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Episódio 1 – Informação x Conhecimento

Samuel: Olá, meu nome é Samuel e neste podcast nós vamos falar sobre fake news. E
para discutir esse tema, estão aqui comigo o Professor de Filosofia Aparecido Gomes
Leal e o jornalista, fact Checker, Marco Faustino. Sejam bem-vindos e, por gentileza, se
apresentem.

Aparecido: Bom, eu sou o Aparecido Gomes Leal, formado em Filosofia pela PUC
Campinas e Mestre em Filosofia Antiga, com especialização em Sócrates e a República
de Platão. Depois, eu comecei doutorado, mas não consegui terminar. Dou aula há 34
anos na rede particular universitária.

Marco: Meu nome é Marco Faustino e eu trabalho para o portal E-Farsas de verificação
de fatos. O portal do E-Farsas existe há 17 anos, mas eu, particularmente, entrei em
janeiro do ano passado. Eu já escrevi anteriormente para um outro portal e estamos na
luta, tentando combater ou minimizar um pouco a disseminação de notícias falsas que
tem pela internet, pelo menos no Brasil. Esse ano ainda é um ano eleitoral, então tem
muita coisa pela frente.

Samuel: Fact checker é um verificador de fatos?

Marco: Sim, nada mais é do que a gente pegar uma informação que está circulando:
pode ser uma foto, pode ser um vídeo. E a gente analisa a verdade por trás dela e qual
é a origem real daquela informação que está sendo compartilhada.

Samuel: Bom, a gente começa com um questionamento importante frente a quantidade


de fake news que presenciamos recentemente e que continuamos presenciando. Nós
refletimos sobre informações que a gente lê, sobre o que a gente tem acesso, ou somos
apenas consumidores de informação? E por que precisamos pensar sobre isso?

Aparecido: Olha, é claro que a gente é consumidor em alta voltagem de tudo quanto é
tipo de informação que aparece. O aluno, principalmente, ele tem uma sobrecarga
imensa. Por exemplo: numa sala de aula de um curso que ele esteja fazendo, ele tem
várias matérias diferentes com informações diferentes que englobam aquelas áreas de
conhecimento. E o público comum tem desde a novela até o outdoor que as pessoas
passam e veem. Então, as pessoas estão constantemente sendo bombardeadas por
informações, que nada mais são do que dados que aparecem e que nós devemos
decodificar. Então, não tem como escapar desse bombardeio de informações. Nós
estamos vivendo uma era da informação. Disseram na virada do século que seria essa a
era do conhecimento, mas não, não é do conhecimento, é da informação.

Marco: Não tem como não concordar. É a era da hiperinformação. E ela tem seu lado
positivo, porque nós temos cada vez mais acesso a informações, coisas que não
tínhamos no passado. Os meios em que nós éramos informados eram muito menores,
muito mais escassos. Então essa massificação da informação é muito positiva porque
qualquer pessoa tem acesso. Você pega o seu smartphone e você tem uma notícia
imediata, aconteceu a cinco minutos atrás, e você já sabe o que está acontecendo. Se
aconteceu um acidente, você logo fica sabendo. Mas, com isso, a informação perdeu
valor. Hoje em dia, não basta só informar, você precisa ter conhecimento, você precisa
de um domínio da sua área para você poder informar alguém, ou seja, reunir esse
conjunto de informações que são jogadas e transformar num verdadeiro conhecimento.

Aparecido: Olha, eu acho que a informação tem vários caminhos dependendo de pessoa
para pessoa. Para o jovem aluno e para o aluno mais velho, mais maduro, são situações
diferentes. A informação para o jovem estudante é uma informação que ele recebe
como se fosse um vaso receptador e pronto. Para o mais velho, ele já tem uma
negociação do intelecto porque a informação passa pelo nosso cérebro e vai comandar
os agentes que decodificam se ela é verdadeira ou falsa, se eu devo acreditar ou não.
Então, nesse sentido, é interessante que a gente esteja sempre desconfiado daquilo que
vê, ouve e sente. Os cinco sentidos podem nos enganar e as informações atacam
principalmente os cinco sentidos. E, nesse caso, a principal vítima da informação, ou da
má informação, ou da desinformação, ou da não informação é o jovem, é o estudante.
Por exemplo, hoje não vai ter aula porque vai ter uma passeata. É uma informação.
Morreu aí. Agora, se ele pergunta: passeata do quê? Onde? Por quê? Começa a procurar
nessa informação detalhes para adquirir um conhecimento...

Marco: Por que nós estamos fazendo uma passeata? Qual é o motivo? Quem está
organizando? Qual é o motivo dessas pessoas que estão organizando? Eu devo participar
dessa passeata? Essa passeata é importante para mim e para minha faculdade? O que
essa passeata vai mudar na minha vida? E hoje não se tem mais esse julgamento.
Simplesmente as pessoas vivem num efeito manada.

Aparecido: Então, esse efeito manada é extremamente perigoso não só na vida


particular, na vida pessoal, social, mas também nas empresas, porque nas empresas
também existem fake news. Elas concorrem entre si e o mercado. Tanto o mercado de
trabalho quanto o mercado consumidor e o mercado produtor sofrem essa pressão
muito grande de informações bombásticas na mídia, como tem sido o caso dessas
empresas com corrupção, caixa dois e tudo mais, que vão denegrir, a palavra é horrível,
mas vão denegrir a imagem dessa empresa perante o consumidor e o público-alvo lá no
final. Então, ela vai sofrer grandes danos por quebra da imagem.

Marco: É a falta de transparência ...

Aparecido: Falta de transparência e de honestidade.

Marco: Falta de transparência das empresas em dizer o que está acontecendo de forma
objetiva e de forma clara, e também dos governos. Falta muita transparência. Não há
uma honestidade em se fazer a população se sentir segura, porque a bem da verdade
você tem que ter uma certa segurança na informação. A partir do momento que alguém
detém um conhecimento e consegue manipular a informação diante do conhecimento
que tem, começa-se a distorcer todos os caminhos e, para voltar, é muito difícil, muitas
vezes, você não volta.
Samuel: A gente vai entrar mais nessa questão da segurança: por que é importante a
gente se proteger das fake news? Quais os impactos, pensando em sociedade e tudo
mais. Mas eu queria destacar que, num passado não tão distante, a forma de a gente se
comunicar estava muito relacionada ao rádio, à televisão, aos jornais impressos, que
eram os principais meios de comunicação de informação; e hoje, a gente se informa de
variadas maneiras possíveis e a quantidade de informação disponível é muito grande,
imensa, a gente nem consegue acompanhar. Só que aí é preciso ressaltar que existe uma
diferença, uma diferença entre informação e conhecimento. Como que a gente pode
distinguir essas duas coisas?

Marco: Eu não sei se o professor concorda comigo, mas o ato de comunicação entre os
seres humanos é milenar, desde que o ser humano é ser humano, ele busca uma forma
de se comunicar com outra pessoa e informar o que está acontecendo com ele e o que
ele vê diante de si ou diante de seu ambiente. Informação, então, é basicamente um
conjunto de dados, de fatos organizados que façam sentido para uma pessoa e que ela,
com isso, consiga transmitir essa informação, transmitir o que está acontecendo ao seu
redor e ponto. Só que o problema hoje em dia é a qualidade dessa informação. Como
ela construiu essa informação? Baseada em quê? Em quais fatos? Em quais dados? Ela
teve conhecimento para transmitir essa informação? Hoje em dia, com a facilidade que
nós temos de fontes de informação oficiais ou não, o Twitter virou fonte de informação;
o Twitter virou jornal; o Facebook virou verdade absoluta. As pessoas não julgam mais
a qualidade dessa informação, simplesmente aceitam aquilo que é mais coerente com
a sua linha de pensamento.

Aparecido: Mas o problema é que a informação nem sempre é uma informação


construída dentro de si. É uma informação que vem de fora para dentro também. Ela
pode ser construída dentro de você. Por exemplo, eu bebo água e eu sinto o sabor ou
não sinto o sabor, eu sinto cheiro ou não. Então é uma coisa interna. Mas a informação
que nós estamos sendo bombardeados, em grande quantidade, é a informação que vem
de fora para dentro. E essa informação de fora para dentro precisa ter um filtro. E esse
filtro é o conhecimento. Então, essa busca do conhecimento é necessária para que a
informação não fique perdida. Por exemplo: vai chover hoje! Isso não me interessa se
eu for ficar em casa. Agora, vai chover hoje e eu vou viajar, eu vou sair, eu tenho um
compromisso, eu vou fazer uma festa ao ar livre ou vou fazer uma passeata, como
aquele outro exemplo em que os alunos vão sair em passeata pelo campus; então, se
vai chover vai atrapalhar tudo. Dessa forma, uma informação simplesmente pode ser
inócua. Ela pode ser algo óbvio, que eu vejo. Eu estou vendo alguma coisa, eu estou
tendo uma informação. A minha retina guarda essa informação e vai ser processada pelo
cérebro. Agora, o conhecimento é quando eu reflito sobre aquilo. E existem três
patamares sobre isso: a opinião, o conhecimento e a sabedoria; a opinião pode ser
verdadeira ou falsa, assim como a informação pode me ser útil ou não; o conhecimento
é quando eu elaboro aquilo e eu produzo algo que eu vou entender e compreender
melhor aquilo que a informação traz; e a sabedoria é como eu vou utilizar melhor aquela
informação na minha vida própria, na minha condução.

Samuel: No próximo episódio, nós vamos saber o que são, afinal, as fake news.

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