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Filosofia do
Direito
Ele se notabilizou pela postura crítica que adotou no fim dos anos 1970,
que o levou a fundar a chamada Nova Escola Jurídica Brasileira, chamada
por ele de Nair. Várias de suas publicações foram palestras oferecidas
aos estudantes de direito, sendo uma das mais interessantes o texto que
se segue, publicado originalmente em 1984 e republicado cerca de dez
anos depois na coletânea O Direito Achado na Rua, de 1993.
Temos de absorver toda abertura para alargá-la (não para engolir o seu
capcioso diâmetro, como os “realistas”); temos de vencer etapas
limitadas, para superá-las (não para imaginar que com elas se resolva
tudo, em lance milagreiro); temos de inserir-nos no contexto, para
transformá-lo (não para nos julgarmos adstritos a ele, como o peru
natalino, em torno do qual se traga um círculo de carvão: ele fica ali,
dentro do círculo, pensando que é intransponível, até que o venham
buscar, para o facão, o tabuleiro e o forno).
Quando Marx pregou a organização dos trabalhadores, para intervir,
inclusive, no processo eletivo, disse que assim se poderia transformar o
sufrágio universal e a democracia parlamentar, de instrumento de
engodo, em instrumento de libertação.
A pressão libertadora não se faz, apenas, de fora para dentro, mas,
inclusive, de dentro para fora, isto é, ocupando todo espaço que se abre
na rede institucional do status quo e estabelecendo o mínimo viável, para
maximizá-lo, evolutivamente.
No Brasil, houve um período em que a linha obtusa ou porra-louca deixou
as esquerdas num falso dilema – o abstencionismo eleitoral ou as
aventuras terroristas (o que só poderia facilitar o jogo da ditadura, de um
lado faturando eleições desimpedidas e, de outro, explorando a
repugnância natural ao terrorismo, revelada pelas grandes correntes
oposicionistas, sempre necessárias à união nacional irresistível).
Rejeitemos os procedimentos insuportáveis do ceticismo paralítico ou da
selvageria que “justiça” adversários indefesos.
Mutatis mutandis, alguns jovens chegaram a pregar o amuo que os
afastava dos condutos participativos, na estrutura universitária, com o
argumento de que eles representavam um buraquinho apertado pela
repressão. A verificação era exata; mas a conclusão incorreta.
Abandonando até esses caminhos, que restava? Esperar que o aparelho
repressivo caísse de podre ou explodi-lo numa orgia terrorista. Num caso,
a incompetência; de outro, a lei da selva, em que todos são feras idênticas
e apenas com o sinal trocado.
A alternativa apareceu depois, quando se voltou ao trabalho interno,
https://filosofia.arcos.org.br/roberto-lyra-filho/ 5/12
18/11/2021 10:20 Roberto Lyra Filho: Por que estudar direito, hoje?
A alternativa apareceu depois, quando se voltou ao trabalho interno,
explorando as contradições e porosidades do sistema legal e recorrendo à
ilegalidade não-selvagem com lucidez e comedimento, isto é, em
condições de pressão dosada, que força a absorção de novos pontos
positivos pelo sistema dominante.
Foi o caso, por exemplo, da ressurreição da UNE, que deixou o governo
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