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A busca pelo sentido da vida e a resposta para o sentido da vida

Como sabemos, Deus pode ser conhecido através da Razão e da sua obra, mas isto é insuficiente para
devolver a dignidade ao homem e salvá-lo. O pecado fez com que o homem buscasse a sua realização
em tudo, menos naquele que o criou. O homem busca a sua realização na política, justiça, política
economia, riquezas pessoais, prazeres etc. Essa busca enlouquecida que surge de dentro todos,
conforme ensina o Catecismo, faz reinar entre eles (os homens) a concupiscência, a violência e a
injustiça. (CATECISMO 1869)
“Querer prescindir de Deus, causa primeira e fim último, conduz aos abismos; não somente conduz ao
vazio, mas à miséria física e moral, que é pior que o vazio”
(Garrigou-Lagrange, Reginald. As Três Idades da Vida Interior. São Paulo: Cultor de Livros, 2018 - p. 4)

O coração do homem é infinito, somente Deus pode compreendê-lo. Fomos feitos a imagem de Deus e
um atributo que Deus quis compartilhar com o homem é a de ser um verdadeiro mistério. É impossível
saber ao certo o motivo de o homem, mesmo conhecendo o bem, prefira o mal. Devido ao pecado, o
homem começa a buscar a sua plena realização em tudo o que é terreno, deixando de lado qualquer
vestígio do transcendente, tudo o que remete a uma realidade além desta vida terrena.
“Quando o homem não quer mais cumprir seus grandes deveres religiosos para com Aquele que o criou
e que é seu fim último, como não consegue absolutamente viver sem religião, ele fabrica uma religião para
si: por exemplo, faz da ciência a sua religião ou presta culto à justiça social ou a qualquer ideal humano
que ele acaba por considerar de uma forma religiosa e até mesmo mística, para substituir o ideal superior
que abandonou”
(Garrigou-Lagrange, Reginald. As Três Idades da Vida Interior. São Paulo: Cultor de Livros, 2018 - p. 5)

"O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: “Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por
causa do homem – porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude –, e não ferirei
mais todos os seres vivos, como o fiz." (Gênesis 8,21)

A história da salvação é marcada por três passos: o homem busca a Deus, Deus se revela e homem
responde a Ele pela fé. A nossa fé, que foi revelada não foi dada de uma só vez, mas passou por várias
etapas. Começou de maneira bastante rudimentar com Abraão e foi passando por uma série de
acontecimentos no meio do povo eleito até chegar a nós como é conhecida: com cristo, que é a
realização plena da revelação; com os apóstolos e seus sucessores.

“Quando professamos a nossa fé, começamos por dizer: «Creio», ou «Cremos». Portanto, antes de expor
a fé da Igreja, tal como é confessada no Credo, celebrada na liturgia, vivida na prática dos mandamentos
e na oração, perguntemos a nós mesmos o que significa «crer». A fé é a resposta do homem a Deus, que
a ele Se revela e Se oferece, resposta que, ao mesmo tempo, traz uma luz superabundante ao homem
que busca o sentido último da sua vida. ” (CATECISMO 26)

Jesus, nos evangelhos, denuncia o que há de pior no coração do ser humano (Mt 14,19). Uma Mulher
atormentada por demônios implora o auxílio do Senhor e através de um grande impulso interior, ou seja,
a sua fé, recebeu a tão desejada libertação. Ao passo que Jesus diz tudo de ruim que pode sair do
coração do homem, ele cura uma mulher por aquilo que há de mais nobre em seu coração: a fé

"E eis que uma cananeia, originária daquela terra, gritava: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha
filha está cruelmente atormentada por um demônio”. Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos
vieram a ele e lhe disseram com insistência: “Despede-a, ela nos persegue com seus gritos”. Jesus respondeu-
lhes: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Mas aquela mulher veio prostrar-se diante
dele, dizendo: “Senhor, ajuda-me! ”. Jesus respondeu-lhe: “Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos”.
“Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa
de seus donos...”. Disse-lhe, então, Jesus: “Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas”. E na mesma
hora sua filha ficou curada."(Mateus 15, 21-28)
A fé também é explicada pela Sagrada Escritura, pois além de explicar o que ela é, diz que “sem fé é
impossível agradar a Deus. ” (Hebreus 11,6). É primordial que creiamos para que crendo, cresçamos e,
futuramente, vejamos a Deus. A fé é explicada com o seguinte texto:

"A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê." (Hebreus 11,1)

Aliás, todas as citações da Sagradas Escrituras como exemplos de fé, se referem a pessoas que
receberam promessas que, aos olhos humanos, seriam impossíveis de serem cumpridas. Abraão é o
exemplo clássico, pois Deus diz para sair de sua terra, do meio de seus parentes, da casa de seu pai
para ir à uma que Ele vai mostrar e ainda promete uma descendência numerosa. (Gn 12,1-3).

Deus promete a Abraão um filho, mas em sua velhice e de sua esposa sara, o filho da promessa ainda
não havia sido concebido. No capítulo 18 gênesis, o Senhor aparece a Abraão, com idade bastante
avançada e renova a promessa feita no passado, dizendo que Sara, igualmente idosa, lhe dará um filho.
Sara ouve o que foi dito e, sozinha, riu. Mas diante disso tudo, Deus cumpriu a promessa.

Deus desafia Abraão, mais uma vez em Gn 22, Deus pede este mesmo filho, gerado na velhice, em
holocausto. O pedido é prontamente atendido, mas confiante que Deus iria providenciar o cordeiro para
que fosse sacrificado (v.8) e que o filho da promessa não sofreria nenhum arranhão.

“Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive
com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele». A resposta adequada a este convite é a fé. ”
(CATECISMO 142)

“Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o
homem dá assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a esta resposta
do homem a Deus revelador. ” (CATECISMO 143)

“Obedecer (ob-audire) na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida
por Deus, que é a própria verdade. Desta obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe é
Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem Maria. ” (CATECISMO 143)

Portanto, a fé é vivida dentro da realidade de cada pessoa. Deus fala e se revela ao ser humano através
da linguagem humana, dentro de suas capacidades de assimilação. No caso de Abraão, ele creu no que
deus lhe revelava e pedia naquele momento, não sendo exigido nada que não fosse acessível à sua
compreensão e a sua obediência não só gerou descendentes carnais, mas espirituais. É necessário
viver a fé e a obediência dentro de nossa realidade, que não é mais, nem de longe, a realidade de
Abraão que é a realidade da graça e dos sacramentos, obedecendo, inclusive, as leis da igreja e
crescendo nas virtudes.

Referencias:

Catecismo da Igreja Católica - Primeira Página. Vatican.va. Disponível em:


<https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>. Acesso em:
18 Sep. 2021.

Garrigou-Lagrange, Reginald. As Três Idades da Vida Interior. São Paulo: Cultor de Livros, 2018

Bíblia Sagrada Ave-Maria, 184. ed. Claretiana: Editora Ave- Maria, 2010.

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