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HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DA SEMENTE

Prof. Sebastião Medeiros Filho

1. HISTÓRICO
Conforme consta na História, há mais de dez mil anos atrás, o homem descobriu que a
semente quando semeada no solo originava uma planta do tipo da que a tinha produzido e que
aquela planta multiplicava em inúmeras vezes a semente original, resultando produtos para a
alimentação humana. Com o descobrimento da função multiplicativa da semente surgiu a
exploração da terra, transformando o homem nômade em agricultores fixos. A partir daí, as
sementes passaram a desempenhar papel fundamental para o desenvolvimento da agricultura,
trazendo tranqüilidade e prosperidade para diversos povos.
Tão logo começou a atividade com a agricultura o homem verificou que haveria a
necessidade de se estabelecer uma divisão de trabalho, sendo que uns agricultores
produziriam sementes (com a finalidade de plantio) e outros produziriam grãos (para servir de
alimento). Com isso, surgiram os agricultores que produziam apenas sementes, que as
comercializavam com os vizinhos, iniciando-se, dessa forma, o “negócio” de comercialização
de sementes.
Segundo Carvalho e Nakagawa (2000) a produção e comercialização de sementes
deve ter passado por trajetórias de altos e baixos. Até que, com o surgimento da Revolução
Industrial (iniciada no Reino Unido em meados do século XVIII) essas atividades tiveram
destacado progresso, condicionado principalmente pelo aumento da população urbana e pela
industrialização dos alimentos; visto que tais acontecimentos aumentaram significativamente
a necessidade de mais alimentos para a população e matéria-prima para a indústria.
Paralelamente à prática da produção e do comércio de sementes, surgiram as ações
fraudulentas. Como exemplo dessas fraudes cita-se a adulteração de sementes de trevo (que
eram misturadas a grãos de areia), o que motivou, em 1816, em Berna, Suíça, a promulgação
da primeira lei, no mundo, sobre controle de qualidade de sementes, cujo objetivo principal
era coibir a venda de sementes adulteradas de trevo.
Com a vigoração dessa lei também surgiu a necessidade de se criar um laboratório
onde deveriam ser realizadas as análises das sementes, para verificar se as mesmas
encontravam-se com os padrões de qualidade exigidos pela referida lei. Com essa finalidade
fundou-se, no ano de 1869, em Tharandt, na Saxônia (Alemanha), o primeiro laboratório de
análises de sementes do mundo, chefiado por Friderich Nobbe, botânico e geneticista alemão.
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Após o funcionamento desse primeiro laboratório começaram a surgir outros, tanto na


Alemanha como em outros países da Europa, o que logo levou Nobbe a perceber que, para
evitar resultados conflitantes, haveria a necessidade da criação de regras que fossem adotadas
em comum, nas análises, por todos os laboratórios. Assim, em 1876, o referido pesquisador
publicou o primeiro manual sobre regras para análise de sementes, com o título Handbuch der
Samenkund, e 631 páginas.
Com a evolução surgia, logicamente, a necessidade de novas regras que viessem
atualizar os trabalhos dos laboratórios. Visando atender esse objetivo, Jenkins (norte-
americano), em 1897, escreveu o segundo manual sobre regras para análise de sementes.
Um exemplo do quanto crescia o ramo de análise de sementes no mundo, estaria na
quantidade de laboratórios registrados naquela época: em 1893 só na Alemanha existiam 40
deles, enquanto que em 1905 os EUA já contavam com 130 laboratórios em funcionamento.
Naquela época uma opinião era unânime entre as pessoas envolvidas com a produção
e comércio de sementes: para o comércio de sementes funcionar a contento, além da
importância de uma rígida adoção das regras, também seria fundamental a padronização
completa das mesmas. Porém, para tanto, seria necessário uma maneira que tornasse esse
processo o mais dinâmico possível, principalmente no que se referia à sua atualização, que
poderia ser feita através da substituição dos conceitos falhos ou ultrapassados por resultados
de pesquisas mais recentes e precisos.
Foi, então, com esse propósito que analistas e outros profissionais da área de sementes
dos Estados Unidos, fundaram, em 1908, a “Association of Official Seed Analysts” (AOSA).
A partir desse passo era previsível que logo fosse criada uma associação de caráter
internacional. Assim, em 1921, numa reunião em Copenhagem (Dinamarca), fundou-se a
“International Seed Testing Association” (ISTA), cuja sede funciona em Berna (Suiça). Essa
associação editou, em 1931, as primeiras regras internacionais para análise de sementes.
Carvalho e Nakagawa (2000) descrevem que o primeiro manual sobre regras para
análises de sementes a ser editado do Brasil foi em 1956, pelo Estado de São Paulo através da
sua Secretaria da Agricultura. O referido manual sofreu a primeira atualização no ano de
1963, e posteriormente viriam outras: em 1967, 1976, 1980, 1992 e a última, em 2009. A
partir da edição de 1967, “As Regras para Análises de Sementes,” por portaria do Ministério
da Agricultura, passaram a ter validade nacional.

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2. IMPORTÂNCIA DA SEMENTE

 COMO ÓRGÃO DE PRESERVAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DAS ESPÉCIES


A semente significa o elo entre duas gerações de uma planta, ou seja, representa, ao
mesmo tempo, o ponto final das atividades de uma geração e o início da nova geração da
planta. Essa capacidade a torna o principal órgão responsável pela continuidade da vida
vegetal.
A preservação e a disseminação da grande maioria das espécies vegetais ocorrem
através da semente. Tal êxito, certamente, deve-se à capacidade que a semente possui de
distribuir a germinação no tempo (através da dormência) e no espaço (através da dispersão,
feita pelos espinhos, asas, pêlos e outros).
O mecanismo da dormência impede que as sementes, mesmo já estando aptas para a
germinação, germinem todas em um só tempo, protegendo, dessa forma, a espécie de uma
possível extinção, caso venha ocorrer uma catástrofe (secas, incêndios etc) após a germinação.
Na verdade, a dormência seria uma maneira própria que a semente encontrou para
garantir a sobrevivência das espécies vegetais na natureza. Portanto, torna-se claro afirmação:
“as sementes são, acima de tudo, um meio de sobrevivência das suas respectivas espécies”.
Já os mecanismos de dispersão das sementes são os meios pelos quais as espécies
vegetais procuram “conquistar” novas áreas. Essa capacidade de dispersão — que resulta na
distribuição aleatória da germinação no espaço — é um fator fundamental para a obtenção da
heterogeneidade genética das populações vegetais. Deve-se ressaltar que essa variabilidade é
considerada o fator mais importante no estabelecimento, preservação e expansão dos vegetais
sobre a terra.

 COMO ELEMENTO MODIFICADOR DA HISTÓRIA DO HOMEM


Sabe-se que durante milhares de anos o homem teve a caça como sua principal fonte
de alimento, haja vista que ele ainda não havia descoberto a relação existente entre uma
semente e sua respectiva planta. Dessa forma, em razão das freqüentes mudanças de local de
habitação dos animais silvestres, o homem tinha obrigatoriamente um hábito de vida nômade.
Com a descoberta da relação semente-planta-semente, esse hábito de vida sofreu uma
profunda modificação. Ao saber, então, que uma semente semeada no solo originava uma
planta que a multiplicava inúmeras vezes, o homem passou a cuidar de tais plantas,
forçando-o a se fixar em um local que facilitasse seu trabalho. Daí, as pessoas passaram a ser

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sedentárias em vez de nômades, o que significou, naquela época, uma radical mudança no
estilo de vida humana.
Ao conseguir seus alimentos de maneira mais segura e fácil, os indivíduos começaram
a se agrupar em comunidades que cresciam rapidamente. E, como a vida coletiva exige uma
organização política, social e econômica, surgiram todas as diferentes civilizações de que se
tem conhecimento. Portanto, justifica-se a denominação: “A SEMENTE É A PEDRA
FUNDAMENTAL DA CIVILIZAÇÃO.”

 COMO INSUMO RESPONSÁVEL PELO AUMENTO DE PRODUTIVIDADE


Dentre os insumos utilizados na agricultura moderna as sementes de materiais
melhorados são consideradas o insumo básico, pois são elas que contêm todas as
potencialidades produtivas da planta, constituindo-se num fundamental fator para o sucesso
ou fracasso de uma lavoura. Além disso, diferenciam-se de outros insumos (ex: água,
fertilizantes, pesticidas) em importantes aspectos, pois além de serem requeridas em pequenas
quantidades, são multiplicadas em vez de consumidas, no processo produtivo.
Não resta dúvida de que, em busca do aumento da produtividade agrícola, criou-se
cultivares e híbridos com altos potenciais genético e fisiológico. Porém, para que esses
potenciais possam se expressar torna-se indispensável a participação das sementes, pois são
elas que os levam para o campo. Portanto, a adubação, o controle de doenças, pragas e
invasoras e outras práticas culturais não serão capazes de elevar a produtividade de uma
cultura além dos limites impostos pelo potencial do material cultivado.

 COMO MATERIAL GENÉTICO


A reprodução sexual dos vegetais possibilita que haja uma combinação contínua da
variabilidade genética entre as plantas envolvidas. Como resultado, tanto do cruzamento
espontâneo como do induzido, às vezes, surgem plantas com características diferentes, e
desejadas. Dessa forma, o homem separa as sementes com tais características e as multiplica
para tirar proveito das suas qualidades. Portanto, a pequena quantidade de material de alto
valor obtida pela ciência é mantida, transmitida e multiplicada através das sementes.
Para Delouche (1997) a maior função das sementes na era moderna, talvez, seja a de
ser um transporte para as inovações biológicas que estão ocorrendo na agricultura, haja vista
já estarem no mercado materiais que produzem seu próprio inseticida, fungicida e antígeno,
ou seja, os materiais transgênicos.

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