .
Corolário 9.19 Se J, γ 0 (t1 ) = J, γ 0 (t2 ) com t1 , t2 e t1 , t2 ∈ [0, a], então J, γ 0 = constante = J(0), γ 0 (0) .
Em particular, se J(0) = J(a) = 0, então J, γ 0 (t) ≡ 0. Isto é, J(t) ⊥ γ 0 (t) ∀ t ∈ [0, a].
Demonstração: A Expressão 9.4 indica que J(t), γ 0 (t) é linear em t. Então se t1 , t2 com J(t1 ), γ 0 (t1 ) =
Pelo Corolário 9.19: se um campo de Jacobi J ao longo de γ é normal a γ em 2 pontos, então J é
ortogonal a γ em todo ponto.
Corolário 9.20 Suponha que J(0) = 0. Então J, γ 0 (t) ≡ 0 se e somente se J 0 (0), γ 0 (0) ≡ 0.
Proposição 9.21 Seja γ : [0, a] → M uma geodésica com p = γ(0). Sejam V1 ∈ Tp M e V2 ∈ Tγ(a) M. Se γ(a)
não é conjugado a p existe um único campo de Jacobi J ao longo de γ, com J(0) = V1 e J(a) = V2 .
Nota: o Corolário 9.10 mostra em particular que se J é um campo de Jacobi ao longo de γ : [0, a] → M
geodésica com J(0) = 0, então podemos ainda achar uma variação f : (−δ, δ) × [0, a] → M de γ (f (s, t) =
expp (tv(s))), por geodésicas tais que
∂f 0
J(t) = ∂s (0, t) = d(expp )tγ 0 (0) (tJ (0)) e
f (s, 0) = γ(0), ∀ s ∈ (−δ, δ).
Mas se J(a) = 0, não podemos ser capazes de achar f tal que f (s, a) = γ(a), ∀ s (isto equivale a solucionar
∂f
∂s
(0, a) = 0).
Portanto, um ponto conjugado de p = γ(0) é o lugar onde alguma família a 1-parâmetro de geodésicas
vizinhas começando em p se intersectam. Tal descrição de pontos conjugados mostra porque eles são
importantes no estudo de comprimentos minimais locais.
Definição 9.22 O conjunto dos primeiros pontos conjugados a um ponto p ∈ M, para todas as geodésicas
que saem de p, é chamado o lugar dos pontos conjugados de p e indicado por C(p).
n o
Exemplo 9.23 Seja S n = x ∈ Rn+1 kxk = 1 . A curvatura seccional é constante:
K(p, σ ) = 1, ∀ p e ∀ σ ⊆ Tp M.
Já conhecemos o campo de Jacobi em S n dado por J(t) = (sent)w(t), sendo w(t) um campo paralelo e ortogonal
ao longo de γ, com J(0) = 0 = J(π). Logo, ao longo de qualquer geodésica γ de S n , o ponto antípoda γ(π) = −p
de γ(0) = p é conjugado de γ(0). Pegue {γ 0 , E1 , . . . , En−1 } referencial ortonormal paralelo ao longo de γ; então
os campos Ji (t) = (sent)Ei (t) são campos de Jacobi ao longo de γ, com Ji (0) = 0 = Ji (π); portanto, existem
9
n − 1 tais campos linearmente independentes. Logo, a multiplicidade de γ(π) é n − 1. Além disso, conclui-se
que C(p) = {−p}, ∀ p ∈ S n .
Exemplo 9.24 É possível mostrar que se M 2 é um elipsoide de R3 , e se p ∈ M 2 , então C(p) é, em geral, uma
curva com quatro pontos singulares!!!
J(t) = Sk (t)w(t)
Então
• se K é constante e K ≤ 0, então J(t) , 0, ∀ t > 0.
Exemplo 9.26 Em uma variedade Riemanniana M com curvatura seccional não positiva,
C(p) = ∅, ∀ p ∈ M.
De fato: se existisse um campo de Jacobi J não nulo ao longo de uma geodésica γ : [0, a] → M com γ(0) = p e
J(0) = J(a) = 0. Então
* 2 +
d DJ D J DJ DJ
,J = ,J + ,
dt dt dt 2 dt dt
2
0 0
DJ
= − R(J, γ )γ , J +
(equação de Jacobi)
dt
≥ 0.
Logo, a função
DJ
F(t) = (t), J(t)
dt
d DJ
hJ, Ji = 2 ,J
dt dt
= 2F = 0,
10
*
Bibliografia
11