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e Logística
Autores: Prof. Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers
Prof. Livaldo dos Santos
Colaboradores: Prof. Flávio Celso Müller Martin
Prof. Fábio Gomes da Silva
Profa. Cláudia Palladino
Professores conteudistas: Rodolpho Antonio Mendonça Wilmers /
Livaldo dos Santos
Atua há mais 35 anos como engenheiro profissional, Atualmente, é membro ativo da CQA, Comissão de
com grande experiência no mercado industrial brasileiro. Qualidade e Avaliação da Universidade Paulista. Especialista em
Exerceu atividades profissionais em empresas como Leroy cursos de ensino a distância e professor e coordenador de TC do
Somer Division na Emerson, como gerente de área; na Wilmers curso de Administração de Empresas da UNIP Interativa.
Consultoria Gerencial e Corretora de Seguros Vida Ltda,
como diretor técnico; e na Marques & Wilmers Consultoria e Consultor e assessor de empresas, com experiência
Comércio Exterior Ltda., como diretor técnico. empresarial de mais de 30 anos, concentrando seus serviços
às empresas nas áreas de Gestão Estratégica, Estrutura e
Livaldo dos Santos Reestruturação Organizacional, Reengenharia de Processos
e Sistemas de Informação, tendo como clientes empresas de
É mestre em Ciências Sociais – Administração de Empresas diversas áreas e bancos. Empresário com experiência no varejo
pela UNG – Universidade de Guarulhos – SP; pós‑graduado em e em prestação de serviços.
CDU 658.78
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Janandréa do Espírito Santo
Virgínia Bilatto
Sumário
Gestão de Suprimentos e Logística
Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 Administração dos suprimentos e a gestão de estoques.................................................9
1.1 Administração dos recursos.................................................................................................................9
2 Gestão de estoques................................................................................................................................... 25
Unidade II
3 MRP e a Gestão da Cadeia de Suprimentos................................................................................ 41
3.1 MRP e MRPII........................................................................................................................................... 41
4 Gestão na cadeia de suprimentos.................................................................................................. 62
Unidade III
5 A medição do desempenho na cadeia de suprimentos JIT e compras.................... 73
5.1 Medição do desempenho na cadeia de suprimentos e planejamento e
controle just in time.................................................................................................................................... 73
6 A atividade de compras.......................................................................................................................... 92
Unidade IV
7 Logística..........................................................................................................................................................102
7.1 A estratégia da movimentação de materiais...........................................................................102
8 Movimentação de materiais na cadeia de suprimentos...............................................110
Apresentação
Assim, administração de suprimentos e logística deve ser entendida como uma função coordenadora
responsável pelo planejamento e controle do fluxo de materiais, contribuindo para os objetivos
organizacionais ao maximizar a utilização dos recursos da empresa; fornecer o nível requerido de serviços
ao consumidor; garantir o fluxo de informações e de mercadorias dentro da cadeia e estabelecer meios
comuns de avaliação do desempenho.
Introdução
Acredita‑se que poucos têm experiência em engenharia civil ou em construção de edifícios, mas
todos percebem quando uma casa, um edifício ou uma ponte começa a ser construída. E, intuitivamente,
se sabe que não é possível começar a construção pelo telhado, mas sim pelos alicerces.
Durante a construção, acontecem diferentes etapas, que exigem do mestre de obras ou da empresa
de engenharia responsável por tal a atenção necessária para que os componentes necessários para
cada estágio estejam lá disponíveis no momento em que se fizerem necessários, nem antes (pois podem
ser danificados por outras atividades da obra), nem depois (pois a obra pode parar). Muitos são os
componentes utilizados em uma construção civil: vergalhões de aço, areia, pedra, cimento, concreto,
tijolos, materiais cerâmicos, tubos, conexões, torneiras, válvulas, fios, conectores, interruptores etc. e,
claro, mão de obra.
No Brasil e no mundo, passamos por diferentes instantes econômicos, que variam devido a razões
explicáveis ou não. Nunca saberemos com exatidão quando tais momentos vão acontecer e, quando
ocorrem, vemo‑nos perante distintas situações: se a economia começa a crescer muito rápido, os
produtos desaparecem, visto que a demanda (o consumo) é superior à oferta (à produção); se a economia
desacelera, os produtos começam a sobrar, visto que a demanda é inferior à oferta.
7
Nos dois casos anteriores, existe um complicador muito grande para a gestão de uma obra civil: se
os materiais começam a desaparecer devido a um desabastecimento, o administrador da obra precisa
encontrar outras fontes de fornecimento, substituir marcas ou até qualidade, programar entregas
futuras, pagar acima do que havia sido projetado, aumentando o custo do projeto; ou se os materiais
começam a sobrar no mercado, e o administrador da obra tinha feito um planejamento prevendo
escassez, começará a ficar com estoque de materiais antes da real necessidade da obra, sendo obrigado
a pagar por armazenagem, protegendo os produtos e desembolsando o dinheiro das compras antes do
previsto, devido à oferta excessiva no mercado.
Temos, assim, nessa introdução, uma rápida ideia do que é a administração de suprimentos: a
atividade de cuidar para que os insumos (materiais e mão de obra) não faltem no momento certo,
evitando paradas de produção ou excessos de estoques.
Na gestão de materiais, a logística passa a ter um enorme valor. Deve‑se adotar um sistema logístico
muito eficiente, que utilize sem desperdícios todas as etapas da cadeia de suprimentos. Logística é
a parte do processo da cadeia de suprimentos (também conhecida como supply chain) que planeja,
implementa e controla com eficiência a armazenagem, o fluxo de distribuição, o fluxo reverso, serviços e
as informações entre o ponto de origem até o ponto de consumo no sentido de atingir o nível de serviço
desejado pelo consumidor.
8
Gestão de suprimentos e logística
Unidade I
1 Administração dos suprimentos e a gestão de estoques
Objetivos
A gestão dos recursos materiais e patrimoniais, ou, mais modernamente, a gestão de suprimentos,
apresenta grandes desafios para as organizações, pois é responsável pela gestão de estoques, que, em
certos instantes, podem ser estratégicos e, em outros, podem se tornar uma carga para as finanças
da empresa. O objetivo é o de otimizar o investimento em estoques, aumentando o uso eficiente dos
meios internos da empresa, minimizando as necessidades de capital investido em estoque. Portanto,
pretendemos mostrar que a administração de suprimentos deve conciliar da melhor maneira os objetivos
de compras, produção, vendas e finanças, sem prejudicar a operacionalidade da empresa.
A administração de materiais é uma antiga atividade, realizada nas empresas desde os primórdios da
administração. Cresceu muito a partir do entendimento de que a logística ultrapassou as fronteiras das
empresas, buscando a eficácia, ou seja, atender às necessidades e expectativas dos clientes.
Figura 1
Observando‑se a cadeia de suprimentos das empresas, vemos que a mesma começa no fornecedor
das matérias‑primas, passando pelo fluxo de transformação dessa mesma matéria‑prima, chegando
finalmente à ponta de consumo, com os clientes finais.
9
Unidade I
Pode‑se imaginar então que, uma vez bem otimizados os investimentos em estoques, e a partir de
então bem administrá‑los, tanto em termos de negociações e estratégias de aquisição quanto em termos
de dimensionamento dos estoques e projeto de sistemas de distribuição resultará em uma significativa
redução dos níveis de estoques, com elevados ganhos para as empresas.
O objetivo deve ser o da maximização do lucro sobre o que foi investido em recursos de transformação
e recursos a serem transformados, ao mesmo tempo que garante a eficácia (atende às necessidades dos
clientes), como apresentado no modelo proposto por Nigel Slack:
• Instalações Ambiente
• Pessoal
Saiba mais
Veja o exemplo de uma cadeia de suprimentos. Por meio deste link, você
pode analisar a cadeia de suprimentos, de forma esquemática, de uma das
maiores indústrias alimentícias do mundo, a Nestlé.
<http://corporativo.nestle.com.br/aboutus/cadeiadelogistica>.
Lembrete
10
Gestão de suprimentos e logística
Os administradores têm, a respeito dos estoques, atitudes diversas, uma vez que os recursos a serem
transformados (materiais principalmente) ou bens produzidos, quando estocados, exigem um grande
investimento de capital, além de existir o risco de atingir a “vida” ou o tempo de validade do produto,
ou uma coleção que sobra ao término de uma estação climática, e precisando de armazéns adequados
e controlados para evitar perdas. Por outro lado, determinadas operações não podem existir sem os
estoques, que permitem a sobrevivência em ambientes complicados e mutantes.
Assim sendo, devem‑se entender os estoques como um elemento fundamental para equilibrar a
relação entre capacidade de fornecimento e demanda, uma vez que fornecimento e demanda não
ocorrem, certamente, conforme o desejo dos administradores.
Conforme Gonçalves (2004), a administração de suprimentos pode ser abordada sob três óticas
igualmente importantes:
• gestão de compras: tem como meta garantir a disponibilidade dos recursos a serem transformados
(materiais) e dos recursos de transformação (ferramentas, óleos lubrificantes etc. dentro
de instalações), para todas as áreas da organização. Tem a responsabilidade de desenvolver
fornecedores que atendam aos requisitos de qualidade e às especificações exigidas pela empresa,
dentro do tempo exigido para entrega, e com capacidade de repetição;
• gestão de estoques: área muito importante por gerir (gerenciar) a garantia da disponibilidade dos
itens necessários no processo produtivo, cuidando para que nada falte, o que gera paradas de
máquinas, fazendo com que sejam atendidas as necessidades dos clientes, garantindo a eficácia;
E, além disso, precisa ser entendida com respeito a sua relação com outras áreas da empresa, tais como:
• área financeira: responsável pela gestão dos recursos financeiros necessários para garantir a
possibilidade de compra dos recursos a serem transformados ou de transformação, exigidos pelo
processo produtivo;
• área de produção: é a área que agrega valor, realizando a transformação dos recursos a serem transformados
nos bens ou serviços que a empresa se propõe a fornecer, dentro dos prazos solicitados pelos clientes;
• área de recursos humanos: cada vez mais, as organizações têm dificuldade em encontrar pessoal
qualificado para as funções organizacionais, tendo em vista a competição entre as organizações
pelos melhores talentos, principalmente em períodos de crescimento econômico;
• área de TI (informática): é a área das organizações que assumiu a responsabilidade pela forma
de registro e pela guarda das informações empresariais. Faz com que os estudos de marketing
possam ser tratados e transformados pela gestão de compras, dividindo produtos finais em seus
componentes e permitindo a definição das necessidades de cada um, sem a necessidade de
cálculos manuais complexos e propensos a erros;
A evolução das organizações industriais a partir da Revolução Industrial do século XVIII levou as
empresas a comprarem materiais que originalmente eram fabricados por ela mesma (a isso se dá o nome
de terceirização, que veremos depois).
Hoje sabemos que a administração bem feita de suprimentos resulta em vantagens significativas,
uma vez que permite a redução dos investimentos de capital.
Saiba mais
12
Gestão de suprimentos e logística
A análise dos estoques segundo a análise de Pareto, conhecida como curva ABC, permite à gestão de
compras uma concentração de esforços naqueles itens realmente importantes para o desenvolvimento
da empresa, permitindo substanciais reduções ou renegociações.
Produção Vendas
Administração financeira
Administração de
Produzir quantidades Oferecer, receber pedidos suprimentos
conforme o planejado e e entregar os produtos Controle de resultados
programado vendidos
Desenvolver técnicas
de planejamento e Procura imobilizar poucos
programação para recursos financeiros,
Estoque elevado para 100% de nível de serviço garantir nível de serviço reconduzindo ao caixa
no atendimento dos pedidos. de 100% no lançamento dinheiro aplicado nos
dos pedidos, sem, porém, excessos de estoques.
manter estoques elevados.
Desenvolver e implementar
sistemas de informações Toda a operação deverá
industriais seguros, nos
Prazos urgentes no atendimento e informações quais se possa controlar a somente agregar valor para
precisas aos clientes. cada unidade monetária de
aplicação correta de cada custo ou despesa.
unidade monetária para se
criar valor.
Observação
13
Unidade I
Lembrete
A solução dos conflitos apresentados na figura anterior exige uma fina coordenação entre fornecer/
produzir/distribuir, devendo existir um balanceamento entre os objetivos conflitantes, reduzindo custos
e aumentando a eficácia, na busca por atingir os objetivos da organização.
Percepção Processo de
Situação inicial Estágio avançado Situação atual
empresarial evolução
Executivo Executivo que
O administrador de Funcionário a serviço conhecedor
Pessoa de recados administra 60% dos
materiais da produção do mercado de custos e das despesas
abastecimento
Conhecedor de Executivo com
Pessoa bem administração
Perfil profissional Burocrata eficiente preparo técnico,
considerada comercial e de econômico e legal
mercados
Progresso do Planejamento de
Sem possibilidades Comprador Diretor executivo
profissional negócios
Concentração
Atividades da Evita faltas e Planejamento em uma visão
administração de Faz despesas desmobiliza estoques estratégico de melhoria dos
materiais excedentes resultados
Assim sendo, a administração de materiais ou suprimentos pode ser definida como a atividade
que planeja, executa e controla, nas condições mais eficientes e econômicas, o fluxo de material, das
especificações técnicas dos artigos a adquirir até a entrega do produto terminado ao cliente.
A administração de suprimentos inclui hoje um sem número de tarefas, com o objetivo de atingir as
melhores condições no fluxo dos materiais:
14
Gestão de suprimentos e logística
Distribuição Recepção
Administração de materiais
Tráfego para Inspeção das
fora entradas
Administração de suprimentos
PIB, ou Produto Interno Bruto, representa a riqueza de um país, soma dos bens (objetos físicos,
tangíveis) e serviços (executados por algumas funções, sempre intangíveis) produzidos em determinado
período de tempo. Países como o Brasil, com riqueza de recursos naturais, tiveram por anos somente
fontes de recursos potenciais, pois não havia tecnologia aplicada na transformação de tais recursos.
A função produção é a que transforma os recursos naturais em produtos úteis, e para que seja eficaz,
deve acrescentar valor ao produto ou serviço oferecido após a transformação. O acréscimo de valor
cria mais riqueza, gerando maior PIB. Vejam o caso da China, que, em 2008, ultrapassou a Alemanha
como terceira potência econômica mundial, e basicamente por sua enorme capacidade de produzir,
transformando e criando valor, aumentando, assim, sua riqueza.
Empresas fabricantes são as que transformam matéria‑prima em algo de valor para os clientes
finais: madeira em mesas e cadeiras, ferro em aço, aço em chapas, chapas em carros, refrigeradores etc.
Tal processo gera riqueza, finalmente (ARNOLD, 1998).
Otimizar o valor dos recursos exige processos produtivos que maximizem a eficiência dos produtos.
Tais processos, uma vez implementados, devem ser administrados para produzir economicamente.
15
Unidade I
Em empresas voltadas para o mercado, a busca é por superar as expectativas dos clientes. Todas as funções
precisam contribuir para executar as estratégias organizacionais. Assim, as operações devem ter estratégias
que satisfaçam as necessidades do mercado, assim como realizar entregas rápidas e dentro do prazo.
Para a operação, o tempo que decorre desde a chegada de um pedido até a entrega do produto
encomendado chama‑se lead‑time. Esse mesmo tempo, sob a expectativa do consumidor, pode incluir o
tempo para a preparação e transporte da encomenda: o cliente espera um lead‑time o mais curto possível.
Existem quatro estratégias básicas para atender aos pedidos dos clientes, tentando diminuir o
lead‑time; e envolver o cliente em cada etapa resulta nas diferentes características dessas estratégias.
• Projeto para o pedido: o pedido do cliente é único, exigindo um projeto específico, personalizado,
com alto envolvimento do cliente durante a fase de projeto. Não existe estoque de material, que
só será adquirido quando realmente necessário. O lead time é longo, pois engloba o tempo de
projeto, compra e manufatura. Construir uma casa de campo, por exemplo;
• fazer para pedido: a produção somente se inicia quando o pedido do cliente chega. A produção
é feita com itens padronizados, e alguns, eventualmente, feitos sob medida. O estoque é tratado
como matéria‑prima, e o lead time, em geral, é pequeno. Um armário embutido da Todeschini, por
exemplo;
• fazer para estoque: o fornecedor produz os bens e os vende com base em um estoque de produtos
acabados. Resulta no menor lead time de todos, pois o produto está pronto para entrega. Uma
Brastemp nas Casas Bahia, por exemplo.
16
Gestão de suprimentos e logística
Lembrete
Chegar ao máximo lucro exige que as organizações tenham pelo menos quatro objetivos principais,
pensando em administração de suprimentos:
Tais objetivos são conflitantes com os objetivos de outras áreas, como marketing, produção e
finanças, visto que cada uma possui responsabilidades diferentes:
Saiba mais
17
Unidade I
Parece claro que para se atingir tal objetivo faz‑se necessária uma integração dos interesses das três
áreas envolvidas, chegando‑se a uma administração integrada de suprimentos ou, mais modernamente,
a uma organização logística. O planejamento e o controle dessa função devem ocorrer em uma única
área de responsabilidade, e não dividida por diferentes e conflitantes funções.
Tal conceito de administrar o fluxo de materiais desde o fornecedor, através da produção, chegando ao
consumidor, é relativamente atual. O nome da função é administração de materiais, ou administração de
suprimentos, ou, ainda, adicionados de planejamento e controle da distribuição ou administração da logística.
Administrar suprimentos é uma função de coordenação responsável pelo planejamento e pelo fluxo
de materiais, com o objetivo de maximizar a utilização dos recursos da empresa e fornecer o nível
adequado de serviços ao consumidor.
Como já foi visto em administração das operações produtivas, produzir é algo complexo, tendo em
vista os recursos de entrada necessários para a operação de produção.
18
Gestão de suprimentos e logística
Observando os fatores anteriores, é bastante fácil concluir que um bom sistema de planejamento
deva responder às seguintes questões:
Prioridade Capacidade
(demanda) (recursos)
Figura 6 – Relacionamento prioridade‑capacidade: sempre que possível, balanceado ou equilibrado, como em uma balança
Observação
Assim sendo, para que se obtenha uma visão razoável das necessidades futuras, que permita a
adoção de ações imediatas para atender a tais necessidades, deve‑se iniciar o estudo nas organizações
com a análise de um sistema de planejamento e controle da produção (o antigo, mas ainda existente,
PCP de muitas empresas manufatureiras). A atividade de PCP bem‑elaborada apresenta cinco níveis,
como mostra a figura a seguir:
19
Unidade I
Evolução do
Controle da detalhamento
atividade
de compras
e produção
Plano
de produção
Plano estratégico
de negócios
Declaração dos principais objetivos e metas a atingir num período de dois a dez anos. Serve como
um direcionamento amplo e mostra o tipo de negócio (produtos, mercados etc.) em que a empresa
pretende atuar no futuro. Normalmente, mostra de forma geral como será a preparação para atingir
tais metas – a estratégia.
Envolve diretamente um profundo trabalho de análise de marketing (que mercados atender, que
produtos oferecer, preços, promoções etc.), de finanças (quais vão ser as fontes e aplicações disponíveis
no mercado, fluxo de caixa, lucro, retorno sobre investimento etc.), da produção (necessidades de
novas fábricas, máquinas, mão de obra e materiais) e da engenharia (responsável por pesquisa e
desenvolvimento, projeto de novos produtos ou modificação de existentes).
Planos estratégicos são de responsabilidade da alta direção das empresas, e geralmente são revisados
a cada seis meses ou anualmente.
Plano de produção
20
Gestão de suprimentos e logística
Nesse ponto, não existe muito detalhamento, com o plano de produção apresentando soluções
ou caminhos para cada família de produtos. O plano deve procurar satisfazer a demanda do mercado
dentro dos limites de recursos de que a empresa dispõe. Ou seja, o plano de produção deve balancear
necessidades com disponibilidades. O horizonte de planejamento varia entre 6 e 24 meses, sendo revisado
mensalmente para que as metas sejam atingidas.
Uma vez definido o plano de produção, que visualiza as famílias de peças a produzir, temos pronto
o conjunto de informações para executar o MPS – programa‑mestre de produção – que trata dos
componentes individuais finais. O plano de produção é dividido por períodos, e para cada período é
mostrada a quantidade a produzir de cada item.
Para uma excelente elaboração do MPS, deve‑se informar os dados do plano de produção, a previsão
de consumo dos itens individuais finais, os pedidos de vendas, os estoques e a capacidade existente. Em
geral, os MPS são revisados semanalmente ou mensalmente.
A atividade de compras baseia‑se fortemente no MRP para decidir pela compra ou fabricação de
componentes. O nível de detalhamento é alto, pois o MRP mostra quando os componentes e as peças
serão necessários para a fabricação do item final. O horizonte de planejamento é consequência do
lead‑time combinado entre compras e fabricação, estendendo‑se de três a dezoito meses.
Compras responde por estabelecer e controlar o fluxo de matérias‑primas para a fábrica. O controle
da atividade produtiva responde pelo planejamento e pelo controle do fluxo de trabalho na fábrica.
O horizonte de planejamento é curto, entre um dia e um mês, com alto nível de detalhamento,
considerando cada item, estações de trabalho e encomendas. Os planos precisam ser revisados diariamente.
Fica claro que o plano estratégico de negócios busca integrar os planos individualizados de todos os
departamentos na organização, e que sua atualização deve ser constante, tendo em vista as mudanças
no ambiente de mercado.
21
Unidade I
Essa constante atualização envolve as áreas de marketing e vendas, que comparam a demanda real
com o plano de vendas, considerando potencialidades do mercado e previsões de demanda. Uma vez
atualizado, é apresentado à produção, à engenharia e a finanças, que ajustam seus planos para o novo
apresentado. Caso alguma área não consiga acompanhar o novo plano de marketing, este deverá ser
ajustado. Assim se consegue uma atualização dos planos ao longo dos anos, de forma coordenada entre
as diferentes áreas da organização.
• assegura que os planos das diferentes áreas sejam realísticos, coordenados e apoiem o plano de
negócios;
Semanal
Plano de vendas detalhado Programa-mestre de produção MPS ou diário
Chega‑se assim ao modelo atual implementado por todas as organizações de manufatura, visto que
a grande quantidade de dados gerados e tratados ao mesmo tempo e o enorme número de cálculos
exigem um sistema de planejamento e controle de produção computadorizado. A não utilização de
sistemas eletrônicos pode resultar na necessidade de aumentar o lead time, gerando estoques, para
compensar a inabilidade de programar o que para quando.
O sistema atual é pensado para ser um sistema de planejamento e controle totalmente integrado,
trabalhando de cima para baixo e com feedback de baixo para cima. O plano estratégico de negócios
incorpora os planos de marketing, finanças e produção:
• marketing deve certificar‑se de que seus planos são realistas e possíveis de realizar;
22
Gestão de suprimentos e logística
Ou seja, da forma comentada anteriormente, temos um plano coordenado para toda a empresa, e
esse sistema de planejamento e controle integrado recebe o nome de planejamento dos recursos de
manufatura – manufacturing resource planning (MRPII).
Lembrete
O MRPII fornece o mecanismo para a coordenação dos esforços de marketing, produção, finanças e
outras áreas na empresa, sendo muito eficaz em empresas produtoras de bens. Esse assunto será tratado
adiante.
A indústria mundial passou por diferentes momentos ao longo de sua evolução, começando com os
artesãos, mudando para as primeiras fábricas, depois da invenção da máquina a vapor, e assim nascendo a
figura dos empreendedores, muitas vezes inventores, que fizeram de suas ideias a base para o nascimento
de grandes conglomerados industriais, que se espalharam pelo mundo na primeira fase do século XX.
Com a Segunda Guerra Mundial, houve um deslocamento do equilíbrio, uma vez que com a Europa e
a Ásia destruídas pela guerra, as indústrias americanas foram muito rapidamente alçadas a fornecedoras
globais, por serem as únicas que ficaram inteiras após a guerra. Tal esforço valeu até o início da década
de 1960, quando um americano, Deming, convenceu os japoneses que copiar não levava à geração de
valor e que, com os conceitos de qualidade, as indústrias japonesas poderiam crescer.
Observação
Mais ou menos nos fins da década de 1970, no Brasil surgiu o Instituto de Movimentação e Armazenagem
de Materiais (IMAM), formado por um grupo de engenheiros e técnicos que observaram o movimento do Japão
e se propuseram a mostrar para os industriais brasileiros o que estava acontecendo por lá. As ideias eram simples:
• zero defeito;
• just in time;
• células de manufatura;
• Poka Yoke;
• Kanban.
Entre tantos outros nomes que indicam, na realidade, diferentes técnicas aplicadas pelas indústrias
japonesas, que levaram ao sucesso mundial que conhecemos até hoje.
Um dos ensinamentos dos japoneses dizia que as fábricas deviam se concentrar naquilo que elas
mais sabiam fazer e deviam deixar para outros partes das atividades que delas não faziam parte. Com
isso, a alta administração podia olhar o que interessava realmente, esquecendo se faltou tomate para o
almoço, por exemplo. Nascia o que hoje conhecemos como terceirização.
Lembrete
No Brasil, essa ideia acabou por ser extremamente bem difundida, em função de uma experiência
real, a da SEMCO.
Observação
A SEMCO era um fabricante de bens de capital muito famoso no Brasil, que tinha em sua fábrica
condições de fazer praticamente tudo o que necessitava para atender aos pedidos de seus clientes. Uma
empresa grande, pujante. Pois bem...
Em certo instante, o filho do empreendedor original, que já estava à frente da empresa, viu que a
competição no Brasil se acirrava, e que do tamanho que a empresa estava não teria como fazer frente
a isso. Iniciou então um processo de terceirização: partes da empresa que se dedicavam a serviços
paralelos (porém necessários) não precisavam exatamente pertencer à empresa, mas podiam constituir
uma empresa à parte, que passaria a ser prestadora de serviço a SEMCO.
Da mesma forma, serviços como segurança patrimonial, refeitórios, limpeza, confecção de folha de
pagamento, entre tantos outros, também podiam ser contratados de terceiros, ficando mais econômicos
do que se administrados pela própria empresa.
Esse foi o início e mais bem explicado caso de terceirização que ocorreu no Brasil, na década de 1980
(aliás, vale a pena ler o livro Virando a própria mesa, de Ricardo Semler).
Esse processo torna a empresa mais horizontal, ou seja, a empresa deixa de fazer um sem número
de atividades, passando a subcontratá‑las de empresas de fora, terceiros, daí vindo o nome de
terceirização.
A versão mais moderna da terceirização é demonstrada pelas montadoras de automóveis e suas mais
modernas fábricas, que, na realidade, são um aglomerado de diferentes empresas em um mesmo terreno,
com o objetivo de... montar um carro. Esse processo começou no Brasil com a fábrica da Volkswagen
Caminhões, em Resende, e depois foi aplicada pela fábrica da Peugeot/Citroën em Porto Real, GM em
Gravataí (fábrica do Celta), Ford em Camaçari, entre outras. Ou seja: a montadora se preocupa com o
projeto do carro e com a qualidade do mesmo, e delega a terceiros a fabricação e montagem desses
componentes nos carros, dentro da linha de montagem. Pura terceirização.
Mas as decisões sobre o que terceirizar devem ser fundamentadas em experiências da organização,
e uma boa maneira de se conseguir identificar o que fazer chama‑se reengenharia – repensar todos os
processos e depois identificar quais são as atividades principais da organização (core business), quais as
estratégicas, e terceirizar as demais.
Se nos países da Europa e da Ásia a terceirização funcionou, se no Brasil temos muitos exemplos de
que funciona, sem dúvida a adoção da terceirização passa a ser uma técnica que auxilia a organização
a ter melhores resultados na busca pelo sucesso.
2 Gestão de estoques
Segundo Nigel Slack (2007), estoque é definido como a acumulação armazenada de recursos
materiais em um sistema de transformação. O termo estoque também pode ser usado para descrever
qualquer recurso armazenado, como a capacidade de atendimento de um call center (que nem
sempre estará com utilização máxima, mas precisa ter uma “reserva”, que pode ser entendida como
25
Unidade I
um estoque). Pretendemos, porém, utilizar o termo estoque para fazer referência a recursos de
entrada transformados:
• um parque temático (Hopi Hari, por exemplo) mantém estoques de consumidores – as filas de
espera para as atrações oferecidas, apesar de o termo fila ter outra interpretação na análise de
planejamento.
Na tabela anterior, é quase evidente que existe grande diferença no valor mantido em estoque por
cada operação. Pode ser pequeno para algumas organizações, quando comparado com os custos dos
insumos totais da operação.
Pode ser muito alto, por exemplo, em organizações que têm por negócio a armazenagem, em que o
montante em estoque ultrapassa em muito os custos com mão de obra, aluguéis e custos operacionais.
Funções do estoque
Resposta: não importa o que está armazenado como estoque, ou onde ficará posicionado na
operação – o estoque sempre existirá porque sempre vai existir uma diferença de ritmo ou de taxa entre
fornecimento e demanda. Se a demanda acontecesse no mesmo instante do pedido, os itens nunca
seriam estocados.
26
Gestão de suprimentos e logística
Saiba mais
Taxa de fornecimento do
Estoque processo de saída
Processo Estoque
Processo
de de
entrada saída
As várias razões que geram o desequilíbrio entre quantidade fornecida e quantidade consumida em
diferentes estágios do processo produtivo leva a observarmos quatro tipos diferentes de estoques:
• estoque de antecipação: ocorre quando existe, por exemplo, a produção para produtos sazonais
(ovos de páscoa, por exemplo), em que as fábricas produzem chocolate ao longo do ano, ao invés
de fazerem somente quando necessário;
27
Unidade I
Além das diversas razões para o desequilíbrio entre fornecimento e demanda, existe a possibilidade
de haver diversos pontos nos quais tal desequilíbrio pode acontecer. Por exemplo, em uma fábrica de
televisores que utiliza itens padronizados, há três tipos de estoque:
Ponto de
Fornecedores Estoque Operações Fornecedores Depósito Distribuição distribuição Operações
de venda central local de vendas
Produtores de roupas
28
Gestão de suprimentos e logística
Lembrete
Pode‑se entender que, em cada ponto no sistema de estoque (de qualquer tipo anterior), os gerentes
de produção precisam gerir as tarefas do dia a dia dos sistemas. Pedidos serão recebidos de consumidores
internos e externos, itens serão despachados e a demanda, pouco a pouco, vai diminuir os estoques. É
necessário colocar pedidos de reposição de estoques, entregas vão chegar e precisam ser armazenadas.
Modelos de planejamento
• quanto pedir: cada vez que um pedido de reabastecimento é colocado, de que tamanho ele deve
ser – decisão de volume de ressuprimento;
• quando pedir: em que momento ou quando o estoque chegar a que nível o pedido de
reabastecimento deve ser colocado – decisão do momento de reposição;
• como controlar o sistema: que procedimentos e rotinas devem ser implementados para ajudar
a tomar as decisões? Diferentes prioridades devem ser dadas a diferentes itens do estoque? Como
a informação sobre estoque deve ser armazenada?
As decisões de volume de ressuprimento – quanto pedir – podem ser bem explicadas com as situações
que vivemos em nossas casas, com nossos estoques de comida e provisões. No gerenciamento desse
estoque doméstico, automaticamente tomamos decisões de quantidade a pedir, ou seja, quanto comprar
em cada momento. Para tomar a decisão, são considerados dois conjuntos de custos: o custo associado
com sair para comprar os itens de comida e os custos associados com a manutenção do estoque.
Uma opção é a de manter pouco ou não manter estoque de comida e comprar cada item só quando
necessário. A vantagem é não gastar grande quantidade de dinheiro para fazer as principais compras,
gastando somente quando necessário. Porém, a opção resulta em sair três ou quatro vezes ao dia para
fazer compras. Os custos, em termos de nosso tempo, além da inconveniência geral, provavelmente
resultam em uma opção pouco atraente.
No extremo oposto podemos fazer uma ida ao supermercado a cada três meses e comprar todas as
provisões necessárias até a próxima compra. A vantagem é que os tempos e custos para fazer compras
ocorrem poucas vezes. A principal desvantagem é que gastaríamos muito dinheiro em cada compra,
dinheiro que poderia estar no banco rendendo juros. Outra desvantagem é o custo de armazenar essas
grandes quantidades de comida, pois se fazem necessários armários extras e um freezer muito grande.
29
Unidade I
Em algum lugar entre os dois extremos anteriores estará a estratégia de pedidos que reduzirá os
custos totais e o esforço envolvido na compra.
Os mesmos princípios da situação que vivemos em nossas casas aplicam‑se às decisões de pedidos
comerciais. Ao tomar decisões, os gerentes de produção devem conhecer os custos que serão afetados
por sua decisão, tais como:
• custo de falta de estoque: uma decisão errada de quantidade de pedido acaba em falta de estoque,
resultando em falha no fornecimento;
• custos de obsolescência: pedidos de grandes quantidades, que podem ficar armazenados por longo
período, geram o risco de que os itens venham a se tornar obsoletos ou perderem o prazo de validade;
Exemplo de aplicação
Uma grande rede de lojas tipo Casas Bahia ou Magazine Luiza precisa ter capital de giro para pagar
fornecedores, capital para manter estoques (mesmo considerando que parte dos estoques é consignada
– será paga se for vendida), entre outros custos. Como é administrado o estoque obsoleto, que pode ser
identificado, por exemplo, nos computadores e televisores?
O gerente de produção pode desenvolver um perfil do estoque, que é uma representação visual do
nível de estoque ao longo do tempo:
30
Gestão de suprimentos e logística
Níveis de estoque
Quantidade previsível reta = taxa de demanda
de pedido D
Q
Estoque
médio = Q/2
Q/D
Entregas instantâneas à taxa de D/Q por período
A forma mais comum para decidir quanto de um particular item pedir, quando o estoque precisa
ser reabastecido, é chamada de abordagem do lote econômico, que é o que busca encontrar o melhor
equilíbrio entre as vantagens e desvantagens de manter estoque. Analisando a figura a seguir, podemos
visualizar algumas alternativas de decisão:
A = Q/2 = 200
Plano B Estoque
Q = 100 médio plano
100 B = Q/2 = 50
Observação
Para descobrir se um dos dois planos ou se algum outro minimiza os custos totais de estocagem do
item, faltam mais duas informações:
31
Unidade I
• custo total de manutenção de uma unidade em estoque por período de tempo = Ce;
• custos de armazenamento;
Exemplo de aplicação
Analise se no caso de uma empresa que utiliza diferentes insumos (como a indústria automobilística,
que precisa desde o motor até o manual de instrução para entregar um carro) os custos dos pedidos
podem ser considerados uniformes e constantes.
Podemos então lançar os valores em uma tabela que irá variar em função da quantidade de pedido
Q. Para efeito de exercício, adotaremos:
32
Gestão de suprimentos e logística
Observando a tabela, vemos que o custo total começa em R$ 425,00 para uma quantidade de
pedidos de 50, vai caindo até um valor mínimo de R$ 200,00 para 200 pedidos, quando volta a subir.
Portanto, a quantidade de pedidos Q que minimiza a soma dos custos de manutenção e de pedido é
200. Essa quantidade de pedidos “ótima” é denominada de quantidade econômica de pedido (ou lote
econômico de compra). Para que não seja necessário cada vez fazer uma tabela e nela localizar o custo
total mais baixo, podemos utilizar o seguinte recurso:
Custo total para o lote econômico de compra = (Ce x Qp/2) + (Cp x D/Qp)
A figura 13 mostra a representação gráfica de uma curva de custo total. Lembramos que essa curva
pode facilmente ser construída com os recursos do Microsoft Office – Excel.
Custos
Custo é Custos totais
sempre
maior antes
ou depois
desse ponto
Custos de manutenção
Custos de pedidos
Tamanho do lote
Quantidade econômica de pedido
(lote econômico de compra)
Figura 13 – Representação gráfica da quantidade econômica de pedido
33
Unidade I
Ao adotar o modelo do lote econômico, deve‑se tomar o cuidado de lembrar que são adotadas
algumas pressuposições que não necessariamente ocorrem no mundo real, e são, portanto, sujeitas a
críticas que devem ser consideradas:
• custo de pedido fixo e bem identificado, quando, na realidade, temos diferentes produtos, cada
um com um tipo de negociação e modelo de pedido;
• custo de manutenção de estoque expresso por uma função linear, quando, na realidade, existem
diferentes produtos com diferentes custos de manutenção em estoque.
Assim, o uso de tais pressuposições pode auxiliar a chegar próximo da realidade, mas deve‑se tomar
cuidado na análise, pois muitos produtos têm características especiais, que impedem totalmente o uso
do modelo, devendo se observar se o uso do lote econômico não excede os limites de aplicação das
pressuposições de custos da operação.
Por outro lado, as modernas técnicas japonesas de administração da produção, que trouxeram,
entre outras, a ideia do just in time, ou seja, entregas apenas a tempo da necessidade, que é
tipicamente uma abordagem que tende a diminuir os níveis de estoque, gerando ação caso a
caso, ordem a ordem, enquanto que o uso do lote econômico é tipicamente reativo, com os custos
tomados como fixos.
Porém, mais uma vez na realidade, existe um tempo entre a colocação de um pedido e a chegada
deste ao estoque, que é função do lead time, o tempo decorrido entre a colocação de um pedido, sua
fabricação e posterior entrega. Se utilizarmos o modelo do lote econômico, com demanda constante,
torna‑se possível definir o instante da colocação do pedido:
34
Gestão de suprimentos e logística
400 Nível de
ressuprimento
Níveis de estoque
Ponto de
ressuprimento
200
Tempo
Lead time de pedido
Figura 14 – Identificação do ponto e nível de ressuprimento em função do lead time e da taxa de demanda
A identificação do ponto de ressuprimento é dada por ponto em que o estoque chegará a zero menos
o lead time do pedido. E considerando demanda constante, calcula‑se também o nível de estoque que,
quando atingido, exige a colocação de um novo pedido de reposição.
Todavia, como demanda e lead time não são constantes, há a necessidade de se colocar os pedidos um
pouco antes do que seria a situação constante. Com isso, na chegada dos novos pedidos, deveremos ter sempre
ainda alguma coisa em estoque. Esse estoque recebe o nome de estoque isolador ou estoque de segurança.
400
Níveis de estoque
Nível de
ressuprimento
200
Tempo
LT1 LT2
Figura 15 – Estoque de segurança S devido à demanda ou lead time incertos
35
Unidade I
Exemplo de aplicação
Curva ABC
Em qualquer estoque que contenha mais de um item, alguns serão mais importantes que outros
para a organização. Taxa de uso alta, valores muito altos unitários, entre outros fatores podem ajudar a
identificar quais são os itens realmente importantes.
Uma forma comum de separar os itens de estoque é fazer uma lista dos mesmos, de acordo com sua
movimentação de valor (sua taxa de uso multiplicado por seu valor unitário). Itens com movimentação
de valor alto requerem atenção especial, enquanto que os de valor baixo não exigem o mesmo nível de
atenção.
Em geral, poucos itens em estoque representam uma grande parte do valor do estoque. Esse
fenômeno que se repete em praticamente todas as indústrias é chamado de Lei de Pareto, também
chamada de regra 80/20: 80% do valor de estoque de uma operação são responsáveis por somente
20% de todos os itens estocados. Isso permite que os gerentes de estoque concentrem seus esforços no
controle dos itens mais significativos do estoque:
• itens classe A: são os 20% dos itens de alto valor, que representam 80% do valor total do
estoque;
• itens classe B: são aqueles itens de valor médio, usualmente os seguintes 30% dos itens que
representam cerca de 10% do valor total do estoque;
• itens classe C: são os itens de baixo valor que, apesar de corresponderem a 50% do total dos
itens estocados, representam somente 10% do valor total de itens estocados.
Saiba mais
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Gestão de suprimentos e logística
100 -----
90 -----
Resumo
37
Unidade I
valores relativos aos próprios itens estocados, que podem requerer altos
investimentos por prazos longos, desnecessariamente.
Exercícios
Questão 1. (Enade 2009) A Brás Eletrônicos Ltda. monta computadores pessoais. Uma das peças
utilizadas na montagem é a placa de memória RAM. No gráfico a seguir são mostradas as quantidades
dessas placas em estoque ao final de cada dia, nos últimos 30 dias, e o nível de ressuprimento. Ao final
do dia, o administrador de compras verifica a necessidade de realizar um pedido de peças e, quando
necessário, realiza‑o imediatamente no sistema on‑line do fornecedor.
Brás Eletrônicos Ltda.
Estoque de placas de memória ao Final do dia
120
110
100
Nível de Estoque
90
80
70 Nível de
60 ressuprimento
50
40
30
20
10
0 Dias
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Sabendo‑se que o lead time é o tempo entre o pedido de suprimento e sua entrada no estoque da
empresa (considere que não existe perda de tempo entre a entrega e a entrada em estoque), conclui‑se
que o lead time médio no período é de:
A) 1 dia.
B) 2 dias.
C) 3 dias.
D) 9 dias.
E) 10 dias.
Justificativa geral
O gráfico dado na questão permite que mensuremos o lead time dos três pedidos efetuados durante
o acompanhamento dos últimos trinta dias. Observe o gráfico a seguir e a tabela posterior:
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Gestão de suprimentos e logística
90
80
70 Nível de
60 ressuprimento
50
40
30
20
10
0 LT LT LT Dias
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Perceba que o lead time variou de ciclo para ciclo e que o lead time médio foi de 2 dias.
Porque
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Unidade I
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