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UNIDADE

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VIOLÊNCIA SEXUAL: VULNEREBILIDADES E EFEITOS
PSICOLÓGICOS

Objetivos:
Objetivos:

• Conhecer aspectos da violência sexual no contexto da infância e


adolescência;
• Identificar as vulnerabilidades e os efeitos psicológicos da violência
sexual.

Aprofundaremos o tema com as especificidades da infância e adolescência


a fim de compreender as vulnerabilidades e danos psicológicos decorrentes de
uma situação de violência sexual. Como uma criança vivencia a sexualidade?
Como ela desenvolve a linguagem? Como lidar com uma fala ou comportamento
de uma criança com conteúdos que conotam um abuso sexual? Alguns conceitos
do desenvolvimento psicossexual e cognitivo são fundamentais para o melhor
encaminhamento dos casos de abusos sexuais infantis.

A adolescência também apresenta algumas especificidades como, por


exemplo, a puberdade, os novos papéis sociais e sexuais, se configurando por
vezes numa etapa de crise de identidade. É importante compreender essa fase a
fim de lidar melhor com as questões que relacionam direitos e violações sexuais de
adolescentes. É importante que um número cada vez maior de pessoas conheça
o tema e saibam como identificar e o que fazer quando estiverem diante de uma
situação de violência sexual contra crianças e adolescentes.

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2.1 Algumas especificidades na infância e adolescência no
contexto da violência sexual

Crianças e adolescentes são sujeitos em condição peculiar de


desenvolvimento. Com as transformações da sociedade, as ciências foram se
apropriando em estudar suas especificidades, como a Psicologia, a Medicina,
a Pedagogia, o Direito entre outras. Foram se construindo metodologias e
mecanismos de tratamento que pudessem garantir cuidados especiais e
proteção. O desenvolvimento infanto-juvenil abrange aspectos sociais, cognitivos
e psicossexuais. Abordaremos a seguir os aspectos do desenvolvimento sexual,
pois a violência sexual impõe que este tema seja colocado em questão.

2.1.1 Sobre a sexualidade infantil

Faz parte da opinião popular que a sexualidade só desperta no período da


vida designado como puberdade e adolescência, mas qualquer adulto que cuida
ou tem convivência com crianças percebe que existem manifestações sexuais
infantis, seja por brincadeiras sexualizadas entre crianças ou até mesmo o toque
em seu corpo. É evidente que não se trata da mesma sexualidade dos adultos e
a despertada nos adolescentes, pois nestes, a sexualidade passa a associar-se
à genitalidade (ato sexual) e à reprodução. Em crianças, trata-se de sensações
vivenciadas no corpo.

O que se quer chamar atenção para as pessoas que cuidam e desejam


proteger crianças é de que o corpo infantil é sensível e, portanto, capaz de
diversas sensações inclusive de prazer. A essas manifestações, Freud (1905-1996)
denominou de sexualidade infantil, com esta descoberta impactou a ciência e a
sociedade de seu tempo e impacta até os dias atuais.

Tais comportamentos devem ser levados em conta quando se pretende


enfrentar a violência sexual, pois crianças pequenas ainda não desenvolveram o
juízo moral ou sentimento de vergonha, esta condição coloca-as em uma situação

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de vulnerabilidade. O que se pretende destacar é que crianças que são submetidas
a abusos sexuais, podem ser facilmente induzidas a esse tipo de transgressão do
qual elas não tem recursos subjetivos para elaborar e compreender que se trata de
um ato abusivo. Por vezes, muitas demoram a revelar a situação de abuso sexual,
pois não compreendem esse ato como transgressão ou violência. É comum que
algumas crianças venham revelar a situação abusiva quando desenvolve o juízo
moral e começa a perceber que tal ato não é aceito socialmente. Quando isso
ocorre, a criança já foi submetida a longos anos e isso gera sofrimento psíquico,
principalmente o sentimento de culpa e a vergonha. É necessário, sempre que
houver a revelação de abuso sexual, que a criança seja escutada e acolhida, não
devendo ser questionada pela não revelação em tempo anterior.

É importante frisar que a experiência que a criança venha a vivenciar com um


adulto não a responsabiliza pelo ato, como comumente se pode escutar por parte
de alguns abusadores, como, por exemplo: “ela quis”, ou “ela que provocou”. O jogo
sexual imposto pelo adulto não tem para a criança o mesmo significado que tem
para ele, por tanto, o adulto é sempre responsabilizado, se trata de um crime. Estas
considerações sobre a sexualidade infantil servem para reafirmar a vulnerabilidade
psíquica que a criança se encontra e o quanto é importante protegê-la dos atos
violentos por parte dos adultos.

Outro destaque relaciona-se aos atos erotizados com o seu próprio corpo.
Ainda que tais manifestações possam ser indicadores de ocorrência de abuso
sexual, é preciso ter cuidado para que não ocorra uma precipitação sobre suspeitas
de abuso, pois a sexualidade infantil nos mostra que nem sempre atividades como
tocar o próprio corpo, por parte das crianças, podem ser um indicativo de ocorrência
de abuso sexual, pois isso também faz parte do desenvolvimento infantil. Desta
maneira, quando se está diante de uma suspeita, de uma dúvida, recomenda-se
que essa criança seja encaminhada para uma escuta especializada, como forma
de poder ter a possibilidade de falar mais sobre o que lhe ocorre.

Outra particularidade da sexualidade infantil são as brincadeiras sexualizadas


entre crianças. Isso ocorre, pois as crianças ficam curiosas ao perceberem a

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diferença sexual entre meninos e meninas. Assim, nas brincadeiras, as crianças
querem ver, pegar, tocar nos órgãos sexuais, seja em seu próprio corpo, seja dos
coleguinhas ou de pessoas mais velhas. Esse ponto também é importante, pois
alguns cuidadores, sejam os pais, professores ou babás, ao se depararem com
essa cena, não sabem como tratar a situação.

Será que uma criança de seis anos tocando o órgão sexual de outra criança
de três é um abuso sexual? Neste caso, quem seria a vítima e quem seria o
agressor? Tais brincadeiras podem ser consideradas um abuso sexual? A resposta
é não. Uma das características para considerar uma ação abusiva é a diferença
de idade ou geracional. Mas atenção, este aspecto foi destacado para esclarecer
que as brincadeiras sexuais podem ser repetições de uma situação abusiva em
que a criança pode estar sendo submetida ou se tratar de comportamentos de uma
fase do desenvolvimento infantil. Mas como fazer essa distinção? A intensidade e
repetição do comportamento pode ser um indicador do que a criança queira falar
ou demonstrar. Mais uma vez, é importante destacar que os pais ou responsáveis
podem dirigir suas questões e dúvidas para profissionais especializados.

Outro conceito importante que deve ser levado em consideração é a amnésia


infantil, também proposto por Freud. A maioria das pessoas encobrem seus
primeiros anos de vida, pois é a época da vida de maior capacidade de recepção
demonstrando que o adulto não é capaz de lembrar de todas essas atividades
infantis, aliás, esquecer pode ser fundamental para o sujeito seguir sua vida.
Desta maneira, é comum que alguns adultos queiram, ou se questionem, sobre a
capacidade de crianças maiores e/ou adolescentes poderem lembrar-se de algum
evento traumático vivenciado nos primeiros anos de vida. Deve-se considerar que
insistir nessa lembrança pode ir de encontro ao curso normal do desenvolvimento
infantil, e mais, pode ser considerado também violência desvelar a lembrança de
uma experiência traumática de uma criança, adolescente ou adulto. No contexto
jurídico, no qual a criança por vezes é intimada a falar sobre o que lhe ocorreu
em relação a uma suposta situação de violência sexual, recomenda-se respeitar
o tempo do sujeito para falar sobre suas experiências traumáticas e não insistir no
seu depoimento, quando ainda demonstram dificuldades em falar sobre isso. Por
isso, fala-se tanto em não revitimização de crianças e adolescentes, e o cuidado em
abordá-las sobre o suposto evento.

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2.1.2 Desenvolvimento cognitivo infantil

Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo e da linguagem na infância, a


revelação de uma situação de abuso sexual de crianças pequenas é polêmica. Será que
crianças pequenas conseguem lembrar fatos e eventos e contar suas experiências?
Helen Bee (1996) descreveu pesquisas realizadas em crianças pré-escolares para
avaliar o grau de veracidade dos seus testemunhos. De forma geral, verificou-se
que mesmo crianças muito pequenas conseguem descrever acontecimentos reais,
porém, é certo que quanto maior a idade, mais detalhadamente é feito o relato.

As primeiras palavras aparecem no primeiro ano de idade, o vocabulário


cresce lentamente e depois ocorre uma explosão de léxico (6 a 20 meses). As
primeiras frases de duas palavras normalmente aparecem entre 18 e 24 meses e
já podem expressar vários significados. Após as frases simples, ocorre a explosão
de gramática, em algum momento do terceiro ano da vida. Por volta dos 30 a
48 meses começam-se a formar frases notavelmente complexas. (HELEN BEE,
1996). É importante considerar as diferenças individuais e culturais na construção
da linguagem, podendo haver variações no processo de desenvolvimento. Desta
maneira, deve-se estar atento a toda fala da criança sobre o que lhe aconteceu.

É relevante destacar o grau de sugestionabilidade destas crianças, as de


menos idade são mais afetadas por sugestões enganadoras do que as mais velhas.
Neste sentido, é importante lembrar o cuidado que devemos ter ao fazer perguntas às
crianças, evitando endereçar perguntas fechadas ou diretivas a elas, pois estas podem
fazer afirmações, sem necessariamente ter passado por uma experiência traumática.

SUGESTÃO DE VÍDEO E DE LEITURA

Para exemplificar a sugestionabilidade de crianças em relação a abusos sexuais, assista o filme: A


CAÇA, 2014. Dirigido pelo dinamarquês Thomas Vinterberg. A seguir, você encontrará também o
link sobre a resenha do filme. Disponível em: http://psicologiadospsicologos.blogspot.com/2014/08/
resenha-do-filme-caca.html

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Pode ocorrer também a implementação de falsas memórias quando há
síndrome de Alienação Parental, na qual crianças pequenas são mais suscetíveis.
Por um outro lado, quanto mais a criança descrever atos sexuais que ultrapassam a
sua maturidade, sofisticação e capacidade, o que seria considerado normal ao nível
de desenvolvimento dessa criança, é mais provável que a mesma esteja descrevendo
a realidade em oposição aos acontecimentos imaginários (DE YOUNG,1986).

ATENÇÃO

Síndrome da Alienação Parental (SAP): é um distúrbio da infância que aparece quase


exclusivamente no contexto de disputa de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é
a campanha difamatória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança sem
justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor e contribuições da própria criança
para caluniar o genitor-alvo (GARDNER, 2002).

2.1.3 Especificidades na adolescência

A adolescência é um conceito historicamente construído. É importante ressaltar


que existem adolescências diferentes em contextos sociopolítico-culturais distintos.
A partir da modernidade, a fase da adolescência passou a ser caracterizada por um
período de transição entra a infância e a vida adulta marcada por transformações físicas,
sociais e psicológicas que colocam o sujeito a se posicionar em relação a sua identidade,
sexualidade e novos papéis sociais. A adolescência é um fato cultural, pois o modo como
cada sociedade lida com os seus jovens é particular e articulado a todo o seu contexto
sociocultural e histórico.

Nesta fase, o sujeito elabora o seu luto pela perda do seu corpo infantil,
de sua identidade infantil e de seus pais infantis. Por outro lado, os pais também
passam pelo luto do filho criança (ABERATURY E KNOBEL,1981).

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A puberdade refere-se às mudanças corporais, no desenvolvimento
dos caracteres sexuais secundários e ação dos hormônios, que ocorre entre
aproximadamente 10 a 14 anos. É a fase em que o adolescente adquire um
corpo biologicamente preparado para a reprodução, portanto, para a vivência
da sexualidade genital. A puberdade perturba a imagem do corpo construída na
infância. Enquanto a maturidade genital pode ser considerada um desenvolvimento
completado no plano puramente fisiológico, no plano psicológico, a imagem do
corpo, a organização do eu e a identidade estão confusas. O adolescente atravessa
essa fase com crises e conflitos de maneira particular, na busca de sua autonomia
e identidade. Quando a adolescência é atravessada pela violência sexual, tais
peculiaridades agravam suas consequências.

A busca por maior liberdade, e a progressiva separação dos pais,


enseja o aumento de tensão e de conflitos com as figuras de autoridade no lar
e comportamentos de risco como o uso de substâncias químicas, delinquência,
exposição a infecções sexualmente transmissíveis e o envolvimento com atos
de violência. Tais circunstâncias de risco podem se apresentar como desafios ou
oposição aos limites dos seus responsáveis. O adolescente, diante deste contexto,
no exercício dos relacionamentos afetivos, pode estar mais vulnerável à violência
sexual, já que se torna uma novidade no exercício dos relacionamentos afetivos.
Muitas vezes envolvidos pelo relacionamento com o abusador, pelo afloramento
da sexualidade, os adolescentes acabam por não distinguir bem a forma como as
experiências com seus corpos se torna um exercício dos direitos à sexualidade ou
uma violação desses. (ALVES, 2019).

Do ponto de vista do Direito, adolescentes menores de 14 anos são


vulneráveis e, portanto, seu consentimento não é considerado. Trata-se de
estupro de vulnerável, de acordo com o art. 217 A do código penal. No cotidiano,
nos deparamos com o envolvimento de adolescentes com adultos e por vezes,
consentidos pelos adolescentes e pela própria família. O que torna o estudo social
da situação como grande contribuição para a avaliação do fenômeno da violência
sexual. Existem condições socioeconômicas, por exemplo, que podem influenciar
nesse consentimento.

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SUGESTÃO DE LEITURA

Imagine que sua filha vai se casar. Engravidou do primeiro namorado, um rapaz mais velho que ela
conheceu na vizinhança. Vai deixar de estudar por causa da gravidez e do marido. O jovem casal
vai morar na casa dos pais dele. No entanto, ela só tem 13 anos. Isso é violência sexual? Para
refletir mais sobre o tema leia a matéria que está disponível no link a seguir: https://www.bbc.com/
portuguese/noticias/2015/09/150908_casamento_infantil_brasil_fe_cc

2.2 Vulnerabilidades sociais

Muitos autores como Azevedo e Guerra, Perdesen, Fávero, entre outros,


se dedicaram a estudar o fenômeno da violência sexual na perspectiva dos
condicionantes históricos, socioculturais, econômicos e políticos. Estes estudos
se encaminham para uma reflexão sobre as vulnerabilidades sociais que estão
entrelaçadas com o fenômeno da violência sexual.

Para compreender a violência sexual, enquanto uma das formas de vitimizar


a população infantojuvenil, tanto pelo abuso como pela exploração sexual,
há que se considerar as transformações da família no decorrer da história
e as novas configurações desta na sociedade atual, levando em conta o
processo de vitimação no qual a mesma está inserida, ou seja, num contexto
marcado pela violência estrutural, constitutiva da sociedade burguesa. Estas
transformações que marcam a família no decorrer de sua história estão
significativamente relacionadas às mudanças sociais, políticas, econômicas
e culturais que ocorrem na sociedade e por isso torna-se necessário
analisar o processo de vitimização da população infantojuvenil, atrelado ao
de vitimação dos mesmos e de suas famílias (PERDESEN, 2008, p. 104).

SUGESTÃO DE LEITURA

Para saber mais, leia o artigo: Vitimação e vitimização de crianças e adolescentes: expressões
da questão social e objeto de trabalho do Serviço Social. Disponível em: http://revistaseletronicas.
pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/5677/4130

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ATENÇÃO

Vitimação: entendida também como violência estrutural, caracterizada por condições extremamente
adversas de vida, que geram uma imensa população de pessoas vivendo na miséria, com fome,
habitação precária ou até mesmo deficiente, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, sofrendo
no cotidiano a violação sistemática dos direitos humanos.

Vitimização: violência inerente às relações interpessoais adulto-criança. Pressupõe necessariamente


o abuso, enquanto ação, ou omissão de um adulto, capaz de criar dano físico ou psicológico à criança.

Sobre os indicadores de vulnerabilidade sociais, pode-se apontar os fatores


sociais como a miséria, o desemprego, más condições de vida e sobrevivência
que podem facilitar a ocorrência de maus-tratos e abusos sexuais, pois podem
potencializar as dificuldades e incapacidades de algumas famílias em garantir a
proteção de crianças e adolescentes. Tais contextos de situações de violências
sexuais chegam com mais frequência aos serviços públicos de atendimento, mas
isto não significa dizer que não existe ocorrência nas classes sociais de outros
níveis socioeconômicos, como a classe média e alta.

2.2.1 Violência de gênero

Você sabia que meninas são maioria nos casos de abusos sexuais? O
Relatório da Abrapia aponta que são 78% das vítimas (ABRAPIA 2002). Por que os
homens mais violam sexualmente as meninas e mulheres do que o contrário?

A violência sexual contra crianças está entrelaçada às dimensões da


sexualidade e de gênero, expressando as desigualdades de poder que envolvem
estas categorias. É um reflexo de uma cultura onde as meninas são exploradas
e transformadas em objeto de desejo e consumo, denominada como a cultura do
estupro.

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De acordo com Spaziane e Maia (2017):

Amaneira centralizada da masculinidade, enquanto o homem performatizando


o “macho” – referência às experiências de masculinidades que se relacionam
à agressividade, violência e ao uso de poder – o coloca em posição de
privilégio dentre as outras identidades. Esta hierarquia se materializa nas
situações de violência sexual contra meninas, demonstrando os lugares
sociais naturalizados atribuídos às masculinidades e feminilidades. É
comum a representação da sexualidade masculina enquanto instintivamente
incontrolável e animalesca, sendo a socialização dos homens voltada para
o exercício da agressividade e poder, ensinando-os que não há limites
para ter os seus desejos atendidos. Em contrapartida, desde pequenas as
meninas são educadas para a doçura e a disciplina, sendo representadas
pela publicidade com gestos e roupas remetendo à inocência, porém em
posições sedutoras e erotizadas. Ao retratar o corpo de meninas destas
maneiras, constrói-se também um modo de representá-las: como objetos a
serem consumidos. (SPAZIANE e MAIA, 2017, p. 01).

A partir dessa leitura sobre a realidade, podemos compreender os mecanismos


que colocam as meninas mais vulneráveis que os meninos no que se refere à
violência sexual, muito embora, destaca-se que o abuso sexual contra meninos se
apresenta crescente e também de fundamental reflexão.

SUGESTÃO DE LEITURA

Para refletir sobre a cultura do estupro e a maneira como a educação das masculinidades
e feminilidades “autoriza” a violência sexual contra meninas, leia o artigo Violência sexual
contra meninas: entrelaçamentos entre as categorias gênero, infância e violência, das autoras
Spaziane e Maia (2017), disponível em: http://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/
anais/1498262409_ARQUIVO_Trabalhocompleto_RaquelBaptistaSpaziani.pdf

2.3 Consequências decorrentes da violência sexual

2.3.1 Aspectos físicos

 Doenças sexualmente transmissíveis;


 Sangramento vaginal;

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 Corrimento vaginal;
 Distúrbios alimentares;
 Gravidez precoce.

2.3.2 Aspectos comportamentais

 Desconfiança no adulto;
 Uso de drogas e álcool;
 Hiperatividade e ansiedade exagerada;
 Comportamento rebelde;
 Falta frequente na escola;
 Distúrbios de condutas (fugas de casa, mentiras, roubos);
 Comportamento sexual inapropriado para a sua idade;
 Promiscuidade e prostituição.

2.3.3 Como identificar a violência sexual? Sintomas e sinais típicos4

 Transtorno do sono, pesadelos, insônia;


 Isolamento social e depressão;
 Falta de confiança em adultos;
 Aversão a contatos físicos;
 Baixo rendimento escolar;
 Aversão ao contato físico;
 Perda de apetite, obesidade e mudanças nos hábitos alimentares;
 Lesão ou dor genital;
 Hiperexcitação sexual, masturbação compulsiva;
 Comportamento autodestrutivo (automutilação);
 Mudanças repentinas de humor e irritabilidade;
 Conduta agressiva;
 Gestão e aborto inseguro;
 Estresse pós-traumático.
___________

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Informações retiradas do material do curso semente de Girassol – Centro de Defesa dos Direitos da criança
e do adolescente Pe. Marcos Passerine.
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É importante destacar que sintomas isolados podem não se configurar como
um caso. O contexto e a história familiar são fundamentais para um diagnóstico de
uma situação de violência sexual.

Os efeitos psicológicos também se diferenciam, pois violência é o que é


excessivo para cada sujeito. É possível observar o fato de que uma situação
extremamente violenta pode ser superada sem maiores dificuldades, enquanto
outra aparentemente não tão violenta traz grandes dificuldades aos envolvidos.

RESUMO

A violência sexual no contexto da infância e adolescência nos leva a questionar


sobre algumas especificidades como, por exemplo, a capacidade que uma criança
tem em revelar uma situação abusiva, ou como os adolescentes se posicionam
em relação à sexualidade nos dias atuais, suas vulnerabilidades e quais os efeitos
psicológicos quando um ato violento e sexual atravessa as suas vidas. Pelo fato da
violência sexual se tratar de um crime, existem também os efeitos jurídicos desta
ação que levam vários casos para a justiça. É o que vamos estudar na próxima
Unidade.

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REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A. e ABERASTURY, M. Adolescência Normal: Um enfoque


psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas,1981.

ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à


Adolescência. Abuso sexual: mitos e realidade. Petrópolis: Autores & Agentes
Associados, 2002.

ALVES, A. Sexualidade na adolescência: entre os direitos sexuais reprodutivos e a


violência sexual. Perícias Criminais em Crianças e Adolescentes: Especificidades
e Interdisciplinaridade, 2019, e-book. (no prelo).

BEE, Hellen. A criança em desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre: Artes


Médicas,1996.

DE YOUNG, M.A. A conceptual model for judging the truth-fulness of a Young


child’s allegation of sexual abuse. American J. of Psychiartry, 1986, 56 (4), p.550-9.

FREUD, S. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905). Edição Standard


Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Volume VII. Rio de Janeiro: IMAGO,
1996.

GARDNER, R.A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome


de Alienação Parental (SAP)? 2002. Disponível em: http: www.alienacaoparental.
com.br/biblioteca. Acesso em: 05 nov. 2019.

PERDESEN, 2008 Vitimação e vitimização de crianças e adolescentes:


expressões da questão social e objeto de trabalho do Serviço Social. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/5677/4130.
Acesso em: 11 jun. 2020.

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ROCHA, M. Conhecendo para evitar a negligência nos cuidados da saúde com
crianças e adolescentes. Rev. Gaúcha de enfermagem. Porto alegre. v. 20. 1999.

SPAZIANI R. e MAIA A. Violência sexual contra meninas: entrelaçamentos


entre as categorias gênero, infância e violência. Disponível em: http://www.
en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1498262409_ARQUIVO_
Trabalhocompleto_RaquelBaptistaSpaziani.pdf. Acesso em: 05 nov. 2019.

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