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IBGC Discute

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Governança e Inovação:
e-mail: ibgc@ibgc.org.br
www.ibgc.org.br Uma Abordagem Integrada

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada


Esta publicação pretende discutir a temática de inovação sob o
prisma da governança, apontando caminhos para que a empresa
possa inovar de maneira alinhada, continuada e sistemática à sua
estratégia empresarial, de forma a evitar apenas “espasmos de
inovação”, com iniciativas que começam e param.

Associados Mantenedores
Associados Mantenedores

discute
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Governança e Inovação:
Uma Abordagem Integrada

São Paulo | 2021


Créditos
Esta obra foi desenvolvida por grupo de trabalho (GT) composto por integrantes da equipe do IBGC
e de sua Comissão de Inovação. Formaram o GT: Juliana Buchaim Corrêa da Fonseca (coordenadora
do GT), Alessandra Holmo, Anderson Rocha, André Affonso Dos Santos Echeverria, Camila Cristina
da Silva, Carla Camargo Leal, Fabricio Machado, Francisco Deppermann Fortes, Hamilton Moreira da
Cunha Júnior, João Lencioni, Luiz de Luca, Regina Sales Magalhães, Renata Leal Ramalhosa, Silvana
Marques dos Santos Pereira, Simone Caggiano, Tarcila Reis Ursini, William Barros Albuquerque de Melo.

Agradecimentos
À Comissão de Inovação pelas valiosas discussões e questionamentos sobre a temática de inovação:
Alessandra Holmo, Anderson Fernandes Santos Rocha, André Affonso Dos Santos Echeverria, Antonio
Eduardo Monteiro De Castro, Carla Camargo Leal, Catia Yuassa Tokoro, Celso Hiroo Ienaga, Denis Lima
Balaguer, Fabricio Prospero Machado, Francisco Deppermann Fortes, Hamilton Moreira Da Cunha Jr,
Joao Domingos Lencioni Neto, Juliana Buchaim C. Fonseca, Kip Garland, Luís Fernando Guggenberger,
Luiz Alberto Oliveira De Luca, Maria Carolina Pires Dos Santos, Monica Pires Da Silva, Olga Stankevicius
Colpo, Otto Baumgart, Regina Sales Magalhães, Renata Ramalhosa, Ronaldo Perez Fragoso, Silvana
Marques dos Santos Pereira, Simone Caggiano, Tarcila Reis Ursini, Thais Cristina Baptista Antoniolli.

Aos conselheiros e executivos e às empresas que contribuíram com insights para a discussão do tema
e, consequentemente, para a elaboração desta publicação.

Ao pesquisador Rupak Patitunda pelas análises e pela categorização de parte do material


bibliográfico.

À Sasha Galbraith e Jay Galbraith Management Consultants por nos conceder a permissão para
reproduzirmos o tão rico The Star ModelTM produzido por Jay Galbraith.

Produção
Redação: Camila Cristina da Silva, Marcos dos Santos; preparação de texto: Juliana Caldas; Revisão
de provas: Camila Cristina da Silva; Supervisão de identidade visual: Diogo Siqueira; Projeto
gráfico, diagramação e capa: Kato Editorial; Imagem da capa: Shutterstock.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

G721 Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada / organizado por Instituto


Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC. - São Paulo, SP : IBGC, 2021.
47 p. ; 18cm x 25,5cm. – (IBGC Discute)
Inclui bibliografia e índice.
ISBN: 978-65-86366-15-0
1. Governança Corporativa. 2. Inovação. I. Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa – IBGC. II. Título. III. Série.
CDD 658.4
2021-2386 CDU 658.114

Elaborado por Odilio Hilario Moreir Junior - CRB-8/9949


Índice para catálogo sistemático:
Governança Corporativa 658.4
Governança Corporativa 658.114
Fundado em 27 de novembro de 1995, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC), organização da sociedade civil, é referência nacional e uma das principais no
mundo em governança corporativa. Seu objetivo é gerar e disseminar conhecimento
a respeito das melhores práticas em governança corporativa e influenciar os mais
diversos agentes em sua adoção, contribuindo para o desempenho sustentável das
organizações e, consequentemente, para uma sociedade melhor.

Conselho de Administração
Presidente
Leila Abraham Loria

Vice-presidentes
Iêda Aparecida Patricio Novais
Israel Aron Zylberman

Conselheiros
Armando de Azevedo Henriques
Carlos Eduardo Lessa Brandão
Claudia Elisa Soares
Gabriela Baumgart
Henrique Luz
Leonardo Wengrover

Diretoria
Pedro Melo
Adriane de Almeida
Márcia Aguiar
Reginaldo Ricioli
Valeria Café
Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 5. Pessoas e Competências. . . . . . . 30


Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 5.1 Competências esperadas do
conselho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1. Governança e Inovação. . . . . . . . . 9 5.1 Competências e
comportamentos dos inovadores . . . 31
2. Estratégia para Inovação. . . . . . . . 13
2.1 Tipos de inovação. . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 6. Motivação e Incentivos . . . . . . . . 34
2.2 A sustentabilidade e a inovação . . . . 21
7. Cultura Organizacional
3. Estruturas para Inovação. . . . . . . 22 e Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.1 Comitê de inovação . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Spin-offs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 8. O Papel do Conselho. . . . . . . . . . . . 41
3.3  Outros comitês e estruturas que
contribuem para o sistema de 9. O Papel da Diretoria Executiva . 44
inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.4 Corporate Venture Capital (CVC). . . 25 10. Considerações Finais . . . . . . . . . . 46

4. Processos Complementares 11. Referências Bibliográficas. . . . . . 48


para Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

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Apresentação

Se a capa de um livro é capaz de condensar em uma única imagem a identidade e o


conteúdo da obra, não há melhor ilustração para a capa desta publicação do que o
pequeno e singelo foguete de visor azul.
Com ares retrô, até um pouco infantilizado, os seus pequenos componentes
tortuosos modelados à mão levam a questionar sua relação com a inovação. Por que
não escolher um robô para ilustrar a publicação? Ou uma imagem tridimensional?
Ou, ainda, ilustrações com apetrechos tecnológicos?
A resposta é simples, porque o foguete, nessa forma lúdica, remete exatamente à
mensagem que esta obra quer passar: a de que a inovação não tem um modelo
único, não é necessariamente tecnológica, é mais ampla e capaz de impulsionar
grandes transformações.
As aletas vermelhas, que amparam o pequeno foguete, são a base para que ele se
mantenha em pé. Do mesmo modo, as referências relacionadas à governança e à
inovação apresentadas ao longo desta obra têm a intenção de ser a sustentação
para a governança da inovação nas organizações, desde que adaptadas às suas
necessidades, afinal, não existe um padrão de inovação, tampouco um único modelo
de foguete no mundo.
Boa leitura!

6 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Introdução

A governança da inovação é um tema perspectivas para uma produção mais


desafiador tanto para as organizações completa e diferenciada. Para tal, além de
quanto para os conselheiros e referências bibliográficas, optou-se por
os executivos, pois demanda o conversar, de maneira estruturada, com
envolvimento de diferentes atores, a diversos executivos e conselheiros de
definição de estratégia, a mudança ou diferentes empresas que estão inovando,
o reforço da cultura organizacional, a incluindo startups, médias e grandes
criação de valor, dentre várias outras empresas que atuam em diferentes
questões. Diante desta complexidade, setores da economia, como tecnologia,
a Comissão de Inovação do IBGC hospitalar, varejo, seguros, dentre outros.
deparou-se com a necessidade de A partir dessas trocas abrangentes e
explorar e aprofundar o tema da muito elucidativas foi possível construir a
“governança da inovação”. espinha dorsal desta publicação.
Frente às inúmeras transformações Com base nas diversas perspectivas
do mercado e da economia somadas colocadas acima, do grupo e de
à velocidade das mudanças e às terceiros, ficou claro que apesar de
transformações organizacionais, a não existir uma receita que se adeque
inovação tem ocupado um maior a todas as empresas, a governança
espaço dentro das organizações e, se da inovação requer a atuação efetiva
antes era discutida somente no nível
e conjunta do conselho, a gestão das
da gestão, hoje requer o envolvimento
organizações, a adoção de estruturas e
direto do conselho, que deve atuar como
processos, o investimento em pessoas,
patrocinador e fomentador do tema.
mudanças culturais, dentre diversas
A vivência executiva e em governança outras questões que serão abordadas
do grupo de trabalho pedia diversas ao longo dos capítulos.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 7


Desenhar a estratégia de uma governança, apontando caminhos para
organização é fator preponderante que a empresa possa inovar de maneira
para seu sucesso e é a partir dela que sistemática, continuada e alinhada
todas as demais ações e decisões serão à luz de sua estratégia empresarial,
tomadas no ambiente organizacional. de forma a evitar apenas “espasmos
Em um mundo dinâmico em que se de inovação”, com iniciativas que
manter competitivo exige constante começam e param. Inovar é correr
transformação e adaptação por riscos, mas também é ter capacidade
parte das organizações, é importante e resiliência de transformar
as empresas considerarem em sua a própria operação de forma
estratégia os aspectos necessários contínua, tornando-a mais eficiente,
para a promoção da inovação, tanto entendendo as mutantes demandas
em seus produtos e serviços como do consumidor e adaptando-se a
também no modo de atuar e de se elas. Enxergar a inovação através do
posicionar no mercado.
amplo espectro que ela comporta e
Por meio desta publicação, a Comissão organizar a empresa para alavancá-la
de Inovação pretende discutir a sistematicamente é o objetivo central
temática de inovação sob o prisma da da governança da inovação.

8 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


1. Governança e Inovação

Antes de adentrar o universo governança da inovação se desenvolva


da governança da inovação, é e tenha sucesso nas organizações.
importante fazer um panorama sobre
A governança da inovação é um
alguns conceitos e terminologias
sistema integrado que define e
relativas à governança corporativa.
alinha propósito, objetivos, valores,
O Código das Melhores Práticas de
políticas, prioriza processos,
Governança Corporativa do IBGC aloca recursos e atribui papéis e
define governança corporativa como responsabilidades para estimular,
“o sistema pelo qual as empresas e direcionar e dar sustentação à
demais organizações são dirigidas, inovação na organização. Ou seja,
monitoradas e incentivadas, trata-se de um sistema composto
envolvendo os relacionamentos entre de vários elementos que requerem
sócios, conselho de administração, alinhamento, direcionamento e
diretoria, órgãos de fiscalização e retroalimentação constante para que
controle e demais partes interessadas” evolua e se perpetue no ambiente
(p. 20, 2015). organizacional.
Ou seja, para que a governança Apesar da relevância da temática da
corporativa seja efetiva e permeie inovação para as organizações, ainda
toda a organização, é necessário o é comum que em muitas delas ocorra
envolvimento das diferentes partes um baixo nível de envolvimento do
interessadas, bem como o apoio conselho nas discussões sobre o
da alta gestão, o que envolve tanto tema. É importante ressaltar que a
diretores quanto conselheiros. Esse governança da inovação, assim como
envolvimento e o apoio da alta gestão a governança corporativa, requer
também são essenciais para que a o envolvimento e a participação

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 9


ativa tanto do conselho quanto da Existem empresas que já nascem
alta gestão, tanto apoiando quanto inovadoras, no entanto, apenas este
tracionando as discussões sobre o tema. fato não garante sua sobrevivência
no mercado e, tampouco, significa
Deschamps e Nelson (2014) destacam
que ela será inovadora para sempre,
que empresas que desejam ter
tanto que há casos de empresas que
produtos e serviços competitivos
foram inovadoras e desapareceram
enxergam a inovação como um tema
do mercado. Por outro lado, há
desafiador e que deve ser governada,
organizações tradicionais que
dirigida e controlada nos mais altos
têm investido fortemente em
níveis hierárquicos, constituindo-se,
inovação e têm se destacado no
inclusive, como uma das missões do
mercado e ampliado sua área
conselho de administração.
de atuação.
Para Deschamps e Nelson (2014, p. 5-6),
Logo, o que é necessário para que
a governança da inovação tem entre
uma empresa inove sistematicamente
suas responsabilidades: definir papéis
e com isso permaneça relevante no
e formas de trabalhar em torno do
seu mercado? Apenas a transformação
processo de inovação; definir linhas
digital, a pesquisa, o desenvolvimento
de poder de decisão e compromissos
e tecnologias são suficientes? A
de inovação; definir as principais
resposta para esses questionamentos
responsabilidades dos principais atores;
depende do negócio, do setor de
estabelecer o conjunto de valores
atuação, do país onde a organização
que sustentam todos os esforços de
está operando, das necessidades do
inovação; tomar decisões alinhadas às
cliente, da cultura da empresa.
expectativas; definir como mensurar
Enfim, são muitos fatores que afetam
a inovação; tomar decisões sobre
essa equação.
orçamentos para a inovação; orquestrar,
equilibrar e priorizar atividades Como pontuado anteriormente, a
de inovação em todas as áreas da governança da inovação é como um
organização; estabelecer uma rotina sistema de engrenagens que devem
de comunicação e sobre a tomada de funcionar de forma harmônica para
decisão por parte da gestão. facilitar a inovação contínua.

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Construir a governança da inovação não é tarefa simples e tampouco há uma
receita padrão que poderá ser seguida por toda e qualquer organização. Muitas
são as dificuldades e os desafios que as empresas devem enfrentar e superar para
conseguir implantar e manter efetivamente um sistema de inovação. Dentre os
desafios existentes, destacam-se:
• estruturas organizacionais engessadas e que não foram feitas para pensar em
inovação e tampouco são propícias para se trabalhar a inovação;
• empresas em estágios iniciais de constituição seguindo um modelo de tese de
inovação, como sendo algo fixo e imutável;
• inexistência de abertura nas organizações para discussões sobre inovação;
• organizações pouco flexíveis a trabalhar com inovação aberta1;
• conselho de administração rígido e burocrático;
• inexistência de uma jornada da inovação2;
• crença por parte das organizações e dos profissionais de que inovação é apenas
transformação digital;
• inexistência no Brasil da tradição de desenvolvimento de tecnologias que
acompanhem desde a concepção do produto até sua maturidade;
• atraso tecnológico brasileiro em relação aos centros de P&D;
• baixa disponibilidade de cientistas e pouco investimento na formação de cientistas;
• cultura organizacional que não aceita o erro como parte inerente do processo de
inovação;
• incentivos que não favorecem a inovação contínua;
• excesso de burocracia para a abertura e o encerramento de empresas no Brasil,
carga tributária elevada e riscos trabalhistas;
• poucas parcerias entre empresas e universidades visando o desenvolvimento de
novas tecnologias e práticas de inovação;
• processos de fusões e aquisições (M&A) incipientes e pouco explorados no
mercado brasileiro, no sentido de adquirir empresas que tenham uma prática
inovadora e que agreguem valor à organização.

1. O conceito de inovação aberta foi criado Henry William Chesbrough em 2003 e divulgado na obra intitulada
Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology. A inovação aberta consiste
no uso de diferentes fontes e ideias para pensar a criação de valor dos produtos, ou seja, refere-se a abertura
das fronteiras organizacionais no sentido de se permitir o uso de ideias externas no processo de inovação.
2. A jornada da inovação ao longo deste documento é entendida como o processo no qual a organização
busca compreender seus desafios e necessidades em termos da inovação, englobando a tomada de decisão,
as estratégias a serem adotadas, as estruturas, os processos, as pessoas e competências, as motivações e
incentivos, bem como a cultura da organização. As definições destes componentes fazem parte da jornada
da inovação de uma organização e variam de acordo com as particularidades de cada negócio.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 11


Importante destacar que inovar implica estar estruturado nas empresas.
correr riscos, ter na organização Para transformar este cenário é preciso
profissionais criativos e permitir que reconhecer que a inovação deve estar
eles exerçam sua criatividade, e, umbilicalmente associada à estratégia
ainda, empreender e se desprender da empresa e definir mecanismos
do que é considerado padrão dentro que viabilizem a atração e a retenção
da organização. É necessário que dos talentos e competências para
as organizações voltem o olhar para inovar, estruturas que atribuam papéis
o longo prazo, entendam os riscos claros para a liderança, processos que
toleráveis para que assim tenham a garantam a alocação dos recursos
oportunidade de explorar novidades. para as diversas etapas da inovação,
Rastrear tendências – mercadológicas e um sistema de recompensas que
ou tecnológicas – é ponto crucial incentive a organização a inovar
para a inovação nas organizações, no continuamente. Os próximos capítulos
entanto, apesar de estar no discurso trarão uma discussão aprofundada
de alguns executivos, não parece sobre essas questões.

12 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


2. Estratégia para Inovação

O propósito de uma organização é a da solução pelo mercado (market


expressão de sua razão de ser, o motivo fit). Essa síntese pode compreender
de sua existência. Ou seja, trata-se do uma interpretação original das
legado que essa organização pretende variáveis envolvidas sobre a solução
deixar para a sociedade. Já a visão do problema, mas também pode
da empresa é o sonho a ser atingido compreender uma abstração sobre a
na execução bem-sucedida de seu incerteza de muitas das informações
propósito. Quanto mais ousada a visão, do cenário futuro (insight).
maior o impacto da organização. A A estratégia, por sua vez, define o
visão surge da síntese de informações caminho, a direção que a organização
sobre um cenário futuro e da deseja seguir para viver seu propósito
possibilidade de transformação desse e realizar sua visão. A estratégia da
cenário por meio da atividade da inovação é derivada da estratégia
própria organização. da organização e nem sempre ela é
Nesse cenário participam a explícita ou formalizada por meio de
somatória dos temas transversais e suas políticas ou normativas internas,
o desenvolvimento do setor (trends), o que coloca em risco a perpetuação
a atividade de outros concorrentes do processo de inovação dentro
(players), a direção da demanda da organização.
do mercado e os problemas que Das diferentes ênfases sobre os tipos
ele enfrenta (pains), o potencial de de inovação irão derivar estratégias
desenvolvimento de soluções da de inovação diferentes. Por exemplo,
própria empresa sob determinada quando são identificados gargalos em
alocação de recursos (solution) e, eficiência na produção da empresa,
por fim, a capacidade de adoção investimentos em “melhoria contínua”

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 13


poderão ser priorizados. Ao mesmo O modelo proposto por Galbraith
tempo, os temas transversais poderão pode facilmente ser adaptado ao
participar dessa priorização, compondo desenvolvimento de um conjunto
uma matriz com os tipos de inovação. de elementos que fomente e que
As ênfases de esforços poderão ajude a estruturar uma governança
variar de acordo com o momento de voltada a estimular a inovação e
desenvolvimento da organização. a sua manutenção no âmbito de
uma organização, inclusive é o que
Diante da complexidade para
propõe DeChamps e Nelson na obra
se desenhar uma estratégia de
Innovation Governance: how top
inovação que contemple os estímulos
management organizes and mobilizes
necessários para assegurar a
for innovation.
continuidade e a perenidade dos
ciclos de inovação, convém que as Inspirado nas obras de Galbraith,
organizações busquem um modelo DeChamps e Nelson, esta publicação
que se adeque à sua realidade e apresenta ao leitor os cinco
trabalhem na adaptação do conteúdo componentes trabalhados por
às suas necessidades. Galbraith (estratégia, estrutura,
processos, sistema de recompensas
Um modelo de desenho organizacional
e sistema de pessoas) mas com foco
que trabalha muito a questão da
em inovação, além de trazer outros
estratégia e seu alinhamento com a
elementos importantes, como o papel
estrutura das organizações é o Star
do conselho de administração e da
ModelTM3, desenvolvido por Jay R.
gestão para que a organização tenha
Galbraith. Galbraith propõe que as
sucesso no desenvolvimento de um
organizações sejam desenhadas/
sistema integrado de inovação.
estruturadas com foco em cinco
componentes: estratégia, estrutura,
processos, recompensas e pessoas.
Esses componentes são estruturados
por meio de políticas e práticas
que direcionem a organização ao
seu objetivo.

3. Para acessar o sumário do The Star Model:


https://www.jaygalbraith.com/images/pdfs/
StarModel.pdf

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The Star ModelTM
Jay R. Galbraith foi um teórico organizacional americano, consultor e professor
do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Gerencial, conhecido por seu
trabalho em estratégia e design organizacional desenvolveu o The Star ModelTM, em
português, O Modelo Estrela.
O Star Model consiste em um modelo de estrutura organizacional no qual as
organizações desenvolvem uma série de políticas controláveis pela
​​ gestão e com o
poder de influenciar o comportamento dos funcionários cujo objetivo é direcionar
a organização. Essas políticas são ferramentas por meio das quais a gestão
moldará a tomada de decisão e os comportamentos nas organizações onde atuam
de maneira eficaz.
O modelo é dividido em cinco componentes: estratégia, estrutura, processos,
recompensas e pessoas.

Figura 1.  The Star Model (O Modelo Estrela)


direção/visão

Estratégia
aprendizado e
desenvolvimento,
recrutamento e
seleção, ciclo de
desempenho poder e autoridade
Sistema de
Pessoas Estrutura

Sistema de Processos
Recompensas
compensação/recompensas informação
Fonte: Jay R. Galbraith, The Star ModelTM (tradução livre).

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 15


• Estratégia: é o primeiro componente do Star Model, pois é ela quem determina
a direção, os objetivos a serem alcançados e os valores da organização.
Dependendo do segmento da organização, a estratégia tem o papel de
estabelecer os produtos ou serviços a serem disponibilizados no mercado.
• Estrutura: é por meio dela que se estabelece na organização o poder e
a autoridade formal, o que engloba o atributo da tomada de decisão, os
relacionamentos e também a hierarquia estabelecida na organização. As políticas
a serem desenvolvidas dentro da componente estrutura devem abarcar quatro
áreas: especialização, forma, distribuição de poder e criação de departamentos.
a. Especialização: refere-se à quantidade e aos tipos de especialização
existentes no departamento para a realização do trabalho.
b. Forma: refere-se à quantidade de pessoas que compõem cada departamento.
c. Distribuição de poder: verticalmente, refere-se às questões de centralização
ou descentralização; lateralmente, refere-se a dar poder ao departamento
que lida diretamente com as questões críticas para o alcance da missão
organizacional.
d. Criação de departamentos: é a base para a formação dos departamentos em
diferentes níveis da estrutura organizacional. As dimensões padrão para a
formação de um departamento envolvem as funções, produtos, processos de
fluxo de trabalho, mercados, clientes e localização. Em estruturas matriciais,
duas ou mais dimensões reportam ao mesmo líder no mesmo nível.
• Processos: os processos de informação e decisão são transversais à
estrutura da organização e tendem a ser verticais e horizontais. Processos
verticais geralmente referem-se ao planejamento dos negócios e ao processo
orçamentário, em que são coletadas as diferentes necessidades dos
departamentos e são definidas as prioridades para o orçamento e a alocação
do capital, pesquisa e desenvolvimento, treinamento etc. Os processos
horizontais – também conhecidos como laterais – são projetados em torno do
fluxo de trabalho, como o desenvolvimento de novos produtos, e podem ser
realizados de diversas maneiras, a partir da interação entre os membros de
diferentes equipes.
• Recompensas: elas têm como objetivo alinhar as metas e expectativas dos
funcionários com as metas e expectativas da organização, além de fornecerem
motivação e incentivo para o alcance do direcionamento estratégico. Esse
sistema de recompensa da organização define as políticas de regulação de
salários, promoções, bônus, participação nos lucros, opções de ações, práticas
salariais por habilidades, juntamente com bônus de equipe ou participação

16 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


nos lucros, práticas de recompensas não monetárias, como reconhecimento ou
atribuições desafiadoras.
• Pessoas: neste componente estão contidas as políticas de gerenciamento
de pessoas e equipes, de recrutamento, seleção, carreira, treinamento e
desenvolvimento. É necessário que haja conexão entre as áreas para que
as políticas funcionem adequadamente. As equipes multifuncionais exigem
pessoas generalistas e que possam cooperar umas com as outras. As
organizações matriciais precisam de pessoas que possam administrar conflitos
e influenciar sem autoridade. As políticas de recursos humanos desenvolvem
simultaneamente as pessoas e as capacidades organizacionais.
Para que uma organização obtenha êxito, é imperativo que todas as políticas estejam
alinhadas e interagindo entre si harmoniosamente, como sugerem as linhas que se
entrelaçam no desenho Star Model™. A importância desse alinhamento faz parte da
estratégia de comunicação com os funcionários, que deve ser clara e consistente.
Importante destacar que o modelo enfatiza que diferentes organizações terão e
necessitam de diversas estratégias e uma organização é mais do que apenas uma
estrutura, ou seja, é importante pensar em todas as pontas da estrela para que se
obtenha maior efetividade no gerenciamento da organização.
Fonte: Jay R. Galbraith, The Star ModelTM.

A estratégia para a inovação deve imagem ou reputação, ou quaisquer


ser função da estratégia geral da outros. É fundamental o entendimento
empresa e precisa ser clara e permear de que não existe inovação sem risco.
todos os níveis organizacionais, Uma estratégia de inovação bem
independente do modelo a ser elaborada reconhece e explicita esses
seguido. Sua elaboração deve riscos e os limites de tolerância da
contemplar as linhas-chave para organização em relação a eles.
direcionar os esforços de inovação, O processo de inovação decorre
incluindo os objetivos principais que de várias necessidades no âmbito
se almeja com a inovação e os recursos organizacional. Estudos desenvolvidos
que a organização está disposta a pelas áreas de marketing e de gestão
alocar nesses esforços, as estratégias de clientes, por exemplo, buscam
de associações e parcerias, e uma compreender as suas necessidades,
definição dos riscos que a organização anseios, novos hábitos de consumo,
aceita correr nessa jornada. Esses dentre outros, que são fatores de
riscos podem ser financeiros, de estímulo e promovem a busca pela

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 17


inovação dentro das organizações fator preponderante para o sucesso
ou, ainda, favorecem a criação de e o fortalecimento do sistema de
organizações voltadas ao atendimento inovação, e contribui, inclusive, para a
desta demanda reprimida ou não disseminação do conhecimento dentro
atendida. A tecnologia favorece a da organização.
predição e a captação de dados no
sentido de facilitar o diagnóstico e 2.1  Tipos de inovação
as tendências futuras em termos da
demanda dos clientes. Inovar deixou de ser uma opção e
se tornou uma necessidade para as
Inovação também está relacionada ao organizações. Hoje, o espaço para
processo de aprendizagem, por isso, organizações estagnadas é limitado.
compreender o que retroalimenta o Inovação, incremental ou disruptiva,
sistema de inovação da organização, é almejada na grande maioria das
gerando ganhos e aprendizados, é empresas, por diversas razões.

The three horizons of growth McKinsey


Em conversas com conselheiros e executivos, apareceram muitos conceitos difundidos
no mercado, alinhados com os três tipos de inovação, mencionados abaixo, e
comumente observados nas organizações. No entanto, algumas metodologias mais
tradicionais parecem também guiar a tipificação. Entre outros, o modelo desenvolvido
pela consultoria McKinsey, intitulado The three horizons of growth4, apresenta três
categorias de inovação divididas em: Horizonte 1 (H1) como “optimization”, com um
ciclo de desenvolvimento de 1 a 3 anos para fortalecer o core business, com processos
de expansão da inovação quase 100% validados; Horizonte 2 (H2) como “sustaining
innovation”, com um ciclo de desenvolvimento de 2 a 5 anos para explorar e expandir
as fronteiras do negócio, com processos de ampliação da inovação aproximadamente
45% validados; por último, o Horizonte 3 (H3) como “market creating innovation”, com
um ciclo de desenvolvimento de 5 a 12 anos para explorar oportunidades inéditas
para reinventar o negócio, com processos de expansão da inovação quase 100%
incertos. Cada horizonte agrega um patamar crescente de valor à empresa. Apesar
do modelo parecer mais dissociado da velocidade requerida hoje, ainda é válido
como uma ferramenta intuitiva para traçar estratégias de inovação e também a
transformação esperada em cada fase desse processo.

4. Para mais informações sobre o tema acesse: https://www.mckinsey.com/business-functions/


strategy-and-corporate-finance/our-insights/enduring-ideas-the-three-horizons-of-growth

18 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Figura 2.  Three horizons McKinsey

Horizon 3
Create viable
options

profit Horizon 2
Build emerging
businesses

Horizon 1
Extend and defend
core business

time (years)

Fonte: McKinsey & Company. Enduring Ideas: The three horizons of growth. McKinsey Quarterly, 2009.

A tipificação da inovação é variável neste nível são de moderados a


de organização para organização altos. As empresas buscam engajar
e depende da estratégia adotada, o mercado com novos produtos
além de haver diferentes literaturas ou usar capacidades existentes
para o tema. No entanto, observa- para atender mercados ainda
se comumente nas organizações a não explorados, o que representa
existência de três tipos de inovação uma fronteira de oportunidade
quando classificada de acordo com os (muitas vezes confunde-se este
objetivos do processo: último tipo de inovação com a
i. Melhoria contínua: é o primeiro inovação disruptiva).
nível entre os tipos de inovação, iii. Disrupção: inovações disruptivas
sendo o mais acessível e de menor são as mais difíceis de serem
risco. Programas de melhoria alcançadas e por vezes carregam
contínua também podem permear as maiores promessas, se bem-
toda a organização. sucedidas, e os maiores riscos. As
ii. Expansão do portfólio: é o inovações disruptivas são aquelas
segundo nível da inovação e é que mudam o jogo e reorganizam
onde ocorre o desenvolvimento a demanda em torno de si. O
de novos produtos ou novos retorno sobre o investimento é o
mercados. A complexidade e o risco mais incerto.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 19


Esses três tipos de inovação a inovação estiver da “melhoria
participam de um contínuo (de um contínua”, maior será a capacidade
grau menor a um grau maior) de de se mensurar resultados, retornos
tempo de desenvolvimento, ambição, sobre o investimento e ganhos de
complexidade, risco, impacto, economia, ao passo que, quanto mais
investimento e retorno. próxima da “disrupção”, maior será a
incerteza e, portanto, a necessidade
Há organizações que tipificam a
inovação apenas como “melhoria de se acompanhar o progresso do
contínua” ou “disrupção”, e há desenvolvimento da inovação.
outras que separam os processos de Ciclos longos de desenvolvimento
“melhoria contínua” em (a) otimização de lançamento de produtos são
dos processos existentes e (b) mais caros e carregam um risco
implementação de novos processos. maior, portanto, é comum que as
A “expansão do portfólio”, por sua organizações busquem metodologias
vez, é dividida em (i) novos produtos que permitam a interação constante
para mercados existentes e (ii) novos com o cliente e a validação mais
produtos para novos mercados, ágil da solução proposta. Ou seja, o
constituindo oportunidades que a conceito de minimum viable product
empresa considera explorar fora do seu - MVP (produto minimamente viável)
campo de atuação, mas dentro de suas contribui, assim, para a redução dos
possibilidades operacionais. riscos da inovação, pois as soluções
A disrupção é vista, muitas vezes, são testadas continuamente e
como o ganho obtido por meio de um aperfeiçoadas junto ao cliente.
salto tecnológico ou, ainda, como a É função da estratégia de inovação
execução de algo novo, tornando o definir os parâmetros para equilibrar
que era feito antes algo obsoleto. Na os tipos de inovação que a empresa
melhoria contínua, busca-se fazer a vai buscar, mas é possível, e muitas
mesma coisa de uma forma melhor,
vezes desejável, que a empresa busque
mais competitiva e mais eficiente, o
as oportunidades de inovação de
que resulta em um ganho incremental.
forma ampla, abrangendo inovações
Tipos de inovação diferentes incrementais em algumas áreas/
demandam formas diferentes de produtos ou processos, enquanto
acompanhamento e medidas de explora inovações mais disruptivas em
sucesso. Quanto mais próxima outros pontos.

20 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


2.2  A sustentabilidade e a inovação
Falar em estratégia e não olhar para os aspectos sociais e ambientais que
impactam e são impactados pelas organizações é definir uma estratégia com baixo
índice de sucesso e assertividade. Vive-se numa era em que mudanças sobre a
responsabilidade e a atuação das organizações em relação aos impactos e danos
que causam ao meio ambiente são clamadas, assim como é exigida a redução das
desigualdades sociais.
Trabalhar estratégias e modelagem de negócios que abarquem a sustentabilidade
é um caminho necessário e urgente a ser incorporado pelas organizações. O tema
deve ser pauta frequente do conselho, o qual tem a responsabilidade de estimular
as discussões e fazer com que ações sejam desenvolvidas e colocadas em prática no
âmbito da organização.
A crença de que proteger o meio ambiente custa caro ou desenvolver produtos
e serviços sustentáveis elevará os custos de produção não são mais aceitáveis. A
inovação é um meio para se alinhar aspectos sociais e ambientais com produtos
inovadores e de qualidade a um mesmo custo ou a um custo inferior.
Em países desenvolvidos, como na Suécia, por exemplo, as organizações incorporam
em suas estratégias os ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável)
propostos pela ONU, de modo a assegurar que estejam contribuindo para o
desenvolvimento sustentável.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 21


3. Estruturas para Inovação

Adaptar a organização, preparar espaços Pode-se também julgar necessário


e estabelecer instâncias e estruturas complementar as estruturas de
organizacionais é primordial para que governança por meio de comitês.
a inovação aconteça e se desenvolva
Os subitens que seguem são
na organização. São as estruturas
exemplos – não exaustivos – de
organizacionais em conjunto com os
algumas estruturas que podem ser
processos estabelecidos que irão reforçar
consideradas.
ou redirecionar os comportamentos
esperados, e incentivar ou não a
inovação. Ou seja, o modo de organizar 3.1  Comitê de inovação
as pessoas, optar por determinada
Os comitês são os espaços onde os
estrutura, como, por exemplo, times
membros do conselho interagem com
ágeis ou equipes multidisciplinares,
os executivos para alinhar a estratégia
estimula a colaboração, a abertura
ao desdobramento operacional, que
e a troca de ideias, induzindo, assim,
nasce a partir de uma demanda ou
comportamentos propícios à inovação
necessidade organizacional. Pode
e ao empoderamento das pessoas.
haver um dinamismo na criação e no
Embora seja importante que a cultura encerramento dos comitês, de acordo
de inovação permeie a organização, com as necessidades de transformação
as estruturas organizacionais têm um da empresa e dos objetivos atingidos.
papel importante para definir papéis e É fato que os comitês também podem
responsabilidades. É fundamental que apontar para um nível maior de
haja clareza sobre quais estruturas vão especialização e para a necessidade
liderar as frentes de inovação definidas de hierarquizar temas dentro da pauta
na estratégia. maior do conselho de administração.

22 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Ao se pesquisar sobre estruturas para a atualização do conselho sobre
que promovam a inovação ou que temas transversais, novas tecnologias
auxiliem no processo de inovação e inovações.
das organizações, bem como nas
Há organizações em que o comitê de
conversas realizadas com conselheiros
inovação nasce de maneira informal,
e executivos sobre o tema, a primeira
no formato de reuniões periódicas com
estrutura considerada nas organizações
poucas horas de duração. Os temas
de maneira geral é o comitê que trata
giram em torno de soluções adicionais
da inovação, comumente chamado de
para os processos, tecnologias,
comitê de inovação5.
desenvolvimento, demandas de
A implantação de um comitê de mercado, pessoas, dentre outras
inovação estabelece um espaço questões. As discussões vão tomando
para pautar o tema dentro das grandes proporções, se tornam mais
organizações. Ele surge como um relevantes a cada dia e disso decorre
divisor de águas, pois quando a necessidade de se formalizar estas
estruturado dá legitimidade ao tema reuniões, garantindo legitimidade às
e, na sua ausência, as organizações, discussões e dando início ao comitê
cuja inovação não está entremeada na de inovação.
cultura, tendem a enfrentar problemas
Há conselheiros e executivos que
como falta de tempo na agenda para
relatam que o comitê de inovação
discutir o tema, discussões pontuais
é estruturado inicialmente com o
e sem a profundidade e a recorrência
objetivo de atender a estratégia
que o tema demanda.
de digitalização da organização,
O comitê de inovação pode dar o investindo, inclusive, em campanhas
guideline estratégico da inovação e a para a disseminação do tema e a
presença desta estrutura irá tracionar educação dos profissionais no sentido
o tema e as discussões, garantindo de lidarem com novas tecnologias
que o sistema de inovação da e ferramentas, criando, assim, um
organização seja eficiente e permeie ambiente propício para a inovação e
os diferentes níveis organizacionais. novas tecnologias. Em cenários mais
O comitê que trata de inovação avançados, o comitê de inovação
também acaba servindo como canal passa a ter foco mais generalista,
envolvendo discussões de longo prazo
5. A publicação O Papel do Conselho de em torno de casos específicos.
Administração na Inovação das Organizações
da série IBGC Orienta também aborda, em seu É bastante comum que o comitê tenha
capítulo 5, o comitê de inovação. Caso queira
consultá-lo, o material está disponível no Portal
espaço para convidados especialistas
do Conhecimento do IBGC. e/ou temporários, com o objetivo de

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 23


estimular ou aprofundar assuntos a divisão tem fora dos processos já
relevantes para o momento. estabelecidos da organização.
É recorrente na fala de conselheiros Spin-offs estão mais associados às
e executivos o fato de que o comitê inovações disruptivas e às inovações
de inovação passa a acompanhar que atendem novos mercados, além de
tudo o que está acontecendo no garantirem um pessoal mais dedicado
mundo dos negócios, nas estratégias à inovação.
da organização, na digitalização da
empresa e em tudo mais, dedicando Para alguns conselheiros e executivos,
tempo para discussões sobre diversos um spin-off pode ser estruturado
temas para levar a essência das como uma área e/ou divisão dentro da
discussões para o conselho que, própria empresa ou, ainda, por meio
por sua vez, irá deliberar sobre os da criação de uma nova empresa, a
temas necessários. qual irá tratar apenas de inovações
disruptivas. Nessas organizações, o líder
da inovação é nomeado CEO, de modo
3.2  Spin-offs que ele tenha agilidade e flexibilidade
No contexto das discussões abordadas na tomada de decisões e nos processos.
nesta publicação, o termo spin-off Em organizações nas quais o spin-off é
refere-se à separação física de uma estruturado internamente, observa-se
divisão na organização. O spin-off, que a área é criada de modo a ter total
como estrutura, atende à subcultura6
independência na maneira de trabalhar
e surge da necessidade de se separar
e se organizar para poder captar
e dar autonomia ao time de um projeto
iniciativas dos colaboradores externos
de inovação em relação ao restante
e internos e de pessoas de fora que
da empresa. Um dos motivos dessa
queiram trabalhar com inovação. Há
prática é o ganho de agilidade que
situações em que a organização possui
divisões específicas e próprias para
6. A subcultura decorre da diferenciação dos
tratar a inovação disruptiva, tendo esta
subgrupos e ou grupos ao longo do tempo dentro divisão a condição legal e estrutural
das organizações, os quais tendem a desenvolver para ser ou se tornar uma startup.
suas próprias culturas. As experiências
compartilhadas por esses subgrupos/grupos
são suficientes para criar subculturas baseadas A existência de um espaço físico
em experiências ocupacionais, nacionais e exclusivo, a criação de mecanismos de
históricas exclusivas. Quando da ocorrência do
desenvolvimento das subculturas, compete à discussão e o fomento de um ambiente
liderança encontrar meios de coordenar, alinhar propício à inovação possibilitam
ou integrar as diferentes subculturas. Para
saber mais, sugerimos a leitura da obra Cultura
a aceleração do processo cultural
Organizacional e Liderança de Edgard H. Schein. voltado à inovação.

24 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Para alguns conselheiros e executivos, ambientais. Em muitos casos, trata-
a principal função do spin-off é a se de garantir a conformidade com a
manutenção de uma cultura própria legislação social e ambiental ou com
e promotora da inovação, inclusive os padrões de sustentabilidade dos
nos processos de aquisição de mercados. Porém, cada vez mais, as
organizações, de modo que se empresas atuam também visando
mantenha preservada a cultura para criar vantagens competitivas por
inovação da entidade adquirida. meio de processos de produção mais
sustentáveis ou de produtos que
Idealmente, o spin-off é uma estrutura
gerem impactos positivos. Algumas
temporária, uma vez que o viés cultural
organizações vão além e redefinem
da entidade inovadora deveria permear
o objetivo dos negócios, o propósito
toda a empresa, perpetuando o modelo
da empresa, de forma a fazer com
por toda organização.
que toda a empresa se oriente para
a geração de valor para a sociedade.
3.3 Outros comitês e estruturas A solução para desafios ambientais,
que contribuem para o como mudanças climáticas ou
sistema de inovação escassez de recursos naturais, e
Há organizações que, devido à desafios sociais, como inclusão
natureza do seu negócio, operação social, saúde, educação, depende de
ou até mesmo estrutura, não possuem inovação e de novas tecnologias.
ou optam por não ter um comitê de Portanto, na maioria das vezes,
inovação. Alguns especialistas relatam as agendas dos comitês de
que as temáticas de inovação acabam sustentabilidade devem estar muito
sendo discutidas no contexto das convergentes com as agendas dos
estruturas de governança normais, comitês de inovação das empresas.
como, por exemplo, no comitê de Por outro lado, é complementar e ao
estratégia ou no comitê de finanças. mesmo tempo relevante os comitês de
Em organizações onde o inovação tomarem decisões orientadas
empreendedorismo e a inovação aberta para a solução de problemas
são latentes e fazem parte do dia a dia ambientais e sociais como temas
da organização, observa-se a presença estratégicos das empresas.
de comitês dedicados ao tema.
Em todas as organizações existe a 3.4 Corporate Venture Capital
necessidade de se abordar a questão
(CVC)
da sustentabilidade como uma forma As apostas em um portfólio de startups
de gerenciar impactos sociais e fazem algumas das organizações se

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 25


aproximarem do modelo de venture e pela gestão de informações. Haverá,
capital, veículo (em geral fundo de também, quanto à governança, a
investimento) de alocação de capital necessidade de adaptação de alguns
de maior risco (em função do momento procedimentos de compliance se
muitas vezes inicial das investidas). comparados à prática usual com outros
O modelo tem muito a oferecer às fornecedores tradicionais.
empresas em termos de procedimentos.
Há uma série de aprendizados que
Há diferenças importantes entre o
derivam do investimento em startups
investimento de venture capital e o
e mesmo da convivência da empresa
investimento das empresas, o que faz
com as startups em hubs financiados
deste último um tipo específico de
pelas empresas. Esses aprendizados
venture capital na literatura: o corporate
estão dispostos em fases de evolução
venture capital. Fundamentalmente, o
do relacionamento entre empresa e
venture capital possui uma estratégia
startups. Os aprendizados envolvem
de saída do investimento de risco,
i) as estruturas físicas e de backoffice;
enquanto no corporate venture capital,
ii) os recursos financeiros; e iii) o acesso
há uma preocupação na incorporação da
ao mercado e a suas demandas, que
tecnologia ou na inovação desenvolvida
são as competências das empresas
pelas startups nas práticas da empresa
dentro do ecossistema de inovação.
e uma governança diferenciada para
Há necessidade de uma aculturação
garantir que esse investimento seja
da organização para a aceitação das
revertido em transformações para
startups no âmbito das empresas,
o negócio principal ou em um novo
muitas vezes ocorre certa resistência.
negócio de maior relevância.
Há duas perspectivas contrárias
O investimento em startups pelas
quanto ao direcionamento das startups
empresas possui uma lógica diferente
para a solução dos problemas das
do investimento promovido pelas firmas
empresas. Direcionar implica sugerir
de venture capital: o objetivo é, em sua
paradigmas ou como “pensar dentro da
maioria, a incorporação de tecnologias,
caixa”. Por outro lado, a não imposição
produtos ou novos negócios. Daí seu
de limites e parâmetros de atuação
caráter estratégico com retornos mais
aos parceiros pode atrair soluções
voltados para o longo prazo.
não adequadas às particularidades
Em algumas organizações, o da empresa. Cabe à empresa avaliar a
relacionamento com startups requer adequação do nível de direcionamento
uma estrutura própria dentro da proposto problema a problema (além
empresa pelo volume e complexidade do direcionamento já apresentado pelo
de relacionamento com essas entidades propósito da empresa).

26 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Tanto conselheiros quanto executivos mostra que quando a organização não
ouvidos destacam a importância de não sabe o que quer acaba embarcando
se esperar por uma solução milagrosa. em uma expectativa utópica e se torna
É importante que a organização saiba o refém, por longos períodos, de empresas
que quer e o que precisa de modo que que, na hora que entraram no universo
ela faça encomendas bem definidas da organização, descobriram que não era
a seus parceiros, pois é raro alguém exatamente o que elas haviam proposto
externo trazer uma proposta que mude e assim torna-se uma parceria frustrada
a organização de patamar. A experiência para ambas as partes.

Pesquisa HBS Alumni Angels of Brazil


A HBS Alumni Angels, comunidade de ex-alunos da Harvard Business School
e de outras faculdades da Harvard University, publicaram em 2017 um estudo
intitulado Status de Corporate Venture no Brasil: como grandes empresas estão se
relacionando com o ecossistema empreendedor:
[...] define-se Corporate Venture como um esforço corporativo e empreendedor,
que leva uma organização à criação de novos negócios internos ou externos,
oriundos de inovações que viabilizem a exploração de novos mercados, novos
produtos ou até mesmo a geração de novas unidades. Para ser considerado
Corporate Venture, o projeto deve incluir uma atividade nova ao portfólio
da organização e apresentar riscos e incertezas mais elevados do que sua
atividade principal. (HBS Alumni Angels, p. 6)
Nesse estudo, o corporate venture é entendido “como um formato muito assertivo
de investimento em inovação aberta feito pelo setor privado, configurando-se uma
excelente oportunidade a ser explorada pelas empresas [...]” (p. 6)
O estudo apontou ainda os principais objetivos que levam as empresas a interagirem
com startups, a saber:
• estratégia para expandir em direção a novos mercados, novas competências ou
novos canais (54 empresas);
• resolução de problemas de negócios de forma mais rápida e com menor risco
(36 empresas);
• rejuvenescimento da cultura corporativa, criando um mindset e técnicas
empreendedoras (32 empresas);
• projeção da imagem de uma marca inovadora (28 empresas);
• retornos financeiros atrativos (21 empresas).

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 27


4. Processos Complementares
para Inovação

Da mesma forma que pessoas o hackathon ou a realização de


inventivas usam sistematicamente brainstorming constituem-se
suas competências para ferramentas e mecanismos poderosos
questionar, observar, de inovação e que ao mesmo tempo
fazer networking e realizar estimulam uma cultura para inovação
experimentos a fim de levantar nas organizações.
novas ideias, descobrimos que
Os processos organizacionais
as organizações inovadoras
direcionam também o comportamento
desenvolvem sistematicamente
dos indivíduos, podendo estimulá-
processos para incentivar essas
los para a inovação ou restringi-
mesmas competências entre
los. O método de avaliação e de
seus empregados. A maioria
recompensas e os processos que deles
das empresas inovadoras
decorrem impactam diretamente o
constrói uma cultura que
reconhecimento e a remuneração
reflete a personalidade e os
dos profissionais, logo, dependendo
comportamentos do líder.
da forma como é imposto e
(DYER; GREGERSEN e
delineado, poderá reforçar ou não um
CHRISTENSEN, 2019, p. 191)
comportamento voltado à inovação.
Assim como as estruturas
A grande importância dos processos
organizacionais podem estimular
organizacionais voltados à inovação
e reforçar a inovação ou freá-la, os
é decorrente da necessidade de
processos organizacionais também
as organizações mapearem as
podem ser um freio ou um incentivo
oportunidades para a inovação, o
para a inovação na organização.
que engloba a compreensão sobre
Processos como o design thinking,
as novas tecnologias e como elas

28 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


podem ser úteis no direcionamento Os processos também permitem
estratégico da organização, ou como entender e mapear o comportamento
as novas tecnologias podem viabilizar da demanda, tanto do cliente como
a execução de novidades ou facilitar de suas preferências e mudanças de
processos antigos. gostos. Ou seja, os processos viabilizam
É por meio dos processos de o monitoramento, a disseminação e a
monitoramento que a organização retroalimentação da estratégia para a
também vai mapear e perceber as inovação, por meio do entendimento
tendências de mercado e tecnológicas, da direção que os negócios estão
e compreender como está o andamento seguindo do ponto de vista da
e o ritmo dos negócios, tendo a demanda dos consumidores, do
percepção se a estratégia está alinhada comportamento das pessoas ou ainda
ou se há algum tipo de descasamento. das tendências tecnológicas.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 29


5. Pessoas e Competências

[...] empresas grandes fracassam trabalhar a composição do conselho


em relação à inovação de de administração de modo que haja
ruptura porque a equipe da alta diversidade, em especial em relação
direção é dominada por pessoas ao conhecimento e experiência com
que foram escolhidas por suas inovação.
competências de execução, e não
Requer ainda promover mudanças
por competências de descoberta.
Como consequência, a maioria e atentar-se que voltar o olhar à
dos executivos de grandes inovação requer a percepção de que
organizações não sabe como amarras, padrões pré-estabelecidos
pensar de forma diferente. que sempre funcionaram, aspectos
(DYER; GREGERSEN e culturais, dentre outras questões,
CHRISTENSEN, 2019, p. 46) precisam ser revistos de modo a
dar espaço para que o novo surja e
Olhar o ambiente organizacional com possa se desenvolver. Essa mudança
vistas a fomentar a inovação e mantê- deve começar pelos conselhos das
la ao longo do tempo constitui-se um organizações, ou seja, reconhecer que
desafio às organizações, especialmente aquela visão de conselho centrada
no tocante a gestão de pessoas e na gestão e mitigação de riscos e
competências requeridas e a serem dedicada às análises financeiras – mais
desenvolvidas.
tradicional – deve estar aberta a uma
Muitos são os desafios que as remodelagem de modo a atuar como
organizações enfrentam em relação agente promotora e incentivadora da
às pessoas, desde a contratação de inovação, trabalhando, inclusive, com
profissionais qualificados, que tenham o objetivo de promover a mudança na
um olhar voltado à inovação, até cultura da organização e compreender

30 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


que o erro faz parte do processo de inovação. Ou seja, é necessário que
aprendizado e dele surgirão ideias e a constituição do conselho preze
práticas inovadoras. pela heterogeneidade, fomentando a
diversidade.
5.1 Competências esperadas Algumas características dos
do conselho conselheiros são vistas como mais
Para que o conselho seja efetivo no favoráveis a fomentar uma empresa
processo de governança no sentido de inovadora. Elas estão relacionadas à:
questionar ações, práticas e estratégias • audácia;
para inovação, além de ser propositivo • expertise e capacidade de
sobre o tema, é relevante que em sua questionar a diretoria executiva;
composição haja algum especialista • experiência na própria companhia;
no tema e que ele atue nos comitês da • expertise em inovação;
organização, além de possuir expertise • perspectiva inédita que o
para questionar tecnicamente a conselheiro pode trazer pelo
direção da organização. seu repertório de experiências
Se faz necessário que o conselho passadas;
tenha profissionais qualificados • comunicação e persuasão no
sobre o tema para que sejam capazes sentido de ser bom comunicador e
de compreender o que está sendo tradutor das boas ideias;
discutido e acontecendo em termos • olhares transversais sobre a
de inovação no setor em que a indústria e setores da economia.
organização atua, entenda as práticas
e ações de inovação que estão sendo
5.2 Competências e
comportamentos
desenvolvidas dentro da organização,
dos inovadores
e traga insights para contribuir com
a gestão. Quando se fala em competências para
inovação, é necessário o conhecimento
Conselheiros com experiência
sobre o negócio, o que inclui o setor
profissional em outros setores da
e tecnologias do setor de atuação da
economia, atuação em diferentes
organização, pois não é possível inovar
organizações e que lidem com
sem conhecer a fundo a tecnologia do
inovação e tecnologia aportam valor
seu core.
nas discussões, trazendo visões
distintas em relação ao que eles Dessa forma, é importante que os
veem em outros setores, em outras inovadores possuam: (i) competências
empresas e em outros formatos de técnicas ligadas ao negócio;

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 31


(ii) competências para inovação; A tecnologia digital acelera a inovação,
e (iii) competências digitais. As pois permite desenvolver soluções
competências técnicas ligadas antes não pensadas e possíveis. Por
ao negócio estão relacionadas ao isso é fundamental o conhecimento
conhecimento do mercado em que a de tecnologias como IOT, Blockchain,
organização atua, seus concorrentes, Big Data, inteligência artificial e outras
os desejos e as demandas dos ferramentas que permitam criar novas
clientes e demais stakeholders, as soluções, acelerar a prototipagem
limitações da organização, o domínio e testagem de MVPs e a análise de
dos produtos/serviços ofertados e grandes volumes de dados.
as demais questões relacionadas ao
Do ponto de vista da organização, ter
negócio da organização.
uma cultura que propicie a inovação
As competências para é uma competência requerida para o
inovação relacionam-se ao sucesso da governança da inovação.
intraempreendedorismo dos Além da cultura, é importante que
colaboradores de modo que eles se dentre as competências organizacionais
sintam donos do negócio e tenham essenciais esteja presente a
vontade de inovar, tentar coisas diversidade em termos de raça, gênero,
novas e tirar ideias do papel. As conhecimentos, formação acadêmica,
competências para inovação englobam experiências profissionais e demais
ainda a autonomia, a liderança, elementos que contribuam para o
a liberdade, a experimentação, a fomento da inovação. Pessoas com
vontade de correr riscos, tolerar erros conhecimentos, origens e vivências
e conhecimento de ferramentas diferentes aumentam a capacidade de
de inovação. inovação na organização.

DNA do Inovador
Na obra DNA do Inovador: dominando as 5 habilidades dos inovadores de ruptura,
os autores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton M. Christensen destacam as
características, as competências e o perfil de pessoas e organizações inovadoras.
O estudo identificou que inovadores possuem cinco competências de descoberta,
sendo que a primeira delas é uma competência cognitiva chamada pensamento
associativo, que viabiliza aos inovadores fazerem “ligações de campos do
conhecimento, problemas e ideias que, para outros, não têm relação entre si”
(2019, p. 32).

32 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


As outras quatro competências de descoberta são comportamentais e dividem-se em:
• Questionar: inovadores tendem a ser grandes questionadores e a desafiar
frequentemente o status quo.
• Observar: por meio da observação intensa, permite aos inovadores
compreenderem e terem ideias que os levem a novos meios de fazerem as coisas.
• Cultivar o networking: refere-se à competência de buscar novas ideias por meio
de conversas com pessoas que tenham um ponto de vista radicalmente diferente
sobre as coisas; não se refere a fazer apenas networking social.
• Experimentar: relacionada ao ato de os inovadores testarem novas experiências
e pilotarem novas ideias com frequência, explorando o mundo e desafiando
convicções.
O DNA das organizações inovadoras reflete o DNA do fundador, cujo discurso destaca
a “importância de levar às empresas pessoas iguais a eles (ou seja, inovadoras),
processos que estimulem competências inovadoras (como questionar, observar,
estabelecer rede de relacionamento, testar), e filosofias (a cultura que incentiva cada
um a inovar e assumir riscos inteligentes)” (2019, p. 190).
[...] empresas altamente inovadoras apresentam competências de descoberta
muito mais fortes em todos os níveis de gerência e em cada uma de suas áreas
funcionais, e também que elas monitoraram e geriram um mix apropriado de
descoberta de decisões e competências de entrega por meio de processos
inovadores (da idealização à implementação). Por fim, elas criaram um cargo
de nível gerencial focado em inovação. (DYER; GREGERSEN e CHRISTENSEN,
2019, p. 190)
Nas organizações inovadoras também estão presentes quatro filosofias orientadoras
que estimulam nos colaboradores a coragem de experimentar novas ideias: “(i) a
inovação é tarefa de todos, (ii) a inovação de ruptura é parte de nosso portfólio de
inovação, (iii) tenha à disposição um número elevado de pequenas equipes de projeto
organizadas adequadamente e (iv) corra riscos inteligentes na busca de inovação”
(2019, p. 191).
Fonte: Jeff Dyer; Hal Gregersen e Clayton M. Christensen, DNA do Inovador: dominando as
5 habilidades dos inovadores de ruptura, 2019.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 33


6.  Motivação e Incentivos

Trabalhar a motivação e desenvolver de maneira geral. O principal motivador


um sistema de recompensas justo e intangível é a conquista do desafio de
adequado são um grande desafio para entregar a melhor solução.
a gestão de pessoas nas organizações.
Dentre os principais motivadores
Em organizações inovadoras este
intangíveis destacam-se a progressão
desafio é ainda mais peculiar, uma
na carreira e o reconhecimento pelos
vez que pessoas inovadoras querem feitos alcançados, além da própria
algo para além do reconhecimento oportunidade e da disponibilidade
financeiro, elas desejam sentir-se de recursos para continuar inovando.
desafiadas diariamente. As pessoas sentem-se incentivadas
Para acelerar a construção de um quando lhes são dados objetivos
ambiente que promova determinado mais altos do que aqueles esperados
comportamento, as organizações de acordo com o cargo que ocupam
tendem a fazer uso de mecanismos e quando as organizações as
negociados de recompensas e empoderam do ponto de vista de
punições. Pelo senso comum, a conhecimento, capacitação, liderança,
recompensa mais evidente para permitindo-lhes progredir na carreira.
um comportamento que promova A recompensa para os colaboradores
a inovação seria a compensação inovadores decorre de serem capazes
financeira decorrente da própria de desenvolver e entregar a melhor
inovação, no entanto, ao conversar solução para o cliente. Ela vem do
com conselheiros e executivos que senso de realização de ter feito o
atuam na área, observou-se que o fator melhor trabalho, ou, ainda, por exemplo,
financeiro é o menos importante no do programador estar ranqueado
sistema de incentivos das organizações no Google dentre os melhores

34 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


programadores, o que também é motivo quando se força novos colaboradores
de orgulho para a pessoa. oriundos destas aquisições a se
adequarem a um programa engessado
Ou seja, incentivos não financeiros
de remuneração variável específico,
contemplam aspectos intrínsecos
há uma tendência para uma não
de reconhecimento, valorização e
aceitação por parte do grupo, fazendo
incentivo para as pessoas inovadoras,
tais como o desenvolvimento do com que os colaboradores deixem
colaborador, novos aprendizados e a organização em busca de outros
novos desafios. desafios e organizações que casem
com seus interesses e ambições.
Importante lembrar que o
desenvolvimento de programas de Do ponto de vista de incentivos
incentivos para a inovação requer financeiros, uma forma de remunerar
uma engenharia complexa por e que incentiva a inovação é o
parte das organizações. Programas pagamento em forma de ações,
simplificados podem estimular um stock options (opções) e planos de
comportamento indesejável no remuneração variável (com os devidos
colaborador e, dependendo do seu cuidados que esses mecanismos
desenho, até barrar a inovação. Devem necessitam para evitar conflitos
ser consideradas diferentes variáveis de interesses e/ou sua utilização
na definição do programa, como a inadequada). Observa-se uma maior
cultura da organização, as subculturas, efetividade quando a organização
os incentivos para a cooperação entre foca em um tipo de remuneração que
os colaboradores, a receptividade beneficie no longo prazo, pois assim
de ideias fora do programa de retira-se o foco das metas anuais
incentivo, a avaliação das sugestões e o indivíduo volta o olhar para um
do programa, dentre outros. O mesmo horizonte mais longínquo, já que
vale para startups adquiridas e outras muitas inovações precisam de tempo
organizações incorporadas, pois para trazer os resultados esperados.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 35


7. Cultura Organizacional
e Inovação

Quando se fala de pessoas, a cultura interações com outros e moldada por


é um dos pontos mais críticos, pois comportamento de liderança e um
define o perfil dos colaboradores conjunto de estruturas, rotinas, regras
que a organização irá contratar, e normas que orientam e restringem o
os comportamentos que serão comportamento” (SCHEIN, 2009, p. 1).
estimulados e reconhecidos e, no
Carolyn Taylor define cultura
final, como as pessoas irão atuar.
como “o conjunto de padrões de
Desenvolver e manter uma cultura
comportamento que são encorajados
de inovação irá atrair os talentos
ou permitidos ao longo do tempo.
necessários e estimular as pessoas
É o resultado das mensagens
para continuamente inovar.
recebidas sobre como se espera
Ao se falar em cultura organizacional que as pessoas se comportem. As
não se pode deixar de citar Schein, que culturas se desenvolvem em qualquer
define cultura como “um fenômeno comunidade de pessoas que passam
dinâmico que nos cerca em todas tempo juntas e que são unidas por
as horas, sendo constantemente objetivos, rotinas, necessidades ou
desempenhada e criada por nossas valores comuns” (TAYLOR, 2018, p. 5).

36 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Cultura organizacional
Edgar H. Schein, um dos grandes estudiosos de cultura organizacional, destaca que a
cultura se manifesta em diferentes níveis organizacionais, sendo importante para sua
compreensão global entender os diferentes níveis em que ela se fundamenta. Os três
níveis adotados por Schein são artefatos visíveis, crenças e valores expostos e, por fim,
suposições básicas.
• Artefatos: neste nível encontram-se as estruturas e os processos organizacionais
visíveis tais como o ambiente físico, tecnologias, mitos, rituais corporativos, clima,
dentre outros.
• Crenças e valores expostos: este nível abarca as estratégias, metas, filosofias
(justificativas expostas).
• Suposições básicas: é o nível mais profundo e nele se encontram as crenças,
as percepções, os pensamentos e os sentimentos inconscientes, assumidos
como verdadeiros, e quando alguém não os assume ou os refuta, tendem a ser
rejeitados pelo grupo.
Schein destaca que um importante aspecto relacionado à cultura são as mudanças
pelas quais ela passa de acordo com o estágio em que a organização se encontra.
Organizações que estão na fase de crescimento inicial podem ter a cultura alterada
em decorrência de
i. mudanças incrementais;
ii. insight;
iii. promoção de híbridos no interior da cultura; e
iv. promoção sistemática de subculturas selecionadas.
Organizações de meia-idade têm a cultura modificada em decorrência de
v. sedução tecnológica;
vi. escândalos e explosão de mitos.
E, por fim, nas empresas que se encontram no estágio de maturidade e declínio, a
mudança da cultura ocorre devido a
vii. turnarounds (modificações drásticas);
viii. fusões e aquisições; e
ix. destruição e renascimento.
Fonte: Edgar H. Schein, Cultura Organizacional e Liderança, 2009.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 37


A particularidade central observada se desafiarem, afinal, são atributos
nas organizações inovadoras que não estão à venda, portanto, as
é a sua cultura organizacional. organizações devem praticá-los e
Invariavelmente, estas empresas incentivá-los no dia a dia.
criaram ou mantiveram condições para
Se em algumas organizações, há áreas
que práticas e crenças na organização
dedicadas à tratativa da temática de
conduzissem a outputs originais,
inovação, spin-offs, como já comentado
tendo uma consequente vantagem
no capítulo sobre estruturas, ou ainda
competitiva. Quando se aborda a
outros modelos, com orçamento
necessidade que a governança tem
dedicado, planejamento formal, há
de criar condições para a inovação,
aquelas organizações em que ainda se
aborda-se a necessidade de incentivar
trabalha na construção de uma cultura
uma cultura de inovação dentro
para inovação e por vezes esta cultura
da organização.
é bastante informal enquanto incentivo
Para alguns conselheiros e executivos, à inovação.
o maior desafio, ao lado de pessoas,
A cultura de inovação está além
para o crescimento da organização é
dos procedimentos formais – o
o de manter uma cultura na qual as
que aumenta a complexidade da
pessoas continuem motivadas a trazer
sua implementação – e deve ser
inovação, se reunir, questionar, dar
considerada como um ativo precioso
sugestões, ser curiosas, não aceitar os
da empresa. Na visão de alguns
processos tal qual eles são atualmente,
conselheiros e executivos consultados,
até porque, é isso que faz com que
a inovação não pode ser uma área, pois
a empresa se mantenha à frente das
é cultura. A organização não investe
demais, inovando sempre.
em inovação, mas sim em cultura
O espírito da cultura de inovação, no e pessoas.
entanto, nem sempre é observado
Esse tipo de cultura organizacional
em algumas grandes empresas,
pode ser mais forte que os
multinacionais e empresas tradicionais
procedimentos formais – para
que, mesmo comprando startups,
o bem ou para o mal – criando
empresas com empreendedores
potentes sinergias ou resistências
incríveis e tecnologias inovadoras, não
na equipe. Uma cultura voltada à
conseguem evoluir para uma cultura
inovação empodera o funcionário,
de inovação, pois, em algum momento
desperta nas pessoas a vontade de
de suas trajetórias elas perderam
criar, inovar, se envolver em coisas
essa cultura que incentiva as pessoas
novas, transformando o ambiente
a serem curiosas, questionarem,
organizacional e atraindo pessoas que

38 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


se identificam com a organização e obter um empréstimo. Mas, se faltar
que têm vontade de fazer o diferente pessoas, não será possível comprá-las
e inovar. nem pedir emprestado. Com as pessoas
– e se todo mundo estiver motivado
Mudanças na cultura da empresa
implicam trabalhar as pessoas no – é possível levar a empresa para um
nível de comportamentos, valores resultado bastante elevado.
e motivações. Muitas organizações Uma cultura que fortalece o sistema
identificam seus colaboradores como de inovação não pode ser baseada
o centro do processo de inovação, em “comando e controle”. Ela deve
reconhecendo que é fundamental ser propícia à inovação, ter abertura
o desenvolvimento deles, pois se a novos pensamentos, à diversidade,
a organização não desenvolver as à autonomia para se testar ideias. A
pessoas, ela não terá profissionais cultura considera o erro como fonte
preparados e motivados para inovar. de aprendizado e como parte do
Por vezes, falta às empresas a processo, estimulando toda forma
compreensão de que se faltar uma de experimentação, e nesse sentido
máquina ou equipamento, ela pode o conselho deve ser o guardião
comprá-los. Se faltar dinheiro, é possível da cultura.

Cultura de inovação
Carolyn Taylor na obra Walking the talk: a cultura através do exemplo define a cultura
de inovação como sendo aquela que “se esforça para fazer o que nunca foi feito antes,
para ser original e operar em altos padrões” (2018, p. 79).
A autora destaca ainda que as palavras que descrevem esse tipo de cultura são:
aprendizagem, empreendedorismo, inovação, melhorias e busca da excelência.
Em organizações que possuem uma cultura voltada à inovação, a autora pontua que
se observa disposição para aprender, prazer da busca da excelência, desejo de criar
algo novo, desejo do indivíduo se melhorar, engajamento das equipes na discussão
do assunto a todo tempo, seja no café ou em uma reunião formal, além do que, as
organizações “[...] tendem a estar à frente de seus clientes, em vez de responder
as necessidades deles. Elas são inventoras, inovadoras que criam as necessidades
de seus clientes e que com frequência fomentam a evolução dos processos [...]”
(TAYLOR, 2018, p.79).

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 39


Em sua obra, a autora elenca algumas práticas que existem em culturas de inovação,
as quais enviam mensagens sobre o que é valorizado pela organização, reforçando
assim a cultura:

Comportamentos Símbolos Sistemas


• A experimentação é • São comuns os • Acompanhamento
encorajada. rituais associados à rigoroso (de dados,
• Ideias são desafiadas, aprendizagem, tais pilotos, testes
as pessoas falam o como círculos de e amostras de
que pensam. qualidade. processo), com
• Os erros são • São incentivados objetivo de melhorias.
considerados como grupos de • Os sistemas
oportunidades de criatividade para o de gestão do
aprendizagem. desenvolvimento conhecimento
• As melhores práticas de ideias são amplos e bem
são difundidas na empreendedoras utilizados.
organização. embrionárias. • Todas as formas
• As pessoas • A experiência é de retorno e
pedem ajuda. valorizada, mas comunicação são
simultaneamente incentivadas.
sangue-novo é • Inovação e geração
sempre introduzido. de ideias fazem parte
• Tanto o local de do gerenciamento do
trabalho físico desempenho.
quanto o uso de • A estrutura é pensada
tecnologia refletem para encorajar
práticas de ponta a delegação, a
na gestão. autoridade e a
hierarquia não
autoritária

Fonte: Carolyn Taylor, Walking the Talk: a cultura através do exemplo, 2018.

40 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


8. O Papel do Conselho7

Definir o papel e o escopo de atuação do tema, sendo aquele que traz uma
dos conselhos nas organizações visão provocativa, questionadora, que
inovadoras ou que simplesmente mostra novos horizontes. No exercício
desejam ter um sistema de inovação do papel de facilitador da inovação,
eficiente requer que os conselheiros compete ao conselho questionar se
tenham um olhar mais amplo do sua própria atuação está dentro do seu
negócio, do setor, da região geográfica escopo de trabalho, de modo a não
onde a empresa atua, dos players interferir na gestão.
globais e das novas tecnologias que o
Outros papéis relevantes do conselho
setor de atuação da organização está
são considerar em sua análise seus
desenvolvendo, pois, muitas vezes,
stakeholders e incentivar uma cultura
as pessoas estão focadas apenas
de inovação, pois, como observado
naquilo que elas têm de operar ou
no capítulo anterior, a cultura
fazer acontecer, então compete ao
desempenha importante papel no
conselho trazer uma visão ampliada e
direcionamento organizacional e no
abrangente sobre o negócio.
comportamento dos indivíduos e se
Dessa forma, o conselho tem nela não houver espaço para inovar,
como papel ser agente promotor, tentar o novo e o diferente, aprender
patrocinador e incentivador da com os erros, não será possível garantir
inovação e atuar como um facilitador um sistema de inovação efetivo.
Para desempenhar estes papéis com
7. A publicação O Papel do Conselho de vigor, é necessário que o conselheiro
Administração na Inovação das Organizações
da série IBGC Orienta também aborda o papel tenha conhecimento do tema da
do conselho nas organizações. Caso queira inovação. O conselheiro precisa –
consultá-lo, o material está disponível no Portal
do Conhecimento do IBGC. independentemente do setor em que

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 41


ele está atuando – se capacitar para de que a estratégia vai para onde tem
a inovação, para novos aprendizados, maior influência e controle, ou seja, se
ferramentas e processos, de modo que está na diretoria executiva, a estratégia
ele consiga ser provocador e garantir é definida no nível da gestão, mas,
que a empresa esteja considerando o se essas características estão no
maior número de alternativas possíveis. conselho, a estratégia passa a ser
Como discutido no capítulo 5 sobre definida nessa instância. Em empresas
pessoas e competências, ele deverá de controle familiar observou-se que
ter uma expertise em inovação e, quando a família atua na gestão, a
para tanto, deverá vestir o chapéu de estratégia é definida na gestão, ao
aprendiz, no sentido de buscar novas passo que quando a família atua no
fontes de conhecimento e informações, conselho, a definição da estratégia
de modo a ser provocativo no exercício está no conselho. Sendo assim, as
de suas funções.
definições da estratégia e da estratégia
Baseado em experiências profissionais, para inovação devem ser uma via de
e nos conselheiros e executivos mão dupla entre o conselho e a gestão
consultados, observa-se ainda o fato da organização.

Observe que muitos são os papéis que o conselho deve desempenhar na


organização com vistas a garantir que a governança da inovação exista e se
perpetue ao longo do tempo. Em organizações inovadoras, observa-se ainda que são
papéis essenciais do conselho:
• ser o facilitador, promotor, incentivador e patrocinador da inovação
na organização;
• ser o guardião da cultura organizacional;
• assegurar que a estratégia da organização contemple uma estratégia
para inovação;
• fomentar a diversidade na composição do conselho, incluindo membros
com conhecimento e experiência em inovação e dando oportunidade para
profissionais jovens e com experiência no tema;
• investir no próprio desenvolvimento e qualificação, estando atento às
tendências, novas tecnologias e transformação digital;
• demandar da gestão a comunicação das linhas mestras da inovação, prioridades
e recursos a serem alocados por tipo de inovação;
• demandar da gestão a criação de indicadores que mensurem a efetividade
da inovação;

42 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


• escolher e avaliar o CEO e os executivos-chave, considerando também os
indicadores de inovação;
• considerar as competências de inovação do CEO e/ou executivos-chave e
os modelos de governança, visando equilibrar o momento da organização e a
perenidade de seus esforços de inovação;
• trazer um olhar interdisciplinar, com visão abrangente em termos de inovação e
novas tecnologias;
• orientar a empresa para os caminhos que ela pode trilhar, voltando o olhar para
o futuro;
• instigar a diretoria executiva a trazer as melhores soluções e a propor as
melhores estratégias para a organização;
• discutir a temática de sustentabilidade em suas diversas frentes;
• trazer a visão de longo prazo e proteger os interesses da organização;
• zelar pela integridade da organização;
• conhecer e supervisionar o risco de inovação, estando ciente dos riscos externos
de disrupção.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 43


9. O Papel da Diretoria Executiva

A Cultura de Inovação não dá desenvolver a autonomia dentro das


espaço para grandes egos que diretrizes e dos valores corporativos.
se agarram a pontos de vista Não são incomuns relatos sobre
e não conseguem recuar. A contratações frustradas, em que a
coragem de agir, e rapidamente organização contrata um especialista
corrigir, é a chave do sucesso. em inovação e quando ele adentra a
Há paixão por ideias, grande empresa encontra pouco espaço para
curiosidade e um modelo mental o desenvolvimento do seu trabalho,
de experimentação. Boas ideias devendo, inclusive, cumprir apenas
podem surgir em qualquer lugar as ordens que lhe são repassadas,
e, portanto, a hierarquia não é sem ter a oportunidade de se
valorizada. Os líderes dessas posicionar, de trazer novas ideias para
organizações veem seu papel a organização, de colocar em prática
como fomentadores de boas seus conhecimentos.
ideias e provedores de um Em algumas organizações o papel
adequado ambiente no qual da gestão, em especial do CEO,
as pessoas possam agir com compreende ser o facilitador e o
autonomia e autoridade na busca promotor da inovação, especialmente
de excelência em áreas onde quando o conselho não possui uma
possuem mais conhecimentos agenda para o tema ou, ainda, o
que seus chefes. considera irrelevante.
(TAYLOR, 2018, p. 80)
Compete ainda à gestão estimular os
O papel da gestão nas organizações colaboradores para que inovem; buscar
visando assegurar a governança para profissionais especialistas no tema no
inovação engloba, antes de mais nada, mercado; dar espaço para as pessoas

44 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


discutirem inovação e tentarem • mensurar o desempenho da
inovar, por meio de considerações inovação por meio de indicadores
externas e internas; promover uma específicos;
estrutura organizacional e processos • definir como a inovação ajuda a
que estimulem a inovação; investir identificar, criar e capturar valor;
em treinamento, desenvolvimento • ampliar o escopo da busca de
e qualificação dos profissionais que oportunidades para inovação;
atuam na organização; liderar por • escolher modelos organizacionais
meio do exemplo, dentre diversos para alocação das
outros papéis. Em consonância com o responsabilidades pela governança
conselho, devem estimular uma cultura da inovação;
organizacional voltada à inovação, • estabelecer mecanismos de gestão
bem como assegurar o alinhamento de processos dedicados;
da estratégia com uma estratégia • estabelecer prioridades e alocar
para inovação. recursos conforme estratégia de
inovação e plano para sustentar os
Além dos papéis elencados
objetivos da empresa;
anteriormente, compete ainda à gestão:
• garantir um portfólio de projetos
• discutir e definir como a inovação de inovação equilibrado, conforme
pode contribuir para a missão e o estratégia e riscos definidos;
propósito geral da empresa; • identificar e tratar os obstáculos no
• propor e promover um conjunto de sistema organizacional e as fontes
valores para impulsionar a cultura de resistência para um ambiente de
de inovação; inovação duradouro.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 45


10.  Considerações Finais

A inovação ainda é um grande desafio necessitam apenas de um pequeno


para as organizações e, como visto estímulo para dar início a novos
nesta publicação, é multifatorial e deve processos e mudanças, tais como
contar com o apoio, o envolvimento e as empresas de tecnologia. Para
o patrocínio do conselho e da gestão todas essas organizações, a cultura
das organizações para que seja organizacional é uma peça importante
bem-sucedida e atinja os objetivos para a governança da inovação e tem
esperados e definidos por cada que ser considerada ao longo de todo
organização. Falar sobre inovação é o processo.
falar sobre propósito, estratégia, visão Tanto no levantamento bibliográfico
de longo prazo e seus alinhamentos. realizado sobre o tema, quanto nas
Na jornada da inovação, existem conversas realizadas com conselheiros
diferentes tipos de desafios e e executivos, evidenciou-se que não
necessidades para cada empresa. Há existe um modelo padronizado de
aquelas organizações que querem inovação que possa ser replicado pelas
inovar porque se deparam com a diferentes organizações. Como dizem
necessidade de desenvolver novos os norte-americanos “One size doesn’t
produtos, serviços ou até mesmo fit all” (“Um tamanho não serve para
aprimorar os já existentes; há aquelas todos”). A governança da inovação
deve ser desenvolvida observando-se
que passam a inovar devido ao
as particularidades de cada instituição,
enfrentamento de alguma dificuldade
os objetivos, a estratégia definida,
e buscam superar-se, beneficiando-
seu propósito.
se posteriormente da transformação
enfrentada; há também as empresas Esta obra, ao sugerir uma abordagem
que já têm o DNA da inovação e integrada de governança e inovação,

46 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


se propõe a trazer um leque de pelas organizações, uma vez que cada
referências sobre o tema para as empresa deverá buscar o modelo que
organizações, destacando que não melhor se adeque a sua realidade.
existe empresa inovadora sem o apoio Espera-se, no entanto, que sirva de
do conselho e da alta gestão. provocação e análise do que pode ser
feito para que a inovação seja parte da
Ao apresentar ao leitor essas dinâmica sistemática da companhia. E,
considerações, pretende-se abordar por que não, que esta publicação sirva
as boas práticas, mas não se pretende de reflexão para inspirar modelos que
esgotar o tema e tampouco definir rompam e ultrapassem as sugestões e
um padrão ou modelo a ser seguido práticas apresentadas aqui.

Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada 47


11.  Referências Bibliográficas

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TAYLOR, CAROLYN. Walking the Talk: a cultura através do exemplo. 2° ed. Rio de Janeiro: Publit, 2018.

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Governança e Inovação: Uma Abordagem Integrada


Esta publicação pretende discutir a temática de inovação sob o
prisma da governança, apontando caminhos para que a empresa
possa inovar de maneira alinhada, continuada e sistemática à sua
estratégia empresarial, de forma a evitar apenas “espasmos de
inovação”, com iniciativas que começam e param.

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