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Apresentação
Nesta aula, estudaremos os conceitos e princípios básicos da Mecânica dos Fluidos: a pressão, a densidade volumétrica,
a conceituação dos fenômenos fluídicos, a tensão de cisalhamento, os tipos de escoamentos, os fluidos ideais, a estática
dos fluidos, a dinâmica dos fluidos, a conservação do fluxo, a conservação da energia, a viscosidade, os fluidos
newtonianos e os escoamentos de Poiseuille.
Objetivos
Definir os conceitos e princípios da Mecânica dos Fluidos;
Identificar as relações entre os princípios da Mecânica dos Fluidos e suas grandezas físicas.
Isso significa que a Mecânica dos Fluidos não se limita às Ciências Clássicas, no sentido das escalas de dimensões e energias,
e também não se restringe aos problemas simples e solúveis analiticamente.
Comentário
Originalmente, surgiu do Princípio de Arquimedes, com o conceito de Empuxo, e do Princípio de Pascal, no que chamamos hoje de
estática dos fluidos ideais, tendo evoluído para os fluidos dinâmicos, com a Equação de Bernoulli, ainda para fluidos ideais.
Posteriormente, com o conceito de Viscosidade de Newton, surgiram as Equações de Poiseuille, para fluidos reais, em regime
estacionário, quando a velocidade de escoamento não varia com o tempo, e com viscosidade constante, chamados Newtonianos,
de escoamentos laminares, e evoluiu-se até as equações de movimento de Navier-Stokes e a descrição dos escoamentos
fluídicos, ainda em regime estacionário.
Para os escoamentos estritamente turbulentos, ainda nos falta um tratamento matemático geral dos fenômenos, mas existem
avanços. Os conceitos da Mecânica dos Fluidos, técnicas e equações podem ser encontradas em diversas Ciências Físicas e
de Engenharias.
Abordagem
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Abordagem
Fluidos são sistemas físicos com diversas propriedades e características, que estudaremos conceitualmente nesta
aula.
Pela abordagem, ou representação, de Euler, mais utilizada, observamos pontos fixos do espaço e descrevemos
como variam alguns de seus parâmetros (massa específica, pressão, velocidade) em função das coordenadas
espaciais e do tempo.
A cada instante t, teremos uma partícula diferente do fluido naquela posição fixa e, assim, descreveremos como
esses parâmetros (massa específica, pressão, velocidade) evoluem com o tempo, naquela posição fixada.
Por partícula de fluido, definimos o fluido subdividido em elementos de volume suficientemente pequenos, e cada
elemento de volume como uma partícula do Fluido.
Então, por essa abordagem de Euler, obtém-se as informações dos escoamentos em função do que ocorre em pontos
fixos do espaço, enquanto as partículas do fluído escoam por estes pontos.
𝑽=𝑽(𝑥,𝑦,𝑧,𝑡)
Pela abordagem, ou representação, de Lagrange, descrevemos como evolui a posição de determinada partícula do
fluido ao longo do tempo, sua trajetória.
Se tivéssemos informações completas sobre cada partícula que compõe o fluido, poderíamos descrever a evolução
completa de todas as partículas do fluido e, portanto, do movimento do fluido.
Imaginemos individualizar cada partícula do fluido com um corante na posição inicial da partícula em , sua trajetória
seria determinada ao longo do tempo como em uma exposição fotográfica de longa duração.
Então, por essa abordagem de , estuda-se a evolução da posição de uma, ou várias partículas, em função
do tempo.
Essa abordagem não é de muito interesse, pois, usualmente, se deseja conhecer o movimento completo do fluido e o
conhecimento da evolução da trajetória de cada partícula é improvável.
𝑽=𝑽[𝑥(𝑡),𝑦(𝑡),𝑧(𝑡),𝑡]
A representação de Euler é mais simples de ser utilizada para descrever os escoamentos fluídicos, tanto do ponto de
vista experimental, como analítico.
Atenção
A diferença entre sólidos e fluidos está no comportamento desses sistemas às tensões superficiais ou tangenciais, chamadas de
Tensões de Cisalhamento.
Sólidos, quando submetidos às Tensões de Cisalhamento, podem deformar-se até que atinjam o equilíbrio mecânico
newtoniano entre as forças.
Exemplo
Um veículo automotivo, quando se choca com outro veículo, deforma-se. Jamais veremos um acidente entre dois veículos fazer
com que eles escoem pela estrada, pois são sólidos. São sólidos deformáveis.
Não vamos confundir movimento mecânico newtoniano de corpos sólidos com o escoamento de fluidos.
Já se, de outra forma, aplicarmos forças tangenciais à superfície da água em uma piscina, veremos o fluido escoar, fluir.
Fluidos, diferentemente dos sólidos, deformam-se continuamente diante de Tensões de Cisalhamento, tensões tangenciais.
Não importa se o fluido é denso ou muito viscoso, sempre haverá
escoamento de fluidos quando submetidos às Tensões de Cisalhamento.
Esta é a característica fundamental do fenômeno fluídico: a habilidade de
escoar.
Diferença entre o comportamento de sólidos e fluidos quando submetidos às Tensões de Cisalhamento
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Diferença entre o comportamento de sólidos e fluidos quando submetidos às
Tensões de Cisalhamento
Comportamento do fluido sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento. Fonte: Fox e McDonald (2014).
Os diagramas acima demonstram a diferença entre o comportamento de sólidos e fluidos quando submetidos às
Tensões de Cisalhamento. São duas placas sólidas entremeadas com uma substância.
Quando uma das placas é tensionada tangencialmente, sem deslizamento, deforma a substância entre as placas. Se a
substância for um material sólido, sua deformação cessará em uma configuração limite de equilíbrio.
Mas, se a substância for fluídica, sua deformação não cessará e poderá deformar-se indefinidamente, já que fluidos se
deformam indefinidamente quando submetidos às tensões de cisalhamento.
Caracterização
• Compressíveis ou incompressíveis.
• Reais ou ideais.
Compressibilidade
A densidade volumétrica é a relação da massa por volume de um fluido em condições específicas de temperatura e
pressão. Sua unidade SI é Kg/m3.
Se um determinado fluido puder ter sua densidade volumétrica alterada em um sistema, este será classificado como
compressível. Se isso não for possível, ou não for possível nas circunstâncias de operação de um sistema fluídico,
este será dito incompressível, ou seja, os espaçamentos médios dos elementos constituintes de um fluido não se
alteram quando este é incompressível.
Para essa classificação, não se consideram as mudanças de densidades volumétricas por transições de fase
termodinâmicas, de sólidos para líquidos, de líquidos para gases etc.
Todos os fluidos são, na verdade, compressíveis, já que é sempre possível alterar a compressibilidade de fluidos,
embora nem sempre isso ocorra em situações de interesse prático.
Se em um sistema fluídico, a densidade volumétrica do fluido não se alterar diante de uma condição de escoamento
em particular, quando seus parâmetros não se alteram no tempo, escoamento estacionário, e diferenças de pressão
forem suficientemente pequenas, podemos classificar esse fluido como incompressível, pois naquelas circunstâncias
o fluido será efetivamente incompressível.
Exemplo
Quando diferenças de pressão forem relevantes, o mesmo fluido líquido, antes classificado como incompressível,
poderá ser reclassificado como compressível, em escoamentos não estacionários, quando seus parâmetros variam
no tempo.
Os gases não confinados, em escoamento externo, com transferência de calor desprezível, podem ser considerados
incompressíveis quando a velocidade de escoamento for pequena ao ser comparada com a velocidade do som.
Número de Mach
A relação entre a velocidade de escoamento do fluido gasoso pela velocidade do som é nominada número de Mach.
M = V /v
Onde:
• V é a velocidade do escoamento.
Quando M < 0,3, considera-se o escoamento como incompressível. Para M=0,3, a velocidade do fluido será em torno
100m/s.
Portanto, o critério de compressibilidade deve ser encarado como efetivo diante das circunstâncias de escoamento
do sistema fluídico.
É conveniente também definir a força de pressão como a pressão local multiplicada por uma área, atuando vetorialmente na
direção normal (perpendicular) à área de superfície considerada.
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Princípio de Arquimedes
A soma de todas as forças de pressão que atuam sobre um corpo sólido mergulhado em um fluido, parcial ou
totalmente, é igual ao peso do fluido que foi afastado pela presença do corpo, atuando na mesma direção da efetiva
aceleração gravitacional, no sentido contrário.
É interessante ressaltar que o Princípio de Arquimedes resulta na quantidade física empuxo, que será igual, em magnitude,
ao peso do fluido afastado pela presença de um corpo sólido.
Isso significa que, ainda que o corpo seja oco, seu volume deslocará certa porção de fluido, o que fará com que o empuxo
seja tão maior quanto maior for o volume do corpo mergulhado, independentemente da massa específica desse corpo.
Quanto maior seu volume, maior a massa de fluido deslocada e, portanto, maior o peso do fluido deslocado, então, maior
o empuxo.
Exemplo
Navios flutuam, apesar de suas imensas massas, pois deslocam grande quantidade de água e, assim, o rmpuxo sobre
eles é também grande.
Quando mergulhamos, percebemos que nosso peso efetivo, chamado de peso aparente, que é igual ao nosso peso livre
subtraído do valor do empuxo, é menor e, dessa forma, podemos flutuar em água.
Se sustentarmos um sólido dentro de um fluido, por um fio, sem que toque o fundo do recipiente do fluido, ao colocarmos
o recipiente em uma balança digital, veremos que a massa lida na balança digital será a massa do recipiente, mais a
massa da água sem o sólido, e ainda somada à massa do fluido que foi deslocado pela presença do sólido mergulhado.
Essa massa de volume adicionada, devido ao Empuxo, age da mesma maneira se adicionássemos o mesmo volume de
água deslocada, sem a presença do sólido.
A razão é que o fluido exerce uma força de empuxo sobre o sólido, cuja reação atuará sobre a balança, alterando sua
medida.
Princípio de Pascal
Todo incremento de pressão, aplicado a um fluido em equilíbrio, será totalmente transmitido a todos os pontos e
camadas fluidas, assim como às paredes que o contém.
Do Princípio de Pascal, como corolário, obtemos:
Estabelece que dois vasos, ou reservatórios de um fluido, se comunicantes, não importando a forma dos vasos,
transmitirão as pressões, de acordo com o Princípio de Pascal.
Exemplo
De outra forma, se enchermos uma mangueira com água, não importa seu formato, desde que totalmente cheia, e
levantarmos suas extremidades, as alturas dos níveis de água serão exatamente os mesmos.
A razão é que a coluna atmosférica sobre as aberturas dos dois lados da mangueira de água, será essencialmente a
mesma e, assim, a pressão atmosférica sobre esses lados da mangueira de água será a mesma.
2. A Prensa Hidráulica
Se construirmos uma prensa hidráulica, com dois pistões, de modo que os pistões tenham áreas de seção diferentes,
como qualquer incremento de pressão, será totalmente transmitido a todo o fluido; se acionarmos o pistão de menor área
com determinada força, o segundo pistão, com maior área de seção, erguerá carga bem maior.
3. A Lei de Stevin
Estabelece uma relação entre a pressão em um ponto de um fluido e a profundidade do fluido nesse ponto.
O fluido encontra-se em equilíbrio. Quanto mais profundo, maior a pressão. Quanto menos profundo, menor a pressão.
Exemplo
Conhecemos isso de nossas experiências de vida. A diferença de pressão de mergulho será proporcional ao termo de
coluna manométrica, que é igual ao produto da massa específica do fluido pela aceleração gravitacional local e
multiplicado pela diferença de profundidade de mergulho.
Equação da continuidade
A conservação da massa é um daqueles princípios físicos muito utilizado. Vamos abordá-lo do ponto de vista da conservação
do fluxo de massa e da conservação da vazão.
Como a massa de um escoamento de um fluido, incompressível e não viscoso, em um conduto, não deve variar, se não houver
quaisquer vazamentos ou nova entrada de fluidos, é razoável crer que a quantidade de massa, ou melhor, já que o fluido é
incompressível, que a quantidade de volume de fluido seja conservada. Então a vazão, ou seja, o volume de fluido por tempo,
deve se conservar.
Assim, definindo a vazão como o produto da velocidade de escoamento, em um ponto, pela área de seção do conduto,
poderemos calcular a velocidade de escoamento, ou a área de seção, em outro ponto do escoamento.
Exemplo
Se ligarmos a água em uma mangueira, com vazão constante, ao colocarmos os dedos na extremidade dessa mangueira,
diminuindo a área de saída, teremos como resultado o aumento da velocidade de escoamento na saída.
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Princípio de Bernoulli
O Princípio de Bernoulli é uma consequência do princípio de conservação aplicado aos fluidos incompressíveis ideais, não
viscosos.
Relaciona três contribuições de pressão, em uma de suas representações, somando a pressão absoluta à pressão
manométrica de Stevin e à pressão dinâmica, proporcional ao quadrado da velocidade de escoamento, como uma
constante a ser conservada em qualquer linha de escoamento de um fluido ideal.
Fenômeno de Venturi
Como a Equação de Bernoulli deve ser conservada, no estreitamento, a velocidade deve aumentar já que a área, nesse
ponto, é menor, por conservação da vazão.
Então, se temos crescimento da velocidade de escoamento nesse ponto, o correspondente termo de pressão de Bernoulli
aumenta, e, assim, o termo de pressão absoluta tem que diminuir.
Quando a velocidade de escoamento aumenta, a pressão diminui. É uma consequência do Princípio de Bernoulli para
fluidos ideais.
(Fonte: Wikipedia)
Efeito Magnus
Resultado do Princípio de Bernoulli, onde a velocidade de escoamento aumenta, por soma da contribuição da velocidade
ao escoamento devido à rotação da esfera, ou do cilindro.
O escoamento do fluido provoca acréscimo da velocidade relativa de escoamento em um dos lados do corpo e, assim,
diminuição da pressão nessa região, fazendo a força de pressão resultante, do outro lado do corpo, atuar com a Força
de Magnus.
Exemplo
Pode ser usada para substituir velas em navios. É conhecida dos jogadores de futebol quando aplicam efeitos na bola.
(Fonte: Research Gate)
(Fonte: Fórum PiR2)
Regimes de escoamento
Podemos classificar os regimes de escoamentos em:
1 2
Combinações destes.
Ao analisar o campo de velocidades de um escoamento em determinada região, por campo de velocidades, considera-se a
distribuição contínua das velocidades de escoamento, como um campo vetorial das velocidades de um fluido em certa região
de escoamento.
Escoamento
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Escoamento
Podemos usar o recurso de compreensão, comentado na abordagem, de diferentes partículas de um fluido marcadas
com corantes, em um escoamento.
Ao obter uma fotografia, com curto tempo de exposição, identificaremos as linhas formadas na fotografia como
representativas do campo de velocidades.
A direção e o comprimento de cada traço formado, na foto, nos indicarão a direção e a magnitude da velocidade de
escoamento de cada partícula marcada do fluido naquela região.
As imagens abaixo são simulações computacionais dos campos de velocidades de dois escoamentos fluídicos
diferentes.
Escoamento uniforme
É o regime de escoamento onde o campo de velocidades do escoamento fluídico não se altera em uma determinada
região.
A velocidade tem a mesma magnitude, direção e sentido em todos os pontos do fluido nessa região.
Escoamento não uniforme ou variado
É o regime de escoamento onde o campo de velocidades do escoamento fluídico difere em cada ponto em
determinada região. A velocidade não tem a mesma magnitude, direção e sentido em todos os pontos do fluido nessa
região.
Na prática, todo fluido que escoa próximo de uma fronteira sólida é não uniforme, pois a velocidade relativa de
escoamento na fronteira é zero.
É o regime de escoamento onde as propriedades do fluido e seu campo de velocidades são invariantes no tempo.
Na realidade, sempre há pequenas variações de velocidade e pressão. Porém, se seus valores médios são constantes
no tempo, o escoamento será estacionário ou permanente.
(Fonte: Scielo)
É o regime de escoamento onde as propriedades do fluido e/ou seu campo de velocidades variam no tempo.
https://images.app.goo.gl/ubuaahs213BdhyK17
Combinações
Combinando essas definições de regimes puros, podemos classificar qualquer escoamento em um dos quatro
regimes compostos:
As condições e propriedades do fluido não se modificam com a posição na corrente de escoamento ou com o tempo.
Um exemplo é o escoamento em um tubo com seção variável e com velocidade constante na entrada, sua velocidade
mudará ao longo do comprimento do tubo até a saída.
Em cada instante temporal, as propriedades em todos os pontos do escoamento são as mesmas, mas variam no
tempo.
Um exemplo é um tubo de diâmetro constante conectado a uma bomba com vazão constante que é desligada.
Incluem-se os uniformemente acelerados e os uniformemente desacelerados.
O escoamento uniforme estacionário é o mais simples de ser tratado e o escoamento não uniforme não
estacionário, o mais complexo.
Atualmente, a Mecânica dos Fluidos Aplicada lida com técnicas de CFD (Computational Fluid Dynamics) para
solucionar problemas reais complexos.
Quando as linhas de corrente se aproximam, como na figura acima, significa que a velocidade de escoamento é maior nesses
pontos, comparada às regiões onde as linhas são mais afastadas, de modo a conservar o fluxo do escoamento.
Agora, considere um conjunto de linhas de corrente que formam tubos de correntes. Se o campo de velocidades é sempre
tangente às linhas de correntes, então também o será com as paredes dos tubos de correntes.
Ou seja, não haverá fluxo de massa fluida que atravesse as paredes dos tubos de correntes. As partículas fluidas que escoam
em uma linha de corrente permanecerão nessa linha de corrente.
No entanto, é usual termos problemas unidimensionais ou bidimensionais, onde o escoamento se dá em uma ou duas
dimensões espaciais. Nesses casos, o campo de velocidades será descrito em termos das dimensões espaciais em que se dá
o escoamento e do tempo. Assim, podemos ter escoamentos unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais.
Escoamento bidimensional
Viscosidade
A Viscosidade é a relação entre a Tensão de Cisalhamento (tangencial) e a taxa de variação espacial da velocidade de
escoamento, chamada taxa de deformação ou gradiente de velocidades.
Logo, a viscosidade é um coeficiente de fricção entre os elementos de um fluido, identifica o quanto um fluido resiste quando
submetido às tensões de cisalhamento.
Quanto mais viscoso um fluido, mais lenta será sua contínua deformação, ou melhor, seu escoamento, submetido à mesma
tensão de cisalhamento.
Exemplo
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Exemplo
Se aplicarmos uma mesma tensão tangencial às camadas superficiais de um reservatório de mesmo volume de água
e outro de mel, perceberemos que a água se deforma continuamente, escoa mais velozmente e facilmente, comparada
ao escoamento do mel. Isso indica que a viscosidade do mel é maior que a viscosidade da água.
De forma geral, todos os fluidos são viscosos, não incluídos aí os superfluidos, que são substâncias que apresentam
características quânticas. Inclusive a água é viscosa, com baixa viscosidade, muitas vezes desprezada.
Os fluidos não viscosos (classificação efetiva) são comumente chamados de , já os fluidos viscosos são
chamados de fluidos reais.
É comum, na literatura, a nomenclatura de hidrodinâmica clássica para se referir à mecânica dos fluidos ideais, não
viscosos.
Nas figuras a seguir, temos um diagrama de linhas de corrente de um escoamento ideal, à esquerda, descrito pela
Equação de Bernoulli, e um diagrama de linhas de corrente de um escoamento real, quando há viscosidade, descrito
pelas Equações de Poiseuille e Navier-Stokes; ambos em regime estacionário.
O perfil do campo de velocidades é característico de cada fluido, em regime estacionário. São escoamentos
unidimensionais, pois fluem numa única direção.
Na figura à esquerda, com perfil retangular e uniforme, do campo de velocidades para o escoamento com fluido ideal,
não viscoso, a causa de seu escoamento é a diferença de pressão.
Na figura à direita, com perfil parabólico e não uniforme, do campo de velocidades para o escoamento com fluido real,
a causa de seu movimento são tensões tangenciais viscosas, além da diferença de pressão.
Repare que, no perfil da direita, a velocidade de escoamento se aproxima de zero quanto mais próximo das paredes do
conduto, significativo de escoamentos viscosos.
Junto às paredes do campo de escoamento, verifica-se a formação de uma película de fluido aderida à parede, devido
à tensão superficial entre a parede e o fluido.
Como a parede está imóvel, no exemplo, o fluido não pode apresentar-se com velocidade diferente de zero em contato
com a parede. Assim, observa-se um escoamento em lâminas do fluido, com velocidades crescentes quanto mais
distante das paredes, e zero junto a elas.
Chama-se isso de escoamento laminar. É uma característica dos escoamentos viscosos em regime permanente, a
baixas velocidades.
Exemplo
Vejamos o que ocorre quando temos duas placas sólidas, separadas por um fluido viscoso, onde a placa superior é
tracionada para a direita enquanto a placa inferior é mantida em repouso relativo ao fluido.
Observe que a força de cisalhamento é uma força típica de fricção, se opondo à força aplicada à placa superior.
Como, neste exemplo, a placa sólida superior se move para a direita, e a velocidade relativa das partículas de fluido,
junto à esta placa, é zero, essa placa faz mover a primeira lâmina de fluido, que move as demais lâminas
sucessivamente.
Essa é a característica da Tensão de Cisalhamento atuando em substâncias fluidas. Lembrando que se trata de um
escoamento estacionário, permanente, que vamos classificar como escoamento laminar.
Fluidos que apresentam essa característica linear, sendo a Viscosidade de Newton a constante de proporcionalidade, são
classificados como fluidos newtonianos.
De outro modo, fluidos newtonianos são fluidos cuja viscosidade é constante para diferentes Tensões de Cisalhamento e não
variam no tempo.
Newtonianos
Não newtonianos
São fluidos viscosos, mas que apresentam uma viscosidade não linear, ou não constante, ou dependente do tempo, no
sentido da relação entre a Tensão de Cisalhamento e a Taxa de Deformação.
Saiba mais
Explore mais sobre a Reologia, o estudo do comportamento deformacional e do fluxo de matéria, submetido a tensões, sob
determinadas condições termodinâmicas ao longo de um intervalo de tempo. Isso inclui propriedades como o estudo da
elasticidade, viscosidade e plasticidade.
Diagrama da Tensão de Cisalhamento pela Taxa de Deformação (Gradiente de Velocidades)
Clique no botão acima.
Observe que os fluidos ideais estão alinhados à abcissa, pois não estão sujeitos a Tensões de Cisalhamento, são não
viscosos.
Os sólidos reais estão quase alinhados com a ordenada, pois, quando submetidos a Tensões Tangenciais
(Cisalhamento), deformam-se até o equilíbrio, admitindo curta deformação.
Os fluidos newtonianos satisfazem comportamentos lineares. São retas no diagrama, onde sua viscosidade é o
coeficiente angular dessas retas, situação da maioria dos fluidos de uso comum, ou seja, possuem viscosidade
constante.
O plástico ideal também segue um comportamento linear, uma reta, mas necessita de uma contribuição inicial,
coeficiente linear, para iniciar escoamento com coeficiente angular constante, à semelhança dos newtonianos.
Os não newtonianos, no diagrama, são representados por uma curva não linear, com comportamento a depender das
características do fluido.
Escoamento laminar e turbulência
Escoamentos laminares são escoamentos estacionários que se passam em lâminas de corrente, em campos de escoamentos
viscosos, devido às Tensões Cisalhantes, descritos pelas Equações de Hagen-Poiseuille.
As linhas de escoamento são paralelas, em lâminas, com perfil parabólico, se o conduto for cilíndrico.
O comportamento do campo de velocidades, nesse caso, é quadrático, ou seja, parabólico, como na figura a) da direita, acima,
e nas duas figuras da esquerda, abaixo.
Fonte: NUSSENZVEIG. Curso de Física Básica 2.
Escoamentos Irrotacionais
Não formam circulações ou vórtices de fluxo.
Para um fluido perfeito, ideal, nada impede que o escoamento se dê sobre um sólido com velocidade tangencial não nula, figura
acima superior à esquerda.
Contudo, em um fluido real, sua viscosidade, mesmo pequena, mas não desprezível, impede esse perfil de escoamento ideal,
pois a velocidade relativa do fluido, em contato com o sólido, deve ser nula, tendo em vista uma camada de aderência por
tensão superficial no entorno do sólido.
No caso de baixa viscosidade, sua ação (da viscosidade) para baixas velocidades deve se restringir a uma estreita camada
junto à superfície do sólido, de espessura muito menor do que as dimensões do sólido, onde se verifica o perfil de escoamento
laminar.
Nessa camada limite, prevista por Prandtl em 1904, a velocidade varia rapidamente, desde zero até a velocidade do campo de
escoamento.
Na figura, onde as velocidades são mais elevadas, visualiza-se a formação de vórtices de escoamentos rotacionais, onde houve
um descolamento da camada limite da superfície do obstáculo.
Diagrama do perfil de velocidades laminares com identificação da camada limite laminar
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Diagrama do perfil de velocidades laminares com identificação da camada limite
laminar
(Fonte: Research Gate e Laboratório de Mecânica da Turbulência)
A figura da esquerda, acima, é uma representação do digrama do perfil de velocidades laminares com identificação da
camada limite laminar, não houve ainda descolamento dessa camada limite nesse diagrama.
Na figura da direita, acima, o disco branco é um cilindro sólido e a imagem desse campo de escoamento foi obtida em
corte de seção plana, sendo a direção vertical perpendicular à imagem. O sentido do fluxo é da direita para a esquerda.
A imagem acima identifica a formação de vórtices após o obstáculo cilíndrico, onde houve descolamento da camada
limite laminar da superfície do obstáculo.
Então, para velocidades de escoamento relativamente baixas, a camada limite permanece colada ao obstáculo sólido
e, assim, temos um escoamento laminar dentro dessa camada.
Mais afastado dessa camada limite, e distante do obstáculo, o escoamento se mantém irrotacional e quase idêntico
a um fluido perfeito, chamado inviscido (não viscoso) ou ideal.
Porém, para velocidades de escoamento mais elevadas, verifica-se o fenômeno de descolamento da camada limite
laminar e surge uma esteira onde aparecem vórtices, produzindo um refluxo no fluido em direção ao obstáculo.
(Fonte: Medium)
À medida que aumentamos a velocidade de escoamento, os vórtices vão se separando da camada limite, sendo
arrastados pelo fluido. Novos vórtices se formam na esteira do obstáculo, criando uma fileiras de vórtices.
Se aumentarmos ainda mais a velocidade de escoamento, então teremos um escoamento turbulento na esteira do
obstáculo, com fluxo extremamente irregular e até caótico, havendo mistura de linhas de escoamento de forma não
linear e variando no tempo, figura acima.
Posteriormente à esteira e também fora da camada limite, o fluxo é laminar. Esse fenômeno de descolamento de camada
limite laminar e formação de vórtices é uma fase transitória entre o regime de escoamento laminar e o escoamento turbulento.
Mas o que é a esteira e como se dá a separação da camada limite?
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Mas o que é a esteira e como se dá a separação da camada limite?
Nos escoamentos sobre obstáculos sólidos, surgem forças de arrasto por forças de pressão e por forças de
cisalhamento.
Em uma placa plana paralela ao fluxo, o arrasto será devido somente às forças de cisalhamento, tangenciais. Mas se a
placa estiver inclinada, com certo ângulo de ataque (inclinação) ao fluxo, teremos que o arrasto será por pressão e por
cisalhamento. Nos obstáculos cilíndricos, esféricos e superfícies aerodinâmicas, as duas formas de arrasto se
manifestam.
Exemplo
O fluido escoará contornando o cilindro sem perda de energia. Na metade anterior do cilindro, haverá diminuição da
pressão, à medida que contorna o cilindro, pois há aumento da velocidade por aproximação das linhas de escoamento
(Princípio de Bernoulli).
Na metade posterior do cilindro, a pressão aumentará, pois quando a velocidade de escoamento aumenta, a pressão
diminui, em fluidos ideais.
Não há, neste exemplo, arrasto por cisalhamento pois não há viscosidade. Só haveria arrasto por pressão.
Contudo, como a distribuição de pressão é simétrica, a perda de pressão anterior é compensada pelo aumento de
pressão posterior. Logo, o arrasto é zero. Este é o Paradoxo de D’Alembert.
Para escoamentos viscosos, reais, em um fluxo sobre o mesmo cilindro sólido, o fluido também escoa contornando o
obstáculo. Mas, dentro da camada limite, sofre uma perda de energia, pois a velocidade do fluxo, junto ao obstáculo,
tende a zero ao se aproximar deste.
Dentro da camada limite, o Momentum Linear das partículas fluidas é inferior às camadas exteriores gerando a
formação de vórtices, e insuficiente para transportar o fluido para a região de pressão crescente, posterior ao cilindro.
Ao aumentar-se a velocidade de escoamento, surge uma contribuição de arrasto que faz a camada limite se descolar.
Veja a figura acima. Com a camada limite descolada, forma-se a esteira.
A pressão na esteira é menor do que o aumento de pressão no contorno do cilindro. Quanto maior a esteira atrás do
obstáculo, maior o arrasto por pressão. Nos obstáculos cilíndricos, a maior contribuição ao arrasto será por
pressão resultante da separação da camada limite laminar.
A camada limite turbulenta, para um cilindro ou para uma superfície aerodinâmica, descola em uma posição posterior
àquela da camada limite laminar, pois a energia cinética e o momentum linear, no escoamento turbulento, são bem
maiores do que no escoamento laminar. Assim, o escoamento turbulento retarda a separação da sua camada limite,
comparado ao escoamento laminar.
Escoamento Turbulento em Torno de um Cilindro abaixo Número de ... pdfs.semanticscholar.org
Os elementos aerodinâmicos são projetados de forma a reduzir os efeitos da separação da camada limite. Estruturas
aerodinâmicas reduzem o gradiente de pressão de entorno, retardando e diminuindo os efeitos de separação da
camada limite.
Se o gradiente de pressão não for muito elevado, para estruturas aerodinâmicas, o fluido da camada limite pode escoar
suavemente sobre a superfície da estrutura.
No entanto, para grandes ângulos de ataque, o escoamento sofre separação da camada limite devido ao aumento do
gradiente adverso de pressão, o que aumenta o arrasto com perda de sustentação, denominada de Estol. Esse
fenômeno também depende do regime laminar ou turbulento do fluxo.
Uma curiosidade é que estruturas aerodinâmicas devem ser perfeitas para diminuir o arrasto por cisalhamento,
como descrito acima. Mas estruturas cilíndricas ou esféricas, como bolas, têm maior contribuição de arrasto por
pressão. Assim, se forem texturizadas, aumentando o efeito da turbulência, com maior pressão na esteira,
reduzirão o arrasto por pressão.
Número de Reynolds
A experiência de Osborne Reynolds consistiu em produzir escoamentos laminares a diferentes velocidades de escoamento em
uma mesma tubulação, com água.
Para cada regime de escoamento, controlado o fluxo, injetava do fluxo um marcador colorido e observava o escoamento do
marcador no fluxo de água.
Assim, fenomenologicamente, estabeleceu uma equação para aferir os regimes de escoamentos desde baixas até altas
velocidades, obtendo intervalos para os regimes laminares, de transição e turbulentos.
Saiba mais
Resumo Histórico da Mecânica dos Fluidos
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Resumo Histórico da Mecânica dos Fluidos
O estudo da Mecânica dos Fluidos teve início antes de Cristo, estimulada pelas necessidades de sistemas de
distribuição de água para as pessoas e para a irrigação, assim como para o projeto de barcos para a navegação e os
dispositivos e armas de guerra.
Naquela época, o seu desenvolvimento foi empírico sem utilizar conceitos matemáticos nem da mecânica; entretanto,
eles serviram como base para o desenvolvimento ocorrido na civilização Grega antiga e no império Romano. Os
primeiros escritos conhecidos sobre a Mecânica dos Fluidos são os de Arquimedes (287 – 212 a.C.), abordando os
princípios da hidrostática e da flutuação.
No início da era cristã, Sextus Juluis Frontinus (40 – 103 d.C.), engenheiro romano, descreveu detalhadamente
sofisticados sistemas de distribuição de água construídos pelos romanos.
Posteriormente durante o Renascimento, novas contribuições são alcançadas no campo da hidráulica e mecânica
experimental com Leonardo da Vinci (1452 – 1519) e Galileu Galilei (1564 – 1642). Na primeira metade do séc. XVII,
Isaac Newton enunciou as leis do movimento. Mais tarde, em 1755, Euler, estabeleceu equações diferenciais básicas
do movimento. Estudos e equações sobre energia foram estabelecidos por Bernoulli e D’Alembert.
Após todos os conhecimentos alcançados no séc. XVIII, os estudiosos se dividiram em duas ciências que se
desenvolveram separadamente. A Hidrodinâmica e a Hidráulica. A Hidrodinâmica tratava do estudo teórico e
matemático, com análises do fluido perfeito sem atrito. A Hidráulica tratava dos aspectos experimentais do
comportamento real dos fluidos´.
No fim do século XIX, Navier (1827) e Stokes (1845), em trabalhos independentes, apresentam as equações de
movimento na forma geral e com a inclusão do conceito de viscosidade. Tais equações restritas aos denominados
fluidos Newtonianos. Apesar disto, muitos resultados experimentais obtidos pelos estudiosos da Hidráulica não eram
ainda explicados por tais equações.
No fim do século XIX, as experiências realizadas por Reynolds começaram a elucidar possibilidades de aplicações das
equações de Navier-Stokes pelo estabelecimento do conceito de dois diferentes tipos de escoamentos: o laminar e o
turbulento.
Em 1904, o professor alemão Ludwig Prandtl (1857 – 1953) apresenta o conceito de “camada limite”, representando a
base para a reunificação das duas abordagens até então utilizadas na Mecânica dos Fluidos. A ideia proposta por
Prandtl é que os escoamentos em torno de fronteiras podem ser subdivididos em duas regiões: uma próxima às
paredes, onde os efeitos viscosos são muito importantes (camada fina de fluido – camada limite) e outra, adjacente à
esta, onde o fluido se comporta como um fluido ideal, sem atrito.
Este conceito forneceu a ligação para unificar os conceitos teóricos dos que trabalhavam com a hidrodinâmica e com
a hidráulica. Após Prandtl, muitos outros contribuíram para o engrandecimento dos conhecimentos da Mecânica dos
Fluidos. Com o primeiro voo motorizado, no início do século XX, aumentou o interesse pela Aerodinâmica, pois era
necessário projetar aviões cada vez mais modernos, o que provocou um rápido desenvolvimento desta área.
Fonte: MUNSON et al. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Blücher, 1997.
Atividade
1. O que são escoamentos uniformes e não uniformes?
3. O que é viscosidade?
Referências
HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos da Física. Volumes 1, 2, 3 e 4 Rio de Janeiro: LTC, 2012.
MUNSON et al. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Blücher, 1997.
NUSSENZVEIG, H. Moysés. Curso de Física Básica. Volumes 1, 2, 3 e 4. São Paulo: Ed. Edgar Blücher, 1998.
SEARS; ZEMANSKY; YOUNG, H.; FREEDMAN, R .A. Física I, II, III e IV. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2009.
Próxima aula
A indução eletromagnética;
Abaixo você encontrará links de simuladores de conceitos de Mecânica dos Fluidos bem interessantes e divertidos,
experimente-os.