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Índice

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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO PESSOAL DA BÍBLIA.......................................................................03


1 . A Bíblia pode e deve ser estudada...................................................................................................O3
2. Resultados do estudo bíblico.............................................................................................................08
3. Manuseie com cuidado!......................................................................................................................11
4. A necessidade de métodos para estudar a Bíblia..............................................................................13
PASSOS PARA O ESTUDO DA BÍBLIA..............................................................................................15
I. OBSERVAÇÃO...................................................................................................................................15
A. O valor da observação....................................................................................................................15
B. Aprenda a ler o texto bíblico...........................................................................................................16
1. Estratégias para uma leitura do texto bíblico..............................................................................16
a. Ler com atenção, repetidas vezes, pacientemente e aquisitivamente.....................................17
b. Ler com oração e meditativamente..........................................................................................17
c. Ler seletivamente: seis perguntas básicas...............................................................................18
d. Ler descobrindo o propósito através da estrutura gramatical e literária..................................18
2. Elementos a procurar (desvendar) no texto bíblico em estudo..........................................................23
a. Elementos que são enfatizados.....................................................................................................24
b. Elementos que se repetem.............................................................................................................24
c. Elementos que são relacionados....................................................................................................25
d. Elementos semelhantes e diferentes.............................................................................................26
e. Elementos que são da vida real.....................................................................................................27
II. INTERPRETAÇÃO.............................................................................................................................34
A. O valor da interpretação.................................................................................................................34
B. Chaves para a interpretação do texto bíblico em estudo...............................................................39
1. Conteúdo...................................................................................................................................39
2. Contexto....................................................................................................................................40
3. Antecedentes históricos e culturais...........................................................................................42
4. Consulta a fontes secundárias..................................................................................................43
III. CORRELAÇÃO.................................................................................................................................48
A. Definição e objetivos da correlação...................................................................................................48
B. Meios para fazer a correlação bíblica do texto em estudo.................................................................48
1. Referências bíblicas.......................................................................................................................48
2. Versões bíblicas.............................................................................................................................49
3. Esboço minucioso..........................................................................................................................49
4. Gráficos..........................................................................................................................................50
C. Juntando as partes............................................................................................................................51
IV. APLICAÇÃO.....................................................................................................................................58
A. O valor da aplicação..........................................................................................................................58
B. Passos para fazer uma boa aplicação do texto bíblico estudado......................................................60
1. Conheça o texto e conheça a si mesmo........................................................................................60
2. Relacione a verdade à própria experiência....................................................................................62
3. Medite.............................................................................................................................................63
4. Pratique: a. A importância de princípios; b. O processo de mudança............................................65
V. MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA................................................................................................75
1. MÉTODO DEVOCIONAL...............................................................................................................75
2. MÉTODO BIOGRÁFICO................................................................................................................81
3. MÉTODO ANALÍTICO...................................................................................................................83
4. MÉTODO TÓPICO.........................................................................................................................86
5. MÉTODO LIVRO POR LIVRO.......................................................................................................88
ANEXO: Programas de leitura e de estudo da Bíblia.............................................................................91
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................96

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UNIDADE I
___________________________________________________________________________

A importância do estudo pessoal da Bíblia


1. A Bíblia pode e deve ser estudada
Os cristãos são o povo do livro — isto é, da biblioteca de 66 livros conhecida como a Bíblia. A
inspiração divina desta obra múltipla a eleva para sua posição central e fundamento
inabalável da fé cristã.

Durante séculos seguidos a Bíblia ficou na situação ambígua de ser a narração dos fatos em
que a Igreja colocava sua fé salvadora e ao mesmo tempo o livro virtualmente desconhecido.
Desde os séculos V e VI depois de Cristo, quando Jerônimo traduziu a Bíblia do hebraico e
grego para o latim, até o trabalho pioneiro de Wycliffe e Lutero, a Bíblia foi destinada a ser
cada vez menos lida e entendida. O latim, que há 1500 anos atrás foi a língua do povo d
Europa ocidental, transformou-se num véu cada vez mais espesso para os povos que
falavam as línguas românicas, italiano, espanhol, francês, português e outras. A vantagem do
latim se baseava na possibilidade de manter comunicação entre povos que falavam línguas
distintas. Por outro lado, os analfabetos, que constituíam a maioria da população européia,
não entendiam o latim.

A Vulgata, traduzida por Jerônimo, era a versão aceita oficialmente pela igreja Católica
Romana, mas o conteúdo das suas páginas ficou desconhecido pela maioria. Assim se deu a
oportunidade de criar e aumentar as tradições dogmáticas sem interferência séria da Bíblia.

A própria Igreja Romana achou por bem seqüestrar a Bíblia do povão. Dessa maneira os
ensinamentos do magisterium (órgão oficial para a determinação do ensino bíblico aceitável à
Igreja) se transformaram “no que a Bíblia disse”, segundo os mestres autorizados pela
hierarquia em Roma.

Paulatinamente, na era das trevas, ou período medieval, a Bíblia ficou cada vez mais distante
do povo – era vista apenas na biblioteca dos mosteiros e das universidades ou entre as
pessoas de recursos. Quem teria coragem de colocar em dúvida as interpretações
eclesiásticas oficiais? Quem quer que fosse e publicamente desafiasse as tradições era
tachado de “herege” e morto ou banido juntamente com suas obras.

Assim, duas barreiras ofuscavam a mente do “cristão” típico antes da Reforma do sáculo XV:
1) A língua latina que não se entendia. 2) Uma ameaça física e espiritual, efetivamente
obscureceu as mentes dos católicos. Torturas e martírio pela fogueira intimidavam qualquer
interessado no restabelecimento da religião bíblica como aconteceu com Jan Hus e
Savanarola. Muitos certamente discerniam os interesses humanos que os principais líderes
da Igreja tinham para manter os membros dependentes e obedientes às ordens eclesiásticas.

Além destas formidáveis barreiras que mantiveram os católicos na ignorância das Escrituras,
houve mais uma: a produção de livros dependia de papel rude e caro, chamado papiro. Aos
poucos foi sendo substituído por pergaminho, feito de peles de ovelhas e cabras, por volta do

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século X. Mais ainda, a reprodução realizou-se por escrito com pena e tinta. Quantas
centenas de horas se gastaram para copiar um exemplar da Bíblia?

Como seria possível buscar nela o amor de Deus e a Sua perfeita vontade? A Reforma é que
fez dela um livro popular. Foi a convicção de que a Bíblia traz ao coração fiel a legítima
Palavra de Deus que tornou os reformadores ousados na insistência em que o Livro fosse
aberto todos os homens.

“É uma espécie de impiedade não ler aquilo que por nós e para nós escreveu a mão do
próprio Deus. Que ninguém incorra nesta falta, tendo ao seu alcance a leitura da Bíblia.”,
afirmou Santo Agostinho.

“Quero saber de uma só coisa – o caminho para o Céu; como desembarcar em segurança
nessa praia feliz. O próprio Deus dignou-se em ensinar-nos o caminho: foi com essa
finalidade que Ele desceu do Céu. Escreveu as instruções em um livro. Ó, dê-me esse livro! A
qualquer preço, dê-me o livro de Deus! Eu o tenho: tem conhecimento suficiente para mim.
Quero ser um homem de um só livro.”, expressou John Wesley.

“A grande necessidade da hora presente entre as pessoas espiritualmente famintas é dupla:


Primeiro, conhecer as Escrituras, sem as quais nenhuma verdade salvadora será concedida
por nosso Senhor; segundo, ser iluminado pelo Espírito, sem Quem as Escrituras não serão
compreendidas.”, era a convicção de A. W. Tozer.

O Cristianismo é peculiarmente religião de um só livro. A Bíblia é o meio pelo qual Deus


decidiu apresentar Sua revelação ao homem através de sucessivas eras. A Bíblia é a Palavra
de Deus. Isto quer dizer muita coisa. Significa que ela encerra a auto-revelação de Deus e
expressa a vontade toda de Deus em matéria de fé e conduta. É a informação segura quanto
a Deus, quanto à vida e quanto à eternidade.

Você tem em sua própria língua um livro de texto e de devoção que encerra o programa todo
de Deus, uma espécie de enciclopédia que fornece toda sorte de informação teológica
necessária, um manual de avaliação que mostra a diferença entre o certo e o errado.

A prática da leitura e do estudo da Palavra de Deus é a arte de procurar o Senhor nas


páginas das Sagradas Escrituras até achar, a arte de enxergar a riqueza toda que está atrás
da mera letra, de ouvir a voz de Deus, de relacionar texto com texto e de sugar todo o leite
contido na Palavra revelada e escrita, tanto nas passagens mais claras como nas passagens
aparentemente menos atraentes, através de uma leitura responsável e do auxílio do Espírito
Santo.

A Bíblia foi escrita para pessoas comuns. Se desejarmos ser crentes felizes, vitoriosos e
frutíferos, teremos que nos alimentar regularmente da Palavra de Deus.1 Depois que nos
convencemos de que podemos estudar a Palavra de Deus por nós mesmos, a nossa vida
espiritual toma uma nova dimensão.

Deus quer encontrar você pessoalmente na Sua Palavra. Você tem o direito de estudar pó si
mesmo. O pastor Gordon MacDonald avaliou: “Os pastores gastam muito tempo estudando a
Bíblia para o seu povo... Francamente, uma das minhas maiores tristezas em 25 anos de
pregação é que acho que não ensinei os membros da minha congregação a estudarem a
Bíblia sozinhos, seja individualmente ou em grupo. Penso que fui um pregador relativamente

1
Uma pesquisa Gallup nos EUA, na década de 1990, mostrou que embora 82% dos americanos acreditem que a Bíblia é a
palavra “literal” ou “inspirada” de Deus, só 21% estão envolvidos no estudo bíblico. (Citado por James C. Denison. 7
Questões Cruciais sobre a Bíblia. Bom Pastor Editora, 1995, p. 239.
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bom. As pessoas faziam anotações e aceitavam bem o que eu pregava. Julgo então que a
minha pregação estava definitivamente satisfazendo uma necessidade. Mas agora, quando
olho para trás, sinto que eu estava estudando a Bíblia pelas pessoas. Estamos avançando
para um ponto onde existem apenas alguns comunicadores fortes estudando a Bíblia por nós
todos. O que deveria ter feito é ajudá-los a compreender como eu estudei e como eles
podiam aprender a estudá-la por si mesmos.”2

Iluminação e Convicção.3 O conhecimento dos cristãos a respeito das coisas divinas é mais
do que um conhecimento das palavras e das idéias teológicas da Bíblia. É uma compreensão
da realidade e da relevância das obras de Deus testemunhadas pelas Escrituras. O “homem
natural” (I Co 2:14), que não tem o Espírito, mesmo que esteja familiarizado com idéias
cristãs, ainda padece da falta dessa compreensão mais profunda e é como um cego que
conduz outro cego (Mt 15:14). Só o Espírito Santo, que “a todas as coisas perscruta, até
mesmo as profundezas de Deus” (I Co 2:10), pode levar essa compreensão às mentes e
corações obscurecidos pelo pecado. Isto é chamado de “entendimento espiritual”, porque é
uma compreensão dada pelo Espírito Santo (Cl 1:9; cf. Lc 24:25; I Jo 5:20). Aqueles que,
além de um conhecimento correto das Escrituras, possuem “unção que vem do Santo...” e
conhecem todas as coisas (I Jo 2:20).

A obra do Espírito Santo em comunicar essa compreensão, é chamada de “iluminação” ou


esclarecimento. Não é uma nova revelação, mas uma obra dentro de nós, que nos capacita a
compreender e a afirmar a revelação da Bíblia, quando é lida, pregada e ensinada. O pecado
obscurece nossa mente e vontade, de modo que perdemos e resistimos à força das
Escrituras. O Espírito, contudo, abre e desanuvia nossa mente e põe o nosso coração em
sintonia, de modo a podermos entender aquilo que Deus tem revelado (II Co 3:14-16; 4:6; Ef
1:17-18; 3:18-19). Iluminação é a aplicação da verdade revelada de Deus ao nosso coração,
de modo que nós passamos a entender como realidade para nós o que o texto sagrado
revela. É através da iluminação do Espírito que o ministério da Palavra realiza a chamada
eficaz para a salvação.

Embora a iluminação pelo Espírito comece o processo ou seqüência da salvação (Hb 6:4;
10:32), ela continua durante toda a vida do crente. O Espírito Santo conduz-nos a uma mais
profunda compreensão de Deus (Jo 16:13), levando-nos tanto ao arrependimento dos
pecados que cometemos quanto à segurança da graça de Deus e à certeza da nossa eleição.
Recebemos essa iluminação através do ministério da Palavra, da oração e da meditação a
respeito de Deus e de sua revelação e do esforço para viver nossa vida de modo coerente
com a revelação.

2
Citado por James Denison. 7 Questões Cruciais da Bíblia. Editora Bom Pastor, p. 86.

3
Bíblia de Estudo de Genebra, pág. 1348.

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“Os cristãos são o povo do Livro — isto é, da biblioteca de 66 livros conhecida como a Bíblia. A inspiração divina desta obra
múltipla a eleva para sua posição central e fundamento inabalável da fé cristã.” — Russell P. Shedd

Qualificações do livro sagrado


1. É Palavra de Deus (II Tm 3:16; II Pe 1:20-21). As Escrituras emanam de Deus; são uma
inspiração divina. Deus ama sua Palavra e está moralmente comprometido a falar através
dela!

2. A Bíblia é um livro igualmente humano e divino. Os cristãos não procuram ocultar sua
natureza humana. Sabemos que ela foi escrita por homens e que não desceu do Céu numa
bandeja de ouro. Todavia, também cremos que os homens que a escreveram estavam sob a
inspiração de Deus, conduzidos pelo Espírito Santo. A Palavra de Deus nos é dada nas
palavras desses autores humanos e por meio delas.

3. Sua preservação é um milagre.

4. A Bíblia é tanto histórica quanto contemporânea. É um livro arraigado nas culturas, nas
línguas e nas tradições da Antigüidade. Mesmo assim é também um livro poderoso para tocar
a vida dos leitores de hoje (Mt 24:35).

5. É completo (Ap 22:18-19).

6. A Bíblia é singular em sua universalidade cósmica (reflete a glória de Deus sobre todo o
universo) e em sua universalidade social (dirige-se a todos os membros da sociedade
humana, a povos de todas as raças). É singular no impacto histórico, quanto à iniciativa de
Deus, ao poder de Deus e à vitória de Deus na história: é o único livro que descreve uma
história mundial com início e conclusão definidos no ato divino de revelação. A história é a
estrada que vai do primeiro jardim do Éden à gloriosa cidade chamada Nova Jerusalém. É
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singular na comunicação: compreendida pela fé e compreendida pela iluminação. E nos
confronta com a vontade de Deus para nossa vida. Temos de decidir favoravelmente ou
contra a mensagem que recebemos.

7. Sua preeminência na literatura, em línguas e dialetos (Is 56:7; At 2:8; Ap 7:9).

8. A Bíblia é tanto um livro simples quanto complexo. As crianças podem desde cedo
começar a estudá-la e a amá-la, e milhões de crianças o fazem. Mas alguns dos mais
capacitados estudiosos em todo o mundo gastam a vida inteira estudando a Bíblia e mesmo
assim confessam ter somente um conhecimento superficial desse livro maravilhoso. A Bíblia é
o livro mais estudado em todo o mundo, assim como também o mais publicado, e quase
certamente o livro mais apreciado do mundo.

9. É uno em coesão de pensamentos (Is 7:14; Mq 5:2; Mt 1:23; 2:6).

10. Sua adaptabilidade alcança a todos (Lc 4:17-18; At 4:13; 8:27-28).

11. Sua eficácia, efeitos reais e eternos (At 17:11-12; II Rs 22:13; 23:4-25).

12. A Bíblia é um livro de pesquisa ímpar e indispensável para o cristão e para a igreja. É luz
para o nosso caminho (Sl 119:105). Ler suas palavras em voz alta é como saborear o mel (Sl
119:103). É uma arma na luta por uma fé mais robusta (Ef 6:17). A vida do cristão é moldada
pela Bíblia, e ela é lida, ensinada, pregada, cantada, crida e amada na igreja. A Bíblia
concede aos cristãos uma visão de mundo. Fornece-lhes um conjunto de valores morais.
Propicia-lhes experiências com Deus. Transmite-lhes o sentido da vida. Todo cristão pode
afirmar como o salmista: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia” (Sl 119:97).

Que retrato a Bíblia traça de si mesma?


É necessário considerar sobre as metáforas que a Escritura utiliza de si mesma para que se
crie um compromisso mais forte com o estudo da mensagem que Deus inspirou e os autores
bíblicos escreveram. Estas figuras literárias parecem as mais apropriadas para descrever a
Palavra em sua vitalidade e poder. Grandes lições são colhidas quando se permite que Deus
use essas metáforas para convencer seus servos da importância do estudo e da exposição
bíblica.

Espelho. A Bíblia é como um espelho no sentido de refletir com precisão nossa aparência
espiritual.

Espada. A Bíblia é como uma espada no sentido de poder ser utilizada como arma de defesa
e de ataque contra o inimigo (Hb 4:12; Ef 6:12, 17).

Luz. A Bíblia é como luz no sentido de nos capacitar a enxergar na escuridão da vida,
manter-nos no caminho certo e evitar os perigos. A frase “Lâmpada para os meus pés é a tua
palavra” (Sl 119:105) deve ser entendida como o ganho da perspectiva de Deus nas decisões
que uma pessoa tome.

Água. A Bíblia é como água no sentido de saciar nossa sede e nos purificar as impurezas
espirituais (Jo 15:3; 13:10; IJo 1:9; Ef 5:25-27).

Alimento. A Bíblia é como alimento no sentido de satisfazer nossa fome espiritual e fazer-nos
crescer espiritualmente.

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A Semente (IPe 1:23-25). A palavra de Deus tem vitalidade quando ela é aplicada pelo
Espírito divino.

Martelo e Fogo. O “martelo que esmiúça a penha” (Jr 23:29) sugere que eventos,
completamente inesperados, ocorram quando Deus decide comandar transformações pela
sua Palavra. A “palha”, isto é, mensagens sem qualquer respaldo na revelação divina, será
queimada.

Arma (IICo 10:3-5). As armas “poderosas em Deus” referem-se à verdade revelada, escrita e
canonizada, à clara e inabalável Palavra de Deus explicada e sabiamente aplicada, a única
arma segura para explodir os “sofismas” e “fortalezas” mentais, desvios doutrinários que dão
brechas para o usurpador.

2. Resultados esperados do estudo da Bíblia


Quais os benefícios do estudo bíblico? O que há nele para mim? Se eu investir meu tempo
nisso, que vantagem terei? Que diferença isso fará em minha vida?

Há diversos benefícios que você pode esperar quando investe no estudo da Palavra de Deus.
Estes benefícios não se encontram em nenhum outro lugar; e, francamente, eles são reais
necessidades do cristão. Não é uma opção – é essencial estudar a Bíblia.

Veja três passagens que conspiram para edificar um caso convincente pelo qual devemos
estudar a Bíblia:

O estudo bíblico é essencial para o crescimento


“Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos
seja dado crescimento para salvação.” (1 Pd 2:2).

Os ensinamentos das Escrituras são os elementos da nutrição espiritual. A primeira razão


para se estudar as Escrituras é que este é um meio de crescimento espiritual. Não há
crescimento fora da Palavra. Ela é o instrumento primário de Deus para o desenvolvimento
como indivíduo. O segredo do sucesso na vida cristã, em grande parte, depende da avidez
com que o leitor busca ao Senhor e a Sua vontade nas Escrituras.

O estudo bíblico é essencial à maturidade espiritual


“A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar,porquanto vos tendes
tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo
decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os
princípios elementares dos oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de
leite, e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente na
palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles
que, pela prática, têm as suas faculdades exercidas para discernir não somente o bem, mas
também o mal.” (Hb 5:11-14)

A Bíblia é o meio divino de desenvolver a maturidade espiritual. Não nos podemos satisfazer
com um êxito parcial, e nem com o crescimento espiritual obtido ontem. Diz o autor que você
é maduro se treinou a si mesmo através do uso constante das Escrituras não só para
distinguir o bem do mal mas também para saber aplicar a Palavra a si mesmo, para praticar o
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bem, obtendo progresso espiritual em sua vida. A marca da maturidade espiritual não é o
quanto você entende, mas o quanto você usa. Na esfera espiritual, o oposto de ignorância
não é sabedoria, mas obediência. A verdade fortalecedora torna ainda mais fortalecido o
cristão que já é forte.

O estudo bíblico é essencial à eficácia espiritual


“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra.” (2 Tm 3:16-17).

Este texto fundamenta o papel das Escrituras na orientação da Igreja e na vida do cristão
para que correspondam à vontade de Deus. Baseado na origem divina das Escrituras, Paulo
declarou a utilidade delas para:

Doutrina ou ensino – Isto é, ela irá estruturar seu pensamento. Isto é crucial porque se você
não estiver pensando corretamente, não estará vivendo corretamente. Aquilo em que você
acredita determina seu comportamento.

Repreensão – Isto é, ela dirá onde você está fora dos limites; ela produz convencimento,
convicção. É como um árbitro; ela mostra o que é pecado. Mostra o que Deus quer para sua
vida. Ele provê seus padrões. O endurecimento do coração reflete na falta de preocupação
com a voz viva do Espírito em nosso íntimo.

Correção – Isto é, ela abre as portas de sua vida e provê uma dinamite purificadora para o
ajudar a limpar o pecado e a aprender a se conformar à vontade de Deus. O estudo das
Escrituras eleva os desejos dos regenerados a se voltarem para o Senhor e mostra o
caminho de volta à verdade. A alegria se seguirá à obediência. O ensino só se efetua quando
o aluno muda de comportamento.

Treinamento para uma vida de justiça – Deus a usa para mostrar como se deve viver: a
expressão prática de sua fé. Tendo-o corrigido nos aspectos negativos, Ele dá a você
orientação positiva a se seguir na vida. Não basta alguém ser bom; é mister também praticar
o bem.

Qual o propósito global da Bíblia? Equipar-nos para toda boa obra. Você alguma vez já
disse: “Gostaria que minha vida fosse mais eficaz para Jesus cristo?” Se já, o que tem feito
para se equipar? O estudo bíblico é um meio primário pelo qual podemos nos tornar servos
eficazes do Senhor Jesus.

Deus talvez não possa usá-lo mais do que Ele quer porque pode bem ser que você não
esteja preparado. Talvez você tenha freqüentado igreja por cinco, dez, até vinte anos, mas
nunca abriu a Bíblia para preparar-se eficazmente como instrumento de Deus. Você esteve
debaixo da Palavra, mas não a estudou por si mesmo. Agora é a sua vez; Deus quer se
comunicar com você no século vinte e um. Ele escreveu Sua mensagem em um Livro e pede
que você venha e estude este Livro por três razões que nos impelem: É essencial ao
crescimento. É essencial à maturidade. É essencial para equipá-lo e treiná-lo a fim de que
você possa ser um instrumento disponível, limpo e preciso nas mãos dele, para cumprir os
Seus propósitos.

Mais benefícios do estudo bíblico na vida pessoal:

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1. Promove sabedoria, que é a aplicação do conhecimento; um homem sábio é aquele que
sabe distinguir o fundamental do trivial, que sabe o que é a vida e que age adequadamente,
sejam quais forem as circunstâncias (Sl 119:98-100). A sabedoria que se propõe aos
discípulos, como aquela que se harmoniza com o reino de Deus, não é mero bom senso
humano. O sábio é aquele que faz a vontade do Senhor (Mt 7:24) – a sabedoria do crente se
acha na sua obediência.

2. Segurança pessoal (Sl 119:72).

3. A imagem do Filho no coração do homem (I Pe 3:9).

4. Estar ligado na videira (Jo 15:5)

5. Comunhão com Deus (I Jo 1:6)

6. Abertura do entendimento para as Escrituras (Sl 119:18 e 130; Lc 24:31; 45)

7. Ter o coração aberto (At 16:14)

8. Ter a revelação do Espírito Santo (Lc 2:26)

9. Confiança. “O Deus cuja Palavra eu louvo, neste Deus ponho a minha confiança” (Sl 56:4,
10-11). Como observou A. W. Tozer: “O quanto conhecemos da Palavra é o quanto
conhecemos do Deus da Palavra”.

Tim Lahaye, no livro “Como Estudar a Bíblia Sozinho”, relaciona os seguintes pontos sob o
título: O que o estudo bíblico fará por você:

1. Ela nos tornará crentes mais fortes (I Jo 2:14b).


2. Ela nos assegura a certeza da nossa salvação (I Jo 5:13)
3. Ela nos dará confiança e poder na oração (Jo 15:7)
4. Ela nos adverte contra o pecado, nos indica a purificação e nos faz saber quando estamos
perdoados (Jo 15:3).
5. Ela nos dará alegria (Jo 15:11).
6. Produzirá paz (Jo 16:33).4
7. Ela nos orientará nas decisões da vida (Sl 119:105).
8. Ela nos capacitará a testemunhar de nossa fé (I Pe 3:15).
9. Será uma garantia de sucesso (Js 1:8).

Bryan Jay Bost, no livro Do Texto à Paráfrase enfatiza cinco vantagens e bons resultados
obtidos pelo estudo cuidadoso das Escrituras:
1. Teremos mais fé.

4
A Bíblia não é um sedativo. Ela não tranqüiliza. No entanto, ao lê-la, você encontrará paz. “Grande paz têm os
que amam a tua lei” (Sl 119:165). Os tranqüilizantes químicos podem agir minimizando o impacto que a
realidade exerce sobre as pessoas; as Escrituras, não. Elas transmitem paz ao mostrar-lhe como resolver qualquer
conflito interior que destrua essa paz. A paz é mais do que ausência de ansiedade. É uma qualidade positiva que
brota da harmonia interior. Uma paz que é destruída por ameaças externas não é autêntica. A paz de Deus, que
aumenta à proporção que se compreendem as Escrituras, desafia a incerteza e o perigo. Esta é a paz profunda
com a qual os cristãos romanos enfrentaram leões famintos, nas antigas arenas, e com a qual os cristãos da
Europa Oriental, num passado recente, enfrentaram prisões, torturas e ameaças contra suas famílias. Esta é uma
paz que vem da convicção de que Deus permanece no controle, você lhe pertence, e o caos e a incerteza ao seu
redor representam apenas a superfície nebulosa da realidade. E essa paz melhora o seu bem-estar físico; é “a
medula dos ossos”.
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2. Teremos mais o que dizer.
3. Teremos a certeza de ensinar a são doutrina.
4. Teremos mais condições de prosseguir.
5. Teremos mais influência do Espírito Santo sobre nós.

Howard e William Hendricks, em seu livro Vivendo na Palavra, relacionam três outras
vantagens do estudo bíblico pessoal:

1. Você ganhará um valioso senso de autoconfiança em sua habilidade de manusear as


Escrituras.

2. Você experimentará a alegria da descoberta pessoal (as pesquisas vêm mostrando


reiteradas vezes que as pessoas aprendem mais e se lembram melhor quando participam
elas mesmas do processo de descoberta).

3. Você irá aprofundar seu relacionamento com Deus.

3. Manuseie com cuidado!


“Se você crê naquilo que nos evangelhos é de seu agrado e rejeita aquilo de que não gosta,
não é nos evangelhos que você crê – mas em si próprio.” – Agostinho.

Já lhe aconteceu de ler um livro, um capítulo ou um versículo da Bíblia e, cinco minutos


depois, não conseguir lembrar nada do que leu? Muitas vezes lemos a Bíblia com os olhos;
mas não com a mente. Há muitas explicações para isso. Ou pensamos que a Palavra de
Deus deixará de forma mágica uma marca indelével em nós, sem nenhum esforço nosso, ou
não acreditamos poder entender de fato o que lemos, ou esperamos que o pastor pregue
sobre a passagem para sabermos seu significado. Muitas vezes, porém, esquecemos a
leitura feita simplesmente por não saber como ler e estudar o texto bíblico.

Modos pelos quais a Bíblia pode ser mal empregada


Devemos estar sempre atentos para os métodos que se usam para invalidar a Palavra de
Deus: esquecimento, reinterpretação, racionalização, ignorância, desobediência.

Existe perigo no mal uso da Bíblia, quando se despreza o seu estudo sistemático e metódico
e quando não se discerne o espírito com que devemos lidar com ela (Jo 5:39; Mt 22:29).
Cuidado com essas armadilhas quando estudar a Bíblia:

1. Má leitura do texto.

2. Interpretar por idéia própria ou superficialmente.

3. Distorção do texto. Forçar uma passagem a dizer o que ela não diz. Tomar um texto fora
do seu contexto.

4. Enfatizar indevidamente minúcias insignificantes.

5. Contradição do texto. Equivale a chamar Deus de mentiroso. A ilustração clássica é


Satanás no jardim no Éden (Gn 3:1-4).

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6. Ignorar a íntegra de determinada doutrina bíblica. Tentar levar Deus a satisfazer a vontade
humana, em vez de desejar aquilo que Ele quer que seja feito.

7. Julgar as Escrituras – isso leva a perder a fé. Alguns se consideram mais inteligentes do
que os escritores inspirados. No estudo bíblico, bem como na vida, o orgulho antecede a
queda. A sabedoria envaidece (ICo 8:1). Pode fazê-lo arrogante e resistente ao ensino.

8. Supervalorizar dogmas religiosos que não traduzem preceitos bíblicos (Mt 15:1-3).

9. Subjetivismo.

10. Relativismo.

11. Estudar inutilmente (há aqueles que ficam se preparando a vida toda, e nunca estão
prontos para agir). Nossos estudos da Palavra devem levar geralmente a propósitos de
aprendizado, ensino, evangelização e, sobretudo, obediência.

12. Tomar cuidado para que o estudo não “suba à nossa cabeça” e comecemos a julgar-nos
melhores que outros. Quando isto ocorre, o orgulhoso não gosta de ouvir os “irmãos mais
simples” falando, e passa a ser um juiz do conhecimento alheio, ao invés de acolher a palavra
de Deus.

13. Querer ser original demais. É muito comum ver alguém querendo marcar época na igreja
por ensinar algo completamente novo. Cautela! O estudo bíblico trará sem dúvida novos
conhecimentos, mas o amor da novidade para engrandecimento pessoal ou para levantar
polêmica é sempre pernicioso. Infelizmente, quase todas as “grandes novidades” não passam
de ressurreição de velhas heresias (Ec 12:12-13).

14. Não aplicar a Palavra a si próprio. Você deslizará para o legalismo, ou para a tradição que
invalida a verdade, ou para algum estilo de vida extravagante que tenha um ar de
religiosidade, mas seja contrário a um relacionamento correto com Deus.

15. Segundo observou Russell Shedd, “Há duas tentações que todo leitor da Bíblia deve
procurar vencer. A primeira é ler a Palavra como um manual de sugestões. Conselhos para
viver bem no mundo não devem ser desprezados. A Bíblia não convida o homem a fazer o
que Deus manda somente se se sentir disposto a obedecer. Ordens divinas são obrigatórias,
não opcionais. O leitor bíblico deve aproximar-se da Palavra como quem se apresenta para
um patrão honrado. “Que queres que eu faça; eu vim para fazer a tua vontade!” (Hb 10:7) é a
única atitude apropriada. A segunda tentação conduz o leitor com tendências legalistas a
pensar em seguir os mandamentos bíblicos ao ‘pé da letra’.” 5

Análise de um caso de má interpretação e distorção bíblica —


Oração (cf. Jo 14:13):
Primeiro contexto, Jo 15:7 (permanência em Jesus e vice-versa)
Segundo contexto, Jo 15:16 (frutificação permanente)
Terceiro contexto, I Jo 5:14 (segundo a vontade de Deus)
Quarto contexto, Sl 104:27 (tempo oportuno)
Quinto contexto, Tg 4:3 (pelo motivo certo)

5
Russell P. Shedd. A Bíblia e os Livros. Abec, 1993, p. 12.
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Quinto contexto, Sl 104:13,14,23 (Deus não faz o que o homem pode fazer. Há necessidade
de semear para depois colher)

Exemplos resultantes de uma exata interpretação e aplicação


bíblica:
1. Caso de Matias, At 1:16-26; Sl 109:8
2. Caso do Pentecostes, At 2:14-17
3. Caso dos diáconos, At 6:1-3; Êx 18:18-21
4. Caso do Primeiro Concílio, At 15:13-19
5. Caso de Apolo, At 18:24-28
6. Caso de Beréia, At 17:10-11
7. Caso de Roma, At 28:22-29

IMPORTANTE: Faça distinção entre o texto e afirmações sobre o texto. Aprenda a discernir
entre:

1. Um fato textual ............................................................ o que a Bíblia realmente diz.


2. Conhecimento geral................................................ o que se sabe de outras fontes.
3. Uma implicação ................................. os fatos naturalmente levam a concluir que...
4. Uma opinião ................................................................................ um ponto de vista.
5. A imaginação ............................................. o que podemos visualizar mentalmente.
6. Uma interpretação ...........................o que se entende com base nos fatos textuais.
7. Uma aplicação ................................................. como podemos praticar este ensino.
8. Uma identificação ............................................................. com pessoas ou atitudes.
9. Uma especulação ...................... teorização, sem quase nenhuma base verdadeira.
10. Uma espiritualizaçãoa mudança da realidade concreta para o simbolismo fantasioso.

4. A necessidade de métodos para estudar a Bíblia

A. Definição de Método
O estudo bíblico efetivo requer um método, ou seja, uma diretriz, estratégia ou linha de ação,
um plano que produzirá resultados máximos para seu investimento de tempo e esforço.
Definição: “Método é metodicidade, com perspectiva de se tornar receptivo e reprodutivo, por
meio de contato direto com a Palavra.”

Esta definição, apresentada por Hendricks, tem três desdobramentos:

a. Envolve dar certos passos em uma certa ordem para garantir um certo resultado. Não
somente qualquer passo; não somente qualquer ordem; não somente qualquer resultado. O
resultado governa tudo. Qual o produto do estudo bíblico metódico? O que você é após ele?
Lembre-se: o estudo bíblico pessoal tem um objetivo muito específico – a saber, mudança de
vida. Então como chegar lá? Que processo levará a tal resultado? São propostos quatros
passos essenciais executados em uma ordem específica: Observação (O que vejo?),
Interpretação (O que isto significa?), Correlação e Aplicação (Como isto funciona?).

b. Quando a Palavra de Deus e um indivíduo receptivo e obediente se juntam, atenção!


Esta é uma combinação que pode transformar a sociedade. É para isso que o estudo bíblico
pessoal foi designado – para transformar sua vida, e como resultado, transformar seu mundo.
Você quer causar impacto em sua sociedade? Primeiro, as Escrituras têm causar impacto em você.
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c. Não há nada que supere a exposição pessoal prolongada à Bíblia. É vital. Sem ela,
você nunca estará diretamente envolvido com o que Deus tem a dizer. tendo sempre que
depender de um intermediário. Não há substituto para a exposição direta à Sua Palavra.

B. Princípios gerais de estudo pessoal da Bíblia


O conceito bíblico do sacerdócio do crente significa que todos os cristãos têm o direito e a
responsabilidade de alimentar-se da Palavra de Deus.

Walter A. Henrichsen, no livro Métodos de Estudo Bíblico reforça a importância de recorrer às


Escrituras como a fonte primária do cristão e lista cinco princípios que devem ser incluídos no
estudo bíblico pessoal, independentemente do método adotado.

1. Fazer investigação original – É importante que a convicção da sua fé se forme com o que
a Bíblia ensina; é a autoridade da infalível Palavra examinada pessoalmente que permanece.
Há algo novo e edificante acerca de uma verdade ensinada pelo Espírito Santo durante o
tempo que você passar pessoalmente com a Palavra de Deus.

2. Habituar-se a fazer anotações do seu estudo – Este exercício ajuda a desembaraçar os


pensamentos e armazenar conteúdos e conhecimentos das Escrituras.

3. Estudar constante e sistematicamente – Estabeleça um programa de estudo da Bíblia


que lhe desenvolva um equilibrado entendimento de toda a Palavra de Deus.

4. Aplicar o estudo à vida – É importante a aplicação na perspectiva de Deus. Ele espera


que a sua Palavra seja encarada com seriedade.

5. Comunicar o conteúdo estudado – A intenção de Deus é, não só de que cresçamos e


amadureçamos em nosso andar com Ele, mas também de que ajudemos outros a
desenvolverem ao máximo o seu potencial em prol de Jesus Cristo.

3. A qualidade dos estudos bíblicos


O trabalho de estudar a Bíblia é um grande projeto, a ser conduzido com zelo e
perseverança. Excelência e compenetração são o mínimo que se pode almejar no estudo do
livro inspirado pelo Deus Altíssimo. Nosso trabalho para o Senhor Deus deve ser
caracterizado pela alta qualidade. Na aprendizagem, na exposição e no ensino de Sua
Palavra, esta alta qualidade só é atingida com empenho pessoal e a ajuda do próprio Espírito
Santo. O lema de J. A. Bengel, um dos maiores expositores de todos os tempos, também
deve ser o nosso: “Aplica-te totalmente ao texto: aplica-o totalmente a ti”.

2 Timóteo 2:15 diz que o obreiro deve MANEJAR BEM a palavra da verdade. O modo correto
deste obreiro lidar com a revelação divina (a palavra da verdade) é o critério principal para
averiguar a qualidade dele. “Manejar bem” é a principal qualidade do obreiro que Deus quer
desenvolver entre o seu povo. As traduções sugeridas pelos lexicógrafos para esta expressão
são: “guiar por uma estrada reta”; “ensinar corretamente”; “expor de maneira sadia”; “pregar
destemidamente”; “utilizar bem, sem desvios nem distorções, tanto em sua análise quanto em
sua apresentação”. O contexto mostra como “manejar mal” a palavra nos versos 14,16-18 e
23; “manejar bem” está descrito nos versos 15,21,24-27.

A Palavra de Deus e a nossa palavra. A Escritura é inspirada por Deus; nossos escritos
não. Ou dizemos: “Assim diz o Senhor...” ou é melhor não dizer nada, menos ainda dizer: “Eu
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 14
acho...” A maior parte dos desvios da verdade está na confusão entre a palavra dos homens
e a Palavra de Deus. Pelo estudo bíblico devemos nos assegurar de transmitir a mais pura
vontade divina, e não apenas nossa opinião sobre ela.

Incertezas e inescrutabilidades. Existem coisas que não saberemos nunca (Dt 29:29).
Submissão piedosa é necessária ao lidar com o que não é claramente revelado na Bíblia.
Conjecturar e construir suposições sobre textos e assuntos obscuros é como construir na
areia. Muitas coisas foram guardadas sob o conhecimento apenas de Deus (Atos 1:7, por
exemplo), e é bom não procurar falar o que Deus não disse. Não devemos fugir de nenhuma
parte da Bíblia: fácil ou difícil, ela foi escolhida pelo Espírito para nossa instrução. Por outro
lado, qualquer temeridade no tratamento da mesma é reprovável.

A orientação divina no estudo. Deus quer ajudar-nos no estudo da sua Palavra. Sem essa
ajuda o trabalho seria impossível. É a iluminação divina que faz a diferença maior para o
estudante (Ef 1:17-18; 3:18-19), no sentido de que ele entenda o que Deus disse. Isso não
quer dizer que o estudante vá ter visões e revelações independentes da Bíblia. Também não
significa que não precisa estudar. Mas, sim, que é impossível tentar entender a Palavra de
Deus sem a ajuda de Deus (I Co 2:10-16). Dependa totalmente do Espírito Santo. João
16:13-15 diz que quem nos guia em toda a verdade e nos revela as coisas de Deus é o
Espírito Santo, nosso Mestre que habita em nós. O Espírito Santo não prescinde do estudo
escrupuloso das Escrituras. Pelo contrário, seu esclarecimento só pode ser assimilado
espiritualmente quando nos dedicamos ao exame criterioso da Bíblia. Então peça a Deus, por
seu Espírito, que o guie em toda a verdade e abra os olhos “a fim de que possa contemplar
as maravilhas” de sua Palavra. Comece com oração — e continue em atitude de oração.

Passos para o estudo da Bíblia


Quatro partes essenciais compõem o fundamento de todo estudo da Bíblia – observação,
interpretação, correlação e aplicação. Estas são partes básicas para empregar no seu estudo
da Palavra, independentemente da espécie de estudo em que você está empenhado (tais
como, devocional, biográfico, analítico, tópico e livro por livro), é necessário examinar cada
uma individualmente, com profundidade.

Observação (Descubra o que o texto diz!) – O passo da OBSERVAÇÃO requer que você
assuma o papel de detetive bíblico, procurando pistas quanto ao significado do texto.
Aprender nunca é fácil. Exige um ato de vontade: você precisa ter a disposição e o desejo de
aprender. Exige persistência, diligência e disciplina. Exige registro; anote tudo que achar
importante, mas não se perca nas minúcias.

A. O valor da observação
Observar significa estar mentalmente ciente do que se vê. “O propósito da observação no
estudo da Bíblia é saturar-se do conteúdo da passagem6 da Escritura, ficar tão familiarizado
quanto possível com tudo que o escritor bíblico está dizendo, explícita ou implicitamente.”

O primeiro passo para o estudo bíblico é a Observação, onde perguntamos e respondemos a


questão: “O que vejo?” Quando o salmista orou: “Desvenda os meus olhos, para que eu

6
Texto ou passagem refere-se a qualquer trecho da Bíblia que está em estudo. Na língua portuguesa, a palavra
“texto” tem a mesma raiz de “textura” e “tecido”. E a idéia é exatamente essa: um texto é formado por fios que se
cruzam e entrelaçam.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 15
contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119:18), ele estava orando para ser capaz de fazer a
observação. Estava pedindo a Deus que abrisse seus olhos para que pudesse ver com visão
e discernimento a verdade que Deus revelara.

“A primeira habilidade que você precisa desenvolver é a capacidade de enxergar com a


mente sempre que ler um texto bíblico – observar cuidadosamente as palavras, atento aos
detalhes. Muitas pessoas têm o hábito de ler as Escrituras sem enxergar muito, sem refletir
nas palavras enquanto lêem. Lemos palavras, mas não refletimos no que querem dizer. Às
vezes nem vemos todas as palavras de uma passagem. Somos observadores preguiçosos!
Por causa da observação descuidada e inadequada, muitas vezes fazemos interpretações
errôneas e aplicações fracas.” – Oletta Wald.

O que faz uma pessoa ser melhor estudante da Bíblia do que outra? A prática e a
concentração são os dois ingredientes que aguçarão a sua perícia. A habilidade de observar
é um processo desenvolvido. Você pode aumentar seu poder de observação quando lê as
Escrituras. Suas observações formarão a base de informações a partir da qual você
construirá o significado do texto.

B. Aprenda a ler o texto bíblico

1. Estratégias para uma leitura do texto bíblico

Muitas pessoas não lêem bem, pois nem sempre entendem o que estão lendo ou não vão se
lembrar de muita coisa que leram – e poderiam ser ajudadas com a obra A Arte de Ler, de
Mortimer J. Adler, Editora Agir, ou Técnicas para uma leitura rápida e eficaz, de Donald
Weiss, Editora Nobel.

Ler é a atividade básica do aprendizado. Se quisermos estudar a Bíblia, temos que formar o
hábito7 de ler longas passagens das Escrituras. Tim LaHaye afirma: “A pessoa que não
adquiriu o hábito de ler regularmente a Bíblia, nunca cultivará o de estudá-la. Na verdade,
geralmente, a prática constante da leitura das Escrituras é que leva a pessoa a se tornar um
estudioso desse livro. Nunca encontrei uma pessoa que apreciasse o estudo bíblico, que não
houvesse antes aprendido a cultivar o hábito de ler as Escrituras com regularidade.”

Uma das vantagens da leitura corrente da Bíblia é que o estudante não fica amarrado às
complexidades da análise de textos e versos, e assim não perde o sentido geral da passagem
ou o propósito do autor. Enquanto o leitor não estiver bem familiarizado com o tema central (e
isso só é possível pela leitura do livro todo), não deve iniciar a aplicação dos métodos de
estudo detalhado que examinaremos mais adiante.

O dr. G. Campbell Morgan, conhecido comentarista bíblico da geração passada, costumava


dizer que não se lançava ao ensino de qualquer livro da Bíblia enquanto não o houvesse lido
pelo menos cinqüenta vezes.8 Ele cria que precisava de lê-lo pelo menos esse número de
vezes para entender bem cada parte e relacioná-la ao todo.

A Bíblia deve ser cuidadosamente lida para ser entendida. A seguir, a sugestão de algumas
estratégias para dar ao leitor as pistas sobre o que o texto significa:

7
“Semeai um ato, e colhereis um hábito; semeai um hábito, e colhereis um caráter; semeai um caráter, e colhereis
um destino.” – G. D. Boardman
8
Citado por Tim LaHaye. Como estudar a Bíblia sozinho. Editora Betânia,1984 (5ª ed.), p. 22.
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a. Leia a Bíblia com atenção – A leitura atenta envolve estudo. Quando você se aproxima da
Bíblia, concentre-se totalmente. A Bíblia não produz seu fruto ao preguiçoso. Provérbios 2:4
faz um apanhado interessante das riquezas da Palavra de Deus, assemelhando a sabedoria
bíblica a minérios preciosos, não encontrados na superfície, mas num nível mais profundo. A
própria Palavra de Deus está lá, capaz de transformar sua vida; mas você tem que se
aprofundar por ela. Tem que penetrar a superfície com mais do que uma simples olhada
apressada. Em outras palavras, você precisa programar sua mente com a verdade de Deus.
E isto começa com a primeira estratégia de leitura bíblica: leia atentamente.

Exercício

O projeto a seguir o ajudará a cultivar a habilidade de ler as Escrituras atentamente e


envolverá o curto livro de Filemom, no Novo Testamento, com apenas vinte e cinco versículos.
Filemom registra o conselho de Paulo a um velho amigo cujo escravo, Onésimo, havia fugido.
Onésimo encontrou-se com Paulo em Roma, tornou-se cristão e agora Paulo o envia de volta a seu
mestre com a carta em mãos.
Leia Filemom aplicando os princípios da leitura atenta. Bombardeie o texto com perguntas. O
que é possível descobrir sobre os relacionamentos entre Paulo, Filemom e Onésimo? Reconstrua a
situação. Que sentimentos estavam envolvidos? Que considerações práticas? Que perguntas
permanecem sem respostas conforme você lê a carta? Que problemas isto gera? Sobre quais
questões fala? Por que você acha que a carta é significativa o suficiente para ser incluída na Bíblia?
Como você comunicaria a alguém este livro e as perspectivas que ganhou dele?

b. Leia a Bíblia repetidamente – A genialidade da Palavra de Deus é que ela tem poder
sustentador, podendo resistir a exposição repetida. Leia-a repetidas vezes, e ainda verá
coisas que você não tinha visto em suas leituras anteriores. George Müller, famoso pregador
e filantropo inglês, leu a sua Bíblia cerca de duzentas vezes. Algumas idéias para ajudar você
na leitura repetida e imaginativa da Bíblia:

– Leia livros inteiros de uma só vez


– Comece pelo início do livro
– Leia a Bíblia em diferentes versões e paráfrases
– Leia as Escrituras em uma língua diferente
– Ouça fitas das Escrituras
– Leia ou peça alguém que leia o texto em voz alta. 9
– Varie seu ambiente onde ler a Palavra
– Estipule um plano de leitura para um ano (Ver sugestão no Anexo).

Exercício

1. Está convencido do valor da leitura repetida da Bíblia? Eis um exercício que irá dispersar qualquer
dúvida que ainda permaneça: leia o livro inteiro de Ester, no Velho Testamento, uma vez ao dia por
sete dias seguidos. Deve levar meia hora por dia, aproximadamente. Use algumas das sugestões
acima, como ler em voz alta ou talvez até ouvir fitas das Escrituras. É claro, você deve também usar
as outras habilidades de Observação mencionadas anteriormente. Veja quantas coisas novas pode
ver em cada dia sucessivo. Faça uma lista de suas observações, ou registre-as em sua Bíblia. No fim
da semana, veja se pode reconstruir a história clara e precisamente, contando-a a alguém. Que
perspectivas ganhou da história?

2. Eis uma chance de alongar sua criatividade. Veja o que pode fazer com estes projetos na leitura
imaginativa da Bíblia:

Atos 16:16-40 — Esta é uma vívida narrativa de Paulo e Silas em Filipos. Leia cuidadosamente e
9
Certa vez, G. Campbell Morgan leu a Bíblia toda em voz alta, em 96 horas, numa velocidade usada para a
leitura bíblica no púlpito. (Mencionado por John White. A Luta. ABU Editora, 1991, p. 44.)
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 17
observe os eventos que ocorrem nesta seção, e então dramatize-os com família ou amigos.

1 Samuel 17 — Esta é uma narrativa épica de Davi e Golias. Entretanto, apesar da maioria das
pessoas saberem desta história, conhecem pouco do que realmente acontece nela. Leia o capítulo
cuidadosamente, então reescreva-o de modo que se refira a uma gangue de adolescentes das ruas
da cidade.

Atos 15:22-29 — Lucas reimprime uma carta que o conselho de Jerusalém enviou aos novos crentes
em Fenícia e Samaria. Estude o contexto cuidadosamente, então reescreva esta passagem como um
fax para uma reunião de um novo grupo de crentes no centro da cidade.

c. Leia a Bíblia pacientemente – Numa época em que você tem tudo num instante, a
tendência é querer ter instrução instantânea. Todavia, a verdadeira aprendizagem toma muito
tempo. Não use atalhos no processo da aprendizagem; os caminhos aparentemente mais
curtos levam a resultados vãos. O fruto da Palavra leva tempo para amadurecer. Se você é
impaciente, é provável que desista cedo e perca uma rica colheita. Muitas pessoas fazem
isso; se desiludem com o processo. Talvez estejam procurando um passatempo ao invés de
esclarecimento. Outros desistem do texto bíblico e se voltam para fontes secundárias, antes
de embeberem suas mentes no que o texto bíblico diz. Você tem que desenvolver
persistência, poder de resistência para insistir com um texto até que comece a fazer
progresso.

Não se esqueça de que um bom pregador tem estudado as Escrituras diligentemente por
anos. Não há meio pelo qual um novato possa começar já neste nível. Seja paciente com o
texto e consigo mesmo. A verdade de Deus está lá, e você a encontrará se tão-somente der
tempo a si mesmo para ler pacientemente.

d. Leia a Bíblia aquisitivamente – Isto é, leia-a não apenas para receber informação, mas
para reter; não meramente para tomar conhecimento, mas para tomar posse. Reivindique os
seus direitos sobre o texto; faça dele sua propriedade particular. Como isso pode acontecer?
A chave é o envolvimento pessoal e ativo no processo de estudo. Há um antigo provérbio
para tal efeito: “Quando ouço, esqueço. Quando vejo, lembro. Quando faço, entendo”. Este é
o objetivo desta apostila: ajudar você na sua iniciativa própria de estudar a Bíblia, visando
mudança de vida como resultado de sua interação pessoal com a Palavra de Deus.

Exercício

Eis uma idéia para fazer com que você se aproprie de uma passagem das Escrituras. Abra a
Bíblia em Números 13, na história dos espias enviados por Moisés à Terra Prometida. Leia o relato
cuidadosamente, usando todos os princípios cobertos até aqui. Então, escreva sua paráfrase da histó-
ria. Eis algumas sugestões:

1. Decida qual o ponto principal da história. O que acontece? Por que o incidente tem significado?
2. Pense sobre quaisquer paralelos ao que acontece aqui na história de sua família, igreja, nação ou
sua própria vida.
3. Decida sobre o “ângulo” que quer usar. Por exemplo: o relatório de uma força-tarefa para uma
organização (ângulo de negócios); um concílio tribal (ângulo indígena); um debate político entre duas
facções (ângulo político ou governamental). O ponto é: escolha algo que se adapte à situação e faça
este incidente memorável para você.
4. Reescreva a história de acordo com o ângulo escolhido. Utilize uma linguagem condizente com o
tema. Faça com que os personagens pareçam reais. Mude nomes e lugares para condizer com o
estilo.
5. Quando terminar, leia sua paráfrase a um amigo ou parente.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 18


e. Leia a Bíblia com oração – Leia conhecendo o Autor do Livro, que está presente e pode
explicá-lo melhor. A oração é uma chave para o estudo bíblico efetivo. Aprenda a orar antes,
durante e após a leitura das Escrituras. Comece com adoração, ocupe-se com quem é Deus
(ore sempre com base nas promessas de Deus – e o ponto chave em qualquer promessa é
quem a fez). Isto o conduzirá à confissão porque você se verá pela perspectiva adequada.
Então estará pronto para pedir a Deus o que precisa.

Exemplo: Salmo 119 é um brilhante exemplo de estudo bíblico com oração. Muitos versículos
se referem especificamente à leitura das Escrituras acompanhada de oração. O salmista usa
a Palavra para louvar a Deus (v. 12); pede a Deus que o ajude a se tornar um leitor
observador (v. 18); ora por entendimento da verdade de Deus (v. 27 e 34); pede ajuda para
aplicar a verdade à sua vida (v. 33, 35-36, 133); menciona que a lei de Deus está sendo
quebrada; portanto, é hora de Deus agir (v. 126). Ele ora por misericórdia com base no
caráter de Deus (v. 132), baseia suas petições nas promessas de Deus (v. 169-170) e ora por
perdão após refletir nos mandamentos de Deus (v. 176).

Exercício

Filipenses 4:8-9 – Aqui está um conjunto de promessas — e condições — que você pode ler
e estudar em forma de oração. Reveja a lista de qualidades de Paulo e pergunte-se a si
mesmo: que ilustrações disso têm na minha vida? Então com base no versículo 8: o que preciso
começar a praticar para conhecer a paz de Deus? Fale com Deus sobre as coisas mencionadas
nestes versículos e sua reação a eles. Em que áreas Deus precisa mudar seu ser? Você precisa de
Sua ajuda para cultivar que atitudes e pensamentos?

f. Leia a Bíblia meditativamente. Isto é, aprenda a refletir na Bíblia. Existe uma íntima
conexão entre a meditação na Palavra de Deus e a ação por ela. A freqüência com a qual a
verdade bíblica deve permear sua mente é: “dia e noite” (Js 1:8). É uma disciplina mental que
você pratica por todo o seu dia. É uma mentalidade e um estilo de vida no qual a Palavra
percorre sua mente. E você se torna aquilo que pensa. Esta característica da leitura será
enfatizada no passo Aplicação e no Método Devocional.

g. Leia a Bíblia seletivamente – seis perguntas básicas. Observamos a Bíblia quanto


adotamos uma estratégia que nos force a examinar um texto mais de perto. Não leia com a
mente vazia. Leia à procura de respostas. Ao estudar um texto você deve interrogá-lo como
faz o detetive com uma testemunha a fim de descobrir os pormenores que envolvem um fato
em questão, ou como faz o jornalista para entender e reportar uma história por inteiro.
Quando você sabe que perguntas fazer, as respostas são em geral mais satisfatórias. À
medida que você for lendo, pergunte:

Quem?

– Quem escreveu? É sempre proveitoso para o leitor procurar conhecer o autor humano dos
livros bíblicos: seu modo de viver, pensar e trabalhar.

– Quem está recebendo (ou deveria receber) a mensagem? É o exercício de identificar os


prováveis leitores originais (os destinatários da mensagem ou do livro bíblico). Outra variação
desta pergunta é: A quem se fala? ou A quem se dirige esta palavra?

– Quem são as pessoas no texto? Ao identificar quem está na passagem (quem está falando
ou quem é retratado), procure saber:

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 19


a. O que se diz a respeito da pessoa ou pessoas? Note bem cada vez que se diz algo sobre
uma pessoa. Certifique-se de consultar outras passagens para aprender tudo que puder
sobre a pessoa mencionada.
b. O que a pessoa diz?

O quê?

– O que está acontecendo neste texto? Quais são os eventos? Em que ordem ocorrem? O
que acontece com as personagens? Ou, se for uma passagem que discute um ponto: Qual o
argumento? Qual o ponto? O que o escritor está tentando comunicar?

– O que está errado nesta situação?

Onde?

– Onde a narrativa está acontecendo? Onde estão as pessoas na história? De onde estão
vindo? Para onde vão? Onde está o escritor? Onde estavam os leitores originais do texto?

Esta pergunta fornece o local. Mapas que mostram onde os eventos bíblicos aconteceram
podem ajudar você obter as respostas.

Quando?

– Quando os eventos do texto aconteceram? Quando ocorreram em relação a outros eventos


nas Escrituras? Quando acontecerá? Quando o autor escreveu?

Esta é a pergunta que indica tempo. Palavras que geralmente dão a dica para o leitor
observar o tempo: depois disto, quando, até, então, etc.

Por quê?

– Por que esse “ensino” em particular foi apresentado? Por que foi colocado aqui? Por que
vem depois daquilo? Por que precede aquilo? Por que esta pessoa diz isso? Por que aquela
pessoa não diz nada?

A questão “Por quê?” busca por significado ou propósito; ela investiga o texto mais do que
qualquer outra pergunta. Fazê-la, inevitavelmente conduzirá você a novas perspectivas em
seu estudo bíblico.

Para quê?

– Que diferença isso faria se eu fosse aplicar esta verdade?

“Para quê” é a pergunta que nos faz começar a praticar algo sobre o qual lemos. Lembre-se,
a Palavra de Deus não foi escrita para satisfazer nossa curiosidade; mas para mudar nossas
vidas. Assim, em qualquer passagem das Escrituras, precisamos perguntar: e daí? Quando
chegarmos ao passo da Aplicação, você verá maneiras de se responder a esta pergunta.

Também pode ser usada a pergunta Como? – Como as coisas se deram? Qual foi o
resultado? Que método foi utilizado? Como isso é feito? Como aconteceu? Como essa
verdade é exemplificada?

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 20


Exercícios

1. Use o capítulo 1 e I Tessalonicenses para exercitar a responder esta série de perguntas iniciais.
2. As seis perguntas da leitura bíblica seletiva são especialmente divertidas quando se estudam as
histórias das Escrituras. Lucas 24:13-35 registra uma das mais fascinantes — a narrativa de Jesus,
encontrando dois de Seus discípulos na estrada para Emaús após Sua ressurreição. Leia este trecho
duas ou três vezes, e então investigue-o com as seis perguntas apresentadas neste capítulo. Não se
esqueça de escrever suas observações.

h. Leia a Bíblia descobrindo o propósito do texto através da sua estrutura gramatical e


literária

Toda Escritura é dada por inspiração divina e “útil”, isto é, serve a quatro propósitos: ensino,
repreensão, correção e instrução para uma vida de justiça. Portanto, um dos aspectos
essenciais da leitura é procurar pelo propósito do autor no texto em estudo. Não há um
versículo das Escrituras que tenha sido lançado nelas por acidente. Toda palavra contribui
para o significado do texto. Seu desafio como leitor é discernir tal significado, é entender o
propósito de um autor. Você deve fazer a si próprio indagações do tipo: Como o escritor trata
o conteúdo? Que forma ou estrutura emprega? Como fazê-lo? Uma das chaves é atentar pra
a estrutura gramatical e literária do texto.

1. Propósito através da estrutura gramatical


Precisamos prestar cuidadosa atenção nos seguintes aspectos gramaticais do texto:

Verbos – são as palavras de ação ou movimento que nos dizem quem está fazendo o quê.
Examine-os com toda atenção e questione: Que espécie de ação os verbos expressam? A
maioria está na voz ativa ou passiva? Os verbos estão no imperativo – dão ordens? Quais
verbos se repetem? Que significam?

Sujeito e objeto – o sujeito de uma sentença executa a ação e o objeto sofre a ação. É
importante não confundi-los.

Modificadores – são as palavras descritivas como os adjetivos e advérbios. Eles ampliam o


significado das palavras que modificam e muito freqüentemente fazem toda a diferença. Entre
elas, estão os termos de conclusão e conseqüência – veja, por exemplo, II Tm 1: v.4 (para
que); v.6 (por cujo motivo ou por esta razão); v.7 (porque); v.8 (portanto); v.12 (por isso;
porque).

Frases preposicionais – preposições são pequenas palavras que nos dizem onde a ação
acontece: em, sobre, através, para etc.

Conjunções – são palavras que unem duas orações ou dois termos semelhantes da oração:
e, mas, portanto, porém, enquanto, ainda, a fim de que etc.

2. Propósito através da estrutura literária


Na Interpretação, veremos como tipos diferentes de literatura utilizam vários tipos de estrutura
literária. Por enquanto, eis cinco tipos a serem procurados:

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 21


Estrutura biográfica – comumente encontrada nos livros narrativos, a estrutura biográfica se
baseia nas pessoas chaves da história. Por exemplo, Gênesis 12—50 destaca quatro
gerações de líderes.

Estrutura geográfica – aqui a chave é o lugar.

Estrutura histórica – eventos chaves são a base da estrutura histórica. O livro de Josué foi
elaborado com o relato de diferentes acontecimentos.

Estrutura cronológica – as expressões de tempo (então, quando, antes, neste tempo,


enquanto, até, depois disto etc.) nos ajudam a perceber quando algo aconteceu.
Proximamente relacionada à estrutura histórica está a estrutura cronológica, onde o autor
organiza material com base em tempos chaves. Geralmente as narrativas são assim.

Estrutura ideológica – argumentação estruturada em redor de idéias e conceitos, o que


facilita a sumarização de um livro pelo entendimento do seu tema e propósito. A maior parte
das epístolas do NT são desenvolvidas desta forma: começam com a apresentação da
verdade espiritual e doutrinária. O resto do texto fala sobre como nossa vida deve ser
transformada por esta verdade.

As Leis da Estrutura
LEI DESCRIÇÃO EXEMPLOS
Um evento, conceito ou ação que causa outro Mc 11:27—12:44
Causa e efeito (termos chaves: portanto, então, assim, resultado). Rm 1:24-32; 8:18-30
Uma progressão de eventos ou idéias que atingem Êx 40:34-35; 2 Sm
Clímax um certo ponto alto antes de regredir. 11; Mc 4:35—5:43
Dois ou mais elementos que são semelhantes ou Sl 1:3-4; Jo 3:8,
Comparação dissimilares (termos chaves: como, assim como, 12, 14; Hb 5:1-10
também, de igual maneira).
Dois ou mais elementos que são semelhantes ou Sl 73; At 4:32—
Contraste dissimilares (termos chaves: mas, ainda). 5:11; Gl 5:19-23
Apresentação de uma idéia ou evento seguida por Dn 2, 4, 5, 7—9
Explicação ou sua interpretação. Mc 4:13-20
razão Atos 11:1-18
Quando a ação, conversação ou conceito muda Gn 37—39; 1 Sm
Intercâmbio para outro, então volta novamente. 1—3; Lc 1—2
Introdução e Observação na abertura ou conclusões sobre um Gn 2:4-25; 3
resumo assunto ou situação. Js 12; Mt 6:1
“Pivô” ou eixo Mudança súbita de direção ou fluxo do contexto; 2 Sm 11—12
um clímax menor. Mt 12; Atos 2
Proporção Ênfase indicada pela quantidade de espaço que o Gn 1—11; 12—50
escritor dedica a um assunto. Lc 9:51—19:27
Efésios 5:21—6:4
Propósito Declaração das intenções do autor. Jo 20:30-31; At
1:8; Tito 1:1
Pergunta e Uso de perguntas ou perguntas e respostas. Malaquias
resposta Mc 11:27—12:44
Lucas 11:1-13
Repetição Termos ou frases usados duas ou mais vezes. Sl 136; Mt 5:21-48
Hebreus 11
Específico para Progressão de pensamento de um único exemplo Mt 6:1-18
geral, geral para para um princípio geral, ou vice-versa. Atos 1:8; Tiago 2
específico

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 22


Exercício

Os livros da Bíblia estão repletos de declarações que expressam o propósito dos escritores.
João 20:30-31 é uma das mais diretas. Outras são menos óbvias, mas um leitor observador
normalmente poderá encontrá-las. Eis abaixo algumas declarações de propósito. Leia cada uma
cuidadosamente, depois folheie o restante do livro no qual se encontra. Veja como o escritor cumpre o
seu propósito na maneira em que apresenta seu material.

Deuteronômio 1:1; 4:1; 32:44-47


Provérbios 1:1-6
Eclesiastes 1:1-2; 12:13-14
Isaías 6:9-13
Malaquias 4:4-6
Lucas 1:1-4
II Coríntios 1:8; 13:1-10
Tito 1:5; 2:15
II Pedro 3:1-2
I João 5:13

3. Elementos a procurar (desvendar) no texto em estudo – padrões


estruturais
Na OBSERVAÇÃO se pergunta e responde à
questão: “O que vejo”? O leitor assume o papel de
detetive bíblico, à procura de pistas, e nenhum
detalhe é trivial; anota e faz uma lista dos detalhes
e das relações que encontra, para reflexão e
comparação nos passos seguintes do estudo.10 Há
seis pistas importantes a se observar nas
Escrituras. Você acha uma mina toda vez que as
nota.

a. Elementos que são enfatizados.

Há quatro maneiras pelas quais os escritores


bíblicos enfatizam seus pontos:

– Quantidade de espaço utilizado ao assunto que se deseja enfatizar. Exemplo: No livro de


Êxodo, os capítulos 25—40 ocupam-se do tabernáculo, com detalhes minuciosos sobre a sua
construção, e também com o sacerdócio. Uma das razões para tal quantidade de material
sobre o tabernáculo é certamente impressionar-nos com a importância que Deus dá à
adoração; Ele desejou relacionar-se com o seu povo, um relacionamento somente
estabelecido e mantido na base do sacrifício de sangue.

10
“A inspiração de Deus não chega ao homem que espera sentado, de braços cruzados, com a mente ociosa,
senão à mente que pensa, busca e investiga.” – William Barclay.
“Devemos abrir nossa mente de acordo com a grandeza dos mistérios divinos, e não limitar estes mistérios à
pequenez do nosso entendimento.” – Francis Bacon.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 23
– Propósito expresso ou declarado no próprio texto. Exemplos: Pv 1:2-6; João 20:30-31.

– Ordem ou seqüência estratégica daquilo que se deseja enfatizar. Pela escolha de onde
colocar as pessoas, os eventos, as idéias e assim por diante, um escritor pode chamar a
atenção para algo. Assim, atente para a ordem dada. Ela pode revelar importantes critérios
no texto. Isto se manifesta por meio de cadeias de pensamentos associados ou progressões
de idéias numa passagem. Exemplo: Observe a progressão do pensamento de Paulo sobre
não se envergonhar do evangelho (II Tm 1): v. 8 “não te envergonhes.”; v. 12 “não me
envergonho...”; v. 16 “Onesíforo... nunca se envergonhou...”

– Movimento do menor para o maior, e vice-versa. Um escritor irá freqüentemente


desenvolver o texto até chegar ao clímax (ponto de interesse máximo), onde apresenta
informações chaves. Exemplo: Êxodo é um exemplo de clímax; podemos vê-lo
acentuadamente em 40:34-35. Depois da narrativa da partida de Israel do Egito, do
recebimento da Lei, das instruções, dos detalhes do tabernáculo, finalmente a nuvem de
glória cobre a congregação de Israel, e a presença deslumbrante do Senhor enche o
tabernáculo. Esse é o clímax do livro.

Exercício

Eis uma seção das Escrituras em que você pode observar coisas enfatizadas: I e II Samuel.
Desenvolva um quadro genérico destes dois livros, mostrando o espaço relativo dedicado aos
personagens fundamentais: Samuel, Saul e Davi. (Veja o exemplo do quadro “Lucas – lei de
proporção”, na página 44.) Que personagem era o mais importante para o escritor? O que isso diz
sobre o propósito de I e II Samuel?

b. Elementos que se repetem.

É provável que não haja ferramenta de ensino mais poderosa do que a repetição – ela
reforça, enfatiza a importância do assunto em estudo. Em quase todas as passagens que
estudar há palavra, frase, idéia ou conceito importante repetido. Determine por que se
repetem e como se relacionam. Em algumas categorias de repetição a se procurar no texto:

Termos, expressões e orações. Exemplos: a) Salmo 136: “porque a sua misericórdia dura
para sempre”. b) Hebreus 11: “pela fé” aparece dezoito vezes. O escritor fala sobre pessoas
diferentes, vivendo em épocas diferentes, sob circunstâncias diferentes. Mas todos eles
tiveram o mesmo estilo de vida “pela fé”. c) Em I Coríntios 15:12-38, Paulo usa sete vezes a
palavra “se” para enfatizar o fato de tudo que cremos ser condicionado à ressurreição de
Cristo. d) Observando as repetições em I Ts 3:

PALAVRA OU FRASE Nº DE REPETIÇÕES VERSÍCULOS USADOS


Fé 5 2, 5, 6, 7, 10
Tribulação 2 3, 7

Observando que a palavra fé aparece cinco vezes nesse trecho, você poderia perguntar: “Por
que a fé é mencionada tantas vezes?” Vendo a repetição da palavra tribulação, poderia
concluir que a fé fortalecida pela correta reação à tribulação.

Personagens. Exemplo: Barnabé (Atos 4:36; 9:27; 11:22 e 15:36-39).

Incidentes e circunstâncias. Exemplos: a) No livro de Juízes, o escritor começa cada seção


com as palavras: “Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor”. b) No
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 24
decorrer do evangelho de Mateus, o autor desenvolve uma tensão entre Jesus e os fariseus,
e usa tais incidentes para chamar a atenção para a luta pelo poder que acontecia entre o
antigo sistema de legalismo autojustificado e o novo caminho de salvação em Cristo.

Padrões. Exemplos: a) Paralelos entre a vida de José e a vida de Jesus. b) Em I e II Samuel


o escritor usa justaposições para mostrar que Saul era a escolha do povo para rei, enquanto
Davi era escolha de Deus.

O uso de passagens do AT no NT. Se o Espírito de Deus compele um escritor do Novo


Testamento a recordar uma passagem do Antigo Testamento, é provável que seja porque Ele
quer enfatizar aquela porção das Escrituras. Exemplos: a) Mateus 12:39-41 cita Jonas. b)
Hebreus cita Levítico. c) Romanos 10 cita Levítico e Deuteronômio.

Exercício

A repetição é um dos meios de dar ênfase mais freqüentemente usados na Bíblia. Aproveite a
sugestão de alguns projetos que o ajudarão a estudar porções da Palavra, procurando por coisas
repetidas.

Salmo 119 – Neste salmo, Davi se refere à Palavra de Deus em todos os versículos. Observe o salmo
cuidadosamente, e catalogue todas as coisas que Davi diz sobre as Escrituras.

Mateus 5:17-48 – Observe como Jesus usa a fórmula “Ouvistes o que foi dito... Eu, porém,
vos digo...” nesta porção do Sermão do Monte. Que estrutura esta expressão dá à
passagem? Por que é significante que Jesus diga isso?

Aritmética em Atos – Use uma concordância para procurar todas as expressões


“aritméticas” no livro de Atos — números de pessoas sendo “acrescentados” à igreja. os
crentes se “multiplicando”. Há até mesmo algumas “divisões” e “subtrações”. Você pode
encontrá-las? Como Lucas usa tais termos para descrever o crescimento da igreja primitiva?

1 Coríntios 15:12-19 – Investigue a importância da pequena palavra “se” para o argumento


de Paulo.

c. Elementos que são relacionados (que têm alguma conexão ou interação). Procure três
tipos de relacionamento em seu estudo das Escrituras:

Movimento do geral ao específico. Entre um todo e suas partes, entre uma categoria e
seus membros individuais, entre o quadro geral e os detalhes. Quando você se deparar com
uma declaração ampla e genérica nas Escrituras, procure perceber se o escritor prossegue
com detalhes específicos. Exemplos: a) Gênesis 1:1 dá uma visão geral; o restante do
capítulo provê informações específicas. b) Mateus 6:1 dá um princípio geral; vs. 2-4, 5-15 e
16-18 dão três ilustrações específicas.

Perguntas e respostas. Exemplos: a) Jó 38—39; às vezes, a pergunta carrega em si mesma


tanto peso que não necessita de resposta. b) Romanos 3:31; 6:1,15; Gl 3:5; Ml 1:2, 6-8, 13; c)
Perguntas penetrantes que o Senhor lança aos discípulos (Mt 6:27; 26:40; Mc 4:40).

Causa e efeito. Exemplos: a) Neemias 1, o povo desobedeceu (isso foi a causa), e Deus
permitiu que os babilônios os levassem cativos (isso foi o efeito). b) Atos 8:1-4, a perseguição
era a causa, e a pregação, o efeito. c) Salmo 1, há um elo direto de causa-efeito entre as
Escrituras e a bênção de Deus.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 25
d. Elementos semelhantes e diferentes. As coisas que são semelhantes e as que são
diferentes fazem uso da forte tendência humana de comparar e contrastar. Conforme você
estudar as Escrituras, atente para a voz dentro de sua mente, que diz: “Ei! Isto é igual à
passagem que li ontem” ou “Esta parte é diferente de tudo neste livro”. Esses são claros
sinais de que o autor está usando coisas semelhantes e diferentes para comunicar a sua
mensagem.

Semelhanças se destacam ao leitor observador por meio de duas “figuras de linguagem” 11


(são desvios das formas gerais da linguagem; servem para dar maior brilho e ênfase à
comunicação):

Símiles – é uma imagem de palavra que evoca uma comparação entre duas coisas. Duas
palavras mais comuns a se procurar são “tão” e “como”. Exemplos: a) Salmo 42:1. b) II Tm
2:3; c) I Pedro 2:2. d) Isaías 44:6-7. e) João 3:14 usa símile por meio da expressão “do modo
por que”. f) I Ts 2:7, 11. São usadas para este mesmo recurso as palavras: semelhantemente,
assim também.

Metáforas – Todo emprego de palavra fora do seu sentido normal, por efeito da analogia ou
ilustração, constitui uma metáfora. Exemplos: a) Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira, e
meu Pai é o agricultor” (Jo 15:1). Ele está falando figuradamente, não literalmente. b) Jesus
usa uma metáfora quando fala com Nicodemos (Jo 3). c) Em I Ts 5:2, o uso que Paulo faz da
figura de um ladrão de noite ilustra a necessidade de estarmos preparados; a da mulher
tendo filho (vers. 3) ilustra a subitaneidade.

Os contrastes se destacam ao leitor observador por meio de:

Uso de mas e porém – A palavra mas ou porém é uma pista que indica que uma mudança
de direção está para acontecer. Ao encontrá-las no texto, pare e pergunte que contraste está
sendo feito. Exemplos: a) Mateus 5: “Ouviste o que foi dito... Eu, porém, vos digo...”. b) Atos
1:8. c) Atos 8:5-8 e 26. d) Gálatas 5:19 e 22. e) I Ts 2:4; 5:6. As palavras de outra forma, pelo
contrário, nem, entretanto, podem nos dar pista de contrastes.

Metáforas – Assim como as coisas que são semelhantes podem ser mostradas através de
metáforas, também o podem as coisas que são diferentes. Exemplos: a) Na parábola do juiz
iníquo, em Lucas 18, a chave é notar que Jesus está estabelecendo um contraste efetivo
entre um juiz humano e Pai celestial. b) I Ts 5:5.

Ironia – É a expressão de um pensamento em palavras que, literalmente entendidas,


exprimem o pensamento oposto. Exemplos: a) Mt 27:40. b) Em Lucas 8, o contraste irônico
acontece com a interrupção brusca da caminhada de Jesus para perguntar à multidão: “Quem
me tocou?” Este é o contraste que Lucas quer que vejamos: no meio de uma crise, em meio a
uma multidão, uma mulher desconhecida se aproxima privativa e quietamente em fé – e
Jesus reconhece isso. Ela se destaca da multidão por causa de sua fé. Lucas narra o fato
para que a notemos e nos beneficiemos pelo seu exemplo.

Exercício

11
Observar os recursos literários que o autor empregou em sua obra é também parte da boa observação da
estrutura do texto. Recomendamos que o estudante saiba identificar figuras de linguagem no texto (figuras de
palavras, de construção e de pensamento). É útil recordar este assunto em uma gramática. Esta compreensão
ajuda a não perder a mensagem do escritor por não entender o veículo que ele utiliza para transmiti-la.
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João 11:1-46 traz um importante estudo em comparação e contraste. É a história da ressurreição de
Lázaro, mas ele é na verdade, apenas um personagem secundário. João focaliza suas lentes nas
duas irmãs de Lázaro: Marta e Maria.

Leia o relato cuidadosamente, e considere perguntas como: qual o relacionamento entre Jesus e
estas duas mulheres? há outros textos que dão luz a esta pergunta? como as irmãs se aproximam de
Jesus? como Ele reage a elas? o que Ele diz? Compare e contraste a fé destas duas mulheres. Como
elas se comparam aos discípulos e às pessoas que observavam o incidente?

Obs.: O ponto alto do contraste não consiste na palavra que o indica, mas na diferença das
qualidades acentuadas. Procure observar contrastes, por exemplo, no Salmo 1 ou no capítulo 7 de
Hebreus.

e. Elementos que são da vida real. Há um toque de autenticidade nos relatos dos
personagens bíblicos – suas experiências de vida são cortadas do mesmo rolo de tecido
humano. O que a passagem diz sobre a realidade? Que aspectos do texto se repercutem em
minha própria existência?
Obviamente vivemos em uma cultura dramaticamente diferente das culturas da época
bíblica. Mas as mesmas coisas que os personagens bíblicos experimentaram, nós
experimentamos. Sentimos as mesmas emoções que sentiram. Temos as mesmas dúvidas
que tinham. Eles eram reais, pessoas vivas que enfrentavam as mesmas lutas, os mesmos
problemas e as mesmas tentações que você e eu enfrentamos.

Assim, quando ler sobre eles nas Escrituras, você precisa perguntar:

Quais eram as ambições desta pessoa? Quais os seus objetivos? Que problemas estava
enfrentando? Como se sentia? Qual a sua reação? Qual seria a minha reação?

Freqüentemente estudamos ou ensinamos a Escritura como se fosse uma lição acadêmica, e


não vida real. Não se admira que tantos de nós nos sintamos entediados com nossas Bíblias.
Estamos perdendo as melhores lições da Palavra de Deus quando deixamos de considerar
as experiências de pessoas nela.

NOTA: Marque sua Bíblia enquanto a lê e estuda.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 27


NOTA: Marque sua Bíblia enquanto a lê e estuda.

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Como estudar uma seção
Recapitulação e sugestões sobre como compilar o máximo de uma seção das Escrituras.

1. Leia a seção toda completamente. Aliás, tente lê-la duas ou três vezes, talvez em
diferentes traduções, se possível.

2. Identifique os parágrafos e ponha um rótulo ou título em cada um deles. Lembre-se de que


o parágrafo é a unidade básica do estudo. Por isso, é importante entender a idéia ou tema
principal de cada parágrafo, e então expressá-la em uma ou duas palavras.

3. Avalie cada parágrafo à luz de outros parágrafos. Use as seis pistas dadas anteriormente
para procurar relacionamentos.

4. Avalie como a seção como um todo se relaciona com os restante do livro, usando os
mesmo princípios (coisas enfatizadas, repetidas, e assim por diante).

5. Tente expressar o ponto principal da seção. Veja se consegue reduzi-lo a uma palavra ou
frase pequena que resume o conteúdo.

6. Mantenha uma lista de observações na seção. Melhor ainda, registre-as em sua Bíblia,
usando palavras breves e descritivas.

7. Estude as pessoas e os lugares mencionados. Veja o que pode aprender sobre eles que
possa dar luz à seção como um todo.

8. Mantenha uma lista de perguntas não respondidas e de problemas não resolvidos. Estes
se tornam avenidas para investigações adicionais.

9. Pergunte:se o que vi nesta seção que desafia meu modo de viver? Que questões práticas
se refere a passagem? Que mudança preciso considerar à luz deste estudo? Que oração
preciso fazer como resultado do que estudei?

10. Compartilhe os resultados de seu estudo com alguém.

Resumo – exemplo da observação


A observação é necessariamente o passo básico do estudo bíblico, porque nos leva a desco-
brir o que o texto realmente diz acerca dos fatos, dos personagens, da importância de certos
acontecimentos e declarações. Não é difícil, mas exige bastante atenção e uma mente aberta
para não chegar a conclusões baseadas nos preconceitos ou influências não bíblicas que têm
penetrado o pensamento dos cristãos. Há muitas atitudes diante da vida, do corpo, do
dinheiro etc., nas igrejas, que estão hoje baseadas em filosofias e ideologias que nada têm a
ver com o que a Bíblia ensina.

O estudo bíblico nos ensina a ver os fatos e as idéias de acordo com os valores da própria
Palavra de Deus.

Ao observar os fatos da Bíblia afirmamos: “O texto diz que... (um fato explícito)”. Ou: Este e
aquele fato, juntos, implicam que... (fato oculto, ou implicação)”.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 29


Olhe até descobrir quais são os fatos significativos.

Pergunte até observar conscientemente todos os fatos importantes.

Observe até descobrir a ênfase do autor e a maneira como ele organizou a apresentação de
suas idéias.12

A. Olhe!
Tomemos como exemplo Lucas 5:1-11. Veja:

1. a forma literária: é uma narrativa, que enfatiza os acontecimentos? uma mensagem


discursiva, que enfatiza as idéias? um texto poético, que enfatiza a intuição? um texto
filosófico, que enfatiza as percepções? ou ainda um texto profético, que enfatiza a revelação?
Exemplo: Lc 5.1-11 é uma narrativa, parte do relato sobre a vida e obra de Jesus.

2. a estrutura: quais são as divisões principais? Como as idéias e ações se desenvolvem até
chegar a um clímax ou a um desafio?

Exemplo: Em Lc 5:1-3 Simão Pedro escuta uma mensagem de Jesus. Em Lc 5.4-l0a Jesus
desafia Simão Pedro pela primeira vez. Em Lc 5:l0b-11 Jesus desafia Simão Pedro pela
segunda vez.

3. o contexto: De que maneira as informações obtidas de passagens bíblicas relacionadas


com o texto, ou de informações históricas da época em que o livro foi escrito nos ajudam a
entender a mensagem, o conflito, as dificuldades e soluções?

a) histórico (informações sobre o contexto social e espiritual em que a mensagem foi


proferida).

Exemplo: Em Lucas 5 vemos o conflito interno de Pedro. Ele era um pescador experiente,
que havia se dedicado à pesca durante as horas mais propícias (de noite), sem obter
resultados. Agora Jesus, que não é pescador, manda que saia de novo, numa hora imprópria
para pescar. Vemos, também, em Pedro, a atitude característica de um judeu piedoso,
quando recebia uma revelação de Deus: um sentimento forte de ser indigno, diante da
santidade do Senhor (Veja Êx 24:9-11 e Is 6:1-7).

b) textual imediato (vínculos com o texto que vem antes e depois).

Exemplo: Este incidente ocorre no início do ministério de Jesus, quando a equipe de


discípulos ainda não era formada. O texto 4:31 a 44 mostra que Simão já conhecia
pessoalmente a Jesus: já tinha ouvido o seu ensino; observado vários de seus sinais
poderosos como a libertação de um endemoninhado e a cura de sua própria sogra e lhe
oferecido sua hospitalidade. Lucas 5:29-35 mostra que já havia uma equipe de discípulos que
andava com Jesus e em Lucas 6:12-16 vemos a designação e formação definitiva desta
equipe.

e) textual mais amplo (alguns esclarecimentos importantes, em textos paralelos, passagens


com mensagens complementares e a localização do texto no contexto do livro do qual faz
parte).

12
Este Resumo-exemplo da Observação e o Resumo-exemplo da Interpretação (página ...) foram usados pela professora
Antonia Leonora van der Meer (Tonica), na obra O Estudo Bíblico Indutivo. ABU Editora, 1999 (4 ª ed.), p. 9-14 e 16-18.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 30
Exemplos: a) João 1:35-42 relata o primeiro encontro de Jesus e Simão. E mostra que já
havia uma fé incipiente em Simão: ele já conhecia as mensagens de João Batista a respeito
de Jesus e tinha certas expectativas em relação a Ele.

b) Mateus 4:18-22 e Marcos 1:16-20 relatam o que foi provavelmente a primeira vez em que
Jesus chamou a Pedro e seus companheiros para segui-lo. É possível que sejam relatos
abreviados do mesmo acontecimento relatado em Lucas 5 ou que só após essa convicção
profunda de ser pecador, e do Senhorio de Jesus, o compromisso em segui-lo se tomou mais
forte.

4. as chaves gramaticais (observe o uso dos verbos):

a) Os tempos (presente/passado/futuro), os modos (indicativo, subjuntivo, imperativo,


infinitivo, gerúndio e particípios) e a voz (ativa e passiva).

Exemplo: Ef 5:18-21 – “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-
vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor,
com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”.
Neste texto há dois imperativos: não vos embriagueis e enchei-vos. Os verbos dos
versículos 19-21 estão no gerúndio. Isto mostra que se trata de conseqüências do encher-nos
continuamente do Espírito.

b) O sujeito/objeto no singular ou no plural (Isto inclui a mudança no uso dos pronomes;


quem é o sujeito ou o objeto deste verbo?).

Exemplo: Jo 1:50-51 — “Ao que Jesus lhe respondeu: Por que te disse que te vi debaixo da
figueira, crês? Pois maiores cousas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, em
verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o
Filho do homem”. No versículo 50, Jesus faz uma promessa a Natanael, que no versículo 51
é estendida a todos os discípulos.

Exemplo: Lucas 5:1-11 – Qual é o verbo principal no versículo 1? Quem é o sujeito das ações
principais nos versículos 1 a 4 e nos versículos 5 a l0a? O que Lucas nos diz, por meio desta
mudança, sobre a maneira pela qual Jesus atrai Simão Pedro para sua obra?

c) que mudanças no pensamento do autor vêm à tona através do uso das conjunções e das
preposições, como: “mas” , “para”, “porque”, “se”, “ainda que”, “quando”, “de modo que”, “e
portanto” etc.

Exemplo: Que aparente conflito indica o “mas” de Simão Pedro, no versículo 5? Que outras
palavras indicam mudanças no pensamento do autor (ou da pessoa que fala)?

B. Pergunte
Comece com as perguntas básicas: quem? onde? quando? o quê? como? por quê?

1. Passagens narrativas

a) Personagens: Quem são? O que esta passagem mostra acerca deles? Como reagem e
interagem entre si? Em quem se concentra a atenção?

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 31


b) Circunstâncias. Onde estão? Por que estão ali? Por que o lugar é significativo? Qual é a
atmosfera emocional/psicológica? Quando o fato acontece? Caso se mencione o momento
(direta ou indiretamente), como isso contribui para a nossa compreensão?

e) Fato central. Qual é o acontecimento central? Como é descrito? Como as ações


anteriores culminam nele? Como as ações e as palavras das pessoas revelam seu caráter e
suas possíveis motivações? Por que isso acontece? Há razões expressas ou implícitas?

d) Conseqüências. Quais são os resultados? Eram esperados? Que outras implicações há?

2. Passagens discursivas

a) Personagens: Quem é o escritor e quem são os leitores; ou o orador e os ouvintes? Que


relação existe entre eles? Que outras pessoas são mencionadas? Por quê?

b) Circunstâncias: Onde está o escritor? Por que está ali? Onde estão os leitores? Quando
a carta foi escrita (ou o discurso pronunciado)?

e) Mensagem central: Qual é a idéia central? Como o escritor ou orador tenta persuadir os
ouvintes na verdade? Que razões, ilustrações, experiências ou outros meios utiliza? Por que
está tão desejoso de que a entendam e creiam nela?

d) Conseqüências: Quais seriam os resultados, caso aceitem sua mensagem? E em caso


contrário?

C. Observe

Examinemos Lucas 15 para descobrir o magistral método de ensino de Jesus, usando os


seguintes princípios literários:

1. Observe a ênfase do escritor (ou do orador):


a) Pela repetição de certas palavras, frases, idéias, personagens, ações.

Exemplo: Jesus usa “perder”, “perdido/a” sete vezes, “encontrar”, “achar” ou “achado” sete
vezes, mas “pecador/pecadores” só duas vezes e “arrependimento/se arrepende” só três
vezes. Diante dos fariseus Ele enfatiza não o arrependimento do pecado, mas enfatiza seu
resultado natural: a alegria e a celebração! Observe que Ele fala dez vezes de “júbilo”,
“alegrar-se” e “regozijar-se”; quatro vezes de “comer” e “fazer festa”; três vezes de “matar o
novilho cevado” e que fez outras referências à mesma idéia: “o abraçou e beijou”; “a melhor
roupa... um anel no dedo.., a música e as danças...”

b) Pela comparação de idéias com coisas conhecidas, vinculando coisas semelhantes entre
si.

Exemplo: Jesus compara a Deus com que personagens familiares? O que a ovelha, a moeda
e o filho têm em comum? Com quem se comparam? Com quem Jesus compara o filho mais
moço? Que semelhança há entre o filho mais velho nos versículos 11 a 32, e os críticos de
Jesus nos versículos 1 e 2?

c) Pelo contraste entre coisas opostas, da mesma categoria, mas não semelhantes.

Exemplo: Qual a diferença entre o valor das três coisas perdidas? Qual a diferença entre o
filho mais moço e o seu irmão? E entre o filho mais velho e o pai? O que distingue a terceira
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 32
parábola das outras duas?

d) Pela proporção do espaço dado a pessoas ou idéias-chave.

Exemplo: Quem é o personagem central de cada parábola: “o perdido que foi achado” ou
aquele que o encontra? Qual é a parábola mais extensa? O que Jesus nos diz com esta
proporção?

2. Observe a organização das idéias do escritor (orador) pelo seu uso de:
a) Relações de causa e efeito: Quando uma coisa é uma conseqüência natural da outra.

Exemplo: O que causou a busca diligente do dono? E qual foi o resultado do encontro do
objeto (ou da pessoa) perdido/a? O que Jesus está dizendo aos fariseus, com respeito à
atitude deles?

b) Relação entre os meios e o fim.

Exemplo: Por que Jesus usou parábolas para responder aos seus críticos?

c) Progressão do pensamento: uma série de idéias e ações que progride em direção a um


clímax ou desafio.

Exemplo: Observe na ordem das parábolas como Jesus passou do simples ao complexo, do
conhecido ao desconhecido, dos valores inferiores (as coisas) ao valor maior (as pessoas).

d) Uma declaração geral no começo, seguida por explicações ou evidências específicas ou


uma declaração conclusiva no fim, precedida por uma série de idéias.
Exemplo: 0 que encontramos no ensino de Jesus neste capítulo?

Exercício

Observe esta seção: Mateus 13:1-23, a parábola do semeador. Abaixo há um quadro de


divisões para ajudar você a começar, o qual considera quatro questões para cada um dos
quatro tipos de solo: como Jesus descreve o solo? Que tipo de crescimento acontece?
Quais os obstáculos ao crescimento? Qual a conseqüência ou resultado do ato de plantar?

SOLOS DESCRIÇÃO CRESCIMENTO OBSTÁCULOS RESULTADOS

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 33


Interpretação (Descubra o que o texto significa!)
O significado de determinada passagem na Bíblia nem sempre é claro. Existem razões para
isso: 1) Trazemos à interpretação certas pressuposições provavelmente incorretas – podem
ser conhecimentos, atitudes e convicções próprios sobre Deus, religião e “realidade”, que
influenciam nossa maneira de entender o significado do texto bíblico. 2) Uma grande
separação de tempo, cultura e linguagem faz com que certas coisas escritas na Bíblia sejam
incompreensíveis para nós, dois mil anos mais tarde.

O valor da interpretação
Interpretar é explicar ou esclarecer o “significado claro” da passagem que já passou pela sua
fase da Observação. O objetivo primário da Interpretação é compreender o sentido que a
passagem tinha para o autor quando ele a comunicou às pessoas do seu tempo.

Quando o salmista orou a Deus: “Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o
coração a cumprirei” (Sl 119:34), ele estava batendo à porta da interpretação. Ele sabia que,
sem entendimento do significado do texto, não poderia haver aplicação da Palavra em sua
vida. Por outro lado, uma vez que o Espírito abrisse a porta da percepção, ele estaria
preparado para agir de acordo com o que Deus havia dito. E você? Qual o seu alvo ao abrir
as Escrituras? Mudança de vida? Se for, então prepare-se para a ação, porque Deus sempre
abre a porta àquele que bate com essa intenção.

“Queremos saber o que a Bíblia significa para nós – e isso é certo. Não podemos, no entanto,
fazê-la significar qualquer coisa que nos agrada, e depois dar ao Espírito Santo o “crédito” por
ela. O Espírito Santo não pode ser conclamado para contradizer a Si mesmo, e Ele é Aquele
que inspirou a intenção original. Logo, Sua ajuda para nós será na descoberta daquela
intenção original, e em orientar-nos enquanto procuramos fielmente aplicar aquele significado
às nossas próprias situações. Quanto à seguinte questão deve haver concordância: Um texto
não pode significar o que nunca significou. Ou, colocando a coisa de modo positivo, o
significado verdadeiro do texto bíblico para nós é o que Deus originalmente pretendeu que
significasse quando foi falado/escrito pela primeira vez. Este é o ponto de partida.” 13

Gêneros literários da bíblia


Os livros bíblicos apresentam diversos gêneros literários; e, dentro de um mesmo livro, de
texto para texto, o autor pode ter usado estruturas literárias diferentes. Exemplo: Embora
Gálatas seja uma epístola, traz narrativa, discussão teológica, alegoria e exortação. Esta
subclassificação de gêneros literários é também a resposta para entender a pergunta “Como
o autor escreveu?” ou Que tipo de literatura ele estava escrevendo? Que forma literária
empregou?

O tipo literário é a chave para não tratar um Salmo da mesma forma que se trata uma
epístola; esta faz declarações diretas, literais, orientadas diretamente para comunicar um
conceito. Já o Salmo é poético, alcançando a mente através do coração, é cheio de
metáforas e cada frase faz parte do arranjo poético, não tendo significado quando isolada.
Devemos nos aproximar do texto conforme ele foi construído: para tanto é necessário
determinar o seu gênero literário.

13
Gordon D. Fee & Douglas Stuart. Entendes o que lês? Edições Vida Nova, 2000 (2ª ed., reimp.), p. 26.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 34
No VT há vários tipos de literatura: leis, história ou narrativas, poesia sapiencial, poesia
musical, poesia profética, profecias, visões, crônicas históricas. No NT temos epístolas,
evangelhos e narrativas, e um representante da literatura apocalíptica. O estudante deve
procurar determinar com clareza as características da obra que estuda para poder dar-lhe um
tratamento adequado.

Quais são as diretrizes básicas para interpretar gêneros específicos de


literatura que Deus usou para comunicar Sua mensagem? 14

Cada gênero literário tem regras próprias que devem ser seguidas para a correta
interpretação. A seguir, tipos de escrita que aparecem na Bíblia e como eles influenciam
nosso entendimento.

GÊNEROS LITERÁRIOS DA BÍBLIA


EXEMPLOS
GÊNERO CARACTERÍSTICAS BÍBLICOS
Material dramático, altamente simbólico; imagens mentais vívidas; contrastes
perfeitos; eventos acontecem em escala global; narrado freqüentemente em
primeira pessoa como testemunha ocular; retrata luta cósmica entre o bem e o mal.
Apocalíptico — Observe a estrutura do livro. Que movimento há do começo ao fim? Que Apocalipse
mudanças acontecem? Para quem o material é escrito? Em que contexto
histórico e cultural o escritor trabalhou? Como isso pode ter influenciado seu
método de comunicação?
Abraão,
Isaque,
Visão de perto da vida de um indivíduo; sujeito freqüentemente retratado em Jacó, José,
Biografia contraste com outra pessoa; eventos selecionados revelam desenvolvimento do Moisés, Saul,
personagem, quer positiva (comédia) ou negativamente (tragédia). Davi, Eliseu,
Jesus etc.
I Sm 2:1-10
Salmo 19
Salmo 119
Presta alto louvor a alguém ou alguma coisa; recita em brilhantes termos as Pv 8:22-36
Encômio origens, atos, atributos ou superioridade do sujeito; exorta o leitor a incorporar os Pv 31:10-31
mesmos traços à sua própria vida. Cantares
Salomão
João 1:1-18
I Cr 13
Cl 1:15-20
Hebreus 1-3
Exposição Argumento ou explicação cuidadosamente fundamentada; bem organizada; fluxo Epístola aos
(instrução lógico; termos são cruciais; se desenvolve até um clímax lógico e constrangedor; Hebreus,
formal ou o objetivo é concordância e ação. Tiago,
escrito — Estude o desenvolvimento lógico do argumento, tente entender o esboço 1 e 2 Pedro
didático). inerente à passagem. Estude a situação por trás das afirmações. 1, 2 e 3 João
e Judas
Categoria ampla na qual a história é proeminente; inclui relatos históricos;
estrutura transmitida por enredo; personagens se submetem a desenvolvimento
psicológico e espiritual; eventos selecionados para transmitir significado;
eventos justapostos para contraste e comparação. Gênesis,
Narrativa — Preste atenção ao enredo. Como é o progresso da história? O movimento do Os
livro é principalmente físico, espiritual, geográfico, político ou de relacionamento? evangelhos e
O que mudou no final do livro? Por quê? Atos
— Preste atenção às contribuições que as personagens e o panorama (tempo,
geografia e costumes sociais) fazem ao enredo. Que verdades teológicas o
autor tentou transmitir por meio de sua seleção de materiais? Como essas
verdades podem ser aplicadas à vida das pessoas do nosso tempo e da nossa
cultura?

14
Na interpretação de diferentes gêneros literários recomendamos a obra Entendes o que lês?, de Fee e Stuart, Edições Vida
Nova. Para o estudo das parábolas, leia a obra As Parábolas de Lucas, de K. Bailey.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 35
João 13—17
Atos 7
Oratória Apresentação oral estilizada de um argumento; usa convenções formais de Atos 17:22-31
retórica e oratória; cita freqüentemente autoridades bem conhecidas pelos Atos 22:1-21
ouvintes; normalmente pretende exortar e persuadir. Atos 24:10-21
Atos 26:1-23
Breve história ilustrando um princípio moral; a verdade conta freqüentemente IISm 12:1-6
com personagens de repertório e estereótipos; apresenta cenas e atividades Ec 9:14-16
comuns à vida diária; estimula a reflexão e auto-avaliação. Mateus 13:1-
— A interpretação da parábola leva em conta os pontos de referência que os 53
Parábola ouvintes originais tinham; isto é, são aquelas partes da história que trazem o Marcos 4:1-
ouvinte para dentro dela, com as quais deve identificar-se de alguma maneira à 34
medida que a história prossegue. A lição da história acha-se na resposta Lucas 15:1—
pretendida. São os costumes culturais que ajudam a dar às histórias originais 16:31
seu aspecto vivo.
Literatura que lida com temas rurais e rústicos, especialmente pastores;
Pastoral densamente descritiva, pouca ação; freqüentemente meditativa e calma; com Salmo 23
ênfase no laço entre pastor e suas ovelhas; apresentação idealizada da vida Isaías 40:11
distante dos males urbanos. João 10:1-18
Verso escrito para ser declamado ou cantado, em vez de lido; ênfase na
cadência e nos sons de palavras; imagens e símbolos vívidos; apela às
emoções e à imaginação; pode empregar características de encômio, pastoral e Jó
outros estilos literários; no V.T., denso uso de paralelismos e hipérbole. Salmos
— Quem compôs o material? Dá para determinar por quê? Qual o tema central Provérbios
Poesia do poema? Que emoções o verso transmite, e que reação produz? Que Eclesiastes
perguntas faz? Quais responde, e quais deixa sem resposta? O que o poema diz Cantares de
sobre Deus? E sobre as pessoas? Que imagens o poeta usa para acender a Salomão
imaginação? Há referências a pessoas, lugares ou eventos que você não
conhece? Se sim, o que é possível descobrir sobre eles em outras passagens
das Escrituras ou através de fontes secundárias?
Apresentação estridente e autoritária da vontade e das palavras de Deus; com
freqüente intenção de correção; escrito para motivar mudança através de avisos;
Profecia prevê os planos de Deus em resposta às escolhas humanas. Isaías a
— Estude o contexto e o sentido literal. Identifique para quem a passagem foi Malaquias
escrita e sobre o que ela fala. O objetivo fundamental da profecia é desenvolver
a vida santa e não aguçar a curiosidade.

Declaração curta e substanciosa de uma verdade moral; reduz a vida a


Provérbio categorias branco-e-preto; dirige-se freqüentemente a jovens; emprega
(sabedoria paralelismos constantemente; direciona os leitores ao que é correto e distante Provérbios
proverbial) do mal; uso denso de metáforas e símiles.
— Cada provérbio inspirado deve ser equilibrado com outros e entendido em
comparação com o restante das Escrituras (o contexto global é essencial na
interpretação).

Expõe e ridiculariza o vício e a insensatez humana; é empregada por vários Prov. 24:30-
Sátira estilos literários, especialmente narrativa, biografia e provérbio; adverte os 34
leitores através de um exemplo negativo. Ezequiel 34
Lucas 18:1-8
2Co 11:1—
12:1

Relata a queda de uma pessoa; usa eventos selecionados para mostrar o Ló


Tragédia caminho à ruína; problemas normalmente revolvem em torno de uma falha Sansão
crítica no caráter e escolhas morais da pessoa; adverte aos leitores através do Saul
exemplo negativo. Atos 5:1-11

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 36


Ampla categoria na qual uma pessoa mais velha e amadurecida narra a Jó
Literatura de sabedoria a uma mais jovem; pode usar parábolas; provê observações em áreas Provérbios
Sabedoria fundamentais da vida, como nascimento, morte, trabalho, dinheiro, poder, Salmo 37
tempo, a terra, e assim por diante; apelo com base na experiência humana. Salmo 90
— Somente quando a sabedoria como uma perícia é subordinada à obediência Eclesiastes
a Deus é que realiza suas finalidades apropriadas no sentido objetivado no AT.

Figuras de linguagem
Antropomorfismo — Atribuição de características ou ações humanas a Deus.
“Eis que a mão do Senhor não está encolhida para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido
para não poder ouvir” (Is 59:1).

Apóstrofe — Referência a uma coisa como se fosse uma pessoa, ou a uma pessoa ausente ou
imaginária como se estivesse presente.
“Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Co 15:55).

Eufemismo — Uso de uma expressão menos ofensiva para indicar uma mais ofensiva.
“Oxalá até se mutilassem os que vos incitam à rebeldia” (Gl 5:12).

Hipérbole — Exagero em dizer mais do que o significado literal.


“Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir” (II Co 11:8).

Hipocatástase — Comparação na qual a semelhança é implícita, não diretamente declarada.


“Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lc 12:1).

Idioma — Expressão peculiar de um povo.


“Entrarei [Sansão] na câmara de minha mulher” (Jz 15:1).

Merismo — Substituição de duas partes contrastantes ou opostas pelo todo.


“Sabes quando me assento e quando me levanto” (Sl 139:2).

Metáfora — Comparação na qual uma coisa representa outra.


“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14).

Paradoxo — Declaração que parece absurda, autocontraditória ou contrária ao pensamento lógico.


“Portanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á”
(Mt 16:25).

Personificação — Atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados ou animais.


“A lua se envergonhará, e o sol se confundirá” (Is 24:23).

Pergunta retórica — Pergunta que não requer resposta, mas obriga a responder mentalmente e a
considerar suas ramificações.
“Neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que pode me fazer o homem?” (Sl 56:11).

Símile — Comparação usando “como” ou “tal”.


“Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas” (Sl 1:3).

Cuidados na interpretação da linguagem figurada


1. É necessário conhecer a substância da figura usada na comparação. Exemplo: “O Senhor
é meu pastor...” (Sl 23). Em todo este Salmo devemos buscar informações sobre o
comportamento do pastor israelita contemporâneo de Davi. É nisto que se baseia a figura.
Quanto melhor compreendermos o que está sendo usado como figura, melhor
compreenderemos o sentido da lição figurada.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 37
2. Não exagerar nos detalhes que se podem obter com a linguagem figurada. O ideal é usar a
idéia central da figura, a idéia que melhor se aplica ao significado do texto. Exemplo: A vinda
de Cristo é descrita várias vezes como a vinda de um “ladrão de noite” (I Ts 5:2). A figura
quer falar sobre o inesperado de sua volta e não do seu caráter ou de seus propósitos.

3. A linguagem figurada apresenta apenas uma parte da verdade. A linguagem figurada não
pode ser tomada como se fosse uma descrição completa das realidades que pretende
ilustrar. Exemplo: Deus é luz (I Jo 1:5), mas esta é apenas uma forma de ilustrá-lo. Existem
muitas outras.

Guia para a Interpretação de Textos Bíblicos


Descritiva Racional Conclusiva
O que significa? Por que isso foi dito aqui? Qual é a importância?
Termos O que se quer dizer com o Por que este termo é Quais são as verdades
termo? usado? (de modo geral) dominantes ensinadas na
Como ele funciona nesta Por que este termo é passagem?
sentença? usado? (de modo O que essas verdades
Que palavras-chave carecem específico) indicam sobre como Deus
de um estudo aprofundado? Por que este é um termo- age ou quer que os crentes
chave na passagem? ajam?
Estrutura Que tipo de frase é esta? Por que foi usado este Quais são as verdades
Que leis estruturais são estilo de frase? permanentes ensinadas
utilizadas? Quais são as causas, nas principais afirmações?
Contraste causa/efeito efeitos ou propósitos Que grandes motivações
comparação síntese/explicação refletidos nas cláusulas? ou promessas revelam as
repetição pergunta/resposta Por que é usada esta cláusulas subordinadas?
proporção geral/específica ordem de palavras, Que idéias centrais são
clímax permuta/inversão expressões ou cláusulas? enfatizadas por meio da
Quais são as principais Por que os ordem das palavras ou das
palavras de ligação? relacionamentos expressões?
declarados são como são? Que limitações são
encontradas?
Forma Que forma literária é utilizada? Por que é empregada esta Qual é a importância desta
Literária Quais são as suas forma literária? forma de literatura em
características? Por que as figuras são relação à verdade
Como esta forma literária usadas como são? transmitida?
transmite o sentido do autor? Que luz é lançada sobre a
A linguagem é literal ou verdade pelas figuras de
figurada? linguagem utilizadas?
Atmosfera Que aspectos da passagem Por que esse tipo de Qual é a importância da
revelam a atmosfera? atmosfera domina esta atmosfera para a
Que palavras que transmitem passagem específica? argumentação da
emoção são usadas? Por que essa atmosfera é passagem?
Como se desenvolve no texto a essencial para a O teor dominante da
atitude do autor? e a dos apresentação eficaz desta passagem é de
leitores? passagem? encorajamento ou
repreensão?

Exemplo: Leia Oséias 5:8-10, um oráculo breve, completo em si mesmo, agrupado com vários outros
oráculos naquele capítulo. Um bom comentário identificará para você o fato de que este oráculo está
na forma de um oráculo de guerra, um de um tipo (forma) que proclama o julgamento divino levado a
efeito através da batalha. Os elementos usuais de tal forma são: a chamada ao alarme, a descrição do
ataque e a predição da derrota. Da mesma maneira que é útil reconhecer a forma, também é útil
reconhecer o contexto específico.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 38


A data é 734 a.C. O auditório consiste em israelitas do norte (aqui com o nome de “Efraim”) aos quais
Oséias pregava. Especificamente, a mensagem era dirigida a certas cidades no caminho da capital de
Judá, Jerusalém, para o centro do falso culto israelita, Betel. A situação é guerra. Judá fez um contra-
ataque a Israel depois de Israel e a Síria terem invadido Judá (ver IIRs 16:5). A invasão fora repelida
com a ajuda da super-potência, Assíria (II Rs 16:7-9). Deus, através de Oséias, soa o alarme
metaforicamente nas cidades localizadas no território de Benjamim (v. 8), que fazia parte do reino do
norte. A destruição é certa (v. 9) porque Judá tomará o território que invadir (“mudando os marcos”,
por assim dizer). Mas Judá, também, receberá seu merecido castigo. A ira de Deus cairá sobre as
duas nações por este ato de guerra e pela sua idolatria (cf. IIRs 16:2-4). Judá e Israel estavam
obrigados à aliança divina que proibia semelhante guerra mutuamente destrutiva. Sendo assim, Deus
castigaria esta violação da Sua aliança.

Conhecer estes poucos fatos faz muita diferença na nossa capacidade de apreciar o oráculo em
Oséias 5:8-10. Refira-se aos comentários ou aos manuais enquanto ler os Profetas, e, como sempre,
procure ter consciência da data, do auditório, e da situação dos oráculos que lê.

Exercício

Esta é uma chance de você mesmo tentar “entender o figurativo”. Leia e estude o Salmo
139, um dos mais profundos e íntimos de todos os salmos. Ele está repleto de linguagem
figurada. Use os princípios abordados na Interpretação para interpretar o que Davi está
dizendo. Consulte a lista de “Figuras de Linguagem”, mais um auxílio no reconhecimento e
entendimento da imaginação de Davi. (Não se esqueça de começar pelo passo da
Observação.)

As três partes do processo interpretativo são:


Propósito – determinar por que o escritor levanta o assunto.

Pensamento-chave – enunciar (numa sentença) o tema ou a essência da passagem.

Fluxo – descobrir o movimento (o desenrolar natural) da argumentação, narrativa ou ensino.

Chaves para a interpretação do texto bíblico em estudo

A seguir, cinco princípios básicos de Interpretação.

1. CONTEÚDO

Há uma relação direta de causa e efeito entre o conteúdo e o significado. O conteúdo de uma
passagem é a matéria prima, a base de informações, com a qual você irá interpretar o texto.
Por causa de seu trabalho na Observação, você já sabe bastante sobre como determinar o
conteúdo de uma passagem.

Lembre-se, procuramos por termos, estrutura, forma literária e atmosfera. Fizemos uma série
de perguntas penetrantes, como: quem, o que, onde, quando, por quê, e qual a razão.
Procuramos por coisas enfatizadas, repetidas, relacionadas, semelhantes, diferentes e da
vida real.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 39


Resumindo, obstruímos o texto com várias estratégias que visavam responder a pergunta: o
que vejo? Se você fez bem sua lição de casa, descobriu o conteúdo da passagem. Em outras
palavras, respondeu a pergunta; sabe o que o autor está dizendo.

Assim, todo o seu cuidadoso estudo na fase da Observação proverá conteúdo básico a partir
do qual você interpretará o significado do texto.

Exercício

Vimos a primeira das cinco chaves da interpretação, o conteúdo. É válido você começar um
estudo interpretativo que irá prosseguir pelos próximos tópicos desta apostila. A seção sugerida para
sua consideração é Daniel 1—2, uma das passagens mais instrutivas para o crente de hoje,
especialmente para o que enfrenta o mercado de trabalho.
Comece observando o conteúdo de Daniel 1—2. Use todas as ferramentas discutidas
anteriormente. Lembre-se de que seu trabalho neste estágio é determinante para o que você irá
interpretar mais tarde. Suas observações formarão a base de informações a partir da qual você
construirá o significado do texto.
Neste primeiro contato com Daniel 1—2, invista o máximo de tempo que puder respondendo as
perguntas da leitura seletiva: Quem? O que? Onde? Quando? Por quê? E qual a razão?

2. CONTEXTO

O que quer dizer contexto? O contexto se refere ao que vem antes e ao que vem depois de
algo. Todas as principais seitas são formadas a partir da violação do princípio do contexto:
textos são arrancados do seu contexto e apresentados de maneira que o significado original
seja totalmente distorcido.

O manuseio honesto do texto no contexto é a maior ajuda que alguém pode dar a si mesmo,
no sentido de compreender a mensagem da Bíblia. Quando estudar um versículo, parágrafo,
seção, ou até um livro inteiro – consulte sempre os vizinhos daquele versículo, parágrafo,
seção ou livro. Quando se perder, suba numa árvore contextual e ganhe visão.

Há vários tipos de contexto. Cada um expressa um ponto de vista diferente sobre a


passagem que se está considerando.

Contexto literário – O contexto literário de qualquer versículo é o parágrafo do qual faz


parte, a seção da qual o parágrafo é parte, e o livro do qual a seção é parte. E devido à
unidade das Escrituras, o contexto definitivo de qualquer livro é a Bíblia toda.

Contexto histórico – Quando o fato está acontecendo? Onde na história a passagem se


encaixa? O que está acontecendo no mundo na mesma época? Quais são as influências
sociais, políticas e tecnológicas sobre o autor e sobre aqueles para quem escreve?

Contexto cultural – A cultura tem poderosa influência sobre todas as formas de


comunicação, e as culturas nos tempos bíblicos tiveram profundo efeito na criação da Bíblia.
Assim, quanto mais você souber sobre culturas antigas, mais visão terá do texto.

Contexto geográfico – A investigação do contexto geográfico (geografia das terras bíblicas)


responde perguntas como: Como era o terreno? Que características topográficas faziam a
região especial? Como era o clima? Qual a distância entre essa cidade e os lugares
mencionados no texto? Quais eram as rotas de transporte para o povo? Qual o tamanho da
cidade? Como era a planta da cidade? Por que tipo de coisa o local era conhecido?

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 40


Contexto teológico – A questão aqui é: O que este autor sabia sobre Deus? Qual o
relacionamento de seus leitores com Deus? Como o povo adorava a Deus na época? A que
partes das Escrituras o escritor e sua audiência têm acesso? Que outras religiões e visões de
mundo competem com influência?

O problema central aqui é: Onde a passagem se encaixa na expansão das Escrituras? Você
sabe, a Bíblia não caiu do céu como obra completa. Cerca de 1.600 anos foram necessários
para formá-la. Durante esse tempo, Deus revelou progressivamente Sua mensagem aos
autores. Por isso, é importante localizar a passagem no fluxo das Escrituras.

Exemplo: Se você estiver estudando Noé, em Gênesis, estará antes dos Dez Mandamentos,
antes do Sermão da Montanha e antes de João 3:16. Na verdade, Noé não tinha nenhum
fragmento de texto bíblico para consultar. O que isso lhe diz quando lê que “Noé achou graça
diante do Senhor” (Gn 6:8).

A importância do contexto
1. Ajuda a não torcer a Palavra de Deus.
2. O sentido correto da Bíblia vem do contexto (cuidado com as associações de certos textos
com outros que nunca foram escritos para serem ligados com eles; as associações só devem
ser feitas quando o texto indica e justifica claramente a ligação, sempre em harmonia com os
contextos).
3. O sentido correto das palavras vem do contexto.
4. O contexto é a garantia da verdade na Escritura.
5. Passagens difíceis são aquelas em que o contexto original é desconhecido para nós ou
difícil de precisar.

A. Berkeley Mickelsen destaca a importância do contexto: “O contexto é importante porque os


pensamentos geralmente se expressam em uma série de idéias relacionadas. Às vezes a
pessoa faz uma pausa ou se afasta radicalmente do fluxo de pensamentos que porventura se
desenvolveu. Ás vezes os pensamentos são reunidos de forma solta, em um tema geral.
Entretanto, sejam as idéias unidas assim, por lógica, sejam as proposições principais
desenvolvidas pela repetição, o significado de qualquer elemento particular é quase sempre
controlado por aquilo que o precede e o segue.”.

Exercício

No último tópico você começou um estudo de Daniel 1—2, observando o conteúdo e prestando
particular atenção nas perguntas: quem? o quê? onde? por quê? e qual a razão? Suas observações
desse exercício lhe darão uma base de informações. A partir delas, você será capaz de interpretar o
texto.
Agora é hora de prosseguirmos para o contexto. Uma vez que Daniel 1 inicia o livro, você terá
de voltar e ler II Reis 24—25 e II Crônicas 36 para obter o contexto precedente. Daí, verifique os
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 41
capítulos posteriores de Daniel para ver o que vem depois desta seção.

3. Antecedentes histórico-culturais
Há interação entre a cultura e a história e não podemos considerar uma sem levar em conta a
outra – a história e a cultura se sobrepõem. Alguns dos fatores histórico-culturais de um povo
são nacionalidade, política/governo, religião, idioma, literatura, costumes, vida sócio-
econômica, objetivos, aspirações, ambiente físico, localização geográfica e relacionamento
com as nações vizinhas (circunstâncias gerais nas quais viveram e os diversos problemas
que enfrentaram).

Circunstâncias histórico-culturais deixaram sua marca nos diferentes livros da Bíblia.

James Braga considera: “A Bíblia é pródiga em aspectos de importância cultural. Estamos,


porém, tão distantes das pessoas dos tempos bíblicos que é difícil para a atual geração
compreender as maneiras ou mesmo os padrões de pensamento e crença daquela época.
Entretanto, se quisermos entender corretamente a Bíblia, é necessário aprendermos o
máximo sobre a cultura dos diversos grupos raciais, religiosos e sociais registrados na Bíblia.
É impossível conhecer todas as peculiaridades, crenças, tradições e outros aspectos das
civilizações antigas. Entretanto, quanto mais soubermos acerca dessas civilizações, tanto
maior será a nossa capacidade de compreender as Escrituras, pois estas foram originalmente
escritas para eles e sobre eles.”

A interpretação de uma passagem deve harmonizar-se com a situação histórica e cultural do


livro. Você deve observar a passagem contra o fundo certo, com a luz certa acesa sobre ela,
para captar seu significado. Prestar atenção no contexto cultural e histórico – nos fatores que
levaram à escrita da passagem, as influências que tiveram sobre o texto e o que acontece
como resultado da mensagem. Certifique-se em verificar o pano de fundo, recrie a cultura e o
texto passará a ter vida hoje.

Walter C. Kaiser Jr. considera que algumas referências à cultura são neutras e descritivas.
Outros fatos culturais são veículos da revelação divina e a verdade prescrita neles não pode
ser reduzida arbitrariamente a “um mero relato de uma situação hoje extinta”. O estudante
não pode se atrapalhar com a natureza histórica ou culturalmente condicionada de algumas
exigências éticas ou ensinos gerais da Bíblia. Em outras palavras, a história e a cultura
submetem-se às Escrituras. Pelo fato de ser a Palavra de nosso Criador soberano, a Bíblia
interpreta a história e a cultura, não vice-versa.

O estudante da Bíblia deve procurar familiarizar-se com a história bíblica do Velho


Testamento e do Novo, conhecendo a cronologia dos principais eventos. Todo conhecimento
histórico sobre o período transforma-se em ferramenta de interpretação. Só podemos
entender o livro de Juízes se antes lermos Josué, que, por sua vez, tem suas raízes no
Pentateuco. Muitos dos oráculos dos profetas só podem ser entendidos se os lermos à luz
dos acontecimentos históricos descritos nos livros de I e II Reis e I e II Crônicas, quando se
conhece as condições políticas, militares, religiosas e sociais do povo de Israel e dos povos
vizinhos. É em Atos que lemos sobre as condições da época em que as epístolas de Paulo
foram escritas, ou sobre o que aconteceu na fundação das igrejas. O estudante que fizer uso
inteligente de dados culturais e históricos enriquecerá sua compreensão da passagem.

Exemplos:

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 42


1. Importância dos antecedentes históricos e culturais no estudo de Rute: a) Não podemos
entender o livro de Rute sem compreender o direito e a responsabilidade que um parente
próximo tinha de resgatar a terra do parente morto e proporcionar um filho à viúva. b) No
primeiro verso encontram-se as palavras: “Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome
na terra.” Essa informação nos remete a Juízes, livro anterior ao de Rute. Deste modo, para
obtermos uma visão exata da época em que viveram os personagens do livro de Rute,
necessitamos conhecer as condições da terra de Israel descritas em Juízes. Ao lermos esse
livro, especialmente os capítulos 17 a 21, concluímos que o país era um caos, pois cada
pessoa fazia “o que achava mais reto”. Entretanto, no meio de tais lamentáveis
circunstâncias, vemos no livro de Rute a mão de Deus a mover-se silenciosa e discretamente
a fim de cumprir o seu propósito em duas pessoas piedosas: Boaz e Rute. Assim, o contexto
histórico de Rute revela Deus no controle de tudo o que acontece aos seus, e que, apesar
das condições adversas, Ele é o todo-poderoso para executar os seus desígnios naqueles
que lhe pertencem.

2. Não é suficiente apenas ter consciência dos fatos históricos e dos costumes de
determinada cultura; o intérprete da Bíblia deve ter também consciência do impacto que a
mensagem teria sobre o público original. Uma platéia atual não se surpreende diante da idéia
de um “bom samaritano”; nos dias de Jesus, porém, havia uma animosidade tão grande por
parte dos judeus para com os samaritanos, que tal alusão seria tão inconcebível quanto uma
referência hoje a um terrorista bom.

3. Saber que César enviou um destacamento especial de 300 soldados com suas famílias,
para “romanizar” a cidade de Filipos, é algo que dá vida ao estudo da Epístola aos Filipenses.
Você pode imaginar as ordens dadas àquelas tropas de ocupação: “Insistam para que o povo
de Filipos fale a mesma língua de Roma. Exijam que adorem o imperador. Matem-nos se eles
não proclamarem religiosamente: ‘César é senhor’. Àquele minúsculo grupo de crentes em
Filipos, Paulo escreve: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (1:27).
O verbo “vivei” tem origem na palavra grega politeuomai e significa agir como um cidadão.
Aqueles poucos cristãos eram membros de um reino maior que o de Roma. Eles tinham um
Senhor maior do que César. Sim, eles deviam ser bons cidadãos dos dois reinos, mas Cristo
receberia prioridade. Mesmo que isto significasse prisão ou morte, eles colocariam Jesus
Cristo acima do imperador. Nos dias de hoje, os cristãos verdadeiros constituem uma minoria.
Constantemente eles são tentados a assumir compromisso com o secularismo. Quando
insistem em falar sobre moralidade e ética cristã nos negócios ou na política, quase sempre
são ridicularizados e marginalizados.

Como encontrar os fatos e dados históricos e culturais relativos ao texto em estudo? Há dois
recursos:

a. Recurso de natureza interior, relacionado com o espírito do estudante: trata-se de uma


disposição disciplinada de ler – o espírito de preguiça milita contra a leitura. Mas o bom
estudante bíblico irá cultivar o bom hábito de leituras amplas.

b. Suprimento mínimo de livros técnicos sobre a Bíblia (ver mais detalhes a seguir).

4. Consulta a fontes secundárias


No estudo do cenário histórico-cultural retiramos informações não somente da própria Bíblia,
mas também de fontes seculares dignas de confiança. Recursos secundários podem trazer
luz ao texto.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 43


As escavações de arqueólogos e as pesquisas de muitos eruditos têm contribuído para um
maior conhecimento das antigas civilizações do Egito, da Grécia, de Roma e do Oriente
Próximo. Descobertas recentes de cavernas e túmulos em terras bíblicas, bem como a
interpretação de documentos cuneiformes e hieroglíficos de grandes bibliotecas antigas
aumentam constantemente o acervo de informações sobre a história e a cultura desses
povos. Grande parte dessas informações tem sido reunida em manuais bíblicos, dicionários e
enciclopédias, bem como em obras arqueológicas e em introduções ao Antigo e ao Novo
Testamento. Essas fontes contêm o resultado do trabalho de arqueólogos, lingüistas,
historiadores, geógrafos e muitos outros. Com tanto material à disposição, é possível a
qualquer estudante da Bíblia obter conhecimento razoável dos fundos histórico-culturais.

Você pode avançar consultando fontes secundárias, ou seja, usando a contribuição de


estudiosos da Bíblia que trilharam o mesmo caminho antes de nós e nos deixaram ajudas
valiosas.

Não é assim com livros e o Livro, pergunta Russell Shedd: “Deus revelou Sua perfeita
vontade por meio de culturas pecaminosas e costumes falhos humanos, relatadas na Bíblia
inspirada e perfeita. Livros cristãos, mesmo sendo falhos, como são seus autores, podem
refletir em parte a glória da revelação escriturística (cf. I Co 13:12). Paulo não limitou seu
pedido a Timóteo à Bíblia. Quis os “livros” e os “pergaminhos” (II Tm 4:13). Por meio deles
também receberia ajuda e inspiração na prisão úmida, fria e solitária de Roma”.15

Mas uma palavra de cautela: quando puser essas ferramentas para funcionar, cuidado para
não confiar demais nas informações secundárias. O uso de recursos extrabíblicos nunca deve
ser um substituto do estudo pessoal da Bíblia, mas um estímulo a ele. A ordem é sempre a
mesma: primeiro a Palavra de Deus; depois as fontes secundárias. Ir para as fontes
secundárias sem nem mesmo consultar o texto deixa pouco espaço para a Palavra de Deus.
É por isso que a primeira coisa que você precisa, antes de obter qualquer recurso
mencionado abaixo, é de uma boa Bíblia de estudo. Comece por ela. Depois, enquanto for
prosseguindo, poderá acrescentar mais livros à sua biblioteca.

Há algumas ferramentas especialmente úteis que servirão para o início da construção de uma
valiosa caixa de ferramentas para você usar no trabalho de interpretação.

TIPO DE DESCRIÇÃO USE-O PARA


RECURSO SUPERAR...
Atlas Coleção de mapas que mostram lugares mencionados no Barreiras
texto, e talvez descrição de sua história e significado. geográficas
Contém mapas e outras informações para quem quer
investigar o contexto geográfico bíblico.
Dicionários de Explicam origem, significado e uso de palavras e termos Barreiras
palavras chaves no texto. lingüísticas
bíblicas
Manuais Apresentam informação útil sobre assuntos do texto. Barreiras culturais
bíblicos Um manual bíblico é um tipo de enciclopédia; menciona livro
por livro de toda a Bíblia, provendo todos os tipos de material
de pano de fundo.
Comentários Apresentam o estudo de um erudito bíblico. Barreiras
bíblicos Um comentário oferece a você opiniões de um erudito que lingüísticas,
passou sua vida inteira investigando o texto bíblico. As culturais e
opiniões do comentário também podem ajudar você a avaliar literárias
seu próprio estudo pessoal. Entretanto, você não pode ficar
dependente dos comentários, ao invés de se familiarizar com o
texto bíblico.
Textos Traduções com o texto grego ou hebraico posicionado entre as Barreiras

15
Russell P. Shedd. A Bíblia e os livros. Abec, 1993, p. 18.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 44
interlineares linhas para comparação. lingüísticas
Concordâncias Depois da Bíblia de estudo, esta é a ferramenta mais essencialÉ útil para o
(Chave Bíblica) ao estudo bíblico. Uma concordância é como um índice da estudo de
Bíblia. Ela alista todas as palavras do texto alfabeticamente,palavras e para
com as referências de onde aparecem, e algumas palavras ao localizar uma
redor delas para prover um pouco do contexto. passagem
quando não se
lembra da
referência.
Recursos Sugestões: História de Israel no Antigo Testamento, de Eugene H. Merrill (CPAD);
adicionais Introdução ao Antigo Testamento, de William Lasor (Edições Vida Nova);
Introdução ao Novo Testamento, de D. A. Carson (Edições Vida Nova). A Vida
Diária nos Tempos de Jesus, de Henri Daniel-Rops (Edições Vida Nova).

Exercício

Como está indo seu estudo de Daniel 1—2? Aprendeu alguma coisa útil sobre o pano de fundo em
seu estudo com concordância de Daniel, Nabucosonosor, Babilônia e sonhos?

Agora você está pronto para fazer uso de outros recursos além do texto bíblico, como dicionários e
manuais da Bíblia, que outras informações encontradas podem trazer luz a Daniel 1—2.

Princípios
Walter A. Henrichsen, no livro “Princípios de Interpretação da Bíblia”, relaciona 24 leis ou
regras de interpretação, agrupadas em quatro categorias:16

Princípios Gerais de Interpretação – são os que tratam da matéria global da interpretação.


São princípios universais em sua natureza, não se limitando a considerações específicas,
incluídas estas nas outras três seções.

1. Estude partindo do pressuposto de que a Bíblia é a autoridade suprema em questões de


religião, fé e doutrina.
2. A Bíblia é a melhor intérprete de si mesma; portanto, compare Escritura com Escritura.
3. Dependa da fé salvadora e do Espírito Santo para compreender e interpretar bem as
Escrituras.
4. Interprete a experiência pessoal à luz das Escrituras, e não as Escrituras à luz da
experiência pessoal.
5. Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando amparados por uma ordem que os
faça mandamento universal.
6. O propósito primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, e não aumentar nossos
conhecimentos.
7. Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar pessoalmente a
Palavra de Deus, seguindo princípios universalmente aceitos pela ortodoxia bíblica.
8. A História da Igreja é importante, mas não é decisiva na interpretação da Escritura.
9. As promessas divinas, exaradas na Bíblia, estão disponíveis ao Espírito Santo para aplicá-
las a favor dos crentes de todas as gerações.

Princípios Gramaticais de Interpretação – são os que tratam do texto propriamente dito.


Estabelecem as regras básicas para o entendimento das palavras e sentenças da passagem

16
Todos os princípios de Interpretação são vistos com profundidade na disciplina denominada Hermenêutica Bíblica, que é
o estudo do significado da linguagem da Bíblia.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 45
em estudo. As Escrituras devem ser interpretadas em consonância com as regras básicas da
gramática, incluindo questões como sintaxe e estilo.

10. A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomada literalmente.


11. Interprete as palavras do texto bíblico no sentido que tinham no tempo do autor.
12. Interprete as palavras em relação à sua sentença e ao seu contexto.
13. Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto.
14. Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição pode ser
considerada figurada.
15. Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode ser
considerada figurada.
16. As principais partes e figuras de uma parábola representam certas realidades. Considere
somente essas principais partes e figuras quando estiver tirando conclusões.
17. Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum, literal e histórico, a não ser
que o contexto ou a maneira como se cumpriram indiquem claramente que têm sentido
simbólico. O cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo uma garantia
daquilo que há de seguir-se.

Princípios Históricos e Culturais de Interpretação – são os que tratam do substrato ou


contexto em que os livros da Bíblia foram escritos. As situações políticas, econômicas e
culturais são importantes na consideração do aspecto histórico do seu estudo da Palavra de
Deus.

18. Uma vez que as Escrituras se originaram de modo histórico, elas devem ser interpretadas
à luz da história. (Como revelação sobrenatural de Deus, ela contém elementos que
transcendem os limites do contexto histórico.)
19. Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja progressiva, tanto o Antigo Testamento
como o Novo são partes essenciais desta revelação e formam uma unidade harmônica.
20. Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de verdades espirituais,
somente se as Escrituras assim os designaram.

Princípios Teológicos de Interpretação – são os que tratam da formação da doutrina cristã;


desempenham papel de profunda relevância na obra de dar forma àquele corpo de crenças a
que você chama suas convicções. São, por necessidade, regras “amplas”, pois a doutrina tem
de levar em consideração tudo que a Bíblia diz sobre dado assunto.

21. Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia, antes de compreendê-la


teologicamente.
22. Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que resuma e inclua tudo o que
as Escrituras dizem sobre ela.
23. Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite ambas
como escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de uma unidade
mais elevada.
24. Um ensinamento simplesmente implícito nas Escrituras pode ser considerado bíblico
quando uma comparação de passagens correlatas o apóia.

Exercício

Você trabalhou anteriormente com uma concordância no estudo de Daniel 1—2; e na


última parte, você consultou um dicionário da Bíblia e um manual bíblico. Agora você tem dois
recursos adicionais a considerar — atlas e comentários.
Consulte um atlas que mostre a Babilônia nos tempos de Nabucodonosor. Qual era a
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 46
sua relação com Israel? Que país ocupa aquela área hoje em dia?
Consulte também um comentário geral do Antigo Testamento e talvez um comentário de
um só volume sobre o livro de Daniel. Que perguntas estas fontes respondem para você?
Que informações adicionam?
Aliás, pode ser também que você queira voltar ao dicionário da Bíblia e ao manual
bíblico para procurar outros itens relacionados ao texto, como: o governo na Babilônia, os
caldeus, “zigurates”, Ciro e comidas no mundo antigo.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 47


Correlação ou comparação (deixe a escritura interpretar a
escritura!)
“Se o Espírito Santo nos guia em tudo, Ele irá fazê-lo de acordo com as Escrituras,
e nunca de maneira contrária a elas.” – George Müller

A. Definição e objetivos da correlação.


Nesta fase, o estudante compara o texto bíblico em estudo com outras porções das
Escrituras. E isto provê uma grande rede de segurança, porque a Bíblia é uma revelação sem
contradição – o maior intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras. Quanto mais se
compara Escrituras com Escrituras, mais se evidencia o significado da Bíblia; as partes
adquirem significado à luz do todo. “Desde que a Bíblia é verdade, e que toda a verdade,
devido à sua origem divina, é una, é importante relacionar várias passagens, umas com as
outras. Isto mostra a coerência das Escrituras e ajuda o estudante a harmonizar-se com o
que o restante da Bíblia diz sobre qualquer assunto dado.”

Lembre-se, embora tenha por volta de quarenta diferentes autores humanos, os 66 livros são
definitivamente o resultado de um Autor primário, o Espírito Santo, que coordenou a
mensagem toda; Seu Livro é integrado, é unido.

Kay Arthur adverte: “Quando atribuímos a uma passagem um significado que o autor não
pretendeu, estamos assumindo autoridade equivalente à do autor. E o autor de toda a
Escritura é na verdade Deus. Seja muito cauteloso se, em seus estudos, encontrar algo que
ninguém jamais viu antes. Não é possível que Deus tenha cegado, quanto à verdade, homens
consagrados por quase dois mil anos para, de repente, revelá-la a você.” E sugere uma lista
de conferência, para você usar quando estiver tirando conclusões de sua interpretação:

1. Não contradiga o contexto do livro, do capítulo ou da passagem que está estudando. O


contexto sempre rege a interpretação: ele dita as regras.
2. Não infrinja o tema geral do livro que está estudando.
3. Verifique se suas conclusões estão em harmonia ou de acordo com o que o autor disse em
outros livros que escreveu.
4. Certifique-se de que suas conclusões não infringem outras verdades bíblicas.
5. Certifique-se de que suas conclusões não sejam “tendenciosas” a favor de uma doutrina ou
escola de teologia em particular, pois isso muitas vezes torce a interpretação.

B. Meios para fazer a correlação bíblica do texto em estudo


A comparação destaca a grande necessidade de se ter uma Concordância Bíblica ou Chave
Bíblica – ferramenta que ajuda o estudante a encontrar termos, conceitos e informações
correlacionados em toda a Bíblia.

1. Referências bíblicas. A correlação por meio das referências bíblicas consiste em


comparar uma palavra, um versículo, uma idéia, um acontecimento ou uma história com outra
porção das Escrituras. Com freqüência, o conteúdo de uma passagem ajudará a esclarecer o
conteúdo de outra.

Vários tipos de referências bíblicas estão disponíveis ao estudante:

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 48


Referências de palavras (estrategicamente importante em seus estudos tópicos e
biográficos).

Exemplo: Digamos que você está lendo a Epístola de Paulo a Tito e encontra a frase: “Estas
coisas são excelentes e proveitosas” (3:8). A partir daí você pode descobrir várias coisas
excelentes ao correr da Bíblia: o mais excelente nome (Hb 1:4), o mais excelente sacrifício
(Hb 11:4), o mais excelente óleo (Am 6:6), o mais excelente caminho (I Co 12:31), a
excelência do episcopado (I Tm 3:1), o espírito excelente de Daniel (Dn 5:12), e a menção a
Rúben, “o mais excelente em altivez, e o mais excelente em poder” contudo “impetuoso como
a água” (Gn 49:3-4). Ora, este esforço é altamente compensador. Esclarece, edifica,
enriquece e lhe dá uma visão global das Escrituras.

Referências paralelas. Trata-se de versículos ou pensamentos bastante semelhantes,


muitas vezes com terminologia e contextos ligeiramente diversos.

Exemplos: Nos evangelhos e em algumas das epístolas de Paulo, este tipo de referência é
muito usado. Veja Ef 5:19 e Cl 3:16. A parábola do semeador em Mateus 13:3-23 pode ser
estudada com as referências dos relatos paralelos de Marcos 4:3-20 e Lucas 8:4-15.

Referências correspondentes. Podem ser uma citação do Velho no Novo Testamento (o


estudo do contexto da passagem citada muitas vezes é útil para a compreensão do objetivo
perseguido pelo autor) ou quando outra porção das Escrituras se refere ao mesmo
acontecimento (por exemplo, veja I Ts 2:1 e Atos 17:1-10).

Referências de idéias. Aqui você se esforça para captar o pensamento do autor no versículo
ou parágrafo em estudo, e o compara com um pensamento semelhante localizado em
qualquer outra parte da Bíblia.

Exemplo: O pensamento chave de I Pedro 1:23 é que a pessoa precisa nascer de novo,
mediante a Palavra eterna de Deus. Quando você comparar a referência com João 3:1-8,
verá Jesus dizendo que a pessoa precisa nascer de novo, mediante o Espírito Santo. Por que
a diferença? Isto é, por que Pedro diz que é pela Palavra, e Jesus pelo Espírito? Porque o
Deus vivo se revela na Bíblia, pela ação do Espírito Santo. Ambos são inseparáveis (ver Hb
4:12-13). A Palavra de Deus é usada pelo Espírito Santo como instrumento que leva
pecadores ao conhecimento da graça de Deus em Cristo.

Referências de contraste. Exemplos contrastantes na Bíblia ajudam o estudante a fixar a


ação certa, bem como pôr em equilíbrio a adequada compreensão daquilo que a Bíblia ensina
sobre dado assunto.

Exemplos: a) Contraste como Jesus lidou com a tentação em Mt 4, com a maneira pela qual
Adão lidou com ela em Gn 3. O “primeiro Adão” enfrentou Satanás, e foi derrotado; o
“segundo Adão” enfrentou Satanás, e saiu vitorioso. b) Obras da carne e Fruto do Espírito (Gl
5:16-24).

2. Versões bíblicas.

3. Esboço minucioso. É um resumo em tópicos. Inclui todas as idéias mencionadas no


trecho que você está estudando, sem omitir nenhum pormenor. O esboço é uma maneira fácil
e concisa de identificar visualmente os pontos principais e a progressão das idéias principais
de um livro ou passagem da Escritura.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 49


Exemplo da forma estrutural de um esboço:
TÍTULO
I. Tópico principal
A. Subtópico
B. Subtópico
1. subponto
2. subponto

II. Tópico principal


A. Subtópico
1. subponto
a. subponto
b. subponto
1) subponto

4. Gráficos ou Quadros. O gráfico é um eficiente meio de captar a unidade da passagem,


livro ou tópico cooperando para propiciar ao estudante uma visão geral dos pensamentos
principais e, assim, relacioná-los uns com os outros. O gráfico utilizará o esboço do seu
estudo. Use a sua criatividade pessoal e desenhe gráficos de modo que lhe sejam da maior
utilidade para correlacionar o conteúdo do seu estudo bíblico, comparar e contrastar pessoas
e fatos e classificar acontecimentos cronologicamente. A metodologia é para ajudar você a
conseguir captar a passagem em estudo.

Exercício
1. Neste momento, você já deve ter verificado o conteúdo e o contexto de Daniel 1—2. Está
começando a ter uma idéia do que se passa na história? Que perguntas você tem como resultado de
seu estudo?
O que vem abaixo faz parte deste quadro

Talvez você responda algumas delas, fazendo uma pequena comparação do texto com outras
porções das Escrituras. Usando uma concordância, procure os quatro itens que se seguem abaixo.
Cada um deles é crucial para o entendimento da passagem. Veja o quanto pode aprender sobre eles
lendo outras partes das Escrituras.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 50


51
Daniel Babilônia
Nabucodonosor sonhos
2. Nesta última parte do estudo de Daniel 1—2, faça dois estudos de palavras que têm importantes
implicações na interpretação desta passagem.

a) A primeira palavra é “contaminar”, em Daniel 1:8 – “Resolveu Daniel firmemente não contaminar-se
com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao chefe dos eunucos que
lhe permitisse não contaminar-se.”

b) O segundo termo é “últimos dias”, em Daniel 2:28 – “Mas há um Deus nos céus, o qual revela os
mistérios; pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as
visões da tua cabeça quando estavas no teu leito são estas .”

Use uma concordância para localizar outros usos destas palavras na Bíblia. O que você pode
aprender com estes textos adicionais? Então procure “contaminar” e “últimos dias” no dicionário
bíblico para ver o que mais você pode descobrir sobre o significado destes termos.

Juntando as partes
Resuma suas descobertas na fase da Observação e as informações obtidas na fase da
Interpretação e junte as partes do seu estudo bíblico.

Como organizar o material para fazer uso eficiente dele?

Resuma suas observações num Quadro. Muito volume de material fica resumido de maneira
clara, que ajuda a recapitular o conteúdo da seção estudada (você não tem de começar do
zero a cada vez que voltar à passagem nem tem de confiar só em sua memória).

O quadro usa o poder da ilustração e tende a ser memorável. Eles podem mostrar os
relacionamentos entre versículos, parágrafos, seções e até livros. Com o uso de um quadro,
você poderá compreender o propósito e a estrutura de uma porção das Escrituras num relance.
O quadro pode ilustrar as partes à luz do todo. Pode salientar idéias ou personagens importantes.
Pode demonstrar contrastes e comparações. Pode destacar termos e expressões chaves. E
pode trazer um esboço da estrutura, que é crucial para o propósito do autor.

Assim, o quadro é uma ferramenta para ajudar a investigar o texto e é um modo de manusear
a informação que você seleciona do texto bíblico em estudo.

A seguir, algumas sugestões de como começar a produzir quadros efetivos e alguns


exemplos de quadros já prontos.

Como começar a fazer quadros


Você está pronto para pôr mãos a obra, fazendo um quadro? Algumas sugestões válidas:

1. Quando estudar um texto, atribua ao conteúdo títulos e rótulos que resumam o material.
Seja criativo. Lembre-se da leitura bíblica aquisitiva, em que você se apropria do texto.
Colocar seus próprios títulos nos versículos, parágrafos, seções e livros da Bíblia é uma
maneira de fazer isso. Eles o ajudam a reter suas opiniões em pacotes organizados.

2. Enquanto visualizar seu quadro, pergunte: Quais são os relacionamentos? O que estou
tentando mostrar? Sobre o que é este quadro? Quando o terminar, como o usarei?
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 51
3. Mantenha seus quadros simples. Você sempre poderá acrescentar detalhes; o desafio é
eliminar a desordem. Que idéias, personagens, temas, versículos, termos e outros dados
chaves do texto devem ter prioridade? Qual é a idéia geral? Que estrutura precisa ser
mostrada? Que material você quer ver num relance?

4. Se você achar que tem muito material para incluir num quadro, divida-o e faça outros
quadros. Aliás, muitos dados sem relação são um bom indício de que você precisa voltar ao
texto e fazer mais observações.

5. A seguir há exemplos de um punhado de possibilidades. Há outras maneiras de se mostrar


relacionamentos no texto. Solte sua imaginação. Desenhe ilustrações ou símbolos, se isso
ajudar. É o seu quadro, faça-o trabalhar por você.

6. Revise seus quadros à luz de seu estudo. Nenhum quadro pode resumir tudo. Enquanto
continuar a estudar a passagem, você ganhará novas percepções que devem fazer com que
você revise ou mesmo refaça seu quadro. Lembre-se, quadros são um meio para se chegar a
um fim, não um fim em si mesmos. São úteis na proporção em que representarem
precisamente o que está contido no texto bíblico.

NOTA: Esta visão geral do evangelho de Lucas ilustra a proporção do espaço dedicado aos assuntos.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 52


NOTA: Quadro sintético de um livro bíblico.
Marcos 4:35—5:43

Milagre Esfera Pessoa Meio Resultados Fé


Tempestade Físico Discípulos Fala Grande bonança Sem fé
acalmada Jesus Só medo
Endemoninhado Mental Jesus Fala Normalidade Reconhecimento
Homem (sentado, vestido, em Desejo de seguir
População perfeito juízo)
Mulher com fluxo de Física Jesus Toque Cura imediata Sua fé a curou
sangue Emocional Mulher
Discípulos
Filha de Jairo Física Jesus Toque Fica em pé, anda e Grande fé
Emocional Filha de Jairo Fala come
Espiritual Discípulos
Pranteadores

O livro de Rute

NOTA: Quadro sintético de um livro bíblico.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 53


NOTA: Este gráfico combina elementos horizontal e vertical.
Epístola aos Tessalonicenses

NOTA: Gráfico ilustrativo, incluindo o conteúdo da passagem em estudo.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 54


NOTA: Gráfico ilustrativo temático.

NOTA: Exemplo do uso de gráfico no estudo biográfico.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 55


NOTA: Exemplo do uso de gráfico no estudo biográfico.
Resumo – exemplo da interpretação
Interpretar é explicar ou mostrar o significado de algo. Não o que significa para nós, mas o
que significava para o autor, O propósito da interpretação é entender a mensagem central da
passagem. A interpretação da mensagem bíblica é uma tarefa importante que deve ser feita
em oração com seriedade, humildade e cuidado. Por um lado é verdade que a Bíblia é o livro
que comunica a uma variedade muito maior de pessoas que qualquer outro. Pense nas
épocas da história e na grande variedade de povos hoje: grupos indígenas, povos orientais,
africanos e europeus, cujas vidas têm sido transformadas pela sua mensagem. E pessoas
simples, sem estudo formal, podem ter uma sabedoria bíblica profunda.

Isto não significa, no entanto, que podemos anular nossas faculdades mentais quando
estudamos a Bíblia. Jesus diz que devemos amar a Deus com todo o nosso entendimento
também (Mt 22:37).

A interpretação não é um jogo inteligente em que colocamos o significado que mais nos atrai.
Devemos sempre interpretá-la dentro do contexto textual e histórico, com oração e
dependência do Espírito Santo.

A. Analise o significado das palavras e frases chaves.


FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 56
1. Busque o significado natural.
Geralmente isso significa entender as palavras literalmente, especialmente em textos
históricos. Mas muitas vezes o significado natural exige que se tome as palavras
simbolicamente, porque se reconhece que foram usadas como linguagem figurada.

Exemplo: Em Mt 5:27-30 Jesus está se referindo ao desejo sexual. Qual é o significado


natural de “olho direito” e de “mão direita” neste contexto?

2. Busque o significado original.


O que o autor ou orador quis comunicar? Como os leitores ou ouvintes entenderam os termos
que usou? O significado de algumas palavras, como “amor”, “comunhão” e “humildade”
mudou na linguagem corrente atual.

Exemplo: O que significa “amor” hoje? O que Jesus quis dizer com “amor” em Mt 5:43-48?

3. Busque o significado coerente.


Interprete o versículo ou a idéia de maneira que se harmonize, em primeiro lugar com o seu
contexto imediato e também com o ensino da Bíblia como um todo.

Exemplo: O proceder de Jesus em Mt 15:21-28 parece estar progredindo da indiferença para


o exclusivismo racial, até chegar à rejeição da mulher siro-fenícia. Mas quando observamos
como no fim Ele louva a fé da mulher, chegamos a uma interpretação mais positiva das
atitudes de Jesus, coerente com toda sua vida e ministério, pois Ele valorizava
constantemente as pessoas, sem levar em conta sua origem racial. Também não costumava
simplesmente “provar” uma pessoa, mas antes desafiá-la à fé nele.

4. Faça uso sábio de recursos bibliográficos.


Alguns termos técnicos e costumes sociais só podem ser explicados, consultando dicionários
e comentários ou dicionários bíblicos. Examine as passagens paralelas dos evangelhos, ou
observe as referências, usando uma concordância. Use também outras versões da Bíblia.

5. Traduza as palavras difíceis numa linguagem atual.


Quais são os termos técnicos (ex.: fariseus, zelotes, procônsul etc.), e os conceitos teológicos
(ex.: graça, redenção, pecado) usados no texto? O autor usou linguagem figurada (ex.: pão
da vida)? Como podemos traduzir estes termos para uma linguagem clara e contemporânea?
O que o autor quis dizer com as figuras empregadas e como o uso das mesmas enriqueceu a
mensagem?

Exemplos: pecador – Uma pessoa falha, fazendo mau uso de si e das coisas que Deus lhe
confiou, desobedeceu aos justos mandamentos de Deus e é incapaz de se consertar pela sua
própria força ou mérito.

pescador de homens – Um pescador é alguém que vai até onde os peixes estão. Não busca
em primeiro lugar o seu conforto (sai na hora mais incômoda e fria, suja as mãos e os pés no
trabalho), mas luta perseverantemente para alcançar seu objetivo: pegar peixes. Todos estes
aspectos mostram qualidades importantes do discípulo quando é chamado para ser pescador
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 57
de homens. Jesus escolhe essa imagem porque faz parte da vida de Pedro e por isso
comunica clara e poderosamente.

B. Avalie os fatos
Aprenda a dizer: Esta é a idéia mais importante. Estas outras idéias não são tão importantes
e o seu valor consiste em ajudar a entender este fato principal.

Exemplo: Um estudo superficial dos Evangelhos pode levar a dar o lugar central aos milagres
de Jesus, em vez de considerá-los como sinais que indicam realidades maiores. Em Marcos
3:1-6, o fato mais significativo não é a cura do homem da mão ressequida, mas a
confrontação aberta de Jesus com seus críticos hostis e a revelação das más motivações
destes.

C. Correlacione as idéias
Não as deixe como órfãos solitários. O cientista suíço Jean Agassiz costumava dizer: “Os
fatos são coisas estúpidas até que os ponhamos em relação com alguma lei geral”.

Exemplo: Examine, em Lucas 5:1-11, como todas as ações de Jesus se ligam entre si para
mostrar a maneira progressiva que Ele usou para “pescar” Simão Pedro para sua obra.

D. Investigue os pontos difíceis ou incertos


Recorra para isto à ajuda de um comentário ou dicionário bíblico.

Exemplo: Com base em I João 1:1 somente, não podemos saber que os leitores de João
enfrentavam a heresia do gnosticismo. Mas só use as referências externas depois de fazer
sua investigação pessoal. Se já começa com os pontos de vista de outro, provavelmente se
apoiará demasiadamente neles, e não se enriquecerá com o produto de sua própria
meditação e esforço.
E. Resuma a mensagem do autor a seus leitores originais
Neste ponto você reúne os detalhes que tem observado, tirando suas próprias conclusões.
Não se limite a simplesmente contar a história. Antes pelo contrário, mostre o seu significado
único. Use uma linguagem contemporânea. Esta é a prova de que realmente entendeu o
texto.

Aplicação (descubra como o texto se aplica!)


“As Escrituras não foram dadas para aumentar nosso conhecimento,
mas para mudar nossa vida.” – D. L. Moody

A. O valor da aplicação
A Palavra de Deus não produz fruto quando é entendida, apenas quando é aplicada; ela é o
instrumento pelo qual o Espírito de Deus transforma o cristão. Por isso é que Tiago nos
exorta: “(...) acolhei com mansidão a palavra em vós implantada” (1:21). Em outras palavras,
deixe a palavra de Deus criar raízes em sua vida. Como? Provando ser um praticante da
palavra, não mero ouvinte (v. 22).
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 58
A verdadeira questão que confronta a pessoa em termos de estudo bíblico é: mesmo se lesse
e estudasse a Palavra de Deus fielmente, o que faria a respeito? Que diferença prática
deixaria que a Palavra fizesse em sua vida? Aprender é mais fácil que praticar. A aplicação é
o estágio mais negligenciado, porém, o mais necessário no processo do estudo bíblico. O
entendimento então, é simplesmente um meio que leva a um fim maior – a prática da verdade
bíblica na vida diária.

A Bíblia não foi escrita para satisfazer a sua curiosidade, foi escrita para transformar sua vida.
O objetivo máximo do estudo bíblico não é fazer algo para a Bíblia, mas sim, permitir que a
Bíblia faça algo a você, para que a verdade se torne real em sua vida. Como pode ver, nos
aproximamos constantemente da Bíblia para estudá-la, ensiná-la, pregá-la, delineá-la – para
tudo, exceto para sermos mudados por ela. Gypsy Smith acertou: “O que faz a diferença não
é quantas vezes você já se aprofundou na Bíblia, mas quantas vezes e com que intensidade
a Bíblia se aprofundou em você.” A verdade atraente (ornada, na expressão usada por Tito
1:10) é a verdade aplicada.

Há um perigo inerente no estudo bíblico: pode degenerar num processo intelectualmente


fascinante, mas espiritualmente frustrante. Você pode se entusiasmar com a verdade, mas
não ser moralmente mudado por ela. Se e quando isso acontecer, saiba que deve haver algo
errado com seu estudo da Bíblia.

Nossa tarefa então é dupla. Primeiramente, devemos nos envolver com a Palavra de Deus
por nós mesmos. Então devemos permitir que a Palavra nos envolva, para fazer diferença
permanente em nosso caráter e conduta.

O que acontece quando você deixa de aplicar as Escrituras?


O veterano professor Hendricks resumiu quatro substitutos para a aplicação, quatro rotas as
quais, infelizmente, muitos cristãos seguem em seu estudo da Palavra. Todas elas são ruas
sem saídas:

Substituímos a aplicação pela interpretação – É muito fácil ficar contente com o


conhecimento, em vez da experiência. O conhecimento deve produzir responsabilidade. Falta
de envolvimento não é a perspectiva das Escrituras. De capa a capa, a Bíblia ensina que a
partir do momento em que conhece a verdade de Deus, você é responsável por colocá-la em
ação. Por isso Jesus dizia sempre que a quem muito é dado, muito será exigido (Mt 13:12; Lc
12:48). E dizia a seus discípulos: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que
vos mando?” (Lc 6:46). Implicação: pare de me chamar “Senhor”, ou comece a fazer o que eu
digo.

Substituímos mudança substancial de vida por obediência superficial – Aplicamos a


verdade bíblica a áreas onde já a estamos aplicando, não em novas áreas onde não a
aplicamos. Resultado: nenhuma mudança digna de nota em nossas vidas.

Substituímos arrependimento por racionalização – A maioria de nós tem um sistema


embutido de aviso antecipado contra mudança espiritual. No momento em que a verdade
chega perto demais, condenatória demais, um alarme soa, e começamos a nos defender,
com elaboradas razões pelas quais ela se aplica a todo mundo, menos a nós. Nossa
estratégia favorita é racionalizar o pecado ao invés de nos arrepender.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 59


Substituímos uma decisão volitiva por uma experiência emocional – Estudamos a
Palavra de Deus, nos emocionamos com o impacto, ma nenhuma mudança real acontece.
Não há nada de errado em reagir emocionalmente à verdade espiritual. Mas se esta for nossa
única reação – se tudo o que fazemos é melhorar nossos lenços e soluçar orações
pesarosas, daí seguimos contentes o nosso caminho sem que haja a mínima alteração em
nosso comportamento – então nossa espiritualidade é reduzida a nada mais do que uma
experiência emocional insípida. O que se requer do estudante da Bíblia é que faça decisões
substanciais, fundamentais de mudança de vida baseadas no que as Escrituras dizem; que
não fiquem satisfeitos com a mera exposição à verdade de Deus, ou a convicção por ela, mas
sejam mudados por ela. Que façam uma decisão volitiva em reação ao que ouviram de Deus.
É aí que a verdadeira mudança sempre começa – na vontade.

B. Passos para fazer uma boa aplicação do texto bíblico estudado


O crescimento espiritual é um compromisso com a mudança. Mesmo assim, o coração
humano resiste à mudança mais fortemente do que a qualquer outra coisa. Faremos tudo
para evitar isso. Nesta etapa, você tem a sugestão de um meio de superar a propensão à
inércia espiritual.
Há um processo de quatro passos na Aplicação, quatro princípios que ajudarão você a
aplicar as Escrituras em qualquer circunstância; são maneiras de transformar investigações
bíblicas em aplicações práticas.

Primeiro passo: CONHEÇA


Se quiser aplicar a Bíblia, você precisará ter conhecimento de duas coisas:

Conhecimento do texto – Há somente uma interpretação definitiva para uma passagem nas
Escrituras. O texto não significa uma coisa hoje, e outra amanhã. Seja qual for o seu
significado, este o será para sempre. Mas o processo de aplicação da verdade em sua vida
jamais cessará. Implicação: tome cuidado com a interpretação; quanto melhor for seu
entendimento de uma passagem, melhor será sua capacidade de uso da mesma. Uma
aplicação adequada só poderá ser feita depois de você ter interpretado corretamente a
passagem.

Autoconhecimento – Você não só deve conhecer a interpretação, mas a si mesmo. Paulo


adverte a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (I Tm 4:16). Note a ordem: cuide
de si mesmo primeiro; então cuide da comunicação da verdade a outros. Por quê? Porque se
você não conhece a si mesmo, fica difícil ajudar outras pessoas a aplicarem a Bíblia em suas
vidas.

Na verdade, uma das principais razões pelas quais a aplicação não é mais efetiva para
muitas pessoas é que francamente, elas não conhecem a si mesmas. E você? Eis duas
perguntas: a) quais as suas habilidades? O que tem acontecido de bom em sua vida? b)
quais as suas deficiências? Quais as suas limitações? Qual o seu maior obstáculo ao
crescimento?

Agora coloque estas duas perguntas juntas, e você verá o valor delas na aplicação. Se
conhecer suas habilidades, isso fará desenvolver sua confiança. Se conhecer suas
deficiências, sua fé será desenvolvida. Suas vantagens mostram o que Deus tem feito por
você, e suas deficiências, mostram o que deus precisa desenvolver em você. A razão pela
qual a maioria de nós não cresce é que não sabemos de que precisamos.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 60


Romanos 12:3 nos dá visão a esse respeito: “Porque pela graça que me foi dada, digo a cada
um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense com
moderação segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. Às vezes, temos uma
opinião exagerada de nós mesmos. Outras vezes, uma opinião distorcida.

Faça um inventário espiritual


Você quer aplicar a Palavra de Deus em sua vida? Comece, conhecendo a si mesmo. Para o
ajudar nisso, Doug Sherman, do Ministério de Impacto de Carreiras, 17 desenvolveu um
inventário que revê seus hábitos e comportamentos à luz das expectativas de Deus em pelo
menos cinco amplas áreas da vida. Eis algumas perguntas a se considerar.

Em sua vida pessoal:


• Quais as condições de suas disciplinas espirituais — disciplinas conhecidas por se
relacionarem com o crescimento espiritual, como o estudo bíblico, memorização das
Escrituras, oração ou leitura de literatura devocional?

• E sua condição física, hábitos alimentares, exercícios, sono e descanso?

• Que comportamentos você deseja especialmente superar: seu gênio, uma decepção ou
uma luxúria sexual?

• Que comportamentos você deseja especialmente estabelecer: paciência, hospitalidade ou


perseverança?

Em sua vida familiar:


• Você tem um horário fixo para chegar em casa, de modo que sua família possa sempre
contar com sua presença na hora marcada para sua chegada?

• Você “namora” sua esposa regularmente?

• Você se desprende emocionalmente de seu trabalho e afazeres para que possa passar um
tempo desempedido envolvido com seus filhos?

• Você tem preservado suas responsabilidades para com seus pais? Para com os pais de sua
esposa? Para com outros parentes?

Em sua vida na igreja:


• Com que freqüência você se coloca sob a instrução das Escrituras?
• Você doa dinheiro para a causa de Cristo fiel, generosa e alegremente?
• Tem orado regularmente por seu pastor e por outros líderes da igreja?
• Você sabe qual é seu dom espiritual e o tem usado?

Em seu trabalho:
17
Adaptado de Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to God (Colorado Springs: Navpress, 1987), pp.
232-33 (Transcrito de Vivendo na Palavra, p. 290-291).
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 61
• Você dá um dia honesto de trabalho a seu empregador?
• Você cumpre os compromissos que faz com os clientes?
• Você lê ou se mantém atualizado sobre novos desenvolvimentos, idéias e métodos em seu
campo?
• Na medida do possível, você mantém um emprego estável através do qual as suas
necessidades e as de sua família estejam sendo satisfeitas adequadamente?
• Você tem um orçamento familiar? Permanece sempre dentro dele?

Em sua comunidade:
• Você exercita regularmente seu direito e responsabilidade como cidadão de votar
conscientemente?
• Você paga sua porção justa de impostos?
• Quais as condições de seus registros no trânsito? Tem multas e infrações?
• Você mantém sua propriedade dentro dos estatutos de sua comunidade?
• Você está, de alguma maneira, consciente de e envolvido com a população carente e suas
necessidades?

Há um grande número de outras perguntas que poderiam ser feitas, mas o objetivo de tal
inventário é ajudá-lo na avaliação crítica de si mesmo para determinar as áreas nas quais
você precisa crescer espiritualmente. Todas essas aplicações específicas brotam de
passagens e princípios bíblicos.

Sugestão: Peça a alguém a quem você conheça bem, como sua esposa ou um amigo íntimo,
que faça este inventário e dê sua própria avaliação de como acha que você se sairia em cada
área. Então compare suas respostas. Esta é uma ótima maneira de se conseguir objetividade
e fazer com que este exercício seja mais útil.

Segundo Passo: RELACIONE


Uma vez que conhecemos a verdade da Palavra de Deus, devemos relacioná-la à nossa
própria experiência. Na verdade, entende-se melhor o cristianismo como sendo uma série de
novos relacionamentos. O padrão bíblico para isso é II Co 5:17 – “E assim, se alguém está
em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.

Quando você se torna cristão, Jesus Cristo entra em sua vida – e bem no centro dela. Uma
vez ali, Ele afeta todas as áreas. Ele melhora sua vida no lar; você se torna mais sensível
como parceiro, como pai, como pessoa. Ele fortalece sua vida de pensamento: sua mente
habita em coisas construtivas, você desenvolve interesses mais amplos e cultiva valores mais
piedosos. Ele renova sua vida social: seus relacionamentos com amigos e associados
mudam conforme você começa a tratá-los de maneira cristã. Ele influencia sua vida de
negócios, sua área vocacional.

Jesus Cristo quer renovar cada área de nossa vida. E, se formos sinceros, todos os dias
percebemos que ainda há áreas em nossa vida sobre as quais o Senhor não tem controle.
Por isso o crescimento cristão é um processo – um processo dinâmico e a longo prazo.
Portanto, o cristão tem de recorrer à Palavra de Deus por toda a sua vida.

A Palavra que funciona

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 62


Uma vez que você perceba que Jesus Cristo quer impactar sua vida de maneira profunda,
você precisa procurar por áreas nas quais relacionar a Palavra à vida. Na Observação e na
Interpretação, surgem novas visões – coisas que você nunca tinha visto antes. Estas novas
visões produzem uma série de novos relacionamentos.

Um novo relacionamento com Deus – Você tem um relacionamento pessoal e íntimo com
aquele que agora é seu Pai celestial. Ele proveu Seu Filho para a sua salvação e o Espírito
Santo para ajudá-lo a crescer e cumprir Seus propósitos.

Um novo relacionamento consigo mesmo. Você desenvolve uma nova auto-imagem.


Afinal, se Deus o ama, se Cristo morreu por você, se o Espírito Santo lhe deu dons e poder,
isso significa que você tem tremendo valor e importância. Sua vida adquire novo significado e
propósito.

Um novo relacionamento com outras pessoas. Você descobre que as outras pessoas não
são inimigos. Elas podem ser vítimas do inimigo, mas são pessoas que Deus colocou em sua
vida. Ele o chama para transformá-las de maneira cristã.

Um novo posicionamento frente ao inimigo. Quando vem a Cristo, você muda de lado na
batalha. Antes, era apenas um joguete do inimigo, que o movia para onde queria que fosse e
você não fazia nem idéia de que era tapeado por ele. Agora porém, você descobre que está
do lado de Deus. Acredite, o inimigo não está nada feliz com isso. É por isso que sua vida
cristã será uma constante batalha.

As novas visões que você ganha do estudo das Escrituras precisam ser aplicadas em todas
essas áreas de relacionamentos. Note como isso acontece:

A Palavra expõe o seu pecado. Lembra-se de II Tm 3:16? As Escrituras têm uma função
reprovatória e corretiva. Às vezes as lições do Senhor chegam por meio de condenação e
censura. Elas falam quando você ultrapassa os limites com o intuito de limpar o pecado de
sua vida.

A Palavra lhe dá as promessas de Deus. Ela diz o que você pode esperar de Deus e o que
pode confiar que Ele fará. Isso é incrivelmente confortante quando você está enfrentando
circunstâncias que fogem de seu controle.

A Palavra lhe dá os mandamentos de Deus. Assim como há promessas nas Escrituras, há


também condições a serem cumpridas. São estabelecidos mandamentos e princípios que nos
levam em direção à saúde e à vida.

A Palavra lhe dá exemplos a serem seguidos. Quando você estuda as biografias nas
Escrituras, descobre que algumas dão um exemplo positivo a seguir; outras apresentam um
exemplo negativo, que precisa evitar.

Usando a Palavra que funciona, Jesus Cristo produz mudança de vida naquele que quer
aplicar a verdade bíblica.

Terceiro Passo: MEDITE

O hábito da meditação se tornou uma arte perdida na sociedade contemporânea, exceto


dentre os adeptos do misticismo oriental (entretanto, o que eles fazem é uma ginástica mental
para esvaziar a mente). A verdadeira meditação é ponderar a verdade, com vistas a deixar
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 63
que ela auxilie e reajuste nossas vidas. Meditar é “cultivar”, “pensar a respeito”; consiste na
prática de ouvir atentamente o Senhor. Meditação é “atenção com intenção”, pensando bem
profundamente no conteúdo bíblico que você ouve, lê, estuda e memoriza, de maneira que
possa ver de modo mais claro o que Deus está-lhe dizendo e como isso se aplica à sua vida
diária.

Campbell McAlpine ensina que meditar é o ato de pensar, refletir, de analisar versículos das
Escrituras, numa atitude de total dependência do Espírito Santo para que Ele nos revele as
verdades neles contida, e seu significado, e, pela recepção e obediência a esses versículos,
assimilá-los em nosso interior. A assimilação dessa verdade comunica vida e esclarecimento
a quem medita, se ele tiver uma atitude de humildade, confiança e obediência. Meditar é
receber a verdade no íntimo; é nutrir-se de Cristo, o Pão vivo, a Palavra viva.

Larry Coy deu o seguinte testemunho:

– Por muitos anos procurei fazer com que a Palavra de Deus fosse real para mim, e também
relacioná-la à minha vida prática. Estudei a Bíblia pelos mais diversos métodos e a maior
parte deles parecia ter algum valor. Eu tinha, até mesmo, ouvido o termo “meditação”
mencionado antes e, certa tarde, fui a passeio até um lugar ermo, tentar fazer o que eu
pensava ser uma meditação. Eu achava que significava ficar sozinho e pensar em Deus. Mas
como Deus é onipotente, onisciente, onipresente, eu não demorava a esgotar meus
pensamentos e por isso desisti da idéia. Um dia, um amigo me esclareceu que meditar não é
refletir sobre os meus pensamentos a respeito de Deus, e sim, tomar os pensamentos de
Deus e refletir sobre eles. ‘É tal qual um boi ruminando o alimento. Em outras palavras, ele
tem que ingerir alimento antes de ter algo para digerir. Na digestão, ele rumina o alimento
muitas vezes, até que esteja completamente digerido.’ Deus estabeleceu que “o homem não
viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem” (Dt 8:3 e Lc
4:4). E definiu: ‘Meditação é o processo espiritual e mental de se digerir os textos bíblicos de
tal maneira que eles se tornem uma parte ativa na vida da pessoa.’ 18

A meditação é útil no passo da Observação e absolutamente essencial para o passo da


Aplicação. Lembra-se de Josué 1:8 e Salmo 1:1-2? Ambas as passagens falam que a chave
para a prosperidade espiritual é a meditação na Palavra de dia e de noite. Em outras
palavras, devemos entrelaçar as Escrituras no tecido da vida diária.

Você está tirando vantagem dos benefícios da meditação bíblica?

“Mas eu tenho dificuldade em pensar” alguém dirá.

Não, o problema é que você está deixando seu cérebro morrer de fome. Não o está provendo
de nenhum combustível. Como vê, há uma ligação direta entre a meditação e a memória. A
memória provê a mente do combustível de que ela precisa para fazer a meditação útil. A
memória é a chave para a meditação. E a meditação a chave para a mudança do nosso
ponto de vista.

Uma das coisas das quais você não haverá de se arrepender é memorizar Escrituras
enquanto jovem. Experimente, a partir de hoje mesmo, decorar um versículo por semana.
Isso não é muito, mas pare para pensar: se fizer isso por cinqüenta semanas durante um ano,
terá cinqüenta versículos das Escrituras sob seu domínio.

Charles R. Swindoll sintetizou bem o valor do cristão memorizar as Escrituras:


18
Larry Coy. Curso Conflitos da Vida – Básico. 1988, pág. 94.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 64
– “Desconheço qualquer outra prática isolada na vida cristã que seja mais recompensadora,
falando em termos práticos, do que memorizar as Escrituras. É verdade. Nenhuma outra
disciplina isolada é mais útil e gratificante do que essa. Nenhum outro exercício isolado paga
maiores dividendos espirituais! Sua vida de oração será fortalecida. Seu testemunho será
afiado e tornar-se-á muito eficaz. Seu aconselhamento estará em demanda. Suas atitudes
começarão a mudar. Sua mente tornar-se-á alerta e mais observadora. Sua confiança e
segurança serão fomentadas. Sua fé será solidificada.”

Exercício

Há uma correlação direta entre a meditação e a memorização. Quanto mais Escrituras você
memoriza, mais material terá para meditar.
Infelizmente, a idéia da memorização bíblica tem freqüentemente sofrido pressão negativa. Na
verdade, a própria memorização tem recebido pressão negativa. Muitos de nós se lembram da escola
primária, onde fomos forçados a memorizar fatos insensatos e números em matérias como história e
aritmética. Uma vez formados nesse exercício, juramos nunca mais fazê-lo!
Mas se Deus promete abençoar nossas vidas como resultado da meditação (Js 1:8; Sl 1), e se a
meditação depende da memorização, então talvez devêssemos reconsiderar a idéia. Eis um pequeno
exercício para sua iniciação. Memorize o Salmo 100:

Salmo de ações de graça


1 “Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras.
2 Servi ao Senhor com alegria,
apresentai-vos diante dele com cântico.
3 Sabei que o Senhor é Deus;
foi Ele quem nos fez e dele somos;
somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio.
4 Entrai por suas portas com ações de graça,
e nos seus átrios com hinos de louvor;
rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
5 Porque o Senhor é bom,
a sua misericórdia dura para sempre,
e de geração em geração a sua fidelidade.”

Este salmo só tem cinco versículos e é um ótimo salmo para se meditar porque eleva o coração
em alegria diante do Senhor. Ele afirma confiantemente o caráter fiel de Deus. Eis algumas
sugestões:
1. Leia e estude o salmo, usando Observação e Interpretação.
2. Leia o salmo repetidamente.
3. Concentre-se na memorização de um versículo por vez, em vários dias. Por exemplo, no primeiro
dia, memorize o versículo 1. Leia-o várias vezes, daí repita-o para si mesmo várias vezes. Mais ou
menos uma hora depois, veja se consegue lembrá-lo. Continue a revisá-lo no decorrer do dia. Então,
no dia seguinte, “ataque” o versículo 2 da mesma maneira, mas repita o versículo 1 em adição ao 2.
Continue acrescentando versículos no decorrer da semana.
4. Repita o que você memorizou em voz alta para um amigo ou membro da família. Peça que confira a
passagem na Bíblia para ter certeza de que você a sabe perfeitamente, palavra por palavra.
5. Se tiver talento para tal, coloque música no salmo e cante-o. (A maioria dos salmos foram
originalmente cantados, não lidos.)
6. Continue revisando o salmo mentalmente durante as semanas seguintes, até que tenha certeza de
que está alojado em seu cérebro.

Quarto Passo: PRATIQUE


O objetivo definitivo do estudo bíblico é a prática da verdade.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 65


Você pode consistentemente aplicar em sua vida algo da verdade que encontrar em seu
estudo bíblico. Assim sempre perguntará: Existe alguma área de minha vida na qual esta
verdade se faz necessária?

Deus nos deu a Palavra para transformar nossa experiência e a nossa fome por esta Palavra
existirá em proporção à nossa obediência a ela. Na verdade, há um ciclo: quanto mais você a
entende, mais a usa; e quanto mais a usa, mais quer entendê-la. As duas coisas são
necessárias.

Você sempre encontrará dois lados na vida cristã; você precisa de alimento e de exercício.
Comida demais leva à obesidade. Pouca comida faz desenvolver anemia. Mas o alimento é
transformado em energia, e a energia o capacita a fazer aquilo que Deus quer faça. Porém no
processo, você fica exausto e perde a perspectiva. Então tem de voltar para a Palavra de
Deus para ser revigorado. Lembre-se que a Palavra de Deus experimentada é a Palavra de
Deus desfrutada.

Perguntas a se fazer na aplicação da Palavra


1. Há um exemplo para eu seguir?

Você já notou quanto da Bíblia é biográfico? Isso não é um acidente; é proposital. Deus
preenche Sua Palavra com pessoas porque nada ajuda a verdade a se tornar viva como as
pessoas. O desafio é traçar paralelos entre a sua situação e a do personagem que está
estudando.

2. Há um pecado que eu devo evitar ou confessar? Há uma advertência que devo


prestar atenção?

Um dos valores da Palavra de Deus é que ela nos desperta a consciência a respeito das
questões morais.

3. Há uma promessa a se reivindicar?

A Palavra de Deus está repleta de promessas – promessas feitas pela Pessoa que não mente
e que é totalmente capaz de cumpri-las. Evidentemente, nem todas as promessas das
Escrituras são para você. Algumas promessas foram feitas por Deus a certos indivíduos, não
às pessoas em geral; e outras a grupos de pessoas, como a nação de Israel. Não podemos
reivindicar promessas que não foram feitas a nós, mas certamente podemos reivindicar as
promessas feitas à Igreja, bem como aquelas feitas ao “justo” em Provérbios e em outras
porções da literatura de sabedoria.

Que necessidades minhas ou de outros Deus pode e quer satisfazer, segundo esta
passagem?

4. Há uma oração ou palavra de louvor que devo repetir?

Há grandes orações nas Escrituras. Exemplos: a oração de Abraão em Gn 18; a de Neemias;


a oração de confissão de Davi no Salmo 51; a oração de agradecimento de Ana após o
nascimento de Samuel (I Sm 2:1-10); a oração que Jonas fez de dentro do ventre do peixe
(Jn 2); a oração de Maria (Lc 1:46-51); a oração de Paulo pelos efésios (Ef 3:14-21); a oração
de Jesus no Jardim do Getsêmani (Mt 26:36-46); a oração do Pai Nosso (Mt 6:5-15). Quando

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 66


estudar estas passagens, pergunte-se: o que contêm estas orações, que eu preciso estar
orando?

Algum motivo de louvor. O que me transmite alegria? Que nova compreensão eu recebi da
grandeza e da bondade de Deus?

5. Há um mandamento para eu obedecer?

A Bíblia está repleta de mandamentos. Há 54 deles somente no livro de Tiago. As seções


“aplicacionais” das epístolas de Paulo – Romanos 12—15, Gálatas 5—6, Efésios 4—6,
Colossenses 3—4 – são primordialmente exortações.

Certa vez perguntaram a um velho e sábio erudito como determinar a vontade de Deus. Sua
resposta foi simples: “Os mandamentos das Escrituras revelam 95% da vontade de Deus. Se
você passar seu tempo cumprindo-os, não terá muito problema em descobrir os outros 5%.”

6. Há uma condição a se atender?

Muitas das promessas de Deus são baseadas em condições estabelecidas no texto.

7. Há um versículo para eu memorizar?

Obviamente, qualquer versículo das Escrituras pode ser memorizado, mas alguns terão mais
significado para você do que outros.

8. Há um erro a se notar?

O estudo bíblico pessoal contribui para fortalecer o conhecimento da teologia básica e


doutrinária fundamental para edificar a fé. Quando investigar a Palavra de Deus, pergunte-se:
Que doutrinas e verdades esta passagem está ensinando? Que erros teológicos expõe? E
depois: Que mudanças de pensamento preciso fazer para conformá-lo ao que as Escrituras
ensinam?

9. Há um desafio a se enfrentar? Há algo para planejar e pelo que orar? Que ação
prática devo empreender? Qual o primeiro passo?

Você já leu uma porção da Bíblia e se sentiu convencido da necessidade de agir com base
naquilo que leu? O Espírito de Deus o induzirá a isso. Quando ler a Palavra, Ele o desafiará a
reagir em alguma área de sua vida, ou em alguma situação que esteja enfrentando. Talvez
seja um relacionamento que precise ser restaurado. Talvez um pedido de perdão que precise
ser feito. Talvez você precise abandonar algo que o esteja distanciando de Deus. Ou talvez
haja um hábito que precise começar a cultivar. O que quer que seja, o Espírito usa as
Escrituras para promover mudanças em sua vida.

A questão é, você está aberto para tal mudança? Está preparado para enfrentar os Seus
desafios? Garanto que se você abordar a Palavra com qualquer grau de honestidade e
educabilidade, o Espírito não o deixará desapontado.

10. Há algo que me ajude a entender os cruéis objetivos e os sutis ataques de Satanás?

Encher a mente e o coração da Palavra (o Espírito nos fará lembrar dela!) e saber manejá-la
para atingir o inimigo na forma em que a tentação nos vem.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 67


A importância do contexto para a aplicação
A Palavra de Deus é eterna e imutável, mas nosso mundo não é; ela é a verdade que nunca
muda em um mundo que sempre muda. Como aplicar a fé aos assuntos de hoje? Como fazer
a conexão? A sugestão é que se comece pelo contexto – tanto o contexto original das
Escrituras quanto o contexto contemporâneo no qual vivemos. O contexto faz uma profunda
diferença na maneira como a verdade bíblica é aplicada.

Para vivenciar a verdade de Deus é preciso que a conectemos ao nosso conjunto particular
de circunstâncias. Mas por favor, note: não mudamos a verdade para adaptá-la à nossa
agenda cultural, mas mudamos nossa aplicação da verdade à luz de nossas necessidades.

Como pode isso acontecer? Como considerar uma mensagem escrita no ano 100 d.C ou
antes, e fazer uso dela no ano 2010 d.C. e depois? A chave é o contexto. Qual era o contexto
então? Qual é o contexto agora?

Vimos a importância do contexto na Interpretação. Agora descobrimos sua importância para a


Aplicação. Precisamos entender a cultura antiga. Quanto mais soubermos sobre a cultura na
qual uma determinada passagem foi escrita e à qual foi originalmente aplicada, mais preciso
será nosso entendimento e mais capazes seremos de fazer uso dela em nosso próprio
contexto cultural.

Mas isso não é tudo. Devemos também entender nossa própria cultura. Assim como
buscamos uma visão do contexto antigo, precisamos buscar visão de nosso próprio contexto.
Onde estão os pontos de urgência? Onde estamos especialmente necessitados da verdade
bíblica? Quais as dinâmicas culturais que fazem a prática da verdade bíblica difícil, e às
vezes, aparentemente impossível? O que influencia nossas atitudes e comportamentos
espirituais? O que os apóstolos nos diriam se estivessem escrevendo para nossas igrejas
hoje? Onde Cristo seria ativo se andasse entre nós atualmente?

É interessante que quando Davi estava reunindo seu exército para estabelecer o reino,
recrutou os filhos de Issacar. O texto os descreve como “conhecedores da época, para
saberem o que Israel devia fazer” (I Cr 12:32). Poderíamos usar muito mais os filhos de
Issacar no corpo de Cristo hoje – aquelas pessoas que entendem tanto a Palavra quanto o
mundo, que sabem o que Deus quer que seja feito em sua sociedade, pessoas que não são
apenas bíblicas, mas contemporâneas também.

Estudando a cultura de hoje


Entender nossa cultura não é tão fácil quanto se pode pensar. O fato de vivermos nesta
sociedade não significa que estamos cientes de como ela funciona. Na verdade, a maioria de
nós vive a vida sem notar as forças que nos influenciam. Poderíamos considerar fazer um
estudo de nossa cultura assim como estudamos as culturas do mundo bíblico.

Os professores Hendricks 19 sugerem perguntas para você fazer enquanto avaliar o contexto
cultural de hoje. São pouco mais do que as seis chaves para a observação vistas
anteriormente: Quem? O quê? Onde? Quando? Por quê? Qual a razão? Vimos como usá-las
no estudo das sociedades do mundo antigo, mas elas também se aplicam à situação
moderna.

19
Howard e William Hendricks. Vivendo na Palavra. Editora Batista Regular, 2000 (2ª ed.), p. 308-310.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 68
Evidentemente, o problema ao fazermos essas perguntas sobre nosso próprio contexto é a
tendência de ficarmos satisfeitos com respostas superficiais. Lembre-se, um dos assassinos
do estudo bíblico é a atitude: “Já sei isso. Já vi aquilo. Domino esta parte”. O mesmo
acontece quando se faz um estudo da própria sociedade. Nunca pense que você entende
completamente o mundo em que vive.

Há muitas outras questões que se considerar, mas este é um bom começo.

Poder — Onde estão os centros de poder? Quem está no comando? Como adquirem o
controle? Como mantêm o domínio? Qual a sua efetividade em manter controle? Onde estão
os desafios à sua autoridade? Quem faz as decisões por nossa sociedade como um todo?
Quem faz decisões no nível local e individual?

Comunicação — Quais os meios de comunicação? Como as notícias e as informações são


distribuídas? Quem tem acesso a elas? Quem tem acesso à mídia? Como nossa sociedade
determina a credibilidade e a confiabilidade das informações? Como os meios de
comunicação moldam as mensagens que são comunicadas?

Dinheiro — Que lugar o dinheiro ocupa em nossos valores? Como as pessoas ganham suas
vidas? Com quem a sociedade comercializa? Que bens são cambiados? Quais são os meios
de transporte? Como as pessoas se locomovem? Que recursos temos? Que recursos não
temos? Quais os empreendimentos tecnológicos de nossa sociedade?

Etnia — Que pessoas compõem nossa cultura? De onde vêm? Que história e valores
trazem? Como nossa sociedade é organizada socialmente? Como é estratificada? Como é
determinado o status? Quem está no topo da pirâmide? Quem está na base da pirâmide? Por
quê? Quais as barreiras e os problemas raciais com que as pessoas têm de contender?
Como isso afeta nossa vida diária? Que tradições e valores caracterizam as várias
subculturas?

Sexos — Qual o papel do homem e da mulher? Como os sexos se relacionam? Que


problemas confrontam cada um dos sexos?

Gerações — Qual o valor que nossa cultura atribui à família? Como as famílias são
estruturadas? Quem são as famílias chaves? Onde moram? Quais as suas histórias? Como
mantêm a influência? Como o poder é passado de geração a geração? Como é a vida escolar
e social dos jovens? O que se ensina a eles? Quem lhes ensina? Como uma pessoa se torna
adulta nesta cultura?

Religião e visão de mundo — Quais as religiões dominantes? De onde vieram? Em que


condição se encontram agora? Quais as suas características? Que grupos estão crescendo
mais rapidamente? Por quê? A partir de que suposições filosóficas as pessoas agem? Que
ponto de vista têm sobre o mundo e a vida? Que exposição esta cultura teve ao Evangelho?
Qual tem sido sua reação?

Artes — Que tipo de arte nossa cultura produz? O que a arte nos diz sobre nós mesmos? E
sobre o mundo? Que lugar damos ao artista em nossa sociedade?

História e tempo — Que lendas e mitos foram transmitidos? Que histórias são contadas re-
petidamente? Quem escreve nossa história? Que histórias não foram contadas? Qual o ritmo
de vida de nossa sociedade? Como as pessoas medem o tempo? Que lugar damos aos
idosos? O que as crianças representam? Quem representa as crianças dentro do que elas
representam?
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 69
Lugar — Onde nossa cultura está situada geograficamente? Que fatores topográficos e
climáticos influenciam nosso dia-a-dia? Quão versáteis somos em relação a outras
sociedades? Quanto tempo as famílias moram em um lugar? Que terra é transmitida pelas
gerações? Que pessoas foram deslocadas? Que lugares têm caracterizado
proeminentemente a história de nossa cultura? Onde as guerras foram travadas? Onde foram
feitas as celebrações? Que monumentos e memoriais se encontram no local?

Utilizando suas informações


Se você responder diligentemente perguntas como estas sobre o mundo a seu redor,
desenvolverá profundas visões sobre como nossa sociedade opera. Mas como amarrar estes
dados à verdade das Escrituras? Como aplicar a Palavra de Deus ao contexto da sua própria
situação? Afinal, não há correspondência direta entre os versículos da Bíblia e a vida diária.
Como fazer a conexão? Descubramos no tópico seguinte.

A importância dos princípios


O que a Bíblia tem a dizer sobre engenharia genética, energia nuclear; gerenciamento para
produtividade; educação pública, seguro de saúde; problemas de transporte e moradia;
internet; AIDS, câncer etc.? Se vamos ler com a Bíblia numa mão e o jornal na outra, temos
de encarar estes tipos de problemas. Temos de perguntar qual a conexão existente entre a
verdade revelada da Palavra e o mundo atual. De outro modo, estaremos achando que a
Bíblia tem relevância apenas como guia devocional; sem propósito nos assuntos práticos da
vida.

Entretanto, qualquer leitor sensato reconhecerá que não há correspondência direta entre os
versículos da Bíblia e os assuntos da vida contemporânea. Não podemos simplesmente “ligar
os textos bíblicos na tomada” para obter resposta às necessidades e problemas que
enfrentamos. A vida é muito mais complexa que isso. A Bíblia não foi escrita com esse
propósito. Ela não é um texto de biologia, negócios, economia ou mesmo de história. Quando
fala sobre tais áreas, a Bíblia o faz verdadeiramente mas não explicitamente. O assunto
principal da Bíblia é Deus e Seu relacionamento com a humanidade; e é nossa grande
responsabilidade praticar as implicações disso na vida diária. Temos de pensar nelas e fazer
escolhas – escolhas biblicamente informadas.

Isso nos faz voltar ao dito mencionado anteriormente: Uma interpretação, várias aplicações.
Sem dúvida, há vários problemas específicos que a Bíblia nunca menciona, coisas que nem
mesmo eram problemas na época em que foi escrita Mas isso não significa que não tenha
nada a dizer sobre eles. Pelo contrário, ela nos fala sobre verdades ou princípios
fundamentais que Deus quer que apliquemos, englobando toda extensão da necessidade
humana.

Um princípio é uma declaração sucinta de uma verdade universal. Quando falamos sobre
princípios, partimos do específico para o geral.

Princípios que governam princípios


1. Os princípios devem se correlacionar com o ensino geral das Escrituras

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 70


Devemos aplicar a Palavra sensata e consistentemente. Isso nos traz de volta à prática de
comparação de Escrituras com Escrituras. Quando você declara um princípio de uma
passagem específica, pense em outras passagens que reforçam aquela verdade.
Exemplo: Embora o apóstolo Paulo recomendasse aos efésios, em 6:5, que os escravos
fossem obedientes aos seus senhores, ele não estava com isso fechando os olhos à prática
da escravidão. Na realidade, os princípios traçados em suas epístolas, especialmente na
carta a Filemom, tinham o propósito de um dia acabar com esse cruel tráfico de seres
humanos onde quer que o evangelho se estabelecesse.

2. Os princípios devem falar às necessidades, interesses, questões e problemas da


vida real de hoje

É aqui que o estudo de nossa cultura entra. Se você se tornou um estudante perceptivo de
sua cultura, deve saber onde estão as necessidades e os problemas. E, sabendo isto, pode
começar a procurar as verdades gerais das Escrituras que possam se aplicar à situação
contemporânea.

3. Os princípios devem indicar um curso de ação

Os princípios bíblicos para serem eficazes têm de produzir ação. A Palavra de Deus não foi
dada para aguçar nossa curiosidade, mas para transformar nossas vidas. Quando trazemos
às claras os princípios das Escrituras, precisamos constantemente perguntar o que vamos
fazer em relação à verdade encontrada? Onde, quando e como iremos aplicá-la.

Exemplos:
Texto bíblico Princípio
“Porque o Senhor Deus é sol e escudo; o - O Senhor promete bênçãos aos que
Senhor dá graça e glória; nenhum bem cumprem a vontade divina.
sonega aos que andam retamente.” (Sl - Quando andamos em obediência ao
84:11) Senhor, sentimos a sua bondosa
solicitude para conosco.
“E então se dirigiu a seus discípulos: A - Oração é o método divino para
seara na verdade é grande, mas os levantar obreiros para o trabalho do
trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor.
Senhor da seara que mande trabalhadores - É responsabilidade do povo de Deus
pra a sua seara.” (Mt 9:37-38) apoiar com orações o trabalho
missionário.
Primeira Epístola aos Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo é a grande
esperança da Igreja sob provação.

Certamente devemos investir tempo no estudo intensivo da Palavra de Deus. Mas


freqüentemente lidamos com situações inesperadas que não nos permitem o privilégio de
refletir, apenas de reagir. Em situações assim, precisamos confiar nos reservatórios de
conhecimento e experiência que temos no momento. Então, a questão é, que familiaridade
com a Palavra, que base de informações bíblicas trazemos à situação? Não temos tempo
para um estudo intensivo. Então o que usaremos no momento? Se estocarmos princípios das
Escrituras, teremos um poderoso conjunto de recursos para lidar com praticamente todas as
situações da vida. Os princípios nos capacitam a multiplicar a verdade.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 71


Exercícios

A habilidade de declarar princípios das Escrituras é uma das habilidades mais poderosas que
se pode desenvolver em termos de Aplicação. Esta o capacitará a relacionar a Palavra de
Deus a qualquer situação que enfrentar. Entretanto, aprender a fazê-lo requer um pouco de
prática. Não se pode considerar algo que faça sentido para você e abençoá-lo com o prefácio:
“A Bíblia diz...”. Não, o manuseio de princípios úteis e precisos requer um entendimento exato
do texto e uma visão perceptiva de nosso próprio contexto. Abaixo estão várias perguntas
que o ajudarão a desenvolver e aplicar biblicamente princípios legítimos.

1. O que se pode descobrir sobre o contexto original no qual a passagem foi escrita e
aplicada?
2. Dado o contexto original, o que o texto significa?
3. Que verdades fundamentais e universais são apresentadas na passagem?
4. Pode-se declarar a verdade em uma ou duas sentenças simples, uma declaração que
todos pudessem entender?
5. A que problemas de sua própria cultura e situação se refere esta verdade?
6. Quais as implicações deste princípio quando aplicado à sua vida e ao mundo ao seu redor?
Que mudanças ele requer? Que valores reforça? Que diferença faz?

Agora use estas perguntas para declarar princípios de aplicação em três passagens das
Escrituras: Provérbios 24:30-34; João 13:1-17 e Hebreus 10:19-25.

O processo de mudança de vida


Por onde começo? Esta pode ser a pergunta mais determinante a se fazer na Aplicação. Até
que responda isso, tudo que você tem são boas intenções, e estas têm praticamente o
mesmo valor de um cheque sem fundo. Muitas “aplicações” ficam no nível da boa intenção
porque falamos sobre o fim de uma jornada sem especificar quando, onde e como daremos o
primeiro passo. Como alguém bem disse: não planejamos falhar, falhamos por não planejar.

Às vezes a sua aplicação requererá algo específico; por exemplo, a devolução de um livro
que tomou emprestado há meses, ou pedir desculpas a alguém que você ofendeu. Outras
vezes a sua aplicação requererá tempo. Talvez seja um hábito que Deus quer que você
rompa, ou uma série de passos que tem de dar, como o pagamento de prestações de uma
grande conta em atraso. Também haverá ocasiões em que o Espírito Santo lhe dará a
cumprir um projeto de longo alcance, como o de desenvolver uma atitude ou uma virtude.
Portanto, formule um processo de verificação das mudanças propostas por sua aplicação.

O experiente professor Hendricks sugere a você uma estrutura simples para uso no
planejamento de seu próprio processo de mudança de vida. Obviamente, a vida é complexa,
e muitos elementos de crescimento não podem ser facilmente diagramados; por outro lado,
muitos cristãos ficam estagnados em seu desenvolvimento espiritual porque não sabem como
começar. Eis três passos para traduzir boas intenções em ação de mudança de vida:

1. Decida mudar

Em outras palavras, faça uma decisão. Determine que tipo de mudança você precisa fazer, e
então escolha buscá-la. Esta é basicamente uma questão de se estabelecer objetivos. Isto é,

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 72


que diferença você apresentará como resultado da operação de tal mudança? Como você
será ao final do processo?

Quanto mais claros e demonstráveis forem seus objetivos, mais provável será o cumprimento
dos mesmos. Objetivos claramente definidos mantêm nossas expectativas realistas,
atingíveis; eles também nos ajudam a ver a verdade através de ações, não de abstrações.
Portanto, seja específico e pessoal.

2. Estabeleça um plano
Este é o passo onde se pergunta como. Como vou cumprir a tarefa?
Um plano é um curso específico de ação de como você vai atingir seus objetivos.

Planejar um curso de ação significa pensar em meios específicos de se atingir um objetivo e


então considerar o que é preciso para praticar o plano. Isso requer nomes, datas, horários e
lugares para suas intenções. Quanto mais específico for seu plano, mais provável será o seu
sucesso.

3. Vá até o fim
Em outras palavras, comece. O primeiro passo é sempre o mais difícil. Mas tome-o. Não o
adie. Se você chegou até aqui no processo, recompense seus esforços com uma sólida
caminhada até o fim. Dê a si mesmo o respeito de realizar seus compromissos.

Três estratégias podem ajudá-lo neste processo:

a. Considere o uso de uma lista de verificação, especialmente se seu plano requer atividades
repetitivas ou passos progressivos.

b. Estabeleça alguns relacionamentos de responsabilidade, que podem ser formais ou


informais. Isso pode ser feito de maneira informal com o cônjuge ou um amigo, mediante
conversa sobre os alvos, o progresso, as lutas ou com a participação de um grupo formal, ao
qual tenha de prestar contas de sua vida.

c. Avalie seu progresso. A melhor forma de fazer isso é ter um tempo periódico de reflexão
pessoal e avaliação. Utilize registros daquilo que você tem feito durante os últimos meses.
Faça perguntas a sim mesmo: Quais tem sido os três maiores desafios em minha caminhada
com o Senhor nesse período? Como reagi? Que vitórias tenho a celebrar? Que derrotas
preciso considerar? De que respostas específicas a orações posso me lembrar? Mudei para
melhor ou para pior? De que maneiras? Em que gastei meu tempo? Meu dinheiro? O que
aconteceu em meus relacionamentos?

O ponto é: desenvolva maneiras para medir seu progresso enquanto caminha pela vida.
Conheça a si mesmo e saiba como Deus tem trabalhado em sua experiência.

Importante:
Ao fazer aplicação pessoal, é importante distinguir entre emoção e volição. Muitas vezes,
aplicar a Palavra de Deus é uma experiência emocional. Todavia, o que Deus quer é ação, e
não apenas sentimento. Na parábola dos dois filhos, Jesus deixa bem claro este ponto (ver
Mt 21:28-32). O pai pediu ao primeiro filho que trabalhasse na vinha, mas ele se recusou a ir.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 73


Mais tarde, mudou de idéia e obedeceu ao pai. O segundo filho concordou prontamente
quando foi solicitado, mas nunca se apresentou para o trabalho. “Qual dos dois fez a vontade
do pai?”. Você concordaria que foi o primeiro. Idealmente, o Senhor quer ambas as coisas, as
suas emoções e a sua volição, mas é quando você faz o que Deus quer, que você faz
aplicação.

Você tem de assumir a responsabilidade de fazer escolhas e tomar atitudes para crescer
como cristão – desenvolver a sua salvação. Porém, nunca esqueça o outro lado: “Porque
Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp
2:13). Enquanto estabelece objetivos, faz planos e os realiza, Deus está bem junto a você.
Isso é o que nos encoraja na vida espiritual – nunca estamos sozinhos. Deus provê Seus
recursos para nos ajudar no processo. Ele não toma decisões por nós nem faz aquilo que
podemos fazer, mas Ele trabalha de maneiras conhecidas e ocultas para nos ajudar a nos
tornarmos como Cristo.

Três sugestões para se iniciar:


Comece um programa de estudo bíblico pessoal.
Forme um grupo pequeno de estudo bíblico.
Compartilhe seus resultados com outras pessoas.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 74


UNIDADE II
___________________________________________________________________________

Métodos de estudo da Bíblia


São várias as maneiras de se estudar a Bíblia. Nenhum destes métodos pode ser rigidamente
dissociado dos outros, pois suas fronteiras se sobrepõem. Cada um deles, quando
devidamente aplicado, tende a compensar as deficiências dos outros.

Cada método apresentado a seguir, usará as quatro partes essenciais do estudo da Bíblia,
vistas no capítulo anterior: observação, interpretação, correlação e aplicação.

Método Devocional
O método devocional de estudo da Bíblia propõe um contato pessoal e direto com as
Sagradas Escrituras, a busca da revelação de Deus no contato pessoal e direto com a sua
Palavra, mediante a unção que dele recebemos (I Jo 2:20,27). Trata-se de um exercício
voluntário, consciente e pessoal, por meio da leitura cuidadosa e regular da Palavra. “Abre
bem a tua boca e tá encherei”, diz o Senhor (Sl 81:10). Você precisa aprender a arte de “abrir
a boca” para meter a Palavra de Deus dentro do espírito. Uma vez ingerida, isto é,
corretamente lida, a Escritura Sagrada provoca uma revolução dentro de você, desce aos
lugares mais profundos, mexe em tudo. Estas coisas acontecem por causa do valor intrínseco
da Palavra e por causa da operação do Espírito Santo.

Kay Arthur reforça: “Se você anseia por conhecer a Deus, se almeja ter comunhão profunda e
permanente com Jesus Cristo, se quer levar a vida cristã com fidelidade, sabendo o que Deus
requer de você, é preciso fazer mais que simplesmente ler a Bíblia e estudar o que alguém
disse a respeito dela. É necessário você mesmo interagir com a Palavra de Deus, absorvendo
sua mensagem e deixando que Deus grave a verdade dele em seu coração, mente e vida.
Este é o âmago do estudo indutivo: que a pessoa possa ver a verdade por si mesma,
discernindo-lhe o significado e aplicando-o à sua vida (...) Quando nos detemos para refletir
sobre o que deus está dizendo e como isso se aplica a nós, é então que o Espírito Santo
aviva a Palavra em nosso coração; é então que sabemos que Ele tem uma mensagem
especial para nós, num momento específico da vida. Ao mesmo tempo em que estudamos a
Bíblia de modo indutivo, devemos lê-la como fonte devocional. Com “devocional” quero dizer:
com um coração que deseja ouvir o que Deus lhe está dizendo. Deus nos fala pessoalmente
por sua Palavra. Portanto, ao ler e estudar, não deixe de separar tempo para ouvir seu Deus”.
20

A professora Durvalina B. Bezerra reforça: “Meditar é abrir o Livro de Deus, para ouvir a Sua
voz, e não para ouvir aquela resposta que já formulamos em nossa mente; para saber como
Ele age ou quer agir a nosso respeito, e não para buscar apenas a confirmação de nossos
atos; para conhecer a revelação de Sua vontade soberana, de Seu caráter, de Sua verdade.
Meditar não é ler a Bíblia na página que for aberta, aleatoriamente, ou ler apenas os Salmos,
mas ler seqüencialmente, A revelação divina obedece a uma ordem de princípios, que deve

20
Kay Arthur. Como estudar sua Bíblia pelo método indutivo. Editora Vida, p. 8, 23-24.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 75
ser entendida parte por parte. Do Gênesis ao Apocalipse, do início de um livro até o seu fim.
Meditar na Palavra requer tempo específico e determinado. Precisamos buscar o maná,
enquanto o sol não esquenta para derretê-lo. Cumpre-nos empunhar a espada do Espírito (a
Palavra de Deus), no início do dia, a fim de estarmos preparados para as lutas do cotidiano.
Meditar requer um espírito persistente, que não se deixa vencer pelas dificuldades ou pelos
obstáculos da vida cristã. Deus precisa ser conhecido, para que saibamos orar e realizar a
Sua obra, segundo o modelo revelado nas Sagradas Escrituras. Precisamos meditar na
Palavra para conhecer a vontade divina e obedecê-la.”21

Realize este empreendimento com qualidade aproveitando as seis seguintes providências,


sugeridas por Elben Lenz César, no livro “Práticas Devocionais”:

1. Ler. Percorra com os olhos o que está escrito. Tome conhecimento do texto. “Buscai no
livro do Senhor e lede” (Is 34:16). O rei de Israel deveria escrever um tratado da lei do Senhor
para ler todos os dias da sua vida (Dt 17:18-20).

2. Meditar. Meditar é mais do que ler. Examine o texto lido. Reflita sobre ele. Gaste algum
tempo para ficar por dentro da mensagem que o texto encerra. Veja a disposição do salmista:
“Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras” (Sl
119:148). Só neste Salmo, o verbo meditar aparece seis vezes (v.15,27,48,78,97 e 148).
Aquele que medita na lei do Senhor de dia e de noite “é como árvore plantada junto a
corrente de águas” (Sl 1:3).

3. Memorizar. Guarde na cabeça o que você leu e meditou. Entregue-o à memória, retenha-
o, não o deixe escapar. Decore. Guarde-a na despensa interior. Veja o propósito do salmista:
“Induzo o coração a guardar os teus decretos, para sempre, até ao fim” (Sl 119:112). Como
está o seu “estoque” mental da Palavra? Se, de repente, você ficasse sem a Bíblia, saberia
decorados quantos versículos bíblicos?

4. Inculcar. Enfie bem para dentro a Palavra de Deus. Coloque-a nas entranhas, “no mais
íntimo do coração” (Pv 7:1-3); torne-a propriedade pessoal. Provoque uma impregnação da
Sagrada Escritura em todo o seu ser. Era isto que Israel deveria fazer com as crianças:
“Estas palavras que hoje te ordeno, tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te” (Dt 6:6-9).

5. Conferir. Compare texto com texto. Não só para descobrir o sentido exato da passagem
lida, mas também para enriquecer o seu conhecimento de toda a Escritura, consultando
outras passagens paralelas.

6. Lembrar. Aprenda a fazer uso prático do que foi guardado na memória e nas entranhas.
Retire da despensa o que já foi armazenado, e sirva-se à vontade. Você nunca vai ficar na
mão, sem assistência, sem tratamento, sem pão. É só lembrar e aplicar. É nesse sentido que
Jesus disse: “Lembrai-vos da mulher de Ló (Lc 17:32). Fez muito bem a Pedro lembrar-se de
que Jesus lhe dissera: “Hoje três vezes me negarás, antes que o galo cante” (Lc 22:61).

Sugestões gerais práticas:


Por causa do temperamento, do estilo pessoal de ler e de estudar e da disponibilidade de
tempo, cada um deve descobrir e adotar, disciplinadamente, a maneira própria mais indicada

21
Citado do seu artigo “Nutrindo a vida espiritual”, publicado na Revista Raio de Luz, edição 105, p. 50-53.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 76
de ler a Bíblia. Os métodos alheios servem apenas de exemplos. Considere, todavia, mais
estas sugestões:

1. Reserve a hora mais propícia do dia para ler a Bíblia22 (o período regular da hora
silenciosa, despendida todos os dias com Deus, quando você pode meditar com espírito de
oração sobre alguns versículos das Escrituras). Assim como fazia Israel quanto à colheita
diária do maná, do crente diligente Deus requer a leitura e o estudo diário da Sua Palavra (Dt
17:19).

Observações:
a) É importante definir a hora certa (qualquer que seja ela), pois, se não fizermos isso, nossas
boas intenções nunca se concretizarão, e leremos a Bíblia apenas ocasionalmente.

b) A melhor hora é aquela em que pudermos sentar-nos aos pés do Senhor, tranqüilos, sem
pressa. Não se pode ser dogmático nem legalista nessa questão. Uma senhora que tem filhos
pequenos, por exemplo, só poderá fazê-lo já pelo meio da manhã. Aqueles que trabalham em
turnos variados terão que adaptar seu horário de acordo com o serviço. Mas como decidimos
buscar em “primeiro lugar o seu reino e a sua justiça”, segue-se que a hora devocional deverá
ter prioridade em nossa vida, juntamente com as outras formas de estudar a Palavra de Deus.

2. Fazer uma leitura devocional não significa que você tenha de desligar o seu intelecto, mas
que a ênfase deve ser dada, com espírito de reverência, a uma aplicação pessoal do trecho
lido.

3. A preocupação maior deve ser com a qualidade da leitura e não com a quantidade. Você
não precisa ler a Bíblia toda durante o ano, mas precisa ler a Bíblia com proveito o ano
inteiro.

4. Procure ler toda a Bíblia — É a única maneira de conhecermos a verdade completa dos
assuntos tratados na Bíblia, visto que a revelação de Deus mediante ela é progressiva (Pv
4:4:17; II Pe 1:19). Não necessariamente de Gênesis ao Apocalipse. Leia grupos de livros: os
livros poéticos, as Cartas de Paulo, os profetas menores, o Pentateuco, os quatro
Evangelhos, os livros históricos e assim por diante. Para seu controle pessoal, coloque a data
do início e do final da leitura em cada livro.

22
Tim LaHaye conta: “Quando eu era jovem, recém-ordenado, conheci um missionário cuja vida e persistência
eu admirava grandemente. Quando lhe indagaram sobre o segredo de seu sucesso, ele respondeu: ‘Nunca passo
um dia sem observar meu momento devocional de oração e estudo da Bíblia, em comunhão com Deus’. Quando
perguntei: Como foi que o senhor aprendeu a ser tão persistente?, ele respondeu: ‘Muito simples. Fiz um voto
sagrado para com Deus – sem Bíblia, não há café.’ A seguir, explicou que houve dias em que um dos filhos
estava doente, ou aconteceram imprevistos que não lhe permitiam passar momentos a sós com a Palavra de Deus.
Mas quando isso se dava, ele dizia: ‘Não vou tomar café. Se estou com pressa e sem tempo para alimentar a alma,
também não tenho tempo para alimentar o corpo – e durante todos estes anos, só deixei de tomar café, por não ter
podido ler a Bíblia, muito poucas vezes’.”
“Devo gastar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. É minha ocupação mais nobre e mais frutífera, e
não deve ser colocada em segundo plano.” — Robert Murray M’Cheyne.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 77
Outros passos a seguir no desenvolvimento do método
devocional:
O método devocional permite um certo grau de flexibilidade, podendo aplicar-se a uma só
palavra, a uma frase, a um versículo, a um capítulo ou a um livro inteiro da Bíblia. Seu
desenvolvimento inclui, ainda:

1. Para o seu estudo devocional diário, faça primeiro uma leitura rápida para ter a idéia geral
do texto. (Geralmente, a definição deste texto virá da seqüência do seu próprio plano mensal
ou anual de leitura da Bíblia – “Haverá momentos, durante a leitura da Palavra, em que um
ou mais versos das Escrituras ganharão vida para nós, e teremos o desejo de parar e pensar
um pouco sobre eles para receber toda a mensagem que o Senhor quer comunicar-nos.”
Campbell McAlpine) Depois de escolher a porção bíblica na qual você se deterá, comece a lê-
la várias vezes com atitude devocional.23

2. A seguir, estude detalhadamente o texto escolhido. É bom adotar algum sistema de


marcação da Bíblia, como anotar referências e alguns tópicos na margem, sublinhar,
sombrear ou grifar um ou mais versículos ou palavras mais importantes, nos quais deseja
concentrar sua meditação. Use sua Bíblia como um banco, guardando nela os tesouros que
Deus lhe dá, para que não se percam. Algumas pessoas preferem ter um caderno ou um
diário, no qual registram tudo que o Senhor lhes diz e ensina. Já aconteceu com você a
experiência de ter recebido de Deus uma idéia, um pensamento, um conceito novo sobre
alguma passagem bíblica, e por falta da reprodução escrita, esqueceu? O esforço de
escrever as notas torna a leitura e a meditação mais sérias e ajuda a memorizar as lições
aprendidas. Além disto, mais tarde você terá condições de retomar estas notas e aprimorar
seus estudos. Cada um deve adotar o método que melhor lhe convier, que o ajude a reter o
máximo possível.

3. Use o dicionário bíblico para entender toda palavra difícil.

4. Descubra as palavras-chave. Visualize os verbos. Considere comparações, contrastes e


repetições.

5. Consulte outras versões.

6. Faça a correlação bíblica.

7. Só consulte as notas de rodapé, comentários e dicionários bíblicos depois do esforço


próprio de entender o texto. Evite a preguiça mental.

8. Faça uma PARÁFRASE, isto é, reescreva o texto bíblico em estudo, com suas próprias
palavras, primando pela clareza da linguagem, sem mudar o conteúdo. Cada palavra
importante do texto bíblico deve ser trocada por outra que lhe seja sinônima dentro da sua
compreensão, segundo o curso normal do seu estudo. Como resultado deste esforço, a
Palavra de Deus falará pessoalmente a você.

23
Certa vez perguntaram a um missionário que fora muito usado por Deus na China como ele lia a Bíblia. E ele respondeu:
“Como bastante batata e um pouco de carne, diariamente.” Pediram-lhe que explicasse essa observação e ele respondeu:
“Todos os dias, leio muitas páginas da Bíblia. Isso seria como comer muita batata, que enche o estômago. Mas também
medito em um ou dois versos. Isso é a carne; é o que nutre.”
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 78
9. Peça sempre o auxílio do Espírito Santo, por meio de uma oração e por meio de uma
atitude de dependência e humildade, para entender as Escrituras e se beneficiar dela. É o
Espírito quem levanta o véu e deixa você ver a riqueza toda que está atrás da mera letra. A
pessoa que procurar entender a Bíblia somente através da percepção intelectual, muito cedo
desistirá disso. Só o Espírito de Deus conhece as coisas concernentes a Deus.

10. APROPRIAÇÃO. À medida que o significado da porção bíblica estudada começa a


perpassar todos os ângulos da sua vida, a viva e eficaz Palavra de Deus (que não volta para
Ele vazia) lhe revelará realidades pessoais específicas às quais você deve aplicá-la. Ou seja,
você então se identifica com a porção bíblica estudada, toma posse do seu significado e faz
com que ela seja parte da sua própria experiência de vida. Neste momento, apenas você com
suas questões existenciais fica exposto à luz reveladora da santa Palavra (apta para discernir
os pensamentos e propósitos do coração), disposto a desnudar seu íntimo na presença de
Deus, ouvir a Sua voz e receber a Sua ministração restauradora.

Você se dispõe a mudar seu ponto de vista e atitudes se descobrir que eles estão fora do
princípio bíblico. Faz isto com firme decisão de ser transformado e habilitado para toda boa
obra, segundo a instrução da Palavra: ela gera conhecimento de Deus e compreensão de nós
mesmos; gera fé, convicção e esperança; ela promove comunhão com Deus e comunhão
com os homens; ela produz conforto em meio a angústias; ela repreende e corrige; ela exerce
poderosa influência nas tomadas de decisão; ela cria uma mentalidade religiosa saudável; ela
acomoda nos porões do subconsciente e forma uma bagagem de valor inestimável, que
aflora naturalmente nos momentos mais necessários.

Deixe a Palavra de Deus prosperar naquilo para que Ele a designou na sua vida, na sua hora
devocional. Uma vez tomada a decisão, lembre-se: o Espírito Santo está ao seu lado para
fortalecer você em seu compromisso cristão – “(...) aquele que começou boa obra em vós há
de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6). A perseverança dos santos não acontece
sem que Deus os preserve pela graça.

Observação: “A Bíblia é a geografia da alma.” Deus nos conhece, compreende nossas


necessidades e problemas. Ele nos possibilita, pelo estudo da Sua Palavra, conhecermos
mais a nós mesmos e discernir nossas motivações, anseios e temores mais íntimos. E no
processo de nos conhecer melhor e de aplicar especificamente em nós a Palavra de Deus,
vamos sendo restaurados em nossa personalidade. Essa é mais uma vantagem da prática
constante do estudo bíblico devocional. Uma grande parte da ajuda que alguns cristãos
buscam nos psicólogos e psiquiatras (e pela qual pagam caro atualmente) seria
desnecessária se adotassem fazer regularmente o estudo devocional da Palavra de Deus.

11. Ame a Palavra: “Quanto amo a tua Lei! É a minha meditação todo o dia” (Sl 119:97).
Quanto mais nos alimentamos da Palavra de Deus, maior se torna nosso amor, nosso apetite
por ela. Considere a possibilidade de decorar um dos versículos nos quais você meditou e
aplicou durante a semana.

12. O seu estudo deve ser transmissível (II Tm 2:2); passe a outros o que tiver o privilégio de
aprender.

Observação: A desvantagem de restringir o estudo da Bíblia ao momento devocional está na


dieta desequilibrada que ele oferece: muito leite, pouca carne. É preciso então que o estudo
seja suplementado de outras maneiras.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 79


O testemunho de Jorge Muller
Deus se dignou ensinar-me uma verdade de cujos benefícios tenho gozado há anos. Entendi,
de uma forma muito clara, que o primeiro cuidado que devo ter a cada dia é alegrar minha
alma em Deus. Então minha primeira preocupação não era procurar ver quantas tarefas
deveria realizar na obra de Deus, mas o que teria de fazer para edificar minha alma no
Senhor, e como iria alimentar meu homem interior. Poderia estudar a verdade da Palavra de
Deus para apresentá-la aos perdidos, para ajudar os crentes, confortar os aflitos e aprender a
me conduzir de maneira mais condizente com um filho de Deus. Contudo, se não me
alegrasse no Senhor, se não me fortalecesse interiormente todos os dias, não teria realizado
nenhuma dessas coisas com a atitude certa.

Anteriormente, eu tinha o hábito de me dedicar à oração assim que me levantava pela


manhã. Mas depois entendi que a atividade mais importante era entregar-me à leitura e
meditação da Palavra. Desse modo, iria sentir-me confortado, inspirado e instruído. Deus me
exortaria e corrigiria, e assim por meio de sua Palavra teria uma comunhão real com o
Senhor.

Então comecei a meditar sobre o NT, todos os dias pela manhã. Fazia uma breve oração
pedindo a bênção dele para sua Palavra, e logo me punha a meditar nela, analisando
detalhadamente cada versículo, procurando tirar dele uma bênção... não para benefício de
meu ministério público, não para pregar, mas para “alimentar” minha alma.

E todos os dias acontecia invariavelmente a mesma coisa. Após alguns minutos, sentia-me
compelido a confessar algum pecado, ou a interceder, ou dar graças, ou suplicar alguma
bênção. O fato é que logo me sentia inclinado a orar. Depois de alguns instantes de oração,
passava às palavras seguintes, transformando-as em oração por mim mesmo ou pelos
outros, de acordo com aquela mensagem bíblica. Mas sempre mantinha em mente que o
objetivo principal da meditação era buscar alimento espiritual para minha alma.

Exercício

Se você não tem o hábito de ler a Bíblia meditativamente, eis uma sugestão para iniciar: separe
um dia em que possa sair da rotina — sem trabalho, interrupções ou compromissos. Talvez você
tenha um lugar favorito no campo ou na praia. Onde quer que seja, encontre um lugar em que possa
passar várias horas sozinho.
Devote seu tempo à meditação em João 4:1-42, o relato em que Jesus visita Samaria. Comece
pedindo a Deus que o ajude a ganhar penetração na Sua Palavra e que mostre como aplicá-la. Então
leia a passagem várias vezes. Use as sugestões para leitura bíblica repetitiva.
Examine as seções antes e depois de João 4 para estabelecer o contexto. Daí observe
cuidadosamente a passagem para responder a questões como: Quem são as pessoas nesta história?
Quem são os samaritanos? Por que era fora do comum para Jesus conversar com tal mulher? Qual
foi a reação dos vizinhos dela? E a dos discípulos? O que Jesus diz a eles quando retornam? Que
lições esta passagem ensina sobre contar a história do evangelho aos outros?
Depois de ter tido uma compreensão da história, pense sobre que implicações ela pode ter para
você. Por exemplo, que tipos de pessoas você normalmente evita? Por quê? Como estas pessoas
reagiriam ao Evangelho? Há alguma coisa que você poderia fazer ou dizer que as ajudaria a se
aproximarem de Cristo e a confiarem nele definitivamente? Quando se trata de evangelismo, você é
semeador ou ceifeiro (vv. 36-38)? Ou nenhum dos dois? Com qual dos personagens da história você
se identifica mais? Por quê?
Como você veio a crer em Cristo? Quem falou de Jesus a você? Qual foi a sua reação? Para
quem você falou sobre Jesus? O que você disse? Qual foi a resposta? Há princípios nesta história
que você poderia usar na próxima vez em que falar a alguém sobre Jesus?
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 80
Você pode fazer perguntas adicionais. O objetivo é mastigar a Palavra, procurando por
esclarecimentos, e examinar a si mesmo, procurando por maneiras de aplicar as Escrituras.
Certifique-se de escrever tudo o que observar na passagem, bem como suas conclusões. E passe
tempo em oração. Com base no que estudou e meditou, o que Deus está lhe dizendo? O que você
precisa dizer a Ele? Em que área você precisa de Seus recursos e ajuda? Que oportunidades de
evangelismo gostaria que Ele abrisse para você?

Método biográfico de estudo da Bíblia


Consiste em estudar a Bíblia procurando conhecer seus personagens (vida, obra e caráter) e
retirar para nossa vida exemplos preciosos: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos,
e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm
chegado” (I Co 10:11). As Escrituras mencionam quase 3.000 indivíduos. Eles foram homens
e mulheres reais, que tiveram os mesmos desejos e necessidades, objetivos e tentações,
esperanças e temores que a humanidade dos nossos dias.

Kay Arthur sintetizou bem: “Por meio de sua Palavra, Deus nos tem dado histórias
verdadeiras de indivíduos que experimentaram vitórias, derrotas, segundas oportunidades,
lutas, êxtases e depressões – gente exatamente como nós. Quando se estudam as
interações de Deus com essas pessoas, tanto ao fazerem coisas certas quanto ao agirem ao
contrário, pode-se obter uma melhor compreensão da santidade, da soberania, da
longanimidade e da justiça de Deus. Ao observar como Ele tratou com as pessoas na Bíblia,
você pode ver de que modo Ele trata com as pessoas hoje. É por isso que o estudo das
personagens é valioso.”

Precauções:

a) Não confundir pessoas com o mesmo nome.


b) Não confundir pessoas que aparecem em narrativas semelhantes.
c) Certas pessoas nas Escrituras parecem ligadas de modo indissolúvel como resultado de
algum incidente, e parece quase impossível considerar uma delas de maneira isolada.

Exemplos: Boaz e Rute; Sansão e Dalila; Marta e Maria.

d) Alguns personagens abrangem muitos capítulos e até mesmo livros inteiros. Nesses casos
de biografias extensas, é melhor manter o estudo em tamanho manejável: estudar certos
períodos da vida destes homens ou estudar suas características mais importantes.

Exemplos: a) “Moisés durante o êxodo”; b) “Vida de Davi, antes de tornar-se rei”; c) “A vida de
Pedro antes de negar a Jesus”; d) “A vida de Paulo antes da sua conversão”; e) “Que diz o
Novo Testamento sobre Abraão” etc. A razão é que existem alguns personagens cuja história
completa é bastante ampla para ser bem analisada num único estudo.

Passos do método biográfico:


1. Escolher a pessoa que você quer estudar.

2. Reunir toda a informação sobre essa personagem. Faça uma lista de todas as citações
sobre essa personagem na Bíblia. Para achar as passagens em que a pessoa é mencionada,
use o sistema de referências de sua Bíblia ou uma concordância.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 81
3. Ler os textos e, ao lado de cada um deles, escrever um resumo da informação a respeito
do personagem.

4. Procurar referências extrabíblicas. Depois que tiver encontrado tudo o que puder da
Palavra de Deus por conta própria, leia um bom dicionário bíblico ou outros livros de
referência para ver o que têm a dizer sobre a pessoa que está estudando. Isso pode ajudar a
reforçar o que aprendeu. Entretanto, ao examinar essas referências, não deixe de compará-
las ao prumo da Palavra de Deus.

5. Compilação do seu material. Uma vez que tenha completado sua pesquisa, há várias
maneiras diferentes de organizar as verdades que descobriu, dependendo do destaque que
deseja dispensar. Pode organizá-la:

a. Cronologicamente, do nascimento até a morte. Usar variadas perguntas estratégicas


que facilitam esta tarefa (ver a lista de perguntas no exemplo seguinte). Não desprezar os
detalhes. Nenhum deles é sem importância; se foi registrado na Bíblia, deve haver um
propósito.

b. De acordo com os acontecimentos mais importantes na vida da pessoa.

c. De acordo com os princípios de vida ou do ministério.

6. Registrar virtudes e fraquezas da pessoa. Por que Deus a considerou grande? Quando ela
falhou? Exponha a realização ou contribuição que mais se destaca naquela pessoa.

7. Escrever uma breve história do personagem. Tentar recriar os fatos e contá-los com
vibração (lembre-se: o personagem bíblico foi um ser humano real).

8. Aplicar. Descubra lições e princípios que podem ser tirados da biografia para aplicá-los em
sua vida. Experimente fazer um arquivo com estudos biográficos dos principais personagens
bíblicos.

Acompanhe, a seguir, um exemplo de estudo biográfico, observando diversas perguntas que


você pode fazer para obter o maior número possível de informação sobre o personagem em
estudo.

Exemplo: Estudando a vida do profeta Samuel


1. Qual é o seu nome?
Samuel.

2. Onde nasceu (localização geográfica)?


Em Ramá, uns 10 km ao norte de Jerusalém (I Sm 1:19-20).

3. Quando nasceu (ano, época ou período histórico)?


Época do sacerdote Eli (1:9,12). A Palavra do Senhor estava rara, as visões não eram freqüentes (3:1).

4. Há algo diferente quanto ao seu nascimento?


Sim; sua mãe era estéril, ele foi resposta de oração (I Sm 1:2,5).

5. Quem foram seus pais? Que tipo de influência os pais exerceram sobre o personagem?
Elcana e Ana; Influência boa (1:1-3); Seus pais eram levitas (I Cr 6:33-38). Toda honra à sua mãe, Ana, nobre
exemplo de maternidade; seu filho tornou-se um dos homens de caráter mais nobre do Velho Testamento.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 82
6. Eventos ou circunstâncias que marcaram os primeiros anos de sua vida?
Morava em Siló, na casa do sacerdote Eli; cuidava do templo (I Sm 2:18,26; 3:1,15).

7. É casado? Quem foi sua esposa e filhos? Qual a contribuição positiva ou negativa deles ao
seu projeto de vida?
Sim; a Bíblia não fala o nome da esposa dele, mas diz que ele tinha filhos, então logicamente era casado (8:1-
5). Filhos: Joel e Abias.

8. Qual era a sua ocupação principal quando adulto?


a. Juiz (I Sm 7:6,15-17; At 13:20).
b. Profeta (At 3:24; I Sm 3:20; 9:6,9,15-20,27).
c. Sacerdote (I Sm 7:9).

9. Quais foram os acontecimentos principais de sua vida? Faça um gráfico das viagens da
pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?
a. Fundador da Monarquia em Israel (I Sm 8:9-22; 10:25; Dt 17:14-20).
b. Fundador da primeira escola de profetas em Ramá (I Sm 19:18-20; 20:1).
c. Ungiu o primeiro rei de Israel: Saul (I Sm 10:1-8).
d. Ungiu o segundo rei de Israel: Davi (I Sm 16:12-13).

10. Como morreu?


De velhice (I Sm 12:2; 25:1).

11. Que influência deixou?


Boa.

12. Análise do caráter do personagem, detectando:


a. Elementos de poder e de êxito.
Foi resposta de oração (I Sm 1:27-28); foi homem de oração (I Sm 7:2-10; 8:6; 12:18-23; 15:11).

b. Elementos de fraqueza e fracasso.


Talvez não educou bem os filhos (8:2-5).

c. Dificuldades vencidas e como venceu; ou: Como reagiu durante tempos de crise?
Arca tomada (4:1-5,17; 5:1-12). Venceu com arrependimento, oração, clamor e jejum (7:2-9).

d. Privilégios que lhe favoreceram.


Nenhum.

e. Oportunidades desperdiçadas.
Nenhuma.
f. Perigos evitados.
Deixar Israel derrotado nas mãos dos filisteus (7:5).

g. Houve crescimento espiritual em sua vida.


Sim (9:6).

Método analítico de estudo da Bíblia


Consiste em analisar cuidadosa e completamente uma passagem bíblica, tendo o cuidado de
notar até os seus pormenores. Seu objetivo é reconstruir tão claramente quanto possível o
pensamento original do escritor. Nessa reconstrução, o estudante irá encontrar os fatos que
levaram o autor a dizer o que disse, da maneira que disse.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 83
Diretrizes para usar o método analítico:

1. Começar seu estudo com oração e dependência no Espírito Santo.


2. Procurar uma passagem com tema completo (parágrafo, secção ou livro).
3. Anotar toda e qualquer minúcia que notar.
4. Seguir os passos da Observação:
a) bombardear a passagem com perguntas: Quem? Quê? Onde? Quando? Por quê? Como?
b) Anotar verbos, substantivos e outras palavras-chaves.
c) Ler repetidamente até sentir que está de posse do texto e que o texto se apossou de você.
d) Resumir a passagem com pequenas sentenças ou fazer uma paráfrase.
e) Sublinhar os verbos; focalizar o assunto central.
5. Esboçar o texto.
5. Seguir os passos da Interpretação.
6. Fazer a Correlação bíblica.
7. Extrair o pensamento-chave da passagem e de cada versículo analisado.
8. Aplicar.

Algumas questões para o estudo


analítico:

1) Qual é o assunto principal?


2) Quem são as pessoas principais?
3) O que o texto diz a respeito de Cristo?
4) Qual é o versículo-chave ou principal?
5) Qual a lição central?
6) Quais são as principais promessas?
7) Qual o erro apontado que devo evitar?
8) Qual o exemplo que devo seguir?
9) O que há nesta passagem que eu mais
preciso aplicar em minha vida?

Exemplo: Estudo Analítico de 1 Pd 2:1-25

Vv.1 (Interpretação): Seguir este conselho


é alienar-se do mundo, pois é assim que o
mundo age. Não segui-lo é alienar-se de
Deus.

Vv. 2 (Aplicação): Peça com ardor o leite


da Palavra.

Vv. 3 (Correlação): Salmo 34:8.

Vv. 1 e 11 (Observação): A santificação é uma das ênfases de 1 Pedro. Ela deve dar-se em
três direções:

a. Para com Deus (v. 13) – esperar, ter fé, apropriar-se da graça de Deus;
b. Para com os outros (v. 1) – relacionada com os últimos seis dos Dez Mandamentos;
c. Para consigo mesmo (v. 11) – estes são pecados que primeiramente ferem a pessoa que
os comete.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 84
Vv. 4-8 (O): Três citações do VT são usadas para explicar o uso de pedra com referência a
Jesus Cristo (Is 8:14; 28:16; Sl 118:22).

Vv. 9-10 (O): Quem somos? Somos...

a. Raça eleita – a palavra eleita (“eleitos”) é empregada em 1:2 também. Fomos eleitos para a
obediência (1:2), e fomos eleitos para o serviço (2:9). A santificação é a nossa meta, e a
obediência é o processo.

b. Sacerdócio real – no vers. 5 é sacerdócio santo; aqui é sacerdócio real, com as figuras
provavelmente tomadas de Melquisedeque, o rei-sacerdote do VT (Gn 14).

c. Nação santa – coletivamente somos o povo de Deus e formamos uma nação singular, povo
cujo carimbo distintivo é a santidade. Nosso alvo é sermos parecidos com Cristo.

d. Propriedade exclusiva, peculiar – somos povo especialmente aparelhado para ser


possessão de Deus. A palavra peculiar, usada em algumas versões, significa “produzido ou
adquirido por alguém para si mesmo” – ou seja, refere-se a algo que é privativo de uma
pessoa. Deus nos adquiriu para sermos um povo para Ele.

(A) Nem sempre fomos essas quatro coisas, razão por que devemos louvar a Deus porque
Ele nos mudou:

1. Das trevas para a luz – do pecado para a gloriosa salvação.

2. Da condição de não povo para a de povo de Deus – da insignificância para propósito e


sentido.

3. Da ausência de misericórdia para tê-la em abundância.

Vv. 12 - Sendo exemplo diante dos incrédulos.

Vv. 13 (O): “toda instituição humana”. Devemos obedecer a todas as leis que não violem as
leis de Deus, quer o governo seja favorável, quer seja hostil, e o fazemos por causa do
Senhor (ver Atos 4:19; 5:25).

Vv. 13,15 (O): as duas ordens dadas nesta parte são sujeição e serviço (“sujeitai-vos”... “pela
prática do bem”).

Vv. 15,19,20 (O): as duas razões dadas nesta porção para submissão e serviço são:

1. demonstrar ao mundo que a vocação de Deus é para uma vida em prol do bem;
2. a Deus agrada tal conduta, visto que reflete o caráter de Jesus Cristo (vv. 21-25).

Vv. 13,14,18 (O): os dois grupos aos quais devemos sujeitar-nos e aos quais devemos servir
são o governo e os empregadores.

Vv. 25 (O): somos bem parecidos com ovelhas extraviadas, mas Cristo nos trouxe de volta
para Si. Isso revela que Ele é:

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 85


a. Pastor: uma das mais antigas descrições de Deus na Bíblia (ver Is 40:11). Ele tomava
conta das Suas ovelhas (do Seu povo), melhor do que o pastor da Judéia tomava conta das
suas ovelhas (dos animais).
b. Bispo ou Supervisor: esta palavra designa aquele que superintende, guarda e protege. É o
que Cristo é para Seu povo (ver Mt 28:20).

Método tópico de estudo da Bíblia


Consiste em estudar a Bíblia por assuntos ou temas específicos. Exemplo: A Carta aos
Romanos, ao desenvolver o seu assunto, toca numa porção de tópicos, tais como, a fé, a
graça, o pecado e a justificação. Entretanto, o tratamento que dá a cada um desses tópicos
não é completo. No método tópico do estudo da Bíblia você vai selecionar um assunto e
investigá-lo em larga escala em grande parte das Escrituras.

O tópico pode ser:

a. literal, isto é, expresso por uma palavra ou expressão bíblica. Exemplos: Fé, Dízimo, Paz,
Esperança, Céu, Inferno, Fidelidade, Graça, Misericórdia, Perseverança, Santificação, Amor,
Perdão, Mansidão, Vitória, Adoração, Temor, Hospitalidade etc.

b. analógico, isto é, expresso por um conceito ou idéia. Exemplos: “Idoneidade dos oficiais da
Igreja”, “Deveres dos pais”, “Divórcio e novo casamento”, “Você é a favor da pena de morte?”

Condutas a seguir no estudo bíblico pelo método tópico:

1. Ter objetividade na escolha do tópico ou tema a ser estudado e delimitar sua extensão ou
abrangência. Tratando-se de um assunto muito geral, a tarefa pode ser simplificada tomando-
se apenas um aspecto do assunto. Exemplo: Ao invés de estudar o tema “Pecado” em toda a
Bíblia, procure examiná-lo num estudo concentrado na Primeira Carta de João.

2. Analisar os desdobramentos do significado do tema escolhido.


Exemplos:

a) Se escolher estudar “A Lei de Deus”, procurará também referências bíblicas relacionadas


às seguintes palavras com idéias semelhantes: estatuto, mandamento, juízo, preceito,
testemunho.
b) Se escolher o tema “Submissão a Deus”, o dicionário de português lhe dá a dica:
Submissão é obediência, humildade, respeito. Assim, você descobre que “submissão” implica
alguns comportamentos, os quais devem ser incluídos no estudo.

3. Procurar minuciosamente em toda a Bíblia ou no livro restrito à pesquisa passagens


relacionadas ao assunto a ser estudado. Listar essas passagens, em anotação paralela.

4. Escrever resumidamente o teor de cada texto pesquisado (o pensamento-chave), levando


em consideração suas anotações obtidas na Observação, Interpretação e Correlação das
passagens selecionadas.

5. Ordenar o assunto em forma de esboço, dividindo-o em pontos e sub-pontos. Esta ordem


pode ser numérica, cronológica, lógica, comparativa, contrastante, ou ainda qualquer outra,
dependendo dos objetivos em mente. Certifique-se de tratar do tópico de modo coerente e
completo.
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 86
Exemplo: A palavra “consciência” aparece cerca de 30 vezes na concordância bíblica. Para
classificar o material do tópico “consciência” é possível colocá-lo em duas categorias:

a. Características de uma consciência insatisfatória: Fraca (1 Co 8:7,12); Cauterizada (1 Tm


4:2); Corrompida (Tt 1:15); Má (Hb 10:22).

b. Aspectos de uma consciência satisfatória: Purificada (Hb 9:14); Boa (At 23:1; Hb 13:8);
Pura (1 Tm 3:9); Inofensiva (At 24:16).

6. Notar o relacionamento entre o tópico e o contexto. Cada vez que uma porção das
Escrituras é retirada do contexto – isto é, das palavras, sentenças e parágrafos à sua volta –
essa porção bíblica pode ser mal-interpretada. Portanto, é importante observar o contexto e o
verdadeiro sentido do tópico.

7. Buscar conclusões legítimas e práticas (Aplicação), tendo o cuidado de não forçar a Bíblia
para sustentar idéias pessoais.

Exemplos:

1. Tópico ou tema: “Privilégios que podem pertencer a todos nós”. Pesquisa do tema restrita
ao Novo Testamento. Subdivisões possíveis:

a) O privilégio de tornar-se filho de Deus (Jo 1:12).


b) O privilégio de tornar-se herdeiro de Deus (Rm 8:16-17).
c) O privilégio de tornar-se discípulo de Cristo (Jo 8:31).
d) O privilégio de tornar-se amigo de Cristo (Jo 15:13-15).
e) O privilégio de tornar-se cooperador de Deus (I Co 3:9).

2. Tópico ou tema: “Homens em quem Deus tem prazer”. Pesquisa restrita ao Antigo
Testamento. Subdivisões possíveis:

a) Deus tem prazer em homens íntegros (Pv 11:20).


b) Deus tem prazer em homens tementes a Ele (Sl 147:11).
c) Deus tem prazer em homens obedientes (I Sm 15:22).
d) Deus tem prazer em homens que falam a verdade (Pv 12:22).

3. Tópico ou tema: “A vontade de Deus”. Procurar na concordância e transcrever para uma


folha de papel todas as referências relativas à vontade de Deus. Ver que algumas se
repetem. A seguir, ler várias vezes as passagens relacionadas, até perceber que seguem
uma certa linha de pensamento. Observar, Interpretar, Correlacionar. Esboçar o estudo, que
pode adquirir o seguinte aspecto:

I. Deus tem um plano para nossa vida – Salmo 32:8, Is 30:21; 58:11; Rm 12:1-2.
II. Exemplos de revelação da vontade de Deus: Cristo – Lc 22:42; Jo 4:34; Davi – At 13:22 e 36.
III. A vontade de Deus para todos os homens
1. Que se arrependam e sejam salvos – I Tm 2:4; II Pe 3:9; Mt 18:14; Jo 6:40.
2. Que sejam cheios do Espírito Santo – Ef 5:17-21.
3. Que sua mente esteja sempre cheia da Palavra de Deus – Cl 1:9; 4:12.
4. Que rendam sua vontade e corpo a Ele – Rm 12:1-2.
5. Que sirvam Cristo de coração alegre – Ef 6:6-7
6. Que vivam uma vida santificada e moralmente pura – I Ts 4:3; I Pe 4:2.

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7. Que dêem graças em tudo – I Ts 5:18.
IV. Os prêmios para quem faz a vontade de Deus – I Jo 2:17.
V. As conseqüências da desobediência à vontade de Deus – Mt 7:21.

Método livro por livro ou


Método sintético de estudo da Bíblia
Aborda cada livro da Bíblia como uma unidade e procura entender o seu sentido como um
todo. Evita minúcias, e estuda os itens mais importantes no escopo global do livro. Com o
método analítico você olhou o texto através de um microscópio; com o método sintético livro
por livro você olha através de um telescópio. O que o escritor, movido pelo Espírito Santo,
tinha em mente quando escreveu? Qual o pensamento-chave ou idéia principal do livro?
Como atinge ele o seu objetivo? São desta espécie as questões relevantes para o método
sintético. Como em todos os métodos de estudo da Bíblia, você incorpora as quatro partes
básicas: Observação, Interpretação, Correlação e Aplicação.

Por que estudar a Bíblia livro por livro?


1. Os livros da Bíblia foram escritos como um todo, sem a separação em capítulos e
versículos, conforme temos hoje.

2. Para entender a mensagem do livro, temos de estudá-lo como um todo.

3. A leitura repetida do livro favorece nossa compreensão e assimilação global de seu


conteúdo e nos habilita a estudá-lo melhor.

4. Cada livro se relaciona à Bíblia como um todo, isto é, em conexão com as idéias
dominantes das Escrituras. A Palavra de Deus é uma produção orgânica e,
conseqüentemente, os livros separados que a constituem são organicamente relacionados
uns aos outros. O Espírito Santo assim dirigiu os autores humanos na escrita dos livros da
Bíblia para que suas produções fossem mutuamente complementares.

Sugestão:
Trabalhe com um livro por mês, tempo suficiente para você ler o livro todo várias vezes,
observar sua estrutura, identificar os termos chaves, investigar os personagens centrais, fazer
trabalho de pano de fundo com fontes secundárias e decidir formas práticas de aplicar as
verdades do livro à sua vida.

Qualquer livro se encaixará em um plano mensal de estudo, mas algumas sugestões para
começar poderiam ser: Neemias, Jonas, o evangelho de Marcos – estes são narrativas fáceis
de se ler, com enredo e caracterização – I Coríntios, Filipenses, Tiago ou I Pedro – estes são
cartas curtas e práticas a cristãos. Você não terá muito problema em entender o que os
escritores estão tentando dizer. Livros mais longos do Antigo Testamento podem ser divididos
em partes e lidos em períodos concentrados de tempo.

O estudioso da Bíblia deve almejar descobrir não só a mensagem que cada livro contém para
os contemporâneos do autor, mas o seu valor permanente, a palavra de Deus transmitida
para todas as gerações futuras.

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 88


A visão panorâmica do livro ajudará o estudante a:
a. ver a mensagem do livro como um todo, no conjunto;
b. compreender o propósito do autor ao escrever;
c. identificar o(s) tema(s) principal(is) do livro;
d. tomar consciência da estrutura do livro;
e. compreender a correlação dos versículos e dos capítulos entre si e com o livro como um
todo;
f. ter uma base sólida para a interpretação precisa e para a aplicação correta.

FICHA DE ESTUDO LIVRO POR LIVRO


Alguns exemplos de informações a serem reunidas no estudo de um livro da Bíblia

I. O autor do livro. 1. Quem é o autor? 2. Há provas internas e/ou externas de autoria? 3.


Quais os outros livros que ele escreveu? 4. Quais os outros livros que mencionam seu nome
ou feitos? 5. Qual a sua profissão? 6. Que tipo de pessoa ele era?

II. Os destinatários do livro. 1. A que grupo racial o livro se dirige (judeus, gentios)? 2. Qual
a perspectiva religiosa deles? 3. Que palavra (s) é (são) usada(s) para caracterizá-los? 4.
Qual era a posição social deles (pobreza, nobreza)? 5. Quem eram seus líderes? 6. De que
eles viviam (agricultura etc.)?

III. A data e a época do livro. 1. Em que ano o livro escrito? 2. Que guerra, ação inimiga ou
catástrofe natural ameaçava ou aconteceu? 3. Que líder secular dominava o cenário político?
4. Onde o livro se encaixa na seqüência bíblica?

IV. O contexto geográfico do livro. 1. Quais países e cidades se destacam no livro? Que
locais específicos são enfatizados? 2. Que rio, montanha ou planície forma o palco onde
Deus atuou para se revelar?

V. Confirmações arqueológicas do livro. Quais objetos ou inscrições arqueológicas


confirmam os eventos e/ou personagens do livro?

VI. Cenário cultural do livro. 1. Quais superstições, tabus, ou elementos de magia


aparecem? 2. Qual o valor conferido à família? 3. Quais costumes aparecem quanto à
alimentação, vestuário, comércio, guerra, religião, idioma etc.? 4. Qual o código ético/moral
demonstrado?

VII. Conteúdo. 1. Por que o livro foi escrito ou Com que propósito? 2. Quais os principais
assuntos e personagens abordados? 3. Que problemas são mencionados e que soluções são
propostas?

VIII. Tema teológico do livro. 1. Qual o assunto geral do livro (salvação, santificação,
julgamento)? 2. Que frase ou combinação de palavras se repete; que tema isto sugere para o
livro? 3. Segundo os livros técnicos, qual seu tema?

IX. Qual a mensagem do livro para nós hoje?

X. Esboço do livro (isto se revelará passo útil para a visão do livro como uma unidade e para
comparar as partes entre si). Comentários adicionais e/ou gráfico do livro.

Nota: Você pode extrair muitas destas informações do próprio livro em estudo; para alguma
parte terá que recorrer às fontes secundárias. Naturalmente, nem todas as perguntas terão
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 89
respostas. Mas, como estudante desejoso de conhecer cada vez com mais profundidade a
Bíblia, você irá continuamente pesquisar o maior número de respostas possíveis.

Outros métodos
Além dos cinco métodos de estudo da Bíblia abordados nesta apostila, outros métodos têm
sido usados, como:

Método Indutivo.
Os raciocínios indutivo e dedutivo são complementares. Precisamos deles em qualquer
disciplina. Pelo raciocínio dedutivo, parte-se de uma regra, e provam-se os fatos através
dessa regra. O raciocínio indutivo, por outro lado, considera os fatos examinados em busca
de regras extraídas deles mesmos. Ao fazerem uso de ambos os raciocínios para interpretar
as Escrituras, os estudantes têm ficado admirados com a unidade e coerência dos
ensinamentos bíblicos. Quanto aos iniciantes, devem utilizar primeiro o método indutivo. O
estudo bíblico indutivo pode ser realizado a sós ou em grupos de pessoas que concordam em
estudar o mesmo livro e são capazes de examinar as idéias umas das outras.

Método Tipológico.
É o estudo da Bíblia a partir de Tipos ou Tipologia: certas pessoas, acontecimentos,
instituições, rituais e objetos do Antigo Testamento prenunciam de maneira expressiva
alguma verdade importante do Novo Testamento, e nos ajudam a melhor compreender e
amar essas verdades.

Método Doutrinário ou Teológico.


É o estudo da doutrina bíblica ou teologia sistemática, que reúne os temas dos grandes
fundamentos da fé. Exige habilidade exegética e interpretativa.

Conclusão
Os métodos são ferramentas; de maneira alguma devem bitolar o seu comportamento em
relação ao estudo da Bíblia. Para tanto, aprenda a manejá-los e use a inteligência e
sabedoria para dinamizá-los.

Lembre-se: 1. A criança não sabe e sabe que não sabe;


2. O louco não sabe e pensa que sabe;
3. O complexado sabe, mas pensa que não sabe;
4. O sábio sabe que sabe e que precisa saber muito mais.

“Da preguiça que aceita meias verdades; da covardia que teme novas verdades; da soberba
que pensa saber toda a verdade, LIVRA-ME, SENHOR!”

“É imprescindível o preparo de uma nova geração capaz de crer e viver a Palavra como única
regra de fé prática.”
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Anexo
Programas de leitura e de estudo da Bíblia
É importante que o estudante tenha uma visão geral da Palavra de Deus, para que os
métodos de estudo aqui apresentados sejam examinados à luz do todo. Um bom plano de
leitura bíblica compreende um sistema bem definido. Há vários programas organizados que
você poderá ajustá-los como achar necessário ao seu próprio programa de estudo.

Curiosidades:

a. Se lermos a Bíblia durante 15 minutos diariamente, poderemos lê-la toda em menos de um ano.
b. Uma leitura ininterrupta deve levar aproximadamente 72 horas (VT entre 52 e 53 horas e
NT, entre 18 e 19 horas).
c. Se a leitura for por capítulos – por exemplo, 10 deles ao dia – terminaremos a leitura em
três meses e meio aproximadamente.
d. Se lermos 6 páginas da Bíblia por dia, poderemos lê-la toda 2 vezes num ano.

Leitura diária + Estudo bíblico + Memorização = 35 Minutos

15 minutos 15 minutos diários 30 minutos por por dia ou 4 horas


ou 30 minutos, 3 semana e depois e 5 minutos por
vezes por semana momentos de folga semana

1. Plano de leitura para um ano

Sugerido por Hendricks, este plano de leitura para um ano levará você através de onze
diferentes tipos de livros:

Janeiro: Gênesis Maio: Salmos 76—150 Setembro: Eclesiastes


Fevereiro: Filipenses Junho: Lucas Outubro: I Pedro
Março: Oséias Julho: I Samuel Novembro: Neemias
Abril: Salmos 1—75 Agosto: II Samuel Dezembro: Atos

2. Plano de leitura bíblica em 52 semanas

Sugerido no Manual Bíblico Vida Nova, conduz o leitor uma vez pelo Antigo Testamento e
duas pelo Novo Testamento em um ano:

1. Gênesis 1—26 11. Números 1—18 18. Hebreus, Tiago, I e II


2.Gênesis 27—50 12. Números 19—36 Pedro
3. Mateus 13. Romanos, Gálatas 19. Josué
4. Marcos 14. I e II Coríntios 20. I, II e III João, Judas,
5. Êxodo 1—21 15. Deuteronômio 1—17 Apocalipse
6. Êxodo 22—40 16. Deuteronômio 18—34 21. Juízes, Rute
7. Lucas 17. Efésios, Filipenses, 22. Jó 1—31
8. João Colossenses, I e II 23. Jó 32—42, Eclesiastes,
9. Levítico Tessalonicenses, I e II Cântico dos Cânticos
10. Atos Timóteo, Tito, Filemom 24. I Samuel

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 91


25. II Samuel 38. Marcos 49. Efésios, Filipenses,
26. Salmos 1—50 39. Lucas Colossenses, I e II
27. I Reis 40. Jeremias 1—29 Tessalonicenses, I e II
28. II Reis 41. Jeremias 30—52, Timóteo, Tito, Filemom
29. Salmos 51—100 Lamentações 50. Obadias, Jonas,
30. I Crônicas 42. João Miquéias, Naum,
31. II Crônicas 43. Atos Habacuque, Sofonias,
32. Salmos 101—150 44. Ezequiel 1—24 Ageu, Zacarias, Malaquias
33. Esdras, Neemias, Ester 45. Ezequiel 25—48 51. Hebreus, Tiago, I e II
34. Provérbios 46. Romanos, Gálatas Pedro
35. Mateus 47. I e II Coríntios 52. I, II e III João, Judas,
36. Isaías 1—35 48. Daniel, Oséias, Joel, Apocalipse
37. Isaías 36—66 Amós

3. Plano de um mês do Novo Testamento

James C. Denison sugere um plano para ler o Novo Testamento inteiro em um mês. Este tipo
de programa intensivo proporciona uma boa visão geral do Novo Testamento, no que diz
respeito a seus temas e doutrinas principais. Siga esta regra durante três meses, lendo em
três diferentes traduções. Este é o programa:

1. Mateus 1—9 17. Atos 21—28


2. Mateus 10—17 18. Romanos 1—6
3. Mateus 18—24 19. Romanos 7—16
4. Mateus 25—Marcos 4 20. I Coríntios 1—9
5. Marcos 5—10 21. I Coríntios 10—16
6. Marcos 11—16 22. II Coríntios
7. Lucas 1—6 23. Gálatas, Efésios
8. Lucas 7—11 24. Filipenses, Colossenses e I Tessalonicenses
9. Lucas 12—18 25. II Tessalonicenses, I e II Timóteo
10. Lucas 19—24 26. Tito, Filemon, Hebreus 1—9
11. João 1—7 27. Hebreus 10—13, Tiago
12. João 8—14 28. I e II Pedro, I, II e III João
13. João 15—21 29. Judas, Apocalipse 1—11
14. Atos 1—7 30. Apocalipse 12—22
15. Atos 8—14
16. Atos 15—20

Note que você não vai ler o mesmo número de capítulos a cada dia. O programa se destina à
leitura de aproximadamente o mesmo número de páginas diariamente, em vista da variação
no comprimento dos diferentes capítulos.

4. Plano do Novo Testamento em três meses

Um segundo modelo mantém a mesma abordagem geral que o anterior, mas exige menos
leitura diária. Este programa tem sido útil para muitos, no sentido de desenvolver disciplina no
estudo bíblico.

Primeiro Mês Segundo Mês Terceiro Mês

1. Mateus 1—3 1. João 1—2 1. I Coríntios 10—11


2. Mateus 4—6 2. João 3—4 2. I Coríntios 12—13
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3. Mateus 7—9 3. João 5—7 3. I Coríntios 14—16
4. Mateus 10—12 4. João 8—10 4. II Coríntios 1—4
5. Mateus 13—14 5. João 11—12 5. II Coríntios 5—8
6. Mateus 15—17 6. João 13—14 6. II Coríntios 9—13
7. Mateus 18—20 7. João 15—16 7. Gálatas 1—4
8. Mateus 21—22 8. João 17—18 8. Gálatas 5—6, Efésios 1—2
9. Mateus 23—24 9. Atos 1 9. Efésios 3—6
10. Mateus 25—27 10. Atos 2 10. Filipenses
11. Mateus 28—Marcos 1 11. Atos 3—5 11. Colossenses
12. Marcos 2—4 12. Atos 6—7 12. I Tessalonicenses
13. Marcos 5—6 13. Atos 8—10 13. II Tessalonicenses
14. Marcos 7—8 14. Atos 11—12 14. I Timóteo
15. Marcos 9—10 15. Atos 13—14 15. II Timóteo
16. Marcos 11—12 16. Atos 15—16 16. Tito
17. Marcos 13—14 17. Atos 17—18 17. Filemon, Hebreus 1—4
18. Marcos 15—16 18. Atos 19—20 18. Hebreus 5—9
19. Lucas 1—2 19. Atos 21—23 19. Hebreus 10—13
20. Lucas 3—4 20. Atos 24—26 20. Tiago 1—2
21. Lucas 5—6 21. Atos 27—28 21. Tiago 3—5
22. Lucas 7—8 22. Romanos 1—2 22. I Pedro
23. Lucas 9—10 23. Romanos 3—4 23. II Pedro, I João
24. Lucas 11 24. Romanos 5—7 24. II, III João
25. Lucas 12—13 25. Romanos 8—10 25. Judas, Apocalipse 1—3
26. Lucas 14—16 26. Romanos 11—13 26. Apocalipse 11—13
27. Lucas 17—18 27. Romanos 14—16 27. Apocalipse 8—11
28. Lucas 19—20 28. I Coríntios 1—3 28. Apocalipse 12—15
29. Lucas 21—22 29. I Coríntios 4—6 29. Apocalipse 16—19
30. Lucas 23—24 30. I Coríntios 7—9 30. Apocalipse 20—22

5. Sumário de três anos de leitura bíblica

A programação de leitura, a seguir, sugerida por Tim Lahaye, tem por objetivo dar forma ao
processo de aprendizado a ser seguido pelo recém-convertido.

Primeiro ano

I João (sete vezes)


Evangelho de João (duas vezes)
Evangelho de Marcos (duas vezes)
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemom
Evangelho de Lucas
Atos
Romanos
Novo Testamento (duas vezes)

Segundo ano

Um capítulo de Provérbios por dia, durante quatro meses


Dois capítulos de outro livro de sabedoria, diariamente (Jó, Salmos, Eclesiastes e Cantares)
Ler várias vezes durante um mês:
I João
Efésios
Filipenses
Colossenses
I Tessalonicenses
Tiago
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Romanos 5—8
João 14—17

Terceiro ano

De segunda a sábado:
Um capítulo do Novo Testamento
Dois capítulos do Velho Testamento
Aos domingos;
Cinco capítulos do Velho Testamento

6. Programa de estudo de longo alcance

Walter A. Henrichsen sugere um programa de sete anos, organizado para 45 semanas de


estudo por ano.

Estudo Semanas
Primeiro ano I Tessalonicenses 7
I João 7
Filipenses 6
Estudos Tópicos: Salvação 2
Testemunho 2
Seguir a Cristo 2
Evangelho de Marcos 18
Estudo Biográfico: Daniel (Dn 1—6) 1
Segundo ano Colossenses 6
Biográfico: Jesus Cristo (divindade, morte, ressurreição) 3
I Timóteo 8
Estudo Biográfico: Timóteo 1
Evangelho de João 23
Estudo Tópico: Oração 2
Estudo Biográfico: Josias (II Rs 22—23; II Cr 34—35) 1
Estudo Analítico: Isaías 52:13—53:12 1
Terceiro ano Gálatas 8
Estudo Tópico: O Espírito Santo e o senhorio de Cristo 3
Efésios 8
Estudo Biográfico: Barnabé 1
Romanos 18
Estudo Analítico: Êxodo 20 1
II Timóteo 6
Quarto ano Estudo Tópico: A Palavra de Deus 2
Tito 5
Estudo Biográfico: Gideão (Juízes 6—8) 1
Estudo Tópico: Obediência 1
Biográfico: José (Gn 28—50) 2
Atos 30
Estudo Analítico: Êxodo 12 1
Estudo Tópico: Firmando o rumo 1
Estudo Analítico: Gênesis 3 1
Tópico: Visão Mundial 1
Quinto ano I Pedro 7
Estudo Tópico: Sofrimento 1
Estudo Analítico: Josué 1 1
I Coríntios 18
Estudo Biográfico: Elias (I Rs 17—22; II Rs 1—2) 1
Tópico: A vontade de Deus 2
Hebreus 15
Sexto ano II Tessalonicenses 5
Estudo Tópico: Mordomia e Generosidade 2
Estudo Analítico: Gênesis 22 1
Estudo Tópico: Amor 2
FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 94
Estudo Analítico: Salmo 1 1
Estudo Tópico: A segunda vinda de Cristo 3
Estudo Analítico: Salmo 2 1
Estudo Biográfico: Ezequias (II Rs 18—20; II Cr 29—32; Is 35—39) 2
Evangelho de Lucas 26
Estudo Tópico: A Igreja 2
Sétimo ano Tiago 7
Estudo Tópico: A língua 1
Tentação e vitória 1
Pureza 1
Estudo Biográfico: Eliseu (II Rs 1—13) 1
II Pedro 5
Estudo Tópico: Arrependimento 1
Pecado 2
Satanás 2
Estudo Analítico: Salmo 23 1
Salmo 37 1
II Coríntios 15
Estudo Analítico: I Samuel 17 1
II Samuel 7 1
Estudo Tópico: Disciplina e diligência 1
Boas Obras 1
Estudo Analítico: Provérbios 2 1
Salmo 78 1
II João 1

FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 95


Bibliografia Consultada
___________________________________________________________________________

ARTHUR, Kay. Como estudar sua Bíblia pelo método indutivo. Editora Vida, São Paulo-SP.
2000 (2ª imp.).

BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. Editora Cultura Cristã, São Paulo-SP.
2000 (1ª ed.).

BOST, Bryan Jay. Do Texto à Paráfrase: Como Estudar a Bíblia. Editora Vida Cristã, São
Paulo-SP. 1992.

BRAGA, James. Como Estudar a Bíblia. Editora Vida, São Paulo-SP. 2001 (7ª imp.).

CARSON, D. A. A Exegese e suas Falácias. Edições Vida Nova, São Paulo-SP. 1992.

FEE, Gordon D. & STUART, Douglas. Entendes o que lês? Ed. Vida Nova, São Paulo-SP.
2000 (2ª ed., reimp.).

HENDRICKS, Howard G. & HENDRICKS, William D. Vivendo na Palavra. Editora Batista


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HENRICHSEN, Walter A. Métodos de Estudo Bíblico. Editora Mundo Cristão, São Paulo-SP.

HENRICHSEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia. Editora Mundo Cristão. São


Paulo-SP.

JACKMAN, David. Descobrindo a Bíblia. Editora ESCALE. Belo Horizonte-MG. 2005.

LaHAYE, Tim. Como Estudar a Bíblia Sozinho. Editora Betânia, Belo Horizonte-MG.1984 (5ª ed.).

LENZ CÉSAR, Elben M. Práticas Devocionais. Editora Ultimato, Viçosa-MG. 1994 (2ª ed.).

McALPINE, Campbell. A Sós com Deus na Meditação da Palavra. Editora Betânia, Belo
Horizonte-MG. 1988.

MEER, A. L. van der. O Estudo Bíblico Indutivo. ABU Editora, São Paulo-SP. 1999 (4ª ed.).

OLIVEIRA, Raimundo de. Como Estudar e Interpretar a Bíblia. CPAD, Rio de Janeiro-RJ.
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FATEC – Faculdade de Teologia e Ciências 96

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