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PENSATA • CULTURA ECONÔMICA DO EMPREENDIMENTO ÉTNICO: CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO AO EMPREENDEDORISMO

CULTURA ECONÔMICA DO EMPREENDIMENTO


ÉTNICO: CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO AO
EMPREENDEDORISMO
Marylin Halter
Boston University

Dentre minhas áreas de especializa- do empreendedorismo étnico na vida chegados ao país tem, mais uma vez,
ção está a imigração recente para os socioeconômica americana recente, injetado uma nova dose de vitalidade
Estados Unidos, com especial interes- um setor da economia marcado por nesse setor da economia.
se na formação da identidade étnica e pequenos empreendimentos tocados O espírito empreendedor tem se
no papel dos imigrantes e dos america- por imigrantes e suas famílias, é um mostrado surpreendentemente re-
nos étnicos no mercado e nas qualida- fenômeno que gerou grande interesse sistente na economia pós-industrial,
des de fornecedores e consumidores. contemporâneo por um amplo espec- especialmente no caso dos empreen-
Explorarei duas facetas diferentes da tro político e ideológico e entre estu- dimentos de base étnica. Com efei-
relação entre a educação para o em- diosos, educadores, formadores de to, um estudo nacional lançado pela
preendedorismo e a experiência dos políticas e ativistas comunitários. Fundação Kauffman em maio de 2006
imigrantes. Começarei por um exame A maioria dos acadêmicos das ciên- revelou que os imigrantes superam em
da cultura econômica do empreende- cias sociais previra que as pequenas muito os americanos natos em termos
dorismo étnico e encerrarei com uma empresas praticamente desaparece- de atividade empreendedora. A taxa de
discussão do impacto educacional em riam dos Estados Unidos ao fim do empreendedorismo dos imigrantes em
potencial das tendências, relacionan- século XX; outros projetaram que a 2005 era de 0,35%, contra 0,28% dos
do-as com a reação da América corpo- significância da etnia em relação ao americanos natos. Em outras palavras,
rativa aos deslocamentos dramáticos e sucesso econômico diminuiria muito aproximadamente 350 de cada 100
globalizados do panorama etnorracial a essa altura do capitalismo avança- mil imigrantes fundaram um negócio
dos Estados Unidos. do. É interessante observar que todos por mês em 2005, contra 280 de cada
Há mais de 180 anos, a sociedade os gigantes da sociologia moderna, 100 mil americanos natos. De fato,
americana atingiu seu ápice em níveis inclusive Karl Marx e Max Weber, são as pequenas empresas – e não as
de auto-emprego. Durantes as décadas subestimaram a vitalidade do empre- megacorporações – o mais dinâmico
de 1820 e 1830, grandes mudanças re- endedorismo no Estado moderno, e gerador de empregos na economia
ligiosas coincidiram com uma ampla nenhum deles contribuiu com mode- americana contemporânea.
explosão da atividade dos pequenos los teóricos capazes de explicar sua Principalmente para os novos imi-
negócios, criando o que foi chamado importância contínua. Assim, ergueu- grantes que enfrentam barreiras lin-
“milênio dos lojistas”, especialmente se um improvável consenso entre os güísticas ou carecem das credenciais
no Nordeste dos Estados Unidos. Com estudiosos, à direita, à esquerda e ao educacionais necessárias e, portanto,
a expansão da economia de mercado centro, de que o empreendedorismo estão afastados do mercado de traba-
do século XIX, a proporção de ame- simplesmente viria a ser obsoleto nas lho secundário e se vêem impossibili-
ricanos brancos livres e proprietários economias avançadas. Porém, desde tados de obter emprego adequado ou
de seus próprios negócios chegou a a década de 1880 os imigrantes têm aceitável, o empreendedorismo pode
80%. Desde então, esse tipo de em- representação desproporcional entre ser um caminho viável para o êxito
preendedorismo declinou constante- os pequenos empreendimentos ame- econômico. Tanto histórica quanto
mente. Mas o crédito e a significância ricanos, e a última onda de recém- atualmente, determinados grupos de

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imigrantes criaram para si nichos ét- o sucesso de um empreendimento e Os resultados dos diversos estudos
nicos, um termo que se refere à parti- esclarece que a etnia é um fator da vida de caso que conduzi em Boston para
cipação desproporcional de minorias econômica. Isso ocorre no marketing um livro sobre empreendimentos ét-
raciais e étnicas em determinadas de produtos étnicos, na contratação nicos que publiquei há alguns anos
funções, pontos da economia em que, de compatriotas, no relacionamento também fornecem forte respaldo ao
por qualquer razão, um grupo étni- com clientes co-étnicos, no capital argumento de que o valor do empre-
co específico desfruta de vantagem. cultural gerado por meio de recur- endedorismo étnico pode ser avaliado
Entre os que exibiram habilidades sos ou estratégias de capitalização de em dimensões mais amplas do que os
empreendedoras que resultaram no fundo étnico. A cooperação entre imi- lucros, de prazo relativamente curto.
estabelecimento de negócios de ni- grantes, misturando comportamentos Esses tipos de formações, pelo contrá-
cho específicos estão os coreanos em tradicionais e modernos, pode resultar rio, podem exercer um efeito multipli-
quitandas, chineses em lavanderias, numa potente poção econômica para cador. Um dos resultados da pesqui-
judeus na indústria de confecções ou os empreendedores étnicos. sa foi a indicação da importância do
cambojanos em lojas de donuts. Se os empreendedores imigrantes e papel de um empreendimento étnico
Atualmente estou pesquisando imi- étnicos ocupam lugar tão significativo como escola para futuros empreende-
grantes e refugiados recentes da África na economia, como então aprendem a dores. Isso não se traduz, necessaria-
ocidental para os Estados Unidos, e abrir e sustentar seus empreendimen- mente, numa simples correspondência
um bom exemplo contemporâneo do tos? Tal conhecimento é quase sem- 1:1, em que todos os empregados de
caminho empreendedor e da dinâmica pre obtido por vias não acadêmicas, um empreendimento étnico tornam-
da formação de um nicho étnico para sendo que duas trajetórias principais se proprietários, ou em que todos os
uma nova população imigrante está assumem o lugar da educação forma. filhos de empreendedores crescem e
nas habilidades culturais transplan- A primeira é resultado de treinamento assumem o negócio da família, mui-
tadas de africanas francófonas, que se e mentoria práticos; a outra, especial- to embora haja numerosos exemplos
ocupam de salões de beleza especiali- mente quando o imigrante tem status dessas duas correlações.
zados no trançamento de cabelos. Os de refugiado, se dá pela exploração de A questão é que, de modo geral, a
proprietários desses estabelecimentos programas de treinamento patrocina- economia étnica fornece uma plata-
também ilustram o processo de reade- dos pelo governo. Ivan Light, impor- forma para que tanto os empregados
quação que tão freqüentemente ocor- tante estudioso do campo do empre- co-étnicos quanto a segunda geração
re na experiência imigrante. Muitas endedorismo étnico, defende o uso se integrem na sociedade em posições
dessas mulheres ocupavam posições de outros critérios, além da medida vantajosas, independentemente de se
liberais no Senegal, mas chegaram padronizada de diferenciais relativos dedicarem ou não aos negócios. Entre
desprovidas das habilidades lingüísti- de remuneração, como indicadores de os gregos, por exemplo, é bastante co-
cas necessárias para ocupar os cargos sucesso de uma economia étnica. Ele mum o padrão de imigrantes recém-
para os quais foram treinadas ou sequer observa que tais economias servem chegados que buscam emprego em
competir por empregos. Assim, come- como campos de treinamento para o estabelecimento co-étnico, aprendem
çam seus negócios de trançamento em empreendedorismo, e, portanto, os como funciona o negócio e, então,
seus próprios lares como parte da eco- ganhos não precisam necessariamen- abrem seu próprio empreendimento.
nomia oculta, enquanto tomam aulas te realizar-se em termos monetários Uma tendência freqüente entre os fi-
noturnas de inglês. Uma vez proficien- apenas. Alguns estudos demonstram lhos de empreendedores gregos, ju-
tes na nova língua, podem transportar que aqueles que estão empregados na deus da ex-União Soviética, refugiados
seu negócio de casa para uma loja e economia étnica têm maiores chances do Khmer (cambojanos), haitianos
estabelecer um salão profissional. do que os demais de vir a se tornar, e oriundos das Antilhas Britânicas é
Como uma parcela estratégica dos eles mesmos, auto-empregados. Nesse buscar ocupações liberais em vez de
pequenos negócios é ocupada por em- sentido, Light refere-se à economia seguir os passos dos pais e manter o
preendedores étnicos, um melhor en- étnica como uma “escola de empre- negócio da família. Mas são os recursos
tendimento desses proprietários pode endedores”. De maneira semelhante, econômicos e sociais decorrentes dos
ser de grande utilidade. A pesquisa Alejandro Portes e Robert Bach, em negócios de família bem-sucedidos que
sobre o empreendedorismo étnico su- seu estudo com imigrantes cubanos e permitem aos filhos de imigrantes atin-
blinha a maneira como características mexicanos, identificaram um padrão gir níveis de educação mais elevados e
culturais distintivas contribuem para comparável. obter empregos liberais.

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Além disso, os padrões de empre- aventurar-se no corpo mais amplo da além do desembolso de microemprés-
endedorismo podem variar com o sociedade americana. timos a refugiados, o Centro ajuda
passar das gerações. Por exemplo, os Além de “pegar o jeito” por meio muitos negócios em diversos estágios
judeus de hoje não se dedicam mais a de experiência direta, na qualidade de desenvolvimento, fornecendo trei-
esse tipo de empreendimento, como de segunda geração de uma família namento e suporte técnico, oferecen-
o faziam na virada do século passado, imigrante ou de empregados compa- do aulas de Introdução ao Comércio
quando fundaram pequenos negócios triotas de proprietários imigrantes, o Eletrônico, Como Cuidar de Crianças,
em tão grande número, mas ainda treinamento oferecido por agências Comercialização de Comida Caseira
existe elevada taxa de auto-emprego. governamentais para imigrantes que e Marketing na Internet. O Centro de
Hoje, números proporcionalmen- desejam ter seu próprio negócio está Negócios da NYANA também opera o
te mais elevados se auto-empregam disponível principalmente para refu- maior Programa de Desenvolvimento
como profissionais liberais indepen- giados, não para imigrantes econômi- Individual do estado de Nova York.
dentes, especialmente médicos e advo- cos. Os refugiados que hoje adentram Das 799 famílias de refugiados de bai-
gados. Quando o filho do proprietário os Estados Unidos o fazem legalmente, xa renda inscritos no programa, 643
de uma deli russo-judaica cresce e se apoiados pela da Lei de Refugiados de se formaram. A NYANA trabalha com
torna médico, certa vitalidade em- 1980, que os classifica como pessoas o Departamento de Administração
preendedora sobrevive à transição, e que fugiram de seus países de ori- de Pequenos Negócios dos Estados
essa força não é mera sobrevivência gem por causa de perseguição ou do Unidos, com doações de empresas
cultural, mas também sua vantagem temor de perseguição devido a raça, do setor privado como a American
econômica. Tais esforços levam a uma religião, nacionalidade, opinião po- Express e o Citigroup. Em 2003, o
base econômica de solidariedade étni- lítica ou pertinência a um grupo so- Centro recebeu uma bolsa de tecnolo-
ca, mas a definição de auto-emprego cial específico. A lei de 1980 criou o gia da Hewlett Packard Company que
mudou com o tempo: tomou-se uma Programa Federal de Acolhimento de lhe permitiu estabelecer dois avan-
nova avenida de mobilidade ascenden- Refugiados, e determina expressamen- çados laboratórios de tecnologia em
te. Entretanto, tudo decorre da expo- te a oferta de assistência para ajudá-los Nova York, um em Manhattan e o ou-
sição inicial à economia étnica, e traz a atingir auto-suficiência econômica o tro em Jackson Heights, no Queens.
retorno tanto aos próprios indivíduos mais rapidamente possível após sua Outra iniciativa semelhante – esta
quanto à riqueza geral da comunidade chegada aos Estados Unidos. Aqueles na região metropolitana de Atlanta,
étnica. Esse efeito multiplicador en- que preenchem os requisitos para se- Geórgia – é um programa de treina-
contra precedentes históricos, como rem considerados refugiados fazem mento empreendedor que se concen-
já se demonstrou para as vias de mo- jus a ajuda federal sob a forma de di- tra em refugiadas. Muitas refugiadas e
bilidade judaica e japonesa, duas mi- nheiro e assistência médica, além de imigrantes chegam aos Estados Unidos
norias que estão entre as de maior su- diversas formas de assistência social, com experiência em administração de
cesso nos Estados Unidos. Exemplos como aulas de inglês, apoio ao ajus- pequenos negócios em seus países na-
históricos e contemporâneos com- te social, preparo para a cidadania e tais ou com diplomas profissionais. No
provam a veracidade da afirmativa de naturalização, e serviços de emprego entanto, têm dificuldade em explorar
Light, de que a economia étnica pode que podem incluir iniciativas como suas experiências e seus títulos nos
ser vista como um trampolim para programas governamentais de treina- Estados Unidos, e se vêem presas a
recompensas futuras, tanto econômi- mento para a microempresa. empregos de baixa remuneração e com
cas quanto sociais, e não apenas em Por exemplo, a Associação Nova- poucas oportunidades de progresso. A
termos de ganhos relativos imediatos Yorkina de Novos Americanos (New Rede de Refugiadas (Refugee Women’s
em comparação com os do mercado York Association for New Americans – Network – RWN) de Atlanta, como
de trabalho em geral. Por fim, esses NYANA) reconhece que muitos outros programas de microempresas
estudos demonstram que o empre- imigrantes sonham fundar ou ex- de todo o país, procura fornecer às
endimento étnico não é apenas uma pandir uma pequena empresa e há imigrantes e refugiadas as habilidades
“escola de empreendedores”, mas, 10 anos estabeleceu um Centro de necessárias para fundar ou expandir
em termos mais gerais, é uma escola Negócios para Novos Americanos, pequenos negócios. Programas desse
de mobilidade social e um contexto para ajudá-los a realizar esse sonho. tipo têm por meta ajudar essas mu-
de solidariedade a partir do qual os Sob os auspícios do Programa de lheres a adquirir confiança e atingir a
indivíduos adquirem confiança para Desenvolvimento de Microempresas, auto-suficiência econômica.

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O primeiro passo do programa de técnica. Também precisariam de apoio O caminho empreendedor é tão
microempresas da RWN é um curso moral. Frente a isso, a RWN contratou largamente reconhecido como uma
de seis semanas sobre a redação de em 2005 um consultor para prestar ser- chave crucial para a adaptação bem-
um plano de negócio. A RWN suple- viços de acompanhamento e reunir as sucedida de novos imigrantes, que
menta as aulas com acompanhamento graduadas do programa numa rede de têm surgido livros e brochuras de ins-
pós-curso para fornecer incentivo e apoio. O consultor fornece assistência trução oferecendo maior assistência a
assistência técnica. Também facilita a técnica individualizada, ajuda a apro- recém-chegados que desejem estabele-
formação de redes de apoio compostas ximar pessoas que estejam em busca de cer seu próprio negócio. Um exemplo
de graduadas do programa e concede sócios e aconselha mulheres em busca recente é The Complete Success Guide
microempréstimos. de educação, treinamento ou certifica- for the Immigrant Life (Glendale, CA:
O objetivo da RWN é conceber ção. Em 2005 a RWN também lançou PDI Books, 2004), de Monette Adva
um programa que canalize o ímpeto um programa de microcrédito voltado Maglaya, que inclui um capítulo deta-
empreendedor dessas mulheres e ala- predominantemente para graduadas do lhado sobre a abertura de um negócio,
vanque suas habilidades e seus talen- programa. A RWN concede pequenos com informações fundamentais quan-
tos para a obtenção de algo tangível. empréstimos que vão de US$ 250 a US$ to ao papel central do auto-emprego
Simultaneamente, acomoda as muitas 5.000 para ajudar as empreendedoras no sistema socioeconômico ameri-
restrições que as mulheres enfrentam na construção de seus negócios. cano. Concentra-se na região sul da
na qualidade de recém-chegadas, como Outras organizações nos âmbitos Califórnia, tida como solo especial-
a adaptação a uma nova cultura, o estadual e federal que fornecem assis- mente fértil para pequenos negócios.
aprendizado do inglês, a busca de um tência a empreendedores imigrantes A autora inclui estudos de caso de gru-
lugar para morar e a luta para pagar as ou refugiados são a Small Business pos de imigrantes com forte histórico
contas. Embora a RWN há muitos anos Administration, os órgãos munici- de sucesso empreendedor, como os
esteja envolvida com treinamento de pais de desenvolvimento de negócios, recém-chegados coreanos e chineses.
liderança para imigrantes e refugiadas, e, dependendo de sua raça ou etnia, Grande parte do capítulo inclui con-
não havia se concentrado em treina- alguns proto-empreendedores po- selhos práticos para criar um plano de
mento vocacional ou empresarial até dem se aproveitar de órgão estaduais negócio, levantar o capital inicial, es-
2001, quando lançou seu programa criados para minorias específicas. Em colher um sócio e um tipo societário,
de microempresas. O programa sur- Massachusetts, por exemplo, o Órgão onde instalar o estabelecimento, como
giu de pedidos de refugiadas que ha- Estadual para Assistência a Negócios atribuir preço a produtos e serviços e,
viam participado do Treinamento de de Minorias e Mulheres (State Office finalmente, como anunciar.
Liderança da RWN e queriam ajuda of Minority and Women Business Em sua discussão sobre a vitalida-
para fundar seus próprios negócios. Assistance) promove desenvolvimen- de do empreendedorismo coreano,
Aproximadamente 200 mulheres já to de negócios e organizações sem fins Maglaya destaca os recursos culturais
passaram pelo curso de treinamento lucrativos de propriedade de negros transplantados por esse grupo. Um de-
em planejamento de negócios desde e mulheres. Mas há estudos que de- les é uma associação de crédito rotati-
sua fundação, e, segundo a RWN, cer- monstram que as agências de apoio da vo, conhecido como sistema kye, onde
ca de um terço delas fundou, expandiu sociedade não têm sido muito bem-su- os coreanos recém-chegados podem
ou reforçou um negócio. Para atrair cedidas em seus esforços de atingir a obter capital para o estabelecimento
participantes, a RWN se envolve com comunidade de negócios de minorias de negócios pedindo ajuda a amigos
a comunidade. A instituição se fia em para a oferta de apoio financeiro e edu- e parentes que já estejam bem insta-
contatos com programas de emprego cacional. Com isso, os empreendedo- lados. Principalmente como postura
de outras agências, anúncios em jor- res vêm recebendo muito pouca assis- defensiva contra a discriminação, os
nais e estações de rádio étnicas, folhe- tência dessas agências. Alguns estudos empreendimentos coreanos unem-se
tos e, principalmente, propaganda de demonstram que é mais provável que a suas próprias associações comerciais
boca em boca. recorram a canais informais em busca e preferem negociar entre si. Mas há
A RWN sabia que as mulheres que de ajuda, normalmente igrejas, suas tendências que indicam que alguns
se matriculavam em seus cursos esta- comunidades de compatriotas, seus se aventuram para além das redes de
riam embarcando numa jornada longa pares em negócios semelhantes ou, negócios coreanas, explorando outros
e por vezes solitária. Em seu caminho, com menor freqüência, outras linhas mercados étnicos e também parte do
precisariam de assistência financeira e de atividade. mercado principal, enquanto expan-

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dem agressivamente sua gama de ati- de imigrantes economicamente bem- formação da identidade étnica e a mo-
vidades, passando a incluir serviços sucedidas tem atraído considerável derna cultura de consumo nos Estados
jurídicos, contábeis, bancários, imo- atenção acadêmica. Alguns afirmam Unidos do final do século XX. A tenta-
biliários e de seguros. que é justamente esse sistema de em- tiva de unir o estudo do consumismo
Os imigrantes coreanos e chineses préstimos rotativos o fator central moderno com o da identidade étnica
são particularmente conhecidos por para o êxito empreendedor, e chegam envolve o mapeamento de novos terri-
essas redes de crédito rotativo, mas a explicar as diferentes taxas de su- tórios. Embora a literatura sobre etnia
não são, de forma alguma, os únicos cesso dos vários grupos de imigrantes seja vasta, trabalhos sérios relacionados
grupos que dispõem desse tipo de van- segundo eles tenham ou não tradição à natureza do consumo ainda estão em
tagem cultural. Associações desse tipo em tais recursos transplantados. Mas, seus estágios iniciais, e costumam ser
são comuns em todo o mundo, desde mesmo onde há tais redes, as famílias encontrados na periferia da investiga-
outros países asiáticos, como o Japão, muitas vezes concedem empréstimos ção sociocultural. Isso não significa que
até o Senegal, na África ocidental, ou maiores e em melhores condições do não haja pesquisas que liguem o auto-
Trinidad, no Caribe, e as evidências que os membros co-étnicos de asso- interesse econômico com a dinâmica
sugerem que, ao criar tais associações ciações de crédito. cultural. Pelo contrário, o campo do
em comunidades de diáspora, os imi- Dessa forma, em vez de ensinar empreendimento étnico, como já infe-
grantes normalmente estão adaptando empreendedorismo aos imigrantes, rimos, ostenta literatura bem desenvol-
ou recriando uma prática nativa. Com podíamos certamente inverter a pro- vida e representa, talvez, a abordagem
efeito, alguns estudiosos descrevem posição e nos perguntar o que os imi- mais explícita dessa inter-relação, ao
esse sistema de crédito como banco grantes têm a nos ensinar sobre isso. À explorar como o empreendedorismo,
indígena. Com toda a sua diversidade medida que os pesquisadores e acadê- em particular a história dos empreen-
geográfica, as associações de crédito micos desenvolvem estruturas e cur- dimentos imigrantes, se situa dentro
costumam operar de acordo com um rículos de ensino para os estudantes da economia étnica. Ainda assim, com
mesmo princípio básico: seus membros de empreendedorismo, especialmente poucas e honrosas exceções, o papel
contribuem com um valor fixo a cada como preparação para a fundação de do imigrante como consumidor tem
reunião e o distribuem alternadamente pequenas e médias empresas, podem sido ignorado.
aos participantes. Mas essas organiza- muito bem descobrir que alguns dos Em Shopping for Identity: The
ções fazem muito mais do que apenas mais comprovados métodos para co- Marketing of Ethnicity (New York:
conceder crédito. Ao ritualizar a auto- meçar e expandir empresas de sucesso Schocken Books, 2000), estudei a apro-
ajuda, encorajam a poupança, incen- há muito vêm sendo agregados aos ne- priação da etnicidade por empresas, se-
tivam a solidariedade étnica e servem gócios étnicos e de imigrantes, como a jam elas de base étnica ou não, como
como trampolim para a participação associação de crédito rotativo, por se- estratégia para vender em mercados
étnica na arena política mais ampla. rem úteis ferramentas pedagógicas. mais amplos nos Estados Unidos.
Esse tipo de atividade bancária aju- Permitam-me virar mais uma vez a Se repararmos bem, o marketing
dou muitos imigrantes a se adaptarem mesa e discutir o impacto da imigração étnico e a revitalização étnica que o
economicamente bem à sua nova si- em grande escala sobre o modo de os alimenta estão por toda a parte. Nos
tuação. A faceta mais vantajosa do americanos fazerem negócios, o que corredores de qualquer supermerca-
sistema está em servir como banco pode sugerir modificações na educação do dos Estados Unidos encontramos
étnico, em que os imigrantes, muitas para o empreendedorismo de modo a mais salsa do que ketchup. As ven-
vezes membros de minorias raciais refletir essas mudanças. Num mundo das de tortillas crescem mais rápido
pobres, podem obter crédito sem a globalizado, em que cada vez mais os que vendas de pão. A variedade de
burocracia das instituições financeiras estados-nações se tornam sociedades alimentos encontrados no comércio
formais. As associações de crédito ro- de crescente diversidade cultural, a não é apenas o reflexo da diversida-
tativo agem principalmente como um necessidade de treinar empreendedores de étnica americana, mas também a
mecanismo econômico transplantado para abarcar esses mercados passa a ser evidência de uma mudança recente,
para os imigrantes de primeira geração cada vez mais forte. porém profunda, em relação ao modo
e não necessariamente como um pálio Após trabalhar com o empreende- como os americanos se vêem, ao que
duradouro de identidade étnica. Ainda dorismo imigrante, ficou mais fácil significa ser americano. Nos últimos
assim, a prevalência de associações de desenvolver meu próximo projeto, anos, políticos e cientistas sociais têm
crédito rotativo entre comunidades um estudo da relação mutante entre a procurado determinar se os imigrantes

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de hoje se adaptam à sua terra adotiva que apresenta novas variedades, como informar os ouvintes da variedade e
com fizeram as gerações anteriores. manga, papaia e arroz com feijão, para qualidade de suas mercadorias, John
Mas parecem ignorar outra pergunta o gosto deles e apelo nutricional para Gregorian proclama orgulhosamente
de igual importância: como os Estados bebês de todas as etnias. a expertise de sua filha e sua disponi-
Unidos têm se adaptado aos hábitos de Sempre me interessei tanto pelo bilidade como palestrante para ofe-
seus imigrantes? As tendências publi- papel do marketing étnico em empre- recer treinamento em confecção de
citárias demonstram que a etnia é um sas mais localizadas quanto pelo nível tapetes e tradições armênias a escolas
forte combustível, alimentando a livre corporativo, e tanto pelos setores não elementares. Os consumidores são
iniciativa e moldando nossos padrões lucrativos da economia como pelos incentivados a comprar na Gregorian
de consumo. lucrativos. Por gerações, nos Estados e aproveitar as oportunidades educa-
A mudança é abrangente. As em- Unidos, a empresa étnica tem servido cionais oferecidas. Enquanto Arthur
presas americanas hoje gastam mais de modelo à fusão entre comércio e escreve para sérios colecionadores de
de US$ 2 bilhões por ano em publi- cultura, fundamental para a aborda- arte, Melissa escreveu uma história
cidade criada para atrair a atenção de gem de marketing como segmenta- para crianças e concebeu um livro de
novos imigrantes e fidelizar clientes ção. Tomemos o exemplo da Arthur colorir sobre a arte de fazer tapetes.
das minorias, cujo poder aquisitivo T. Gregorian Oriental Rugs, Inc., um A loja se tornou um centro educacio-
está estimado em mais de US$ 1 tri- negócio familiar armênio-americano nal visitado por alunos de todas as
lhão ao ano e que anseiam por com- localizado em Newton, Massachusetts idades, do primeiro grau à educação
prar os sinais de sua herança cultural. (seu logo diz: “Um pedacinho da para adultos. No processo de ensino
O mercado existe. Há hoje mais de 38 Pérsia em Newton Lower Falls”). Essa da história da tecelagem de tapetes,
milhões de hispânicos, 35 milhões de empresa vem operando com sucesso alguns intérpretes fornecem informa-
negros e 11 milhões de asiáticos nos desde 1934 e ilustra perfeitamente ções sobre o desenvolvimento da cul-
Estados Unidos. São populações em como a cultura pode ser intrínseca tura armênia, sempre com o objetivo
acelerado crescimento e que, como de- à expertise de negócios num empre- de despertar interesse no aluno ou nos
monstram os dados, vêm enriquecen- endimento étnico local. Embora um parentes para que se tornem clientes.
do. Por exemplo, o Censo de 2000 não amplo conhecimento das tradições Os Gregorians se adaptaram ao anseio
só revelou que o crescimento da popu- armênias de confecção de tapetes te- contemporâneo por representações
lação latina superou as projeções dos nha sido sempre a base da empresa, físicas de culturas autênticas, trans-
especialistas, mas também demons- nos últimos anos o reconhecimento formando-se em mais do que simples
trou que a renda familiar média real de uma generalizada demanda de au- vendedores de tapetes. São também
cresceu 13%, enquanto seu poder de tenticidade, especialmente entre os autoridades acadêmicas que contri-
compra total hoje se equipara ao PIB consumidores da classe média e alta, buem para a educação multicultural
do México. Da mesma forma, os ame- junto a uma maior apreciação do co- com seus ensinamentos não apenas
ricanos asiáticos, dois terços dos quais nhecimento local, levou os proprie- sobre a arte da tapeçaria, mas também
nascidos no exterior, representam uma tários a destacar a riqueza da herança sobre a pouco conhecida história cul-
das populações de mais rápido cresci- armênia em sua publicidade, inclusive tural da diáspora armênia, narrativas
mento nos Estados Unidos e ocupam com lances que enfatizam a educação literalmente entrelaçadas com as pró-
a posição mais elevada entre todos os cultural como um bônus adicional ao prias mercadorias ofertadas.
grupos, inclusive o dos brancos, em se comprar na Gregorian. Já na terceira Se analisarmos as estratégias que os
termos de renda familiar média e ativi- geração, o fundador Arthur Gregorian empreendimentos étnicos tradicionais
dade empreendedora. Não é de estra- confiou os negócios a seu filho John, sempre usaram para atender a uma
nhar que hoje as fraldas Pampers, da atual presidente, para poder se dedicar clientela co-étnica, seja fazendo ne-
Procter and Gamble, venham em cai- em tempo integral ao lado educacional gócios em sua língua nativa seja utili-
xas escritas em inglês e espanhol, que da empresa. Além de publicar bons zando a imprensa étnica, aproveitando
os americanos asiáticos apareçam em livros sobre tapetes orientais, Arthur possibilidades de publicidade dentro
comerciais de TV de todos os tipos de Gregorian profere palestras sobre o do calendário de eventos da comunida-
produto, desde canetas Parker até en- assunto e sobre a história da cultu- de compatriota, especializando-se em
tregas pela UPS. A Gerber criou uma ra armênia. Sua neta, Melissa, tam- mercadorias indígenas e serviços cultu-
linha de alimentos de bebês para fa- bém assumiu o papel de educadora. ralmente especificados e fazendo ques-
mílias hispânicas, a Gerber Tropicals, Nos anúncios de rádio da loja, após tão de conhecer as preferências que dis-

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tinguem seus consumidores, veremos revólveres, Frito Bandito falava com a diversidade dos quadros internos é
que os especialistas em marketing cor- forte sotaque mexicano e roubava muitas vezes crucial para o sucesso
porativo estão simplesmente tentando as pessoas para comprar Fritos. De da empresa. Dispor de uma força de
dominar a abordagem na qual os em- início, a imagem enfrentou poucos trabalho que represente as etnias que
preendedores étnicos locais basearam protestos, mas em 1969 um grupo de são os principais públicos-alvo não
seus empreendimentos. A diferença é celebridades de Hollywood, entre as apenas ajuda a garantir o sucesso de
que as grandes empresas tentam adap- quais Ricardo Montalban, formou o campanhas de marketing intercultural,
tar essas técnicas para que funcionem Comitê Mexicano-Americano contra a mas também agrega credibilidade à
em escala muito mais ampla. Difamação, uma organização nos mol- empresa, especialmente no que se re-
Essas tendências demográficas flu- des da Liga Judaica contra a Difamação, fere às questões de autenticidade. Dois
tuantes inspiraram o estabelecimento da NAACP (Associação Nacional para tipos de expertise – proficiência em
de espécies inteiramente novas de ne- o Progresso das Pessoas de Cor) e de línguas estrangeiras e profunda com-
gócios e serviços, concebidos para atin- outras organizações integracionistas. preensão cultural – andam de braços
gir uma base culturalmente diversa de Lideradas por DJs da estação de rádio dados. Uma das melhores maneiras de
consumidores. O marketing étnico se KNBC, de Los Angeles, começaram garantir o sucesso na nova América
tornou uma indústria, reunindo peritos os protestos e uma ameaça de boicote multicultural é se certificar de que
dotados do mais adiantado treinamen- nacional contra os Fritos. Ainda assim, sua empresa reflete essa diversidade.
to tecnológico e de avançados métodos o Frito Bandito gozava de reconheci- Ademais, os mais sofisticados espe-
de pesquisa para investigar atitudes, mento extraordinariamente elevado, cialistas em mercado-alvo compreen-
cultura, heróis, organizações dignas de e a empresa divulgou informações dem as limitações de um escopo por
confiança e estilos de vida. A necessida- declarando que suas pesquisas prova- demais amplo para audiências mul-
de de consciência intercultural tem sido vam que a maioria dos americano-me- tinacionais. Um componente crucial
evidente desde as primeiras atividades xicanos não se sentia ofendida com os do treinamento de seus quadros é o
de marketing internacional. Quando anúncios. Mas em 1971 a Frito Lay (de desenvolvimento de uma consciência
a International Harvester começou a propriedade da Pepsico) recuou e reti- das complexas variações intra-étnicas
anunciar para mercados estrangeiros, rou o Frito Bandito do mercado, apesar entre os segmentos hispânico e asiáti-
nos primeiros anos do século passado, das vendas surpreendentemente altas. co, e da habilidade para repassar esse
foi avisada por um vendedor chinês Significativamente, a controvérsia do conhecimento aos clientes. Por exem-
de que a cor vermelha não deveria ser Frito Bandito provou a crescente capa- plo, muito embora os cubanos e os
usada nos anúncios porque represen- cidade das comunidades étnicas, ante- mexicanos sejam classificados como
tava o luto e seria ofensiva. Da mesma riormente ignorada, de usar sua força hispânicos por causa da língua que
forma, em 1913, a companhia de carnes econômica, seguindo o exemplo dos compartilham, na verdade seus histó-
Armour percebeu que precisaria fazer boicotes a lojas e estabelecimentos se- ricos socioculturais e seus padrões de
alterações no esquema de cores azul e gregados durante o movimento pelos colonização nos Estados Unidos são
amarelo de seus rótulos ao começar a direitos civis. Campanhas de protesto muito divergentes, e exigem aborda-
vender na Noruega, pois essas eram as bem-sucedidas como essas forçaram gens de marketing diferenciadas. As
cores da bandeira nacional da vizinha cada vez mais as grandes empresas a nuances culturais transmitidas em
Suécia. Embora esses perigos persigam se sensibilizarem com o problema dos treinamentos empresariais do setor
as empresas desde o advento das cam- estereótipos étnicos de maneira inima- corporativo poderiam ser transplan-
panhas mundiais de marketing, apenas ginável poucos anos antes. tadas para as salas de aula, fornecen-
nos últimos anos surgiram, na América Os especialistas em marketing ét- do aos nascentes empreendedores as
corporativa, especialistas capazes de nico de hoje estão aí para ajudar as ferramentas culturais necessárias para
lidar com o problema. empresas a evitar gafes interculturais tocar negócios bem-sucedidos no mer-
E houve erros. Um famoso tropeço potencialmente embaraçosas e cus- cado multiétnico e multirracial.
de marketing foi o caso Frito Bandito. tosas. Eles combinam conhecimento Apenas nos últimos anos, em res-
Provavelmente a Frito-Lay pensava cultural em primeira mão com o co- posta a essas tendências, pela primeira
ter um mascote seguro quando, em nhecimento de marketing america- vez foram feitas alterações curricula-
1968, introduziu o Frito Bandito em no para proporcionar uma vantagem res para incorporar os ensinamentos
anúncios para a TV e mídia impres- competitiva a seus clientes. Entre as do marketing multicultural e alcançar
sa. Usando um sombrero e disparando empresas de marketing multicultural, melhor as crescentes populações de

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MARYLIN HALTER

novos imigrantes. Ao mesmo tempo, How the Multicultural Consumer is bém passam por mudanças demográfi-
os especialistas têm publicado obras Transforming American Business, de cas que os têm tornado mais diversos
para ajudar a atingir essas metas edu- Guy Garcia (Ravo, 2004). do que nunca – e o mercado também
cacionais. O primeiro livro-texto do Enquanto cada vez mais ofertas de reagindo nesses locais. Ademais, os úl-
gênero, Advertising and Marketing to the cursos nos campos de Administração timos recém-chegados, diferentemente
New Majority (Wadsworth Publishing, de Empresas e Comunicação incor- das ondas de imigrantes anteriores, têm
1994), de Gail Baker Woods, trata das poram unidades de marketing ét- muito maior chance de ter sido expos-
disciplinas de Publicidade e Marketing nico, há dois anos, na Florida State tos a produtos americanos em seus paí-
em sua relação com consumidores ét- University, um professor empreen- ses de origem, diretamente ou por meio
nicos, principalmente afro-america- dedor, Felipe Korzenny, fundou um da mídia global, já que o marketing de
nos, hispano-americanos, ásio-ameri- Centro de Estudos de Comunicações mercadorias dos Estados Unidos tem
canos e americanos nativos. Ensina-se de Marketing Hispânico (Center for se tornado cada vez mais internaciona-
os alunos a entenderem os princípios the Study of Hispanic Marketing lizado. Assim como se diversificam as
da publicidade e do marketing apli- Communications). Korzenny, que populações de muitos países, também
cando-os aos grupos étnicos. O texto trabalhou no setor privado à frente os estudos de caso, as consultas com
foi redigido para instruir por meio de da Cheskin Research, uma empresa empreendedores, os palestrantes con-
exemplos. Usando estudos de caso de de marketing multicultural, reconhe- vidados e as leituras dos programas de
empresas como Kraft, General Foods, ceu que o setor de marketing hispâ- educação para o empreendedorismo
Toyota, Metropolitan Life, Scott Paper nico dos Estados Unidos passara por podem refletir a diversificação cultural
e Honda, os alunos têm a oportuni- crescimento dinâmico e, conseqüen- do mundo dos negócios. Seja ensinan-
dade de ver como os peritos do setor temente, necessitava de profissionais do empreendedorismo a imigrantes ou
lidam com os problemas. Nem todos treinados, mas que a maioria das or- a cidadãos natos, a empresários expe-
os casos estudados foram bem sucedi- ganizações de publicidade, agências rientes ou à geração mais jovem, reco-
dos, o que dá aos alunos uma chance de relações públicas e organizações nhecer essas mudanças populacionais e
de discutir, analisar e modificar cam- de marketing tinham dificuldades para incorporar o conceito de cultura refor-
panhas fracassadas com base no co- preencher vagas de marketing hispâni- çará a abordagem pedagógica nas salas
nhecimento adquirido com experiên- co. Foi por isso que Korzenny criou o de aula de empreendedorismo.
cias bem-sucedidas. Outros exemplos centro, para treinar alunos que aten-
de títulos que prometem expertise na dessem ao setor de marketing hispâ-
abordagem a consumidores multié- nico e a profissionais que já trabalham NOTA
tnicos são Marketing and Consumer com esse mercado.
Identity in Multicultural America, de Embora minhas pesquisas tenham Esta pensata é uma adaptação da conferência pro-
Marye C. Tharp (Sage Publications, se concentrado nos Estados Unidos, ferida pela autora no evento “Internationalizing
Entrepreneurship Education and Training:
2001), Marketing to American Latinos outros modernos países desenvolvi- Innovative Formats for Entrepreneurshirp
(Paramount Market Pub, 2002), de M. dos, como a Grã-Bretanha, a Holanda, Education Teaching”, ocorrida na FGV-EAESP
Isabel Valdes, e The New Mainstream: a França, a Alemanha e o Canadá, tam- em julho de 2006.

Artigo convidado. Aprovado em 09.10.2006.

Marilyn Halter
Professora de História e pesquisadora do Institute on Culture, Religion and World Affairs
(CURA) – Boston University.
Interesses de pesquisa nas áreas de estudos americanos, história e sociologia da imigração,
etnicidade, história cultural americana dos séculos XIX e XX, e história do consumidor.
E-mail: mhalter@bu.edu
Endereço: Boston University, 226 Bay State Rd. Rm. 101, Boston – MA, 02215.

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