FACULDADE PAN AMERICANA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE FILOSOFIA
REFLEXÃO SOBRE O ESTADO NA CONCEPÇÃO DE MAQUIAVEL
Orientando: José Fernando dos Santos de Oliveira
Orientador: Prof. Msc. Arigson Tadeu Pereira de Brito
INTRODUÇÃO
A temática apresentada é algo muito minuciosa, que só com o avanço das pesquisas foi clareando as ideias
acerca do pensamento de Maquiavel sobre o Estado. O Príncipe e o Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio
são fontes geradoras de várias reflexões acerca do Estado.
CONTEXTO
Nicolau Maquiavel nasceu em 03 de maio de 1469, em Florença. Na Itália do Renascimento reina uma
grande confusão. A tirania imperial em pequenos principados, que são governados despoticamente por casas
reinantes, sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise e
instabilidade permanente, em que somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os
adversários são capazes de manter o príncipe.
A situação vigente era a seguinte: a Itália estava assim dividida: ao Sul, o reino de Nápoles, nas mãos dos
Aragãos; no centro, os estados papais, controlados pela Igreja e a república de Florença, nas mãos dos Médicis; ao
Norte o ducado de Milão e a república de Veneza. Pelo quadro apresentado se nota uma Itália compartimentada, na
qual o poder oscila. Em decorrência disso criou-se uma fragilidade para as outras nações dominarem, impedindo
qualquer reação por parte dos principados e repúblicas.
Maquiavel parte do princípio de que quem está fora consegue ver muito mais do que quem está dentro, pois o
espectador tem melhor compreensão do todo do que quem é personagem da história, que decisões devem ser
tomadas, muitas vezes sem muita reflexão ou motivada por interesse que só a longo prazo se percebe os efeitos
desses atos.
A natureza do homem
O homem sendo possuidor de duas naturezas deixa-se conduzir por normas, uma boa e outra má. Em O
Príncipe Maquiavel diz que o homem age pela lei e pela força, que a lei é dos homens e a força dos animais. As leis
aqui podem ser entendidas como normas, que são próprias dos que vivem em sociedade, quanto aos que compara
com os animais são aqueles que agem pela força, tal como os animais, é o que é indesejável, animalesco no homem,
pois sem o uso da razão os homens agem instintivamente, apenas para alimentar o próprio ego.
O Discurso nos mostra que os homens podem facilmente se corromper [...] pela ambição que é a quem a
cega, seduz, e geram as paixões, a raiz de todos os males está na ambição. O homem maquiavélico é o homem de
bem, o prudente, o que age moralmente, que tem a obrigação de a todo o momento favorecer o bem e se opor a todo
tipo de maldade, aqui ele está falando em si mesmo, como sendo um homem de bem, e insiste para que os outros
homens tenham uma correta conduta e reconhece como um dever pessoal ensinar o bem.
Maquiavel vê o homem mais propenso ao mal e tem dificuldade em escolher entre o bem e o mal. Maquiavel
nos mostra porque o homem se inclina para o poder, que procura sempre uma posição elevada e para isso está
disposto a todo custo para alcançá-lo, e usa de todas as artimanhas necessárias, os meios não tem muita importância,
A origem
o que do Estado
interessa é o poder.
Maquiavel mostra as suas origens, que são reais ou imaginárias, a situação das coisas antes que os
homens se originassem num Estado. É próprio de Maquiavel, quando vai falar de um determinado assunto, ir a suas
origens.
Os estados são criados, todavia, pela virtude de poucos homens superiores, virtude que é ao mesmo tempo
sabedoria, capaz de conceber uma ordem política e firme a vontade de execução que, empregando qualquer meio,
sabe traduzir esta ordem em formas concretas, em instituições úteis e vitais. Esta virtude se comunica aos cidadãos
quando eles se tornam consciente dos seus deveres e de membros de uma sociedade civil bem organizada.
Os Estados foram fundados ou por naturais do país onde se situam ou por estrangeiro. Os primeiros casos
ocorrem quando os habitantes são disseminados por muitas vilas, há a dificuldade de viver em segurança, que ao se
aproximar o inimigo não há tempo para se defender, por este motivo os habitantes para prevenirem-se deste perigo
de modo espontâneo ou movido pela tribo de maior autoridade, que só habitando juntos será possível a defesa e
possam ter maior comodidade.
Nas criações das cidades, umas foram fundadas por príncipes como Alexandria, fundada por Alexandre, e
outras por soldados, a exemplo de Florença, fundada pelos soldados de Silas, e por homens livres quando o povo
deixa a sua pátria movido por doença, fome e guerra e vai se estabelecer em outro local, espontaneamente ou
conduzido por um príncipe, a exemplo de Moisés.
Maquiavel aponta Atenas e Veneza como exemplo de cidades que foram construídas nestes moldes, diz
que Teseu para acolher a população dispersa Ática construiu Atenas; já no caso de Veneza reuniram-se os
numerosos habitantes que se haviam refugiados na constelação de ilhotas situadas na extremidade do mar Adriático
para escapar às guerras que se sucederam na Itália, depois da decadência do Império Romano.
Para a fixação de uma cidade Maquiavel mostra que é de extrema importância o local, que deve ser uma
local que favoreça a vida do habitantes, que a terra seja fértil e o povo possa habitar em paz. Como o momento atual
é de muita disputa pelo poder, pelo governo, o local deve facilar a defesa, e ele vê o perigoso em habitar um local
fértil devido o homem está inclinado as paixões, ao ócio, no melhor sentido, vida farta gera o ócio. Para isso é
preciso que se crie lei, que será o próximo item abordado.
A importância das leis para a manutenção do Estado
Na gênese das leis, segundo Maquiavel, está a proteção ao mais fracos, a forma de defendê-los dos mais
forte foi a criação das leis, com a punição para aqueles que desrespeitassem. A lei é uma forma para que todos
sejam iguais, que o mais forte não domine o mais fraco, mas que se viva em plena igualdade.
Para manter a ordem e o estado unido se faz necessário que estas leis moldem o comportamento de seus
cidadãos. Para Maquiavel, as leis são estabelecidas nas práticas virtuosas da sociedade e com o cuidado de não
repetir o que não teve de êxito.
Como deve agir moralmente o governante para manter o apoio do povo
A imagem do Estado é de grande importância, pois é a imagem que vai indicar a sua importância, a
grandeza, o valor e a consideração está no que ele é ou represente.
Para que se assegure o estado podem-se tomar duas qualidades, que são bases, pois o povo busca algo
que tenha como referencial, ou seja, precisa de um referencial para vislumbrar o estado e sentir-se como agente
promovedor do estado.
Quanto às ações do estado, nem sempre se pode agradar a todos. Há sempre os contentes e os
descontentes. Por isso não se pode deixar à margem; as ações do Estado devem ser intensas, ou seja, uma após a
outra, sem deixar espaço para as críticas.
Como deve ser a conduta do governo diante do povo
O príncipe deve proceder de modo que tenha a louvação de seus súditos e dos governantes que estão a
sua volta, mostra que o ideal de vida não existe na prática, é tão diferente o como se vive do como se deveria viver,
que aquele que desatende ao que se faz e se atém ao que se deveria fazer aprende antes a maneira de arruinar-se
do que a de preservar-se.
O capítulo 21 de O Príncipe diz como deve conduzir-se um príncipe para ser considerado, que não há nada
que “faça mais considerado um príncipe do que a realização de grandes empreendimentos e dar de si exemplo
extraordinário.
Para Maquiavel, o governante precisa de um modelo, especialmente em sua conduta, pois o povo tem as
imagens dos bons e maus governantes, quando se fala deles o povo tece elogios ou críticas, conforme as facetas
dessa imagem, e ao falarem notam algumas qualidades que trazem censura ou louvor, avaliam a sua conduta
qualitativamente.
Para ser a imagem do que o povo imaginou o primeiro passo é a retórica da impostura. O governante em
sua conduta com seu povo e amigos precisa manter sua imagem sempre polida, para que todos o vejam, e ter o
cuidado para que jamais lhe saia da boca alguma coisa que não esteja cheia de cinco qualidades e, que pareça ao
vê-lo e ouvi-lo seja todo piedoso, fiel, íntegro, humilde e religioso.
A importância da religião para o Estado
Em O Príncipe, ele aborda vagamente e de forma bastante sistemática certos aspectos da religião. Para ele
todas as religiões grandes e pequenas são falsas, à exceção do Cristianismo, às vezes se refere a ela como sendo a
nossa religião ou como sendo a religião que nos mostra a verdade e o verdadeiro caminho.
Faz crítica à Igreja por corromper os italianos e sua política exterior, devido aos maus exemplos da cúria
romana, a Itália “perdeu toda a devoção e toda a religião.
A fonte para a ligação entre assuntos militares e religiosos são os livros que estudava de Tito Lívio, por isso
no Discurso, estabelece uma relação entre as armas e a religião por meio de juramentos, das cerimônias de
sacrifícios, os modelos de indivíduos a serem imitados e, de modo geral, a educação do cidadão e do soldado para a
virtude, isto quer dizer que esta mistura torna os recrutas mais obedientes.
Educação
A educação é pensada por Maquiavel como uma força destinada a controlar a desordem inerente ao
movimento tanto do desejo quanto da natureza. De uma maneira geral o objetivo é o mesmo, se para a Igreja
deveria tornar o homem longe do pecado, para Maquiavel deveria torná-lo mais consciente de seu papel de cidadão,
que a educação despertasse o amor pelo Estado. A educação é como uma energia capaz de manter o controle do
desejo de natureza do homem, no sentido de moldar, pois pela educação o homem será capaz de manobrar a
realidade com maior envergadura para controlá-la e conduzir seus esforços no sentido de conseguir êxito. A
educação tem a função de redefinir a conduta das pessoas de tal modo que o curso dos acontecimentos se desvie
para uma resolução coesa com o bem da coletividade.
A educação antiga é o modelo de educação eficiente e formadora de homens capazes de lutar pela sua
liberdade, de formar homens virtuosos, pois influenciado pela religião que diminui o valor da honra e o bem supremo
é a humildade e o desprezo por este mundo, os ritos atuais nada oferece capaz de excitar a coragem.
CONCLUSÃO
Ao longo desta reflexão acerca da concepção de Estado na ótica de Maquiavel, foi percebido como ele via
o Estado e como queria que fosse e qual era o papel do Estado na vida do povo. O Estado funciona como um
organismo que em sua essência visa o bem comum, não importando os meios que se possa fazer uso para se
chegar a este fim. O estado visa à felicidade, a organização e a defesa de seus cidadãos, isso é a essência que está
em sua origem, e para manter toda essa organização faz uso das leis.
Para Maquiavel os fundamentos para se criar um Estado ideal se encontram na história dos gregos e
romanos, de como criaram seus estados e de que forma mantiveram o seu poder sobre os outros povos.
Ao longo da explanação procurou-se mostrar um aspecto do pensamento de Maquiavel sobre o estado. E a
explanação não foi a fundo, em outra oportunidade poderá ser mais enriquecido com outros aspectos, já que há
muito que se extrair dos escritos por ele deixado diante da realidade em que vivemos hoje. Seria uma luz para
melhor entendermos o nosso presente.
No geral, este foi um trabalho muito prático, o qual possibilitou-me melhor compreender qual é o papel do
estado na visão de Maquiavel. Não busquei respostas, mas entender o que pensa Maquiavel sobre o Estado. Isso
me ajudou muito a desmistificar o que dizem sobre Maquiavel sem conhecer o seu real pensamento. Espero, com
esta reflexão, ter contribuído para um melhor entendimento do secretário florentino, que é sempre visto como algo
negativo, no sentido de se dar bem a qualquer custo ou de velhaques, de trapaceiro e enganador, são adjetivos que
não correspondem ao real pensamento de Maquiavel, mas que ao longo do tempo foi se atribuindo a ele por falta de
conhecimento de seu pensamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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