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VALORES EXIGIDOS DO PODER PÚBLICO NO CURSO DO PROCESSO

Atualizado em 25/02/2018

Sumário

1. DESPESAS PROCESSUAIS............................................................................................................. 2

1.1. ESPÉCIES DE DESPESAS PROCESSUAIS ........................................................................................... 2

1.2. PAGAMENTO DE DESPESAS PROCESSUAIS PELO ENTE PÚBLICO .......................................................... 4

2. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ................................................................................................ 6

2.1 REGIME DE PAGAMENTO DE HONORÁRIOS EM DEMANDAS CONTRA O PODER PÚBLICO.......................13

2.2 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM GRAU RECURSAL.......................................................................15

2.3 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.............21

2.4 PREPARO RECURSAL E DEPÓSITO PRÉVIO....................................................................................25

2.5 APLICAÇÃO DE MULTAS CONTRA A FAZENDA PÚBLICA..................................................................25

1
1. Despesas processuais

Neste material, discorreremos sobre os valores exigidos do Poder Público no


curso das demandas judiciais, traçando as distinções entre as espécies de despesas
processuais, bem como delineando as hipóteses de dispensa de pagamentos pela
Fazenda. Também abordaremos um tema de grande relevância: a incidência e a
quantificação dos honorários advocatícios, especialmente no caso de sucumbência
recursal e na hipótese de cumprimento de sentença.
O assunto ganhou maior importância com as novas regras trazidas pelo CPC de
2015. Assim, o estudo dos artigos 82 a 97 do Código é indispensável. Além disso, atente-
se também para a jurisprudência sobre a matéria, que norteia a aplicação das regras
processuais.

1.1. ESPÉCIES DE DESPESAS PROCESSUAIS


Nos termos do art. 82, CPC, as partes devem “prover as despesas dos atos que
realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início até
a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito reconhecido no título”.
A obrigação será excepcionada nos casos em que vigorar benefício de gratuidade da
justiça.
Vê-se, assim, que os litigantes são responsáveis por pagar antecipadamente
pelas despesas das diligências e dos atos processuais que se realizarem a seu pedido.
Conforme leciona Leonardo Carneiro da Cunha, o termo despesa é gênero que
abrange 3 (três) espécies:
a) Custas: são as despesas geradas pela prestação da atividade jurisdicional,
através do órgão julgador e serventias e cartórios judiciais. Referem-se, por
exemplo, às despesas para o ajuizamento da demanda e o preparo para a
interposição de recursos.
b) Emolumentos: são as despesas destinadas à remuneração dos serviços
prestados por cartórios e serventias não oficializados. O pagamento destes
serviços é realizado pelos usuários, não pelo Poder Público. Exemplos de
emolumentos são as despesas para reconhecimento e autenticação de
firma, registro e emissão de certidões etc.

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c) Despesas em sentido estrito: estas despesas remuneram serviços prestados
por terceiros, acionados durante o processo judicial. Trata-se, por exemplo,
de honorários de perito, transporte para oficial de Justiça, entre outros.

De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, as custas e os


emolumentos possuem natureza jurídica tributária de taxa, pois remuneram serviço
público específico à disposição dos usuários. Desta forma, estas espécies de despesas
processuais sujeitam-se aos princípios da legalidade e da anterioridade, de modo que seus
valores são estabelecidos por lei específica e sua cobrança deve respeitar os prazos
definidos na Constituição Federal.

Como o tema foi cobrado em provas?


(FMP, PGE-AC, 2017) Considere as seguintes afirmativas sobre o tema das despesas e dos
honorários advocatícios no âmbito do Código de Processo Civil.
I - Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, incumbe às partes prover as
despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento,
desde o início até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito
reconhecido no título.
II - As despesas abrangem as custas dos atos do processo, a indenização de viagem e a
remuneração do assistente técnico, mas não abrangem a diária de testemunha.
III- Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos
privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em
caso de sucumbência parcial.
IV- Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas serão adiantadas pelo requerente
e rateadas entre os interessados.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) II e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.
Gabarito: D

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1.2. PAGAMENTO DE DESPESAS PROCESSUAIS PELO ENTE PÚBLICO
O art. 91, CPC determina que “as despesas dos atos processuais praticados a
requerimento da Fazenda Pública, do Ministério Público ou da Defensoria Pública serão
pagas ao final pelo vencido”.
Portanto, figurando o Poder Público como parte processual, não será exigido o
pagamento de custas e emolumentos. Caso a Fazenda seja vencida, ressarcirá as despesas
realizadas pela parte adversária, já que, como reconheceu o STJ, não se trata de isenção,
mas de adiamento da cobrança para o final do processo, exigindo-se as quantias devidas
da parte vencida na demanda. Veja-se o disposto pelo art. 39, da Lei nº 6.830/1980:
Art. 39 - A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e
emolumentos. A prática dos atos judiciais de seu interesse independerá
de preparo ou de prévio depósito.

Parágrafo Único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das


despesas feitas pela parte contrária.
Observe-se, entretanto, que não há dispensa de pagamento quanto às despesas
em sentido estrito. Esta espécie corresponde à remuneração de terceiros, a exemplo de
peritos, transportadores etc.
No caso específico de perícias, aplicam-se os parágrafos primeiro e segundo do
art. 91, CPC. Logo, se a avaliação for requerida pela Fazenda, pelo MP ou pela Defensoria
Pública:
a) poderá ser realizada por entidades públicas, sem necessidade de
pagamento;
b) sendo realizada por particular, cabe ao ente público destinar recursos para
custear a despesa. Se não houver previsão orçamentária, os honorários
periciais devem ser pagos no exercício financeiro seguinte ou pelo vencido,
se o processo se encerrar antes.

Na hipótese de o pagamento da perícia ser de responsabilidade de parte


beneficiária de gratuidade da Justiça, o art. 95, § 3º, CPC determina que a avaliação poderá
ser custeada com recursos públicos e realizada por servidor do Poder Judiciário ou por

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órgão público conveniado; ou paga com recursos alocados no orçamento da União, do
Estado ou do Distrito Federal, no caso de ser realizada por particular, hipótese em que o
valor será fixado conforme tabela do tribunal respectivo ou, em caso de sua omissão, do
Conselho Nacional de Justiça.
Acerca de outras despesas em sentido estrito para a realização de atos
processuais, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento sumulado no sentido de
que a Fazenda Pública deve adiantar o pagamento. A contrario sensu, se o próprio Estado
provê o serviço, a remuneração não será devida (ex. disponibilização de veículo para o
transporte de oficial de justiça no cumprimento de mandados judiciais).

Súmula 190/STJ - Na execução fiscal, processada perante a Justiça


Estadual, cumpre à Fazenda Pública antecipar o numerário destinado
ao custeio das despesas com o transporte dos oficiais de justiça.

Quando o ente público litiga em Justiça mantida por si (ex. Estado que litiga em
sua Justiça Estadual), não responde pelo pagamento de despesas processuais. Neste
caso, há confusão entre credor e devedor, já que é o Estado quem custeia sua própria
atividade jurisdicional.
Se, todavia, o ente público litiga em Justiça mantida por Fazenda Pública diversa,
em regra, não há dispensa de pagamento das despesas processuais (ex. União litiga na
Justiça Estadual). Frisa-se, ademais, a impossibilidade de aplicação da imunidade
tributária recíproca prevista pelo art. 150, VI, “a”, CF. A norma constitucional incide
apenas para afastar a cobrança de impostos, não abrangendo as taxas.
No âmbito da União, o art. 24-A, da Lei nº 9.028/95 estabelece que a União, suas
autarquias e fundações são isentas do pagamento de custas, emolumentos e demais
taxas judiciárias em quaisquer foros e instâncias. De acordo com a doutrina, a regra deve
ser interpretada restritivamente, para alcançar apenas a Justiça Federal. Isso se justifica
porque é vedada a instituição de isenção heterônoma, ou seja, é inviável que a União
estabeleça isenção incidente sobre tributos estaduais.
Desta forma, via de regra, o pagamento de custas e emolumentos é devido
quando um ente público litiga em Justiça mantida por outro. Para que a responsabilidade

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seja afastada, é necessário que o ente competente pelo tributo edite lei concessiva de
isenção ou que os entes políticos celebrem convênio neste sentido.
Diante disto, continua válido entendimento do STJ segundo o qual o INSS, pessoa
jurídica de direito público federal, não goza de isenção nas demandas propostas na
Justiça Estadual.

Súmula 178, STJ. O INSS não goza de isenção do pagamento de custas


e emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios propostas na
Justiça Estadual.

2. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Os honorários advocatícios de sucumbência constituem direito do advogado


(ainda quando atua em causa própria) e possuem natureza alimentar, com os mesmos
privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, devendo ser pagos pela parte
vencida no processo. Trata-se de direito autônomo do advogado, que pode executar a
sentença nesta parte, independentemente do litigante que assistia. Assim, resta
superada a súmula nº 453, STJ:

Enunciado n. 8 do FPPC: Fica superado o enunciado 453 da súmula do


STJ após a entrada em vigor do CPC (“Os honorários sucumbenciais,
quando omitidos em decisão transitada em julgado, não podem ser
cobrados em execução ou em ação própria”).

Como o tema foi cobrado em provas?


(CESPE – PGM/BH – Procurador Municipal – 2017 – adaptada). Caso, na sentença, não sejam
arbitrados os honorários sucumbenciais, o advogado da parte vencedora poderá, após o
trânsito em julgado, ajuizar ação autônoma para obter a fixação e a cobrança do valor.
Gabarito: CERTA

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Atenção! Observe-se que o advogado é o titular da verba honorária e, como tal, pode
ceder seu direito. No caso específico de condenação a ser satisfeita pelo regime
precatório, para que a cessão seja válida, é necessário que o crédito cedido esteja
expressamente consignado no precatório. Veja-se o seguinte julgado do STJ:
Para que a cessão do precatório seja válida, é necessário que o crédito cedido esteja
expressamente consignado no precatório. O cessionário de honorários advocatícios tem
legitimidade para se habilitar no crédito consignado em precatório desde que
comprovada a validade do ato de cessão por escritura pública e seja discriminado o
valor devido a título de verba honorária no próprio requisitório, não preenchendo esse
último requisito a simples apresentação de planilha de cálculo final elaborada pelo
Tribunal de Justiça. STJ. Corte Especial. EREsp 1127228-RS, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 21/6/2017 (Info 607).

Ainda tratando sobre a titularidade dos honorários advocatícios e a possibilidade de


cobrança autônoma dos valores, observe-se o julgado do STF:
Execução de honorários sucumbenciais e fracionamento.
Imagine que 30 pessoas, em litisconsórcio ativo facultativo, propuseram uma ação
ordinária contra determinada autarquia estadual. Desse modo, 30 pessoas que
poderiam litigar individualmente contra a ré, decidiram se unir e contratar um só
advogado para propor a ação conjuntamente. A ação foi julgada procedente,
condenando a entidade a pagar "XX" reais ao grupo de 30 pessoas. Na mesma
sentença, a autarquia foi condenada a pagar R$ 600 mil reais de honorários
advocatícios sucumbenciais ao advogado dos autores que trabalhou no processo.
O advogado dos autores, quando for cobrar seus honorários advocatícios, terá que
executar o valor total (R$ 600 mil) ou poderá dividir a cobrança de acordo com a fração
que cabia a cada um dos clientes (ex: eram 30 autores na ação; logo, ele poderá
ingressar com 30 execuções cobrando R$ 20 mil em cada)?
* SIM. É legítima a execução de honorários sucumbenciais proporcional à
respectiva fração de cada um dos substituídos processuais em "ação coletiva"
contra a Fazenda Pública (STF. 1ª Turma. RE 919269 AgR/RS, RE 913544 AgR/RS
e RE 913568 AgR/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 15/12/2015. Info 812).

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* NÃO. Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em
litisconsórcio ativo facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por
frustrar o regime do precatório (STF. 2ª Turma. RE 949383 AgR/RS, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 17/5/2016. Info 826). É a corrente que prevalece. STF.
1ª Turma. RE 919269 AgR/RS, RE 913544 AgR/RS e RE 913568 AgR/RS, Rel. Min.
Edson Fachin, julgados em 15/12/2015 (Info 812).
STF. 2ª Turma. RE 949383 AgR/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/5/2016 (Info
826)1.

A responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios independe de


comprovação de culpa ou dolo. Para que sejam exigíveis, basta o julgamento da causa.
Neste sentido, o parágrafo 1º do art. 85, CPC, explicita que “São devidos honorários
advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na
execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente”.

Enunciado n. 661 do FPPC: É cabível a fixação de honorários advocatícios


na reclamação, atendidos os critérios legais.

Mesmo se beneficiária de justiça gratuita, a parte vencida possui responsabilidade pelo


pagamento dos honorários advocatícios. Assim, a obrigação de pagar existe, porém,
fica sob condição suspensiva de exigibilidade, nos termos do art. 98, § 3º, CPC. Veja-se
o seguinte julgado do STJ:
Condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento das obrigações de
sucumbência
O art. 12 da Lei nº 1.060/50 foi recepcionado pela CF/88. O CPC 2015 revogou o art. 12
da Lei nº 1.060/50, mas previu regra semelhante no § 3º do art. 98: § 3º Vencido o
beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar
que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão

1
Disponível em <https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/06/info-826-stf.pdf>

8
de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. STF.
Plenário. RE 249003 ED/RS, RE 249277 ED/RS e RE 284729 AgR/MG, Rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 9/12/2015 (Info 811).

Acerca da matéria, Leonardo Carneiro da Cunha2 destaca que o pagamento dos


honorários deve observar o princípio da causalidade. Isto é, responde pelos honorários
quem deu causa à propositura da demanda ou à sua extinção. Em virtude deste princípio,
dispõe o art. 85, § 10, CPC: “Nos casos de perda do objeto, os honorários serão devidos
por quem deu causa ao processo”.

Jurisprudência sobre o tema:


Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda
do objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se
saber qual dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o
pagamento das custas e dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as partes.
Cinge-se a controvérsia a determinar quem deve ser condenado ao pagamento dos
ônus da sucumbência quando o processo de ação de cobrança é extinto, sem resolução
de mérito, em virtude de pagamento efetuado por terceiro. O STJ, em inúmeras
oportunidades, já se manifestou no sentido de que, em função do princípio da
causalidade, nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito,
decorrente de perda de objeto superveniente ao ajuizamento da ação, a parte que deu
causa à instauração do processo deverá suportar o pagamento das custas e dos
honorários advocatícios. Ademais, a jurisprudência desta Corte é assente na orientação
de que, sendo o processo julgado extinto, sem resolução de mérito, cabe ao julgador
perscrutar, ainda sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à
extinção do processo sem julgamento de mérito, ou qual dos litigantes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse, de fato, julgado. A situação versada nos autos
demonstra que é inviável imputar a uma ou a outra parte a responsabilidade pelos
ônus sucumbenciais, de modo que se mostra adequado que cada uma das partes

2
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 2018, pp. 134/134.

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suporte os encargos relativos aos honorários advocatícios e às custas processuais,
rateando o quantum estabelecido pela sentença. (Informativo n. 600)

Observe-se, também o enunciado doutrinário:


Enunciado n. 5 da I Jornada de Direito Processual Civil: Ao proferir decisão parcial de
mérito ou decisão parcial fundada no art. 485 do CPC, condenar-se-á
proporcionalmente o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor, nos termos
do art. 85 do CPC.

O CPC/15 trouxe significativa mudança no regime de pagamentos dos honorários


advocatícios. Um ponto importante é a superação do enunciado nº 306 da Súmula do STJ.
A partir do novo regramento processual, é vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial (art. 85, § 14, CPC). A regra decorre de conclusão lógica: se os
honorários são de titularidade do advogado e não da parte, não há que se falar em
compensação na hipótese de sucumbência recíproca.

Enunciado n. 244 do FPPC: Ficam superados o enunciado 306 da súmula


do STJ (“Os honorários advocatícios devem ser compensados quando
houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do
advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria
parte”) e a tese firmada no REsp Repetitivo n. 963.528/PR, após a
entrada em vigor do CPC, pela expressa impossibilidade de
compensação.

Outra inovação é a possibilidade de pagamento de honorários em favor da


sociedade de advogados que atua na causa, como prevê o art. 85, § 15, CPC, o que facilita
o recolhimento de tributos incidentes sobre os valores.
Nos casos em que a Fazenda Pública for parte da demanda, o CPC/15 estabelece
que os advogados públicos têm direito à percepção de honorários, nos termos da lei (art.
85, § 19, CPC). O ente, nesses casos, possui legitimidade extraordinária para discutir,
recorrer e executar os honorários sucumbenciais. Além disso, em caso de improcedência

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do pedido, os honorários advocatícios devem ser fixados, em regra, sobre o proveito
econômico obtido pelo vencedor.

Enunciado n. 2 do FNPP: A Fazenda Pública possui legitimidade extraordinária para


discutir, recorrer e executar os honorários sucumbenciais nos processos em que seja
parte.

Enunciado n. 3 do FNPP: Nos processos em que a Fazenda Pública for parte, em caso
de improcedência do pedido, os honorários advocatícios devem ser fixados, em regra,
sobre o proveito econômico obtido pelo vencedor.

Para ser exercido, o direito de percepção de honorários pelos advogados


públicos precisa ser regulamentado por lei própria de cada ente, no âmbito de sua
respectiva procuradoria. A prerrogativa foi garantida pelo CPC/15, sendo inviável,
portanto, sua supressão pela norma regulamentadora. Neste sentido, explicita o
enunciado 384 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A lei regulamentadora
não poderá suprimir a titularidade e o direito à percepção dos honorários de sucumbência
dos advogados públicos”.
No âmbito da União, a Lei 13.327/2016 regulamentou a matéria, estabelecendo
em seu art. 30 que os honorários de sucumbência devidos aos advogados públicos
federais incluem o total do produto dos honorários de sucumbência recebidos nas ações
judiciais em que forem parte a União, as autarquias e as fundações públicas federais, até
75% (setenta e cinco por cento) do produto do “encargo legal” acrescido aos débitos
inscritos na dívida ativa da União, previsto no art. 1º do Decreto-lei 1.025, de 1969, e o
total do produto do “encargo legal” acrescido aos créditos das autarquias e das
fundações públicas federais inscritos na dívida ativa da União, nos termos do § 1º do art.
37-A da Lei 10.522, de 2002.
O tema tem sido bastante discutido. Em 2018, a Procuradora-Geral da República
ajuizou no STF a ADI 6053 para questionar dispositivos que garantem a advogados públicos
o recebimento de honorários de sucumbência. O objeto da demanda são os artigos 85,
parágrafo 19, do Código de Processo Civil (CPC) e artigos da Lei 13.327/2016, que prevê
o pagamento dos honorários pelos ocupantes dos cargos de advogado da União e de

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procuradores da Fazenda Nacional, Federal e do Banco Central. De acordo com a parte
autora, os advogados públicos já são remunerados pelo ente que representam, sendo a
percepção de honorários incompatível com o regime de subsídios e o regime estatutário
a que os advogados públicos estão sujeitos pela Constituição da República e ofende os
princípios republicano, da impessoalidade e da supremacia do interesse público. A
demanda é importante para as carreiras de advocacia pública e merece ser
acompanhada.

Importante!
Observe-se que os honorários advocatícios tratados pelo art. 85, CPC, são aqueles
decorrentes da condenação no processo judicial e não se confundem com os
honorários contratuais, acordados entre o cliente e seu causídico. Esta última verba
representa a remuneração paga pela prestação dos serviços advocatícios, e se
estabelece previamente entre o contratante e o advogado contratado, nos termos do
art. 22, da Lei nº 8.0906/94.
Sobre o pagamento dos honorários contratuais, vejam-se os julgados do STJ:

O advogado deve receber os honorários contratuais calculados sobre o valor global do


precatório decorrente da condenação da União ao pagamento a Município da
complementação de repasses ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), e não sobre o montante que
venha a sobrar após eventual compensação de crédito de que seja titular o Fisco federal.
Cinge-se a controvérsia a definir a possibilidade de compensação dos créditos
decorrentes débitos tributários devidos pelo Município à União com os valores
decorrentes da condenação do ente federal à complementação dos repasses ao
FUNDEF, para só então se proceder ao cálculo da verba advocatícia convencional. O
direito do causídico aos honorários previamente convencionados com a parte litigante
é assegurado pelo art. 22 da Lei 8.906/94. Conforme se extrai da leitura do dispositivo,
os honorários contratuais, no caso de pagamento via precatório, devem ser deduzidos
do montante a ser recebido pelo credor, ou seja, deduzidos da integralidade do
precatório, do seu valor original, não havendo qualquer justificativa para que, no caso

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dos autos, o Município proceda a negociação com a União a fim de quitar seus débitos
tributários, para só então chegar a base de cálculo da verba honorária. Nessa linha de
compreensão, citam-se: AgRg no REsp 1.221.726-MA, Segunda Turma, DJe 2/5/2013;
REsp 1.335.366-RS, Primeira Turma, DJe 12/12/2012; REsp 1.102.473-RS, Corte
Especial, DJe 27/8/2012. (Informativo n. 597)

Os honorários advocatícios nascem contemporaneamente à sentença e não preexistem


à propositura da demanda, devendo observar as normas do CPC/2015 nos casos de
decisões proferidas a partir de 18/3/2016. De início, destaca-se que a Corte Especial do
STJ se posicionou que o arbitramento dos honorários não configura questão
meramente processual, mas sim questão de mérito apta a formar um capítulo da
sentença (REsp 1.113.175-DF, Rel. Min. Castro Meira, DJe 7/8/2012). Estabelecida a
natureza jurídica dos honorários de sucumbência, mister fixar o marco temporal para
a aplicação das novas regras previstas no CPC/2015. Neste ponto, a jurisprudência
desta Corte é pacífica no sentido de que a sucumbência é regida pela lei vigente na data
da sentença (REsp 783.208-SP, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 21/11/2005). Verifica-se,
portanto, que os honorários nascem contemporaneamente à sentença e não
preexistem à propositura da demanda. Assim sendo, aplicar-se-ão as normas do
CPC/2015 nos casos de sentença proferida a partir de sua vigência (18/3/2016).
(Informativo n. 602)

2.1 Regime de pagamento de honorários em demandas contra o Poder Público


Segundo a regra geral do art. 85, § 2º, CPC, os honorários advocatícios serão
fixados em 10% (dez por cento) a 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, do
proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa, atendidos o grau de zelo do profissional; o lugar de prestação do serviço; a
natureza e a importância da causa; o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido
para o seu serviço.
Nas causas em que a Fazenda Pública ocupar um dos polos da demanda (e não
apenas nas ações movidas contra entes públicos), a fixação dos honorários deve observar
os critérios próprios estabelecidos pelo art. 85, § 3º a 8º, CPC.

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No Código de 1973, o valor da verba honorária era determinado por apreciação
equitativa do juízo. O Código de 2015 inovou a disciplina da matéria, estabelecendo
diretrizes objetivas para a fixação dos montantes devidos. Agora, devem ser obedecidos
os seguintes percentuais, de acordo com as faixas de valores delineadas:

Valor da condenação ou do proveito Percentuais mínimos e máximos dos


econômico honorários
Até 200 salários mínimos 10% - 20%
De 200 a 2.000 salários mínimos 8% - 10%
De 2.000 a 20.000 salários mínimos 5% - 8%
De 20.000 a 100.000 salários mínimos 3% - 5%
Acima de 100.000 salários mínimos 1% a 3%

Se a sentença for líquida, os percentuais devem ser aplicados desde logo. Em


caso de decisão ilíquida, a definição dos valores dependerá da liquidação do julgado. Por
outro lado, se não houver condenação principal ou se não for possível mensurar o
proveito econômico obtido, a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor
atualizado da causa.
De acordo com o parágrafo 5º, do art. 85, CPC, havendo condenação contra a
Fazenda ou obtenção de benefício econômico ou valor da causa superior a 200 salários
mínimos, a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo
que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente.

Exemplo: José moveu ação indenizatória contra a União. A sentença julgou


inteiramente procedentes os pedidos autorais, condenando o Poder Público ao
pagamento de 500 salários mínimos a José. Neste caso, os honorários advocatícios
devidos pelo ente público serão fixados em 10% a 20% sobre parcela equivalente a 200
salários mínimos. Em relação ao excedente (300 salários mínimos), a verba honorária
deve ser fixada em 8% a 10% do montante.

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Os limites percentuais delineados pelo CPC aplicam-se independentemente de
qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença
sem resolução de mérito.
Excepcionalmente, nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito
econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos
honorários por apreciação equitativa (art. 85, § 8º, CPC).

Enunciado n. 6 da I Jornada de Direito Processual Civil: A fixação dos


honorários de sucumbência por apreciação equitativa só é cabível nas
hipóteses previstas no § 8º do art. 85 do CPC.

Regra geral aplicável às demandas em que Percentuais incidentes sobre as faixas de


a Fazenda Pública for parte (ré ou autora). valores delineadas pelo art. 85, § 3º, CPC.
Exceções:
• Inestimável ou irrisório o proveito Fixação dos honorários por apreciação
econômico; equitativa (art. 85, § 8º, CPC).
• Valor da causa muito baixo.

2.2 Honorários advocatícios em grau recursal


O CPC/15 também trouxe inovações no sentido de desestimular a interposição
de recursos meramente protelatórios ou com poucas chances de provimento. A partir da
regra estabelecida pelo art. 85, § 11, CPC, ao apreciar o recurso, o Tribunal aumentará o
valor fixado a título de verba honorária, levando em consideração o trabalho adicional
realizado em grau recursal.

Marco temporal para a aplicação do art. 85, § 11, CPC: interposição de recurso (e não
seu julgamento) após o início da vigência do CPC/15. Enunciado administrativo nº 7 do
Superior Tribunal de Justiça: “Somente nos recursos interpostos contra decisão
publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários
sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC”.

15
O novo montante, que se soma aos honorários anteriormente fixados,
entretanto, deve observar os limites percentuais determinados pelo CPC. Assim, a
condenação total em honorários não poderá ultrapassar 20% (vinte por cento) do valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou do valor atualizado da causa.

Exemplo: Antônia moveu ação indenizatória contra o Estado do Piauí. A sentença julgou
inteiramente procedentes os pedidos autorais, condenando o Poder Público ao
pagamento de 100 salários mínimos a Antônia, fixando a verba honorária em 15%
(quinze por cento) do valor da condenação. O ente público interpôs apelação contra a
sentença. O Tribunal de Justiça rejeitou o recurso, majorando a verba honorária para
20% (vinte por cento) do valor da condenação. Se o Estado for vencido em posterior
recurso de natureza extraordinária, o Tribunal competente não poderá aumentar o
valor dos honorários, pois já se atingiu o limite máximo estabelecido pelo CPC.

De acordo com o entendimento fixado no Enunciado nº 7 da I Jornada de Direito


Processual Civil, do Conselho da Justiça Federal: “A ausência de resposta ao recurso pela
parte contrária, por si só, não tem o condão de afastar a aplicação do disposto no art. 85,
§ 11, do CPC”.
Como a majoração dos honorários decorre do princípio da causalidade, eventual
inércia da parte recorrida não afasta o direito à percepção da verba, embora influencie a
definição do percentual aplicável para o aumento dos valores. Mesmo que não sejam
apresentadas contrarrazões, haverá sucumbência recursal se o recurso for inadmitido ou
rejeitado, desde que o recorrido tenha advogado constituído e tenha sido intimado para
apresentá-las.
Fixação de honorários recursais mesmo quando não há a apresentação de contrarrazões
ou contraminuta. É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11,
do CPC/2015, mesmo quando não apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo
advogado da parte recorrida. STF. 1ª Turma. AI 864689 AgR/MS e ARE 951257 AgR/RJ,
rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 27/09/2016
(Info 841). STF. Plenário. AO 2063 AgR/CE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2017 (Info 865).

16
Também em virtude do princípio da causalidade, a majoração dos honorários
em virtude do julgamento de um recurso não depende de pedido. Assim, não tendo os
honorários alcançado o limite máximo, o tribunal, ao inadmitir ou desprover o recurso,
deve aumentar o seu valor.

Como o tema foi cobrado em provas?


(CESPE – PGE/SE – Procurador do Estado – 2017) Flávio ajuizou ação contra a fazenda
pública, requerendo o pagamento de indenização no valor de cem mil reais. Em
sentença, o magistrado condenou a fazenda pública ao pagamento de cinquenta mil
reais em favor de Flávio, determinando, ainda, que ambas as partes pagassem cinco
mil reais a título de honorários de sucumbência. Autor e réu apelaram integralmente
da sentença nos limites de suas respectivas sucumbências.
Nessa situação hipotética, o tribunal,
a) se der provimento de forma integral apenas à apelação da fazenda pública, deverá
redistribuir os honorários fixados em primeiro grau e arbitrar honorários de
sucumbência recursal.
b) para redistribuir o valor da verba honorária fixada pelo juiz, deverá utilizar
livremente o critério da equidade, independentemente do resultado do julgamento
dos recursos.
c) caso negue provimento a ambos os recursos, não poderá majorar a verba honorária
fixada pela sentença.
d) para aumentar a verba honorária, dependerá, necessariamente, de que um dos
apelantes tenha pedido a majoração dos honorários em seu recurso.
e) caso negue provimento aos recursos e mantenha a sentença, deverá determinar a
compensação da verba honorária devida por cada uma das partes.
Gabarito: A

Há que se ressaltar, contudo, que os honorários de sucumbência recursal não se


aplicam a todos os recursos. Deve-se observar o seguinte requisito lógico contido no art.

17
85, § 11, CPC: a existência de condenação em honorários advocatícios na primeira
instância. Leonardo Carneiro da Cunha3 traz exemplos esclarecedores:

“Não há honorários recursais em qualquer recurso, apenas naqueles em


que for admissível condenação em honorários de sucumbência na
primeira instância. Assim, não cabe, por exemplo, sucumbência recursal
em agravo de instrumento interposto contra decisão que versa sobre
tutela provisória, mas cabe em agravo de instrumento interposto contra
decisão que versa sobre o mérito da causa. A sucumbência recursal
consiste, como já visto, em majoração de honorários já fixados.
Exatamente por isso, não se aplica o § 11 do art. 85 do CPC nos recursos
interpostos no mandado de segurança.201 É que, no processo de
mandado de segurança, não cabe condenação em honorários de
sucumbência (Lei 12.016/2009, art. 25).202 Se não há condenação em
honorários, não pode haver sua majoração em sede recursal. Daí a
inaplicabilidade do dispositivo no mandado de segurança”.

Jurisprudência sobre o tema:


Não é possível fixar honorários recursais quando o processo originário não preveja condenação
em honorários. Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015) em caso
de recurso interposto no curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de condenação em
honorários. Em outras palavras, não é possível fixar honorários recursais quando o processo
originário não preveja condenação em honorários. Assim, suponha que foi proposta uma ação
que não admite fixação de honorários advocatícios. Imagine que uma das partes, no bojo deste
processo, interponha recurso extraordinário. O STF, ao julgar este RE, não fixará honorários
recursais, considerando que o rito aplicável ao processo originário não comporta condenação
em honorários advocatícios. Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de
segurança, que não admite condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº
12.016/2009, súmula 105-STJ e súmula 512-STF). Logo, se for interposto um recurso
extraordinário neste processo, o Tribunal não fixará honorários recursais. STF. 1ª Turma. ARE

3
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 2018, p. 139.

18
948578 AgR/RS, ARE 951589 AgR/PR e ARE 952384 AgR/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados
em 21/6/2016 (Info 831).

Enunciado n. 8 da I Jornada de Direito Processual Civil: Não cabe majoração


de honorários advocatícios em agravo de instrumento, salvo se interposto
contra decisão interlocutória que tenha fixado honorários na origem,
respeitados os limites estabelecidos no art. 85, §§ 2º, 3º e 8º, do CPC.

O art. 25 da Lei n. 12.016/2009, que estabelece regra de descabimento de condenação em


honorários advocatícios "no processo mandamental", afasta a incidência do regime do art. 85, §
11, do CPC/2015. Tratou-se de recurso ordinário interposto contra acórdão denegatório de
mandado de segurança não conhecido porque entre a motivação utilizada como fundamento
do julgamento e as razões do recurso que impugna tal decisão não houve relação de
congruência. Pesou considerar que o recurso se orientou pela nova codificação processual,
considerando que a publicação do acórdão da origem foi posterior a 18/3/2016, atraindo a
aplicação do Enunciado Administrativo n. 3 do STJ. Isso imporia como consequência, na
hipótese do seu desprovimento, a condenação da recorrente em honorários recursais, a teor do
disposto no art. 85, § 11, do CPC/2015. No entanto, não é adequada a incidência desse regime
ao feito tendo em conta o disposto no art. 25 da Lei n. 12.016/2009. A interpretação desse
preceito sempre pontuou o julgamento da ação de mandado de segurança, isso sob um regime
em que inexistia a conjectura dos honorários recursais. Tratando-se o recurso de um
desdobramento da tramitação processual que se inicia com a petição inicial, não há lógica em
que no processamento da ação propriamente dita inexista condenação em honorários, mas na
fase recursal consequente isso seja possível. Além disso, o texto do art. 25 da Lei n. 12.016/2009
é claro ao estabelecer que os honorários advocatícios não cabem no processo mandamental,
expressão que reúne a ideia de ação e do procedimento subjacente, com a petição inicial, as
informações da autoridade coatora, a intervenção do Ministério Público, a prolação de
provimento judicial e, ainda, os recursos. (Informativo n. 592)

De acordo com Leonardo Carneiro da Cunha4, no julgamento dos embargos de


declaração não se majoram os honorários. Como explicita o autor, a regra do art. 85, §
11, CPC, refere-se a tribunal, indicando que o recurso deve ser apreciado por instância

4
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 2018, p. 139.

19
superior, ocorrendo sucumbência recursal. Logo, por simetria, não há que se falar em
aumento dos valores no caso de embargos de declaração contra sentença, decisão
interlocutória, decisão isolada de relator ou acórdão.
A 1ª Turma do STF, contudo, entendeu de modo diverso. Para o órgão julgador,
“após 18 de março de 2016, data do início da vigência do Novo Código de Processo
Civil, é possível condenar a parte sucumbente em honorários advocatícios na hipótese de
o recurso de embargos de declaração, interposto perante Tribunal, não atender os
requisitos previstos no art. 1.022 e tampouco se enquadrar em situações excepcionais
que autorizem a concessão de efeitos infringentes” (STF. 1ª Turma.RE 929925 AgR-
ED/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2016 (Info 829).
No caso de agravo interno, o desprovimento não enseja a majoração de
honorários advocatícios, conforme a doutrina5. Isto é, quando decide pela inadmissão ou
negativa de provimento a recurso, o relator antecipa o entendimento do colegiado,
aplicando a norma do art. 85, § 11, CPC. Se o colegiado rejeita o agravo interno, apenas
confirma a decisão do relator, inclusive quanto aos honorários de sucumbência recursal,
sem novo aumento destes. Se não fosse assim, haveria dupla majoração de honorários
na mesma instância, no mesmo recurso.

Enunciado n. 16 ENFAM. Não é possível majorar os honorários


advocatícios na hipótese de interposição de recurso no mesmo grau de
jurisdição.

Por outro lado, o julgamento de embargos de divergência pode acarretar o


aumento da verba honorária. Neste caso, haverá início de novo grau recursal, como já
decidiu o STJ:

“Com a interposição de embargos de divergência em recurso especial


tem início novo grau recursal, sujeitando-se o embargante, ao
questionar decisão publicada na vigência do CPC/2015, à majoração
dos honorários sucumbenciais, na forma do § 11 do art. 85, quando

5
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 2018, p. 139.

20
indeferidos liminarmente pelo relator ou se o colegiado deles não
conhecer ou negar-lhes provimento”. (STJ, 1ª Seção, AgInt nos EmbDiv
em REsp 1.539.725/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 09.08.2017,
DJe 19.10.2017).

Por fim, destaca-se outro ponto de grande relevância para a atuação do Poder
Público em juízo. No julgamento da remessa necessária não haverá aumento dos
honorários advocatícios. Para grande parte da doutrina, o instrumento de proteção do
interesse público não se trata de recurso, pois não há voluntariedade no seu manejo. Esta
característica afasta a incidência do art. 85, § 11, CPC. De outra banda, mesmo para
aqueles que defendem a natureza de recurso da remessa necessária, também não cabe
a incidência de honorários de sucumbência recursal, pois não existe causalidade neste
caso.

Enunciado n. 4 do FNPP: A majoração dos honorários de sucumbência,


prevista no § 11 do art. 85 do CPC, não se aplica ao julgamento da
remessa necessária.

2.3 Honorários advocatícios no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública


O parágrafo 7º do art. 85, CPC, traz regra específica e determina que “não serão
devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje
expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada”.
A norma reproduz a previsão contida no art. 1º-D, da Lei nº 9.494/1997, que já
afastava a cobrança de honorários advocatícios em execuções não embargadas pela
Fazenda. O STF limitou a incidência da norma, esclarecendo que a dispensa só vigora para
pagamentos sujeitos ao regime de precatórios.
Como se sabe, as condenações pecuniárias que ensejem a expedição de
precatório não podem ser livremente cumpridas pela Fazenda. É necessário obedecer à
ordem constitucional, a partir do cumprimento de sentença. Neste caso, não há
insatisfação deliberada do crédito ou causalidade na propositura da demanda. Assim, se

21
o ente público não se opõe à execução, não haverá pretensão resistida, sendo indevida
condenação em honorários.
O quadro é diferente quando se tem condenação sujeita ao regime de
Requisição de Pequeno Valor (RPV). Nesta hipótese, a obrigação pode ser
voluntariamente cumprida pela Fazenda, pois não se exige observância de ordem
cronológica no pagamento de créditos desta natureza. Assim, se o Poder Público deixa
de cumprir a condenação, causando o ajuizamento do cumprimento de sentença, a verba
honorária será devida.
Mesmo nos casos em que o valor da condenação supera o limite de obrigação
de pequeno valor, o demandante pode renunciar ao excedente, para adequar-se ao
regime de RPV, evitando a expedição de precatório. Nesta situação, o cumprimento de
sentença será iniciado desde logo via RPV e serão devidos honorários advocatícios
mesmo quando a Fazenda não apresente impugnação (STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp
1.328.643/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 23.10.2012, DJe 30.10.2012). Por outro lado, se
o exequente inicia a execução pela via do precatório e, no curso do cumprimento de
sentença, renuncia ao excedente, a Fazenda não será condenada em verba honorária se
não apresentou impugnação (STF. 1ª Turma. RE 679164 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 11/12/2012; STJ. 1ª Seção. REsp 1406296/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
26/02/2014).
Sobre o tema, vejam-se os seguintes quadros:

Ausência de impugnação do cumprimento


de sentença: Não serão devidos
Condenação sujeita ao regime de honorários advocatícios.
precatórios Fazenda Pública apresenta impugnação
do cumprimento de sentença: Devida a
condenação em honorários advocatícios.
Impugnado ou não o cumprimento de
Condenação sujeita à expedição de RPV sentença: Devida a condenação em
honorários advocatícios.

22
Exequente inicia o cumprimento de
sentença via RPV, renunciando desde logo
ao montante excedente: Devida a
condenação em honorários advocatícios,
mesmo que não haja impugnação.
Condenação sujeita ao regime de Exequente inicia o cumprimento de
precatórios sentença via precatório, renunciando ao
montante excedente no curso da ação:
Não serão devidos honorários
advocatícios se não tiver sido impugnada
a demanda.

É necessário frisar: a dispensa do art. 85, § 7º, CPC, só vale para condenações da
Fazenda Pública em obrigação de pagar quantia certa. As obrigações de fazer, não fazer e
de entregar coisa podem ser cumpridas livremente pelo ente público, sem necessidade
de observância do regime constitucional de precatórios. Assim, nestes casos, será
plenamente possível a fixar honorários advocatícios. A definição observará os percentuais
e faixas do art. 85, § 3º, CPC, e não o percentual fixo estabelecido pelo art. 523, § 1º, CPC.
De igual maneira, também não haverá dispensa se a execução contra a Fazenda
se fundar em título extrajudicial, ainda que seja o caso de expedição de precatório. O art.
85, § 7º, CPC refere-se expressamente a cumprimento de sentença.

Enunciado n. 240 do FPPC: São devidos honorários nas execuções


fundadas em título executivo extrajudicial contra a Fazenda Pública, a
serem arbitrados na forma do § 3º do art. 85.

Por derradeiro, merece análise o enunciado nº 345 da Súmula do Superior


Tribunal de Justiça:

Súmula nº 345, STJ. São devidos honorários advocatícios pela Fazenda


Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações
coletivas, ainda que não embargadas.

23
De acordo com Leonardo Carneiro da Cunha6, o enunciado acima fica
prejudicado pela norma do art. 85, § 7º, CPC:

No caso das execuções de sentenças coletivas, deve haver honorários


na liquidação, que é outra demanda cognitiva. Após a liquidação,
sobrevém o cumprimento de sentença, no qual não há honorários,
aplicando-se o disposto no § 7º do art. 85 do CPC, salvo se se tratar de
execução sem precatório. Se, todavia, houver necessidade de
precatório, não há honorários, exatamente por não haver causalidade,
a não ser que seja ajuizada impugnação que venha a ser rejeitada.
Entendimento diverso resta por contrariar o mencionado precedente do
Plenário do STF.
É preciso, então, que a orientação do STJ, compendiada no enunciado
345 de sua Súmula, ajuste-se ao entendimento do STF e ao disposto no
§ 7º do art. 85 do CPC, estabelecendo-se que, nos casos de sentença
coletiva, cabem honorários nos sucessivos processos de liquidação, e
não nas subsequentes execuções individuais. Não é sem razão, aliás,
que o próprio STJ, ao julgar o EREsp 490.739/PR, asseverou que “a ação
individual destinada à satisfação do direito reconhecido em sentença
condenatória genérica, proferida em ação civil coletiva, não é uma ação
de execução comum. É ação de elevada carga cognitiva, pois nela se
promove, além da individualização e liquidação do valor devido,
também juízo sobre a titularidade do exequente em relação ao direito
material”.

2.4 Preparo recursal e depósito prévio


Nos termos do art. 1.007, CPC, pela regra geral, para interposição de recurso,
exige-se a comprovação de preparo, sob pena de deserção. O parágrafo 1º do referido
dispositivo dispensa de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos

6
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 2018, p. 143.

24
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.

Súmula n. 483 do STJ: O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo
por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública.

Conforme o disposto pelo art. 1º-A, da Lei nº 9.494/1997, a Fazenda Pública


também está dispensada de depósito prévio para fins de interposição de recurso.
O CPC prevê outra dispensa de depósito prévio, relativa à propositura de ação
rescisória. De acordo com a norma processual, as pessoas jurídicas de direito público não
necessitam efetuar depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de
multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou
improcedente (art. 968, § 1º, CPC).

2.5 Aplicação de multas contra a Fazenda Pública


A fim de atender o princípio da boa-fé objetiva, que exige conduta leal e em
respeito à confiança legítima, o CPC estabelece deveres a serem cumpridos pelas partes
processuais, sob pena de sanções repressivas.
Nesse sentido, deixar de cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de
natureza provisória ou final, criar embaraços à sua efetivação, ou praticar inovação ilegal
no estado de fato de bem ou direito litigioso são caracterizados como atos atentatórios
à dignidade da Justiça. Estes comportamentos nocivos ensejam a aplicação de multa de
até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta. Caso não
seja paga a penalidade pecuniária, o crédito pode ser inscrito em dívida ativa após o
trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da
execução fiscal.
Se o ato atentatório à dignidade da Justiça for praticado por membro do MP, da
Defensoria ou de carreira de advocacia pública, não se aplica a multa mencionada.
Conforme o art. 77, § 6º, CPC, o juízo deve oficiar o respectivo órgão de classe ou
corregedoria, para apuração de eventual responsabilidade disciplinar.
O art. 79, CPC, determina que as partes e intervenientes no processo são
responsáveis por perdas e danos decorrentes de litigância de má-fé. Nestes casos, o juiz

25
deve determinar, de ofício ou a requerimento, o pagamento à parte prejudicada de multa
fixada ente 1% (um por cento) de 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa, além
de arcar com indenização pelos prejuízos causados, honorários advocatícios e outras
despesas.
A multa por litigância de má-fé pode ser imposta a Poder Público, pois não há
dispositivo legal que afaste a responsabilidade neste caso.

Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano.
O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-
fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção
processual, aplicável inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a parte
adversa. STJ. 3ª Turma. REsp 1628065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/2/2017 (Info 601).

Também haverá imposição de multa quando se interpuserem embargos de


declaração manifestamente protelatórios e quando o agravo interno for julgado
manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime. Veja-se o disposto
pelo CPC:

Art. 1.021 (...)


§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente
inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado,
em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao
agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado
da causa.

§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao


depósito prévio do valor da multa prevista no § 4o, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o
pagamento ao final.

Art. 1.026 (...)

26
§ 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração,
o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o
embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por
cento sobre o valor atualizado da causa.

§ 3º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente


protelatórios, a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor
atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará
condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a
recolherão ao final.

§ 4º Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois)


anteriores houverem sido considerados protelatórios.

Embora cabível a aplicação das multas, deve-se recordar que vigora a dispensa
de exigência de depósito prévio para interposição de recurso, nos termos do art. 1º-A, da
Lei nº 9.494/1997. Assim, condenada nas multas do art. 1.026, § 3º e art. 1.021, § 4º, a
Fazenda não necessita depositar os valores respectivos para interpor outros recursos,
devendo a penalidade ser paga ao final, quando encerrado todo o processo.
Outra espécie de multa a ser analisada é aquela de natureza coercitiva
(astreintes) como medida de apoio para efetivar a tutela jurisdicional:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade


de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.

§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre


outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção
de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de

27
atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial.
(...)

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser


aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença,
ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a
obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do
preceito.

§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a


periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

I - se tornou insuficiente ou excessiva;

II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da


obrigação ou justa causa para o descumprimento.

§ 2º O valor da multa será devido ao exequente.

§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório,


devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor
após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte.
(Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

§ 4 º A multa será devida desde o dia em que se configurar o


descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a
decisão que a tiver cominado.

§ 5º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento


de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza
não obrigacional.

28
A multa coercitiva pode ser imposta ao Poder Público no caso de obrigação de
fazer ou de não fazer (STJ. 2ª Turma. REsp 1654994/SE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 06/04/2017). Entretanto, é necessário observar que o cumprimento de
obrigações pelo ente público depende da atuação de seus agentes e servidores. Ademais,
a cobrança de astreintes pode se mostrar prejudicial ao interesse público e à coletividade,
diante do desfalque de recursos que deveriam ser utilizados para fazer frente a
necessidades dos administrados.
Em vista deste quadro, a jurisprudência admite a imposição de multa
diretamente ao agente público responsável pelo descumprimento da obrigação de fazer,
desde que tenha participado da ação. Nesse sentido, vejam-se os julgados abaixo
colacionados:

(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da


Administração e dos Recursos Humanos do Governo do Rio Grande
do Norte, foi condenado, ante sua responsabilidade pessoal, pela Corte
de origem ao pagamento de astreintes devido ao não cumprimento
imediato de determinação judicial no bojo de mandado de segurança
do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada.(...)3. As astreintes
podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes
responsáveis pelo cumprimento das determinações judiciais, em
particular quando eles foram parte na ação.(...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 23/10/2014.

(...) o agente público não pode ser pessoalmente condenado ao


pagamento de astreintes se não figurou como parte na relação
processual em que imposta a cominação, sob pena de afronta ao
direito constitucional de ampla defesa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1433805/SE, Rel. Min.Sérgio Kukina, julgado em
16/06/2014

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Também é possível que o juiz, observando a proporcionalidade e a
razoabilidade, limite o valor da multa cominatória, para evitar enriquecimento ilícito da
parte contrária, conforme prevê o art. 537, § 1º, CPC. Assim, a decisão que fixa as
astreintes não está sujeita à preclusão à coisa julgada, de modo que poderá ser cominada,
alterada ou suprimida posteriormente:

A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco


coisa julgada. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a
multa cominatória não integra a coisa julgada, sendo apenas um meio
de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser
cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 539)

Ademais, a multa é tida como acessório em relação à obrigação principal. Logo,


o valor da penalidade, no momento em que esta for estipulada, não pode ser superior ao
da obrigação cujo cumprimento se almeja garantir. Contudo, se a demora do devedor
para implementar a condenação causa o aumento do valor devido a título de multa, não
haverá violação da proporcionalidade.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXEQUIBILIDADE DE MULTA


COMINATÓRIA DE VALOR SUPERIOR AO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.
O valor de multa cominatória pode ser exigido em montante superior
ao da obrigação principal. O objetivo da astreinte não é constranger o
réu a pagar o valor da multa, mas forçá-lo a cumprir a obrigação
específica. Dessa forma, o valor da multa diária deve ser o bastante
para inibir o devedor que descumpre decisão judicial, educando-o.
Nesse passo, é lícito ao juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da
proporcionalidade, limitar o valor da astreinte, a fim de evitar o
enriquecimento sem causa, nos termos do § 6º do art. 461 do CPC.
Nessa medida, a apuração da razoabilidade e da proporcionalidade do
valor da multa diária deve ser verificada no momento de sua fixação em

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cotejo com o valor da obrigação principal. Com efeito, a redução do
montante total a título de astreinte, quando superior ao valor da
obrigação principal, acaba por prestigiar a conduta de recalcitrância do
devedor em cumprir as decisões judiciais, bem como estimula a
interposição de recursos com esse fim, em total desprestígio da
atividade jurisdicional das instâncias ordinárias. Em suma, deve-se ter
em conta o valor da multa diária inicialmente fixada e não o montante
total alcançado em razão da demora no cumprimento da decisão.
Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do devedor em
cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória
superior ao montante da obrigação principal. REsp 1.352.426-GO, Rel.
Min. Moura Ribeiro, julgado em 5/5/2015, DJe 18/5/2015.

Se efetivamente desproporcional o valor das astreintes, este poderá ser


reduzido. Como se viu acima, a decisão que fixa a multa coercitiva não faz coisa julgada,
podendo ser modificada até mesmo de ofício, a qualquer tempo, inclusive na fase de
execução. Todavia, para que se possa operar a modificação, a instância recursal deve ter
sido aberta propriamente. Assim, se o recurso da parte não foi conhecido, o Tribunal não
pode modificar o valor das astreintes. Veja o julgado abaixo:

O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda


instância quando a questão é suscitada em recurso de apelação não
conhecido. Cinge-se a controvérsia a saber se órgão julgador pode
conhecer de ofício determinada questão e emitir pronunciamento de
mérito a seu respeito mesmo quando não aberta a sua jurisdição. Com
efeito, na linha dos precedentes deste STJ, a decisão que fixa a multa
cominatória não faz coisa julgada, podendo ser modificada a qualquer
tempo, mesmo na fase executiva, até de ofício. Contudo, isso não quer
dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício do tema
em recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de
conhecimento, isto é, que não tenha sido nem mesmo admitido. No
caso, o recurso de apelação não poderia ter sido conhecido. Nesses

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termos, se o apelo não foi conhecido, é mister concluir que tampouco
se abriu a jurisdição recursal, razão pela qual impossível a emissão de
qualquer pronunciamento de mérito, ainda que de ofício. Dizer que
determinada questão pode ser conhecida de ofício significa reconhecer
que o juiz pode decidi-la independentemente de pedido, mas há de
haver um momento processual adequado para tanto. Admitindo-se que
o momento adequado para a entrega de uma prestação jurisdicional de
mérito só se inaugura, no caso dos recursos, quando ultrapassada sua
admissibilidade, tem-se de concluir que, no âmbito recursal cível, não
cabe pronunciamento meritório de ofício sem que o recurso tenha sido
previamente admitido. (Informativo n. 600)

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