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Conceitos e Discussão
O conceito de bem estar animal refere-se a uma boa ou satisfatória qualidade de vida que
envolve determinados aspectos referentes ao animal, tal como saúde, felicidade e
longevidade. Um dos conceitos mais populares de bem estar animal foi dado pelo inglês
Barry Hughes, que o define como «um estado de completa saúde fisica e mental, em que
o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia».
No entanto há diversas perspectivas sobre o que é mais importante para se obter essa
qualidade de vida. Todas essas perspectivas levam a que possamos perceber que há
muitos aspectos a ter em atenção e que nenhum deles pode ser considerado certo ou
errado, mas que apenas corresponde a diferenças de valores e de opiniões.
Assim, o conceito de bem estar animal deve representar um consenso entre cientistas e o
público em geral. Tendo por base este consenso, surgiram as cinco liberdades dos
animais (5 Freedoms), cuja lista foi criada pelo professor inglês John Webster e
divulgada pelo Farm Animal Welfare Council (FAWC), do Reino Unido.
Estas «cinco liberdades» focam o bem estar primário de qualquer ser vivo, e são as
seguintes: o animal deve estar livre de fome e sede, livre de desconforto, livre de dor,
lesões ou doença, livre para expressar os seus comportamentos normais e livre de medo
e aflição.
A ausência de bem estar animal e sofrimento não podem ser confundidos com crueldade
animal; a crueldade traduz-se na deliberada, sádica, inútil e desnecessária inflição de dor,
sofrimento e negligência contra os animais. Por outro lado, o bem estar de um indivíduo
é o seu estado em relação às suas tentativas em adaptar-se ao ambiente que o rodeia. Em
muitos casos, pode ser providenciado pelos especialistas e tratadores.
O termo bem estar pode ser utilizado para o animal Homem e para todas as outras
espécies do reino animal. Um critério essencial para a definição de bem estar animal, é
que o mesmo deve referir-se às caracteristicas especificas do animal como individuo e
não a algo proporcionado pelo Homem. Ao considerar a avaliação do bem estar de um
animal, é necessário um adequado conhecimento da sua biologia, para que se determine
assertivamente o que realmente conta para o animal.
No vasto leque de animais aos quais os cientistas dedicam o estudo sobre o seu bem
estar, estão os animais silvestres, de produção, residentes em parques zoológicos,
animais de experimentação e animais de companhia. O bem estar é o «estado de
harmonia entre o animal e o ambiente que o rodeia, caracterizado por condições fisicas e
fisiológicas óptimas e alta qualidade de vida do animal». O bem estar refere-se ao estado
de um individuo em relação ao seu ambiente. Se o organismo falha ou tem dificuldade
em se adaptar, isto é uma indicação de bem estar pobre. O sofrimento, normalmente, está
relacionado com o bem estar, mas a falta de bem estar não é, necessáriamente, sinónimo
de sofrimento.
O bem estar está relacionado com o conforto fisico e mental. Conforto mental é um
estado que, sem dúvida, está relacionado com a condição fisica do animal, mas não
apenas com esta. Entretanto, a manifestação de certos comportamentos evidencia-se pelo
desconforto, inclusive mental. A privação de estimulos ambientais (ambiente monótono,
falta de substratos como palha ou terra, etc.) leva à frustração, que se pode reflectir em
comportamentos anómalos ou estereotipados. Conforto físico implica que o animal
esteja saudável e em bom estado corporal. Porém, o animal pode estar em óptimas
condições físicas, estar saudável e bem nutrido, mas a sofrer mentalmente.
Com efeito, o stress, tem sido empregue como o principal indicador e mecanismo de
avaliação do bem estar animal. O stress é uma consequência, não a causa. Podemos
definir o stress como uma reacção do organismo a estímulos ambientais, numa tentativa
de manter a homeostase, o equilíbrio. Nesse sentido, o stress é benéfico e tem valor
adaptativo. No entanto, o stress crónico leva a uma outra reacção, conhecida como
«desistência aprendida». Esta condição tem inumeras consequências para o organismo
animal: maior fragilidade do sistema imunológico, aumentando a susceptibilidade a
doenças, redução da produtividade em alguns casos, e a ocorrência de comportamentos
anómalos.
Aos poucos, Portugal vai abrindo portas ao conceito e preocupações éticas e técnicas
relativas ao bem estar animal e à protecção legal dos animais. Apesar de hoje em dia a
protecção do bem estar animal se aplicar praticamente só à produção animal, e
subsequentemente à qualidade dos alimentos por eles produzidos, este conceito ganha
cada vez mais peso no mapa moral da população portuguesa, tanto mais que a ética
tradicional condena a crueldade e os maus tratos contra os animais.
O grande problema em admitir que deve ser garantido o bem estar de todos os animais,
relaciona-se com a tendência ilógica das pessoas em manifestarem maior preocupação
com os animais de estimação, do que com os animais mantidos noutras circunstâncias -
para utilidade humana e habitualmente isolados do público. De facto, um cão ou um
cavalo ferido ou desnutrido causam uma resposta maior por parte da sociedade que um
rato, ovelha ou galinha nas mesmas condições.
Ao tentar determinar o que é mais importante na discussão sobre bem estar animal,
muitas possibilidades se levantam. Para alguns, a área mais importante é a
experimentação animal, enquanto outros argumentam que, em virtude do numero dos
animais utilizados, a produção animal e a carnificina por esta produzida, devia estar no
topo da lista, não esquecendo ainda as preocupações com a fauna selvagem, como as
resultantes das matanças de Cangurus na Austrália ou as Baleias no Japão.
Um problema típico que surge quando se tenta estabelecer prioridades em bem estar
animal, resulta de que a maior parte das pessoas tem as suas preferencias individuais, o
que prejudica as reais necessidades dos grupos de animais em questão. Se a emoção se
sobrepõe à lógica ao tentar decidir o que é realmente importante no bem estar animal,
muitas questões fulcrais e mais imediatas podem ser esquecidas. Na tentativa de avaliar
o bem estar, é por isso necessário termos em atenção a evidência cientifica disponível no
que diz respeito aos sentimentos dos animais, que possam ser derivados da sua estrutura
e função, assim como do seu comportamento natural.
Apesar destas alusões aos sentimentos dos animais em geral e ao sofrimento dos animais
em particular, a opinião comum dentro da comunidade cientifica, é de que o bem estar
está intimamente ligado ao stress. Já em 1789 o filósofo Jeremy Betham afirmava que a
questão não é se possuem razão, ou se conseguem falar, mas se podem sofrer!
Segundo a experiência subjectiva, bem estar existe quando um animal se sente bem.
Dada a dificuldade em medir estados afectivos directamente, têm sido propostas várias
medidas comportamentais indirectas, como a análise da preferência animal em várias
situações, e a sua motivação para ter acesso a recursos, ou executar comportamentos
particulares - Estudos sobre comportamentos anormais (estereotipias), comunicação
animal (vocalizações) , entre outros. Nesta perspectiva, o mais importante é o
funcionamento do organismo, constituindo questões de bem estar animal, as situações de
doença, dor, mal nutrição e tudo o que comprometa o seu bem estar fisico.
Os métodos e parâmetros de avaliação do bem estar animal devem ser pouco subjectivos
e o mais consensuais possível. Estes são divididos em dois grandes grupos, fisiológicos e
comportamentais. Em termos fisiológicos, são comumente avaliados sinais de stress
como concentrações de endorfinas, corticosteróides, batimento cardiaco, entre outros
indicadores. A nível comportamental, as medições são muitas vezes feitas às situações e
não ao próprio animal. As preferências e o esforço empregue pelo animal em realizar
determinada tarefa dão indicação de quanto o animal necessita de determinado recurso, e
de como a sua ausência poderá afectar o seu bem estar.
Bibliografia
Benson, G.J and Rolin, B.E. (2004) The Well-Being of Farm Animals: Challenges and
Solutions. Blckwell Publishing
Clough, C. and Kew, B. (1993) Animal Welfare Handbook. Fourth Estate, London
Rollin, B.E. (2006) Animal Rights and Human Morality. 3rd Edition. Prometheus Books