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MANUAL DE _INVESTIGACAO EM CIENCIAS 4 a § G s Z SG | 2 = g a Ee £ a ~ & z g Zz Zz 3 ° T ReAo) CAG a OES) [ANTES DE SOCRATES —INTRODUGAO AOesrcoC DA TILCSOAA GRECA Soe Tia Sonos HISTORIA DA FILOSOFIA — PERIOD eran Yan Sterergen Sean Foi Lyd METAEIALOGOS Gregor ates : ELEMENTCS DEFILOSOFIA DA CENCIA {dvi Geyonat DO MUNDD FECHADO AO UNIVERSO IANO Dlexnae Kye (GEOGHAFIA HUMANA —TEORIAS suas APUCACOES MG. Heda 2. Ken (05 GRBG0s EO IRRACIONAL, Bie bass CREP }SCULODAIDADE MEDIA SurouruaaL ‘ONASCIMENTO DEUMA NOVA SICA Bernd Caen [AS DEMOGRACIAS CONTEMPORENEAS ‘ren pn [ARAZEO AS COISAS HUMANAS Ftten Siroe ‘PRE-ABULOS — os PaMtERo® Passes Bo HOMEY. Yes Compas oToMISMO PVanSeterthex ‘LUGAR DA DESOKDEM Rastand Evdon ‘CONS=SSOECONFLITO Qn Minin ip Manat DEINVESTIGAGAO EMCENGAS SOCTS Faymurd iy Li Van Cangestaus INAGEES ENACIONALISMO, Eres Geter ANGISTIA ECOLOGICA EOFLTURO REFLEXOSS SOBRE A REVOLLGAO Narunora NSOMBR’.— ESTUDO SOBRE ‘RecAkDESTINIDADECOMUNISTA Do Sank 40 FAZER: PORQUE ORGANIZARA CIENCIA 12, PARA UMA HISTORIACULTURAL, EM Gombe 24 AIDEXTDADEROUBADA Jou Care Games. ve 25, AMETODOLOGIA DAECONOMIA are Bag 26 A VELIIA EUROPA EANOSSA Sequel Galt 27, ACULTURA DA SUBTILEZA — ‘ASPECTOS DA FILOSOFIA ANALITCA MPS. Lowen 28. CONDICDES DA LIBERDADE rat Geter 29, TELEVISAO, UM PERIGO PARA ‘ADEMOcRACIA Ret Paper J Coney 20, RAWLS UMA TRORIA DA JUSTICA Eos seis cairicos Chand Kaba ip Flt 31, DEMOGRAPIA EDES:NVOLVENTO: ELEMENTOSBASICCS ‘lng Toes. 32 OREGR:SSO DO FOLITICO hat Heute 133 AMUSA APRENDE 4 ESCREVER Exe Haeeh 34 NOVASREGRAS DOMETODO S0COL36IC0 ‘wthony ides 28, AS POLITICAS SOCIAIS EM FORTUGAL Feng Metin Carer 16 A ECONOMIA PORTUGUESA PESDE 1960 Souk nv Lape (COMO REALIZAR Un PROJECTC BEINVESTIGAGAO ‘i Bel ARQUEDLOGIA— UMA BREVE ItmonAGA0 pRATICcAS EMETODOS DE INVESTIGAGAO EM CIENCIAS SOCIAIS {ye Allo Prague Digs Jem-Pierre hemor Chit Naroy Dan Rog Pree Sain Geoes 46. A sRERDLICA VELHA sao er 3 sien Roget Soe (05 NOV0S MEDIA EO ESPAGD ROBLICO™ RAYMOND QUIVY LUC VAN CAMPENHOUDT vA & v7 MANUAL DE INVESTIGACAO EM CIENCIAS SOCIAIS reapucio JOO MINFOTO MARQUES, MARIA AMALIA MENDES EMARIA CARVALHO REVISAOCIENTIICA UI SANTOS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA DA UNVERSIDADE NOVA DEL 380A, Titulo original francés: Manuel de cecherche en sciences sociales © Dunod, Paris, 1995 ‘Tradugio: Jodo Minhoto Marques, Maria Amélia Mendes ¢ Maria Corvelho Revisio cientifica: Rui Santos ‘Capa: Armando Lopes Fotocomposigao: Gradiva Impressto e acabamento: Manuel Barbosa & Fithos, L.# Reservados os direitos para Portugzl por: Gradiva - Publicagdes, L” Rua de Almeida e Sousa, 21, rlc, esq. — Telefs. 397 40 67/8 1350 Lisboa 2 edigfo: Janeiro de 1998 Depésito legal n.° 118 675/97 Indice Preficio & 2.* edigio OBIECTIVOS £ PROCEDINENTO 1, 0s objectivos .. 15 1.1. Objectives. gerais : 1s 1.2. Coneepsto didéctica 7 13. elnvestigagiow em «ciércias» socials? 19 2. O procedimento ... 2.1. Problemas de métodc (c eaos original.. ou t€s maneiras de ‘comegar mal). 20 2.2..As etapas do srocedimento 24 Primera eee [A PERGUNTA DE PARTIDA, Onjectivos 31 1. Uma boa forma de actuar 7 32 2. 0s eritérios de uma boa pergunta de partida 34 21. AS qualidades de claeza 35 2.2.As qualidades de exequ:bilidade 37 213. As qualidades de pestinéncia 38 + Resume da primeira etapa. 44 * Trablt de epliagto mfr ‘de urna pergunta de pare tid 4s 3. E se ainda tiver reticéncia 45 Segunan aap A EXPLORNGAO Objectivos 1. A leitura .. LILA escotha e a organizagio das lsituras + Trabalho de oplicapdo n? 2: escotha das primeiras leituras 1.2.Como Jet? enone + Trabalho de oplicazto n? 3 tama gretha de leita + Trabalho de aplicopao * Trabalho de aplicacdo n* 5: con leltura de um texto cem a ajuda de 2, As entrevistas exploratérias 2.1.Com quem € stil ter uma envrevista? 2.2.1Em que consistem as entrevistas e conto realizélas? 213.A exploragto das entrevistas explorat6ras.. + Trabalho de aplicagao explorabirias on eaizagto ¢ anélise de entrevists 3. Métodos exploratérios complementarss .... + Resumo da segunda etapa “Tabata de alias? 7 forma ‘ta ‘peau pa tide Teer pa A PROBLEMATICA * Objectivos .... 1. Diis exemplos de concepeio de uma problemitica 1.1.0 suit 1.200 ensine 2. Os dois mementos de uma problematica .. 2.1.0 primo momento fazer bingo eer a problemas possiveis 2.0 segunio momento: atrbuirse uma problemétea + Resume da terceira etapa + Trabalho de aplicago n° 6 a escolha e a sxcigto problemstiog nen 31 37 38 or 6 Co n n 9 2 83, 85 86 (Quarts etme [A CONSTRUGAO DO MODELO DE ANALISE Odjectives .. . 109 1. Dols exemplos de construgio do modelo de anise ...... 110 1.1.0 suet so 10 1.2! Marginclidade €.delinguéncia. us 2. Porqué as hipéteses? 119 3. Como proceder concretamente? smu 120 3.1.A construgdo dos conceit. 121 3.21 constugdo das hipOtes 135 + Resuno da quarta tape. 159 + Trabaiho de plleagdo n° 9: defnigio dos conceitos & base © formulagso das principas hipéteses de investigago 131 + Tabuih de opiate n° 10: exlctago do moto de sn lise vem so 131 ina eps. ‘A OBSERVAGKO Objectives ... 155 1. Observar 0 qué? A definigio dos dados pertinentes nnn 155 2. Observar em quem? O campo de andlise e a selecslo das unidades de observacio so . 157 2.1.0 campo de andlise... 137 221A amosta 139 3. Observar como? Os instrumentas de observacio ea reco- Tha dos dedos 1683 3.1.A elaboragéo dos irstrunentos de observag%0 wun 163 3.2. As trés opereg6es da abservagdo 181 4. Panorama dos principais métodos de recolha das informa- goes = 186 4.1.0 auto por questions 188 421A antrevista. 191 43.A observagio directa. 196 4.4, recolha de dados preexistentes: dados secundétios dados ‘documenta. = 201 + Resumo da quinta etapa =) + Trabatho de eplicagao n* 11; cancepyie 68 obser G40 vcene- 207 Seva cepa [AANALISE DAS INFORMACOES. Objectivos 1. Um exemplo: 0 fenémeno religioso 2. As trés operagdes de aniilise das informagées a 22 216 2.1. preparazlo dos dados: descrever © agregar 216 212.4 andlise das relagies entre a5 VaPi6VE nn 218 213. Acomparag dos resultados observados 20m os resultados epe- rados e a interpreta das d:ferensas 29 3. Panorama dos prineipais métodos de snélise das informs- ses . . 222 3.1.4 andlise esatistcs dos datos 22 3ZA andlise de contesdo 226 3.2 Limites e complementaridade dos métodos espectficos: 0 exem- pb da field research E sennane 233 3.4.Um cendrio de investigagde ni linear. Exemplos de ivesizngtes que alcam os métods presen os .. 237 + Resumo da sexta etapa ve tt 238 + Trabatho de aplicegao n# 12: andlise d3s informayées 239 ‘Stina pa [AS COMCLUSOES: Objectivos .. 243 1. Retrospectiva das grandes linhas do procedimento . 243 2, Novas contributos para os conhecimentos . 244 2.1.Novos conhecimenios relativos ao objecto de antlise 244 2.2! Novos conhecimentos te6ricos 7 245, . 247 Objectivos 251 1. A pergunta de partida 1 251 2. A exploragio .. 252 2.1.As leinuras 252 2.2. As entrevistas explora’ 3. A problemética 3.1. Fazer 0 balango 3.2. Conceber uma problematica 253, 257 237 258 259, 4. A construgio do madela de anilise 4.1, Modelo e hipétese: os critérios de racionslidade 260 4.2.08 indicadores nn : 261 4.3. AS relagbes entre construgao e verficagao.. 262 4.4,A selezglo das unidades de observagio 263 5. A observagio .. sonnseieses 264 5.1.0 instrumento de observagio. 5.2.A recclha dos dades.. 6. A anilise das informagies 6.1.A mecigio... 268 6.2. A deseriglo dos resultados 268. 6.3, Aandlise das relagtes entre a tava de presenga ¢ as razdes vere ir As alas.. 270 6.4. A comaarago dos resultados observados com os resllad0s espe rados a partr da hipécese € o ecame das diferengas . am Fe AS CONCIUSTES won nonnie 216 A hipétese esquecida 25 Recapitulagio das qperagdes Bibliografia geral 27 281 Prefécio @ 2.* edigdo Nesta 2* edigdo esforgimo-nos por nio alterar a concepgio idéctica da obra. O Marual de Investigacio em Ciencias Sociais permanece resolutamente pritico. Foram feitas muitas correcgées € modificagdes locais em todas as partes do livra. Algumas foram transformaéas de alto a taixo. As principais alteragSes so as se~ guintes: + Primeira etapa: a pergunta de partida — supressdo de algu- mas passagens que podian conduzir a mal-entendidos © nova redaccdo dos comentérios de determinadas questées (elagdes entre a investigago em ciéncias sociais e a ética, entre a descrigfo e a compreensio des fenémenos sociais. + Terceira etapa: a problemética — capitulo quase inteira- mente recomposto tendo em conta os contritutos de obras recertes sobre os mosios de explicagio dos fenémenos socicis * Quarta etapa: 4 construgdo do modelo de anilise —refor- mulagdo das dimensdes do conceito de acior social a partir de investigagdes recentes; + Sexta etapa: a andlise das informagdes — actescentos sobre a tipologia, a field research, a complemeriaridade entre métcdos diferentes e um cendrio de investigagao réo li- rear u + Actualizagio das diferentes bibliografias ¢ integragzo das bibliografias especializadas nas apresentagdes dos méiodos de recolha e de anélise das informagoes. Estes alteragSes devem muito a varias pessoas, a quem queria- ‘mos assegurar 0 nosso reconhecimento: Monique Tavernie:, pela sua ajuda competente e eficaz na preparagdo desta 2.° edicdo; Michel Hubert, Jean-Marie Lacrosse, Christian Maroy e Jean Nizet, pelas suas criticas sugestées profissionais ¢ amigiveis; Casimiro Marques Balss, seus colegas da Universidade Nova de 04 e, em perticular, Rui Santos, pelo seu exame pormenoriza- do da obra e pelo acolhimento que Ihe foi dado em Portugal; os muitos professeres, estudantes e investigadores cle Franca, Suica, Quebeque, Senegal, Bélzica e de cutros paises que nos deram a conhecer as sues reacgdes € estimulos. 12 OBJECTIVOS E PROCEDIMENTO 1. OS OBJECTIVOS 1.1, OBJECTIVOS GERAIS A investigago em ciéncias sociais segue um procedimento andlogo 20 do pesquisador de petr6leo. Nao & perfurando ao acaso que este encentrari 0 que Frocura. Pelo contrério, 0 sucesso de um programa de pesquisa petrolifera depende do procedimento segui- do. Primeiro o estudo dos :errenos, depois a perfuragio. Este pro- cedimento implica a participagdo de numerosas competéncias dife- rentes. Os ge6logos irdo dererminar as zonas geogréficas onde & maior a probabilidade de ercontrar petr6leo; os engenheiros iréo conceber processos de perfuracao apropriados, que irdo ser aplica- se a0 responsivel do projecto que donine minuciosamente todas as téenicas necessérias. O seu papel espe- cifico seré 0 de conceber 0 conjunto do projecto ¢ soordenar as ‘operagdes com 0 maximo de coerércia e eficdcia. E sobre ele que recaird a responsabilidade de levar a bom termo ¢ dispositive global de investigagao. No que respeita a investigacZo social, o processo € comparivel. Importa, acima de tudo, que o investigador seja capaz de conceber e de por em pritica um dispositivo para 2 elucidagao do real, isto 6,no seu sentido mais lato, um método de trabalho. Este nunca se apresentaré como uma simples soma de técnicas que se trataria de aplicar tal e qual se apresentam, mas sim como um peicurso global do espirito que exige ser reinventado para cada trabzlho. 15 Quando, no decorrer de um trabalho de investigagfo social, o seu autor se vé coafrontado com problemas graves que comprometem 0 prosseguimento do projecto, raramente isso acontece por razdes de ‘ordem estritamente técnica. E possivel aprender veriadissimas técni- cas de um modo bastante ripido, assim como, de qualquer forma, solicitar a coleborago ou, pelo menos, os conselhos de um especia- i ‘Quando um investizador, profissional ou principiante, sente eran- les dificuldades no seu trabalho, as razGes so quase sempre de ordem memioigicn ro sentido que damos a0 teimo, Ouvimos entdo expres- ‘S6es invariavelmente idénticas: «Ji no sei em que ponto estou», ‘cenho a impressio de jf nem saber © que procuro», «niko fago a minima ideia do que nei-de fazer para continuan», «tenho muitos dados... mas ro sei o que fazer com eles», ou até mesmo, logo de inicio, «nao sei bem por onde comegar. Porém, e paradoxalmente, as numeroses obras que se dizem meto- dolégicas nao se preocapam muito com... 0 método, no sex sentido mais leto. Longe de contribufrem para formar os seus leitores num procedimento global de invesiigacio, apresentam-se frequentemente como exposigies de técnicas particulares, isoladas da reflexdo teérica € da concepgio de conjanto, sem as quais € impossivel justificar a sua escolha e dar-Ihes um sentido. Estas obras t&m, bem entendido, a sua utilidace para o investigador, mas s6 depois da construgio metodol6- ica, apos esta ter sido validamente encetada. Esta obra foi concebida pare ajudar todos 08 que, no Ampito dos seus estudos, das suas responsabilidades profissionais ou sociais, desejem formar-se em investigagio social ou, mais precisamente, empzeender com éxito um tabalno de fim de curso ou uma tese, tratalhos, anilises ou investigagdes cujo objectivo seja compreen- der mcis profundamente e interpretar mais acertadamente os fen6- menos da vida colectiva com que se confrontam ou que, por qual- (quer razo, os interpelam. Felos motivos acima expostos, sareceu-nos que esta obra s6 pode: ria desempenar esta fungao se fosse inteiramente concebida como um superte de fomago metodolégica, em sentido latc, isto é, como ume form:agio para conceber e aplicar um dispositivo de elucidagzo do real. Significa isto que aberdaremos numa ordem Iogica temas como 2 formulagio de um projecto de investigacio, o trabalho explorat6rio, a cconstrugaio de um plano de pesquisa ou 0s crtérios para a escolha das 16 téonicas de recolha, ratamento e andlise dos dados. Deste modo, cada uum poder’, chegado © momento e com pleno conhecimento de cause, fazer sensatamente apelo a um ou a outro dos numerosos métodos © ‘técnicas de investigagdo, em sentido restrto, pera elaborer por si mes- ‘mo, a partir deles, procedimentos de trabalho correctamente adaptadas 20 seu projecto, 1.2, CONCEPGAO DIDACTICA No plano didéctico, esta obra & directamente utilizével. Isto significa que o leitor que o,deseje poderé, logo a partir das primei- ras pAginas, aplicar a0 seu trabalho 2s recomendagdes que Ihe sero proposas. Apresenta-se, pois, como um manual cujas ife- rentes partes podem ser experimentadas, seja por investigadores Principiantes isoledos, seja em grupo ou ne sala de aula, cam 0 enquadramerto critico de um docente formaco em ciéncias sociais. No entamto, recomenda-se uma primeira leitura integral antes de iniciar os trabalhes de aplicagao, de modo que a coeréncia global do procedimento seja bem apreendida e as sugestdes sejam aplica- das de forma flexivel, critica e inventiva. ‘Uma ial ambigio pode parecer uma aposia impossivel: como é ppossivel Fropor um manual metodol6gico num campo de investigago ‘onde, como é sabico, os dispesitivos de pesquisa variam considerave!- ‘mente com as investigagdes? No existe aqui um enorme risoo de impor uma imagem simplista e muito arbitréria da investigacdo social? Por varias raabes, pensamos cue este risco s6 poderia resultar de uma ‘eitura extremamente superficial ou parcial deste livro. Embora 0 contetdo deste obra seja directamente eplicével, nfo se apresenta, no entanto, como uma simples colecee de receitas, mas como uma trama gerél e muito aberta, no Ambito da qual (© fora da qual!) pocem pér-se em pritica os mais variados procedi- mentos coneretos. Se é verdade que contém numerosas sugestdes raticas ¢ exercicios de aplicagdo, nem aquelas nem estes arraste- 80 0 leitor para uma via metodol6gica precisa e imevogavel. Este livro foi inteiramente redigido para ajudar o leitor a conceber por si proprio un processo de trabalho, ¢ nfo para lhe impor um determinado processo a tftulo de céinone universal. Nao se trata, 7 pois, de um «modo de emprego» que implique qualquer aplicagao ‘mecinica das suas diferentes etapas. Propde pontos de referéncia {Ho polivalentes quanto possivel para que cada um possa elaborar com lusidez dispositivos metodolbgicos préprios em fungao dos seus objectives. Com este propésito —e trata-se de uma segunda precaucdo —, modo_que_o eitor seja regularmerte levedo a reflectir com lucidez, sobre 0 sentido do seu trabalho, a medica que for progredindo. As {Ges que propomos ao leitor fundam-se na nossa experiéncia de investigadores em sociologia, de formadores de adultos e de docentes. Sho, portanto, forgosamente subjectivas ¢ inacabadas. Parimos do ‘pressuposto de que © leitor seguiu ou segue paralelamente uma forma- a0 teérica e goza da possibilidade de discutir e ser avaliedo por um investigador ou um docente formado em cincias sociais. Veremos, por ourro lado, no decurso desta obra, onde e como os recursos te6ricos intervém na elaboracdo do dispasitivo metodol6gice. Uma investigagao social nfo &, pois, uma sucesso de métodos ¢ tésnicas estereotipadas que bastaria aplicar tal e qual se epresen- tam, numa ordem imutével. A escolha, a elaboraeo € a organi _g&o dos processos de trabalho variam com cada investiga;ao especi- fica, Por isso —e trate-se de uma terceira precaucio —, a obra esté elaborada com base em numerosos exemplos reais. Alguns deles serdo varias vezes referidos, de modo a realarem a coeréncia glo- . Nao constituem ideais a atingir, mas sim a partir das quais cada um poderd distanciar-se e situar-se. Finalmente —iltima precaugio —, este livro apresenta-se. explicitamente, como um mancal de formagao. Esté construido em fungaic de uma ideia de progressio na aprendizagem. Por conse- ‘guinte, compreender-se-4 imediatamente que 0 significado e o inte- resse destas diferentes etapas rc podem ser correctamente aval dos se forem retiradas do seu contexio global. Umas so mais técnicas, outras mais eriticas. Algumas ideias, pouco aprofundadas no inicio da obra, so retomadas e desenvolvicas posteriormente rnoutres contextos. Certas passagens contém rezomendagSes fun- damentadas; outras apresentam simples sugestdes ou um leque de poxsibilidades. Nenhuma delas d4, por si s6, uma imagem do dis- positive global, mas cada uma ocupa nele um lugar necessério. 18 1.3, «INVESTIGAGAO» EM «CIENCIAS» SOCIAIS? No dominio que aqui nos ocupa utilizam-se frequentemente somos forgados a incluir-nos neste «see — as palavras «iavestigagio» ou «ciéncia» com uma certa ligeireza e nos sentidos mais elésticos, Fala-se, por exemplo, de «irvestigagao cientficas para qualificar as sondagens de opiniéo, os estudos de mercado ou os diagnSsticos mais, bbanais s6 porque foram efectuados por um servigo ou par um centro de investigagio universitario. Dé-se a entender aos estuduntes do pri- meio nivel do ensino supericr, e mesmo aos dos sitios anos do ensino secundirio, que as suas aulas de métodes ¢ téenieas de inves- tigngdo social os tomardo aptos a adoptar um «procedimento cientifi- co» e, desde logo, ¢ produzit um «conhecimento cientfico», quardo, na verdade, 6 muito dificil, mesmo para um investigador profissional ¢.com experiencia, produzir conhecimento verdadeiramerte novo que faca progredir a sua disciplina ‘© que é que, na melhor das hipéteses, se aprende de facto no fim daquilo que € geralmente qualificado como trabalho de «inves- tigagdo em ciéncias sociais»? A compreender melhor os significa- dos de um acontecimento ou de uma condute, a fazer inteligente- mente 0 ponto da situacic, a captar com maior pe:spicécia as légicas de funcionamento de uma organizagao, a reflectir acertada- mente sobre es implicagdes de uma decisdo politica, ou ainda a compreender com mais nitidez como determinadas pessoas apreen- dem um problema e a tomar visiveis alguns dos fundamentos das suas representagoes. Tudo isto merece que nos detentamos e que adquiramos essa formagao; € principalmente ¢ ela que o livro € consezrado. Mas taramente se trata de investigagdes que contribuam para fazer pro- gredir os quadros conceptuais das ciéncias sociais, os seus modelos de andlise ou os seus dispositivos metodoldgicos. Tratz-se de estu- dos, andlises cu exemes, mais ou menos bem realizados, consoante 1 formagao e a imaginacio do «investigadors e as precaugdes de ue se rodeia para levar a cabo as sues investigagdes. Este trabalho pode ser precioso e conrribuir muito para a lucidez dos actares sociais acerca das priticas de que so au‘ores, ou sobre os acont cimentos € os fendmenos que testemunham, mas ndo se deve at buir-Ihe um estatuts que nao the € eprooriads. 19 Esta obra, embora possa zpoiar determinados leitores empenha- dos em investigagdes de uma. certa envergadura, visa sobretudo fajudar os que tém ambigdes mais modestas, mas que, pelo menos, ‘estéo decididos a estudar os fenémenos sociais com uma preocu- pacéo de autenticidade, de compreensao e de rigor metodolégico. Em ciéncias sociais temos de nos proteger de dois defeitos opostes: um cientismo ingénuo que consiste em crer na possibili- dade de estabelecer verdades definitivas e de adoptar um rigor ‘anélogo a0 dos fisicos ou dos bidlogos, ou, inversemente, um ccepticismo cue negaria a propria possibilidade de conbecimento ciectifico. Sabemos simultaeamente mais ¢ menos do que por vezes deixamos entender, Os nossos conhecimentos constroem-se com 0 apoio de quadros tedricos ¢ metodolégicos explicitos, len- tamente elaborados, que constituem um campo pelo menos par- cialmente estruturado, e esses conhecimentos so apaiados por ‘uma observacdo dos factos concretos. ‘E aestas qualidades de autenticidace, de cutiosidade e de rigor que queremos dar relevo nesta obra. ‘Se utilizamos os termos «in- vestigagdo», «investigador» e «ciéncias sociais» para falar tanto dos trabalhos mais modestos como dos mais ambiciosos, € por uma questio de facilidade, porque no vemos outros mais convenientes, mas € também com a consciéncia de que so frequentemente exces- sives. 2..0 PROCEDIMENTO 2.1. PROBLEMAS DE METODO (o0 caos original... ou trés maneiras de comegar mal) No inicio de uma investigagdo ou de um trabalho, o cenério é ‘quase sempre idéntico. Sabernos vagamente que queremos estudar tal o1 tal problema — por exemplo, 0 desenvolvimento da nossa propria regio, o furcionamento de uma empresa, a introdugo das ‘novas tecnologias na escola, a emigragdo ou as actividades de uma associag%o que frequentamcs —, mas nfo sabemos muito bem como abordar a questo. Desejamos que este trabalho seja ati! € resulte em proposig6es concretas, mas temos a sensagio de nos ee perdermes nele ainda antes de o termos realmente comecado, Eis aproximadamente a forma como comega a maior parte dos traba- Thos de estudantes, mas também, por vezes, de investigadores, nos dominios que dizem respeito aquilo a que costumamos chamar as . Em vez de jogar primeiro 0 45 e assegurar assim a vaza, 0 terceizo jogador tenta ganher o pontc com a dama, esperando que 0 ‘quarto no tenha o rei. Se a jogada resultar, 0 jogador ganha a vaza e conserva o 4s, Umé tal aposta nio se ustifica em inves:i- gagdo, onde & absolutamente necessirio assegurar cada ponto € reclizar cuidadosamente as primeiras etapas entes de pensar nas seguintes, : ‘A «passagemm as hip6teses consiste precisamente em precipi- tar-se sobre a recolha dos dados antes de ter formuledo hipéteses de investigagao — voltaremcs adiante a esta nogdo — ¢ em preo- ccupar-se com a escolha e a aplicacao srética das técnicas de inves- tigago antes mesmo de saber exactamente aquilo que se procera ¢, portanto, para 0 que irdo servir. ‘Nao raro ouvir um estudante declarar que tenciona fazer um inguétito for questionério junto de uma dada populacio quando no rem nenhuma hipotese de trabalho e, para dizer a verdade, nem sequer sabe 0 que procura. S6 € possivel escclher ume técnica de 2 pesquisa quando se tem uma ideia da natureza dos dados a re- cclher, o que implica que se comece por definir bem o projecto, Esta forma de fuga para a frente € corrente, sendo encorajada pela crenea segundo a qual a utilizagdo de técnicas de investigagao cconsagradas determina 0 velor intelectual e o cardcter cientifico de uum trabalho. Mas que ulidade tem a aplicaydo correcta de técni- cas experimentadas se estas estiverem a0 servigo de um projecto ‘vago € mal definido? Outros pensam que basta acummular um mé- ximo de informagdes sobre um assunio e submeté-las a varias téenicas de anélise estatistica para descobrir a resposta as suas perguntas, Afundam-se, assim, nurra armadilha cujas consequén- ccias podem cobri-los de ridiculo. Por exemplo, num trabalho de fim de curso um estudante tentava descobrir quais os argumentos mais frequentemente empregues por um conselho de turma para evaliar a capzcidade dos estudantes. Tinha gravado tocas as discus- Ges dos docentes durante 0 conselho de turma de fim de ano ¢, ‘apés ter introduzido tudo rum ficheiro de computador, havia-o submetido a um programa de anélise de conteddo altamente sofis- ticado. Os resultados foram inesperados. Segundo 0 computador, 05 termos mais empregues para julgar os alunos eram palavras como «e>... «de»... «heim»... «capez»... «mas»... etc! ©) A énfase que obscurece Este terceiro defeito € frequente nos investigadores.princi- piantes que esto impressionados ¢ intimidados pela sua recente passagem pela frequéncia das universidades e por aquilo que pensam ser a ciéncia. Para assegurarem a sua credibilidade jul- ‘gam ser ctil exprimirem-se ée forma pomposa ¢ ininteligivel e, na maior parte das vezes, no conseguem evitar raciocinar da mesma maneira. ‘Duas caracteristicas dominam os seus projectos de investigacao ‘ov de trabalho: a ambiczo desmedida e a mais completa confusdc. ‘Umas vezes parece estar em causa a reestruturagio industrial da ‘sua regio; outras, o futuro do ensino; outras ainda € nada menos, do que 0 destino co Terceito Mundo que parece jogat-se nos seus poderosos cérebros. 23 Estas declaragées de intengdo exprimem-se numa gitia, to oca quanto enfética, que mal esconde a auséncia de um projecto de investigagdo claro e interessante. A primeira trefa do orientador desie tipo de trabalho sera ajudar o seu autor a assentar 0s pés na tera e a mostrar mais simplicidade e clareza. Para vencer as suzs eventuais reticéncias € necessério pedir-the sistematicamente que ‘defina todas as palavras que emprega € que explique_ as fre jue formule, de modo que rapidamente se dé conta ce que ele ee or ea a ‘Se pensa que estas consideragdes se Ihe aplicam, esta tomada de cocsciéncia, por si s6, pé-lo-4 no bom caminho, cado que uma carac~ teristica essencial — e rara — de uma boa investigaggo € a autentici- dace, Neste dominio aue nos ocupa, mis do que em qualquer outro, 1niy hd bom trabalho cue nfo seja uma procura sincera da verdade. Nio ‘a verdade absoluta, estabelecida de uma vez por todas pelos dogmas, ‘mas aquela que se repde sempre em. ‘questo e se aprofunda incessan- temente devido ao desejo de compreender com mais justeza a reali- ‘dade em. que vivemos e para cu'a produco conribuimos, Se, pelo contrério, pensa que nada disto Ihe diz respeito, faga- se, mesmo assim, 0 pequeno favor de explicar claramente as palavras ¢ 2s frases que jé tenha eventualmente redigido sobre um trabalho que inicia. Pode honestaments afirmar que se compreende bem a si mesmo e cue 0s seus textos no contém expressdes imi- tacas e declaragdes ocas e Fresungosis? Se assim é, se possui a auienticidade e o sentido das proporgées, entdo, ¢ 86 enttio, € pos- vel que o seu trabalho venha a servir para alguma coisa. ‘Apés termos examinado varias maneiras de comegar muito mal, ‘vejamos agora como é possivel proceder de forma vilida a um| trabelho de investigago e assegurar-Ihe um bom comego. Com a} ajuda de esquemas, referiremos primeiro os principios mais impor- tantes do procedimento cientifico e apresentaremos as etapas dal sua aplicagio-pratica 22. AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO Fundamentalmente, 0 problema do conkecimento cientifico pée-se da mesma maneira para os fendmenos sociais e para os 4 fen6mencs naturais: em ambos os caso: hé hip6teses tericas que devem ser confrontadas cam dados de observagio ou de experi- mentagdo. Toda a investigagio deve, portanto, responder a alguns Frincipios estiveis € idénticos, ainda que varios percursos diferen- tes conduzam ao conhecimento cientifico. _Um procedimento & uma forma de progredir em direcgao @ um jective. Expor ¢ procedimento cientifico consists, portanto, em descrever os princfpios fundementais a por em prética em qualquer trabalho de investigagio. Os méiodos nfo so mais do que formalizapSes particulares do procedimento, percursos diferentes concebides para estarem mais adaptados aos fenémenos ou domi- rrios estudados, Mas esta adaptago nao dispensa a fidelidade do investigador ‘aos principios fundamentais do prozedimento cientifico, ‘Ao dar mais relevo 20 procedimento do que aos métodos par- ticulares, a nossa formulagzo tem, assim, um alcance geral e pode aplicar-se a todo © tipo de trabalho cientifico em ciéncias sociais. ‘Mas quais so esses princfpios fundamentais que toda a investiga- co deve respeitar? Gasion Bachelard resumiu_o proceso cientifico em algumas lavras: «© facto cientifico € conquis'ado, construida e verifi- —Conquistado sobre as preconceitos; —Construtde pela razic; — Verificado nos factos. ‘A mesma ideia estrurura toda a obra Le métier de sociologue, de P. Bourdieu, J. C. Chamboredon ¢ J. C, Passeron (Paris, Mouton, Bordas, 1968). Nela os autores descrevem ime! um processo em trés actos cuja ordem deve ser respeiteda, E aquilo ‘a que chamam ) As entrevisus exploratérias| Etapa 3— A problemstica Etapa 4— A construgio do modelo de andlise Etapa $— A otservagio E1apa 7 — As conclusdes ‘termo_da_observaco, Sem esta construgio te6rica no haveria experimentagio vilica. Nao pode haver, em ciéncias sociais, veri- ficaglo frutuosa sem construgic de um quadro teérico de referén- cia Nao se submete uma proposi¢ao qualquer ao teste dos factos. ‘As proposigdes devem ser o produto de um trabalho racional, fundamentado na légica e numa bagagem conceptual validamente constituida (J.-M. Berthelot, L’Intelligence du social, Psris, PUF, 1990, p. 39). A verificagio fem que pode ser verificads pelos factos, Este teste pelos factos ‘designado por verificagao ou experimentagto. Corresporle a0 ter- cetiro acto do processo, b) As sete etapas do procedimento Os trés actos do procedimento cientifico no so independentes ‘uns dos outros. Pelo contrério, constituem-se mutuamente, Assim, por exemplo, a ruptura no se realiza apenas no inicio da investi- 40; completa-se na e pela construgio. Esta rio pode, em contra- ssar sem as elapas iniciais, principelmente consagradas fem spor seu tumor verfcagie vai buscar © seu valor A ‘qualidade da construgao. ‘No desenvolvimento concreto de uma investigago, os trés actos do procedimento cientifico sio realizados ao longo de uma suces- sio de operagdes, que aqui so reagrupadas em sete etapas. Por raxbes didécticas, o esquema anterior distingue de forma precisa as ceiapas umas das outras. No entanto, circuitos de retrcacgao lem- bram-nos cue estas diferentes etapas estio, na realidace, em perma- nente interacgo. Nio deixaremos, aliés, de mostré-lo sempre cue possivel, uma vez que este manual daré especial relevo ao encadea- mento das operagdes € & T6gica que as liga. 28 PRIMEIRA ETAPA A PERGUNTA DE PARTIDA AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO Etapa 2— A exploraglo ‘As leituras [>| As entrevistas| Le exploratérias problematica Etapa 3—A Etapa 4— A corstrugio do modeto de anslise B1apa 5— A observagio. Etapa 6— A anilise das informagies Etapa 7 — As corclusdes OBJECTIVOS primeiro problema que se pée ao investigador & muito sim- plesmente o de saber como comegar bem o seu trabalho. De facto, no € facil conseguir traduzir o que vulgarmerte se apresenta como um foco de interesse ou uma preocupacdo relativamente vaga num projecto de investigagio operacional. O receio de iniciar mal o trabalho pode levar algumas pessoas a endarem as vcltas durante bastante tempo, a procurarem uma seguranga iluséria numa das formas de fuga para a frente que aborcémos, ou ainda a renun- ciarem pura e simplesmente ao projects. Ao longo desta etapa ‘mostraremos que existe uma outra solugo para este problema do arranque do trabalho. A dificuldade ce comegar de forma vélida um trabalho tem, frequentemente, orgem numa preocupacao de fazé-lo demasiado bem e de formular desce logo um projecte de investigagao de forma totalmente satisfatdria. E um erro, Uma investigagio €, por defnigao, algo que se procura, E um caminkar para am mlhot conhecimento e deve ser aceite COMO tal, com todas as hesita- Bes, desvios-e incevezss que sso implica, Malt vivem esta realidade como uma angistia paralisante; ovtros, pelo contrécio, reconhecem-na como um fenSmeno normal ¢, numa palavra, esti- mulante. Por conseguinte, o investigador deve obrigar-se a escolher repi- damente_um_primeiro fio condutor to claro quanto possivel, de 31 forma que 0 seu trabalho possa demora e estrut arse com coeréncia, Pouce importa que este ponto de partida ‘pareca banal e que a reflexio do investigador no Ihe parega ainda totalmente madura; pouco importa que, como € provével, ele mude de perspectiva a0 longo do caminho. Este ponto de partida € ape- nas provisério, como um acampamento-base_que_os_alpinistas ‘constroem para prepararem_a escalada de um cume €_que abandonardo por outros acampamentas mais avancados até inicia: em 0 assalto final, Resta saber como deve ser apresentado este primeiro fio condutor € que critérios deve preencher para desem- penbar o melhor possivel a fungio que dele se espera. E este 0 objecto desta primeira etapa. 1, UMA BOA FORMA DE ACTUAR Por varias razdes que progressivemente se tornardo evidentes, segerimos a adopgao de uma formula que a experiéncis revelou ser muito eficaz. Consiste em procurar enunciar 0 projecto de inves: tizaedo na forma de uma pergunta de partida, através da_quel_o investigador tenta exprimir_o mais exactamente_possivel_o_que cura saber, elucidar, compreender melho:. Para desempenhar ‘correctamente a sua funglo, este exercicio deve, claro esté, ser ‘efectuado segundo algumas regras que adiante serdo especificadas ¢ abundartemente ilustradas. Sem davida, muitos leitores marifestardo desde logo algumas retiséncias em relagdo a uma tal proposta, mas gostariamos que cada um reservasse a sua cpinigo a'é ter apreendido bem a natu- teza e 0 alcance exacto do exercicio. : Em primeiro lugar, nio € imdtil assinalar que os autores mais corceituados néo hesitam em enunciar os seus projectos de inves trgacHo sob a forma de perguntas simples e claras, ainda que, na realidade, essas perguntas tenham subjacente uma s6lida re- flexdo tebrica. Eis trés exemplos bem conhecidos dos soci6lo- gos: + A desigualdade de oportunidades em relagdo co ensino tem tendéncia c diminuir nas sociedades industricis? 32 Esta pergunta é feita per Raymend Boudon no inicio de ume investigagio cujos resultadas foram publicados com o titulo L'iné- galité des chances: la mobilité sociale dans les sociétés indus- rrielles (Paris, Armand Colin, 1973). A esta primeira questo cen- tral acrescenta Raymond Boudon uma outra que tem por objectivo «

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