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O Segundo Reinado

No Segundo Império, o café era a principal riqueza do Brasil. A produção cafeeira era feita por negros escravizados
em latifúndios onde se praticava a monocultura para exportação. O Sudeste era a principal região cafeeira. Desde 1830, o
café era produzido basicamente no Vale do Paraíba, na província do Rio de Janeiro, com a utilização de mão de obra
escrava. A partir de 1850, o café se expandiu pelas terras do oeste da província de São Paulo. Posteriormente, em contraste
com o Vale do Paraíba, que permaneceu escravista, as fazendas do Oeste Novo paulista passaram a utilizar imigrantes
europeus livres, sobretudo italianos, e modernas técnicas de produção, consolidando São Paulo como o maior produtor de
café do país.
A riqueza dos cafezais contribuiu para a consolidação e a modernização do Império, reforçando o domínio dos “barões
do café” paulistas. No oeste de São Paulo, os recursos gerados pelo café também foram aplicados em empreendimentos de
alguma forma relacionados ao produto, como indústrias de beneficiamento, casas de exportação e bancos. A estabilidade
política e a prosperidade da economia cafeeira favoreceram esse surto industrial e modernizador.
Para aumentar a arrecadação e equilibrar a balança comercial, o governo imperial decretou, em 1844, a Tarifa Alves
Branco, que elevou as tarifas (de 30% a 60%) sobre os produtos industrializados importados, favorecendo, ainda que
timidamente, o desenvolvimento da produção industrial brasileira.
A elevação das tarifas sobre os produtos importados prejudicou especialmente os interesses comerciais da Inglaterra,
que, desde a assinatura dos Tratados Comerciais de 1810, pagava tarifas de importação menores (15%), o que lhe permitia
vender uma quantidade maior de produtos a preços menores, garantindo seu domínio sobre o comércio brasileiro.
Interessado no fim do tráfico negreiro e da escravidão para aumentar o mercado consumidor dos produtos industrializados
ingleses, o governo britânico usou a Tarifa Alves Branco como pretexto para decretar, em 1845, a lei do Bill Aberdeen,
que autorizava a marinha inglesa a prender os navios negreiros brasileiros no Oceano Atlântico e a julgar os traficantes de
escravos na Inglaterra.
Pressionado pela Inglaterra, o governo brasileiro aprovou, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, que acabou com o
tráfico negreiro para o Brasil. Com isso, o capital antes destinado à compra de novos escravos africanos passou a ser
investido em outras atividades como, por exemplo, a instalação de indústrias, de bancos, de estabelecimentos comerciais e
de ferrovias.
A decretação da Tarifa Alves Branco e o fim do tráfico negreiro criaram, assim, as condições favoráveis para esse surto
industrial e modernizador, permitindo a Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, se tornar o principal empresário da
época, apesar da resistência dos cafeicultores e da falta de apoio do governo imperial. Mauá instalou a primeira ferrovia do
Brasil e era dono de bancos, companhia de navegação e de bondes, fábricas, empresas de mineração, entre outros
negócios.
No mesmo ano da aprovação da Lei Eusébio de Queirós (1850), o governo imperial aprovou também a Lei de Terras.
Por esta lei, a terra só poderia ser adquirida por compra. Com isso, ex-escravos, trabalhadores pobres e imigrantes ficavam
impedidos de ter acesso à terra, que, por ser muito cara para eles, continuou concentrada nas mãos dos grandes
fazendeiros.
A proibição do tráfico negreiro pôs fim ao fornecimento de novos escravos africanos para o Brasil justamente no
momento de expansão do café, o que estimulou o contrabando. Para repor a mão de obra, muitos cafeicultores passaram a
comprar escravos das lavouras de açúcar decadentes do Nordeste. Porém, o tráfico interprovincial não foi suficiente para
resolver o problema da falta de trabalhadores na cafeicultura. A solução encontrada pelos cafeicultores paulistas para tal
problema foi atrair imigrantes de origem europeia para trabalhar nas fazendas.
Em meados do século XIX, foi adotado o sistema de parceria, com o qual os cafeicultores pagavam a viagem da Europa
para o Brasil. Vindos de áreas rurais de países que passavam por dificuldades econômicas e lutas políticas, os imigrantes
ficavam com parte do dinheiro da venda do café que cultivavam. Porém, no acerto de contas, os fazendeiros descontavam
os gastos com os imigrantes, que, assim, não conseguiam pagar as dívidas e, por isso, ficavam presos à fazenda, recebendo
tratamento semelhante ao dado aos escravos. Tal situação provocou a revolta de imigrantes em várias fazendas de café.
A partir de 1870, foi adotada a imigração subvencionada, com a qual o próprio governo imperial passou a contratar
imigrantes na Europa, custeando suas despesas de viagem e de hospedagem e distribuindo-os pelas fazendas de café. Neste
cenário, os cafeicultores passaram a empregar trabalhadores europeus sob o sistema de colonato, no qual os imigrantes
recebiam um salário fixo e uma parte da colheita. Essa nova forma de imigração atraiu um grande número de trabalhadores
pobres, principalmente italianos, para os cafezais paulistas, completando a transição para o trabalho assalariado.
O empenho do governo imperial em promover a entrada de europeus apoiava-se na ideia de que eles contribuiriam para
trazer a “civilização” e a modernidade ao país. Baseados nas teorias racistas europeias do século XIX, autoridades e
intelectuais brasileiros afirmavam a “superioridade da raça branca” e que a vinda de europeus garantiria o predomínio dos
brancos e a gradual extinção de negros e mestiços. Assim, a imigração europeia era incentivada não só como forma de
solucionar o problema da mão de obra na cafeicultura, mas também de embranquecer a população brasileira.

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