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POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS

CURSO DE FORMAÇÃO DE CABOS 2017


DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR
INSTRUTOR: CAP PM ALMEIDA

I – Introdução

A fonte jurídica e política de legitimação do direito penal militar é a própria


Constituição Federal, para que os militares possam desempenhar com
eficiência suas missões constitucionais.

A Carta da República, ao tratar dos militares estaduais (Art. 42) e dos militares
federais (Art. 142), define que as Forças Armadas e Forças Auxiliares são
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina.

Para que estes pilares constitucionais sejam protegidos, o Direito Penal Militar
tutela certos bens jurídicos, mormente a autoridade e a disciplina, o serviço
e o dever militar, sempre visando à regularidade das instituições militares.

II – Conceito de Direito Penal Militar

Os estudiosos da teoria geral do direito dividem o Direito em dois ramos,


público e privado. O direito público tende a regular interesses, diretos ou
indiretos, do próprio Estado em que tem vigência, seja para impor um princípio
de caráter político e soberano, seja para
administrar os negócios públicos, seja para Direito Público
defender a sociedade, que se indica o próprio
alicerce do poder público. Neste sentido,
dentre os ramos do Direito Público, está o Direito Penal
gênero Direito Penal, que tem como espécie
o Direito Penal Militar. Direito Penal Militar

A boa Doutrina define o DPM como parte do


direito penal consistente no conjunto de normas que definem os crimes
contra a ordem jurídica militar”. Pode também ser compreendido também
como um conjunto de regras de natureza coercitiva, de natureza penal, para
assegurar a ordem jurídica militar.

III – Princípios do Direito Penal Militar

Princípios são mandamentos de otimização, que “exigem que algo seja


realizado na maior medida possível diante das possibilidades fáticas e jurídicas
existentes”. Dentre os princípios do DPM, podemos destacar os seguintes:

O Professor Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Código Penal Militar


Comentado (2014, p.21-25), ensina que regem o direito penal brasileiro,
inclusive o militar, os seguintes princípios:

I – constitucionais explícitos:

a) princípio da legalidade ou da reserva legal: trata-se do fixador do


conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos penais
incriminadores, que somente podem ser criados por meio de lei em sentido
estrito, emanada do Poder Legislativo, respeitado o processo previsto na

Este material é distribuído sem fins lucrativos, diretos ou indiretos, a policiais militares
durante cursos de formação na PMAM. A violação aos direitos do autor e os que lhes
são conexos constitui crime previsto no Art. 184 do Código Penal.
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Constituição. Encontra-se previsto no art. 5.º, XXXIX, da CF, bem como no art.
1.º do Código Penal Militar;

b) princípio da anterioridade: significa que uma lei penal incriminadora


somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes
da prática da conduta para a qual se destina. Como estipulam o texto
constitucional e o art. 1.º do Código Penal Militar, “não há crime sem lei
anterior que o defina”, nem tampouco pena “sem prévia cominação legal”
(destacamos). De nada adiantaria o princípio da legalidade sem a
correspondente anterioridade, pois criar uma lei após o cometimento do fato,
pretendendo aplicá-la a este, seria totalmente inútil para a segurança que a
norma penal deve representar a todos os seus destinatários. O indivíduo
somente está protegido contra os abusos do Estado caso possa ter certeza de
que as leis penais são aplicáveis para o futuro, a partir de sua criação, não
retroagindo para abranger condutas já realizadas;

c) princípio da retroatividade da lei penal benéfica (ou princípio da


irretroatividade da lei penal): significa que a lei penal não retroagirá para
abranger situações já consolidadas, sob o império de legislação diferenciada.
Logo, quando novas leis entram em vigor, devem envolver somente fatos
concretizados sob a sua égide. Abre-se exceção à irretroatividade quando se
ingressa no campo das leis penais benéficas. Estas podem voltar no tempo
para favorecer o agente, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença
condenatória, com trânsito em julgado (art. 5.º, XL, CF; art. 2.º, § 1.º, CPM);

d) princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal: significa


que a punição, em matéria penal, não deve ultrapassar a pessoa do
delinquente. Trata-se de outra conquista do direito penal moderno, impedindo
que terceiros inocentes e totalmente alheios ao crime possam pagar pelo que
não fizeram, nem contribuíram para que fosse realizado. A família do
condenado, por exemplo, não deve ser afetada pelo crime cometido. Por isso,
prevê a Constituição, no art. 5.º, XLV, que “nenhuma pena passará da pessoa
do condenado”. Entretanto, pode-se garantir à vítima do delito a indenização
civil, mesmo responsabilizando-se terceiros, bem como é viável que o Estado
possa confiscar o produto ou proveito do crime – aliás, o que o próprio art. 5.º,
XLV, prevê;

e) princípio da individualização da pena: quer dizer que a pena não deve


ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo
que fez. Não teria sentido igualar os desiguais, sabendo-se, por certo, que a
prática de idêntica figura típica não é suficiente para nivelar dois seres
humanos. Assim, o justo é fixar a pena de maneira individualizada, seguindo-
se os parâmetros legais, mas estabelecendo a cada um o que lhe é devido. É
o que prevê o art. 5.º, XLVI, da Constituição. Sobre o tema, em maiores
detalhes, consultar o nosso trabalho Individualização da pena;

f) princípio da humanidade: significa que o direito penal deve pautar-se pela


benevolência, garantindo o bem-estar da coletividade, incluindo-se o dos
condenados. Estes não devem ser excluídos da sociedade somente porque

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são conexos constitui crime previsto no Art. 184 do Código Penal.
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infringiram a norma penal, tratados como se não fossem seres humanos, mas
animais ou coisas. Por isso, estipula a Constituição que não haverá penas: 1)
de morte (exceção feita à época de guerra declarada, conforme previsão do
Código Penal Militar); 2) de caráter perpétuo; 3) de trabalhos forçados; 4) de
banimento; 5) cruéis (art. 5.º, XLVII), bem como que deverá ser assegurado o
respeito à integridade física e moral do preso (art. 5.º, XLIX). Na realidade,
houve, em nosso entendimento, um desvio na redação desse inciso. O que a
Constituição proíbe são as penas cruéis (gênero), do qual são espécies as
demais (morte, perpétua, trabalhados forçados, banimento). E faltou, dentre as
específicas, descrever as penas de castigos corporais. Logo, a alínea e do inc.
XLVII do art. 5.º da Constituição Federal é o gênero (penas cruéis); as demais
representam as espécies;

II – constitucionais implícitos:

a) princípio da intervenção mínima (subsidiariedade ou


fragmentariedade): o direito penal não deve interferir em demasia na vida do
indivíduo, retirando-lhe autonomia e liberdade. Afinal, a lei penal não deve ser
vista como a primeira opção (prima ratio) do legislador para compor os
conflitos existentes em sociedade e que, pelo atual estágio de
desenvolvimento moral e ético da humanidade, sempre estarão presentes. Há
outros ramos do direito preparados a solucionar as desavenças e lides
surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores consequências. O direito
penal é considerado a ultima ratio, isto é, a última cartada do sistema
legislativo, quando se entende que outra solução não pode haver senão a
criação de lei penal incriminadora, impondo sanção penal ao infrator. Nesse
mesmo sentido, o princípio da fragmentariedade demonstra ser o Direito Penal
apenas um fragmento do ordenamento jurídico, não devendo regular e punir
todos os ilícitos. Tratando-se do direito penal militar, poder-se-ia argumentar
ser incabível a intervenção mínima, justamente em prol da disciplina rígida
existente na caserna. Na realidade, em qualquer ramo do ordenamento
jurídico deve-se ponderar não constituir a sanção penal a mais indicada para a
aplicação aos ilícitos em geral, como primeira opção. O mesmo se dá no
âmbito militar, havendo infrações e sanções puramente disciplinares, que são
suficientes para garantir a ordem e a hierarquia. Enfim, o direito penal, mesmo
o militar, deve ser visto como subsidiário aos demais ramos do direito.
Fracassando outras formas de punição e de composição de conflitos, lança-se
mão da lei penal para coibir comportamentos desregrados, que possam
lesionar bens jurídicos tutelados. Luiz Luisi sustenta que o Estado deve evita r
a criação de infrações penais insignificantes, impondo penas ofensivas à
dignidade humana. Tal postulado encontrasse implícito na Constituição
Federal, que assegura direitos invioláveis, como a vida, a liberdade, a
igualdade, a segurança e a propriedade, bem como colocando como
fundamento do Estado democrático de direito a dignidade da pessoa humana.
Daí ser natural que a restrição ou privação desses direitos invioláveis somente
se torne possível caso seja estritamente necessária a imposição da sanção
penal, para garantir bens essenciais ao homem (cf. Os princípios
constitucionais penais, p. 26);

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são conexos constitui crime previsto no Art. 184 do Código Penal.
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b) princípio da culpabilidade: ninguém deve ser penalmente punido se não


houver agido com dolo ou culpa, dando mostras de que a responsabilização
não deve ser objetiva, mas subjetiva (nullum crimen sine culpa). Trata-se de
uma conquista do direito penal moderno, voltado à ideia de que a liberdade é a
regra, sendo exceção a prisão ou a restrição de direitos. Além disso, o próprio
Código Penal Militar estabelece que somente há crime quando estiver
presente o dolo ou a culpa (art. 33). O princípio é expresso no Código Penal
Militar, mas implícito na Constituição Federal, onde encontra respaldo na
busca por um direito penal de intervenção mínima, com fulcro na meta estatal
geral de preservação da dignidade da pessoa humana. Na ótica de Jescheck,
o princípio da culpabilidade serve, de um lado, para conferir a necessária
proteção do indivíduo em face de eventual excesso repressivo do Estado,
fazendo com que a pena, por outro, circunscreva-se às condutas merecedoras
de um juízo de desvalor ético-social (cf. Tratado de derecho penal – Parte
general, p. 25-26);

c) princípio da taxatividade: significa que as condutas típicas, merecedoras


de punição, devem ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a
não deixar dúvida, em relação ao seu cumprimento, por parte do destinatário
da norma. A construção de tipos penais incriminadores dúbios e repletos de
termos valorativos vagos pode dar ensejo ao abuso do Estado na invasão da
intimidade e da esfera de liberdade dos indivíduos. Aliás, não fossem os tipos
taxativos – limitativos, restritivos, precisos –, de nada adiantaria adotar o
princípio da legalidade ou da reserva legal. Este é um princípio decorrente,
nitidamente, da legalidade, logo, é constitucional implícito. Ensina Luiz Luisi
que “o postulado em causa expressa a exigência de que as leis penais,
especialmente as de natureza incriminadora, sejam claras e o mais possível
certas e precisas. Trata-se de um postulado dirigido ao legislador vetando ao
mesmo a elaboração de tipos penais com a utilização de expressões
ambíguas, equívocas e vagas de modo a ensejar diferentes e mesmo
contrastantes entendimentos. O princípio da determinação taxativa preside,
portanto, a formulação da lei penal, a exigir qualificação e competência do
legislador, e o uso por este de técnica correta e de uma linguagem rigorosa e
uniforme” (cf. Os princípios constitucionais penais, p. 18);

d) princípio da proporcionalidade: as penas devem ser harmônicas com a


gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem
tampouco a extrema liberalidade na cominação das sanções nos tipos penais
incriminadores. Não teria sentido punir um furto simples com elevada pena
privativa de liberdade, como também não seria admissível punir um homicídio
com pena de multa. A Constituição, ao estabelecer as modalidades de penas
que a lei ordinária deve adotar, consagra a proporcionalidade de maneira
implícita, corolário natural da aplicação da justiça, que é dar a cada um o que
é seu, por merecimento. Fixa o art. 5.º, XLVI, da CF as seguintes penas: 1)
privação ou restrição da liberdade; 2) perda de bens; 3) multa; 4) prestação
social alternativa; 5) suspensão ou interdição de direitos; e) princípio da
vedação da dupla punição pelo mesmo fato: significa que ninguém deve ser
processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal (ne bis
in idem). Tal garantia está prevista implicitamente na Convenção Americana

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durante cursos de formação na PMAM. A violação aos direitos do autor e os que lhes
são conexos constitui crime previsto no Art. 184 do Código Penal.
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sobre Direitos Humanos (art. 8.º, 4). Se não há possibilidade de processar


novamente quem já foi absolvido, ainda que surjam novas provas, é lógico não
ser admissível punir o agente outra vez pelo mesmo delito.

IV – O Código Penal Militar

O primeiro Código Penal Militar no Brasil foi o Código da Armada de 1891,


previsto inicialmente apenas para a Marinha, em 1899 ampliado para o Exército
e em 1941 para a Aeronáutica. Em 1944 entrou em vigor outro Código, que foi
revogado pelo atual Código Penal Militar, o Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de
outubro de 1969, recepcionado pela Constituição Federal com status de lei
ordinária (art. 22, I, da CF).

Embora o Código Penal comum seja de 1940, ele sofreu, e ainda tem sofrido
profundas reformas, que não são acompanhadas pelo Código Penal Militar.
Recentemente, entrou em vigor a Lei n. 13.491, de 13 de outubro de 2017,
para tentar corrigir esse descompasso. Todavia, alguns institutos do CPM não
apresentam compatibilidade material com o Texto Constitucional, e são
inaplicáveis hoje.

O CPM possui 2 partes:


a) Parte Geral (Arts. 1º ao 135);
b) Parte Especial, que por sua vez, é dividida em Livro I (crimes militares em
tempo de paz – Arts. 136 ao 354) e Livro II (crimes militares em tempo de
guerra – Arts. 355 a 408).

Os crimes militares em tempo de paz são distribuídos em crimes contra:


a) Segurança externa do país – Arts. 136/148 do CPM;
b) Autoridade e disciplina militar – Arts. 149/182 do CPM;
c) Serviço Militar e dever Militar – Arts. 183/204 do CPM;
d) Pessoa – Arts. 205/239 do CPM;
e) Patrimônio – Arts. 240/267 do CPM;
f) Incolumidade Pública – Arts. 268/297;
g) Administração Militar – Arts. 298/339 do CPM;
h) Administração da Justiça Militar - Arts. 340/354 do CPM;

Diferentemente do Código Penal comum, é preciso destacar que a vida não é o


bem jurídico de maior importância para o Código Penal Militar. Crimes contra a
segurança externa do país receberam maior importância pelo legislador.

V – Categorias de crimes militares

A Doutrina divide, em regra, os crimes militares em duas categorias: os crimes


propriamente militares e os crimes impropriamente militares. Os crimes
impropriamente militares obedecem a uma lógica um pouco diferente, que
veremos logo adiante.

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Há a classificação do Professor Clóvis Beviláqua, que os dividiu em os


essencialmente militares ou próprios, por compreensão normal da função
militar ou impróprio e os acidentalmente militares, e a classificação
tricotômica dos Professores Cláudio Amim Miguel e Ione de Souza Cruz,
segundo os quais são crimes propriamente militares os praticados apenas por
militares, tipicamente militares os previstos apenas no Código Penal Militar e os
impropriamente militares os delitos previstos tanto no Código Penal Militar
quanto no Código Penal.

Neste momento, resta dizer que a legislação pátria falha ao não tratar das
categorias de crimes, apesar de a própria Constituição mencionar os crimes
propriamente militares, usando inclusive esta nomenclatura, que também
adotaremos durante o curso.

A doutrina clássica, capitaneada por Célio Lobão e Jorge César de Assis,


define os crimes propriamente militares como os que somente podem ser
praticados por militares, por violar deveres que lhes são próprios. Por sua
vez, os impropriamente militares são os crimes comuns, que podem ser
praticados por qualquer pessoa. A crítica a esta teoria reside do crime de
insubmissão, quando o civil deixa de se apresentar no momento de sua
incorporação às Forças Armadas ou se ausenta antes do ato da incorporação.
Tal delito somente possui previsão no CPM, mas só pode ser praticado por
civil.

Há a doutrina topográfica, segundo Fernando Capez e Celso Delmanto,


para a qual são crimes propriamente militares aqueles tipificados apenas
no Código Penal Militar ou que possuem tipificação diversa no Código
Penal comum, sem correspondente na lei penal comum. Dessa forma, os
crimes propriamente militares seriam o motim, a violência contra o superior, o
desrespeito a superior, a deserção, o abandono de posto, a insubmissão,
dormir em serviço e o desacato a superior, por exemplo. Há doutrinadores de
Direito Penal Militar que preferem essa definição, como o Professor Paulo
Tadeu Rodrigues Rosa.

Por fim, Jorge Alberto Romeiro, define como crime propriamente militar
aquele em que a ação penal somente pode ser proposta contra militar. O
insubmisso apenas responderá a ação penal depois que se apresentar ou for
capturado, e for incorporado às forças armadas, por ser condição de
procedibilidade ou prosseguibilidade do processo penal militar, conceito que
será estudado oportunamente. A teoria do Professor Romeiro resolveria o
problema da insubmissão. A crítica a esta teoria reside no fato de usar critérios
processuais para definir o Direito Penal.

A importância em conhecer essas categorias, embora fiquem a cargo da


doutrina e jurisprudência porque não há dispositivo legal que as classifique,
reside, basicamente, em dois aspectos: a não indução à reincidência por crime
propriamente militar anteriormente praticado (Art. 64, II, do CP) e a decretação
de prisão pelo encarregado do IPM nos crimes propriamente militares (art. 18

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CPPM cc Art. 5º, LXI, da CF), caso em que o oficial encarregado assinará o
respectivo mandado de prisão.

Chama-se atenção aqui para o crime próprio militar, que somente pode ser
praticado por militar em determinada posição, como a omissão de socorro
(Art. 201 do CPM: Deixar o comandante de socorrer, sem justa
causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou estrangeiro, ou
aeronave, em perigo, ou náufragos que hajam pedido socorro).
Assim, verifica-se que somente o comandante pode figurar como
autor desse crime.

Veja: O crime propriamente militar impõe tão somente a qualidade de


militar para o agente da conduta. Já o crime próprio militar exige, além da
qualidade de militar, exige um requisito adicional (determinada posição
jurídica desse militar. Exemplos: comandante e superior hierárquico).

VI – Particularidades do Direito Penal Militar

O tratamento distinto feito pelo legislador pátrio no ordenamento jurídico entre


o civil e o militar não é novidade. O militar possui restrições políticas, vedação a
greves e à sindicalização, recebe regramento mais gravoso no Código
Penal Militar em relação a situações similares do Código Penal comum,
como o fato de ser incabível a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direito, e a impossibilidade de concessão dos benefícios da Lei
9.099/95 (Juizados Especiais).

A alguns tipos penais cabem os benefícios da Lei 9.099/95 (composição civil,


transação, representação e suspensão condicional do processo) ou
arbitramento de fiança, inclusive pela própria autoridade policial, desde que não
tenham natureza militar, mesmo que também estejam previstos no CPM com
idêntica redação.

Em regra, se o civil praticar contra outro civil a conduta prevista no Art.


129 do Código Penal, fora do âmbito da violência doméstica, com pena
prevista no preceito secundário de detenção, de três meses a um ano, o
autor não sofrerá restrição de liberdade e somente será processado se a
vítima quiser e manifestar seu interesse antes de passados seis meses da
data em que ficou sabendo quem é o autor do fato por meio de uma
representação, porque a ação penal é pública condicionada à representação,
que implicaria a lavratura de um Termo Circunstanciado de Ocorrência, caso
houvesse representação à autoridade policial. A rigor, o autor seria
beneficiado com a suspensão condicional do processo e, caso cumprisse
as condições impostas, a punibilidade seria extinta sem condenação (Art.
89, §5 da Lei (9.099/95).

Contudo o Art. 90-A da Lei 9.099/99 veda sua aplicação na Justiça Militar
(Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça
Militar*) e o Art. 324, II do Decreto-Lei 3.689/41 (CPP) impossibilita o

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arbitramento de fiança em caso de prisão militar* (Art. 324. Não será,


igualmente, concedida fiança: [...] II - em caso de prisão civil ou militar). E só
para contextualizar, as redações de tais artigos são de 1999 e 2011,
respectivamente, isto é, na vigência da atual Carta Política.

Por sua vez, no caso de o militar praticar lesões corporais de natureza


leve, prevista no Art. 209, caput do CPM, com pena idêntica a do Art. 129,
caput do CP, será autuado em flagrante delito pela autoridade de polícia
judiciária militar, a quem cabe por mandamento constitucional a apuração das
infrações penais militar, conforme Art. 144, §5º da Constituição,
independentemente da vontade do ofendido. Posteriormente, será posto em
liberdade provisória, denunciado pelo Ministério Público e, eventualmente,
será condenado a cumprir pena privativa de liberdade.

Desta forma, deve-se ter em mente que há institutos idênticos do Direito


Penal e Direito Penal Militar, como as excludentes de ilicitude (Art. 23 do CP
e Art 42 CPM). Há institutos similares nos dois ramos, como a obediência
hierárquica (Art 22 CP x Art 38,b CPM), mas que tem requisitos e alcances
ligeiramente diferentes.

Igualmente, há institutos exclusivos do CPM (conceitos de superior, de


comandante, conceito de cabeça, pena de morte, furto de uso, dano culposo do
Art 266 do CPM) na legislação penal comum, bem como a recíproca ser
verdade, na medida em que há institutos inexistentes no DPM, mas
presentes no DP, como:
a) o arrependimento posterior (Art. 16 do CP) para os crimes sem
violência e grave ameaça, reparado o dano, antes do recebimento da denúncia
ou da queixa, o juiz reduz a pena de 1 a 2/3;
b) as penas restritivas de direito (Art. 43 do CP);
c) a decadência do direito de queixa ou de representação (Art. 103 do
CP);
d) a extinção de punibilidade no caso retratação do agente nos crimes
calúnia ou difamação.
e) ação pública condicionada a representação e de iniciativa privada
(Art. 100 do CP)

Obs. 1: no crime de falso testemunho (Art. 346 do CPM), a retração do


agente extingue a punibilidade.
Obs. 2: admite-se a exceção da verdade em determinados delitos.

Assim, se um militar, nas hipóteses do Art. 9º do CPM, praticar a infração penal


de prevista no Art. 32 da Lei (9.605/98), de menor potencial ofensivo quando
tem natureza comum, relativa a ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar
animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, mas que
por força do Art. 9º do CPM terá natureza militar, será autuado em flagrante
delito e processado criminalmente na respectiva Vara da Auditoria Militar, sem
possibilidade de aplicação imediata de pena restritiva de direitos consoante
Art. 76 da Lei 9.099/95, e resultará em provável condenação à pena prevista no
preceito secundário da norma.

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É importante destacar ainda que existe forte Jurisprudência no STF em aplicar


institutos do Direito Penal Comum ao Direito Penal Militar, principalmente no
tocante aos Princípios (insignificância), e a regras da continuidade delitiva (Art
80 do CPM e Art 71 do CP), bem como em restringir a competência da Justiça
Castrense, principalmente nos crimes dolosos contra a vida, ainda que autor e
vítima sejam militar, mas não estejam em serviço ou no interior de lugar sujeito
a administração militar.

_______________________________________________________________
REFERÊNCIAS

ALVES-MARREIROS, Adriano; ROCHA, Guilherme; FREITAS, Ricardo.


Direito Penal Militar. Teoria Crítica e Prática. São Paulo: Gen/Método, 2015.
ASSIS, Jorge César de. Comentários ao Código Penal Militar. Juruá.
Curitiba. 2004.
BANDEIRA, Esmeraldino O. T. Curso de Direito Penal Militar. Livraria
Francisco Alves. Rio de Janeiro. 1915.
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100). Salvador, JusPODIVM, 2016.
_______. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). Salvador,
JusPODIVM, 2016
GUIMARÃES, Paulo. Apostila de Direito Penal Militar. Estratégia Concursos,
2017.
GUSMÃO, Crysólito de. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Editor Jacintho
Ribeiro dos Santos, 1915.
LOBÃO, Célio. Comentários ao Código Penal Militar. São Paulo: Forense,
2010.
_______. Direito Processual Penal Militar. São Paulo: Gen/Método, 2013.
LUCA, Vitor de. Apostila de Direito Penal Militar. Estratégia Concursos, 2017.
MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa. São
Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREINFINGER, Marcello. Manual de
Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 2014.
NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Processual Penal
Militar. São Paulo: Saraiva, 2014.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Militar Comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013.
_______. Código de Processo Penal Militar Comentado. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2013.
ROCHA, Guilherme. Apostila de Direito Penal e Processual Penal Militar.
Complexo de Ensino Renato Saraiva. 2015.
ROSSETTO, Enio Luiz. Código Penal Militar Comentado. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015.

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são conexos constitui crime previsto no Art. 184 do Código Penal.

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