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Auto - Estima

Maria do Rosário Silva Souza

A opinião que a criança tem de si mesma está intimamente


relacionada com sua capacidade para a aprendizagem e com
seu rendimento. O auto-conceito se desenvolve desde muito
cedo na relação da criança com os outros.

Os pais atuam como espelhos, que devolvem determinadas


imagens ao filho. O afeto é muito parecido com o espelho.
Quando demonstro afetividade por alguém, essa pessoa
torna-se meu espelho e eu me torno o dela; e refletindo um
no sentimento de afeto do outro, desenvolvemos o forte
vínculo do amor, essência humana, em matéria de
sentimentos.

É nesta interação afetiva que desenvolvemos nossos


sentimentos positiva ou negativamente e construímos a nossa
auto imagem.

Se os pais estão sempre opinando a partir de uma


perspectiva negativa para os filhos, e se estão sempre
taxando-os de inúteis e incapazes, ou usando de zombarias e
ironias, irá se formando neles uma imagem "pequena" de seu
valor. E se com os amigos, na rua e na escola, repetem-se as
mesmas relações, teremos uma pessoa com auto - estima
baixa e baixo sentimento de auto - avaliação.

Como desenvolver a auto - estima ?

Quando a criança tem êxito no que faz - e já falamos sobre a


forma de ajudá-las nesse sentido - começa a confiar em suas
capacidades. E quanto mais acredita que PODE FAZER, mais
consegue.

É importante ensinar à criança que ela pode fazer algumas


coisas bem, e que pode ter problemas com outras coisas. E
que esperamos que faça o melhor que puder.

Também é uma boa ajuda admitirmos nossos próprios erros


ou fracassos. Ela precisa saber que também nós não somos
perfeitos : "Sinto muito. Não devia ter gritado. Fiquei o dia
todo chateado."

Para ajudá-la a criar bons sentimentos é importante elogiá-la


e incentivá-la quando procura fazer alguma coisa, fazendo-a
perceber que tem direito de sentir que é "IMPORTANTE", que
"pode aprender", que "consegue" e que sua família lhe quer
bem e a respeita. O cuidado reside em adequar as tarefas
que cabem a cada idade e permitir que ela tente, como
colocar o suco no copo (ainda que derrame), a roupa (mesmo
do avesso), a jogar objetos no lixo, guardar os brinquedos, as
peças do jogo, ajudar na arrumação dos seus livros, fitas de
vídeo, enfim, solicitar a ajuda da criança, partilhando com ela
pequenos afazeres, vale até aplausos às suas conquistas.

Portanto, estabeleça metas realistas e adequadas a idade de


seu filho. Dê-lhe oportunidade de desenvolver-se sem super
protegê-lo ou sem pressioná-lo, nem compará-lo com outras
crianças.

Assim, ele formará um conceito positivo de si mesmo. E para


desenvolver esse sentimento, estimule-o quando ele sentir
que não tem condições de realizar algo. Talvez tenha de
dizer-lhe : "Claro que você pode. Vamos, vou te ajudar."

Breve Relato de experiência

Certa vez, como professora da 1a série, trabalhando com


crianças de 6 anos e meio e 7 anos, deparei-me com um
menino que possuía imensa capacidade intelectual, forte
interesse pela literatura e na época já havia lido "Os
Lusiadas" (Camões), mas sua coordenação motora global
ficara comprometida, apresentando dificuldade para correr,
pular, jogar bola, subir em árvores; atividades comuns às
crianças desta faixa etária.

Sempre que íamos ao parque da escola, seus olhos brilhavam


ao ver os amigos subindo e brincando na goiabeira.
Incentivei-o muitas vezes a subir e orientei-o para não temer
cair, pois a árvore estava rodeada de areia do parque. Até que
certo dia, subi com ele na árvore: "Vamos, eu subo com
você." E brincamos juntos. Foi o início de novas experiências
para ele. Em outras situações, uma palmadinha no ombro,
um sorriso, uma palavra de elogio ou de incentivo de vez em
quando, ajuda e muito, a desenvolver na criança sentimentos
positivos.

Mas é importante que o elogio seja merecido. Ela sabe


quando é sincero. E se for falso, isso fará com que não tente
mais! É melhor elogiar o que fez, do que elogiá-la
diretamente. "Nossa, que quarto arrumadinho!"... "Gostei de
ver como você foi educada com a mãe do Dudu." A criança
precisa sentir-se satisfeita consigo mesma para aprender e
para alidar os seus sentimentos.

Considerações importantes a respeito do desenvolvimento da

Auto - estima...

A teoria de Piaget é ao mesmo tempo compreensiva e útil a


todos. Ela oferece uma forma alternativa de se compreender
o comporta- mento e o desenvolvimento humano, para
aqueles interessados em educação e psicologia.

Não há leis ou fórmulas como na Física ou na Química, mas


usar as teorias como recurso pedagógico e educativo e nos
leva a descobrir aquelas que são mais úteis à formação da
personalidade, que é de grande importância para todos nós,
educadores, pois propõe uma reflexão sobre o nosso cotidiano
e nossa relação com a criança. Isto é ao meu ver, o apelo da
obra de Piaget. Ela vai ao encontro das expectativas de pais e
professores preocupados com o desenvolvimento da criança
em todos os aspectos da sua personalidade.

Uma série de recomendações consistentes com a teoria de


Piaget é apresentada a seguir :

1.) Os pais e professores devem assumir relações de respeito


mútuo com as crianças, e

não autoritárias, pelo menos alguma parte do tempo em que


permanecem juntos. Os pais podem encorajar as crianças a
resolverem problemas por si mesmas e a desenvolverem a
autonomia. Pais e professores precisam respeitar as crianças.

2.) Quando a punição às crianças se fizer necessária, ela deve


estar baseada na reciprocidade e não na expiação. Por
exemplo, o menino que se recusa a arrumar o seu quarto
pode ser privado das coisas que estão no quarto. À menina
que bate em outras crianças, deve ser negada a interação
com outras crianças.

3.) Os professores podem promover a interação social nas


salas de aula e encorajar o questionamento e o exame de
qualquer problema que pode ser levantado pele criança.
Existe valor intelectual em trabalhar com os interesses
intelectuais espontâneos da criança e, para o
desenvolvimento moral dela, é igualmente valioso lidar com
as questões morais espontâneas. Isso cabe também aos pais.

4.) É possível envolver a criança, mesmo a da pré - escola,


em discussões de problemas morais. À medida em que ela
ouve os argumentos de seus colegas pode experimentar
a desequilibração cognitiva, que pode conduzir à
reorganização de seus conceitos. O conflito cognitivo é
necessário para a reestruturação do raciocínio e para o
desenvolvimento mental.

5.) Se muitos "educadores" desejassem pensar ao contrário,


a responsabilidade, a cooperação e a auto disciplina não
podem ser transmitidas à criança autoritáriamente. Tais
conceitos devem ser construídos por ela a partir de suas
próprias experiências, para o quê as relações de respeito
mútuo são essenciais. Pais e professores são os que, em
geral, organizam o meio social ao qual a criança se adapta e a
partir do qual ela aprende. É discutível a idéia de que a
criança pode desenvolver os conceitos de justiça, baseados na
cooperação, em um ambiente cujo o sentido de justiça tenha
por base apenas a autoridade.

6.) A privação ou punição através do afeto é prejudicial para a


criança, pois provoca baixa auto - estima e sentimento de
culpa. Por isso não se deve dizer : "Mamãe está TRISTE com
você ..." A ameaça usando o afeto é doloroso demais para
ela.

A criança com auto - conceito positivo oferece contribuições


significativas e valiosas para o grupo e para a própria
formação.

Uma palavra final...

Sem auto - estima, difícilmente a criança enfrentará seus


aspectos mais desfavoráveis e as eventuais manifestações
externas. Já a criança com auto - conceito positivo parece
mais ativa; tem facilidade em fazer amigos, tem senso de
humor, participa de discusões e projetos, lida melhor com o
erro, sente orgulho por contribuir e é mais feliz, confiante,
alegre e afetiva.

Neste sentido, os sentimentos devem ser tão bem


demonstrados quanto são ensinados. Este é o segredo para
um bom começo de vida. Ensinará a criança a enfrentar a
vida. O orgulho, quando não é excessivo, contribui para o
desenvolvimento da auto - estima.

E convém relembrar que a auto - estima mantém uma


estreita relação com a MOTIVAÇÃO ou o interesse da criança.

Maria do Rosário S. de Souza


Psicopedagoga - Campinas /SP

Referência Bibliográfica

Wadsworth, J. Barry - Inteligência e Afetividade da Criança na


Teoria de Piaget.
 
Como podem os pais de uma criança aumentar a curiosidade
e o interesse do seu filho para aprender ?

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