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O QUE VoC

PRECISA SABER SOBRE

pBATALHAr
RITOAL
N TAUGUSTUS
CODEMUS LOPE
31

Capitulo três:
Os principais ensinos do movimento
de "Batalha Espiritual""

Modo "ekbalistico"de ministério

Todo mal é demoníaco


A mais fundamental doutrina da "batalha
todos os males que acometem as
espiritual" é de que
a pessoas, sociedade, a Igreja e os
cristãos individualmente, são produzidos diretamente por demônios,
os quais se instalam na vida de crentes ou descrentes e nas estruturas
sOciais, políticas e econômicas de determinadas regiões
geográficas.
Portanto, a estratégia principal da Igreja para ajudar as pessoas é sem-
pre confrontar e expelir essas entidades malignas. Possivelmente esta
visão do mundo e da missão da Igreja seja a principal característica
distintiva do movimento. De acordo com esta
abordagem, os demôni-
OS são responsáveis pela dor, sofrimento e miséria que encontramos
a0 nosso redor o que inclui doenças, relacionamentos arruinados,
-

desemprego, fome, opressão, injustiça social, corrupção, entre ou-


tros. Mais que isto, eles são responsáveis igualmente pelo mal moral,
por pecados prostituiço, lascívia, imoralidade, adultério,
como
desonestidade, embriaguês e por todos os distúrbios morais de com-
Portamento. Conseqüentemente, em sua ação pastoral, missionária e
evangelística, a lgreja deve sempre empregar o método de expulsão de
demonios para libertar as pessoas e a sociedade desses males. O que
esta por trás dos ministérios de libertação individual é a crença de
que
Os demonios do pecado residem dentro do coração
humano".
Ministério ekbalistico: única estratégia
David Powlison tem descrito o modo de
ministério característico
da"batalha espiritual" como Modo Ekbalístico de Ministério.2 O ter-
mo "ekbalístico vem do verbo grego ekballo, "expelir, expulsar",
Powlison, Power Encounters, 29.
2 bid., 27-30.
BATALHA ESPIRITUAL
32
que é o termo usado nos Evangelhos para descrever as expulsões de
demonios realizadas por Jesus. Com esta expressão descritiva, Powlisn
son
captou corretamente a caracteristica principal dos modernos movi
novi-
mentos de"libertação", associados com a "batalha espiritual", que é
a expulsão de demônios. Há uma grande variedade de ministérios
"ekbalísticos". Por exemplo, o evangelismo "ekbalístico" procura pri
meiro expulsar os "espíritos territoriais" de uma região, para que as
pessoas ali possam vir a Cristo; jáo aconselhamento "ekbalístico
procura ajudar as pessoas escravizadas por desvios morais (inclusive
crentes) expulsando os demônios responsáveis por esses desvios. Esse
modo de ministério é a principal característica dos
pastores, líderes,
obreiros e comunidades envolvidas com a "batalha espiritual".

Espiritos territoriais
Uma segunda noço característica da "batalha
de espíritos territoriais. Como o nome
espiritual" éa
já sugere, essa idéia gira
em torno da de
crença que Satanás designou um demônio, ou vári
os deles, para cada unidade geo-política do mundo. Esses
malignos controlam
espíritos
Ocupam e os territórios
responsabilidade.
geográficos sob sua

Principes de nações
Os defensores desse
conceito apelam
vro de Daniel, onde
se mencionam
freqüentemente para o li-
Grécia (Dn 10.13,20)
os
"príncipes" da Pérsia e da
que, no entender deles, se referem aos
que estavam designados como
"senhores" daquelas nações eespíritos
ram confrontados
por Miguel, o anjo de Israel que fo-
defensores dessa idéia concluem (Dn 10. 13; 12.1). Os
eoutro da que, se existe um "príncipe" da
Grécia, há também um Pérsia
dos Unidos, e de cada
país do
"príncipe" do Brasil, um dos
Esta-
existem espíritos malignos mundo. Além de nações, afirmam que
designados como responsáveis por esta-
dos, cidades, ruas e até casas.
O mundo
repartido entre os demônios
Outro argumento usado para defender
territoriais" baseia-se em Deuteronômio a idéia de
fixou 32.8, onde se
"espíritos
diz que
os termos dos povos de acordo Deus
com o número dos
filhos de
OS PRINCIPAIS ENSINOS DO MOVIMENTO DE "BATALHA ESPIRITUAL"33

Israel. Neuza Itioka segue Michael Green ao preferir uma variante à


passagem onde se diz "filhos de Deus" em vez de "filhos de Israel".
que são tomados como uma referência aos anjos de Deus.3 A implica-
cão seria que Deus designou "anjos" como representantes, guardies
e responsáveis das nações.
Exatamente como esses "filhos de Deus" vieram a se transfor-
mar em espíritos malignos não é claro. Já aqui podemos antecipar
uma crítica: não é uma regra saudável de interpretação basear um
ponto de teologia em uma variante textual (especialmente do texto
hebraico). E mesmo que a variante "filhos de Deus" fosse a original,
ainda assim se poderia questionar se a expressão, toda vez que ocorre,
se refere a anjos, já que em Gênesis 6.2,4 "filhos de Deus" é usado
para se referir aos fiéis, descendentes de Sete, em contraste com os
Filhos dos homens", a descendência de Cainm.

Potestades locais
Outra passagem freqüentemente citada é Marcos 5.10, onde os
espíritos imundos, ao serem comandados por Jesus a sair do geraseno,

pedem para não serem enviados "para fora do país", Segundo Itioka,
punidos estar invadindo território alheio". En-
porque "seriam por
tretanto, esta afirmação respaldo na passagem e nem no
não encontra
seu contexto. Curiosamente, Mateus omite esse pedido dos demônios,
Jesus não os
eLucas traz o pedido dos demônios como sendo que
mandasse "sair para o abismo" (Lc 8.31). Não há nada nas passa-

gens que sugira invasão de território já ocupado por outros espíri-


tos malignos.
os demônios que gover-
Segundo os defensores desse conceito,
seus moradores através
nam essas regiões influenciam e controlam
do satanismo,
dos ensinos da nova era, do espiritismo, da astrologia,
do uso de pirâmides, cristais, bruxaria, macumba, magia,
feitiçaria,
atividade relacionada com o
pratica da adivinhação ou qualquer outra
é cegar
ocultismo. O propósito dessas entidades espirituais malignas
Você Está em Guerra!" em Série Batalha
3 Ct. NeuzaItioka, "A Igreja e a Batalha Espiritual: "Territorial
Ver também C. Peter Wagner,
Espiritual (São Paulo: Editora SEPAL, 1994) 43-44.
Missions Quarterly 25 (1989) 281.
Spirits and World Missions", em Evangelical ou deuses não tem apoio
na Escritura. O termo é
4A 1deia de
que "filhos de Deus" se refere a anjos Dt 14.1;Is 1.2;43.6; 45.11;
Deus verdadeiro, cf. Ex 4.22;
sado para designar os que
adoram o
Os 1.10: 11.1
ltioka, "A Igreja e a Batalha Espiritual", 44.
BATALHA ESPIRITUAL
34
controle e levá-las à perdi.
habitam nas áreas sob seu
aspessoas que
alcançadas com a verdade do Evangelho.
ção, impedindo que sejam
em trevas espirituais for uma região,
Assim, quanto mais mergulhada concluem os proponen-
mais densa é a concentraçãão de demônios ali,
tes desta idéia.
Partindo desse princípio, tem-se sugerido que a famosa janela
10/40- espaço entre as latitudes 10 e 40 norte, onde estão algumas

das nações mais fechadas para o Evangelho (como Afeganistão,


entre outras)-é uma
Bangladesh, Egito, Líbano, Mauritânia, lêmen,
antes da vinda
imensa fortaleza demoníaca, a última a ser conquistada
do Senhor.6

Demonização de estruturas
O conceito da demonização das estruturas tem importante papel
na cosmovisão do movimento. Demonização, no conceito do movi-
mento de "batalha espiritual", significa a invasão e ocontrole por
parte de um ou mais demônios de áreas da vida de uma pessoa ou de
estruturas sociais, econômicas, culturais e políticas de uma região.
Robert Linthicum descreve as cidades como sendo habitação do mal
pessoal, do mal sistêmico e dos principados e potestades.7 Outros
autores ainda falam do principado e potestade que está nas estruturas
sociais do Brasil." Apesar de não haver qualquer evidência bíblica a
este favor, Wagner insiste que "estruturas sociais... podem, e são
freqüentemente demonizadas por personalidades.demoníacas extrema-
mente perniciosas e dominadoras, as quais chamo de 'espíritobs
territoriais'".°

A resistência dos "espiritos territoriais" à obra da Igreja


Esses espíritos territoriais oferecem total resistência aos es-
forços da Igreja em evangelizar a área sob seu controle, cegando as
pessoas ou oprimindo os crentes. Alguns proponentes da "batalha
espiritual" acreditam que mesmo crentes verdadeiros podem ficar
6 Cf. George Otis, Last ofthe Giants
(Tarrytown, NY: Chosen Books, semdata) 161.
7 Robert Linthicum, Cidade de Deus, Cidade de Satanás
(Belo Horizonte, MG: Missão Editora,
1993)1 7-94.
8 Itioka, "A lgreja e Batalha Espiritual", 37.
a
9 Wagner, Warfare
Prayer, 96.
perdi OS PRINCIPAIS ENSINOS DO MOVIMENTO DE
"BATALHA ESPIRITUAL" 35
gelho. demonizados". 0

"egião, Tais
espíritos malignos, segundo a "batalha
espiritual", atacam
onen- os pregadores,
promovem pecado e divisão na Igreja, semeiam a coon-
fusão e fazem tudo o que hes é possível para abortar os
anela evangelísticos de uma projetos
igreja. O resultado é que a lgreja não
pode
umas avançar, porque esses poderes estabelecem uma
barreira, uma fortale-
istão, za no seu caminho.
Segundo alguns líderes do movimento, o quartel-
uma general dessas hostes, que corresponde ao "trono de Satanás" menci-
onado em Apocalipse 2.13, está localizado em uma
inda posição geográfi-
ca
naquela região,
de onde o seu
"príncipe" dá suas ordens aos espíri-
tos malignos subordinados.
Portanto,
lgreja não pode evangelizar com sucesso enquanto
a

não neutralizar essas forças


espirituais cósmicas. Essa é a tarefa pri
apel meira da Igreja. Pela "batalha espiritual" ela deve atacar essas
forças
ovi- e
desalojá-las. Ao invés de ficar na defensiva, os crentes têm de partir
por para o ataque, invadir os territórios ocupados por essas hostes, derru-
de bar as suas fortalezas e neutralizar toda influência maligna nessa re-
ão. gião. Só assim poderão ganhar as pessoas para Cristo e levar o Evan-
gelho aos que estão sob o domínio do maligno.
mal
ros A Igreja n o ataquve
ras
Para que possam vencer os espíritos malignos, os crentes têm,
aa antes de mais nada, de aprender as táticas de "batalha espiritual".
ão Nenhum crente pode engajar-se na batalha "sem mais nem menos".
a- Peter Wagner afirma que são poucos os crentes que esto preparados,
S e dá um aviso: "Se você não sabe o que está fazendo... Satanás vai
devorá-lo no café da manh" ." Assim, para não serem devorados no
café da manh do diabo, os cristãos têm de ler os livros escritos pelos
peritos em "batalha espiritual", freqüentar as suas conferências e
Simpósios e aprender com os experts todas as estratégias espirituais
para assaltar as fortalezas do diabo e derrubá-las.
Quais sao essas novas estratégias que a lgreja tem de aprender?
Tentaremos citar, de forma resumida, os pontos básicos ensinados

10 Para ltioka, por exemplo, a Igreja deveria levar a sério o pressuposto de que crentes podem ter
demonios ou ficar endemoninhados, mas ela falha em fornecer qualquerevidênciabiblica que
eve a lgreja a mudar de atitude (A Igreja e a Batalha Espiritual, 65). Citar experiências onde
pessoas supostamente regeneradas estavam "endemoninhadas" não é evidência persuasiva.
1 Citadoem MacArthur, A Suyficiencia de Cristo, 180.
36 BATALHA ESPIRITUAL

nesses seminários
conferéncias
e e através dos livros escritos
los
especialistas no assunto.

Mapeamento espiritual
A
igreja tem de "mapear" espiritualmente a área a ser evan-
gelizada, antes de eventualmente começar seus esforços evangelísticos.
Essa técnica consiste em localizar as
concentrações estratégicas dos
demônios, as fortalezas malignas de uma localidade. Inclui também a
descoberta de seus nomes e as razõões pelas quais concentram ali.
se
O "mapeamento espiritual" é
obtida através de estudo cuidadoso de sua
a
"radiografia" de uma cidade,
e hábitos sociais. O alvo
história, localização, nome
é identificar as
potestades espirituais
nas
responsáveis por ela. O perfil das cidades corresponderá aosmalig-
ritos malignos por elas espí-
dades
responsáveis. Mas a identificação destas enti-
não é feita somente através de
estudos
cos e m muitos casos, é
através de uma
histórico-sócio-geográfi-
que os nomes dos demônios são tornados conhecidos. 12 "revelação" direta de Deus
Um dos objetivos do
nás", o local onde a
mapeamento é localizar o "trono de Sata-
potestade responsável pela área tem seu
general. Como localizá-lo? Uma quartel-
cidade ou zona a ser igreja local deve tomar
mapa da
o

sobre cada um dos evangelizada, e com ele em mãos, deve orar


quadrados que delimitam a área.
profunda opressãoe resistência Quando sentirem
nada área, deverão espiritual ao orar
sobre uma determi-
marcá-la cuidadosamente
zado o trono de Satanás. A pois é ali que está locali-
igreja, entäo, deverá iniciar
específica um
grupo de guerreiros de oração, os quais, naquela região
fé (no conceito deles), devem
declarar pela oração da
Quando isso ocorrer, a cidade ficará queda a
Satanás.
do trono de
liberta e a
igreja
e
ganhar cidade inteira para Cristo.
a poderá evangelizar
Uma ilustração desta crença é a
Warner de um
uruguaio que experiência narrada por
Ele morava perto da fronteira Timothy
ganhou folheto
um com
Brasil.
qualquer interesse por seuevangelístico
o
em sua
terra, sem
Brasil, imediatamente contéudo. Quando cruzou a manifestar
se
converteu! A explicação de fronteria com o
12. Cf. as Warner é que no
declarações de Neuza Itioka acerca do
evangelista Omar Cabrera, em
Vinde, p. 8.
oS PRINCIPAIS ENSINOS DO MOVIMENTO DE "BATALHA ESPIRITUAL" 37

território brasileiro os demônios estavam "amarrados", enquanto que,


no lado uruguaio, não.3

Demonização das estruturas e a "oração de guerra"


O conceito da demonização das estruturas tem importante papel
na cosmovisão do movimento. Robert Linthicum descreve as cidades
como sendo habitação do mal pessoal, do mal sistêmico e dos princi-
pados e potestades. 4 Outros autores ainda falam do principado e

potestade que está nas estruturas sociais do Brasil. Apesar de não


haver qualquer evidência bíblica a esse favor, Wagner insiste que
"estruturas sociais.. podem e são freqüentemente demonizadas por
personalidades demoníacas extremamente perniciosasedominadoras,
as quais chamou de 'espíritos territoriais'",16
Para os defensores da "batalha espiritual" é crucial que a igreja,
uma vez que "mapeou" a região a ser evangelizada, determine pela
oração a queda das fortalezas entrincheiradas nestas regiðes e estrutu-
ras, e isto em voz alta, com fé, declarando em nome de Jesus que
aquela fortaleza está derrubada e que aquele poder maligno está anu-
lado. Pela "palavra da fé" (termo popularizado pela "teologia da pros-
peridade"), os crentes determinam a vitória de Cristo sobre a região
Identificada e, por fim, declaram que a cidade pertence a Cristo. O
principio que está por trás dessa estratégia, consciente ou não, é o
da confissão positiva. "" Entre tanto, tem sido chamada de "oração

de guerra"
O conceito de "oração de guerra" foi aparentemente populariza-

13 Wagner, Espiritos Territoridis,83.Cf.ainda a sua defesa do amarrar espiritos malignos pela


World (Wheaton, IL:
ao em Spiritual
Warfare: Victory over the Powers of this Dark
Crossways Books, 1991) 140-43.
4 KObert Linthicum, Cidade de Deus, Cidade de Satanás (Belo Horizonte, MG: Missão Editora,
1993)17-94.
15 ltioka, "A lgreja e a Batalha Espiritual", 37.
16 Wagner,
Warfare Prayer, 96. meados de
Um exemplo desta técnica foram os outdoors espalhados pela cidade de São Paulo em
996 com os dizeres: "São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isto". A idéia é que
pela declaração de fé dos crentes paulistanos aos principados e potestades, os espiritos malignos
Evidentemente
que tem controle sobre São Paulo serão derrotados, e o Evangelhooprevalecerá.
se converta a Cristo.
Brasil,
do crente sincero deseja que, não somente São Paulo, mas todo
e se declaraçðes aos principados e potestades de que São Paulo é de Cristo contribuem
uestao
de alguma forma para esse fim.
38 BATALHA ESPIRITUAL

do por Wagner em seu livro Warfare Prayer (Oração de Guerra). o


conceito é de que a oração funciona como uma arma através da qual a
igreja pode neutralizar a ação dos demônios. Grupos se concentrame
fazem correntes de oração para derrubar determinadas fortalezas e
neutralizar os poderes malignos entrincheirados em um determinado
território ou nas estruturas sOciais, politicas e mesmo eclesiásticas.
Isto se chama "guerra estratégica pela oração". Nessa oração, é essen-
cial que se mencione os nomes das potestades da área e que se deter-
mine que estão amarradas em nome de Jesus.
A igreja pode "amarrar pela "oração de guerra" não somente
os demonios que controlam as estruturas e os sistemas sociais mas
particularmente os espíritos malignos supostamente responsáveis por
desvios morais de comportamento, como o "demônio da embriaguês",
"demónios dos vícios" ou *demônios das drogas". O método é vocalizar
a ordem: "Eu te amarro em nome de Jesus!" e então declarar queo
demónio está "amarrado". E muito importante nesse confronto iden-
tificar o demônio. Isto se faz conjurando-o, em nome de Jesus, a
revelar seu nome e outros segredos da hierarquia demoníaca. Há re-
gistros de diálogos demorados de obreiros da "batalha espiritual" com
pessoas endemoninhadas, onde o obreiro conversa com as entidades
malignas que supostamente infestam a pessoa para identificar quem
são, de onde vêm, para finalmente amarrá-los, repreend-los e mandá-
los de volta para o abismo.8

Enfrentando os "espiritos territoriais": a "batalha espiritual"


De acordo com Wagner, essa batalha ocorre em três níveis. 9

Em resumo, são Os seguintes:


1) Nível terreno - pela expulsãao de demônios.
2) Nivel oculto - onde o confronto se dá com satanistas, bruxos,

"xams", adivinhadores, e pessoas envolvidas com toda sorte de prá-


ticas ocultas. A vitória da igreja sobre os espíritos dominadores de um
território dá-se, segundo Wagner, quando o poder destes espíritos é
"quebrado" pela libertação de satanistas, pais-de-santos, bruxos ou
ocultistas que habitam naquela região. Para provar esse ponto, citam
casos em que, após um confronto de poder com pessoas envolvidas
18 Um exemplo claro é o livro de Rita Cabezas, Desmascarado (São Paulo: Renascer, 1996), onde
ela narra extensos diálogos seus com demônios, falando através de pessoas supostamente
endemoninhadas.
19 Wagner, Warfare Prayer, 18.
oS PRINCIPAIS ENSINOS DO MOVIMENTO DE "BATALHA ESPIRITUAL" 39

com espíritos malignos, os habitantes da região, que antes eram fecha-


dos para o Evangelho, passaram a aceitar a Cristo em grande número.
Um dos exemplos mais conhecidos é o do evangelista Carlos
Annacondia, na Argentina. Outros poderiam ser citados, como as ex-
periências de Edgard Silvoso, por exemplo, na evangelização. O pon-
to a notar é que são essas experièncias a base de sustentação teológica
do conceito- e não a exegese bíblica.
3) Nivel estratégico-éo confronto com uma concentração de
poder ainda mais tremenda: os espíritos territoriais. Este confronto
dá-se pela "oração de guerra"; o palco são as regiôes celestiais; a
oração não somente funciona como arma para agredir estes espíritos,
como também movimenta as hostes angelicais para Ihes resistir. Esta
idéia está representada perfeitamente nos romances de Peretti.
A passagem geralmente usada para apoiar este conceito é Daniel
10.10-21. Após haver orado com jejuns por três semanas, quebranta-
do pelo que havia compreendido de uma visão que teve (10.1-3), Daniel

é visitado por um anjo (10.4-10). Este havia saído com o propósito de


confortá-lo, desde quando Daniel começou a orar (10.12). Entretanto0,
sua chegada foi retardada pela oposição de entidades malignas, o "prín-
cipe da Pérsia" e os "reis da Pérsia" (10.13). Somente com a ajuda do
arcanjo Miguel é que finalmente o anjo obteve vitória contra essas
potestades e pôde chegar até Daniel (10.13).
Embora Daniel não se tenha envolvido diretamente com as enti-
dades malignas, e sua oração não tenha nada de "oração de guerra", a

passagem é usada para estabelecer uma relação entre a oração, e a


"batalha espiritual" a nível celestial. E já que os príncipes e reis da
Persia e Grécia mencionados na passagem (cf. Dn 10.13, 20) são
provavelmente anjos maus relacionados com aqueles paises (a relaçao
nao é clara, embora os títulos "reis" e "príncipes" sugiram domínio),
Ensina-se que, pela "oração de guerra", podemos oferecer resistëncia
Daniel fez embora nada
a esses espíritos territoriais, assim como

nessa passagem afirme que Daniel o tenha feito!

Aconselhamento ekbalistico
O aconselhamento e o cuidado pastoral pelas pessoas, dentro das
1deias da "batalha espiritual", parte do princípio de que demônios
podem abrigar-se na vida de alguém, quer essa pessoa seja regenerada
Ou nao, para produzir dor, sofrimento, doenças, e principalmente,
40 BATALHA ESPIRITUAL

desvios morais de comportamento. Otermo "possessão demoníaca" é


geralmente evitado. O termo usadoé via de regra "demonizacão"
Nos gabinetes de aconselhamento de pastores e
especialistas adeptos
do movimento, o paciente é "libertado" dos desvios de
comportamen.
to, dos problemas fisicos e
psicológicos através da expulsão dos de-
monios responsáveis. Em casoS graves e
reincidentes, o paciente é
orientado a praticar a "autolibertação", ou seja, a expelir demônios do
seu próprio corpo, se o mal causado por eles se mOstra muito
te resistente. No aconselhamento ekbalístico,
e
freqüen-
quase todos os proble-
mas das pessoas
(crentes, inclusive) resolvem-se através da
de demônios. expulsão

Quebra de maldições hereditárias


Uma outra técnica
que os crentes devem
aprender (segundo a
"batalha espiritual") é a
quebra de maldições. Acredita-se que as pra-
gas, maldições ou palavras más
nos tornar proferidas contra nós têm o poder de
infelizes, de perturbar nossas vidas. Através dessas maldi
ções lançadas contra
nós, que podem incluir frases dos
como menino, vai nossos pais
para o diabo que te
bem autoridade carregue!", os demônios rece-
para entrar em nossas vidas
e sofrimento.
Mesmo um verdadeiro trazendo-nos miséria, dor
crente pode deixar de
plena felicidade, caso não alcançar a
contra ele. O quebre as
maldições que foram
processo consiste
ções e anulá-las "em nome de
em localizar e identificar essaslançadas
Jesus". maldi-
Uma outra técnica
aborda as
herdamos dos nossos maldições hereditárias, aquelas que
pais e antepassados através
confessados ou de pactos dos seus
pecados não
que,
os. Esse
conceito baseia-se emporventura, tenham feito com demôni-
castiga a maldade dos pais nos Exodo 20.5, onde Deus afirma
Para a filhos até a terceira que
libertação, segundo
alguns, é necessário
e
quarta
gerações.
genealógica da nossa família, traçarmos uma árvore
pecados pactos com demônios identificarmos pragas,
e as

quebrando-os rejeitando-se feitos por eles maldições,no


e
pecados dos os passado anulá-los, e
nossos
progenitores.20
20 Esse éo
tema do livro
Rodovalho, Quebrando as
Maldições Hereditárias.
oS PRINCIPAIS ENSINOS DO MOVIMENTO DE "BATALHA ESPIRITUAL" 41

Com o que podemos concordar


É necessário oferecer uma avaliação lúcida dessas idéias que se
tém tornado tão populares nas igrejas evangélicas do Brasil. Comece-
mos por destacar os conceitos corretos e bíblicos que estão presentes
no movimento.

Arealidade das forças do mal


A ênfase dada pela "batalha espiritual" à atuação de Satanáse
seus anjos nos dias de hoje vem nos conscientizar da realidade, do
poder e da atuação das hostes espirituais da maldade. Isto é algo ne-
cessário, pois a Igreja é sempre tentada a perder a visão espiritual, a
deixar de discernir além do que é visível a olhos humanos, limitando-
se a perceber somente o que é palpável, tangível, sem enxergar além
das realidades concretas. Os crentes são tentados a ficar totalmente
indiferentes para as realidades espirituais e, por esta razão, deixam de
orar como deveriam. Ou podem ficar totalmente materialistas, preo-
cupados apenas com o que comer e beber, como se divertir, ter um
bom emprego, subir na vida, casar, ter filhos e ganhar sua aposenta-
doria no final. E se esquecem de que há uma batalha ocorrendo neste
exato momento, que existem poderes espirituais do mal que estão
vindo contra a lgreja.
Assim, de tempos em tempos Deus usa movimentos, como a
"batalha espiritual" em nossos dias, para fustigar a lgreja e para di-
zer-lhe que ela não está dando a devida importância à realidade da
atuação e poder destas forças. Evidentemente não devemos dar aten
ção excessiva aos demônios. Porém, não devemos ignorar sua realida-
de e atuação.2 Devemos estar conscientes desses poderes. Devemos
er uma
perspectiva bíblica lúcida sobre o tema.

Preocupação evangelistica
A Datalha espiritual" tem demonstrado por vezes acentuado zelo
evangelístico. Seus proponentes estão interessados em atingir as pes-
S0as com o
Evangelho. Pensam que através da "batalha espiritual
Pouerao libertar aquelas pessoas que não têm Cristo. E bem possível
que o conceito de alguns deles quanto à evangelização seja bem dife-

SLewis
1962) 3.
colocoude formaadmirável estepontoem Screwtape Leters (New York: McMillan,
BATALHA ESPIRITUAL
42
missionários colo-
rente do conceito bíblico, já que em seus esforços
cam a ênfase no ministério
ekbalístico da Igreja, freqüentemente
e de fé em
minimizando a necessidade de arrependimento pessoal
e salvação da
Jesus Cristo para a reconciliação com Deus, perdão
com isso. Assim mesmo,
culpa do pecado. Não podemos concordar
servem quase
temos de reconhecer o zeloe fervor dessas pessoas, que
julgamento sobre a mornidão, indiferençae comodismo
que como um
tradicionais.
que por vezes dominam as igrejas evangélicas

Enfase à oração
Por fim, vê-se no movimento uma grande ênfase à oração, que e
bem-vinda. E verdade que o conceito de oração abraçado pelo mov1
mento diverge, em muitos aspectos, do que entendemos ser o conceito
bíblico. Longe de ser uma arma para guerrearmos com os demônios,
instrumento para reivindicarmos de Deus o que queremos, a
ou um
oração éo meio pelo qual os filhos de Deus buscam o Pai do céu
e

entregam-se a ele, junto com seus problemas e aflições, na expectativa


de que Deus lhes haverá de responder dentro da sua mais santa e

agradável vontade.
De qualquer forma, mesmo com um conceito defeituoso de ora-
cão, o movimento de "batalha espiritual" tem corretamente destacado
a da oração para a Vida da lgreja em sua tarefa missionária.
importância
ênfase, nada se pode dizer.
E contra essa

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