Você está na página 1de 3

Corpos Tecidos no Ar

Resumo:
Este ensaio pretende refletir sobre o impacto do pensamento de Deleuze-Guattari a partir das aulas no programa
de Pós-graduação na Disciplina Multissensorialidade Pensamento Rizomático, Translinguagem e
Descolonialidade, em que foi apresentado o pensamento da obra Mil Platôs de Gilles Deleuze e Félix Guattari,
nas aulas foram apresentadas pontos centrais da filosofia dos referidos autores, levando-me a relacionar tais
pensamentos com minha pesquisa sobre metodologia do ensino de Libras na Universidade Federal de
Rondônia. A reflexão que movimenta e possibilita esse ensaio parte de abordar o tema do corpo inorgânico na
filosofia de Deleuze-Guattari, no sentido das múltiplas produções de sentido podem contemplar a pesquisa, no
sentido de que a língua de sinais é uma língua que se realiza mediante expressões corporais.

Minha pesquisa parte da problemática sobre a quase inexistência de pesquisas


específicas com foco na aprendizagem dessa língua de sinais como segunda língua para
ouvintes, posso inclusive dizer que os estudos linguísticos sobre o ensino da Libras ainda não
estão voltados para refletir sobre a identificação do momento ou estágio do aprendizado de
Libras o ouvinte adquire/apreende Libras e torna-se bilíngue em libras/portuguêse, de como
certos ouvintes se tornaram bilíngues, é a principal justificativa da minha pesquisa, porém a
problemática que não me abandona é a necessidade de identificar, descrever e analisar os
métodos de ensino de Libras que possibilitam o aprendizado a ponto de o sujeito que aprende
torna-se bilíngue a ponto de assumir dentro da comunidade surdo uma identidade social e
cultural. Essa é uma questão que posso dizer me acompanha muito antes de ingressar na
Pós-Graduação, posto que os caminhos que me conduziram à este momento ´foram
constituídos desde meu aprendizado da língua de sinais, envolvimento e engajamento nas
questões políticas e sociais tecendo muito mais que conhecimento linguístico posto que esses
indivíduos se expõem diante de múltiplas formações identitárias e ideológicas.

O encontro desses questionamentos presentes em minhas experiências e pesquisa


tomaram outras dimensões ao deparar-me com o pensamento Deleu-Guattari no sentido de
pensar sobre a dimensão do corpo do ouvinte e as visões sobre o corpo do sujeito surdo no
aprendizado da Libras, de como alguns alunos ouvintes se apropriam dos signos da língua de
sinais que é uma língua que se expressa por expressões corporais (manuais e não manuais) e
transitam nos espaços bilíngues. O falante da língua de sinais constrói enunciados no espaço
neutro à frente de seu corpo, através desse corpo, expressando as múltiplas vozes tecidas
pelos gêneros discursivos que lhe são conhecidos. Nesse sentido esses sujeitos que dispõem
seus corpos à proposta da expressão (enunciação) em Libras dentro da comunidade surda
apropriando-se de gêneros discursivos diversos sem perceber que o fazem. Esse tipo de
aprendizado me move porque é nesse elemento social que suponho identificar aspectos
interessantes de metodologia de ensino de Libras para ouvintes a partir dos corpos que tecem
sentidos, contextos e teias na construção da aprendizagem da língua de sinais.

Muito embora, a falta de referências bibliográficas sobre meu tema e a falta de


profundidade na compreensão do pensamento Deleuze-Guattari (2015) que me paralisa é
pensar esse corpo em composição social, histórico, poético, psico, existencial, genético, ao
mesmo tempo repleto de signos e também vazio de significados. Acredito que a obra
expande minhas hipóteses e me expõe à outras buscas, outras fontes e diálogos,
encantadoramente incertos, porém, que podem conduzir-me ao novo, à uma grande
contribuição nos estudos sobre métodos de ensino de línguas, por outro lado, me incomodam
ser conduzida nessa pesquisa por atitudes puramente intuitivas e de repente produzir algo que
não seja aceito ou compreendido dentro do ensino de Libras, principalmente quando me
proponho a trabalhar a metodologia de ensino de Libras, um tema que me coloca diante do
objeto visível do discurso científico, isso me paralisa bastante.

Sinto que os autores diante do aprofundamento de leituras e diálogos podem me


fornecer pontes e acesso a outras formas de pensar a língua de sinais e o ensino dela dentro
do ambiente acadêmico como algo maior do que simplesmente ministrar uma disciplina para
futuros profissionais da educação e da saúde. Meu projeto e proposta de pesquisa se
configura em um contexto de certa urgência, considerando os vários espaços onde o ensino
pode se realizar, aulas presenciais e aulas remotas considerando o contexto pandêmico que
torna a necessidade de estudos mais amplos a respeito da metodologia empregada dentro da
Universidade Federal de Rondônia.

Através dessa proposta de investigação, pretendo identificar a partir dos sujeitos


como deu-se o seu aprendizado, sua relação com seu corpo no processo de recepção e de
produção de respostas, no sentido de produzir enunciados que estão inscritos socialmente nas
culturas surdas, e como esses sujeitos descrevem os momentos críticos para aquisição da
língua de sinais, pensando essa(s) metodologia(s) como possibilidade de estabelecer análises
para elaboração de novas formas de utilizar e aplicação na formação de profissionais
teoricamente proficientes, mas na prática, nem sempre bilíngues, avaliando-se, portanto, qual
a efetividade do bilinguismo pretendido, e, quando adquirido, demonstrar sua efetividade ao
ser associado a uma certa vivência junto à comunidade surda.
Dentro do diálogo também me mobiliza no diálogo com Deleuze-Guattati (2015) a
necessidade de pensar a multiplicidade das concepções de língua, posto que os textos deles
abrem brechas para múltiplos olhares, outras perspectivas sobre o que é ensinar? o que é
aprender? o que é enunciar? o que são os corpos dentro dos ensinos e aprendizagens de lígua
de sinais? Essas questões me retiram de minhas convicções de que a língua,
epistemologicamente falando, seja simplesmente a expressão de uma cultura. Que as
sociedades ou as experiências sociais e humanas sejam configuradas por fenômenos
linguístico-culturais sem uma concepção do que sejam esses corpos culturais, políticos,
orgânicos e inorgânicos que potencializam signos, replicam sentidos e sentimentos ao se
posicionarem no encontro, não apenas nos níveis interlinguístico ou intercultural.

BIBLIOGRAFIA

DELEUZE. G. GUATTARI. F. v. 1 Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo:


Editora 34, 2015.

SACKS, O. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998.

Você também pode gostar