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O que nos faz
cair de amores
por Malta?
São Martinho do Porto
Um passeio nas arribas
à procura de vestígios
de dinossauros
Vinhos
Há um novo Pêra-Manca,
o tinto que dá estatuto
2 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Malta
Um território não
a Malta conquista-nos à primeira
vista e é difícil explicar porquê. Talvez
seja pelo de facto de concentrar, em
tão pouco território, cerca de 7000
anos de história ou pela variedade de
culturas que foi absorvendo das várias
civilizações que por lá passaram. A
Tem mais monumentos por quilómetro quadrado do que As leituras prévias já tinham deixa-
do adivinhar que as classiÆcações de
qualquer outro país e milhares de anos de história para contar. Património Mundial da UNESCO
(La Valletta, Hipogeu de Hal SaÇieni
Malta é um pequeno território com várias culturas e vivências e templos megalíticos) eram apenas
a pontinha do icebergue: “Malta tem
dentro, difícil de deixar para trás sem a vontade de regressar. mais monumentos por quilómetro
quadrado do que qualquer outro
Maria José Santana (texto) e Miguel Manso (fotos) país”, anunciava a brochura alusiva
ao destino. “Só igrejas operacionais,
Sábado, 9 de Outubro de 2021 | FUGAS | 3
Malta
Malta
Dingli
Chão que também dá (boas) uvas
a Ainda que não tenha a fama, e mui- de perceber o que realmente está em rentes tipos de comida”, nota o cria-
to menos a escala, de alguns dos seus causa”, conta. Em simultâneo, e por- dor e grande responsável pela marca
vizinhos mediterrânicos, Malta tam- que também precisava de “vinhas Markus Divinus. Cada um dos seus
bém é terra de bom vinho e há já uns com idade”, meteu pernas a caminho vinhos é cuidadosamente baptizado.
quantos produtores a lutarem pelo e começou a seleccionar alguns pro- “Zareen, por exemplo, era o nome de
seu reconhecimento. É o caso de Mark dutores. Escolheu 12, de localizações um grande viticultor e amigo, que
Borg, um Ælho da terra de 43 anos e diferentes, o que lhe permitiu, nos faleceu há uns anos. Já Adon é o nome
que, em 2004, decidiu concentrar últimos cinco anos, criar “oito vinhos do meu Ælho”, desvenda.
todos os seus esforços na produção de diferentes”, do branco ao tinto, pas- A sua condição de nascido e criado nho pela frente. “Também é preciso de do vinho de Malta e cativar cada
vinho com identidade maltesa. Come- sando pelo rosé. em Malta leva-o a ambicionar ver os convencer os agricultores locais a vez mais apreciadores, o mentor da
çou como autodidacta, com “vinhos Mark Borg gosta de misturar as cas- seus vinhos a assumirem o papel de voltarem a plantar essas mesmas Markus Divinus faz questão de pro-
de garagem”, e, hoje, tem já uns quan- tas indígenas, Gellewza (tinta) e a “embaixadores” do país. “As castas vinhas”, acrescenta, mostrando-se mover degustações e eventos enogas-
tos rótulos dignos de registo. Ghirghentina (branca), com as inter- Gellewza e Ghirghentina eram, nor- preocupado com o facto de a maioria tronómicos na sua adega – desde
Começou por lançar a “semente” nacionais, nomeadamente Cabernet malmente, mais usadas em vinhos dos vitivinicultores estar com idades provas diárias até aos jantares com a
num terreno da avó, na zona de Dingli Sauvignon, Merlot, Syrah, Sauvignon de qualidade inferior. O que estamos próximas dos “60 anos” e sem con- participação de chefs. Também man-
(ponto mais alto de Malta). “Passei Blanc ou Chardonnay. O resultado? a fazer é tentar colocá-las no nível seguirem suscitar o interesse das tém a sua veia de vitivinilcultor, ainda
uns cinco, seis anos de volta do culti- Vinhos que conseguem corresponder que elas merecem”, argumenta, gerações mais novas. que limitado ao terreno da família.
vo destas vinhas e tive a oportunidade a vários gostos e “vão bem com dife- ciente de que ainda tem algum cami- Para ajudar a promover a identida- Mark Borg não afasta a possibilidade
Sábado, 9 de Outubro de 2021 | FUGAS | 7
Quinta
Gozo
Mar
como a de 2020, foram canceladas Comino
Mediterrâneo
por conta da pandemia.
É também em Birgu que se encon-
Vale D. Maria
Mar
tra o Forte de Santo Ângelo, original- Mediterrâneo
mente construído no período medie- Mosta La Valletta
val e tido como a jóia da coroa da
Rabat Mdina
herança militar de Malta. É particu-
Dingli MALTA
larmente conhecido pela importância
que teve enquanto sede da Ordem
durante o Grande Cerco de Malta de
Marsaxlokk
Viver o Douro
1565, resistência que acabou por
valer-lhe um estatuto lendário que
permanece até aos dias de hoje.
Já Senglea e Cospicua, as mais
novas das três cidades – foram funda-
das pela Ordem de São João nos sécu-
los XVI e XVII, respectivamente – têm
como principais atractivos o Forte de
São Miguel e a Igreja da Imaculada
Conceição, que abriga pinturas de A Ryanair tem voos directos para
grande valor. Malta (não diários) a partir de
Se ainda lhe sobrar tempo, marque Lisboa e do Porto. Durante o
uma visita a Gozo – Æca a apenas 25 Verão, a Air Malta também opera
minutos de ferry –, a segunda maior a partir de Lisboa.
ilha do arquipélago e bem mais verde
e rural do que Malta. Não foi o nosso
caso, uma vez que em Malta os dias
parecem passar a voar, mas é (mais)
um bom pretexto para regressar. The Golden Fork
13 Triq Il-Kbira,
A Fugas viajou a convite do Ď’Attard ATD 1027, Malta
Turismo de Malta www.thegoldenfork.com.mt/
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TheGoldenForkmt
https://www.instagram.com/
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Hammett’s Małina Restaurant
Triq Il-31 ta’ Marzu,
Xatt Juan B. Azopardo, L-Isla ISL
1040, Malta
www.hammettsgastrobar.com
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https://www.instagram.com/ Entrar na Quinta Vale D. Maria é viver o Douro, através dos
hammettsgastrobar
Capo Crudo sentidos e nas suas múltiplas formas de expressão.
Mo Triq Il-Lanła, Il-Belt Valletta,
Malta
www.capocrudo.com
https://www.facebook.com/ Quinta Vale D. Maria Quinta Vale D. Maria Vinha Quinta Vale D. Maria Vinha
capocrudo da Francisca do Rio
https://www.instagram.com/
capocrudo O berço, onde nasce o Quin- Ao percorrer as vinhas da O rio corre, sussurrante. Com
ta Vale D. Maria Douro tinto, Quinta Vale D. Maria, desco- atenção, percebe-se o que diz.
é embalado pelos sons da na- bre-se a melodia da sua en- O pequeno e sinuoso Rio Torto,
tureza envolvente. Ao longo volvência. Aves que cruzam que corre no sopé da Quinta
do ano, a brisa, que acaricia os céus, insetos que ritmam Vale D. Maria, partilha o que
as vinhas, assobia mais alto, a partitura dos dias, pessoas testemunha. Ao longe o mar,
Corinthia Palace Hotel
feita vento. Um sopro, por ve- que contam histórias enquan- entoado pelos Madredeus, es-
De Paule Avenue, San Anton
zes húmido, por vezes quen- to colhem o fruto. Parfums cuta. O silêncio que banha os
BZN9023, Malta d’autrefois, na voz de Liane sons. Os sons que envolvem
te. Ao som de Summer Wind,
www.corinthia.com/palace- de Frank Sinatra, recorda-se a Foly. Um charme que envol- o silêncio, através de um per-
hotel-and-spa/ estação que esteve na origem ve o Quinta Vale D. Maria Vi- ʝ
? E ?
?
https://www.facebook.com/ dos aromas de cereja, ameixa nha da Francisca Douro tin- quase teimoso. O Quinta Vale
CorinthiaPalaceHotel e amora silvestre, típicos des- to. Fresco, como o voo de uma D. Maria Vinha do Rio Douro
https://www.instagram.com/ ʝ
Ŧ
> ŧ - andorinha. Sedutor, como o tinto torna-se inesquecível,
de comprar mais terrenos, mas, corinthiapalace centrado, harmonioso e extre- crepitar de uma lareira. como sucede com as músicas
numa ilha, a missão revela-se ainda Osborne Hotel Malta mamente elegante, como os
Eʝŧťť ťīť>
mais exigente. “Seria mais fácil em 50 South St, Valletta, Malta melhores clássicos musicais.
Itália ou França. Aqui, há pouco ter- www.osbornehotel.com
reno”, desabafa. Contenta-se com a https://www.facebook.com/
parceria que mantém com 12 agricul- OsborneHotelMalta
tores locais e cujo trabalho faz ques-
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tão de ir acompanhando com regula-
Seja responsável. Beba com moderação.
ridade, com especial enfoque na
época das vindimas.
8 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Passeio
a O casario mais antigo de São Mar- pergaminhos. Os tempos trocaram cia balnear aristocrática, um tesouro gues e na zona de Salir do Porto, ofe- de Salir do Porto são também repre-
tinho do Porto Æca num recanto da as voltas ao que os coevos de então que a sua “rival” basca não possui. É recem panoramas geológicos que são sentativos. Muitos destes fenómenos
baía. A partir de um Çanco da Praça teriam porventura julgado imutável um tesouro mais ou menos oculto, mais do que manifestações estéticas serão contemporâneos das lagoas
Frederico Ulrich nasce a pedonal e dessa era não resta senão um vestígios da ocupação (ou da passa- naturais; representam também teste- que por aqui terão existido há mais
Vasco da Gama e logo a seguir a Cal- punhado de chalés. A arraia-miúda gem) da área por dinossauros. As munhos da história geológica que se de 150 milhões de anos e que terão
çada D. Pedro V começa a subir para fez da estância um Ægo. pegadas estão dispersas por jazidas repete noutros pontos da Região Oes- atraído diferentes espécies de dinos-
o núcleo mais antigo da vila. Uns Daquela espécie de adro-miradou- que a erosão vai revelando num cená- te. As pegadas dos ciclópicos bichos sauros, algumas registadas como
poucos metros adiante, à direita da ro vê-se bem a baía e os dois montes rio de esplêndidas falésias. Algumas que por ali andaram não são, pois, as autóctones. As marcas da passagem
calçada, uma ruela leva a umas esca- que guardam o acesso ao mar. Se os jazidas já conhecidas e exploradas em únicas razões que podem levar cami- ou frequência da bicharada jurássica
dinhas que ascendem a um amplo montes se chamassem Urgull e Iguel- visitas guiadas, outras ainda por reve- nheiros e curiosos aos trilhos litorâ- serão dessa altura. Sem as caracterís-
miradouro. Para o interior estende- do, estaríamos na famosa baía da lar, o que tem vindo a acontecer à neos de São Martinho do Porto. ticas do terreno onde estavam as
se a Rua Prof. Eliseu, uma porta de Concha da aristocrática estância bal- medida que a erosão as acorda do seu lagoas implantadas e os fenómenos
entrada para ruelas estreitas, largos near basca de San Sebastian. A baía sono de milénios. Fauna mastodônti- Um fantástico de instabilidade geológica, as pega-
e larguinhos e casarões, o que sobrou em forma de concha é uma similitude ca à parte, as arribas de São Martinho das que agora os passos dos cami-
cenário de arribas
da mais ou menos discreta estância entre estas duas praias, e um tesouro guardam outras seduções, as de cená- nhantes perseguem, quer nos mata-
balnear que desde Ænais do sécu- estético. Mas São Martinho do Porto rios geológicos impressivos. Com Bem cedo o caminheiro descobre, gais das encostas, quer na fímbria do
lo XIX se foi tornando pouso estival tem, para além de algum casario que algumas singularidades, os trechos portanto, que ali todos os caminhos mar, não estariam ali ou permanece-
de gente que se apresentava com ainda recorda o seu historial de estân- norte e sul da baía, na serra de Man- vão dar a fenómenos geológicos. riam soterradas para sempre.
Quem for conhecedor e assíduo do Debaixo dos pés do andarilho jaz
litoral da região, de São Martinho até um organismo vivo, convém recor-
para lá do cabo Carvoeiro, até às dar: as arribas estão sempre em per-
praias de Vale das Pombas e de Pai- manente transformação e o que hoje
mogo, não se surpreenderá. Longos se contempla não é o mesmo cenário
ou breves areais enquadrados por de há um, dois ou três anos. Um fenó-
falésias avermelhadas, enormes meno a ter em conta nestas andanças
lâminas rochosas metendo-se mar é, pois, o da erosão. As suas conse-
adentro ou polidas pelas ondas da quências incluem a instabilidade do
maré alta, reentrâncias que são como terreno e sérios riscos para quem faz
portais para mundos de variegados os caminhos das arribas em São Mar-
delírios geológicos. Alguns desses tinho do Porto. Na zona do farol, por
lugares podem ser percorridos em alturas do morro de Santo António, e
regime de visita guiada por intermé- logo após deixarmos para trás a falé-
dio das entidades parceiras do pro- sia que desce sobre a praia da Fraga,
jecto do Geoparque do Oeste: as os trilhos apresentam riscos, pelo que
falésias de Peniche, das praias da qualquer actividade realizada nestes
Consolação e de Paimogo, o litoral locais exige precaução e por tal moti-
de Porto Novo até Porto das Barcas, vo se aconselha que seja levada a cabo
na Lourinhã. na companhia de um guia local.
Toda a região reúne uma antologia
de registos geológicos, assiduamente Passos de gigantes
acompanhados por fósseis, de que os
à beira-mar
trechos litorâneos de São Martinho e
No lado sul da baía, em Salir do Porto,
o acesso a uma das jazidas de pega-
das não Æca longe da povoação. Em
direcção a sul, mal percorridas cinco
centenas de metros pela Estrada
Atlântica, surge um corte à direita e
um estradão de terra batida leva-nos
para o litoral, mais ou menos onde
começa a serra de Bouro. O trilho
sobe, primeiro, e começa depois,
muito inclinado, a descer resoluto
para o mar. Mas a orla Æca ainda dis-
tante, lá muito em baixo, e bem antes
desse hipotético encontro, entre
arbustos rasteiros a que o estio não
rouba o viço e o verde, surge o relevo
de grandes pegadas debaixo dos pés,
plasmadas sobre uma grande laje
inclinada. São, pelo menos, marcas
de andanças de duas espécies de
dinossauros. Há vestígios de algumas
pegadas de maior dimensão (noutros
locais as maiores podem chegar aos
60cm) e de outras mais pequenas,
tridáctilas, atribuíveis a dinossauros
terópodes que por ali andaram
durante o Jurássico Superior, há pelo
menos 150 milhões de anos.
A nossa guia, Ana Afonso, da Inter-
tidal, uma das organizações parcei-
ras do projecto do Geoparque do
Oeste, sintetiza algumas explicações
sobre os vestígios e sublinha c
10 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Passeio
Crónica de um
geoparque anunciado
a A zona de São Martinho do Porto gal, a par do Naturtejo, na Beira
é apenas uma das áreas da Região Baixa, e dos localizados na serra da
Oeste que conservam numerosos Estrela, em Arouca, no Nordeste
vestígios de dinossauros. A abun- Transmontano e nos Açores. A sua
dância e expressividade dos vestí- área de “actuação” corresponde a
gios deixados por tais criaturas há um território de relevância geológi-
mais de 150 milhões de anos, tanto ca a nível internacional, tendo por
no litoral como no interior da tema central o período Jurássico
região, levou à criação de um par- Superior.
que temático na Lourinhã, o Dino À semelhança dos seus congéne-
Parque, o maior parque temático ao res, o Geoparque do Oeste aspira à
ar livre em toda a Europa, e, poste- preservação, estudo e divulgação
riormente, à ideia de um projecto do património geológico, contando
mais ambicioso, o do estabeleci- para a consecução do projecto com
mento de um geoparque reconhe- a participação de dezenas de par-
cido pela UNESCO. Este projecto ceiros, entre juntas de freguesia e
sublinha o facto de a Região Oeste instituições de ensino e entidades
contar com “um dos maiores ninhos privadas, como promotores e ani-
de dinossauros do mundo e com madores turísticos. Outro dos objec-
quatro dos ninhos de dinossauros tivos futuros do parque será a sen-
mais bem conservados e mais anti- sibilização da comunidade local
gos do mundo”. para o valor cultural do património
Vários municípios da região – Lou- geológico do território e para a
rinhã, Torres Vedras, Peniche, Óbi- importância da permanente contri-
dos e Bombarral, a que se juntaram buição das populações para a sua
mais tarde, em 2020, Cadaval e Cal- preservação.
das da Rainha – associaram-se em Na base da idealização do projecto
2017 com o objectivo da criação de do Geoparque do Oeste, que na pri-
uma entidade (a AGEO – Associação meira fase deu prioridade aos muni-
Geoparque do Oeste) mandatada cípios que reúnem um património
para organização da proposta a geológico signiÆcativo e de maior
apresentar à UNESCO, o que deverá interesse nacional e internacional,
acontecer no próximo ano. Do está o reconhecimento da presença
núcleo inicial da AGEO fazem parte na região de um importante acervo
também o Museu da Lourinhã, a de rochas datadas desde o Ænal do
Sociedade de História Natural de Triássico até ao Quaternário, com
Torres Vedras e a Universidade Nova esmagadora maioria – quase 80 %
de Lisboa.
Hotel Valverde
a A fachada oitocentista tanto pode nor. Uma “residência” no coração de na matéria e trabalhos icónicos como e a correria que irá pela avenida aci- também do Brasil e crescentemente
chamar a atenção como, na sua quie- Lisboa, quase labiríntica, onde não a arquitectura de interiores e deco- ma e abaixo. Mesmo no pátio, onde de Portugal – o tempo da pandemia
tude, passar apenas por um piscar faltam uma pequena e atraente ração do Bairro Alto Hotel ou do uma sensação mediterrânica parece alterou as contas, dir-nos-á a direc-
de olhos na cacofonia da Avenida da (nova) piscina aquecida com vistas Vidago Palace. O “novo” Valverde, unir-se a inspirações dos jardins zen tora, fazendo com que, naturalmen-
Liberdade. Mas basta penetrarmos para o deslumbrante pátio, o jardim apesar de agora espartilhado – a – assinado pelos arquitectos João te, os portugueses encabeçassem o
no átrio, subir a escadaria, cruzar a tornado oásis, nem um (novo) res- interligação entre velho e novo faz-se Bicho e Joana Carneiro –, as árvores e ranking. Dar a conhecer o hotel a
porta para perceber que a discrição taurante que vale por si mesmo, o por um passadiço, incluindo-se vegetação criam divisões de “intimi- mais lisboetas e portugueses é tam-
e a sobriedade são aqui trabalhadas Sítio. Por entre estes pilares, vão-se coberturas ajardinadas –, mantém-se dade”. Além de que pode apreciar a bém um objectivo claro, e nada
com dedos de luxo. Passada a recep- descobrindo mil e um detalhes, da coerente na sua decoração e na bus- sombra e vista de um grande espi- melhor para isso do que a série de
ção, vamos percorrendo o hotel fabulosa janela que se abre para Lis- ca de oferecer privacidade e perso- nheiro-da-virgínia ou do feto-arbóreo- propostas para seduzir os locais, pas-
recanto a recanto, uma corrente de boa vertente Castelo na suíte Valver- nalização. A cada alojamento, a sua australiano, entre muitos exemplares sando pelo restaurante, onde se
salas intimistas, vislumbres do pátio- de às plataformas-varanda à la Nova cor e personalidade, sempre nas de arbustos e herbáceas, com Çorei- incluem brunches, um exemplar Chá
jardim, refúgios criados para ofere- Iorque que se elevam pelo edifício linhas de cores sólidas para as pare- ras a diferentes alturas para criar das Cinco ou noites especiais gastro-
cer a privacidade social possível. É que acabou de ser reconstruído e des, mobiliário escorreito, têxteis e equilíbrio. Passe-se o cliché, é mesmo musicais, e o bar, onde se destaca
que há uma familiaridade nesta hote- levou à quase duplicação das unida- obras de arte escolhidos a dedo e um oásis urbano, agora até com pla- uma carta de clássicos servida com
laria que nos coloca sem snobismos des de alojamento do hotel, às esca- apontamentos discretos de decora- cas a identiÆcar cada espécie. rigor.
na nossa casa, caso a nossa casa, cla- darias preservadas ao detalhe ou às ção. Entre as novidades, o restauran- Pelo hotel, os quartos são também
ro, fosse um edifício histórico da obras de arte originais (umas 200, e te Sítio e o bar, uma sala de estar com à medida do freguês: mantendo
Um Sítio com alma e uma
avenida central da capital. Recons- aqui incluem-se Paula Rego, Vieira varanda sobre o pátio, sobre o qual todos o mesmo apuro decorativo, há
truído ao detalhe e agora ampliado da Silva e muitos outros) que se vão se ergue agora uma pequena piscina “quartos mini”, clássicos, deluxe e chef de “cozinha espiritual”
com dois prédios adjacentes, a res- admirando pelos espaços. aquecida. A estas mais-valias juntam- suítes de várias categorias (a máxima Uma das grandes apostas do renova-
pirar traços das townhouses londri- É que, depois da inauguração, em se ginásio e sala de tratamentos é a abençoada Suíte Valverde, com do hotel é o seu novo Sítio, o restau-
nas e nova-iorquinas, repleto de 2014, surgiu a oportunidade de (aberta também a não clientes e com 55m2 e vistas de truz). Graças aos rante comandado pela chef Carla
obras de arte por entre antiguidades ampliar a unidade hoteleira através várias massagens) e, muito especial- seus pormenores chamativos, não é Sousa, uma das raras chefs de fine
e mobiliário contemporâneo imacu- da integração de dois edifícios adja- mente, uma sala de biblioteca e de de admirar que o hotel se tenha tor- dining do país e da hotelaria, para
lado, o Valverde vive numa sobrieda- centes sitos na Rua de São José, tra- sessões de cinema onde dá vontade nado uma pequena celebridade em quem a cozinha, diz-nos, sempre foi
de eÆciente, conseguindo até uma seira à Liberdade. De 25 quartos e de Æcar a preguiçar. várias revistas de viagens internacio- “uma festa”. Com ascendência cabo-
missão impossível para muitos des- suítes no prédio original, o hotel pas- Tudo está pensado para nos dar nais e listas de hotelaria obrigatória verdiana, é com um sorriso, à mesa
tes universos: não se pressente o sou para 48. Foram três anos de “espaços e momentos”, como nos diz em Lisboa – até porque é o único do seu Chá das Cinco e cercados pelo
kitsch por lado nenhum. obras de ampliação, com o resultado Adélia Carvalho – com longo currícu- hotel lisboeta integrante da rede de jardim, que recorda o que aprendeu
É dessa “elegância clássica” que a a ser inaugurado em Junho. A refor- lo na hotelaria de luxo, incluindo a luxo Relais & Chateaux. Até 2019, o com o pai e a família (não por acaso,
directora do hotel, Adélia Carvalho, mulação Æcou a cargo do atelier res- direcção do Bairro Alto Hotel por seis ano em que se poderão considerar duas irmãs também cheÆam áreas de
nos falará, na quietude do jardim, ponsável pelo projecto original, com anos e a liderança do projecto de dados não-atípicos, o hotel recebeu cozinha noutros hotéis). A carreira
mantendo sempre o foco nessa mes- assinatura de Diogo Rosa Lã e José hotelaria de Pedras Salgadas. São principalmente turistas dos Estados já a levou a trabalhar e aprender com
ma “sobriedade” apurada ao porme- Pedro Vieira, já com muito currículo “refúgios” que cortam a massiÆcação Unidos, Reino Unido, França, mas Vítor Sobral (na Cevejaria Lusitana),
No Hotel Valverde
revive-se o charme
discreto do luxo
i
Hotel Valverde
Avenida da Liberdade, 164
1250-146 Lisboa
Tel.: 21 094 03 00
E-mail: info@valverdehotel.com
www.valverdehotel.com
Facebook: facebook.com/
hotelvalverde
Instagram: instagram.com/
valverdehotel
Preços: desde cerca de 220
euros o quarto e 350 a suíte (as
de topo, Valverde e São José,
poderão chegar a rondar os
cerca de 500-700 euros). Há
vários packages, da Gourmet
Experience ao Package Lisboa
(três noites, um jantar, transfers
e tour em Lisboa). Há até a
possibilidade de passeio de
barco à vela com opção de
serviço de catering do hotel a
bordo (barco de propriedade do
hotel).
Horários: pequeno-almoço das
7h30 às 11h (37€ para
não-hóspedes), almoço das
12h30 às 15h (menus a
25-29,50€), Chá das Cinco das
17h às 19h (15€), jantar das
19h30 às 23h (pratos principais
em na faixa 19-26€).
14 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Motores
Peugeot 3008
Hybrid4
Selvagem nas
performances,
dócil nos
consumos
Apesar do sucesso de há cinco
anos, a marca do leão sabe que a
concorrência é feroz e que não
pode relaxar. Por isso, melhorou o
3008 em vários aspectos. A
começar pela inclusão de sistemas
híbridos de ligar à corrente.
Carla B. Ribeiro
a Há cinco anos, a Peugeot iniciou mais voltadas para a dinâmica da de fugir para o asfalto. carregador 7,4 kW e se recorra a uma tro rodas, o que beneÆcia a seguran-
uma nova vida no corpo do 3008. Na própria condução. No entanto, é em alcatrão que o wallbox – nesse caso, o tempo estima- ça e permite segurar o carro mesmo
época, para Portugal, a marca anun- Poder-se-ia até pensar que não leão desperta melhor. Até porque, no do para ter a bateria pronta para mais em situações em que a aderência
ciou como objectivo ser número dois havia motivo algum para mexer num caso do carro ensaiado, dá cartas o quase 60km é de apenas 1h45. esteja comprometida, como num
do subsegmento dos C-SUV onde rei- automóvel que, volvidos quatro anos, conjunto propulsor mais potente da Mas voltemos ao facto de estarmos piso molhado, com lama ou gravilha.
nava o Qashqai. Um desígnio extre- continuava a dar cartas e não acusava gama, graças ao facto de unir um blo- com o 3008 mais potente: em conjun- Aliás, nem é preciso segurar o carro.
mamente ambicioso, mas que não cansaço. Mas, quando se olha para o co a gasolina a uma potente veia eléc- to, há 300cv e um binário máximo de A verdade é que o veículo trata disso
tardou a atingir, ao mesmo tempo que actual 3008 e se coloca o veículo ao trica. Ou seja, ao Puretech 1.6 a debi- 520 Nm, o suÆciente para acelerar de sozinho e de forma muito competen-
convencia a imprensa da especialida- lado do lançado em 2016, depressa se tar 200cv, a Peugeot juntou dois 0 a 100 km/h em 5,9 segundos – o fac- te – o que é notório para quem segue
de, mesmo a mais crítica: conquistou percebe que houve muita sabedoria módulos eléctricos: um, à frente, to, dado o automóvel que é, não fará a bordo é a ausência de incómodos:
prémios atrás de prémios (Carro do no que foi mexido e mantido. capaz de gerar 81,2 kW de potência ninguém ter vontade de andar em mesmo em situações atribuladas,
Ano em diversos países, Portugal Continua a apresentar uma frente (110cv) e 320 Nm de binário máximo, corridas, mas a capacidade de acele- parece que no habitáculo tudo se
incluído, Car Of The Year europeu, vertical, ainda que os elementos ago- e outro, na traseira, a debitar 83 kW ração (e a rapidez com que dispara) é mantém sereno.
entre muitos outros). ra sejam conjugados para lhe garantir (113cv), ainda que mais modesto no uma enorme aliada em situações mais Mas há mais elementos que propor-
Mas o 3008 foi mais do que um maior imponência. Ou seja, em vez binário (166 Nm). apertadas, seja por ser necessária uma cionam segurança acrescida. Como
modelo; foi uma nova ÆlosoÆa que das lâminas verticais, a sensação de Estes dois motores eléctricos são ultrapassagem numa curta distância a inclusão do opcional Night Vision,
se espraiou por toda a casa nascida altura é transmitida pelas luzes de alimentados por uma bateria de iões ou para fugir a um qualquer obstácu- em que o automóvel detecta a exis-
em Sochaux, região Borgonha-Fran- dia, em forma de presas de tigre, de lítio de 13,2 kWh, com uma auto- lo. E, por falar em segurança, se em tência de peões, ciclistas, gente de
co-Condado, a um passo da Suíça. A enquanto a grelha surge como que nomia estimada de 59 quilómetros, 2016 o Euro NCAP não hesitou em dar trotinete, lançando um aviso bem
partir do 3008, deu a sensação que rasgada e a entrar pela carroçaria (até segundo a homologação em ciclo as cinco estrelas com o equipamento audível e exibindo no painel de ins-
a marca do leão encontrou o seu parece que o leão chegou ali e arra- WLTP. Para ter a bateria carregada é base, actualmente, apesar de não ter trumentação o que se desenha à nos-
caminho para os anos seguintes, nhou a chapa), o que nos leva a pen- necessário um tempo de sete horas sido submetido a novos testes, é mui- sa frente e que, pelo facto de haver
apostando em visuais atraentes e sar que o carro está muito mais largo. numa tomada doméstica de oito to provável que as mantenha. pouca visibilidade, nos poderia ter
inconformados, ao mesmo tempo A linha de cintura mantém-se elevada amperes e quatro horas numa de 16A. Até porque, nesta versão híbrida passado despercebido. Depois, as
que apostou numa evolução tecno- e as protecções nas zonas inferiores No entanto, há possibilidade de ter plug-in, quando os dois motores eléc- ajudas à condução, nomeadamente
lógica, nos campos da conectividade garantem prestações em terrenos maior velocidade de carregamento, tricos são chamados à acção, o 3008 o cruise control adaptativo, com fun-
e segurança, mas também nas áreas acidentados sem que se sinta vontade caso se opte por dotar o carro de um passa a contar com tracção nas qua- ção de paragem e arranque automá-
Sábado, 9 de Outubro de 2021 | FUGAS | 15
FOTOS: DR
ticos, podem transformar-se em exce-
lentes aliados para combater o cansa-
ço e tornar a condução mais serena.
Na tecnologia, é relevante ainda
destacar o salto qualitativo na
conectividade, com compatibilida-
de com Apple CarPlay e Android
Auto e um sistema que nos parece
responder ligeiramente mais rápido
que o anterior. O painel de instru-
mentação é digital e totalmente
personalizável, surgindo agora
maior e mais funcional: passou a
assentar num ecrã de 12,3 polega-
das, que passou a incluir informa-
ção sobre o estado das baterias e a
autonomia eléctrica disponível.
Claro que esta autonomia em muito
dependerá do modo de condução
escolhido. Há quatro à escolha: Elec-
tric (desliga o motor térmico), Hybrid
(gere os três motores de forma auto-
mática), 4WD (para forçar as quatro
rodas motrizes) e Sport (que vai privi-
legiar a dinâmica em detrimento da
eÆciência e poupança – ou seja, vai
extrair o máximo que o carro tem para
dar). Como acontece actualmente
com a maioria dos PHEV, o 3008 tam-
bém traz a funcionalidade de reservar
energia eléctrica: algo que em Portu-
gal ainda não se justiÆca, mas que em
determinadas regiões, com zonas
livres de emissões, se torna essencial
para prosseguir a viagem.
Mas nem só de energia e dinâmica
se faz esta viagem. Por dentro, o
Peugeot 3008 já nascera com vonta-
de de se destacar no mar dos gene-
ralistas, mas agora nota-se uma
melhoria nos detalhes e nos mate-
riais usados, sobretudo nos níveis
mais equipados, com bancos em
pele, apontamentos em materiais
macios e um ambiente que prima
pela sobriedade requintada.
No que toca à habitabilidade dos
ocupantes, a inclusão do sistema
híbrido nem sequer a beliscou. O
i mesmo não se pode dizer da volume-
tria da mala: nos modelos a combus-
tão é de bons 520 litros, enquanto as
Peugeot 3008 Hybrid4 versões híbridas não vão além de 395
Motor: PHEV litros, o que obriga a alguma ginástica
(Gasolina + Eléctrico) na hora de ir de férias com a família.
Tracção: Integral Claro que nem tudo são espinhos.
Potência combinada: É que o que rouba em espaço devolve
221 kW (300cv) à carteira: com as baterias carrega-
Aceleração 0 a 100 km/h: das, o consumo médio homologado
5,9 segundos é de 1,3 l/100 km e, mesmo que tenha-
Velocidade máxima: 235 km/h mos marcado um pouco mais (2,1
Consumo: 1,3 l/100 km * l/100 km), isto é algo a ter em conta
Autonomia eléctrica: 59km* quando o preço do litro da gasolina
Lugares: 5 parece não parar de aumentar – em
Bagageira: 395 litros 2020, o preço médio da gasolina sem
Preço: 52.475€ chumbo 95 simples saldou-se em
(desde, para particulares) 1,44€; no terceiro trimestre deste ano,
*WLTP, em circuito combinado a média rondou os 1,75€. Claro que
esta poupança também sai cara,
sobretudo se se tratar de um particu-
lar (as empresas poderão retirar
alguns benefícios Æscais graças às
características do veículo): o 3008
Hybrid4 de 300cv comercializa-se a
partir de 52.475€.
16 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Dahlia
FOTOS: DR
Quatro amigos de
diferentes
nacionalidades
abriram em Lisboa
um bar de vinhos,
comidas, cocktails
com um sistema de
som que é a jóia da
coroa. O segredo do
sucesso? Uma equipa
que faz a festa
O novo listening
a Podemos falar do sistema de som funk, soul, jazz, disco, música brasi- vindo do 100 Maneiras, e que sur-
xpto, da colecção de vinis, da comida, leira.” Mas tinham igualmente inte- preendeu de tal forma Adam com os
da carta de vinhos naturais, dos resse em vinhos naturais e sabiam cocktails que criou que, apesar de
cocktails, mas há uma outra coisa, que queriam servir comida. Pediram isso não estar nos planos iniciais,
bar do Cais
menos palpável, que faz a boa vibe do a Adam que entrevistasse dois candi- passou a haver uma carta de cocktails
Dahlia. Sentimo-lo da primeira vez datos a cozinheiros, Vítor Oliveira, – e foi uma decisão acertadíssima a
que vamos ao novo espaço, aberto antigo chef do Damas, na Voz do Ope- julgar pelo Grilled Pineapple Smash
em Julho na Travessa do Carvalho, rário, em Lisboa, e Gabriel Rivera. que bebemos, com um toque de
do Sodré tem
nas traseiras do Mercado da Ribeira, Adam faz as conversas por zoom a picante a puxar pela vontade de
em Lisboa. Mas só na segunda visita, partir de Berlim e deu uma resposta pedir mais um prato para acompa-
e em conversa com o gerente, Adam inesperada. “Disse que contrataria os nhar a bebida.
Purnell, é que a conseguimos identi- dois. São superapaixonados, muito Dividida em espumantes, brancos,
Æcar: toda a equipa parece genuina- criativos e muito empenhados, e isso rosés e laranjas e tintos, a carta de
A carta de cocktails
vinhos naturais foi inicialmente ela-
borada com a ajuda de um amigo mas
está agora a ser trabalhada por Adam,
que vai escolhendo novas referências
Vinhos
É o tinto que dá estatuto, funciona como presente, celebra negócios e é desejado por
consumidores brasileiros – eis o Pêra-Manca. A colheita de 2015 bateu o recorde de produção,
vende-se por 275€ na adega e apresenta-se com um perƊl mais clássico. Edgardo Pacheco
O Pêra-Manca é um adereço
numa coreograƊa de luxo
a Seja pela história, pela raridade, Manuel Janeiro, da Garrafeira Vene- de uma está um Pêra-Manca. “O que quando tem de fechar um negócio é O vinho mais viajado
pela qualidade fora de série ou pelo za (Algarve), julga que a “maioria das eu me divirto quando alguns clientes sempre na companhia de Pêra-Man-
preço, há marcas que são objecto de pessoas que recebe uma garrafa de dizem que o Pêra-Manca é um vinho ca. “Sei que não é o seu vinho prefe- Esta questão do vinho como oferta e
desejo. No caso do Pêra-Manca, há Pêra-Manca não pagou por ela: foi-lhe que custa três vezes menos. Tenho rido, mas ele quer a marca porque ícone no mercado brasileiro levanta
outro ingrediente estratégico: a fama oferecida”. Na sua casa, o grosso dos apreço pelo trabalho da Fundação esta dá estatuto, porque impressiona uma questão. É que, das 44 mil garra-
que começou em 1990, que continua clientes que pede o vinho são brasi- Eugénio de Almeida (FEA), mas sabe- quem está à mesa.” fas da colheita de 2015, apresentado
a dar um ciclo de vida longo ao tinto leiros, angolanos e chineses. Depois, mos que é às cegas que se avaliam No fundo, o Pêra-Manca é como a 1 de Outubro, cerca de 6800 estão
alentejano. Nas últimas décadas nas- há um nicho de portugueses que ora bem os vinhos.” um fato de bom corte ou um vestido alocadas para o Brasil, com um stock
ceram marcas que se posicionam no pedem para abrir uma garrafa ora Escanção do JNcQuoi, Ricardo elegante, aquela jóia que chama a de reserva de outras 1200 garrafas (a
patamar do Pêra-Manca, mas, no ima- compram uma garrafa para oferecer Morais tem um cliente português que atenção ou até a própria pose de inÇação é o que é no Brasil e o Pêra-
ginário dos consumidores, o vinho da a um amigo ou a um familiar. quem está à mesa: um adereço numa Manca nunca custa menos de 2000
Cartuxa continua a ser um ícone. Manuel tem por hábito fazer provas coreograÆa de luxo. Fica sempre reais). Ou seja, a reserva destinada ao
Aliás, a fama do Pêra-Manca é tal cegas, e, por vezes, avisa que no meio bem. Brasil é escassa face à procura. Como
que a qualidade do vinho em si não é se dá a volta ao problema? Através das
o impulso de compra. Não se coloca malas dos passageiros que viajam de
em causa essa qualidade - claro -, mas Portugal para o Brasil. Atendendo às
é difícil encontrar um consumidor questões Æscais, o Pêra-Manca deverá
que diga que comprou uma colheita ser o vinho que mais viaja na mala dos
de Pêra-Manca porque o vinho estava passageiros. Belo negócio.
mais elegante ou mais concentrado, Brasil à parte, o aumento de produ-
ou porque viu numa revista da espe- ção desta colheita vai permitir, garan-
cialidade uma nota próxima de um te João Teixeira, director comercial
20. Compra-se o Pêra-Manca porque da Cartuxa, apostar em mercados
o Pêra-Manca é o Pêra-Manca. Na como o Reino Unido e os Estados Uni-
gíria, chama-se a isso comprar e beber dos, e reforçar a presença em Macau
rótulos. – destino histórico para a marca.
A tese de que são os brasileiros, Quanto à nova colheita, de 2015, é
angolanos e chineses que consomem sempre inevitável, para vinhos desta
Pêra-Manca na restauração e nas gar- natureza, fazermos comparações
rafeiras não requer contraditório. “Os com colheitas anteriores. Assim, se
brasileiros chegam cá com essa refe- em 2014 houve um peso maior da
rência e nem vale a pena falar de casta Trincadeira, em 2015 o Arago-
outras marcas. Querem o Pêra-Manca nês foi dominante. Donde, estamos
e pronto”, diz-nos Maria Pinto Coe- perante um vinho profundo, pujante
lho, responsável do grupo de restau- e cheio de força, com destaque para
ração Monte Mar (Cascais, Lisboa e as notas aromáticas de frutos pretos
Tróia). “E quando são portugueses a (ameixa e cereja), compotas e folha
pedir o vinho, isso é porque estão a de tabaco. Na boca, sentimos um
celebrar um evento familiar impor- vinho com muita estrutura, mas as
tante”, enfatiza. Como curiosidade, notas vegetais da Trincadeira e o bom
o Pêra-Manca 2014 está na carta dos balanço da acidez acabam por dar
restaurantes Monte Mar a 380€, valor vivacidade ao vinho. Ainda assim, um
próximo daquele que é praticado nal- tinto concentrado.
gumas garrafeiras. Preferimos a colheita de 2014,
Tiago Paula, da garrafeira Estado com o domínio da Trincadeira, mas
d’Alma, em Lisboa, tem uma interpre- isso é só o nosso gosto. Que pouco
tação peculiar sobre o vinho. “Tenho importa porque o vinho vende-se
clientes brasileiros que compram bem e dá bons proveitos à FEA. Veja-
vinhos caros, entre eles o Pêra-Manca. mos, 44 mil garrafas vezes 180€ (pre-
Acontece que esses mesmos clientes ço médio tendo em conta todos os
costumam repetir algumas marcas, mercados: para os revendedores de
mas não tenho memória de algum ter Portugal, Brasil ou Macau os preços
repetido o Pêra-Manca. Às vezes faço à saída da adega são diferentes) dá
uma pergunta ou outra e eles dizem cerca de 7,9 milhões de euros. É uma
que o Pêra-Manca foi para oferecer, pena não haver mais Pêras-Mancas
não para ser bebido por eles.” em Portugal.
18 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Vinhos
O Douro e Gaia
em frascos
de perfume
a No regresso a casa depois de pro- um blend que vai agora ser submetido tacou a necessidade de procurarmos
vas de tudo e mais alguma coisa vem- à câmara de provadores do IVDP. o equilíbrio entre aromas, sabores e
nos muitas vezes à memória uma Nestes dias Ænais de vindima, Car- frescura e rematou: “Cada um tem
velha ideia de enfrascar os aromas los Alves, o master blender do grupo três tentativas para chegar ao vinho
identitários de determinadas fatias do para as marcas Kopke, Cálem, Barros Ænal.”. Ah, mas sem que tivéssemos
país (sim, cada território tem a sua e Burmester, sentou jornalistas e autorização de, inicialmente, cheirar
paisagem aromática). Quando tivés- escanções numa mesa imponente na e provar o Kopke 50 anos (mauzinho,
semos saudades do Barroso, de São Quinta de São Luiz (entre a Régua e este Carlos Alves).
Jorge, do barrocal algarvio, da serra o Pinhão). Cada um tinha uma amos- A sala onde decorreu o exercício
de São Mamede ou da praia da Arri- tra do vinho Ænal (o Kopke 50 anos), tem um pé direito que não acaba,
fana resolvia-se o problema com os seis vinhos base com diferentes ida- mas mal se abriram os frascos com
frascos em formato de perfume. des, uma proveta e um frasco os vinhos base o espaço transfor-
Mas se isso não passa de um sonho, Erlenmeyer (recipiente que serve mou-se numa perfumaria com toda
a ideia de enfrascar os aromas ele- para harmonizar líquidos). O enólo- a panóplia de cheiros que encontra-
mentares dos vinhos de uma região go deu umas indicações gerais, des- mos num Tawny velho (aromas de
vitícola em kits bonitos já nos parece citrinos, frutos secos, vinagrinhos,
exequível, didáctica, e até interes- madeiras exóticas, especiarias e
sante como negócio (em modo de outras coisas indeÆnidas). Com tan-
presente para os amigos ditos gour- to aroma, só por milagre acertaría-
met). mos no vinho testemunha.
Foi o que nos ocorreu quando, Era evidente que entre o frasco A e
recentemente, nos armámos em mas- o frasco E o tempo de vida dos vinhos
ter blender de Porto para tentarmos
recriar aquele que será a grande novi-
No universo disparava entre os dez e os 60 anos,
pelo que lá se tentou fazer um lote
dade no universo dos tawnies: o Por-
to branco Kopke 50 anos. Tentar é a
do vinho do com todos os vinhos. Uma pinga
daqui e outra dali (tudo isso vezes
expressão correcta porque, ao Æm de
três lotes (e apesar dos progressos),
Porto diz-se que seis) e o resultado foi um tiro muito
ao lado do porta-aviões.
não se chegou lá. Mas lá que tivemos
muito gozo em cheirar e provar seis
o Porto Vintage Na segunda tentativa deixou-se de
fora o vinho A (muito cítrico). O lote
vinhos base que estavam em frascos
de perfume, lá isso tivemos. É impres-
é uma dádiva melhorou qualquer coisa, mas foi
mesmo só isso. Desobedecendo às
sionante o que se aprende num exer-
cício destes. Problema: isto pode da natureza, ordens do professor, provou-se o
vinho Ænal. Caramba, agora sim, esta-
tornar-se um vício.
O IVDP criou a nova categoria de enquanto va no papo. Este vinho só poderia ser
feito com as amostras dos três últimos
Tawny datado de 50 anos (até agora
o imite era a categoria 40 anos). E a o Tawny é uma lotes. E assim era – descobriu-se mais
tarde –, mas qual seria a percentagem
Kopke, do grupo Sogevinus, que pos- certa de cada um no lote? O sarilho
sui um património considerável de dádiva do estava aqui.
vinhos brancos velhos e é a empresa Embora, aromaticamente, o ter-
mais antiga de vinho do Porto, criou homem ceiro lote se aproximasse do vinho
Sábado, 9 de Outubro de 2021 | FUGAS | 19
Vinhos
NUNO FERREIRA SANTOS
O adeus elegante de
Miguel Sousa Tavares
ao jornalismo e o
vinho-espectáculo
Vale do Côa como meras
Elogio do vinho “garatujas”).
Na passada segunda-feira, Miguel
Sousa Tavares fez a sua última
entrevista (ao Presidente da
República), despedindo-se da
proÆssão de jornalista com estas
palavras: “Muito obrigado a quem
esteve comigo ao longo destes 45
anos de jornalismo.” Imagino o
Pedro Garcias aperto que terá sentido. Foi uma
despedida sem ruído e elegante,
a “O que é uma casta?”, que terá deixado muitos
perguntou-me Miguel Sousa telespectadores, como foi o meu
Tavares. Apanhado de surpresa com caso, com um nó na garganta,
a singeleza da pergunta, não soube porque não deve ser fácil dizer
responder o óbvio. Em vez de dizer adeus ao jornalismo.
que é uma variedade especíÆca de A partir de agora, Miguel Sousa
uva, meti-me num lamaçal ao tentar Tavares vai poder dedicar-se mais
ir mais longe na resposta, ao campo e ao vinho. Sim, o
procurando explicar que nem todas jornalista comprou uma
as uvas são boas para vinho e que propriedade no Algarve e já
aquelas que mais usamos hoje têm estabeleceu uma parceria com uma
origem em videiras que foram companhia do sector para instalar
enxertadas em pés mães de origem uma vinha e fazer um vinho. Só
americana, o chamado espero que no dia em que lançar o
porta-enxerto, um auxiliar apenas. seu primeiro vinho mostre a mesma
A casta, criada artiÆcialmente ou contenção e elegância que revelou
por cruzamento natural, no Ænal da sua última entrevista.
corresponde ao garfo (um troço de O vinho não tem que ser um
videira de uma variedade especíÆca) assunto demasiado formal, e muito
que é enxertado nesse menos chato, mas, que diacho!,
porta-enxerto e que vai dar origem a também não tem que ser uma feira,
uma videira nova. Acabei na um espectáculo permanente em
Æloxera, sem explicar nada de jeito, que conta mais a forma do que o
e com a consciência de que quanto conteúdo, como acontece cada vez
mais falasse mais me enterrava, mais por cá. Vale tudo para
porque em televisão não há tempo aparecer e ser falado. Por exemplo,
para remediar o erro e o ridículo. na noite em que Miguel Sousa
Foi então que Miguel Sousa Tavares, Tavares se despedia do jornalismo, simpático chef Diogo Rocha, que nome do vinho é mesmo este. de fazer ‘tick’ nos termos do Ænal do
vendo-me em apuros, me lançou a SIC anunciava que o ex-jogador acaba de dar o nome a um novo Compraram-no a produtores de seu ato de compra”. São Ænos, estes
uma corda, mudando de assunto. Maniche (BenÆca e F.C.Porto) se vinho da Quinta de Lemos, no Dão. uma qualquer região nacional e manos. A arte não obedece a leis
O jornalista durão, conhecido por tinha transformado em vinicultor E até tem graça ver o crescente lançaram edições de mil garrafas de (embora seja risível chamar arte a
ser implacável nas entrevistas, no Douro. A reportagem apresentou fétiche da Revista de Vinhos, a mais tinto, branco e rosé, ao preço de 15 isto). Um belo estratagema para
mostrou nos bastidores e na Maniche e os acompanhantes antiga publicação nacional euros cada. Melhor, 999 garrafas a 15 quem andou a vender um vinho
entrevista que me fez há uns meses vestidos com a fatiota chique de dedicada ao sector, com as fotos de euros e a última a 999 euros. O ilegal, porque nem o nome foi
na TVI sobre o vinho em Portugal vindima e a comer sardinhas logo às capa muito fora, muito sexy, muito último vinho lançado, um rosé de aprovado pelo Instituto Nacional de
uma complacência e uma simpatia oito da manhã, como “manda a crazy, tipo enólogos engravatados 2020, vem até acompanhado de um Propriedade Industrial, nem o
cativantes. Apesar de só o ter tradição”; depois, vai-se a ver, e a a serem inundados de vinho. Algo insulto: “Que se foda - Toda a gente”. próprio vinho foi sujeito a qualquer
conhecido pessoalmente nessa condição de vinicultor deriva do nos antípodas das capas da Aproveitando a onda, os dois aprovação. Por isso, nem impostos
noite, cresci a lê-lo e a vê-lo na simples facto de Maniche ter magníÆca revista francesa amigos já vendem canecas a 10 devem ter pago.
televisão. Emocionei-me a ler o seu lançado um vinho, com o nome Vigneron, que, desde a primeira euros (“Não há copos lavados? Que Atenção, caros marujos do tal
livro Equador, logo após uma Dezoito, feito a partir de um lote de edição, continua a apostar em se foda”) e t-shirts (“Uma merda vinho: isto não é uma denúncia às
viagem a São Tomé, e tenho a vinho produzido pela Quinta da imagens sérias e verdadeiras de qualquer” e “Outra merda Finanças. Foi só um lampejo
certeza de que o meu gosto pelo Pacheca. produtores no meio das vinhas ou qualquer”), entre outros objectos. artístico para o texto ter mais likes.
jornalismo também foi inÇuenciado Tudo bem, é só sainete. Também da adega. No site, avisam: “Admiráveis clientes Não acreditam? Que se f…. O
pelas suas inúmeras crónicas e não vem mal nenhum ao mundo Bem pior é a “esperteza” de dois que compram Que se foda: os itens problema é vosso. Sabem ao menos
reportagens, apesar de nem sempre que se lancem vinhos com o nome jovens designers que, aproveitando que se encontram à venda são arte. o que é uma casta?
me rever na sua opinião (lembro-me de chefs de cozinha, até mesmo se o a alienação das redes sociais, Assim, e caso não aceite o produto
de lhe ter cortado na casaca quando chef trabalha no restaurante do lançaram um vinho chamado Que se enquanto arte, não deverá avançar Jornalista e produtor
classiÆcou as gravuras rupestres do próprio produtor, como é o caso do foda. Desculpem o palavrão, mas o na sua compra. Para o aceitar terá de vinho no Douro
Sábado, 9 de Outubro de 2021 | FUGAS | 21
Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
94 Uma singela 89 90
Quinta da Boavista
homenagem Quinta da Chocapalha Falua Reserva Unoaked
Reserva 2017
Sogevinus, Vila Nova de Gaia
ao Barão Sauvignon Blanc 2020
Quinta da Chocapalha, Aldeia
2018
Falua, Sociedade de Vinhos, SA,
Castas: Touriga Nacional, Galega da Messejana Almeirim
Touriga Franca, Tinto Cão, Região: Regional Lisboa Castas: Touriga Nacional
Vinhas Velhas a Num vale cheio de história, a Graduação: 12,5% vol. Região: Tejo
Região: Douro Quinta da Boavista partilha esse Preço: 10,50€ Graduação: 14,5% vol.
Graduação: 14% vol. património colectivo e acrescenta- Preço: 14,49€ (em adegga.com)
Preço: 45€ lhe as suas próprias memórias. No Este Sauvignon Blanc parecia ter
(em uvawineshop.com) caso, as memórias do Barão de For- tudo para atingir um tal nível de Liberta do efeito da madeira, a
rester, que a replantou depois do maturação que os seus aromas Touriga Nacional revela neste
Çagelo do oídio na década de 1850 de fruta tropical acabariam por tinto uma curiosa adaptação ao
e a usou como base para as suas dominar a prova, solo e clima do Tejo: as suas
deambulações topográÆcas (e comprometendo o seu balanço. tradicionais notas de violeta
outras) pelo Douro. Como várias Mas as opções dos seus estão presentes e marcam o seu
propriedades do vale, a Boavista criadores encontraram um aroma, mas a sensação de
passou por muitas mãos (as caminho que nem sempre volume ou uma maior tensão do
da Sogrape, que a adquiriu via funciona: fizeram a vindima de tanino geram uma harmonia
Oëey, ou da Lima&Smith, da Quin- modo a que o volume alcoólico distinta e curiosa. Um tinto que
ta da Covela), até acabar nas da se situasse nos 12,5%. Ficámos se presta a ser bebido jovem,
Sogevinus, no ano passado. então numa zona de conforto, com carnes ou queijos intensos,
Tudo naquela quinta é soberbo, sem o risco que tantos com boa fruta e garra, que tanto
Proposta seja o que se encontra nos seus limi- produtores correm hoje ao seguir satisfaz os apreciadores de
da semana tes originais, seja nas vinhas da esta via. A Sauvignon Blanc vinhos modernos como os que
Cachucha e do Ujo que foram anexa- mostra a sua riqueza e não prescindem de alguma
das posteriormente. Os socalcos, as intensidade aromática sem que o rusticidade. M.C.
exposições, as variações de altitude vinho perca frescor, vibração e
permitem todas as ambições. Agora, profundidade. M.C.
como é óbvio, já não dedicadas em
exclusivo ao vinho do Porto – foi ali
que a Oëey fez vintages memorá-
89
veis, como o de 1983. A Sogevinus
segue a aposta da Lima&Smith e pro- Bodas Reais Síria
duz, com a consultoria do enólogo Grande Escolha 2019
Jean-Claude Berrouet e o trabalho de
campo da enóloga Carla Tiago, um
89 Cooperativa Agrícola Beira
Serra
leque de tintos soberbos. Como que Vila Franca das Naves
a homenagear Forrester, que se Aveleda Loureiro 2020 Castas: Síria
bateu, e perdeu, em favor do vinho Penafiel Região: Beira Interior
do Porto mais seco. Castas: Aveleda Graduação: 13% vol.
No topo da pirâmide temos os Região: Vinhos Verdes Preço: 6,5€
fabulosos Vinha do Oratório e Vinha Graduação: 11,5% vol.
do Ujo (125 euros). Depois, há expe- Preço: 4,85€ Branco de Síria, a casta mais
riências com as castas Donzelinho representativa da Beira Interior
Tinto, Alicante Bouschet e Touriga Há castas que valem quase só (equivale à Roupeiro do Alentejo e
Nacional (28 euros). E algures a meio, pelo seu aroma exuberante e à Códega do Douro). Os seus
o Reserva, que está na base desta distintivo. A Moscatel Galego, por bagos são gordos, como o cacho,
crítica. exemplo, é uma delas. A Loureiro e os grandes brancos, tais como
Se é verdade que o maior azar de é outra variedade que nos os tintos, são feitos quase sempre
um grande vinho é ser provado ao cativa logo pelo seu perfume com uvas de bago pequeno. A
lado de um ainda maior, essa verda- “verde” e cítrico. Mas na boca, Síria tem também a fraca fama de
de comprova-se quando o Reserva quando bom, também é muito originar vinhos que oxidam muito
se bate com os extraordinários Ora- sedutor. Entra como um foguete depressa. Mas nem sempre a
tório ou Ujo. Estes, estão claramente rasante que só explode no final, realidade é assim tão linear. Na
no topo dos tintos durienses contem- mostrando toda a sua última década, têm surgido no
porâneos, o que é dizer muito. Mas, extraordinária frescura. Este mercado belíssimos brancos de
como prova de fogo do potencial da Aveleda é um bom exemplo. P.G. Síria de altitude que nos obrigam
Boavista, o Reserva sai-se muito bem. a olhar de outra forma para esta
Notas de terra, fruta contida mas de casta. Este Bodas Reais,
grande qualidade, um trabalho com proveniente de Vila Franca das
a barrica primoroso, amplo, solene, Naves, Trancoso, é também muito
longo e complexo. É um tinto de agradável. Contido de aroma, é
classe superior. Já está polido, mas um branco de bom volume e
uns anos de guarda vão melhorá-lo. estrutura, saboroso e com uma
Manuel Carvalho frescura bem balanceada. P.G.
22 | FUGAS | Sábado, 9 de Outubro de 2021
Sevilha, instaFugas
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FUGAS N.º 1107 FICHA TÉCNICA Foto da capa: Miguel Manso Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, nº270, Bloco A, 3º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
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