Você está na página 1de 5

RESENHA: TRABALHO EDUCATIVO DO ENFERMEIRO NA

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

ROECKER, Simone; BUDÓ, Maria de Lourdes Denardin; MARCON, Sonia Silva. Trabalho
educativo do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família: dificuldades e perspectivas de
mudanças. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46, n. 3, p. 641-649, 2012.

MARQUES, Marina Arruda Costa¹

O trabalho publicado sob o título " Trabalho educativo do enfermeiro na


Estratégia Saúde da Família: dificuldades e perspectivas de mudanças”, Está
organizado em 4 partes, inicialmente, descreve o perfil sociodemográfico dos
enfermeiros, com a finalidade de conhecer a população em estudo. Em seguida
são apresentadas as três categorias articuladas em torno da temática, oriundas
do processo de análise do conteúdo: Dificuldades evidenciadas; Alternativas
propostas; Melhorias sugeridas. Com o objetivou conhecer as dificuldades e
perspectivas de mudanças que os enfermeiros identificam no desenvolvimento
das ações educativas no ambito dos ESF.

O artigo trata de uma pesquisa qualitativa descritivo-exploratória,


realizada com 20 enfermeiros atuantes na mesma equipe de ESF há pelo menos
cinco meses em 8 municípios que integram a 10ª Regional de Saúde (RS) do
Paraná, selecionadois de acordo com as características populacionais e a
capacidade de atendimento a saúde à população, que influencia a realização do
trabalho educativo pelos enfermeiros. Os dados forma coletados por meio de
entrevistas com os profissionais, nortedas por um roteiro semiestruturado
constituído de duas partes: a primeira, com questões objetivas concernentes ao
perfil sociodemográfico dos pesquisados; e a segunda, com questões abertas
relacionadas à educação em saúde junto à população.

Do que se entende de educação em saúde, é um processo educativo de


capacitação das pessoas na temática da saúde, através de uma abordagem
socioeducativa que assegura conhecimento, habilidades e formação de
consciência crítica para a tomada de decisão pessoal com responsabilidade

1- Acadêmica do 9º semestre do curso de bacharelado em enfermagem da Universidade do


Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Campus Jane Vanini – Cáceres.
social. As práticas de educação em saúde envolvem desde o paciente, que
necessita construir os seus conhecimentos e aumentar a sua autonomia no
autocuidado, passando pelos profissionais de saúde, através de ações de
educação continuada e permanente; até os gestores, na determinação de
políticas públicas e reorganização de serviços (BARROSO et al., 2003 apud
CASTRO, 2006).

Apesar do consenso entre os profissionas da amostra, que a educação


em saúde é uma ação imprescindível no processo de trabalho das equipes do
ESF, há dificuldades de concretização, tanto no contexto individual quanto no
coletivo, os profissionais se deparam com barreiras, dentre as quais a principal
é a resistência às mudanças e aceitação ao novo modelo assistencial. Essa
resistência ocorre devido a cultura curativista e medicalista, que está presente
tanto da população quanto na maioria dos gestores. Outro ponto ainda
relacionado a aceitação e adesão às atividades educativas, e o grau de
entendimento dos usuários referente ao que é difundido por meio de orientações.

Os profissionais de saúde já tem conhecimento crítico que questiona as


intervenções baseadas apenas nas dimensões biológicas dos problemas de
saúde e reconhecem a importância das mudanças subjetivas, sociais e
ambientais para a superação destes problemas, já que se reconhece que as
ações necessárias para a adesão a tratamentos e cuidados a longo prazo estão
profundamente imbricadas com a cultura, ou seja, com os estilos de vida,
hábitos, rotinas e rituais na vida das pessoas. Porém, estas discussões não são
transformadas em ações (BOEHS et al., 2007).

Considerando que a educação em saúde está relacionada à


aprendizagem, desenhada para alcançar a saúde, torna-se necessário que esta
seja voltada a atender a população de acordo com sua realidade. Assim, os
profissionais do sistema de saúde, principalmente de enfermagem, por sua
proximidade com esta prática, devem ter uma análise crítica da sua atuação,
bem como uma reflexão de seu papel como educador e estarem sempre na
busca de modelos ou sistemas de cuidado, entre eles, o familiar e o popular, com
intuito de promover aproximação da lógica do cliente/usuário e de um vinculo
entre o profissional e o cliente (OLIVEIRA e GONÇALVES, 2004; BOEHS et al.,
2007)
A educação em saúde deve ter perspectiva problematizadora,
ou seja, as ações educativas devem partir da realidade dos usuários, de
suas experiências, vivências e necessidades. O enfermeiro é um facilitador no
processo educativo, no qual as ações educativas podem servir como suporte
para as mudanças, uma vez que os profissionais não detêm a verdade absoluta,
e, por meio de uma reflexão participativa, podem estimular a promoção da
saúde individual ou grupal, produzindo mudanças na qualidade de vida e de
saúde dos usuários ( DA SILVA et al., 2012).

Diante as dificuldades apontadas na pesquisa, buscou-se conhecer as


alternativas a curto prazo que os enfermeiros utilizam, visto que a inversão do
modelo assistencial curativista, não é simples e requer um longo tempo para se
efetivar. Logo, enquanto a compreensão da população vai se transformando, a
saída é trabalhar com as crianças, com os jovens, nas escolas, já que esses são
mais abertos e também levam o conhecimento para seus familiares.

O programa de educação à saúde, é um trabalho contínuo e progressivo.


Na prática, a educação em saúde constitui apenas uma fração das atividades
técnicas, prendendo-se especialmente à habilidade de organizar logicamente o
componente educativo de programas que se desenvolvem em quatro diferentes
ambientes: escola, o local de trabalho, o ambiente clínico, em seus diferentes
níveis de atuação e a comunidade entendida como população-alvo (OLIVEIRA
e GONÇALVES, 2004)

Após identificar dificuldades e possibilidades de transformação da


realidade do trabalho educativo no âmbito da ESF, os enfermeiros indicaram
algumas mudanças que são imprescindíveis para que a educação em saúde
ocorra plenamente. Dessa forma, a partir dos relatos foram elencadas as
principais mudanças, sejam elas no âmbito pessoal, profissional, sejamno de
gestão. Assim eu acho que precisamos sempre estar buscando mais
conhecimento e atualizações, estudando, fazendo pós-graduação (E12). Eu
acho que deveria ter assim mais treinamento da secretaria e da regional de
saúde para nós, atualizações em relação ao PSF e a todos os programas,
acredito que isso ajudaria muito (E16). Os profissionais afirmam que precisam
constantemente estar se atualizando, por meio de estudos, leituras, cursos, os
quais poderiam ser disponibilizados pelos órgãos responsáveis pela Estratégia
Saúde da Família, como a Secretaria Municipal de Saúde, a Regional de Saúde
e o Ministério da Saúde. Nesse sentido, observa-se que os enfermeiros
reconhecem a importância da atualização estável e durável, pois acreditam que
a formação e a capacitação levam ao comprometimento profissional.

Em resumo, o estudo, evidenciou que os enfermeiros enfrentam


diferentes entraves no desenvolvimento da educação em saúde referente aos
usuários, aos membros da equipe multiprofissional, aos gestores e à
insuficiência de recursos físicos, materiais e financeiros. Se formos pensar em
um planejamento em saúde, as dificuldades levantadas são: Diagnóstico interno
de serviço: Recursos humanos (o perfil profissional foi apontado como em sua
maioria inadequado para pratica em ESF, insuficiência de componentes da
equipe multiprofissional gerando sobrecarga, falta de educação permanente e
visão do gestor e carência de conhecimento deste sobre a política da ESF);
Instalações físicas (inadequação da estrutura físicas); Recursos financeiros
(insuficiência de recursos materiais,que limita as ações educativas em saúde).
Diagnóstico externo: Acessibilidade do usuário (falta de aceitação e adesão às
atividades educativas; cultura curativa; baixa escolaridade dos usuários;
acessibilidade dos usuários e da equipe); Demanada Atendida: grande demanda
espontânea.

Contudo, o profissional enfermeiro precisa conhecer as limitações da


prática educativa na ESF e buscar alternativas para superá-las. Dessa forma,
desenvolver ação práticas de gestão, de atenção e de controle social, que vão
servir de base e reorientar toda a Atenção Primária à Saúde dialogando com as
práticas e concepções vigentes no SUS. Assim, a EPS se torna não só uma
estratégia de mudança dos perfis dos profissionais, uma vez que permite a
criação de espaços de coletividade, nos quais cada indivíduo é visto em seu
processo de trabalho como protagonista desse meio, tornando-se instrumento e
ator social do cenário no qual está inserido (MACHADO e WANDERLEY, 2012).
REFERÊNCIAS

BARROSO, Grasiela Teixeira; VIEIRA, Neiva Francenely C.; VARELA, Zulene


Maria de V. Educação em saúde: no contexto da promoção humana. Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, 2003, 120p. Resenha de: CASTRO, Maria Euridéa
de. Barroso MGT, Vieira NFC, Varela ZM. Educação em saúde: no contexto da
promoção humana. Fortaleza: edições demócrito rocha, 2003, 120p. Rev.
RENE. Fortaleza, v. 7, n. 3, p. 105-106, set./dez, 2006. Disponível em:
http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/5449/3963. Acesso em: 10 de set.
2020.

BOEHS, Astrid Eggert et al. A interface necessária entre enfermagem,


educação em saúde e o conceito de cultura. Texto & Contexto-Enfermagem,
v. 16, n. 2, p. 307-314, 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-07072007000200014&script=sci_arttext&tlng=pt
Acesso em: 10 de set. 2020.

DA SILVA, Lenise Dias et al. O enfermeiro e a educação em saúde: um estudo


bibliográfico. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 2, n. 2, p. 412-419, 2012.
Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/2676/3769 Acesso
em: 10 de set. 2020.

MACHADO, Adriana Germano Marega; WANDERLEY, Luciana Coutinho


Simões. Educação em Saúde. UNA-SUS: Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), 2012. Disponível:
https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/171. Acesso em: 10 de set.
2020.

MIRANDA, Sônia Maria Rezende Camargo de. Gerenciamento da unidade


básica de saúde:a experiência do enfermeiro: Planejamento em Saúde. In:
SANTOS, Álvaro da Silva; MIRANDA, Sônia Maria Rezende Camargo de. A
enfermagem na gestão em atenção primária à saúde. 4. ed. Barueri: Manole,
2007. cap. 4, p. 81-109. Mapa Mental: MARQUES, Marina Arruda Costa.
Planejamento na APS. Disciplina de Gerenciamento em Enfermagem II, PSLE—
Turma Virtual 2020/3. UNEMAT – Cáceres, 2020.

OLIVEIRA, Hadelândia Milon de; GONÇALVES, Maria Jacirema Ferreira.


Educação em saúde: uma experiência transformadora. Revista Brasileira de
Enfermagem, v. 57, n. 6, p. 761-763, 2004. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
71672004000600028&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 10 de set. 2020.

Você também pode gostar