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PROCESSO PENAL
Em sendo assim, desde que tais finalidades estejam atendidas, pode-se prescindir do
inquérito policial, conforme se depreende dos arts. 212, 225 e 545. Também aqui o
Projeto segue a esteira da atual legislação (arts. 39, § 5.º, 46, § 1.º, e 27).
Desta forma, o futuro sistema retira o juiz do inquérito policial, cuja tramitação se dará
entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público. Os arts. 220, § 2.º, 81, III, c e 82
autorizam este entendimento, malgrado merecessem redação mais clara a respeito.
2.2 Embora possa ser criticado à luz de um absoluto rigor sistemático, parece-nos que o
Projeto andou bem ao voltar ao procedimento vigente para o arquivamento do inquérito
policial. Basicamente repete o atual art. 28 do CPP (LGL\1941\8).
Não é de todo desejável que o juiz exerça a função anômala de fiscalizar o princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública. Por isso, o Anteprojeto dava ao Conselho
Superior do Ministério Público tal função, através de procedimento demasiadamente
burocratizado.
Ainda merece elogio o Projeto quando, nos crimes da competência originária dos
tribunais, determina que o pedido formulado pelo Procurador-Geral de arquivamento
seja apresentado ao órgão jurisdicional colegiado com atribuição para conhecê-lo (art.
227, § 4.º).
Por outro lado, vedando expressamente o cabimento da chamada ação penal subsidiária
nos casos de arquivamento (art. 6.º, § 1.º), seria de bom alvitre que o Projeto
submetesse este arquivamento do Procurador-Geral ao Conselho Superior do Ministério
Público, se dele discordasse o Tribunal. Fica aí mais uma sugestão, coerente com a
anterior.
Feliz se nos afigura tal exigência, pois através da portaria a autoridade policial
especificará e individualizará, ainda que sumariamente, os fatos a serem apurados e os
respectivos suspeitos de autoria.
2.4 Em consonância com o que dispõe a Lei Complementar 40/81, em seus arts. 7.º,
VII, e 20, parágrafo único, o Projeto prevê a possibilidade de o Ministério Público avocar
inquéritos policiais.
2.5 Outro ponto louvável da futura legislação é a faculdade deferida ao Ministério Público
de ouvir, em audiência própria, o indiciado, ofendido e testemunhas, evitando a morosa
devolução do inquérito policial à delegacia de origem.
Este procedimento vem regulado no art. 83 e seus parágrafos com absoluta propriedade,
restando tão-somente dar-se ao órgão de execução do Ministério Público estrutura ágil
para bem desincumbir-se deste mister, permitindo-lhe espancar dúvidas decorrentes da
prova colhida nas dependências policiais e, até mesmo, evitar propositura de ações
penais temerárias.
2.6 Vemos com bons olhos, outrossim, a faculdade de a autoridade policial permitir que
os advogados do ofendido e indiciado acompanhem os atos do inquérito policial,
tratando-se de infrações de ação penal privada (art. 223, § 3.º).
Não cremos da viabilidade deste célere procedimento nas com arcas de porte médio, por
razões óbvias, principalmente nas infrações cuja comprovação material ou da culpa
depender de prova pericial.
Nada obstante, em alguns casos será possível abreviar a morosa investigação formal
através deste expediente previsto no Projeto, sendo certo que o Ministério Público
poderá requerer a modificação do procedimento, caso não disponha de elementos
bastantes para formar sua opinio delicit. Neste sentido reza o art. 546, § 1.º.
3.1 A imprecisa redação do § 1.º do art. 220 faz crer que o inquérito policial somente
deve ser remetido ao Ministério Público após a sua conclusão ou quando a autoria da
infração investigada permanecer ignorada por mais de 30 dias. Assim está redigida a
mencionada norma: "Concluído o inquérito, ou permanecendo desconhecida a autoria,
por mais de 30 dias, a autoridade policial enviará os autos a Juízo com relatório
circunstanciado".
Certo que o inquérito tem o prazo de 30 dias, estando o indiciado solto, e 10 dias,
estando preso o indiciado (art. 218, I e II). Entretanto, não menos certo é que, no mais
das vezes, a autoridade policial não consegue concluir as investigações nestes curtos
prazos. A esta realidade parece não ter atentado o Projeto.
Por outro lado, o dispositivo não deve falar em remessa dos autos do inquérito "a Juízo",
mas sim ao órgão do Ministério Público com atribuição, por fidelidade com o sistema
acusatório adotado pelo Projeto.
3.2 Deixa muito a desejar o art. 226, in verbis: "Se o Ministério Público entender
incompetente o Juízo, oferecerá denúncia e requererá a remessa dos autos ao juiz
competente".
O artigo já é melhor que o primitivo art. 232, parágrafo único, do Anteprojeto, criticado
com inteira felicidade pelo ilustre Promotor de Justiça Luiz Fernando de Freitas Santos
em trabalho publicado na Revista de Direito da Procuradoria de Justiça do Estado do Rio
de Janeiro, 14/69-75.
3.3 Também merece reparo o Projeto quando admite a possibilidade de o juiz julgar
extinta a punibilidade no curso do inquérito, conforme se vê do parágrafo único do art.
385.
Note-se, outrossim, que o art. 254, II, torna claro que o reconhecimento da extinção de
punibilidade importa em julgamento de mérito.
3.4 O art. 561, ressalvando o "que dispuser a Lei de Falências", cria uma "investigação
sumária" judicial, que precederá ao procedimento especial para os crimes falimentares.
3.5 O Projeto, ferindo frontalmente o sistema acusatório que lhe é muito caro, cria um
anômalo inquérito judicial através do art. 477.
Como se sabe, o juiz deve ficar afastado das funções persecutórias, a fim de preservar a
sua imparcialidade e neutralidade. Este foi o escopo do próprio Projeto ao tirar do Poder
Judiciário a legitimação para requisitar inquéritos e até mesmo receber notícias de
infrações penais. Veja-se o que diz sobre o tema a exposição de motivos do Ministro da
Justiça: "Tendo disposto com precisão sobre os destinatários da notícia da infração
penal, o Projeto houve por bem afastar o juiz da notitia criminis, livrando-o da condição,
ainda que eventual, de agente do Estado na persecutio criminis, ao mesmo tempo que
lhe devolve o exclusivismo, absolutamente necessário, do poder de decisão" (item 23).
Note-se que a norma sob censura chega ao ponto de dar ao "relator" o poder de
instaurar ou não o inquérito, o que poderá obstacular a atividade persecutória própria do
Ministério Público.
Acresce que tal procedimento, ao menos em parte, está em dissonância com o que
dispõe o já referido art. 20, parágrafo único da Lei Complementar federal 40/81, que
impõe a remessa dos autos do inquérito ao Procurador-Geral da Justiça.
Pelo exposto, somos que nas hipóteses de competência originária dos tribunais, o
inquérito deverá ser presidido pelo Procurador-Geral, a quem caberá oferecer denúncia
ou decidir pelo seu arquivamento. Caso o crime seja de ação privada, o Procurador-Geral
deverá intimar o ofendido ou sucessores para que, querendo, apresente a sua queixa ao
Tribunal, semelhantemente à intimação prevista no art. 221, parágrafo único, em
relação à autoridade policial.
3.6 Da mesma forma que a legislação vigente, o Projeto não especificou os casos que
autorizam o Ministério Público a requerer o arquivamento do inquérito ou das peças de
informação, malgrado o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.
Certo que o art. 7.º veda acusação penal sem a prova da existência da infração e
indícios suficientes de autoria, dizendo, ainda, que "a acusação deve ser rejeitada de
plano, por ausência de justa causa, se não tiver fundamento razoável nem revelar
legítimo interesse".
Por outro lado, o art. 238 prevê as hipóteses de indeferimento liminar da denúncia ou
queixa, semelhantemente ao atual art. 43 do CPP (LGL\1941\8).
3.7 Por derradeiro, resta lamentar não ter o Projeto disciplinado também o
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O INQUÉRITO POLICIAL NO PROJETO DE CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL
Nada disse sobre o seu procedimento. Sobre a sua admissibilidade, limita-se a exigir
novas provas nos arts. 227, § 2.º, e 538, § 1.º, nos moldes da atual Súmula 524
(MIX\2010\2247) do STF.
Somos ainda que a exigência de novas provas não esgota os requisitos para o
desarquivamento, pois somente terá pertinência quando o arquivamento tiver sido
motivado pela insuficiência de prova do fato ou da autoria (art. 7.º).
Resta salientar que apenas nos moveu o desejo de colaborar, embora modestamente,
com o aperfeiçoamento da legislação processual que se pretende implantar. Nossas
críticas vêm sempre acompanhadas de propostas pessoais tendentes a melhorar o texto,
que em muito supera o atual Código de Processo Penal (LGL\1941\8).
Fica aqui a esperança de ao menos servir este singelo trabalho para provocar o debate
sobre tão importante acontecimento legislativo, que não tem recebido da comunidade
acadêmica a atenção que está a merecer.
Fevereiro de 1984.
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