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O tribunal do júri como forma de imparcialidade segundo a visão ontológica de Heidegger

Introdução:

Sendo encetado na Inglaterra no ano de 1215, o tribunal do júri contrapõe-se ao arbítrio de


decisões individuais que podem ser, em uma visão ontológica heideggeriana, dotadas de
parcialidade. Contando com a participação popular para a efetivação da justiça, o primeiro
tribunal do júri no Brasil fora criando em 1822. Visto isso, busca-se avaliar nesta pesquisa de
que forma o tribunal do júri contribui com decisões justas e com o apaziguamento da
parcialidade existente em decisões unilaterais

Metodologia:

Utilizou-se o método dedutivo e bibliográfico de pesquisa.

Desenvolvimento:

Embasando conceitos de pré-compreensão na sua principal obra “Ser e Tempo” (1927),


Heidegger parte da alegação que nenhum indivíduo consegue interpretar algo estando isento de
pressuposições, mesmo que estas sejam mínimas. Desta forma, tais pressuposições são
constituídas a partir de estímulos externos e entende-se por estímulos externos tudo aquilo que o
ser humano vivencia e recebe, culturalmente. Assim, direcionando o conceito de pré-
compreesão de Heidegger para o intérprete da justiça, encontra-se incongruência com o conceito
de imparcialidade imposto. De tal modo, para Heidegger, tudo aquilo que foi posto para ser
interpretado será feito conforme os valores, as vivências e as culturas do intérprete, fazendo
deste, claramente, parcial. Em contrapartida, buscando evitar que decisões judiciais mais
importantes, que afetem de forma mais contundente a vida dos indivíduos, sejam tomadas por
um único indivíduo e, por conseguinte, tomadas por uma única pré-compreensão, criou-se os
Tribunais do Júri. Tais tribunais contam com a participação dos ditos “cidadãos comuns” para
julgar (e interpretar) crimes gravosos. Assim, elencado no artigo 5°, XXXVIII da Constituição
Federal de 1988, o tribunal do júri tem sido a forma mais autêntica de participação popular no
que tange o poder judiciário.

Conclusão:

Destarte, relacionando conceitos de pré-compreensão com a forma de julgar estabelecida nos


tribunais do júri, encontra-se que a medida que um indivíduo tem sua pré-compreensão
construída de forma semelhante ao indivíduo no qual está incumbido a julgar, a interpretação
torna-se mais empática e julga-se de forma mais branda. Além disso, a partir do momento que
se conta com uma pluralidade de pré-compreensões, de valores, de culturas e de vivências, a
probabilidade de julgar de forma imparcial torna-se maior, visto que as parcialidades, juntas e
distintas, se dissolvem. Assim, de forma humana, empática e imparcial, os tribunais do júri
constituem uma forma de julgar, que segundo conceitos heideggerianos seriam, de fato, justos.

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