Neste 4º Domingo da Quaresma, também chamado domingo “laetare”, isto é
domingo de alegria, porque assim reza a antífona de entrada da liturgia eucarística, que nos convida à alegria: “Alegra-te, ó Jerusalém, e vós todos os que a amais…, regozijai- vos / rejubilai, Vós que tendes vivido na tristeza”. Qual é a razão deste júbilo? Qual o motivo desta alegria? O Amor misericordioso do nosso Deus? A primeira leitura, extraída do livro das Crónicas revela-nos este Amor. Deus não esquece, não abandona o seu Povo, o povo hebreu, porque Ele é fiel, incansavelmente fiel a S/ Aliança, apesar das tamanhas infidelidades deste mesmo povo. A primeira leitura é a narração do regresso do povo hebreu da Babilonia… Depois de longos anos passados no exílio, Deus inspira o rei da Pérsia, Ciro, a conceder a este povo a liberdade. O Amor misericordioso de Deus permanece para sempre! À Semelhança dos israelitas infiéis, metemo-nos em sarilhos, tornamo-nos escravos dos ídolos (do dinheiro, do poder, dos bens materiais, dos prazeres desenfreados, da própria imagem, da primazia em relação aos outros…), mas Deus não nos abandona. Nada nos separa do Amor misericordioso de Deus. Não há situação de fragilidade e de pecado, por mais triste que seja, que Deus não possa remediar. Não há! Não há cadeias / elos que resistam a força omnipotente do Seu amor. Cabe-nos a nós reconhecer esta verdade e deixarmo-nos envolver por tão grande Amor. S. Paulo diz-nos, na 2ª leitura de hoje, extraída da Carta aos Efésios “Meus irmãos, Deus é rico em misericórdia – nunca nos esqueçamos disto, Ele é rico em misericórdia – impelido pelo grande amor com que nos amou, a nós, que estávamos mortos em consequência dos nossos pecados, restitui-nos à vida em união com Cristo”. No evangelho, de hoje, são evidentes os sinais do seu Amor misericordioso! Logo no início, é-nos apresentado um acontecimento dramático vivido pelo povo hebreu, durante a travessa do deserto. “A viagem era muito dura, faltavam a comida e a água, fazia um calor insuportável e, a um dado momento, eis que se apresenta uma nova dificuldade: as serpentes terríveis que mordiam e matavam muita gente. Não sabendo já o que fazer, Moisés dirigiu-se ao Senhor que lhe mandou que fizesse uma serpente de bronze e a colocasse num poste. Os que eram mordidos não deviam fazer mais nada senão olhar para aquela serpente colocada no alto e assim tinham a vida salva (Nm21,4- 9). O facto é muito estranho e recorda certas práticas idolátricas da antiguidade. Os rabinos explicavam-no dizendo que no deserto os israelitas não eram curados por voltarem os olhos para a serpente, mas porque elevavam o seu coração para Deus. Era o Senhor que salvava, e não o objecto de bronze (Sb 16,7). Jesus refere-Se a este episódio e interpreta-o como um símbolo de quanto está para Lhe acontecer a ele. Também ele será levantado na cruz e todos os que O contemplarem terão a vida salva. O que é que significam estas palavras? Será, porventura, que quem está a arruinar a própria vida à força de cometer pecados pode salvar-se com um simples olhar para o crucifixo? Não, não pode ser isso. Nem sequer a serpente de bronze salvava desta maneira mágica. Olhar para Jesus «levantado» significa, diz o Evangelho de hoje, «acreditar n’Ele» 8v.15), ou seja, aceitar com fé a mensagem que Ele, do alto da cruz, dirige a todos os homens. Com o seu supremo gesto de amo, ele declara que o único modo de realizar plenamente a própria vida é doá-la por amor, como ele fez. Crer não quer dizer simplesmente pronunciar com a boca as fórmulas do Credo, mas conformar a própria vida à de cristo, ou seja, emprega-la ao serviço dos irmãos. Esta é a única maneira de alcançar a salvação. Quem tem coragem de olhar com esta fé para Jesus «levantado»? Quantos, mesmo entre os cristãos, têm a coragem de adequar a própria vida à sua? O homem encontra-se, assim, perante a proposta que Jesus faz do alto da cruz. Esta é a proposta: doar a própria vida por amor, como única maneira de a valorizar. Perante o exemplo de Cristo, é preciso dizer um «sim» ou um «não». Salva-se quem tem a coragem de doar a própria vida como Cristo fez. Quem, ao contrário, não aceita renunciar à própria vida e escolhe o caminho do egoísmo e pensa só em si, nos próprios prazeres, nas próprias satisfações, condena-se a si mesmo à morte, ou seja, destrói a própria existência. É hoje, agora, em cada momento, que nós somos salvos pela adesão a Cristo «levantado» ou é condenado pela sua recusa à proposta da cruz.” A cruz de Cristo é a prova suprema da misericórdia e do amor de Deus por nós! Jesus amou-nos «até ao fim», ou seja, não apenas até ao último instante da sua vida terrena, mas até ao extremo limite do amor. Se na criação Deus Pai nos deu a prova do Seu imenso amor, concedendo-nos a vida, na Paixão e Morte de Seu Filho. Ele deu-nos a prova das provas: veio sofrer e morrer por nós. A misericórdia de Deus é imensa: Ele ama-nos e perdoa-nos; Deus perdoa tudo e perdoa sempre. Não esqueçamos a mensagem nuclear do Evangelho de hoje: “ Deus amou de tal maneira o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o homem que acredita n’Ele não se perca, mas tenha a vida eterna.” Não podemos desanimar, quando deparamos com os nossos limites, os nossos pecados, as nossas debilidades: Deus está perto, Jesus está na cruz para nos curar / para nos salvar. Nisto consiste o amor de Deus. Olhemos para a cruz, fitemos o crucificado e digamos: Deus ama-me. Sim, Deus ama-me. É verdade que existem limites debilidades, pecados, mas Ele é maior do que os nossos limites, as nossas debilidades, os nossos pecados. Olhemos para a Cruz, contemplemos o crucificado e saibamos dar-lhe a mão, indo ao encontro dos irmãos, a quem – diz o Papa Francisco na Sua mensagem para esta Quaresma – devemos estar mais atentos para «dizer palavras de incentivo, que reconfortam, que consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam. Às vezes, basta ser uma pessoa amável, que deixa de lado as suas preocupações e urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença» Invoquemos, Maria, é Mãe de Misericórdia!
Que Ela interceda por nós e infunda no nosso coração a certeza de que somos amados por Deus.
- Santa Maria, Santa Mãe de Deus, Senhora da Misericórdia